100 OSMAR AQUINO de
Anos
Osmar de Araújo Aquino 1916 - 2016
Osmar e a Fraternidade Nós estamos aqui para prestar uma derradeira homenagem a Osmar de Aquino, cidadão ilustre e homem de bem. Há tantas pessoas aqui ligadas à vida política de nosso Estado e da nossa cidade. Não seria eu a pessoa mais indicada para enumerar os títulos e os méritos desse homem público. Eu lembro, porém, que ele foi um homem de bem voltado sempre para os grandes interesses e as grandes causas do povo. Jamais Osmar de Aquino esteve ligado as causas mesquinhas, estreitas. Espírito lúcido, coração amplo, ele sempre se bateu pelos legítimos interesses do povo, mesmo que nem sempre fosse entendido pelos seus adversários. Pouco lhe importava. A sua palavra corajosa, a bravura de sua personalidade, o levou em momentos difíceis da pátria a dizer aquela palavra talvez dura, exatas. Soube sofrer com dignidade as restrições que lhe foram feitas em momentos cruéis, difíceis, por que passou o nosso país. Nesta hora em que se fala em uma nova abertura política democrática, nós precisamos tanto do espirito de Osmar de Aquino para nos dizer, alto e bom som, a verdade sobre a conjuntura política, sobre a estrutura econômica, política e social de nossa pátria. Mas, como cristão, eu quero dizer que tenho a convicção de que Osmar de Aquino vai se entender com Deus. Na tarde da vida o que importa é o amor... Seremos julgados pela nossa atitude de justiça e de espírito voltado para o verdadeiro bem dos irmãos. Eu lembro a palavra de Cristo, quando ele dizia que não são os que se deixam apenas levar pela devoção, não são os que dizem: Senhor! Senhor! Que entrarão no reino dos céus, mas aqueles que fazem o plano de meu pai. E o plano de Deus, o grande projeto sobre a humanidade é o da fraternidade, o da justiça o do amor, o do entendimento de todos os homens como criaturas lhas do mesmo pai. O que importa é construir a fraternidade universal, é construir uma sociedade em que todos tenham acesso aos bens da criação, que o criador e pai destinou a todos. Osmar de Aquino lutava por uma participação das várias camadas do nosso povo na vida plena do nosso país. E o que é isso, meus amigos, senão uma atitude de justiça, atitude de amor para com o povo. Cristão é aquele que, diante das massas, não com palavras mas sobretudo com atitudes, com comportamentos, repete aquela palavra de Jesus: “Eu tenho compaixão das massas porque estão aí abandonadas desintegradas como ovelhas sem pastor”. Eu tenho certeza de que Osmar de Aquino já se entendeu com Deus. Pode alguém, quem sabe, receber muitos sacramentos, praticar muitas obras externas, de rito e de culto mas, se estas práticas religiosas não estiverem unidas à prática da vida,
sobretudo pela justiça e pelo amor, a religião não tem valor para Deus. E se alguém, por formação ou por falta de um conhecimento maior nas práticas religiosas, chegar a praticar o bem como criatura humana, se entendendo com seus semelhantes, trabalhando pelo bem dos outros, lutando dentro de sua vocação e missão pelas causas do povo, mesmo, quem sabe, que não tenha feito determinadas devoções prescritas pela lei eclesiástica, este há de se entender com Deus. Jesus prevê isso no evangelho. Ele disse que muitos chegarão a ele no último dia, se apresentarão e ele dirá: “Venham, benditos do meu pai, porque eu tive fome e vocês me deram de comer; tive sede, vocês me deram de beber; fui nu, vocês me vestiram; fui subdesenvolvido, vocês me entregaram no processo da vida; fui marginalizado e vocês me deram a mão para que eu me promovesse às dimensões de criatura humana''. E é curioso que Jesus prevê uma resposta com uma reação distante do grupo. Quando foi Senhor que nós ouvimos, desta ou daquela maneira, nem sequer o conhecíamos bem, até pensamos que o Senhor fosse alguém que esmagasse, alienasse a humanidade. E Jesus dirá: Não importa. Desde que vocês agiram de boa fé, desde que vocês zeram isto ou aquilo pela humanidade. E para não deixar dúvidas, ele diz: Pelo menor dos meus, foi por mim que vocês zeram. Como se estivesse a dizer - é por aí – é por essa mediação antropológica, pelo encontro com o homem no serviço sincero dele que vocês encontrarão o Deus vivo e verdadeiro, que a partir da encarnação redentora, encontra no rosto da humanidade e sobretudo, sofrida e espezinhada. Meus amigos, com o espírito cristão, nós con amos nesta consumação feliz da vida de Osmar de Aquino. Osmar de Aquino! Neste momento tu estás em Deus. Nós temos esta convicção. Tudo aquilo que zeste, através de tua palavra, através do teu comportamento público, tudo isso é agora tomado pelo pai e tem valor diante dele. Nada do que temos de bom, do que fazemos de bem, há de se perder mas há de consumar-se em Deus. É nessa convicção cristã que eu te digo, Osmar: Sê acolhido pelo pai e junto a ele intercede pela vida pública do nosso país, pelos homens que estão voltados à causa deste povo, para que sejam leais e sinceros e se batam pelos seus verdadeiros interesses. Faze, Osmar de A quino, que a tua mesma lucidez, a tua mesma bravura, nesta hora atormentada na pátria, continue a valer, a ter sentido para todos aqueles que querem construir um Brasil, uma nação, onde todas as camadas do povo possam ter participação real no seu progresso, no futuro que parece tão incerto mas que poderá, quem sabe, através de homens que lutem como tu lutaste, a ser um país não apenas de crescimento econômico, mas de verdadeira integração social, onde os brasileiros formem uma verdadeira família. Família em que as pessoas se encontrem, em que se unam e possam, assim, na sociedade, mostrar o revérbero da luz de Deus, uma projeção no mundo do grande projeto do criador e pai. (Oração pronunciada à beira do túmulo).
D. Marcelo Carvalheira
OSMAR SEGUNDO LAURA “OSMAR DE AQUINO” Osmar de Araújo Aquino, nasceu em Guarabira, no dia 11 de dezembro de 1916, era lho de Osório de Aquino Torres e Maria Benevides de Aquino, sendo o único homem dos quatro lhos do casal. Concluiu seus estudos secundários no Colégio Diocesano PIO X, na capital do Estado, cursou direito na renomada Faculdade do Recife de onde bacharelou-se em 1938 com apenas 21 anos. Em 1940, foi nomeado prefeito de Guarabira, tomando contato direto pela primeira vez com o Poder Executivo do seu Município. Em 1945, com 28 anos era eleito Deputado Federal Constituinte onde destacou-se na Tribuna do Parlamento com seus in amados discursos, exaltando o nome da democracia de quem era ardoroso defensor. Por essa época, tomava contato com Luís Carlos Prestes (“O Cavaleiro da Esperança”), dirigente do Partido Comunista Brasileiro (P.C.B) de quem tornava-se amigo, pois comungava com seus ideais socialistas. No ano de 1945, foi nomeado advogado do Banco do Nordeste, sendo um dos fundadores do seu serviço jurídico. No dia 3 de outubro de 1955, foi eleito democraticamente Prefeito de Guarabira, através do voto direto, pautando sua administração em favor dos pobres e oprimidos, os espoliados do sistema. O povo humilde de Guarabira, tinha nele um protetor, seja à frente do executivo, seja no Tribunal do Júri, a todos defendia sem nenhum interesse material. Homem culto, orador brilhante, Dr. Osmar prendia à atenção daqueles que o ouviam. Com um carisma peculiar a poucos, aglutinava multidões ao seu redor. Em 1956, negou-se a receber um aumento a seu favor, votado pela Câmara Municipal de Guarabira, sendo esse fato notícia do Jornal O Globo. Em 1962, como Deputado Estadual defendeu com veemência e convicção os ideais de uma justa reforma agrária, participando da organização das Ligas Camponesas. Homem destemido, exteriorizava sua coragem através dos seus combativos discursos em nome da soberania e independência do Brasil. Osmar de Aquino, recebeu um duro golpe quando teve seus direitos políticos cassados arbitrariamente pelo AI-5, instrumento nefasto criado pela Ditadura Militar em 1968. Dr. Osmar de Aquino foi casado com D. Miriam Aquino, com gerou os lhos Laura Christina (historiadora) e Antônio Eduardo (arquiteto). Osmar de Aquino faleceu em 08 de maio de 1980 e está sepultado na Guarabira de suas tristezas, de suas alegrias e de seus sonhos.
Laura Christina Mello de Aquino Filha de Osmar de Aquino