1ª edição da Plural&Singular

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Índice 2

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Medicamento melhora função cerebral de pessoas com Síndrome de Down O neurocientista brasileiro, Alberto Costa, é pai de uma menina com Síndrome de Down com 17 anos, e há 16 que investiga nessa área. Do cruzamento da vida pessoal com a profissional nasceu uma motivação positiva que o levou a desbravar novos caminhos na pesquisa de terapias que melhorem a função cerebral das pessoas com Síndrome de Down. O investigador da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, descobriu que a memantina, utilizada pelos doentes de Alzheimer, pode ser usada para melhorar as habilidades cognitivas das pessoas com Síndrome de Down.

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A deficiência em Portugal: ontem, hoje e amanhã Em qualquer lugar do mundo, ser portador de deficiência já de si acarreta todos os condicionalismos da própria incapacidade. Mas ser deficiente em Portugal é mais fácil ou mais difícil? A Plural & Singular não se propõe a responder a esta pergunta, mas foi ao encontro de quem pudesse fazer uma reflexão sobre a evolução do “estatuto” do deficiente num país que ontem passou por uma ditadura, hoje atravessa uma crise económico-financeira estando mergulhado em austeridade e que o futuro lhe reserva uma espécie de nevoeiro de incerteza…Vale a pena esperar por D. Sebastião para salvar a Nação?

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Orientação – uma modalidade inclusiva A modalidade não é nova mas as vertentes “de precisão” e “adaptada” só há menos de meia dúzia de anos é que começaram a fazer parte do calendário nacional. O relançamento da orientação de precisão, em Portugal, data de 14 de Março de 2009, enquanto o lançamento da orientação adaptada deu-se a 14 de Outubro de 2011.

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Alunos da CerciGui “fazem parte” da CEC

No rescaldo da 2.ª Sessão Inclusiva, apresentada no dia 28 de novembro, a Plural&Singular dá conta das expetativas do diretor artístico, Jorge Queijo, e da bailarina e coreógrafa, Dora Silva, para esse espetáculo. Com este evento fecha-se o ciclo que deu continuidade ao “Ópera de Todos” apresentado há um ano. Esta foi a última vez que os alunos da CerciGui - Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados do Concelho de Guimarães pisaram o palco do Centro Cultural Vila Flor…pelo menos no âmbito da “Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura (CEC)”.


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Índice Índice e Editorial “Vem Comigo”, no bom caminho

Fórum

Opinião APD amanhã

Saúde e Bem-estar Reportagem Medicamento melhora função cerebral de pes-

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soas com Síndrome de Down UFE & CTC & EUROPE “Doing Together”

Opinião SPSC Reabilitação Sexual

Opinião APTO

7.º Congresso Nacional de Terapia Ocupacional

Capa

A deficiência em Portugal: ontem, hoje e

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Notícias

As pessoas com deficiência, ontem, hoje e

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Editorial

amanhã

Tecnologia e Inovação Cadeira de rodas autónoma “low cost” Encontro sobre Jogos e Mobile Learning Reportagem Design sem fronteiras

Retrato Pela lente de Amy

Desporto

Notícias Reportagem Orientação – uma modalidade inclusiva Temos campeões! Emanuel Gonçalves entre os melhores do Desporto Nacional Jogos Paralímpicos Londres2012 Surf adaptado pela primeira vez em Portugal

Perfil Hugo Passos – “Uma referência”

Opinião FPDD Desde 1988 a criar campeões!

Cultura

Museus para todos, programação inclusiva

Reportagem Alunos da CerciGui “fazem parte” da CEC

Galeria RAMPIT – um espetáculo inclusivo

Sugestão de Leitura Testemunhos de Ouro

Lugar Viver em Viseu

Agenda

Plural & Singular Inclusão! & Um livro e muito mais…

Da simbologia à ação, porque TODOS contam! Com o lançamento da Plural&Singular, um novo projeto editorial que inclui a publicação de uma Revista Trimestral Dedicada à Temática da Deficiência, o dia 3 de dezembro passa a ter uma dupla simbologia: comemora-se o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência e o cumprimento de um objetivo – dar mais visibilidade a esta área, inserindo-a na rota da comunicação. O “cumprimento” da dupla simbologia do dia 3 de dezembro espera-se que se prolongue durante muitos anos, mas para isso, a Plural&Singular precisa da colaboração de todos os agentes ligados a esta área: associações, portadores de deficiência, cuidadores, famílias, dirigentes, especialistas, federações… TODOS! TODOS! Aliás, e voltando a simbologias, o nome “Plura&Singular” começa, exatamente no slogan “Todos Diferentes, todos iguais”, um slogan que defende a tolerância à diferença. “Plural”: pessoas, direitos, oportunidades… “Singular”: diferença, unidade, individualidade. E, eis que se misturam as ideias do coletivo com o individual, da igualdade com a diferença, da multidão com o indivíduo, ou seja o “Plural” com o “Singular” e entende-se a pessoa com deficiência como sendo plural na deficiência, mas também plural enquanto inserida numa sociedade que se quer, cada vez mais, inclusiva. E entende-se a pessoa com deficiência como singular, devendo ser entendida e respeitada na sua individualidade, no seu valor como ser humano único. Da simbologia, através da colaboração de TODOS e tendo como objetivo dar plural ao singular e destacar o singular que existe em cada plural, é chegada a hora da ação. É hora de dedicar espaço “à maior minoria do mundo”. É hora de atrevimento! A Plural&Singular atreve-se, assim, a adulterar o mote oficial da Disabled Peoples International (DPI), “Nada sobre nós, sem nós” e a lançar o apelo “Nada sobre vós, sem vós”. A Plural&Singular, que começou por sonhar lançar-se em edição impressa, é para já uma edição digital. A Plural&Singular começa com uma equipa pequena mas dedicada e avança com muitos sonhos que deseja por em prática com a brevidade possível de um projeto novo e em fase de arranque. Desde logo o desenvolvimento das ferramentas atuais – site e revista – que se desejam acessíveis a TODOS e adaptáveis a todas as necessidades e incapacidades. E a simbologia cumpre-se com a colaboração TODOS dando lugar à ação Plural&Singular. Porque TODOS contam!

FICHA TÉCNICA Sede e redação: Avenida D. João IV, nº 1076, Blc C, 4.º Esq. 4800-534 Guimarães Tel.: 253 419 016 Email: geral@pluralesingular.com Site: www.pluralesingular.com Colaboradores: Catarina de Castro Abreu, Paula Fernandes Teixeira (paulateixeira@pluralesingular.com), Sofia Pires (sofiapires@pluralesingular.com) Publicidade: Tel.: 253 419 016 Email: publicidade@pluralesingular.com Projeto gráfico e design: Black x White – Serviços Multimédia – Portugal Tel.: 934960335 | 931748366 Email: geral@black-x-white.com Site: http://black-x-white.com/ Foto de capa da autoria de Susana Luzir www.freestyle-spirit.com/


Notícias 4

LIPOR lança Concurso Nacional de Ideias para a criação de Ecoponto acessível para todos

Arquitetos, designers, engenheiros, entre outros, estão convidados a concorrer ao Projeto R+ criando um equipamento de recolha seletiva de resíduos – Ecopontos – “amigos” de cidadãos portadores de deficiências e acessíveis no espaço público. As candidaturas a este concurso nacional, inovador a nível europeu, estarão abertas até 12 de dezembro de 2012 e através do link http://www.concursosoasrn.com/concurso.asp?Id=19 O concurso “Reciclar + Reabilitar +” pretende combater a exclusão social dos cidadãos com deficiências permitindo a igualdade de oportunidades no acesso à reciclagem multimaterial. Os três vencedores receberão prémios no valor de 3.000 euros (1.º classificado), 2.000 euros (2.º classificado) e 1.000 euros (3.º classificado). O Concurso Nacional de Ideias, envolve diferentes parceiros, liderados pela Lipor – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, tais como, a Sociedade Ponto Verde, ACAPO, Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., Ordem dos Arquitetos, Provedor Metropolitano dos Cidadãos com Deficiência e Agência Portuguesa do Ambiente.

Desemprego cresce entre pessoas com deficiência

Por altura do 21.º Encontro Nacional de Organismos de Deficientes sob o lema “Dar voz aos Deficientes e suas associações. Por uma vida digna e Inclusiva”, organizado pela Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes (CNOD) que decorreu no início de novembro, no auditório do Tecmaia, na cidade da Maia, em declarações à Imprensa, o presidente desta instituição, José Reis, mostrou-se preocupado com o crescimento da taxa de desemprego nas pessoas com deficiência. Neste momento não estão disponíveis números oficiais e concretos sobre a taxa de desemprego nas pessoas portadoras de todo o tipo de deficiência, uma vez que ainda não foram tornados públicos os resultados dos Censos 2011, sendo essa a base mais atual de contagem a nível nacional, mas a CNOD estima que ande perto dos 75 por cento. Para o dirigente da CNOD, a grave situação que o país atravessa pode estar a afetar ainda mais as pessoas com deficiência devido às suas características e especificidades. Outro aspeto que preocupa a CNOD é o facto “das medidas de austeridade apresentadas pelo atual Governo estarem, também, a afetar o funcionamento de associações, federações e diversas instituições que prestam apoio”. Neste encontro nacional, a CNOD aprovei-

tou para destacar que muitas pessoas com deficiência “estão a ficar subnutridas” e “temem pela própria subsistência”. Esta declaração da CNOD surgiu, ao longo das intervenções dos seus responsáveis no encontro de 3 de novembro, a propósito das medidas de austeridade que têm vindo a ser implementadas pelo atual Governo. As mais de duas centenas de cidadãos com deficiência presentes alertaram que a atual política “terá consequências dramáticas, em especial para as pessoas economicamente mais débeis e, em particular, para as pessoas com deficiências mais severas e incapacitantes”. Foram, também, reclamadas a “gratuidade na obtenção de atestados multiuso de incapacidade” e dispensa da sua revalidação nos casos de incapacidade permanente, a “criação de centros distritais de avaliação de incapacidade”, a “imediata reativação do Centro Nacional de Proteção contra os Riscos Profissionais” e a “reposição dos docentes do ensino especial”. E foram, igualmente, exigidos “programas eficazes de apoio técnico e financeiro à contratação de trabalhadores com deficiência”, um “número mínimo obrigatório de estágios profissionais na administração pública para pessoas com deficiência” e “emprego protegido”.


Notícias

Workshop Procura Ativa de Emprego As pessoas com deficiência devem ter “a oportunidade de ganhar a vida através de um trabalho livremente escolhido ou aceite, num mercado e ambiente de trabalho aberto”. Mas na prática, este direito contemplado no artigo 27º da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência que Portugal ratificou em 2009, não é exercido e, para além da crise atual, os portadores de deficiência continuam a sentir a discriminação no mercado de trabalho. Tendo este contexto em consideração, em boa hora foi realizado, em meados de novembro, o Workshop sobre “Procura Ativa de Emprego”, promovido pela Associação Salvador com o objetivo de disponibilizar informação útil que permita às pessoas com deficiência tornar a procura de emprego mais eficaz. Depois do presidente da Associação Salvador, Salvador Mendes de Almeida, dar início à sessão, Isabel Livério e Madalena Pombo, da Operação de Emprego para Pessoas com Deficiência (OED), explicaram como fazer um CV ou comportar-se em entrevistas de emprego. Por fim, as técnicas da OED abordaram o tema dos incentivos à contratação disponibilizados pelo IEFP para as empresas que contratam pessoas com deficiência, algo que se deve salientar durante uma entrevista de emprego.

Dois testemunhos de sucesso fecharam a sessão da manhã: Henrique Figueiras, engenheiro informático na Nokia Siemens, e Diana Santos, psicóloga na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ambos deficientes motores, partilharam com os participantes o seu percurso profissional. Na parte da tarde, Pedro Antunes e André Piteira, da Sociedade CCA Advogados, falaram sobre a Lei de quotas na Administração Pública e a Lei da não discriminação, seguidos de dois testemunhos de entidades empregadoras. Pedro Raposo, Diretor de Recursos Humanos do BES e Andreia Rangel, Country HR Representative na Cisco Systems partilharam as suas experiências na contratação de pessoas com deficiência. O Workshop terminou com a intervenção de Filipa Leite Castro, da Jason Associates, que falou de questões relacionadas com a valorização pessoal. 23 pessoas com deficiência motora participaram nesta iniciativa que contou com o apoio do CCA Advogados, Cisco Systems, Jason Associates, OEP, Fundação Liga, IEFP, INR,I.P.; CM Lisboa. O Workshop sobre “Procura Ativa de Emprego” teve ainda o apoio logístico do Fontana Park Hotel, do Expresso Emprego, como media partner, e o apoio dos mecenas Semapa e Banco Espírito Santo.

Comunidade portuguesa de Toronto tem novo centro dedicado à deficiência As pessoas de origem portuguesa com deficiência que residam na zona de Hamilton, a cerca de 70 quilómetros de Toronto, passaram, a partir de outubro, a dispor de um centro de dia, um projeto realizado por uma sociedade luso-canadiana, orçado em cerca de 1,5 milhões de euros. A cerimónia de inauguração do centro decorreu na presença de diversos responsáveis do governo do Ontário, entre eles o ministro da Cidadania e da Imigração, o luso-canadiano Charles Sousa, e o cônsul de Portugal em Toronto, Júlio Vilela, bem como outros políticos e personalidades convidadas. De acordo com os responsáveis do projeto, a construção deste centro foi motivada pela “vontade de ajudar os deficientes portugueses em Hamilton”. O projeto segue de perto o modelo do centro de deficientes portugueses de Toronto, criado em 2007 e a cargo da mesma sociedade de beneficência luso-canadiana. Uma das ideias, agora em cima da mesa, para uma fase posterior será construir um centro de noite no terreno daquele centro de apoio. O novo centro dispõe de uma área de 1500 metros quadrados, com salas de lazer e de tratamento, prevendo-se que ainda neste ano letivo se possa abrir uma escola para o ensino de português no local, a fim de rentabilizar o espaço à noite, adiantou o mesmo responsável.

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Notícias 6

Angola adere à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Angola aderiu à Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) adotada pela ONU, a 30 de março de 2007, para cumprir mais uma meta do Programa de Governação do Executivo, que dedica especial atenção à integração e melhoria da qualidade de vida deste grupo de cidadãos. O ministro da Assistência e Reinserção Social, João Baptista Kussumua, disse que, nos termos da CDPD, os estados reconhecem o direito às pessoas com deficiência a ter um nível de vida adequado e a participar na vida política, pública, cultural, desportiva, entre outros, em igualdade com as demais pessoas. “O Governo angolano, em 2012, dedicou-se muito na resolução dos problemas dos deficientes”, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Deficientes de Angola (ANDA), Silva Lopes Etiambulo Agostinho. Internamente, Angola já aprovou recentemente, o Plano Nacional de Ações Integradas sobre a Deficiência, a Política para a Pessoa Idosa, assim como a estratégia nacional para a sua implementação e o Conselho Nacional da Pessoa com Deficiências, dedicado ao estudo dos aspetos que devem ser resolvidos para melhorar a vida dos visados.

Unicef lança concurso sobre crianças com deficiência O concurso infanto-juvenil de vídeos de um minuto, lançado pela Unicef, chama-se “Tem a ver com habilidade!” e é realizado no mundo inteiro. Crianças, adolescentes e jovens até aos 25 anos, interessados em participar, devem produzir um filme, em qualquer língua, sobre o que pensam sobre as deficiências. O objetivo principal deste concurso é procurar perspetivas positivas da deficiência que quebrem com crenças negativas e abram os olhos de todos para a diversidade. O material deve ser enviado para

a sede da Unicef, em Nova Iorque, nos EUA, até 15 de dezembro. Os finalistas serão contactados até 15 de janeiro de 2013 e os vídeos serão divulgados no site da Unicef. O vídeo vencedor será usado como parte do relatório Situação Mundial da Infância 2013 e será também disponibilizado para divulgação em todo o mundo. O realizador do vídeo vencedor receberá uma câmara de filmar Flip HDV da Sony. Mais informações sobre o concurso através do email: unicef. youthvideocontest@gmail.com


Balanço do Teleton 2012 A campanha de solidariedade feita, pelo canal brasileiro SBT, em prol da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) arrecadou cerca de 11 milhões de euros em mais de 24 horas de transmissão televisiva. Essa quantia, angariada através de doações do público, destina-se à manutenção das 16 unidades da AACD, instaladas em diversas cidades brasileiras. A 15.ª edição do Teleton contou com mais de 100 artistas, entre cantores, atores, atrizes e apresentadores. O projeto, organizado no Brasil desde 1998, prestou diversas homenagens à apresentadora Hebe Camargo que faleceu recentemente aos 83 anos. A apresentadora recebeu o título de madrinha do Teleton, pela sua participação ativa em todas as edições anteriores deste evento. Para marcar a ligação de Hebe com o Teleton, uma das bonecas do evento – usada também como fonte de arrecadação de dinheiro – foi batizada de Hebinha.

Jardim da Sereia, revista portuguesa para cegos

A Biblioteca Municipal de Coimbra (BMC) publica, desde setembro, uma revista mensal gratuita destinada sobretudo a cegos, em versão digital, braille e áudio. Intitulada “Jardim da Sereia - Revista Inclusiva de Divulgação Tiflocultural”, a revista que já vai na 4.ª edição, pretende divulgar temas relacionados com a inserção social das pessoas com deficiência visual e estimular a participação de utentes em atividades culturais. O coordenador do serviço de leitura para deficientes visuais da BMC, José Guerra, acrescenta que a publicação quer contribuir para o esclarecimento da população em geral e fomentar as boas práticas de inclusão social. O formato digital é distribuído gratuitamente por correio eletrónico aos utentes do serviço de leitura e a qualquer pessoa que faça a inscrição para a sua receção. O formato áudio pode ser obtido a partir do formato digital, que inclui um link para efetuar o download. Já o formato braille pode ser adquirido no Serviço de Leitura para Deficientes Visuais da BMC ou enviado (via CTT) para os utentes do serviço.

Notícias

Concurso “Cartaz 3 de Dezembro”

Os vencedores do concurso “Cartaz 3 de Dezembro” de 2012 alusivo ao Dia Internacional das Pessoas com Deficiência foram Adelino Geraço e Fernando Antero. Foi, também, atribuída uma menção honrosa a Marisa Passos. O cartaz, deste concurso nacional promovido pelo Instituto Nacional de Reabilitação, I.P., será utilizado nas Comemorações do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência de 2012, altura em que os vencedores receberão o prémio no valor de 500 euros. Este concurso tem por objetivo celebrar os direitos humanos das pessoas com deficiência e sensibilizar a sociedade para combater os preconceitos e os obstáculos que impedem estes cidadãos de exercer os seus direitos e participar ativamente em todos os aspetos da vida política, social, económica, cultural e artística.

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Notícias

Associação do Cidadão Deficiente de Angra do Heroísmo faz 18 anos

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Concurso “Escola Alerta!”

As candidaturas à 10.ª edição do concurso “Escola Alerta”, promovido pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. (INR, I.P.), estão abertas até ao próximo dia 19 de abril de 2013. Escolas, professores e alunos, dos ensinos básicos ou secundários, público ou privado, estão convidados a participar em mais uma edição deste concurso, criando projetos que contribuam para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência ou incapacidade. As candidaturas deverão ser entregues pelas escolas ao INR, I.P.. Mais informações em http://www.inr.pt/content/1/2726/escola-alerta ou através do e-mail: inr@inr.msss.pt.

A Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente de Angra do Heroísmo (APACDAH) celebrou os seus 18 anos com a palestra subordinada ao tema “Perturbações da Linguagem e do Desenvolvimento Intelectual”, ministrada pelo diretor clinico do Diferenças - Centro de Desenvolvimento Infantil, Miguel Palha. O programa juntou a efeméride do aniversário da instituição com as vindas regulares, do especialista que presta apoio

à APACDAH, à ilha Terceira. Estiveram presentes na palestra, aberta ao público em geral, cerca de 150 participantes. A cerimónia teve início com uma pequena apresentação da associação pela atual presidente da direção, Luísa Mendes, seguindo-se o testemunho de como nasceu a APACDAH pela sócia fundadora, Berta Silva. No final do colóquio foi realizado um jantar convívio com um número mais restrito de participantes.

SIBS com terminais multibanco mais acessíveis

Agora mais de três mil multibancos, distribuídos pelo território nacional, têm um sistema que permite a introdução de auscultadores para garantir desta forma maior privacidade e segurança aos utilizadores com deficiência visual sempre que ativem o sistema sonoro. Para tal, os utilizadores devem inserir os auscultadores,

introduzir o seu código PIN e segundos depois premir a tecla cinco. A SIBS coloca ainda à disposição dos utilizadores um número de telefone - 2178130209 – para reportar qualquer tipo de problemas relacionados com o novo sistema. Além disso, a ACAPO e a SIBS encontramse a trabalhar em conjunto para melhorar o sistema de acesso por voz às caixas de ATM aumentando o leque de operações disponíveis e melhorando também o grau de acessibilidade às mesmas. Para conhecer os terminais onde o sistema se encontra disponível visite http:// www.acapo.pt/anexos/listaATMauscultadores.pdf


V Encontro da Pessoa Excepcional do Algarve

Com o tema “Crescer Diferente”, o V Encontro da Pessoa Excepcional do Algarve, promovido pela APEXA – Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve teve como propósito principal, sensibilizar a comunidade para a reflexão sobre questões relacionadas com as crianças, jovens e adultos com deficiência. O presidente da APEXA, Nuno Neto, salientou que “a palavra «crescer» é fundamental numa sociedade livre e aberta”, e que a associação algarvia se opõe “a qualquer estrutura social que seja diferente deste caminho”. O dirigente acrescentou, ainda, que “é uma preocupação da APEXA formar e educar a sociedade para lidar e encarar estas crianças como parte dela”. O evento, direcionado a pais, educadores, professores, estudantes, psicólogos, tera-

peutas da fala, terapeutas ocupacional, outros profissionais e comunidade em geral, contou com a presença de oradores das áreas de Psicologia, Fisioterapia, Desporto Adaptado, Terapia Ocupacional e Terapia da Fala. Abordaram-se temas como a musicoterapia, a importância da intervenção precoce e da atividade física para as pessoas com deficiência, assim como, foi dada uma explicação dos modelos de atendimento e intervenção na surdez e como é “sentir na diferença”. No encerramento do evento o presidente da direção da APEXA, Nuno Neto frisou que “todas as instituições deveriam promover este tipo de iniciativas, para que a qualidade de respostas às pessoas com deficiência seja mais profissional.”

Notícias 9

I Jornada da Pastoral da Deficiência

“Um tesouro a descobrir” foi o tema da I Jornada da Pastoral da Deficiência organizada pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), a Universidade Católica Portuguesa (UCP) e o Instituto de Ciências da Saúde (ICS). Este evento, realizado em novembro, centrou-se na reflexão teológica e pastoral sobre as condições existenciais de pessoas com deficiência nos diversos contextos da vida da Igreja. Além de abrir espaço à reflexão, a I Jornada da Pastoral da Deficiência quis também promover a partilha de testemunhos de forma a garantir a plena participação das pessoas com deficiência e suas famílias. Uma das responsáveis pelo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), Isabel Vale, frisou a importância das pessoas com deficiência “terem a sua voz” e participarem ativamente na liturgia e outras atividades religiosas. O SPPD, criado em 2010 pela Conferência Episcopal Portuguesa, também se preocupa em promover a acessibilidade dos espaços religiosos. Isabel Vale assume que o SPPD tem “um grande caminho a percorrer”, mas sublinha a disponibilidade para “acolher propostas para divulgação, a par de pedidos de ajuda que devem chegar a partir das comunidades locais”, onde as situações decorrem. A I Jornada da Pastoral da Deficiência é um “marco” no serviço de ação pastoral social em Portugal, e já permitiu abrir caminho para que outras dioceses acolham semelhante iniciativa. A diocese de Évora, em parceria com o Instituto Superior de Teologia e a catequese local, tem já encontro marcado para 16 de fevereiro de 2013.


Notícias 10

“Lisboa Acessível” está à disposição de todos 2.079 votos deram a vitória ao projeto “Lisboa Acessível” na 5.ª edição do Orçamento Participativo (OP) da Câmara Municipal de Lisboa, na categoria de projetos entre 150 e 500 mil euros. Este projeto visa tornar o percurso desde Entrecampos até ao Marquês de Pombal livre de barreiras físicas incómodas para pessoas com deficiência motora, cegos, idosos, ou pais com carrinhos de bebé. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas pela Associação Salvador

Porque “há obstáculos que só podemos ultrapassar juntos”, a Associação Salvador juntamente com a ADFA, ACAPO, ACA-M, ANACED, APEDV, FPDD, Fundação LIGA e Gulliver lançaram um apelo à votação no projeto “Lisboa Acessível”, apresentado ao OP da Câmara Municipal de Lisboa. O apelo foi ouvido por 2019 pessoas que decidiram apoiar o projeto que pretende “criar uma zona modelo daquilo que deverá ser a cidade do futuro”. Ou seja, “uma cidade inclusiva, mais atrativa, organizada, agradável para passear e andar a pé, que proporcionará uma maior qualidade de vida a TODOS os cidadãos”, pode ler-se no comunicado da Associação Salvador. “Lisboa Acessível” será agora uma realidade, já que foi o segundo projeto mais votados de valor superior a 150 e 500 mil euros. O projeto 131, número de votação no OP, pretende tornar o eixo Entrecampos – Marquês de Pombal um modelo de acessibilidades. Ao longo deste troço pretende-se adaptar as

passadeiras, colocando pavimento táctil e sinais sonoros nos semáforos. As paragens de autocarro também serão alvo de adaptação assim como todo o restante pavimento que deverá ser regularizado. Por último, será relocalizado o mobiliário urbano, removendo obstáculos dos passeios e criando corredores de circulação com a largura exigida por lei. Ao eliminar todas as barreiras à acessibilidade existentes esta obra beneficiará todas as pessoas, nomeadamente as que têm deficiência, as que são idosas e as que temporariamente têm mobilidade reduzida, por exemplo, pais com carrinhos de bebé, crianças e grávidas. Uma coisa é certa, segundo a memória descritiva do projeto, a intervenção neste percurso demonstrará as vantagens de uma Lisboa acessível para todos.


V Seminário de Educação Inclusiva Organizado pelo Núcleo de Educação Inclusiva, que agrega um conjunto de professores investigadores do Centro de Estudos e Intervenção em Educação e Formação (CeiEF) da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT), o V Seminário de Educação Inclusiva cumpriu tudo a que se propunha: promover um amplo debate científico, a reflexão sobre as boas práticas nesta área e incutir nos participantes a necessidade de investigar para agir e de refletir sobre a ação. Neste evento abriuse “o debate e a reflexão à volta de uma Educação que se quer para todos, com todos e de todos, não deixando nas margens os que são menos «iguais», por razões de ordem intelectual, física, psicológica, racial, étnica ou religiosa”, refere Isabel Sanches, da organização, na introdução ao programa. Rever preconceitos, entre eles, o de que não é possível ensinar no mesmo grupo pessoas com diferentes níveis e/ou etapas de desenvolvimento também é um dos objetivos deste seminário que se divide em três momentos essenciais, que é como quem diz, três tipos de contributos distintos ao longo dos dois dias do evento. Os momentos culturais, que pontuaram o programa, na opinião da organização, servem para repensar “a nossa atitude face aos nossos «encontros» com a «diferença»”. O «dizer» dos especialistas, um segundo momento com um painel de participantes vastíssimo. As intervenções dos profissionais da área trouxeram para a reflexão problemáticas

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atuais e pertinentes “dando sentido a um melhor enquadramento teórico e a um melhor suporte das práticas sociais e educativas”. E por último, o testemunho “dos que todos os dias gerem no terreno as situações mais complicadas” e que partilharam neste evento “as problemáticas emergentes das suas práticas educativas, alargando o diálogo e as possibilidades de resolução das mesmas”. “Embora o clima social e educativo seja muito pouco favorável, neste momento de grande tensão social, política e educativa”, contextualiza Isabel Sanches, o balanço do V Seminário de Educação Inclusiva é positivo. Mas a quantidade de participante no encontro é prova de que, “apesar das circunstâncias, a necessidade de aprender e de partilhar experiências e saberes continua ativa e mobilizadora”, conclui.

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“Vem Comigo”, no bom caminho

Desde 2003 que o projeto “Vem Comigo” tem vindo a sensibilizar, consciencializar e recolher os deficientes de guerra das ruas das cidades angolanas, oferecendo-lhes apoio na formação profissional, na reabilitação e no regresso às suas zonas de origem. Quer excombatentes, quer vítimas de minas civis, ao todo a Associação Nacional dos Deficientes de Angola (ANDA) já ajudou mais de 10 mil pessoas com deficiência na respetiva reinserção social. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas pela ANDA

Ao certo, até agora, o projeto “Vem Comigo” ajudou 10119 deficientes. Uma gota de água num oceano de pessoas marcadas pelas guerras de Angola. Este país esteve mergulhado, mais de 40 anos, em conflitos armados, primeiro na Guerra de Independência, depois na Guerra Civil que terminou oficialmente em 2002. E foi nesse ano que o Ministério da Administração Pública e da Solidariedade Social (MAPSS) abraçou o projeto apresentado pela ANDA. “Em 2000, verificou-se, nas ruas das cidades de Luanda, Benguela, Huambo, o número de pessoas com deficiência a mendigar. Nessa altura elaborouse o projeto e submeteu-se ao Governo que só no final de 2002 se mostrou interessado” em participar no projeto “Vem Comigo”, lembra o presidente da ANDA, Silva Lopes Etiambulo Agostinho. Era necessário fazer alguma coisa por todos os que apresentavam cicatrizes de décadas de guerra e mendigavam pelas ruas. A pobreza, o desemprego, a falta de alojamento, assistências médica, medicamentosa e social foram alguns dos problemas identificados. Mas também existiam muitos ex-combatentes traumatizados, sem documentos que os identifiquem e outros sem saber o paradeiro da família. No início de 2003 foram assinados os acordos que constituíam a ANDA como executora do projeto, a

Fundação Lwini como coordenadora administrativa e o MAPSS como financiador. “No dia 22 de abril do mesmo ano lançou-se o projeto na província do Bengo, com cerca de 20 deficientes de guerra ou ex-combatentes, num terreno de 100 hectares para a agricultura”, descreve o presidente. Mas além da criação de cooperativas agrícolas são fomentadas atividades e formação profissional em áreas como a agropecuária, artes e ofícios, pesca artesanal, comércio precário, construção civil, e outros serviços como serralharia, lavandaria, salões de beleza. Estas foram as soluções encontradas pelo projeto “Vem Comigo” para contrariar o baixo nível de escolaridade e formação profissional e a discriminação por parte dos empregadores na reintegração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Para ajudar os deficientes “que queriam regressar às zonas de origem, passamos na província do Cuanza-Norte, deixámos 15 deficientes, em Malanje deixámos 45 deficientes, depois em Lunda Sul ficaram 4 deficientes, em Moxico outros 4 deficientes”, descreve o presidente da ANDA sem esquecer de sublinhar que “esta foi a primeira viagem” realizada no âmbito do projeto, “em 2003, num momento em que as estradas estavam todas esburacadas porque o país tinha acabado de sair da guerra e ain-


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da não existia o plano de reabilitação das estradas”. O projeto “Vem Comigo”, atualmente, está na 4.ª fase de implementação, virada especialmente para as mulheres vítimas de minas. Se nas fases anteriores o projeto estava mais voltado para os ex-combatentes, agora atua com mulheres, com pernas e braços amputados, que passam o dia a mendigar por não terem nenhuma ocupação diária. Apesar de muitas delas receberem o apoio de instituições de caridade - algo que dificulta a sensibilização, mobilização e motivação para integrarem o projeto – não têm o acompanhamento, nem as perspetivas de vida que o “Vem Comigo” lhes garante. “Os nove anos do serviço aduo de implementação do Projeto “Vem Comigo” permitiram retirar, das ruas das cidades mais populosas do país, todos os ex-combatentes deficientes e alguns de âmbito natural e reassenta-los nas áreas que preferiram viver”, pode ler-se no relatório do projeto, que, no entanto, assume, que ainda é preciso melhorar o bem-estar social de todos eles. Por isso, a ANDA submeteu ao governo a proposta para avançar para uma 5.ª fase do projeto “Vem Comigo”. Nesta próxima fase o projeto “vai estar empenhado na reabilitação de algumas casas construídas nas fases anteriores”, para além de continuar o processo de integração social dos deficientes de guerra. Silva Lopes Etiambulo Agostinho pretende também que o projeto passe a ser um sistema com participação direta do Ministério das Finanças para alocar fundos do Orçamento Geral do Estado para a sua materialização. De resto, o presidente da ANDA considera o balanço do projeto positivo e, em jeito de saudação aos 36 anos de independência de Angola, refere que “hoje em dia, nas ruas, já não há um número elevado de deficientes a mendigar”. “Estamos num bom caminho”, remata.

Mais sobre o ANDA A Associação Nacional dos Deficientes de Angola (ANDA), apesar de há muito se fazer sentir a necessidade de uma organização de pessoas com deficiências em Angola, só foi fundada a 1 de fevereiro de 2012. A ANDA possui representações em todas as províncias, é membro da Organização Mundial dos Deficientes (DPI) e membro da Federação de Deficientes da África Submarina (SAFOD) e é também membro fundador do Federação das Organização de Deficientes da CPLP, e da Federação das Organizações dos Deficientes de Angola (FAPED). Com sede em Luanda, a ANDA, foi, recentemente, declarada como instituição de utilidade pública na 3.ª sessão ordinária o Conselho de Ministros do Governo angolano.


Fórum 14

“Nada sobre vós, sem vós”

Esta página da Plural&Singular destina-se à sua instituição, sendo a publicação destes anúncios/sugestões/

campanhas de carácter gratuito… Nesta página da sua revista dedicada à temática da deficiência, pode publicar, publicitar, divulgar, as suas campanhas de recolha de bens, angariações de fundos, ações de solidariedade… A Plural&Singular oferece este espaço aos seus parceiros sociais e institucionais, tendo como objetivo aproximar cada vez mais esta publicação dos seus principais intervenientes e leitores… Assim, esta página da Plural&Singular destina-se a si e a dar voz às reais necessidades da sua instituição… Os anúncios, divulgação de campanhas e sugestões publicados nesta página são da inteira responsabilidade dos seus subscritores, sendo compromisso da Plural&Singular que só serão publicadas campanhas que visem um bem comum e sustentável… Esta página da Plural&Singular é parte integrante da sua edição trimestral, constituindo um dos motores de promoção da “missão” inclusiva deste projeto… A Plural&Singular aconselha a leitura deste Fórum, bem como apela à participação de cada vez mais agentes nas campanhas divulgadas… Email para envio de sugestões, campanhas, anúncios (textos e/ou fotografias): geral@pluraesingular.com NOTA: A Plural&Singular reserva-se ao direito de rejeitar os anúncios que não se enquadrem na sua orientação editorial. A colocação/escolha/ ordem de publicação dos anúncios estará sujeita a imperativos de paginação.

A MINHA CORRIDA É O SORRISO DO

A próxima Maratona de Lisboa, no dia 8 de dezembro, contará com uma campanha muito especial: o campeão olímpico português de atletismo, Carlos Lopes, vai correr com Ricardo Pinto, atleta paralímpico de orientação de precisão. A iniciativa chama-se “A minha corrida é o sorriso do Ricardo”. No sábado Carlos e Ricardo vão percorrer 42,195 metros em Lisboa. Carlos Lopes empurra a cadeira-de-rodas de Ricardo Pinto e outras pessoas poderão juntar-se a esta ideia e fazer felizes pessoas que se deslocam em cadeira de rodas mas que gostariam de participar numa maratona. Basta que entrem em contacto com os organizadores procurando a página da campanha no facebook.

https://www.facebook.com/?ref=tn_tnmn#!/ OSorrisoDoRicardo?fref=ts “Como tudo na vida tem o seu objetivo, tracei o meu para a próxima Maratona de Lisboa, a realizarse em Dezembro. Em 2011, fiz os 42 kms a empurrar um carinho de bebé, na companhia do José Valentim, um pequeno amigo de dois anos. Fizemos a Maratona em 3h45. Este ano, o meu objetivo é cumprir a distância com alguém que esteja incapacidade de andar e que tenha o sonho de concluir uma maratona. Assim, lanço o pedido: Se tem um amigo/a, que, por alguma infelicidade da vida, esteja numa cadeira de rodas e tenha o sonho de fazer uma maratona, contacte-me. O meu esforço será o sorriso de alguém”, refere Carlos Lopes.


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As pessoas com deficiência, ontem, hoje e amanhã E quando sonha o filho Como agora está sonhando Com palavras que só nós conhecemos Com estas palavras que lhe construo Em noites como esta, Quando o meu filho sonha É um canto Andrés Aberasturi In Un blanco deslumbramiento (palabras para Cris)

Ontem as pessoas com deficiência eram os coxos, os paralíticos, os ceguinhos, os mudos. Eram a encarnação do castigo ou um símbolo de sorte. Eram escondidos ou usados como fonte de rendimento das famílias nas ruas onde estendiam as mãos à caridade. De uma ou outra forma eram sinalizados, distinguidos. Investigadores reportam que na Roma Antiga algumas disposições de direito (Lei das XII Tábuas) concediam aos familiares uma base legal para a morte da criança quando nascia com alguma deficiência. “Na Tábua IV, que tratava especificamente do pátrio poder, vamos encontrar: “ I – Que o filho monstruoso seja morto imediatamente””. O cristianismo instituiu uma base de caridade e assistencialismo para com as pessoas. Assim, as pessoas com deficiência são alvo de caridade e de piedade que se traduz na sua institucionalização como forma de ajudar. Diga-se que muitos dos estereótipos sobre estes

cidadãos ainda persistem nos dias de hoje. Em pleno século XXI ainda há quem toque na “corcunda” de uma pessoa com escoliose porque dá sorte. As Nações Unidas estimam que haverá cerca de 1 bilião de pessoas com deficiência a nível mundial (15 por cento), a maioria das quais vive em países em desenvolvimento. A “maior minoria do mundo”, como foi denominada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, está desproporcionadamente representada entre os estratos mais pobres da população e tem menos oportunidades de escapar à pobreza do que as pessoas sem deficiência. A relação entre pobreza e deficiência é dialética. Por norma, os estudos ou censos sobre pobreza não integram a deficiência entre os seus itens mas, de acordo com estimativas do Banco Mundial, uma em cada cinco das pessoas mais pobres do mundo tem uma deficiência e, segundo as Nações Unidas, 82 por cento destas pessoas vive abaixo da linha da pobreza nos países em vias de desenvolvimento. A pobreza não é, no entanto, um fenómeno que atinja unicamente os países mais pobres, está


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disseminada em todo o mundo. O estudo do Banco de Portugal revela que no nosso país o número de pobres em 2005/06 ascendia a perto de 2 milhões, dos quais cerca de 300 mil eram crianças. O mesmo estudo aponta para um maior risco de pobreza dos agregados familiares em que o representante é uma pessoa com deficiência. Porquê? Até aos anos 70, a deficiência era vista como um problema da pessoa. O modelo médico associava as diferentes deficiências a diferentes níveis de incapacidade, mobilizando critérios de natureza exclusivamente médica. O modelo social da deficiência estruturou-se em oposição ao que ficou conhecido como modelo médico da deficiência, isto é, aquele que reconhecia na lesão a primeira causa da desigualdade social e das desvantagens vivenciadas pelas pessoas com deficiência, ignorando o papel que desempenhavam as estruturas sociais na diferenciação. Entre o modelo social e o modelo médico, há uma mudança na lógica da causalidade da deficiência: para o modelo social, a causa está na estrutura social; para o modelo médico, no indivíduo. Para o modelo social faz pouco sentido centrar a definição de deficiência nos limites do corpo, mas sim colocar o enfoque na experiência da desigualdade e da segregação. No início dos anos 70, um grupo de pessoas com deficiência do Reino Unido apresentou um modelo social que, desde então, passou a ser considerado como um manifesto de alteração ao comportamento social. Este modelo ofereceu os meios para que as pessoas com deficiência pudessem questionar as normas (legislação), os estereótipos e as estruturas da sociedade, e, ao mesmo tempo, indicou alguns caminhos positivos. Chamou a atenção para o facto de os problemas que as pessoas com deficiência enfrentam no seu quotidiano não resultarem somente das suas deficiências individuais, mas sim da relação destas com as barreiras físicas, culturais e sociais que enfrentam no mundo em que vivem.

Deste movimento e a partir do contacto estreito com as Nações Unidas é aprovado em 2006 a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CPDP), ratificada pelo Estado Português em julho de 2009. Este instrumento fundamental para a salvaguarda dos direitos e da dignidade das pessoas com deficiência tem como objetivo promover, proteger e garantir o pleno e igual gozo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. A CPDP tem características únicas:  É simultaneamente um instrumento de direitos humanos e de desenvolvimento  É um instrumento político transversal a todo o tipo de deficiência e trans-sectorial  É legalmente vinculativo O problema é tão-somente que os Estados não cumprem a Convenção. Recentemente o Eurobarómetro demonstrou que os europeus sentem que a discriminação está a aumentar. Não somente em relação às pessoas com deficiência, mas com este estrato a sofre um maior grau de situações discriminatórias. A austeridade é responsável pelo surgimento de sentimentos como o de rejeição perante gastos que o comum dos cidadãos considera não se justificarem, como por exemplo na eliminação de barreiras físicas. O futuro pertence-nos. A todos nós que compõem a sociedade portuguesa, europeia e mundial. Conquistado que foi a adoção de um instrumento de direitos humanos o passo seguinte é assegurar a sua implementação. Com todos os nossos concidadãos, conscientes que o desenvolvimento económico, cultural e social só se consegue com o empenho de todos e com a inclusão de todos, sem exceção. A APD tem chamado a atenção para os custos morais, sociais e económicos que resultam da segregação de milhares de cidadãos. Incluir é apostar no desenvolvimento sustentável da sociedade.



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Medic função cer com

Sín


camento melhora rebral de pessoas

ndrome de Down

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O neurocientista brasileiro, Alberto Costa, é pai de uma menina com Síndrome de Down com 17 anos, e há 16 que investiga nessa área. Do cruzamento da vida pessoal com a profissional nasceu uma motivação positiva que o levou a desbravar novos caminhos na pesquisa de terapias que melhorem a função cerebral das pessoas com Síndrome de Down. O investigador da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, descobriu que a memantina, utilizada pelos doentes de Alzheimer, pode ser usada para melhorar as habilidades cognitivas das pessoas com Síndrome de Down.

Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas por Alberto Costa


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O contexto e a motivação… pessoal

fonoaudiologia,“não existe nenhuma terapia medicamentosa aprovada para aumentar a cognição de quem tem Síndrome de Down”, sublinha o neurocientista, Alberto Costa. E na altura, em que o investigador mergulhou nesta área de pesquisa, “a maior parte das pessoas que trabalhavam com Síndrome de Down, geralmente, eram geneticistas”. O genoma humano ainda não tinha sido sequenciado e as pesquisas de então estavam focadas nos genes que compunham o cromossoma 21, “porque era o mais pequeno cromossoma somático” e, por isso, o mais fácil de sequenciar. Havia muito pouco conhecimento em termos de neurobiologia, a própria neurologia e neuropsicologia eram pouco avançadas. Exatamente no ano em que a filha de Alberto Costa nasceu, foi generalizado o conhecimento do camundongo – pequeno rato usado em laboratório criado especificamente para modelar a Síndrome de Down. Apesar do rato não ter o cromossoma 21, “a parte distal do cromossoma 16 do camundongo tem a maior parte dos genes do cromossoma 21 humano”. Este rato trissómico foi criado pela cientista Muriel Davisson e “modela muitas das características que se encontram nas pessoas com Síndrome de Down”. Com esta criação do rato trissómico, começou a viagem do neurocientista na pesquisa da Síndrome de Down. A família mudou-se do Texas para o Maine, onde Alberto Costa passou 5 anos a colaborar com a cientista Muriel Davisson. “Eu tinha o meu próprio grupo de pesquisa, mas estava a trabalhar sob o guarda-chuva do laboratório da doutora. Com ela aprendi muita coisa sobre a genética da Síndrome de Down, ela era basicamente uma geneticista e, em troca, ela aprendeu muito sobre neurologia”, conta o investigador.

Ao contrário da maioria dos pais com filhos portadores de Síndrome de Down, Alberto Costa tem os requisitos necessárias para investigar novas terapêuticas e assim, procurar alguma solução para melhorar a qualidade de vida da filha. Com formação em biofísica, o neurocientista brasileiro além de investigador, é, também, professor associado de medicina e neurociência na Faculdade de Medicina da Universidade de Colorado. Quando a filha nasceu, no Texas, Alberto Costa estava a terminar o doutoramento e a ponderar voltar para o Brasil. Chegou a ir a entrevistas e a ter uma oferta de emprego no seu país natal.“Na época a terapia que existia no Brasil sobre Síndrome de Down era muito pouca”, confessa e, por isso, optou por ficar nos EUA, onde mora há 23 anos. “Quantos pais no mundo podem dizer que como consequência direta do seu estudo, a qualidade de vida do seu filho ou filha melhorou?” À pergunta retórica que lançou durante a entrevista, seguiuse o “grande motivo de alegria” pessoal: “o meu estudo foi feito com adultos e conseguimos ver uma melhoria significativa. A minha filha já tem 17 anos agora e posso imaginar um futuro, em cinco anos, quando essa droga for potencialmente aprovada, que possa beneficiar diretamente dela”. O neurocientista, que começou a pesquisar nesta área há, precisamente, 16 anos, mesmo assim “tenta de alguma forma separar a parte pessoal da profissional, o mais possível, para não fazer com que uma coisa interfira de forma negativa na outra”. Alberto Costa não estava autorizado a pôr a filha no primeiro estudo por ainda ser muito nova, mas ainda está a ponderar se ela deve ou não entrar no próximo ensaio. Seja qual for a decisão tomada, assume desde O contexto, as motivações e a já que tem um apoio completo e incondicional descoberta da esposa e do resto da família que mora toda no “Como pai, gostava que as coisas fossem muito Brasil, senão “não poderia estar a fazer isto”, assume. mais rápidas, mas o cientista em mim sabia que existiam limites do quão rápido as coisa podem ser”, confessa o neurocientista. Consolidado o O contexto e a motivação… conhecimento do fenótipo desse rato, o investigador Alberto Costa foi trabalhar para Denver onde a profissional Atualmente para além de estratégias de reabilitação, sua pesquisa passou a ter um foco farmacológico, como a fisioterapia, a terapia ocupacional e tal como era o seu objetivo inicial. Descobriu, em


Saúde & Bem-estar 21 termos histológicos, um distúrbio na função do hipocampo do rato, entretanto, confirmado em seres humanos por um grupo de investigação liderado pelo professor Bruce Pennington que “serviu de base para pesquisas futuras e ajudou a validar o que estava a acontecer no ratinho”, explica Alberto Costa. A criação de memórias episódicas, ou seja, memórias num contexto espacial e temporal específicos, depende muito do hipocampo. Nesta parte do cérebro são produzidos neurónios durante toda a vida e “esses neurónios são formados continuamente, mesmo em indivíduos adultos”. Além disso, “existem certas doenças psiquiátricas que estão associadas à menor quantidade de neurónios produzidos” sendo que uma das mais comuns, associadas a pessoas adultas com Síndrome de Down, é, exatamente, a depressão. O estudo seguinte procurou relacionar alguns genes no cromossoma 21 - que já tinha sido sequenciado - com esse tipo de distúrbio no hipocampo. “Mostramos que a taxa de formação desses novos neurónios é menor no hipocampo do camundongo trissómico, criado pela Muriel Davisson” e que um medicamento simples, o Prozac, “recuperava esse tipo de taxa de produção de novos neurónios num ratinho adulto com Síndrome de Down”. Depois desta descoberta, a equipa de Alberto Costa tentou observar a influência da fluoxetina do Prozac no comportamento do rato. Mas só passados dois anos um grupo, na Itália, descobriu que a administração do Prozac, desde a infância, “pode mudar até a parte comportamental do camundongo”. Ainda assim, o neurocientista brasileiro, Alberto Costa, “estava interessado em coisas que se pudessem traduzir de uma forma, razoavelmente, imediata para o ser humano”. Mesmo com toda esta pesquisa farmacológica, Alberto Costa não negligencia a importância da aprendizagem convencional. O investigador conta que durante uma palestra no Canadá “uma pessoa disse uma coisa muito importante «drogas não ensinam», Porque mesmo que uma droga melhore a aprendizagem, é preciso ter uma base. Sendo uma pessoa com deficiência, tem que ter a maior quantidade de mecanismos de aprendizagem funcionais possível”, explica. O investigador, cada vez mais próximo da sua descoberta, encontrou um alvo potencial para a terapia medicamentosa: o recetor NMDA existente no

cérebro. Esta molécula é essencial em processos que envolvem a memória e o ratinho também apresentava um distúrbio nessa “antena” de comunicação entre os neurónios. De imediato se levantou a questão: existe algum medicamento no mercado que atue nesse recetor de NMDA e que possa de alguma forma inibir esse distúrbio? A resposta a esta pergunta foi positiva: existe a memantina, aprovada para adultos com doença de Alzheimer tanto nos EUA como na UE. “Nunca nada tinha funcionado de uma forma tão rápida e eficaz como a memantina funcionou no camundongo, então, de alguma forma, sentimonos encorajados a contactar o Food and Drug Administration (FDA) e propor um estudo clínico”, explica Alberto Costa. O estudo foi pequeno, para expor o menos possível “um indivíduo deficiente que tem uma capacidade reduzida para dar o seu consentimento”, mas necessário para verificar o efeito nos seres humanos. Apesar da droga funcionar em, apenas, 15 minutos no rato, eram necessários dados seguros e, por isso, o ensaio foi estipulado para 16 semanas, controlado por placebo e duplo cego, já que nem o examinador, nem o examinado sabem quem estava a tomar a droga. Participaram 19 pessoas que tomaram o placebo e 18 pessoas que tomaram memantina, com idades entre os 18 e os 32 anos. O efeito concreto do medicamento reconhece-se na aprendizagem, melhora as habilidades cognitivas, algo que até agora nunca tinha acontecido. “Essas pessoas vão funcionar melhor na escola, no trabalho, na sociedade”, remata o neurocientista.

Ts65Dn é o nome do rato criado para modelar o Síndrome de Down. Existe uma homologia entre o cromossoma 21 humano e o cromossoma 16 do ratinho.


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O contexto, as motivações e o futuro da descoberta

Apesar dos resultados apontarem para a eficácia da memantina, o próximo passo é fazer um estudo cinco vezes maior porque este medicamento é aprovado para pessoas adultas que têm Alzheimer, mas não é aprovado para pessoas com Síndrome de Down. É necessário “estudar melhor e tentar diminuir, o mais possível, a possibilidade de risco” e a boa notícia é que já existem verbas para o fazer, através de uma fundação no Brasil. Desta forma, o estudo será realizado parte nos EUA, parte no Brasil. “Vamos recrutar 200 pessoas em vez de 40 para fazer um estudo muito parecido com este último e para confirmar o que fizemos”, esclarece Alberto Costa. A faixa etária, para poder incluir crianças, será dos 12 aos 30 anos. Depois deste ensaio que demorará, aproximadamente, 5 anos a realizar, partir-se-á para o último estudo de aprovação definitiva da memantina em pessoas com Síndrome de Down. Hoje em dia a neurociência da Síndrome de Down evoluiu bastante, mas ainda existe muita investigação para ser feita e Alberto Costa pretende que a sua pesquisa, “nos próximos anos seja direcionada a essa parte do desenvolvimento neurológico”. O neurocientista assume que quer “continuar a fazer pesquisa nos próximos 20 anos”, mas espera “que o futuro da pesquisa da Síndrome de Down seja muito mais longo”.

A memantina funciona através da normalização da função de um receptor de glutamato no cérebro conhecido como o N-metil-D-aspartato ou o receptor de NMDA que desempenha um papel central na memória e aprendizagem.

O estudo e a doença de Alzheimer

Os outros pesquisadores no estudo foram Richard Boada, Ph.D., Christa Hutaff-Lee, Ph.D., David Weitzenkamp,Ph.D., Timothy A. Benke, MD, Ph.D. e Edward J. Goldson, MD.

Há cientistas que acreditam que a Síndrome de Down está ligada ao desenvolvimento da doença de Alzheimer porque aos 40 anos, uma pessoa com Síndrome de Down tem um cérebro indistinguível de uma pessoa que tenha Alzheimer. Este estudo, liderado por Alberto Costa, envolve pessoas adultas com o cérebro sem sinais desta doença neurodegenerativa e, por isso, no futuro poderá verificar-se, também, se, ao tomar a memantina ainda jovem, é retardado ou não o aparecimento de Alzheimer em pessoas com a síndrome.


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UFE & CTC & EUROPE “Doing Together” Em outubro deste ano realizou-se um encontro europeu com vista à criação de uma rede europeia com base no “Doing Together”, as práticas no domínio da doença mental, provenientes da comunidade italiana de psiquiatria, mais concretamente de Trento, Itália. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas pelo Departamento de Saúde Mental de Trento

A Comunidade de Psiquiatria italiana, o Departamento de Saúde Mental de Trento e o seu grupo de utentes e familiares, Expert Users and Family (UFE), em 2011, conquistaram os EUA, numa viagem Coast to Coast (CTC), ou seja, de lés a lés. Em outubro deste ano reuniram-se em Bruxelas para fazer o balanço desta jornada norte-americana e para criar uma rede europeia “Doing Together”. Esta abordagem pretende dar voz aos utentes e familiares que contribuem, ativamente, para, com a sua experiência, ampliar o conhecimento profissional. O exemplo mais proeminente desta boa prática é o grupo UFE, em Trento, que trabalha lado a lado com os profissionais de cada departamento, de forma a melhorar a qualidade do atendimento, colocando o utente no centro do sistema. Os profissionais da UFE são “especialistas da experiência” e são reconhecidos e pagos pela HealthcareTrust. Não substituem os profissionais de saúde, mas acrescentamlhes valor, facilitando a adesão aos tratamentos, graças à proximidade emocional que criam com os utentes e familiares, no fundo seus pares. No Encontro alusivo ao UFE e ao CTC foi exibido o filme “UFE&CTC – The craziest Coast to Coast ever!”, realizado por Sara Maino e Dennis Pisetta. Neste documentário são relatadas as 11 reuniões efetuadas na viagem aos EUA, a convite de prestigiadas universidades americanas e centros de pesquisa. As boas práticas no domínio da doença mental, provenientes da comunidade italiana de psiquiatria, relacionadas com a abordagem “Doing Together”, e o grupo EFE funcionam como uma mensagem de esperança e mudança para a comunidade europeia e mundial de psiquiatria e até para outras áreas da saúde.


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Jorge Cardoso Psicólogo Clínico/Sexólogo, Professor Universitário

Reabilitação Sexual “Quando perguntei de que forma a minha condição poderia afectar a minha vida sexual, responderam-me – Parece impossível que você, com um problema tão grave, esteja preocupado com essas coisas.” Este comentário, verbalizado por um jovem adulto com deficiência física, ilustra uma absoluta desvalorização da sexualidade, que, não constituindo regra, também (ainda) não se pode dizer que seja mera exceção. Após a ocorrência de uma doença (ou lesão) que acarrete uma deficiência física importa, num primeiro momento, conseguir uma estabilização clínica da pessoa e, de seguida, encaminhá-la para um programa de reabilitação,que pode ser curto ou duradouro, exigindo, ou não, internamento. Durante muitos anos a noção de reabilitação circunscreveu-se à dimensão funcional, ou seja, o objetivo prioritário passava pela promoção da máxima autonomia possível. A readaptação psicológica, face a um acontecimento vivenciado como traumático e integrado sob uma tonalidade de perda, perfilava-se como um processo inteiramente individual, não sendo alvo de qualquer atenção especializada. Contudo, progressivamente, foram-se desenvolvendo modalidades de apoio psicológico direcionado para a ajuda no confronto com a deficiência.

Situada na interseção da valência funcional com a valência psicológica, a sexualidade pós-deficiência física poderá fazer-se acompanhar por dificuldades, pelo que, necessariamente, esta dimensão deverá marcar presença na “agenda” dos programas de reabilitação. A sexualidade representa um dos principais problemas das pessoas deficientes. Há mesmo quem a considere uma das áreas mais importantes da reabilitação, em virtude da sua associação com a auto-estima, a imagem corporal, as relações interpessoais e as motivações. É inegável que o funcionamento sexual, quando afetado por uma situação de deficiência física, pode ter um efeito negativo sobre a readaptação global. Pensamos que a reabilitação sexual deve começar por se fazer sentir de uma forma implícita, cabendo aos técnicos criar uma atmosfera que possibilite a perceção, por parte das pessoas com deficiência, de que existe disponibilidade para ser abordada a temática sexual. Mais tarde, esta disponibilidade poderá estruturar-se de um modo explícito, sob a forma de sessões de informação/aconselhamento sexual, sendo da escolha de cada indivíduo o momento em que pretende iniciar o apoio nesta área. Este, num primeiro momento, poderá contemplar apenas o doente e, posteriormente, se tal for desejado, envolver também o/a parceiro/a sexual. A reabilitação sexual deverá alicerçar-se sobre uma matriz alargada, que ultrapasse as fronteiras da sexualidade genital e orgásmica. Caso contrário, há o risco de incorrer num reducionismo que, na pior das hipóteses, poderá levar a que a pessoa com deficiência física conclua que “acabou” para a vida sexual. Ao definir Saúde Sexual como a integração dos aspectos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexuado de formas enriquecedoras e que valorizem a personalidade, a comunicação e o amor, a Organização Mundial de Saúde forneceunos uma conceptualização suficientemente flexível para que possamos entender a sexualidade à luz de uma diversidade de comportamentos capazes de proporcionar afetividade, intimidade e satisfação sexual. Ao terminar, gostaríamos de lembrar algo que muitas vezes ouvimos ser dito por mulheres e homens com deficiência: “o maior problema ao nível da sexualidade nem é o como fazer, mas sim o encontrar com quem fazer”.


Opinião 25

www.ap-to.pt

7.º Congresso Nacional de Terapia Ocupacional Sendo um dos objetivos da Associação Portuguesa de Terapeuta Ocupacionais (APTO) a promoção da qualificação profissional dos Terapeutas Ocupacionais, esta realiza de dois em dois anos um congresso nacional que se constitui como um momento privilegiado de partilha, reflexão, discussão e crescimento conjunto, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento e divulgação da Terapia Ocupacional. Com este intuito a APTO realizou, nos passados dias 26 e 27 de outubro o 7.º Congresso Nacional de Terapia Ocupacional, no Instituto de Investigação e Formação Avançada em Ciências e Tecnologias da Saúde/Museu Municipal de Penafiel, em Penafiel. O tema deste congresso “Novas respostas para uma sociedade em mudança” pretendeu ser abrangente e lançar o desafio para apresentações e discussão em torno da importância da formação académica e da necessidade permanente de uma prática de excelência, proporcionando aos participantes a oportunidade de evidenciar e partilhar exemplos da mesma. Remeteu-nos ainda para a conjuntura atual que, em face das crescentes dificuldades económicas e preocupantes fragilidades sociais, pode representar uma oportunidade de crescimento para profissões que, como a Terapia Ocupacional, através da criação de respostas inovadoras que, sob a forma de espírito empreendedor e construtivo, habilitam as pessoas com restrições nas ocupações, a terem uma participação mais ativa e equitativa, exercendo de pleno direito, o seu papel de cidadão, enquanto ser ocupacional. Sendo considerado um evento no âmbito do “Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações”, este congresso

contou com 160 participantes, entre profissionais e estudantes de Terapia Ocupacional, nacionais e estrangeiros. Para além de convidados nacionais que apresentaram trabalhos de elevada pertinência e qualidade técnica e científica, contámos ainda com a presença de três convidados Internacionais de reconhecido mérito e competência científica mundial: - Jeanne Jackson, terapeuta ocupacional e proeminente investigadora na área da Ciência Ocupacional, que através de uma brilhante palestra partilhou com os colegas portugueses os resultados de um dos projetos de investigação com maior impacto na promoção de um envelhecimento ativo e na manutenção da saúde e bem-estar nas pessoas mais velhas. Este estudo que originalmente teve início nos EUA, foi adaptado para o contexto de seis países europeus, através de um projeto financiado pela UE, onde constava Portugal. -Hellen Gill-Thwaites que trabalha no Royal Hospital for Neuro-Disability, em Londres,


Opinião 26 desde 1989, com pessoas em estado vegetativo ou de consciência mínima – estados comatosos. Desenvolveu uma bateria de avaliação, o SMART, que permite aferir com maior grau de certeza se os seus clientes têm ou não consciência podendo, ainda que de forma simplificada, comunicar ou interagir com os seus familiares e amigos. Desta forma consegue-se aferir com maior segurança quando se deve ou não desligar as máquinas de suporte de vida nestes casos. - Ros Irwin, trabalha na HealthCare University NHS Trust, na Irlanda, com crianças e adultos, com problemas de aprendizagem, num projeto de recolocação de clientes hospitalizados nos seus domicílios, em colaboração com a comunidade local num processo de cooperação. Pela primeira vez e, sem dúvida, fruto da globalização e partilha nas redes sociais mas sobretudo do reconhecimento da terapia ocupacional como promotora da mudança nas comunidades, pudemos contar com a participação de vários colegas espanhóis e brasileiros que participaram com posters e comunicações livres. Evidenciando a elevada participação de oradores de comunicações livres e posters, contámos com a exposição de 16 posters e 21 comunicações livres. Foram grandes a qualidade e abrangência nas apresentações, resultantes quer do interesse crescente dos terapeutas ocupacionais por um maior rigor nas suas práticas, quer da reflexão crítica sobre o percurso desenvolvido e o seu importante contributo para a profissão. Em paralelo decorreram vários workshops nos quais os participantes tiveram oportunidade de experienciar algumas técnicas usadas em Terapia Ocupacional. De entre os workshops de mobilidade e posicionamento em cadeira de rodas, vestuário adaptado, a workshops de nutrição em idosos, arte terapia, musicoterapia e ligaduras funcionais, foram várias as oportunidades de aprendizagem e vivência de situações de caracter mais prático. O Congresso contou ainda com uma diversificada área de expositores onde várias empresas puderam apresentar as novidades mais recentes na área da mobilidade e independência. Desde cadeiras de rodas manuais, elétricas, sistemas de transposição de barreiras arquitetónicas, material de estimulação sensorial, a vestuário para profissionais de Terapia Ocupacional. No dia 27 de outubro, o segundo dia do congresso,

festejamos o Dia Mundial da Terapia Ocupacional, realizando na praça central de Penafiel um flahmob ao qual se seguiu a distribuição, ao público em geral, de folhetos informativos sobre a Terapia Ocupacional. Foi extremamente motivador e gratificante constatar a presença significativa de jovens terapeutas e de estudantes de terapia ocupacional, quer enquanto participantes quer na apresentação de comunicações. A presença de terapeutas com larga experiência demonstrou-nos também que estes profissionais continuam a investir e a contribuir ativamente para o desenvolvimento da Terapia Ocupacional e garante-nos a passagem do testemunho e da história da profissão aos colegas mais novos. Estes aspetos mostram-nos que os Terapeutas Ocupacionais, em Portugal, são profissionais que se preocupam e investem na aquisição de competências que lhes permitam exercer uma prática reflexiva, baseada nas melhores evidências e pautada por procedimentos éticos e rigorosos, centrados nas necessidades dos clientes, sejam eles pessoas, grupos ou organizações. Congratulamo-nos com todos estes aspetos, pois mostram a vontade dos Terapeutas Ocupacionais em serem agentes ativos na mudança e na promoção de uma sociedade mais justa e equitativa, que ofereça a todas as pessoas, independentemente das suas características, oportunidades para se envolverem nas ocupações da sua escolha, sejam estas na área dos auto-cuidados, da produtividade ou do lazer. Afinal, a perceção que cada pessoa tem de si própria e a sua relação com o mundo são altamente influenciadas pela sua participação e desempenho em atividades da sua escolha, nos diferentes estádios de vida. Desde já aproveitamos para agradecer publicamente a todos os convidados, participantes e empresas que colaboraram neste congresso permitindo a sua realização.


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Em qualquer lugar do mundo, ser portador de deficiência já de si acarreta todos os condicionalismos da própria incapacidade. Mas ser deficiente em Portugal é mais fácil ou mais difícil? A Plural&Singular não se propõe a responder a esta pergunta, mas foi ao encontro de quem pudesse fazer uma reflexão sobre a evolução do estatuto do deficiente num país que ontem passou por uma ditadura, hoje atravessa uma crise económico-financeira estando mergulhado em austeridade e em que o futuro é uma espécie de nevoeiro de incerteza… Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas


Tema 29


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A deficiência em Portugal

Em Baião, no distrito do Porto, uma aluna deficiente motora, por falta de transporte, só em novembro conseguiu regressar à escola. No Barreiro, depois da morte da mãe, há mais de um ano, dois deficientes mentais com mais de 45 anos, sem o amparo da Segurança Social, vivem dependentes da boa vontade de uma amiga da mãe que se recusa a abandoná-los, enquanto nada for feito. Sabe-se também que mais de metade das estações de metro de Lisboa não são acessíveis a quem tenha mobilidade reduzida. A Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes (CNOD) estima que a taxa de desemprego nas pessoas portadoras de todo o tipo de deficiência ande perto dos 75 por cento e, além disso, o contexto atual de crise aponta para a subnutrição e incapacidade de subsistência de muitas pessoas com deficiência no país. Estes são apenas alguns problemas concretos que afetam as pessoas com deficiência na sua generalidade em Portugal. São notícias recentes de uma realidade cheia de barreiras atitudinais, físicas, e financeiras. São notícias que não exemplificam, de forma alguma, todos os entraves e dificuldades referidos no Relatório Mundial sobre a Deficiência publicado, em 2011, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Grupo Banco Mundial (GBM) com o intuito de “promover o desenvolvimento económico e social e a concretização dos direitos humanos das pessoas com deficiência em todo o mundo”. Em Portugal, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam, segundo os censos de 2001, para a existência de mais de 600 mil pessoas com deficiência, o que corresponde a cerca de seis por cento da população residente. Mas o estudo “Modelização das políticas e das práticas de inclusão social das pessoas com deficiências em Portugal”, resultado de uma parceria entre o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa

(ISCTE), em Lisboa, e o Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG), conclui que a população de portugueses que tem uma deficiência ou incapacidade já ascende os 800 mil. Estes dados são corroborados pelo, já referido, Relatório Mundial sobre a Deficiência que aponta para o crescimento contínuo do número de pessoas com deficiência. “Isto acontece porque a população está a envelhecer – pessoas mais velhas apresentam maior risco de deficiência – e por causa do aumento global das condições crónicas de saúde associadas à deficiência, tais como a diabetes, doenças cardiovasculares e doenças mentais”, diz o relatório. Ou seja, a incidência da deficiência tem aumentado, também, devido ao aumento da esperança média de vida. E quer isto dizer ainda que “a deficiência é parte da condição humana – quase todos nós estaremos, temporária ou permanentemente, incapacitados em algum momento da vida”, e o avançar da idade tende a considerar este facto como uma certeza. No prefácio deste relatório, que aponta o caminho a seguir para melhorar a participação e inclusão desta franja da população, a diretora geral da OMS, Margaret Chan, e o presidente do GBM, Robert B. Zoellick, consideram que “em todo o mundo as pessoas com deficiência apresentam piores perspetivas de saúde, níveis mais baixos de escolaridade, participação económica menor e taxas de pobreza mais elevadas em comparação com as pessoas sem deficiência”. Uma “correlação entre a deficiência e discriminação, pobreza e exclusão social”, já referida pelo sociólogo Fernando Fontes, em 2009, na sua tese de doutoramento “Cidadania e ação coletiva: o caso do movimento de pessoas com deficiência em Portugal”. Segundo o Relatório Mundial sobre a Deficiência, em parte, esta situação deve-se ao facto destas pessoas “enfrentarem barreiras no acesso a serviços


Modelos de deficiência em Portugal

que muitos de nós consideram garantidos há muito, como a saúde, a educação, o emprego, o transporte e a informação”. A deficiência é complexa. Isso é um facto. A começar pelos próprios conceitos que a cercam. Discuti-los “dá pano para mangas”. Para uns, analisar conceitos pode ser preciosismo, mas para outros “é preciso chamar as coisas pelos nomes” e o investigador associado do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, Fernando Fontes, encaixa neste segundo grupo. Este investigador, que fez o doutoramento, no Reino Unido, tem “uma grande influência anglo-saxónica” e, por isso, baseia-se na distinção entre incapacidade e deficiência referida no manifesto Fundamental Principles of Disability, lançado em 1976, pela Union of the Physically Impaired Against Segregation (UPIAS), a organização “chapéu” das pessoas com deficiência britânicas. Este manifesto “vem dizer que a incapacidade se refere às questões físicas e biológicas do indivíduo e a deficiência não é mais que uma construção social, que deve ser entendida como opressão por parte da sociedade”. O sociólogo e investigador refere que “em Portugal nunca se fez muito esta distinção e muitas vezes estes conceitos são utilizados como sinónimos”, mas considera que “falta fazer, claramente, a separação entre eles”. Separar estes conceitos é adotar o modelo social da deficiência, “o único”, na opinião do sociólogo, “que apresenta um potencial de emancipação para as pessoas com deficiência que os outros modelos - médico e relacional - não apresentam”. Do lado oposto a este paradigma fica o modelo médico ou individual da deficiência, centrado na “anormalidade” do corpo como causa direta das barreiras e limitações vivenciadas pelas pessoas com deficiência - encaradas como inativas, dependentes e passivas. Ao meio, por assim dizer, está o modelo relacional baseado numa visão bio/psico/social. Adotado pela OMS com a publicação da nova Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), este modelo “vem dizer que a deficiência também é uma construção social, mas também é médica, tem a ver com o contexto, com uma série de questões” pessoais e ambientais, explica Fernando Fontes.

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O sociólogo português não adota este modelo de mediação defendido pela OMS porque “não tem o potencial de emancipação” do modelo social. O modelo bio/psico/social “não diz exatamente qual é o peso de cada um destes fatores”, sendo que esse peso é determinado pelas pessoas que fazem a avaliação - muito ligadas ao modelo médico – “os profissionais da área da saúde têm um poder instituído em termos sociais muito maior que qualquer outro tipo de profissionais”. Assim, o investigador do CES elege o modelo social por considerar que “é extremamente poderoso dizer que a deficiência é socialmente construída, é a sociedade que deficientezita ao criar um conjunto de barreiras físicas, sociais, atitudinais”, não permitindo a integração das pessoas com deficiência “na sociedade como qualquer outro cidadão que não tem qualquer deficiência”. Segundo o sociólogo, em Portugal, “o movimento de deficientes nunca fez esta discussão e acabou muito por ir atrás das conceções do Estado e das instituições públicas”.

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ONTEM

Na Antiga Grécia o infanticídio das crianças com deficiência era prática comum e na Idade Média os indivíduos “diferentes” eram considerados criações do diabo, associados a práticas de bruxaria e feitiçaria e, por isso, perseguidos, nomeadamente pela Inquisição. Em Portugal, no início do séc. XVII, a Rainha Santa Isabel legislou a ocupação dos deficientes, através de um conjunto variado de atividades artesanais. Nesta altura, influências religiosas ditavam graças de Deus aos que amparassem os deficientes e, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento da medicina moderna, no séc. XVIII e XIX, a conceção da deficiência tornou-se cada vez mais alvo da atenção médica. “É a partir daí que começamos a ter a segregação das pessoas para instituições especializadas”, afirma Fernando Fontes. Em 1834, a Casa Pia de Lisboa iniciou a assistência aos surdos-mudos. Este foi o primeiro serviço especializado para pessoas com deficiência em Portugal. “A partir da segunda metade do século XIX começam a surgir hospitais psiquiátricos e isso acontece até, mais ou menos, aos anos 60 do século XX e é o próprio Estado a fazer esse trabalho”, explica o sociólogo. Estas instituições, criadas para a exclusão das pessoas com deficiência, também funcionavam em sistema de mecenato, mistur-

ando-se, assim, o modelo caritativo com o modelo médico, este último assente na reabilitação, principalmente devido às duas guerras mundiais. Tirando este “empenho” do Estado em afastar as pessoas com deficiência da sociedade, “de uma maneira geral o período antes da revolução de abril de 1974 foi marcado pela ausência de políticas dirigidas aos cidadãos com deficiência”, declara Fernando Fontes. “Por força dos condicionalismos político-sociais de então, na maioria das situações, eram as famílias que tinham a responsabilidade direta do apoio às pessoas com deficiência, durante toda a sua vida”, acrescenta o presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, (INR, I.P.), José Madeira Serôdio. Ainda assim “foram surgindo respostas inovadoras da sociedade civil, designadamente através do movimento associativo”, realça o presidente do instituto público tutelado pelo Ministério da Solidariedade e da Segurança Social. No entanto, “durante a ditadura, o Estado desconfiava muito de tudo o que eram movimentos associativos”, introduz Fernando Fontes, acrescentando que “as organizações de deficientes que surgem, em Portugal, tinham muito subjacente a ideia da caridade e que só assim se conseguiam afirmar e eram toleradas pelo próprio Estado”.


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O 25 de abril As pessoas com deficiência entraram na Revolução dos Cravos sem proteção, nem assistência sociais por parte do Governo, com exceção dos casos de deficiência adquirida pelo trabalho ou pela guerra, nomeadamente, a Guerra Colonial. “Aí a medicina reabilitativa toma claramente o poder”, sublinha o sociólogo. “Mas na verdade não se contribuía para a efetiva inclusão das pessoas com deficiência”, afirma Humberto Santos, presidente da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) criada em 1972 em consequência do debate surgido em torno da primeira iniciativa legislativa, em 1971, precisamente, sobre reabilitação e integração social de indivíduos deficientes. Depois da repressão e do atraso social que o Estado Novo provocou, é consensual que o 25 de abril é uma data incontornável, também, para as pessoas com deficiência. Para Fernando Fontes esta data “tornou possível a emergência do movimento das pessoas com deficiência em Portugal”. Passam a existir organizações lideradas pelos próprios deficientes aplicados na reivindicação política de direitos de cidadania e

na denúncia da exclusão e opressão sociais. “Passa a haver uma maior capacidade de expressão e de participação”, acrescenta Humberto Santos da APD. O fim da Guerra do Ultramar, e o regresso de uma massa de homens e rapazes com deficiência, “a um país completamente envelhecido, com ideias de deficiência que não lhes permitiam seguir com a própria vida”, na opinião do sociólogo Fernando Fontes, “foi um momento marcante” para mudar as conceções da deficiência. Pouco mais de 15 dias depois do golpe de Estado militar é criada a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) para reivindicar direitos sociais. Esta organização dos deficientes militares contribuiu para “desconstruir esta ideia de que a pessoa com deficiência é passiva” e dependente da benevolência do Estado para receber um subsídio por incapacidade ou uma reforma. “Há slogans dos jornais da APD e da ADFA que dizem: «Nós queremos trabalho, nós não queremos piedade»”, descreve o investigador do CES.


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“O

movimento associativo tem contribuído significativamente para a mudança de atitudes sociais, para a cultura da solidariedade e para a visibilidade das capacidades das pessoas com deficiência e suas famílias, mobilizando e envolvendo a sociedade civil em projetos e iniciativas inovadoras”, afirma o presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, (INR, I.P.), José Madeira Serôdio. O Estado-Providência português só surge “no final da década de 70, contrariamente, aos restantes países ocidentais em que a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde surgem a seguir à II Guerra Mundial”. Mesmo assim, a nova Constituição da República Portuguesa (CRP), aprovada em 1976, já perspetivava as pessoas com deficiência como cidadãos que “gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição”. E ainda, “este famoso artigo 71º, vem dizer que o

Estado deve criar uma política nacional de tratamento, prevenção, reabilitação e integração dos cidadãos com deficiência”, sublinha Fernando Fontes. O surgimento do Secretariado Nacional de Reabilitação (SNR), em 1977, que sucedeu à Comissão Permanente de Reabilitação, é segundo José Madeira Serôdio “uma conquista absolutamente incontornável”. Este instrumento do Governo – o atual Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. - tinha como finalidade última a concretização deste artigo 71º da CRP.


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Tudo graças ao 25 de abril, que, na opinião do presidente do INR, I.P., “consubstanciou a conquista de condições favoráveis e inspiradoras para a defesa dos direitos das pessoas com deficiência, bem como a consciencialização social da importância da construção de uma sociedade para todos”. Ainda assim, o Estado Social era pouco eficiente. Embora Portugal tenha acompanhado a mudança de paradigma ao começar a luta pelos direitos das pessoas com deficiência, as políticas da deficiência do país assentavam nas necessidades dos deficientes

e não nos seus direitos. Na opinião do presidente da APD, Humberto Santos “não obstante poder ser percetível que em muitos domínios melhoramos muito a nível da interação, não melhoramos o suficiente”. Portugal acusava uma grande fragilidade pós-revolucionária, tendo por duas vezes, em 1977 e 1983, o Fundo Monetário Internacional (FMI) socorrido o país com um acordo de resgate financeiro. Ainda assim, as diversas conquistas que foram sendo feitas no que diz respeito à proteção social acabaram confirmadas pela Lei de Bases da Segurança Social, em 1984.

Portugal e a União Europeia Com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), no dia 1 de janeiro de 1986, caiu por terra a “grande permeabilidade do próprio Estado à influência das organizações e do movimento das pessoas com deficiência”, constata Fernando Fontes. “Muito se tem feito em Portugal ao longo dos anos, sem que as organizações, na verdade, sejam chamadas a pronunciar-se”, reitera o presidente da APD. E, esta democracia pouco participada que Humberto Santos diz existir atualmente, na opinião

do investigador do CES, Fernando Fontes, deve-se ao facto do Estado ser, a partir da entrada na CEE “muito mais recetivo à influência por parte da UE”. Mesmo assim, Humberto Santos encontra benefícios na adesão a este mercado comum europeu ao considerar que se começou “a olhar para as diferentes realidades dos países de uma forma transversal” passando “a querer comungar dos mesmos desafios e a construir propostas da mesma forma”. Também, o presidente do INR, I.P., José Madeira


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Serôdio, partilha desta opinião, já que entende que a entrada na CEE, além de significar o acesso a fundos comunitários, constituiu “uma extraordinária oportunidade para confrontar as experiências nacionais com as experiências de outros países comunitários”. Humberto Santos acrescenta que “foram construídos ao longo dos anos um conjunto de diplomas que demonstram que do ponto de vista dos princípios e dos valores os europeus não se podem queixar”. No entanto, apesar da construção da UE ter dado “impulsos decisivos”, tais como as diretivas da discriminação no emprego, a obrigatoriedade dos transportes públicos serem acessíveis, a Carta dos Direitos Fundamentais e a criação, em 1996, do Fórum Europeu da Deficiência, o presidente da APD entende que esses “impulsos decisivos não se fizeram ainda sentir de forma igual em todos nós”.

“Da parte da APD, de acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o 1.º tratado de direitos humanos do século XXI, aprovado pelas Nações Unidas, assinado e ratificado por Portugal que está obrigado a cumpri-lo, vamos trabalhar para criar condições em Portugal para melhor corresponder ao que nele está inscrito”, afirma Humberto Santos


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“As

políticas sociais, sobretudo estas na área da deficiência, têm sido construídas nesta articulação entre as conceções das políticas de deficiência, por um lado, da disponibilidade de recursos económicos e financeiros existentes por outro e, também, por outro lado a influência de organizações que têm poder nesta área”, afirma o sociólogo e investigador do CES, Fernando Fontes.

O Governo português com uma “abordagem política a conta-gotas” só cede à pressão exterior, quer ela venha por parte das associações, quer exista por parte da UE. Mediante esta ausência de uma política global, o presidente da APD acusa a falta de aplicação

HOJE

Mas afinal qual é o modelo da deficiência que impera nos dias que correm? “As conceções atuais da sociedade portuguesa baseiam-se muito no antagonismo destas visões: uma visão médica e uma visão social da deficiência”, responde Fernando Fontes. Mas Humberto Santos da APD acrescenta que “o modelo social da deficiência está com grandes dificuldades de penetração”. Além do mais, as tendências para o confinamento e compensação das pessoas com deficiência ainda se verificam, o que comprova uma falha na gestão das políticas sociais por falta de definição de objetivos globais por parte do Estado. “Temos um modelo social por construir”, considera Humberto Santos. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a crise financeira mundial em 2008 foi uma espécie de entroncamento na realidade portuguesa a apontar outros caminhos, deixando Portugal sem rumo perante a crise. Antes desta “paragem obrigatória” provocada pela recessão mundial e pela estagnação portuguesa, há quase cinco anos, o país parecia estar “no bom caminho”. Em 2006, alterações legislativas trouxeram inovações significativas às Normas Técnicas de Acessibilidade aos edifícios e espaços públicos, bem como edifícios destinados à habitação. O 1.º Plano de Ação para a Integração

dos princípios no terreno. Humberto Santos considera que a associação que preside é “na verdade um grupo de pressão, um grupo de lobby institucional”, mas assume também “que o esforço despendido para o resultado obtido é muito desproporcional”.

das Pessoas com Deficiência ou Incapacidade 20062009 apresentava uma proposta de atuação holística, que de alguma maneira, vem colmatar a lacuna de uma política global apontada por Fernando Fontes. A Lei Anti-discriminação, também publicada em 2006, foi invocada recentemente na primeira iniciativa pública do Movimento (d)Eficientes Indignados, um grupo independente que nasceu nas redes sociais. O Dia da Reclamação, a 27 de julho, serviu de mote para este movimento lançar o apelo às pessoas com deficiência do país para que denunciassem “a inacessibilidade do serviço público e a discriminação a que estão sujeitas no acesso aos edifícios públicos”, explica um dos nove membros da direção deste grupo, Jorge Falcato. “A legislação sobre as acessibilidades tem data para a adaptação dos edifícios até 2017” e, por isso, as queixas apresentadas foram “ao abrigo da lei anti discriminação” porque o Movimento (d)Eficientes Indignados considera que “não ser possível entrar num edifício público é uma prática discriminatória, tipificada na lei”. Sabe-se que foram apresentadas reclamações de norte a sul do país, só não se sabe ao certo o balanço deste “marcar de posição”, que teve o apoio de várias figuras públicas. Agora resta esperar pela abertura dos processos por discriminação para avaliar o real impacto desta iniciativa.


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A crise, a troika e as medidas de austeridade A CRPD, o primeiro instrumento juridicamente vinculativo a nível internacional, pretende proteger e salvaguardar os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas com deficiência.

Segundo o Relatório sobre o impacto da austeridade nos direitos das pessoas com deficiência, lançado pelo Consórcio Europeu Fundação Centro de Direitos Humanos e Deficiência, a partir de 2008, as várias reformas sociais, no emprego, na educação e na saúde implicaram a redução dos recursos disponíveis alocados a cada um destes setores. Como se ainda não bastasse, posteriormente, o resgate financeiro de Portugal, fez com que, desde junho de 2011, entre o memorando da troika e outras medidas mais recentes, tenham sido efetuados cortes drásticos nos orçamentos sociais. Tais medidas de austeridade, também impostas a outros governos europeus, põem em risco a implementação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CRPD), assinada pela UE em março de 2007 e ratificada por Portugal, em julho de 2009. Por sua vez, o Relatório Nacional sobre a implemen-

tação da CRPD, submetido à Comissão Europeia, através do secretário-geral da ONU, “comprova, no essencial, que Portugal cumpre plenamente com todos os direitos referidos na Convenção”, afirma o presidente do INR, I.P.. Este relatório compreende o período dos dois anos seguintes à ratificação final da Convenção da ONU por Portugal, ou seja, de setembro de 2009 a setembro de 2011.


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As pessoas com deficiência e suas famílias

“Existe uma tendência para a cristalização de relações que colocam a pessoa com deficiência sob condições de dependência que, além de mitigarem profundamente a sua autonomia e poder de decisão, facilmente induzem a um sentimento de “fardo” com perniciosas implicações no autoconceito e na autoestima”, pode ler-se no Relatório Final do “Estudo de Avaliação do Impacto dos Custos Financeiros e Sociais da Deficiência”. Com este cenário “montado” as famílias são obrigadas a assumir a responsabilidade dos cuidados da pessoa com deficiência, acentuando a sua vulnerabilidade económica e social. Este reforço da dependência das pessoas com deficiência na família e na sociedade, referido no Relatório sobre o impacto da austeridade nos direitos das pessoas com deficiência, também é sublinhado por Jorge Falcato do Movimento (d)Eficientes Indignados. “O Estado, no fundo, delega nas famílias o que é sua responsabilidade. E não apoia as famílias o suficiente para exercerem essa função”. Segundo o Relatório Final do “Estudo de Avaliação do Impacto dos Custos Financeiros e Sociais da Deficiência”, “a vida financeira, social e profissional é fortemente molestada pelo muito que têm que investir na pessoa com deficiência”, algo que os benefícios sociais atribuídos, não vêm, de maneira nenhuma, compensar. A Bonificação do Abono de Família para Crianças

e Jovens Portadores de Deficiência, com majoração nas famílias monoparentais, varia entre 59,48 euros e 139,15 euros. Por sua vez, o “valor miserável” do Subsídio por Assistência de 3.ª Pessoa, 88,37 euros por mês, “não é suficiente para que as pessoas possam contratar alguém fora da sua família para providenciar estes serviços”, afirma o sociólogo Fernando Fontes. “Ainda por cima, só tem direito a ele quem tenha necessidade de, pelo menos, 30 horas de apoio por semana, o que quer dizer que se fizermos as contas, não chega aos 50 cêntimos à hora. Com esse valor, não conseguimos contratar ninguém”, salienta o porta-voz do Movimento (d)Eficientes Indignados. Falta referir os 176,76 euros do Subsídio Mensal Vitalício, que, na opinião de Jorge Falcato, não chega para uma pessoa com deficiência “ter uma vida autónoma”. Nas palavras de Fernando Fontes, “ninguém consegue sobreviver com este tipo de benefícios”. Como se não bastassem estes baixos apoios finan-


Capa 40 ceiros previstos lançarem as pessoas com deficiência e as suas famílias abaixo da linha da pobreza, ainda existem custos adicionais entre os 4103 euros e os 25.307 euros que, segundo o Estudo de Avaliação do Impacto dos Custos Financeiros e Sociais da Deficiência, desenvolvido por Sílvia Portugal, Bruno Sena Martins e Pedro Hespanha e financiado pelo INR, I.P., criam ainda mais pressão e ansiedade nas pessoas com deficiência e nas suas famílias. A mais recente ação do Movimento (d)Eficientes Indignados, para impedir que o novo Orçamento de Estado seja mais gravoso para as pessoas com deficiência, vai de encontro ao aumento da dedução à coleta. “Em sede de IRS aquilo que se pode abater ao pagamento de imposto é 1900 euros, no caso das pessoas que têm incapacidade de 60 a 90 por cento. De 90 por cento para cima pode descontar 3800 euros o que não compensa, de maneira nenhuma, os tais custos acrescidos que vão de quatro mil a 26 mil euros”, refere Jorge Falcato. Reuniões com o CDS, BE, PCP e Os Verdes dão ânimo a esta reivindicação que também quer baixar o patamar dos 90 por cento de incapacidade para os 80 por cento. “Porque, no fundo, o acesso a maiores benefícios estava vedado, por exemplo, a muitas pessoas com tetraplegia, que não têm 90 por cento de incapacidade mas têm custos

muito grandes para ter uma vida autónoma”, explica Jorge Falcato do Movimento (d)Eficientes Indignados. “É esperar e ver no que vai resultar”, conclui. Afetadas pelas restrições impostas ao orçamento da segurança social - critérios de elegibilidade mais rigorosos, em 2010, e um congelamento de pensões, desde 2011 – e cada vez mais dependentes das famílias, as pessoas com deficiência nem no emprego encontram uma porta aberta para compensar esta precariedade. Dados publicados recentemente pelo Eurostat revelam que a taxa de desemprego em Portugal subiu para os 15,9 por cento e segundo dados oficiais, a taxa de desemprego entre os portadores de deficiência é cerca de duas a três vezes superior à dos restantes cidadãos. Feitas as contas, as pessoas com deficiência além da discriminação, que sempre sofreram no mercado laboral, na prática ficam ainda mais prejudicadas pelo contexto atual de crise que o país atravessa. Mesmo os incentivos existentes que visam a contratação de portadores de deficiência não chegam para acabar com os preconceitos e dar a estes cidadãos “a oportunidade de ganhar a vida através de um trabalho livremente escolhido ou aceite, num mercado e ambiente de trabalho aberto”, tal como está contemplado no artigo 27º da CDPD que Portugal ratificou há três anos.


Capa 41 “E sabemos sobretudo que neste momento em que vivemos é um bocado utópico pensar que as pessoas com deficiência poderão encontrar um lugar no mercado de trabalho, quando as pessoas sem deficiência não o conseguem”, confessa Fernando Fontes. Esta situação indica que as pessoas com deficiências e incapacidades graves enfrentam a exclusão dentro da sociedade portuguesa. A começar pelos bancos das escolas que não estão acessíveis, em pleno, às crianças com deficiência, apesar da existência do Subsídio por Frequência de Estabelecimento de Educação Especial que pode chegar aos 293,45 euros, por mês, durante o ano escolar.

“Não precisamos de escolas especiais, de for-

mação especial, precisamos sim que as escolas sejam adaptadas, que as ajudas técnicas estejam nas escolas, que nas ações de formação existam, de facto, condições para que quem tenha uma deficiência possa aceder à informação e às instalações. Isto é uma questão que depende da forma como se olha para a cidade, para o mundo e a forma como está arquitetado”, frisa o presidente da Associação Portuguesa de Deficientes, Humberto Santos. Humberto Santos da APD sublinha a importância da educação inclusiva e observa que “o que estamos hoje a formar são os subsídio-dependentes de amanhã”. Esta ideia vai de encontro à crítica de Fernando

Fontes em relação às políticas sociais da deficiência que, na opinião do sociólogo, deviam facilitar a vida independente das pessoas com deficiência. A verdade é que na hora de referir o que de bom se tem feito nem Fernando Fontes, nem Jorge Falcato, nem Humberto Santos conseguem acompanhar o otimismo do presidente do INR, I.P., José Madeira Serôdio, ao considerar que “em todos os domínios, desde a saúde ao turismo, desporto e cultura, se verificam progressos significativos, com extraordinários impactos na qualidade de vida das pessoas, com repercussões na qualidade social”. O sociólogo Fernando Fontes sublinha que “as pessoas continuam com dificuldades em aceder aos serviços de reabilitação e integração porque as vagas não são suficientes” e aponta, também, “os problemas com as ajudas técnicas e a falta de formação adequada dos profissionais do ensino especial”. Jorge Falcato do Movimento (d) Eficientes Indignados diz simplesmente que “a situação das pessoas com deficiência é muito má” e o presidente da APD, Humberto Santos, ajuda a enumerar os “defeitos”: “os municípios não têm condições de fazer o transporte de crianças para as escolas que funcionam com dificuldades e sem o pessoal auxiliar necessário; no desemprego as pessoas com deficiência são prejudicadas duas ou três vezes mais; a redução das prestações sociais; a redução da comparticipação de medicamentos...” Ainda assim, o presidente da APD consegue realçar a evolução tecnológica como um fator positivo neste cenário negro. “Há, do ponto de vista tecnológico, um contributo imensurável e um impacto enorme”, conclui.

“Os

meios de comunicação social têm contribuindo de modo muito crucial para a mudança de atitudes, com conteúdos inclusivos, mediatizando as potencialidades das pessoas com deficiência, em todos os setores da vida em sociedade. Neste universo, um especial destaque para o magazine televisivo CONSIGO, da parceria entre o INR, I.P. e a RTP, S.A.”, sublinha o presidente do INR, I.P., José Madeira Serôdio.


Capa 42 Este contributo dos media ajuda a atenuar o desconhecimento das pessoas em geral que “colocam todas as deficiências e incapacidades no mesmo saco”. Na opinião de Fernando Fontes isto acontece “porque as pessoas com deficiência são muito invisíveis na sociedade portuguesa, nos espaços públicos, por questões de barreiras arquitetónicas, inacessibilidade dos transportes públicos, nos edifícios públicos”. O trabalho de sensibilização, realizado pelas associações e pelo INR, I.P. é no fundo a melhor arma para combater a ignorância geral que existe em relação às questões da deficiência. “Temos que mudar de paradigma, em que cada um vive nos seus mundozinhos”, defende o presidente da APD. Humberto Santos deseja que as pessoas com deficiência deixem de ser vistas como um encargo nos orçamentos e sejam encaradas como um potencial ativo de riqueza para o país.

Jorge Falcato, em contraponto, sustenta que esta tarefa de sensibilização passa, também, por consciencializar as pessoas com deficiência para os seus direitos e de as capacitar para lutar por eles. Segundo um estudo efetuado pelo Centro de Reabilitação Social de Gaia e do ISCTE, apenas três por cento das pessoas com deficiência afirmam já terem sido discriminadas. Se por um lado, estes números evidenciam uma certa rejeição ao fatalismo, à resignação e exclusão, também podem ser sinal de que “as próprias pessoas com deficiência não têm consciência da própria discriminação”. Jorge Falcato confessa que é “discriminado quase todos os dias” porque o refeitório do sítio onde trabalha não é acessível e porque se quer ir a determinados sítios, grande parte das vezes, não consegue lá chegar. As campanhas de tampinhas que proliferam para a aquisição de ajudas técnicas, agora denominados, produtos de apoio, servem de exemplo para Jorge Fal-

cato. “Vemos todos os dias apelos nesse sentido. Não é preciso andarmos com campanhas, quando as pessoas têm direito a ter essas coisas”, refere o porta-voz do Movimento (d)Eficientes Indignados. Isto porque, “a lei que institui o serviço de atribuição de apoios é muito clara, diz que as pessoas com deficiência com mais de 60 por cento de incapacidade têm direito aos produtos de apoio de uma forma universal e gratuita”. “Durante anos temos tido problemas no que diz respeito à concessão das ajudas técnicas, por parte do Estado”, confessa Humberto Santos da APD. Estes episódios, relacionados com o Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA), criado pelo DecretoLei n.º 93/2009, fomentaram a vigília na Assembleia da República (AR) organizada pelo Movimento (d)Eficientes Indignados. Várias pessoas com deficiência passaram a noite junto à AR, “exigindo que fosse reposto o orçamento que estava definido em 2011 e que foi cortado em 30 por cento em 2012”. Na véspera do começo da vigília “a secretaria de Estado e da Segurança Social anunciou um reforço de 1 milhão de euros para a atribuição de produtos de apoio”, valor que o grupo em protesto considerou insuficiente, levando avante a decisão de passar a noite em frente ao parlamento. No dia seguinte, numa reunião “o secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa, anunciou um reforço de mais de 2,5 milhões de euros com a possibilidade de aumento até aos 4 milhões de euros”. Além disso, “na sequência dessa reunião, o que ficou decidido foi que todos os processos que tinham sido indeferidos alegando a inexistência de verba seriam reavaliados e seriam aprovados caso estivessem devidamente instruídos”, diz Jorge Falcato. E a partir daquele momento


Capa 43 “não haveriam mais processos recusados por inexistência de verbas”, mas a verdade é que, a nível nacional há locais, nomeadamente hospitais, onde continuam a negar os produtos de apoio por falta de verbas. “Neste momento temos dúvidas de que a situação esteja realmente resolvida. Na secretaria de Estado dizem-nos que há verba, de maneira que não se percebe porque alegam a falta de verba”, refere. Criou-se uma Comissão de Acompanhamento das Ajudas Técnicas – na qual a APD está ativamente envolvida - que em articulação com as áreas do emprego, da saúde e da educação, vai acompanhar a

forma como estão a ser atribuídos os produtos de apoio. Humberto Santos diz, também, que “se criou um endereço eletrónico, para centralizar a resolução do problema”, e Jorge Falcato acrescenta que “há pessoas que não querem apresentar queixa porque têm medo que depois não lhe deem nada”. Mas o membro do Movimento (d)Eficientes Indignados não deixa de sublinhar que o medo é injustificado e “que as pessoas têm que reivindicar os seus direitos”. Mesmo assim, para o esclarecimento desta situação, já é entrar na linha que separa o presente do futuro, o hoje do amanhã…Uma linha ténue mas que existe.

AMANHÃ

“Segundo o estudo efetuado pelo Centro de Rea-

bilitação Social de Gaia e do ISCTE, apenas três por cento das pessoas com deficiência afirmam já terem sido discriminadas. “As próprias pessoas com deficiência não têm consciência da própria discriminação, por termos tido muitos anos de fascismo e uma grande influência da nossa cultura judaico-cristã em que as pessoas com deficiência eram sujeitos de caridade”, explica Jorge Falcato do Movimento (d)Eficientes Indignados. A resolução da questão de atribuição dos produtos de apoio já é uma situação que pertence ao futuro, ao futuro próximo, espera-se, mas, ainda assim, ao futuro. “É um dos objetivos do Movimento (d)Eficientes Indignados, que as pessoas com deficiência tomem nas suas mãos a alteração do seu futuro”. Jorge Falcato assume ser complicado fazê-lo, mas possível. Para o presidente do INR, I.P, José Madeira Serôdio,

“o futuro é perspetivado como um novo cenário de importantes desafios, que serão resolvidos com sucesso, através da otimização das reais capacidades das pessoas com deficiência e do trabalho em cooperação solidária de todas as entidades públicas e privadas envolvidas nos direitos das pessoas com deficiência”. Esta fé no futuro, não é partilhada pelo presidente da APD, Humberto Santos, ao consid-


Capa 44 erar que Portugal não está a avançar na direção certa. “Não está Portugal, nem está a Europa, na área da educação, do emprego, das acessibilidades… Ao longo dos anos ofereceram-nos o céu e depois nem na terra nos deixam viver em perfeitas condições”. Humberto Santos, ao apelidar esta atitude de “hipocrisia governativa”, afirma que “as pessoas com deficiência não estão, para o bem e para o mal, numa redoma de vidro aparte do mundo”. Em contexto de crise, o futuro não se antevê risonho, mas o Relatório Mundial sobre a Deficiência pode ser consultado e está repleto de sugestões de ações para “criar ambientes facilitadores, desenvolver serviços de suporte e reabilitação, garantir uma adequada proteção social, criar politicas e programas de inclusão, e fazer cumprir as normas e a legislação, tanto existentes como novas”. E para uma Europa sem barreiras, a Estratégia Europeia para a Deficiência 2010-2020 propõe-se “a capacitar as pessoas com deficiência para que possam usufruir dos seus direitos e beneficiar da sua participação na sociedade e economia europeias”.

Apesar de tudo “a deficiência não precisa de ser um obstáculo para o sucesso”, afirma o professor de matemática e astrofísica na Universidade de Cambridge, Stephen W. Hawking. A esclerose lateral amiotrófica não impediu o professor Hawking de “ter uma destacada carreira como astrofísico e uma vida familiar feliz”. Mas o professor admite, no preâmbulo do Relatório Mundial sobre a Deficiência, que “a maioria das pessoas com deficiência no mundo tem extrema dificuldade, ate mesmo para sobreviver a cada dia, quanto mais para ter uma vida produtiva e de realização pessoal”. É preciso criar um mundo de inclusão em que “ser pessoa com deficiência é ser cidadão e cidadã de pleno direito, participando na construção de uma sociedade para todos, em igualdade de oportunidades”, tal como define o presidente do INR, I.P., José Madeira Serôdio. Um mundo em que, as pessoas, apesar nas suas incapacidades, deixem de “sentir” a deficiência, e deixem de ser lembradas, “em cada esquina” das suas vidas, que a têm.

“Os governantes de todo o mundo não podem mais negligenciar as centenas de milhões de pessoas com deficiência cujo acesso à saúde, à reabilitação, ao suporte, à educação e ao emprego tem sido negado, e que nunca tiveram a oportunidade de brilhar”, alerta o professor Stephen W Hawking


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“É minha esperança que, a começar pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e agora com a publicação do Relatório Mundial sobre a Deficiência, este século marque uma reviravolta na inclusão de pessoas com deficiência na vida da sociedade”, afirma o professor Stephen W. Hawking Parafraseando Humberto Santos da APD, sabe-se que a situação não é fácil, mas não se pode desistir, porque não se pode desistir do valor humano, o maior valor que existe. Mesmo neste contexto desfavorável é necessário manter a defesa dos direitos fundamentais, mesmo sabendo que neste momento há muito ruído e menos capacidade de audição relativamente a estas questões…Mas o ditado diz “parar é morrer” e ninguém pode parar e, ainda, um outro ditado diz “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”… Vale a pena esperar por D. Sebastião para salvar a Nação? “É a Hora!”

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a Hora! In Mensagem de Fernando Pessoa

Políticas e Direitos

Os dados que temos vindo a recolher em diversos estudos indicam que, apesar dos progressos alcançados ao longo das últimas décadas, os Portugueses com deficiência continuam a enfrentar muitos obstáculos para a realização dos seus direitos. Entre estes destacam-se a falta de acessibilidade ao meio edificado, aos sistemas de informação e comunicação e à rede de transportes, as atitudes sociais preconceituosas e a escassez dos apoios sociais, em particular a insuficiência de serviços de suporte à vida independente. Estas barreiras condicionam fortemente as oportunidades de participação social e económica e assim os índices de pobreza e exclusão são também muito elevados entre este grupo. Em Portugal temos hoje políticas para a deficiência que se fundamentam nos princípios dos direitos humanos mas a falta de fiscalização na sua implementação, o alheamento da sociedade em relação às questões da deficiência e a insuficiência de recursos criam um grande fosso entre a teoria e a prática. É este desafio civilizacional que todos temos que abraçar mas ao Estado compete inegavelmente ser exemplo e charneira neste processo de mudança social e política rumo a uma sociedade para todos. Investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas, CAAP-UTL, Paula Campos Pinto


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Tecnologia e Inovação

Cultura

Pese embora Portugal tenha muita legislação e programas de inclusão de deficientes que advertem para a utilização das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) e para normas de acessibilidade, existem ainda poucos produtos finalizados, made in Portugal, que estejam a ser comercializados (e utilizados) de uma forma estável, quer a nível interno, quer ao nível da exportação desses produtos. Existem, no entanto, vários projetos em fase de prototipagem avançada, tais como o projeto WI-GO, ou mesmo o nosso projeto CRA (Cadeira de Rodas Autónoma). Com os apoios certos, esperamos que estes protótipos evoluam rapidamente para produtos comercializáveis e que estejam ao alcance de qualquer um a breve trecho. Coordenador do projeto CRA, ESTG/IPL, João S. Pereira e coordenador do curso de Informática para a Saúde, ESTG/IPL, Ricardo Martinho

Na oferta cultural acessível, qualquer que seja a sua manifestação, é essencial que haja um público que exija serviços de qualidade, mas que simultaneamente responda ativamente à oferta existente. De nada servem museus e espaços culturais acessíveis, filmes com audiodescrição, espetáculos com LGP ou livros multiformato, se as pessoas com deficiência não comparecem, não utilizam e não manifestam os seus gostos e as suas necessidades. Uma oferta cultural inclusiva implica a corresponsabilização de quem oferece e de quem consome. Docente e coordenadora do iACT, Josélia Neves

Desporto

Educação e Emprego

O fenómeno desportivo tem sido ao logo dos tempos um elemento regulador e agregador das interacções pessoais por excelência nas sociedades. Nesta perspetiva, o conceito de desporto adaptado, nas suas vertentes, de reabilitação, recreação, lazer e competição tem desempenhado um papel fundamental como meio de integração/inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Assim a fruição lúdica imperativa nas sociedades modernas, a par da metalinguagem das competências, desenvolve nos indivíduos concentrações de poder, contribuindo historicamente para desviar o estigma da deficiência. Presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência, José Poveiro

Portugal fez um caminho meritório na melhoria dos serviços e dos direitos das pessoas com deficiência nos últimos 40 anos. No entanto, muito está ainda por fazer no campo da formação profissional e do apoio ao encontro e manutenção do emprego. No campo da Educação Inclusiva, verificamos que a Educação de alunos com necessidades especiais está muito comprometida dado que as escolas continuam a ter carências muito acentuadas no âmbito da formação, do apoio e dos recursos. Não pode deixar de ser referido que a crise económica em que nos encontramos tem ainda minguado os parcos recursos que dispúnhamos e os cortes aproximam-se dos 40% em algumas áreas da intervenção. Professor da Faculdade de Motricidade Humana e presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, David Rodrigues


Opini達o


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Tecnologia e Inovação

Cadeira de rodas autónoma “low cost”

O protótipo da “Cadeira Móvel Autónoma”, apresentado pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), assenta em duas vantagens essenciais. Por um lado, o seu módulo é adaptável a uma cadeira de rodas convencional e por outro, permite um baixo custo de comercialização em relação ao preço das cadeiras de rodas autónomas praticado atualmente no mercado. Texto: Sofia Pires Fotos: Direitos de autor

O Departamento de Engenharia Informática (DEI) da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do IPL apresentou, em março deste ano, um protótipo de uma cadeira de rodas convencional transformada em cadeira de rodas elétrica comandada por voz e pelo movimento ocular. “As indicações de voz e movimento dos olhos são processadas simultaneamente para reforçar a fiabilidade dos comandos transmitidos à «Cadeira Móvel Autónoma»”. Mas este projeto, desenvolvido pelo curso de Informática para a Saúde (IS), além de fazer o reconhecimento dos comandos de voz e de movimentos oculares, também permite a análise de imagens para prevenir colisões. Trata-se, no fundo, de “um módulo low cost adaptável a uma cadeira de rodas convencional, ligado a um computador portátil”, ou seja, adapta-se à maior parte das cadeiras de rodas que não possuem motorização, permitindo “resolver problemas de autonomia de locomoção em pessoas que tenham uma limitação muito acentuada no movimento dos seus membros” e, em último caso, “poderá devolver alguma esperança a pessoas vítimas de «síndrome de encarceramento»”, pode ler-se na memória descritiva do projeto. A “Cadeira Móvel Autónoma” está a ser objeto de melhorias por parte de oito alunos de IS e pelo professor e coordenador do projeto, João

Pereira. Durante todo o semestre do ano letivo de 2012/2013 pretende-se desenvolver a comunicação e interação por voz da cadeira de rodas no sentido de dar ao utilizador mais autonomia e segurança. “A nova cadeira de rodas deverá falar com o seu utilizador para pedir confirmação dos comandos solicitados, terá uma funcionalidade de piloto automático recorrendo às coordenadas GPS (Global Positioning System) e a uma segunda câmara que possa ver e seguir uma linha desenhada no chão”. Além destas novas funcionalidades, a cadeira de rodas poderá ser monitorizada à distância. Para tal, será utilizada mais uma câmara para permitir o controlo remoto a partir de uma aplicação Web. Em parceria com o Departamento de Engenharia Mecânica da ESTG/IPL, foi, ainda, desenvolvida, “a portabilidade desta solução, na forma de um kit amovível acoplado a um sistema de tração às rodas da cadeira, e que comporta igualmente toda a eletrónica necessária à locomoção e controlo do movimento”. Enquanto uma cadeira de rodas autónoma, atualmente no mercado, custa entre 10 e 30 mil euros, esta cadeira “promete” custar cerca de 2500 euros quando for comercializada. Uma vantagem competitiva que, juntamente com as restantes maisvalias do projeto, torna a “Cadeira Móvel Autónoma” atrativa e alvo do interesse de muito mais pessoas.

O primeiro protótipo dessa cadeira de rodas convencional transformada em cadeira de rodas elétrica comandado por voz e movimento ocular.


Tecnologia e Inovação

O kit amovível possibilita a racionalização deste tipo de equipamentos em ambientes hospitalares, onde existem muitas cadeiras de rodas convencionais que poderão ser convertidas em cadeiras de rodas elétricas autónomas.

Este protótipo concilia uma solução de reconhecimento de comandos ativados por voz e uma aplicação que determina o desejo de movimentação do utilizador através do movimento dos olhos, captado por uma webcam alojada no capacete do utilizador.

O segundo protótipo que foi desenvolvido em setembro de 2012.

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Tecnologia e Inovação

Encontros sobre Jogos e Mobile Learning

O Encontro sobre Jogos e Mobile Learning, realizado em outubro no Auditório da Universidade de Coimbra, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, quis demonstrar o potencial que os jogos e os dispositivos móveis representam a nível educativo. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas pela organização

“A integração de jogos e de dispositivos móveis em contexto educativo pode proporcionar oportunidades de aprendizagem únicas”, como se lê na página oficial do encontro na Internet, link abaixo. Cientes deste potencial educativo dos jogos eletrónicos e das tecnologias móveis, a organização do evento, composta por profissionais de várias universidades do país, convidou diversos especialistas, nacionais e internacionais, na matéria, para partilharem as suas experiências - dos oradores destacam-se Lynn Alves e Mar Camacho. Nos tempos que correm, os miúdos têm “acesso livre” ao mundo das tecnologias e dos jogos eletrónicos para ocuparem os tempos livres. O Encontro sobre Jogos e Mobile Learning quis demonstrar que a sua utilização no ensino “pode melhorar significativamente o processo de aprendizagem através da motivação intrínseca ao ato de jogar”. No encontro, foram debatidas as implicações dos jogos na aprendizagem e as exigências do m-learning para o ensino. O mobile

Learning, além de representar novas oportunidades no ensino à distância, constitui uma forma aliciante e inovadora de tentar melhorar a aprendizagem dos alunos” através de telemóveis, consolas de jogos, leitores de mp3/mp4, ipads, netbooks, entre outros. Dos projetos apresentados, destacou-se o e-moções, um jogo multimédia em ambiente iPad para crianças com perturbações do espetro do autismo. Este projeto pretende proporcionar ao aluno com autismo o desenvolvimento de competências de reconhecimento das emoções do outro. Também os workshops realizados para facilitar a utilização de algumas ferramentas para criação de jogos e de conteúdos para m-learning contribuíram para “proporcionar um conhecimento profundo sobre de que forma os jogos digitais podem ser encarados como veículo de aprendizagens e quais as suas implicações no contexto educacional”, pode ler-se no site do Encontro sobre Jogos e Mobile Learning, http://gaius.fpce.uc.pt/encontro.jml/.


Design sem fronteiras

Tecnologia e Inovação

A exposição, “Design Without Borders – Creating Change”, patente no Centro de Design e Arquitetura (DogA) norueguês até 2 de dezembro, mostrou o quanto os designers têm contribuído para criar mudanças sociais nos países em desenvolvimento. Um bom exemplo desse contributo é a cadeira de rodas low cost desenvolvida para as crianças da Guatemala. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas

“As pessoas com deficiência nas aldeias da Guatemala muitas vezes ficam isoladas porque não têm acesso a cadeiras de rodas”, descreve Jannicke Rogne da Design without Borders que “sabendo o quanto significa uma cadeira de rodas para as pessoas” considera ter “o melhor trabalho do mundo”.

Em exposição no evento, a cadeira de rodas, especialmente criada para as crianças guatemalenses, é ajustável à produção e tipografia locais, assim como, ao grupo específico de utilizadores. “A cadeira de rodas é adaptável às necessidades de cada criança, evitando assim que as deficiências se tornem mais graves devido à postura errada ou posição”, pode ler-se na memória descritiva do projeto. Esta cadeira de baixo custo foi desenvolvida pelo grupo criativo Design without Borders, em colaboração com a Fundação Transiciones da Guatemala, uma organização sem fins lucrativos dedicada a melhorar as vidas das pessoas com deficiência naquele país da América Central. Esta

fundação tem vindo a fabricar cadeiras de rodas económicas para os mais carenciados, no entanto, precisava de aprender mais sobre design e inovação. “70 por cento dos funcionários desta organização são utilizadores de cadeira de rodas, o que lhes dá uma visão incomparável para os desafios que os deficientes motores encontram na vida quotidiana”, faltava-lhes apenas “reforçar os seus conhecimentos e habilidades nas áreas de desenvolvimento do produto”, continua a memória descritiva do projeto. Cerca de 55.000 pessoas precisam de cadeiras de rodas na Guatemala e, como resultado da crescente onda de violência no país, o número está a crescer. Além disso, há poucas cadeiras de rodas - as que

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Tecnologia e Inovação existem no país são importadas e caras - e, como se não bastasse, não há nenhum sistema governamental ou público para ajudar as pessoas com deficiência. Este projeto apresenta-se como a resolução eficiente para este contexto na Guatemala, e o esforço, por parte da Fundação Transiciones, para contrariar esta realidade, foi agora compensado. A designer industrial, Jannicke Rogne, o engenheiro Magnus Printzell Halvorsen, ambos noruegueses, e o designer industrial guatemalense, Juan Carlos Noguera, juntaram-se, de fevereiro de 2011 a outubro de 2012, para desenvolver este projeto. A parceria com a equipa do Design without Borders revelouse fundamental para a Transiciones e resultou num aperfeiçoamento da qualidade do produto final, uma solução barata que pode ser produzida localmente. Agora, já só falta, que os técnicos da Transiciones melhorarem as habilidades na aplicação da metodologia de design no seu trabalho, para produzirem cadeiras de rodas cada vez melhores e mais económicas, permitindo, assim, que mais guatemaltecos com deficiência as possam comprar. No fundo, o que o que se pretendia com este projeto era elevar o nível de competências da equipa Transiciones na produção de cadeiras de rodas. A partir deste momento, há outras perspetivas para

as pessoas com deficiência da Guatemala. Mas o retorno esperado deste projeto não se esgota na possibilidade de tornar acessível a aquisição de uma cadeira de rodas à população mais carenciada. Ao utilizar materiais e mão-de-obra locais, apoia também o desenvolvimento empresarial do país e, a longo prazo, o reforço do negócio vai permitir que mais pessoas com deficiência possam “ganhar a vida”. Além disso, mais acesso a cadeiras de rodas para crianças, significa mais acesso de crianças na educação. Com mais de 10 anos de experiência, o Design without Borders atingiu, muitos e bons, resultados e este foi mais um caso de sucesso. Este grupo criativo assume a missão do organismo que o tutela, a Norsk Form - Fundação de Design e Arquitetura, sedeada em Oslo, na Noruega. Ambos consideram que o design pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento de uma sociedade melhor e mais sustentável. A Norsk Form, trabalha ativamente, através do design e da arquitetura, para melhorar a qualidade de vida das pessoas, ao participar em projetos, a ensinar e a realizar eventos, concursos e exposições. Esta fundação, criada pelo Ministério da Cultura norueguês, em 1992, tem 27 funcionários e além disso, tem oito pessoas envolvidas em projetos do Design without Borders.

Neste Workshop com LEGO, a equipa do Design Without Borders ensina desenho técnico aos funcionários da Transiciones. Foto: Jannicke Rogne A exposição, “Design without Borders – Creating Change”, apresentou, as soluções e os produtos desenvolvidos, no contexto local para o qual foram criados. Ou seja, a cadeira de rodas pode ser experimentada numa rua em paralelo, assim como, o mictório ecológico foi colocado num ambiente de favela, enquanto o novo equipamento de remoção de minas podia ser experimentado e dentro de um abrigo de emergência encontrava-se um simulador de terremotos. O método de trabalho do Design without Borders é tão importante como os produtos finais. Através de textos, fotos e vídeos da exposição, a organização comunica o importante processo de design que está por detrás dos produtos.


Retrato

Pela lente de Amy

“A escolha mais natural para mim foi a fotografia”. Sabia-o desde os 16 anos. Nasceu cega, devido a uma característica genética rara, o albinismo. Mas isso é apenas uma parte do todo de Amy Hildebrand, que começou a ter acesso às formas, cores e sombras depois de vários tratamentos médicos e foi aí que veio ao de cima a sua verdadeira condição natural: a de fotógrafa. Texto: Catarina de Castro Abreu Fotos: Gentilmente cedidas por Amy Hildebrand

Cincinnati, no Ohio, EUA, é a cidade que a viu nascer, crescer, estudar e dedicar-se à Fotografia. Casou, tem dois filhos. A família é a sua maior inspiração plasmada nos blogues “With Little Sound” - em que apresenta uma fotografia por dia durante 1000 dias – e no “Best Day Ever Photo”, onde tem momentos íntimos de casamentos, histórias pessoais e lifestyle. Pela lente de Amy o mundo parece mais bonito. E o caminho para chegar até aqui foi como tinha que ser e é isso que esta fotógrafa norte-americana explica à Plural&Singular. “O meu caminho estava definitivamente traçado para mim. Eu estava ansiosa e hoje continuo ansiosa por o percorrer e aproveitar cada oportunidade que me é apresentada”. Estudou na Universidade de Cincinnati, onde fez o bacharelato em Fotografia. “Eu sabia que queria trabalhar em fotografia desde os meus 16 anos. Tive a sorte dos meus pais me poderem ajudar a

pagar a minha educação, mas quando disse que queria ir para a escola de artes visuais, eles hesitaram por estarem inseguros. Só quando falaram com diferentes responsáveis dos departamentos de fotografia é que realmente sentiram que esta era a melhor opção. Eles sempre acharam que eu tinha um dom para a arte, mas eles queriam ouvir isso de alguém que visse obras de arte todos os dias antes de se comprometerem com isso”. Amy sabia que tinha que andar um passo à frente para poder singrar. Diz que “ao contrário de muitos universitários”, sabia “o que queria assim que se inscreveu na primeira disciplina. “E não me desviei do meu caminho”, resume. “Eu lutei quando o trabalho escolar apertava mais, mas nunca senti que esta escolha fosse a errada. Nem mesmo na sala escura ou durante a minha primeira aula de fotografia, quando tive medo de não ver exatamente

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Retrato 54

aquilo que o professor demonstrava. Mas eu sabia que ia entender. E em muitas alturas, depois das aulas, ou em casa, eu passava muito tempo a explorar o material e a estudar com a minha lupa”. Lembra-se de quando ia mais cedo do que “os colegas para as aulas para me poder esgueirar para a sala escura e sentir o botão f-stop no ampliador, para que pudesse memorizar quantos cliques precisava de ouvir para saber em que f-stop estava”. Durante muito tempo Amy não gostava de partilhar a sua história. Desde pequena que tentava esconder a sua incapacidade. Até que percebeu o que

é que “as suas estória e história significam para as outras pessoas”: “Para mim, isso não é nada, é a minha vida, eu não conheço outra. Mas para pessoas de fora é algo interessante e até mesmo inspirador. Eu percebi que se era isso que eu estava na Terra para fazer, eu fico feliz por poder fazê-lo”. Amy acredita que é possível separar o seu trabalho da condição física, mas “tudo depende de quem vê, não tanto do criador da arte”. “Eu pensava que se eu não dissesse a ninguém sobre a minha incapacidade visual, iriam avaliar o meu trabalho como os outros artistas que têm visão perfeita (que era o


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que eu queria). Mas agora vi o que o público tem dito sobre o meu trabalho e há aqueles que pensam que o meu trabalho é bom porque é feito por uma pessoa visualmente diminuída, mas há pessoas que pensam que o meu trabalho é bom por ser bom, e a qualidade não tem nada a ver com a minha visão”. Hoje sabe distinguir quem gosta do seu trabalho pela história de vida de quem vê nas suas fotografias uma verdadeira obra de arte. Há mais na vida de Amy além da Fotografia. Tem uma empresa de serigrafia com o marido, Aaron, que estudou esta área. “Trata-se de uma área tão parecida com a Fotografia – os nossos caminhos

sobrepuseram-se durante a faculdade e foi assim que nos conhecemos. Ele é o músculo de toda esta operação, mas desenhamos muitas coisas juntos. Toda a marca da empresa foi desenhada por nós sentados lado a lado, trabalhando juntos. Esta é uma das coisas que eu mais adoro na nossa relação, podemos criar arte, design e fotografia juntos, sem nos querermos estrangular no final do dia!”. Também anda a “fantasiar” com a ideia de criar fotos com som. Esta é uma ideia “muito nova”,


Opinião 56

que vai desenvolver com o irmão (que também tem albinismo), que, segundo Amy, “é muito dotado na música”. Pensa em colaborar com ele de alguma forma para criar fotografias tiradas com som. “Temos que ver o que acontece”, lança. O processo criativo não o sabe explicar. “A verdade é que não conheço nenhuma outra forma de criar a não ser a minha. Portanto, não posso comparar. A maior parte das vezes espero pelo momento em que sinto uma emoção grande e aí tiro a foto. A maioria das vezes eu tiro a foto só para me recordar do sentimento que tive no momento em que a tirei. Todas as minhas fotos são para mim. Não penso muito como é que as outras pessoas as vão ver”.



Desporto 58

Training 2012

Nos dias 7, 8 e 9 de dezembro decorre o Training 2012, no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior. Este projeto surge no seguimento de um trabalho contínuo de promoção da aprendizagem desportiva. O campo de treino estará reservado, durante três dias, para a prática de quatro modalidades: futsal, ténis, judo e tiro com arco. Foram convidados alguns formadores estrangeiros e todos podem treinar, aprender e trocar experiências.

6º Campeonato da Europa de Ténis de Mesa INAS-FID Para o 6º Campeonato da Europa de Ténis de Mesa, promovido pela Federação Internacional de Desporto para Pessoas com Deficiência Intelectual (INAS-FID) e organizado pela Federação Francesa de Desporto Adaptado, em La Roche-surYon, França, o treinador nacional, Nuno Machado, escolheu os atletas André Jesus e Luís Paulo para representar Portugal. Os portugueses enfrentaram os congéneres da França, Turquia, Alemanha, Austrália, Hungria, República Checa, Hong-Kong e Rússia. André Jesus e Luís Paulo ficaram no 8.º lugar na Competição por Equipas. No Open de Singulares André Jesus ficou em 11.º lugar, atingindo os oitavosde-final e Luís Paulo ficou em 18.º. Já no Open de Pares, a dupla portuguesa foi derrotada pelos franceses por 3-1.

Nadadores portugueses brilham no Campeonato do Mundo de Natação da DSISO Ao conquistarem duas medalhas – Ricardo Pires, medalha de prata, e Mannie NG, bronze – a Seleção Nacional de atletas com Síndrome de Down brilhou no 6.º Campeonato do Mundo de Natação da DSISO que decorreu em Loano, Itália, em novembro. Nota para o facto de terem sido batidos 20 recordes nacionais. Os destaques individuais vão para o quarto lugar de Mannie NG na final dos 200 mts Costas, o quinto lugar de Ricardo Pires (mosaicos) nos 100 mts Livres, o quinto lugar da Estafeta Feminina nos 4x50 mts Estilos (recorde nacional) e o sexto lugar de Filipe Santos nos 400 mts Mariposa. No último dia do Campeonato, há a realçar o quarto lugar de Ricardo Pires (mosaicos) nos 200 mts Estilos e os recordes nacionais obtidos por Adriana

Reis nos 400 mts e nos 800 mts Livres e por Filipe Santos nos 50 mts Livres. “No regresso a Portugal, a satisfação é grande entre os responsáveis da comitiva portuguesa sendo unânime o sentimento de dever cumprido mostrando, mais uma vez, o valor e potencial desta Seleção”, refere nota difundida pela Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes.

I Torneio Ibérico de Basquetebol em Cadeira de Rodas Sem surpresa, a CD AMFIV, equipa da 1.ª Divisão espanhola venceu o I Torneio Ibérico de Basquetebol em Cadeira de Rodas que, a 13 de outubro, lotou o pavilhão municipal de Ferreiros, em Braga, no âmbito das atividades de “Braga – Capital Europeia da Juventude 2012”. O I Torneio Ibérico de Basquetebol em Cadeira de Rodas foi organizado pela Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de Braga. O evento começou com um jogo de demonstração ao ar livre no fim-de-semana anterior. E estiveram presentes as seguintes equipas: a CD AMFIV, de Vigo, onde jogam os atletas paralímpicos David Mouriz, Bernabé Costas (Espanha) e Dominik Mosler (Polónia), a Basketmi Ferrol, da Corunha, que milita na 2.ª Divisão espanhola, e as equipas da APD de Braga e da APD de Paredes. A primeira equipa a vencer foi a APD de Braga, por 47-34, frente à sua congénere de Paredes. No encontro entre os galegos AMFIV e a Basketmi, esteve melhor a equipa primodivisionária de Espanha por 71-29. Destaque para o polaco Mosler que foi a figura do encontro ao apontar 24 pontos. De tarde, o fosso competitivo entre Portugal e Espanha ficou ainda mais evi-

dente. No jogo em que se disputava o 3.º e 4.º lugares do torneio, a APD de Paredes perdeu por 76-33 com a Basketmi Ferrol. E eis que a equipa anfitriã defrontava a equipa “cabeça-de-cartaz”. Ao intervalo, a CD AMFIV vencia por 39-13. Mas Márcio Dias, o “mágico” como é conhecido o número 4 da APD de Braga era o mais inconformado com a hegemonia dos espanhóis e abriu o 3.º período de jogo com um triplo que fez a plateia vibrar. Aliás, 18 dos 29 pontos da equipa bracarense foram da autoria de Dias. No entanto, do outro lado estava Domink Mosler e outros nomes como Txema Avendaño e Vicky Alonso. A CD AMFIV triunfou por 81-29 e conquistou a I edição do Torneio Ibérico de Basquetebol em Cadeira de Rodas, Braga 2012, sem surpresa.


Desporto

Sempre Jovens 2012 Já só falta disputar-se a final do torneio de boccia sénior, organizado pela Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) para dinamizar a prática desportiva entre pessoas com e sem deficiência. Direcionado a maiores de 65 anos, o projeto “Sempre Jovens 2012”, pretende, também, sensibilizar a opinião pública para o valor do envelhecimento ativo. Ao todo foram implementadas 11 ações realizadas em alguns dos municípios que compõem a Área Metropolitana de Lisboa - Alcochete, Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Moita, Montijo, Odivelas, Seixal, Setúbal e Vila Franca de Xira. A final torneio de boccia sénior está marcada para o dia 3 de dezembro na Feira Internacional de Lisboa (FIL), no Parque das Nações.

Projeto “Bem-Me-Quer”

Fazendo jus ao Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, o projeto “Bem-me-quer” percorreu o centro e o sul do país em prol da dinamização desportiva entre as pessoas com e sem deficiência. Organizado pela Federação Portuguesa de Desporto Adaptado (FDPP), este evento esteve na Santa Casa de Misericórdia de Albufeira, de Borba, Golegã, Sines, Évora e Lisboa. Esta iniciativa visava proporcionar dias repletos de atividades “com o objetivo de incutir nos participantes a importância de manter o corpo ativo para uma melhor qualidade de vida”, como se lê no comunicado da FPDD. Os jogos tradicionais escolhidos são ideais para a interação entre pessoas com e sem deficiência e, de acordo com a filosofia do projeto, as incapacidades de cada um são encaradas do ponto de vista da capacidade, ou seja, é realçado o que cada pessoa é capaz de fazer. Além do torneio de jogos tradicionais, os dias nas Misericórdias foram marcados com um seminário sobre desporto adaptado, a sua importância e modalidades existentes. No final de cada ação a FPDD deixou um pack de jogos tradicionais com o intuito de promover a continuidade da atividade física e fazer face ao sedentarismo.

Torneio de Futebol 7

O Torneio de Futebol 7 foi a última competição desta modalidade relativa ao ano de 2012 organizada pelo Special Olympics Portugal. O evento desportivo, realizado no Greenfield de Alfragide, contou com a participação de oito equipas de sete instituições dos concelhos de Almada, Cascais, Lisboa, Sintra e Vila Franca de Xira.

Os juízes das partidas de futebol foram os árbitros da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), José Gomes (presidente da APAF) e André Lacerda mas, apesar de tudo, no final da competição o resultado desportivo foi irrelevante. Sem medalhas para distribuir, o Torneio de Futebol 7 centrou-se no convívio salutar entre os jovens atletas que contaram com a presença do treinador de guarda-redes da seleção nacional de futebol e presidente da Associação Portuguesa de Treino de Guarda-Redes e Desporto Orientado (APORTGR), Ricardo Peres. O técnico de guarda-redes, membro da equipa técnica de Paulo Bento “veio trazer aos atletas momentos de grande alegria”, lia-se no comunicado da Special Olympics Portugal.

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Campeonato Europeu de boccia em 2013 disputa-se em Guimarães JO Campeonato da Europa de boccia em 2013 vai ser disputado no Pavilhão Multiusos de Guimarães, no âmbito da “Guimarães - Cidade Europeia do Desporto 2013”, entre os dias 15 e 23 de junho, anunciou a Paralisia Cerebral-Associação Nacional de Desporto (PCAND), promotora da candidatura, num comunicado enviado às redações. “Além dos apoios habituais que já foram solicitados ao Instituto Portuguesa do Desporto e Juventude, entidade que tutela o desporto em Portugal, através da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência, a PCAND conta com o apoio e estreita colaboração da Câmara Municipal de Guimarães, da empresa municipal Tempo Livre e da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães (APCG)”, refere o documento. A modalidade boccia integra o programa paralímpico desde 1984, tratandose de uma modalidade exclusiva dos Jogos Paralímpicos, destinada a atletas com paralisia cerebral em cadeira de rodas, podendo ser disputado individualmente, em pares ou por equipas de três elementos, sem divisão por sexos. ional de Lisboa (FIL),


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Orientação – uma modalidade inclusiva A modalidade não é nova mas as vertentes “de precisão” e “adaptada” só há menos de meia dúzia de anos é que começaram a fazer parte do calendário nacional. O relançamento da orientação de precisão, em Portugal, data de 14 de Março de 2009, enquanto o lançamento da orientação adaptada deu-se a 14 de Outubro de 2011. Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: Joaquim Margarido

Atletas paralímpicos do DAHP praticantes de orientação de precisão “Orientação para Todos” podia ser o lema do esforço que vários agentes ligados a esta modalidade desde orientistas, dirigentes de associações e clubes, especialistas da área da reabilitação física, muitos voluntários e “atletas” com ou sem ambição competitiva, dedicam a “incluir” na modalidade de orientação pessoas com e sem deficiência. Tome-se como exemplo a prova realizada no Parque da Cidade do Porto a 17 de novembro.

dos Diferentes - Todos Iguais”. Esta primeira etapa foi da responsabilidade do Grupo Desportivo 4 Caminhos (GD4C) e integrou as atividades da IX edição do Troféu de Orientação do Porto. A iniciativa decorreu em três vertentes da orientação: orientação pedestre dedicada a atletas de competição e a alunos praticantes no âmbito do Desporto Escolar, orientação de precisão dedicada a pessoas com e sem deficiência física, competindo nas classes aberta e paralímpica, e orientação adaptada vocacionada a portadores de deficiência intelectual. “Uma manhã de sorrisos” Cedo se percebeu como a orientação é, cada vez Mais de uma centena de pessoas participou, a mais, um veículo para a “inclusão”. Lado a lado, 17 de novembro, na 1.ª etapa do III Circuito “Toainda que cada qual, em grupo ou individualmente,


Desporto estivesse a disputar a sua prova, orientistas nacionais e internacionais que aproveitavam para treinar para os campeonatos da modalidade, e utentes de associações ligadas à deficiência, percorreram o Parque da Cidade. Lado a lado, viveu-se, assim, “uma manhã de sorrisos”, como referiu o responsável do Departamento de Desporto Adaptado do Hospital da Prelada (DAHP), Joaquim Margarido. Na vertente de orientação adaptada – na qual participaram cerca de quatro dezenas de utentes de quatro instituições ligadas à deficiência intelectual – destacou-se o grupo vindo do Clube de Gaia. Venceram a prova Ana Oliveira e Vítor Pereira (primeiros prémios), Cristina Soares e João Encarnação (segundos) e Paula Santos e José Teixeira (terceiros). E são estes os primeiros atletas portugueses de uma prova de orientação adaptada, uma vez que, conforme disse o diretor de prova, Fernando Costa, “fez-se história”. “Foi a primeira vez em Portugal que se realizou um percurso de orientação adaptada em vertente de competição”, referiu. “O pontapé de arranque está dado”, completou o dirigente da Associação Nacional Desporto Deficiência Intelectual (ANDDI), José Costa Pereira, elogiando a iniciativa e considerando que todos “foram vencedores”. Mas mais do que criar vencedores, o foco estava na mensagem. A ideia passava por “espalhar sorrisos”. Maria da Graça Pinto da Costa era exemplo disso. Portadora de deficiência intelectual, veio de Gaia, na carrinha conduzida por Álvaro Magalhães, motorista da APPACDM do Porto, que “sempre que pode dá uma mãozinha nestes eventos” a título totalmente voluntário. Maria da Graça passou “uma manhã diferente”. Ouviu os “verdadeiros” atletas e alguns dirigentes brincarem com o seu apelido, sugerindo que seria sobrinha de um “poderoso presidente nortenho”, e saiu do Parque da Cidade do Porto com um mapa entre dedos ao qual chamou “uma maravilhosa recordação para levar para Celorico de Basto [de onde é natural] no Natal”. Ao lado, Tiago Rodrigues, também do clube de Gaia, e também portador de deficiência intelectual, contou que gosta “de competir, de ar livre e de cantar” e classificou este convívio como “espetacular”. Queria, aliás, que o “jogo” de mapas, cartões coloridos e figurinhas, se repetisse na instituição: “Eu conheço as cores e os símbolos. Isto é giro. Podíamos fazer mais jogos destes no centro”, pediu. A vertente da orientação chamada de adaptada é a “filha mais nova” da orientação de precisão, sendo, nesta alusão de parentescos, “neta” da orientação convencional. Esta vertente é particularmente vocacionada para a deficiência intelectual, podendo

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ser praticada por pessoas com mobilidade reduzida ou não. Enquanto a orientação de precisão é, também, uma modalidade dedicada a pessoas com défice de mobilidade e mobilidade reduzida e que se deslocam em cadeira de rodas, sendo, no entanto, também praticada por outros atletas e apreciadores. Joaquim Margarido é exemplo disso mesmo. O responsável do DAHP é enfermeiro e orientista e representou, recentemente, Portugal, nos Campeonatos do Mundo de Orientação de Precisão, na Escócia. Como se pratica orientação adaptada? O circuito está marcado num mapa do espaço, no qual se dispõem “balizas” ou pontos de referência. A par do mapa, o orientista consulta um cartão com figuras/símbolos que tem de identificar através de uma sequência de cores. O passeio ao ar livre acaba por se materializar um exercício mental. “A vertente adaptada surgiu da necessidade de integrar na modalidade um grupo que estava à margem da própria orientação. Para se praticar orientação de precisão é necessária a interpretação do mapa. Faltava integrar pessoas que não tinham essa pos-


Desporto 62 sibilidade. Acrescentou-se, então, ao mapa o cartão, a figura, as cores… Não podemos pedir a pessoas que praticam orientação adaptada com um determinado quociente intelectual que apenas se guiem pelo mapa… E em cada ponto, em cada desafio superado, é uma vitória… São pequenos desafios que fazem com que seja trabalhada a destreza intelectual e também a destreza manual já que é pedido que assinalem qual é a figura correta e pedimoslhes que façam alguma atividade física”, explicou, à margem do evento do Parque da Cidade, Joaquim Margarido que, enquanto responsável do DAHP é, também, o diretor técnico nacional de orientação de precisão, a tal vertente “mãe” da adaptada.

atletas e a organizarem provas. Aqueles que gostassem de praticar um desporto adaptado mas ainda não encontraram um desporto adaptado de eleição, podem vir a encontrar na orientação de precisão o seu desporto. Pode ser uma pessoa que não tenha qualquer tipo de mobilidade do pescoço para baixo. Até essas pessoas podem praticar orientação de precisão ao mais alto nível”, referiu Joaquim Margarido, rematando com a ideia de que a maior ambição atual da orientação de precisão em Portugal é a participação no mundial de 2013 e a organização, em Palmela, do Europeu de 2014. “No mínimo ficar na primeira metade da tabela é a nossa meta”.

Visibilidade, reconhecimento e “Portugal está a formar campeões” apoios No Parque da Cidade, na vertente de orientação de precisão participaram perto de dez atletas no escalão “elite”, cerca de 40 em “iniciação” e quatro atletas paralímpicos todos do DAHP. As “reclamações” sobre a dificuldade dos mapas e percurso foram várias. Mas Joaquim Margarido explica: “O objetivo atual é preparar campeões. Estamos a partir pedra. A nossa ambição é ficar numa boa posição no Campeonato da Europa de 2014 que vai decorrer em Portugal. Queixaram-se da dificuldade mas são capazes disto e de muito mais”. Na disciplina “aberta” foram vencedores António Aires (Individual), João Pedro Casal (clube Ori-Estarreja) e Pedro Massa (DAHP), e na disciplina paralímpica ficaram em primeiro, segundo e terceiro lugares, respetivamente, Ricardo Pinto, Diana Coelho e Júlio Guerra. “Esta prova está bem concebida, ainda que o nível de dificuldade tenha aumentado e esteja, agora, muito alto. A verdade é que já estamos num nível mais alto da competição”, descreveu Ricardo Pinto, atleta paralímpico do DAHP, o único português que representou, até hoje, o país num campeonato fora. Esteve, em junho, na Escócia no Campeonato do Mundo de Orientação de Precisão. Ficou em 35.º lugar, atrás de países como Uruguai e Espanha que eram “repetentes” nestas andanças, mas nenhum levou, até hoje, atletas paralímpicos. O DAPH levou um e quer repetir a “façanha” com mais atletas. “É nossa intenção mantermo-nos como base da seleção nacional de orientação de precisão, mas o DAHP não quer competir sozinho. Por isso desafiamos mais clubes e grupos a lançarem os seus

A checa Eva Jureniková, atual quarta classificada do Mundial de Orientação de Distância Longa, foi a “madrinha” da 1.ª etapa do III Circuito “Todos Diferentes - Todos Iguais”. Em Portugal, a atleta tem integrado os treinos do GD4C, da Senhora da Hora, concelho de Matosinhos, ainda que esteja a viver na Suécia, pratique orientação no Domnarvets GoIF e esteja prestes a iniciar carreira, como treinadora, no clube sueco HALDEN SK. Esta foi a “estreia absoluta” de Jureniková, que ocupa o 27.º lugar do ranking mundial, em provas no Parque da Cidade do Porto, espaço que descreveu como “ideal” para a prática de orientação. Jureniková fez as três provas – precisão, adaptada e pedestre – mas apenas competiu na última vertente (competiu no circuito rotulado como “difícil”), na qual conseguiu o primeiro lugar ao fazer um “excelente” tempo de 16:21 minutos. Quis participar nas


Desporto 63 restantes vertentes – adaptada para pessoas com deficiência intelectual e de precisão, também, para pessoas portadoras de deficiência física – em jeito de “contributo” para uma “cada vez maior divulgação e mediatização da orientação como modalidade inclusiva”. Esteve, também, presente no Parque da Cidade do Porto um representante da Federação Portuguesa de Orientação (FPO). “Promover a modalidade, a inclusão e o convívio” entre atletas, conhecedores e desconhecedores da orientação, e pessoas com deficiência física e mental foram os objetivos desta prova”, referiu António Amador. E sobre apoios às vertentes de precisão e adaptada, Joaquim Margarido é perentório: “A FPO está

Vertente de orientação adaptada

a dar uma igualdade de oportunidades e acesso a ajudas tanto na orientação convencional, como na orientação de precisão e adaptada. O que me apraz. Por exemplo na atribuição de verbas para uma ida a um campeonato do mundo, os atletas de orientação de precisão não são esquecidos, são contemplados também. Há uma aposta grande. Espero que possamos estar à altura dos desafios que nos esperam”, concluiu, dando uma pista sobre os próximos passos deste projeto que, ainda que esteja a ganhar raízes no DAHP, já é nacional. “O próximo passo é orientação para invisuais”.


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Temos

campeões! Em três edições do campeonato do Mundo de Futsal INAS, Portugal conta com dois títulos mundiais, sendo o atual campeão europeu e vencedor do “Global Games” Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: ANDDI

Com uma passagem invicta pelo 3.º Campeonato do Mundo de Futsal INAS que decorreu em La Rochesur-Yon, a seleção portuguesa da Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANDDI) voltou a conquistar um título que já tinha sido seu em 2007, quando a prova se realizou em Tondela. Portugal, que assim acumula esta conquista ao título de campeã europeia (campeonato realizado em 2010 na Guarda), derrotou a Hungria por 3-1 na final. Jorginho, Rivaldo e Luís Teixeira marcaram os golos da vitória. Em cinco jogos, a seleção lusa alcançou cinco triunfos (ver caixa de resultados) e saiu de França com um enorme sentimento de “dever cumprido”, mas com queixas de falta de apoios e falta de reconhecimento. “Excelente” é como descreve o selecionador da equipa lusa da ANDDI, Luís Fontinha, a participação de Portugal. O técnico nacional garante que “foram alcançadas todas as premissas perspetivadas para este campeonato” que eram “alcançar o título mundial, ter um comportamento disciplinar durante a competição exemplar e uma postura social modelar”. Já o apoio dado pelas instituições e entidades oficiais

portuguesas a esta seleção não merece o mesmo adjetivo positivo. Luís Fontinha referiu que “os apoios nunca são suficientes e são sempre aquém do mínimo necessário” e que “muitas vezes eles nem sequer existem, como foi o caso deste ano, já que a equipa de Futsal da ANDDI-Portugal não fazia parte do Projeto de Alto Rendimento”, uma vez que no campeonato anterior, no 2.º Campeonato Mundial disputado na Ligúria, Itália, o grupo ficou em quarto lugar entre oito equipas presentes.

O futuro da modalidade

Com uma média de idades dos jogadores a rondar os 28 anos, participaram no 3.º Campeonato do Mundo de Futsal INAS 12 atletas portugueses: André Gomes, Nuno Teixeira, Luís Teixeira, Hélder Morais e Sérgio Henriques, do NUCLISOL – Jean Piaget de Vila Real, e João Campelo, Fávio Silva, Márcio Soares, Guilherme Silva, José Rodrigues, Micael Pinto e Nelson Paulo, do Clube de Gaia. Os atuais atletas selecionáveis da seleção lusa são de Lisboa, de Matosinhos, de Vila Nova de


Desporto Gaia, de Faro e de Viseu. Mas existem também atletas da Madeira que, conforme lamenta Luís Fontinha, não puderam estar presentes em nenhum estágio “devido às dificuldades financeiras”. E são “essas mesmas dificuldades financeiras que condicionaram a realização dos estágios previstos”, relata o selecionador nacional. Luís Fontinha revela que dos seis estágios agendados só foi possível realizar dois – um em Setembro nos Olivais em Lisboa e outro em Outubro em Vila Nova de Gaia. “Os estágios limitam-se ao dia de sábado, realizandose dois treinos, um da parte da manhã e outro a meio da tarde”, conta, atirando como explicação para tanto sucesso desportivo o facto dos atletas competirem regularmente nas competições da ANDDI. Muitos, por outro lado, “vão mantendo a forma física individualmente em ginásios a expensas próprias”. Assim, “motivação” é mesmo a palavra de ordem desta equipa de campeões. Questionado sobre esta realidade, Luís Fontinha diz ser “facílimo motivar os atletas”, uma vez que “a participação e a conquista de um título são vistos como uma afirmação social tremenda, mesmo que essa afirmação seja só perante os mais próximos”. “São atletas, jogadores, pessoas, que estão habituadas a ter pouco e por isso já não é estranho. As maiores dificuldades prendem-se exatamente com a problemática de poderem conciliar o emprego com presença em estágios aos sábados e participação nas competições. Aqueles que trabalham e são a grande maioria tiram férias para poderem estar presentes”, descreve Luís Fontinha, selecionador desde 2002, portanto há dez anos. E ainda a propósito da média de idades dos jogadores e da falta de apoios, o selecionador luso explica que “os atletas mais novos são poucos e têm pouca experiência destas competições”. Aliás, no grupo que

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seguiu para França apenas quatro tinham entre 21 e 23 anos. “É que a aparição de atletas mais novos com valor para entrarem na seleção não é fácil. Os clubes onde podem ser recrutados são cada vez menos devido à falta de apoio financeiro, as instituições também estão em dificuldades”, diz Luís Fontinha, apreensivo face ao futuro, mas apostado em continuar a luta da renovação “sem perder qualidade”.

Experiências internacionais

A maior parte dos jogadores de futsal portugueses que fazem parte da seleção da ANDDI têm currículo em competições disputadas no Japão, África do Sul, Alemanha, França, Holanda, Polónia, República Checa, Inglaterra, Suécia, Itália, Hungria, entre outros países. A experiência internacional é invejável e ambicionada por todos, desde logo devido a toda a vantagem que trás para o desenvolvimento cultural, social e desportivo destes atletas. E além de um currículo e passaporte carimbado, os jogadores lusos têm um álbum cheio de fotografias e uma memória repleta de histórias para partilhar. Em Berlim houve um atleta que, depois de fazer o check-in, ainda pouco habituado a essas andanças, deitou para o caixote do lixo o passaporte por considerar que já não precisava dele. Eram seis da manhã. Felizmente os caixotes do lixo do terminal alemão demoraram a ser recolhidos e, após uma “inspeção” cuidada, lá foi encontrado o passaporte de um jogador quem, na vez seguinte, já não repetiu a traquinice, tal era o medo de ficar por terra e não cumprir mais um sonho internacional.

Uma sentida homenagem

O título de campeões mundiais foi dedicado, ainda na França, pela seleção portuguesa de futsal da ANDDI a

João Pardal, considerado “a alma desta modalidade”. Segundo Luís Fontinha, “a grande maioria dos atletas cresceu com ele, primeiro nas instituições a que pertenciam e depois como atletas da ANDDI”. O selecionador considerou que “todos” devem ao Professor João Pardal “uma grande porção do que hoje são como pessoas”: “Aprendemos a ser mais tolerantes a ser mais solidários e a ver na sua pessoa


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Seleção portuguesa de futsal da ANDDI – Da esquerda para a direita em cima: Paulo Cubal (Treinador Adjunto), Nuno Teixeira, Luís Teixeira, Nelson Paulo, José Rodrigues, Guilherme Silva, Hélder Morais, Luís Fontinha (Selecionador/ Treinador), Carlos Martins(massagista); Em baixo pela mesma ordem: André Gomes, João Campelo, Sérgio Henriques, Fávio Silva, Micael Pinto e Márcio Soares. alguém que era da nossa família. Todos sentimos a sua perda, e de uma forma muito sincera, propusemonos alcançar este título para lho dedicarmos”. E qual a próxima meta desta seleção agora que é a campeã europeia e mundial em título? “A ambição destes atletas é fazerem sempre o melhor e representarem com dignidade o nosso país. Temos sido mais fortes e por isso temos conquistado estes títulos”. A seleção portuguesa de futsal da ANDDI é, também, a vencedora do “Global Games” em título.

Resultados lusos Fase de grupos Portugal – 6 X 3 – Polónia Portugal – 8 X 6 – França Austrália – 0 X 43 – Portugal Semi-final Portugal – 8 X 5 – Irão Final Hungria – 1 X 3 – Portugal

Classificação final 1.º Portugal 2.º Hungria 3.º Irão 4.º França 5.º Itália 6.º Polónia 7.º Republica Checa 8.º Austrália


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Emanuel Gonçalves entre os melhores do Desporto Nacional

De um total de 25 personalidades ligadas ao desporto, os atletas Emanuel Gonçalves, Lenine Cunha e Inês Fernandes, o treinador Luís Marta e a equipa de Pares BC3/Boccia destacaramse entre os finalistas como “Desportistas do Ano” na Gala da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), que decorreu no Estoril, a 15 de novembro. Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: Confederação do Desporto de Portugal

Na categoria “Atleta masculino”, o ciclista Rui Costa, vencedor da Volta à Suíça e nono classificado do ranking da União Ciclista Internacional (UCI), bateu a concorrência de Cristiano Ronaldo (Futebol), Fernando Pimenta (Canoagem), Lenine Cunha (Desporto para pessoas com deficiência/ Atletismo) e Marcos Freitas (Ténis de Mesa). Sobre Lenine Cunha: conquistou a medalha de bronze no salto em comprimento F20 (deficiência intelectual) nos Paralímpicos de Londres/2012. Jéssica Augusto, sétima classificada da maratona em Londres2012, foi eleita a “Atleta feminina” ao somar mais votos do que Inês Fernandes (Desporto para pessoas com deficiência/ Atletismo), Luciana Diniz (Equestre), Telma Monteiro (Judo) e Teresa Portela (Canoagem). Inês Fernandes: esteve muito perto de alcançar uma subida ao pódio em Londres/2012, na modalidade de lançamento do peso; é portadora de deficiência intelectual. E eis que foi anunciado o atleta revelação do ano e o nadador madeirense Emanuel Gonçalves (Desporto para pessoas com deficiência) conquistou a distinção na categoria de “Jovem Promessa”. O ex-recordista mundial dos 1500 metros livres, vice-campeão europeu e vice-campeão mundial dos 5000 metros em águas abertas derrotou Diogo Lopes (Canoagem), Miguel Oliveira (Motociclismo), Patrícia Mamona (Atletismo) e Rui Silva (Andebol). Mais sobre Emanuel Gonçalves: conquistou a

medalha de prata no Europeu de Natação do International Paralympic Committee (IPC) 2011 e foi atleta do projeto de preparação Londres2012, mas não chegou a competir nos Jogos Paralímpicos. Já na categoria de “Melhor Treinador”, a escolha recaiu sobre o polaco Ryszard Hoppe, selecionador nacional de canoagem. Luís Marta (Desporto para pessoas com deficiência/Boccia), Markus Joanes Emke (Remo), Paulo Bento (Futebol) e António Jourdan (Triatlo) ficaram-se pela nomeação. Luís Marta é treinador de vários atletas com resultados nacionais, internacionais e paralímpicos, com destaque especial para a sua atividade de treinador junto do atleta José Carlos Macedo, que conquistou duas medalhas nos Jogos de Londres. Por fim, o prémio de “Equipa” do ano foi para a dupla Fernando Pimenta e Emanuel Silva, os medalhados de prata do K2 1.000 metros dos Jogos Olímpicos de Londres, escolhidos em detrimento da dupla de remadores Pedro Fraga e Nuno Mendes, dos Pares BC3 (Desporto para pessoas com deficiência/Boccia), da Seleção de futebol e da Seleção Masculina de Ténis de Mesa. Aquando da apresentação dos nomes dos finalistas de cada categoria, a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência disse ser “com enorme regozijo e satisfação que viu serem anunciados como finalistas os seus cinco candidatos, aos vários Prémios Desportivos do Ano”.


Desporto

Jogos Paralímpicos Londres2012 A participação menos medalhada de sempre foi também a mais competitiva da história. Dirigentes fazem balanço “positivo”… Atletas falam em “sonho realizado”… A falta de apoios é a crítica dominante! Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: Carlos Matos – Comité Paralímpico de Portugal

Ao todo participaram nos Paralímpicos três dezenas de atletas portugueses (22 masculinos e oito femininos) entre 29 de agosto e 9 de setembro. Num total de 46 provas disputadas, é certo que os portugueses só subiram ao pódio três vezes – uma medalha de prata e duas de bronze – mas os diplomas conquistados foram 16 e os Jogos Londres 2012 ficam marcados pela opinião generalizada de que houve um aumento acentuado do nível competitivo. Sem qualquer medalha de ouro, no boccia Portugal conquistou prata e bronze, ficou um nome em evidência: José Macedo, atleta do Sporting de Braga que conseguiu a medalha de prata em pares BC3, juntamente com Luís Silva e Armando Costa, e arrecadou o bronze na prova individual. Em atletismo, Lenine Cunha foi o único a subir ao pódio para receber o bronze no salto em comprimento F20 (deficiência intelectual), numa seleção com 15 atletas, que conseguiram quatro

diplomas. Com a presença de muitos asiáticos e os brasileiros de várias potências da modalidade de atletismo, o espaço para a conquista de medalhas para Portugal ficou rapidamente condicionado. João Paulo Fernandes, campeão paralímpico em Atenas2004 e Pequim2008, não chegou a disputar os primeiros lugares. Já a estreante Inês Fernandes ficou à porta das medalhas no lançamento do peso e nenhum atleta conseguiu assegurar presença nas finais que foram antecedidas de eliminatórias. Natação: João Martins não conseguiu repetir os bronzes de Atenas2004 e Pequim2008, terminando em quarto a final dos 50 metros costas S1, e colocando ponto final numa carreira de 20 anos; Simone Fragoso, Adriano Nascimento e David Grachat marcaram presença em finais, os dois últimos com recordes nacionais.

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Agora o remo… Filomena Franco foi quarta na final B de single scull, enquanto Sara Duarte foi nona na prova de paradressage standart e 15.º no estilo livre. Em suma, Portugal soma agora 88 medalhas em Jogos Paralímpicos, tendo terminado os Jogos Londres2012 no 63.º lugar do ranking do quadro de medalhas. Missão portuguesa com nota positiva “Os resultados dos Jogos de Londres não são, para mim, surpreendentes, se alguém esperava um nível elevado de medalhas, esse alguém não era eu. Penso que três medalhas é dignificante, tivemos 19 atletas a ficarem nos oito primeiros, numa comitiva de 30. Esta participação dignificou o país e, sobretudo, mostrou que é possível fazer melhor. Um alerta para o crescente aumento do nível de exigência e do nível competitivo desde os Jogos de Sidney2000”, disse, no final da participação portuguesa, a 9 de setembro, o chefe da missão portuguesa, Carlos Lopes. Ao fazer um “balanço positivo” da participação portuguesa nos Jogos Paralímpicos Londres2012, Carlos Lopes defendeu que o futuro do movimento paralímpico deve ser cimentado em três pilares: “continuação do apoio do Estado, aumento das parcerias privadas e recrutamento e formação de novos atletas”. Já à chegada ao aeroporto de Lisboa, a 11 de setembro, o presidente do Comité Paralímpico de

Portugal (CPP), Humberto Santos, pediu maior apoio dos privados, referindo que expressou esta preocupação aos governantes portugueses que estiveram em Londres2012 e chamou ainda a atenção para a necessidade de recrutamento de novos atletas para a alta competição paralímpica. Entretanto, o CPP já apresentou uma proposta no valor de 3,5 milhões de euros para a preparação dos Jogos Paralímpicos Rio2016, que prevê um aumento de mais de 50 por cento em relação ao ciclo Londres2012. Esta proposta entregue à tutela prevê um aumento do montante das bolsas de preparação, bem como dos valores disponibilizados para a preparação dos atletas com as bolsas de nível 1 a subirem de 450 para 518 euros, as de nível 2 de 322 para 386 euros, e as de terceiro nível de 161 para 225 euros. O CPP pretende também aumentar de 7.000 para 8.750 euros a verba anual de preparação por atleta, o que representa um acréscimo de 25 por cento em relação ao ciclo Londres2012. Ainda a propósito de números e orçamentos… Os Jogos Londres2012 tiveram um valor global de 2,3 milhões de euros, valor superior em 50 por cento à verba disponibilizada para os Jogos Pequim2008. A preparação paralímpica dos atletas portugueses é suportada pela Secretaria de Estado do Desporto e Juventude e pela Secretaria de Estado da Solidariedade e Segurança Social.


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Sabia que a organização dos Jogos Olímpicos e Para límpicos Londres2012 custou menos 377 milhões de libras (463 milhões de euros) do que o orça mentado? É que as autoridades britânicas tinham previsto gast ar 9,3 mil milhões de libras (11,4 mil milhões de euros), mas a fatura final ficou-se pelos 8,92 mil milhões de libras (11 mil milhões de euros). As maiores poupanças foram feitas na segurança, construção e transportes.


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Paralímpicos em números

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Atletas portugueses

José Macedo, vencedor de duas medalhas “Demonstrámos que a Coreia do Sul não é imbatível. O resultado de hoje provou que merecia mais” – José Macedo, vencedor de duas medalhas em Londres2012, bicampeão paralímpico em Atlanta1996 e Sidney2000.

3

Medalhas

18

Diplomas

46

Eventos

16

Classificados na metade superior da tabela

63

Lugar que Portugal ocupa, atualmente, no ranking mundial

88

Lenine Cunha com um salto de 6,95 metros “O sonho tornou-se realidade, está cumprido” – Lenine Cunha antes de subir ao pódio e depois de um salto de 6,95 metros, conseguido logo no primeiro ensaio.

Total de medalhas portuguesas em Jogos Paralímpicos (desde 1984)

15

Medalhas em Sidnei2000 – melhor participação de sempre: 52 atletas, 15 medalhas, 6 de ouro, 5 de prata e 4 de bronze, 12 em atletismo, 3 em boccia e 2 em natação

Sabia que a bandeira paralímpica já está no Rio de Janeiro, cidade brasileira que será, em 2016, sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos? A bandeira chegou ao Brasil no dia 11 de setembr o e com este símbolo na cidade, o Rio de Janeiro tornou-se, oficialmente, a capital dos Para límpicos, que serão disputados entre 07 e 18 de setembro de 2016 por cerca de 4.200 atletas de 150 países em 22 modalidades desportivas.


Surf adap pela tado prim eira v ez em

Desporto 73

Portu gal

O universo de desportos adaptados a pessoas porta doras de deficiência está a conquistar o seu espaç o. E eis que chegou também a hora de dar a conhecer o surf adaptado que, graça s à SURFaddict, teve em destaque no Rip Curl Pro Portugal… Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: João Serpa

Foi a primeira vez no país que o surf adaptado esteve em evidência e logo no Rip Curl Pro, um dos maiores eventos mundiais de surf. A experiência mereceu nota positiva por parte dos responsáveis da SURFaddict, Associação Portuguesa de Surf Adaptado, que desejam repetir e melhorar esta atividade. “A experiência foi de um modo geral bastante positiva embora existam pontos, nomeadamente ao nível da acessibilidade, que têm de obrigatoriamente ser trabalhados”, referiu o presidente da SURFaddict, Nuno Vitorino. O Rip Curl Pro Portugal decorreu, em outubro, na praia de Supertubos em Peniche, um dos “santuários” do surf português, tratando-se de uma atividade a contar para a 8.ª etapa do Word Tour, na qual saiu vencedor Julian Wilson. Num cenário de ondas a rondar 1.5 e os 2 metros, o atleta australiano conquistou a sua primeira vitória no Word Tour, subindo seis lugares no ranking mundial. Julian Wilson está no Top 10 dos

melhores surfistas do mundo. E a par desta grande conquista, Portugal e o surf adaptado também estiveram em evidência. A SURFaddict, que tem como objetivo proporcionar a pessoas com deficiência condições para a prática do surf, decidiu fazer uma demonstração durante a realização da prova do circuito mundial, aproveitando uma iniciativa da FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social que há três anos promove o batismo de surf a pessoas que estão em instituições. Assim, ao lado dos melhores atletas mundiais de surf, estiveram surfistas com deficiência, algumas estreias, alguns curiosos e outros já bem habituados a apanhar umas ondas. No global estiveram envolvidos cerca de 120 participantes e 60 voluntários. A SURFaddict destaca, ainda, o “grande envolvimento por parte de entidades locais nomeadamente a CERCIPENICHE, a Câmara Municipal de Peniche, o PPSC-Peniche Surf Clube, os Bombeiros e a Capitania local”.

“Aproveitámos e quisemos fazer uma demonstração mais à séria de surf adaptado”, explicou Nuno Vitorino, dirigente da SURFaddict e antigo atleta paralímpico, que aspira a que os responsáveis do circuito mundial de surf “assumam que o surf é para todos” e lembra que nos Estados Unidos “as pessoas com deficiência surfam durante as provas oficiais”.

Mais sobre a SURFaddict de Surf A SURFaddict é a primeira associação tivo, obje l Adaptado da Europa. Como principa com oas pess a SURFaddict quer permitir às que , mar do io deficiência, e pessoas com rece num o-se and Base o? desfrutarem o mar. Com escolas princípio simples: dar “formação” às sta, surfi ade unid com a e entr , de surf e criar bem ios, ntár volu de nto ime mov um grande idade às como alertar para a falta de acessibil praias. .pt/ CONSULTE: http://www.surfadaptado


Perfil 74

Hugo Passos “Uma referência” O Tri-Campeão Surd’Olímpico que aguarda o dia em que o país, que representa com sentido de “missão”, o reconheça. Um atleta surdo, medalhado em campeonatos nacionais e internacionais para surdos e ouvintes, que o mundo das Lutas Amadoras admira mas o mundo do Desporto dito “normal” ignora. Por Paula Fernandes Teixeira

“O Hugo é uma referência. É um modelo, não só no plano desportivo, mas também nos valores. É uma referência na modalidade [luta grecoromana]. O Hugo é um exemplo para os mais novos”, foi desta forma que o atleta Hugo Passos foi descrito, à Plural&Singular, pelo diretor técnico nacional de lutas amadoras, Pedro Silva. Mas quem é Hugo Passos? Que currículo impressionante tem este atleta que faça dele “uma referência”? Quantos títulos conquistou este lutador? Ou melhor, qual o peso das medalhas de Hugo Passos? Ou quantas vezes já se ouviu o hino português em subidas ao pódio protagonizadas por este competidor? Campeão Europeu, Campeão do Mundo, TriCampeão Olímpico, Campeão Nacional individual e coletivo, detentor de várias Taças de Portugal e Supertaças, Hugo Passos é, ainda, “invencível” em todas as provas Nacionais. O lutador – que começou o seu percurso no Grupo Sport Chinquilho Cruzeirense, uma coletividade do seu bairro onde o pai, Rui Manuel Passos, era dirigente – chegou a ser avaliado por Carlos Lopes a ver se singrava em atletismo e conta com passagens pelo Belenenses e pelo Sporting Clube de Portugal. É agora atleta e um dos principais responsáveis do Casa Pia Atlético Clube. Começou com 12 anos. Treina cerca de cinco horas por dia. Representar Portugal em campeonatos e provas internacionais para Hugo Passos é “uma missão”. Conheceu mundo, costumes, experiências. “Coleciona”, em casa, quase nove quilos em medalhas ao lado de troféus e diplomas. Hugo Passos é “só” um

dos atletas de alta competição mais medalhados de Portugal num universo incontável de modalidades. Mas como os Jogos Surd’Olímpicos não são reconhecidos pelo Instituto de Desporto de Portugal, como é reconhecido o Desporto Paralímpico, permanecem as perguntas anteriores, avançando-se para respostas a dar nota das ambições deste atleta. E próximas metas? Depois de conquistar tantos feitos num sem número de países por todo o mundo, a “nova” meta de Hugo Passos é não acabar a carreira sem conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos. E este objetivo poderá estar ao seu alcance dentro de dois anos, no Brasil. E num futuro mais próximo? Hugo Passos quer e vai defender o título atual de campeão surdo olímpico. E reconhecimento? A nível nacional, Hugo Passos é mais de uma dezena de vezes Campeão Nacional de luta greco-romana. É campeão nacional em LivreOlímpica mais de uma mão cheia de vezes, tal como o número de títulos como campeão nacional de equipas ou o número de Taças de Portugal conquistadas. E reconhecimento? – a pergunta exige-se, de novo. “Conheço o Hugo há 18/20 anos. Entre os competidores e apreciadores desta modalidade é um atleta reconhecido, mas o país deve-lhe muito em visibilidade e reconhecimento. Se existisse em Portugal outra cultura desportiva, talvez nem fosse feita esta pergunta. Alguém com o currículo do Hugo, em países com culturas desportivas diferentes, está no topo da mediatização”, conclui o diretor técnico nacional de lutas amadoras, Pedro Silva.


Cultura

Perfil 75 Nome: Hugo Passos Idade: 33 anos Naturalidade: Lisboa Modalidade: Luta Greco-Romana Clube: Casa Pia Atlético Clube Principal ambição: conquistar uma medalha nos jogos olímpicos no Brasil, (ouvintes)

Passatempo de eleição: andar de bicicleta

Breve resumo do palmarés de Hugo Passos 1999 – Campeonato da Europa – Juniores – Luta Greco-Romana – 54 Kg – 2.º classificado 1999 – Campeonato do Mundo – Juniores – Luta Greco-Romana – 54 Kg – 6.º classificado 2000 – Campeonato da Europa Para Surdos – Seniores – Luta Greco-Romana – 63 Kg – 1.º classificado 2001 – Jogos Olímpicos Para Surdos – Seniores – Luta Greco-Romana – 60 Kg – 1.º classificado 2004 – Jogos Olímpicos de Atenas – Luta Greco-Romana – 60 Kg – 21.º classificado 2005 – Jogos Olímpicos Para Surdos – Seniores – Luta Greco-Romana – 60 Kg – 1.º classificado 2008 – Campeonato do Mundo Para Surdos – Seniores – Luta Greco-Romana – 66 Kg – 1.º classificado 2008 – Campeonato do Mundo Para Surdos – Seniores – Luta Livre-Olímpica – 66 Kg – 2.º classificado 2010 – No 85.º Aniversário da Federação Portuguesa de Lutas Amadoras, Hugo Passos recebeu o prémio para o Lutador Internacional por ter sido: 1.º classificado na Rosny Cup - França e no Troféu Milone – Itália e 3.º classificado no Torneio Vila Sassari –Itália; no Grande Prémio de Espanha e no Torneio Ljubomir Gedza – Sérvia 2011 – Campeonato da Europa Para Surdos – Seniores – Luta Greco-Romana – 66 Kg – 1.º classificado 2012 – Campeonato da Europa – Seniores – 66 Kg – Luta Greco-Romana 7.º 2012 – Campeonato do Mundo para Surdos – Seniores – Luta-Greco Romana - 66Kg – 1º. Classificado


Opinião 76

Desde 1988

A Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD) é uma Federação multidesportiva, pessoa coletiva de direito privado, dotada de Utilidade Pública Desportiva, constituída sob a forma de Associação sem fins lucrativos que prossegue a nível nacional o desenvolvimento da prática cumulativa de diversas modalidades desportivas no âmbito do desporto para as pessoas com deficiência, em articulação e no respeito pelas Associações Nacionais por área de deficiência suas filiadas. Mantêm-se, como Associados efetivos as cinco Associações Nacionais de Desporto por Deficiência, abreviadamente designadas por (ANDD’s): • ANDDVIS, Associação Nacional de Desporto para Deficientes Visuais • ANDDI-Portugal, Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual • ANDDEMOT, Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Motora • LPDS, Liga Portuguesa de Desporto para Surdos • PC-AND, Paralisia Cerebral Associação Nacional de Desporto Desde a sua fundação em 7 de dezembro de 1988, a FPDD é responsável pela preparação e coordenação nacional em eventos desportivos internacionais,

como é o caso das seleções nacionais nos diferentes Campeonatos do Mundo e da Europa, incluindo os Jogos Paralímpicos, que hoje fazem parte do Comité Paralímpico de Portugal. Por outro lado, promove e desenvolve a prática desportiva nas mais diversas modalidades, através da elaboração de diversos projetos e ações de carater desportivo. Concluindo, a Federação promove e desenvolve mais de 20 modalidades desportivas paralímpicas e não paralímpicas. O plano anual do desenvolvimento desportivo consiste em 12 programas, 27 projetos e mais de uma diversidade de ações desportivas, com o intuito de incentivar a prática desportiva procurando uma maior inclusão e integração para as pessoas com deficiência.

Um pouco de história …

O conceito do desporto adaptado foi desenvolvido com o fim da I e II Guerra Mundial, em resposta dos inúmeros casos de pessoas que ficaram incapacitadas. Inicialmente apenas destinado a jovens com deficiência auditiva, alargando-se o conceito para pessoas com deficiência visual e motora. O desporto adaptado surge então como uma forma de dar resposta às necessidades socias vividas de uma época. As primeiras modalidades tiveram origem na Inglaterra e nos Estados Unidos. Na Inglaterra, por iniciativa do médico Dr.Ludwig Guttman, os indivíduos com lesão medular ou amputações de membros inferiores começaram a praticar atividades desportivas no Hospital Stoke Mandeville. Ludwis Guttman foi pioneiro no uso do desporto para reabilitação física, como também a nível da competição ao realizar em 1948, os Stoke Mandeville Games. Esta iniciativa foi premiada pelo Comité Olímpico Internacional, o que fez com que, em 1960, os Stoke Mandeville Games fossem realizados ao lado dos Jogos Olímpicos, sendo então considerados os primeiros Jogos Paralímpicos. Este episódio foi o começar de uma


Opinião 77

8 a criar campeões! nova era para o desporto adaptado, que passou a estar integrado num dos eventos desportivos mais importantes a nível mundial. Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos em 1972, na Alemanha. Contudo, foi com o 25 de Abril em 1974 e com o direito à prática desportiva titulada na Constituição da República (1976), que Portugal se desenvolveu no âmbito desportivo para pessoas com deficiência. O grande momento do desporto adaptado português dá-se nos Jogos Paralímpicos em 1984, em Nova Iorque, conquistando as suas primeiras medalhas e garante participações futuras nos Jogos. No ano de 1997, foi criado um sector específico para pessoas com deficiência, pela Direção Geral do Desporto, como também surge o Secretariado Nacional de Reabilitação. Esta evolução no pensamento, e consequentemente, nas práticas sociais, provaram alterações significativas no modelo organizativo e de enquadramento orgânico dos praticantes. A prática desportiva começou a estar associada a diferentes vertentes, isto é, educativa, recreativa, terapêutica e competitiva.

Vertentes do Desporto para Pessoas com Deficiência

O desporto tem uma importância significativa na sua vertente educativa/formativa acima de tudo nos primeiros anos de vida. Pois, o desporto é utilizado como um meio de inclusão social e de integração da criança com deficiência, com o intuito de haver um aumento de autoconfiança e autoestima para a sua vida futura. Aqui, o que se verifica é que existe uma grande falha na formação de base, no sentido que a maioria dos atletas com deficiência chega ao desporto, numa fase tardia, já em idade para ser enquadrado em escalões etários superiores. Numa outra ótica encontra-se a vertente terapêutica, que está associada a um conceito mais amplo de saúde, incorporando o bem-estar físico, psíquico e social a que todos os indivíduos têm

direito. O desporto deve fazer parte do processo de reabilitação pois é um meio facilitador de reintegração na sociedade. Por outro lado, a vertente da recreação/lazer, tem por base a melhoria ou manutenção das capacidades físicas em contexto lúdico, restabelecimento da autoestima e diminuição dos estados depressivos provocados pelo impacto da deficiência. Por último, a vertente direcionada para a competição, que inicialmente começa com os quadros competitivos mais básicos a nível regional e nacional, posteriormente poderá levar ao Alto Rendimento e Seleções Nacionais. O atleta com deficiência tem assim, a oportunidade de testar os seus limites e potencialidades, aumentar a sua autoestima, prevenir danos secundários à deficiência, desenvolver a condição física, aumentar a segurança e autoconfiança, potencializar o desenvolvimento cognitivo, comunicativo e a qualidade de vida. Assim, estas diferentes vertentes possuem diferentes valores, evidenciando em todas elas benefícios psíquicos e físicos. Realçando o facto de o desporto possuir a capacidade de evidenciar o mérito e as potencialidades dos indivíduos e não as suas limitações e incapacidades, pois ninguém pratica uma atividade desportiva e recreativa sem que este tenha como foco principal dar ênfase às capacidades individuais de cada um ou de um grupo em si. No entanto, as desigualdades económicas e socioculturais são evidentes a nível mundial. Isto verifica-se principalmente nos países em vias de desenvolvimento nos quais, apesar dos progressos existentes nesta área ao longo dos últimos anos, se verificam ainda grandes lacunas na qualidade de vida das pessoas com deficiência. Porém, o desporto tem vindo a ser nos últimos anos um meio e recurso de baixo custo, evidenciando ser uma aposta eficaz para a promoção positiva da saúde, do bem-estar, da inclusão social e de construção da comunidade ao dispor das pessoas com deficiência.


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CULTURA


Cultura 80

Museu para todos programação inclusiva “Programar para a diversidade…” foi o tema escolhido para o 7.º Seminário Anual do GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus, realizado em outubro. Nesta edição do evento foi admitida uma mesa redonda para registar as opiniões de todos os interessados em ajudar no diagnóstico de vários patamares de exclusão, tanto de cidadãos portadores de deficiência, como dos chamados não-públicos. Programar para todos é no fundo o objetivo desta iniciativa que nesta edição contou com a presença de mais de uma centena de participantes. Texto: Sofia Pires Fotos: Luís Banha

Em outubro o GAM realizou a 7.ª edição do seminário anual que contribui para o objetivo primordial da própria constituição deste grupo, ou seja, “melhorar o acesso aos museus, a todo o público com necessidades especiais – físicas, intelectuais ou sociais” –, para além de “disponibilizar informações sobre o tema, divulgar e promover atividades e um fórum de debate”. O tema deste Seminário, “Programar para a diversidade…”, foi tratado em dois painéis, “Olhares sobre a Legislação” e “Pontes de Comunicação” intermediados pela Mesa Redonda aberta à participação de todos os presentes, convidados a expor as suas ideias e opiniões. Uma das intervenções destacadas deste debate, é a de Guilherme Jorge, sócio da ACAPO, que realçou “a importância da capacidade descritiva dos guias e da existência de réplicas das peças, nos casos em que não é possível tocar as obras originais”, conforme se lê no comunicado do GAM. Ponto de vista também frisado pelo professor da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Fernando António Batista Pereira, que com uma comunicação subordinada ao tema “Programar museus e exposições para a inclusão” destacou “o papel social dos Museus como criadores de novas relações e de novos desafios como espaços de encontro e partilha de experiências”. O arquiteto da empresa Include, Pedro Homem Gouveia, foi um dos participantes no primeiro painel, “Olhares sobre a Legislação”. O arquiteto apresentou

o tema, “Das normas à prática: três ideias chave”, desenvolvendo o conceito de percurso acessível como “aquele que liga de forma contínua e ininterrupta os espaços do museu”. E, sublinhou, ainda, a importância de elaborar um diagnóstico completo das necessidades de adaptação para as acessibilidades que funcione como um plano de ação a concretizar de forma progressiva, consoante for possível, sendo, por isso, importante que as ações nesta área estejam contempladas no orçamento das instituições patrimoniais e culturais. No seguimento da exposição sobre as acessibilidades, Fernanda Sousa, do Instituto Nacional para a Reabilitação, INR, apresentou o tema “Cultura para todos”, salientando a existência do Decreto-Lei nº163/2006 que estabelece as Normas Técnicas de Acessibilidade nos edifícios públicos.


Cultura 81 O segundo painel foi subordinado ao tema “Pontes de Comunicação”. Da intervenção do responsável pela área da educação do Museo Thyssen Bornemisza, Rufino Ferreras, destaca-se “a necessidade de conceber material de apoio para público com deficiência visual que, por sua vez, poderá também ser utilizado nas escolas de forma a divulgar informação acessível e criar empatias”. No seguimento do tema “El museo eres tú”, Rufino Ferreras considera, ainda, que a educação social é um recurso importante em termos de crise e que “a criatividade e a formação contínua das equipas dos museus resultam numa maior compreensão das diferenças”. Daí que a programação dos museus deva contemplar essa compreensão das diferenças para, conseguir ir ao encontro de uma maior diversidade de públicos. No final do 7º Seminário Anual do GAM foi possível apontar quatro ideias fundamentais. Por um lado “a necessidade de conhecer a comunidade, o meio onde está inserida e identificar as preocupações e os interesses comuns, e por outro, a utilidade de insistir nas questões da linguagem acessível e lembrar a importância do sentimento de pertença”. Porque programar para todos, é programar para os cidadãos com deficiência, mas também para todas aquelas pessoas que acham que os museus e as exposições não foram feitos para elas e que não são, verdadeiramente, desejadas nesses espaços.

Mais sobre o GAM O GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus, nasceu há nove anos, “para melhorar o acesso aos museus a todo o público com necessidades especiais – físicas, intelectuais ou sociais -, disponibilizar informações sobre o tema, divulgar e promover atividades e um fórum de debate”. Entre as diversas atividades do GAM, destacam-se a formação, a realização de auditorias e a realização de um seminário anual sobre uma temática ligada às questões de acessibilidades. A informação dos seminários organizados desde 2006, por este grupo, que conta atualmente com 24 membros individuais e 20 membros institucionais, assim como outros dados, pode ser consultada no seguinte endereço: http://gam-acessibilidade.webnode.pt/


Cultura 82

Alunos da CerciGui “fazem parte” da CEC No rescaldo da 2.ª Sessão Inclusiva, apresentada no dia 28 de novembro, a Plural&Singular dá conta das expetativas do diretor artístico, Jorge Queijo, e da bailarina e coreógrafa, Dora Silva, para esse espetáculo. Com este evento fecha-se o ciclo que deu continuidade ao “Ópera de Todos” apresentado há um ano. Esta foi a última vez que os alunos da CerciGui - Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados do Concelho de Guimarães pisaram o palco do Centro Cultural Vila Flor…pelo menos no âmbito da “Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura (CEC)”. Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas por Jorge Queijo

“Eu sinto-me bem, sinto-me muito feliz”. “Sinto-me livre”. Os estados de alma de dois dos utentes da CerciGui – Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados do Concelho de Guimarães dão conta da importância deste projeto. E, tal como o Miguel e a Patrícia que se sentem assim – bem, felizes e livres – também os restantes alunos desta instituição devem partilhar os mesmos sentimentos. A verdade é que estes principiantes nas artes do palco “mostraram ao público aquilo que são capazes de fazer, começou por explicar Dora Silva. “A maior parte deles encara este projeto como uma profissão, como um trabalho que têm que executar e dedicarem-se de corpo e alma. Chegar ali e receberem um feedback positivo por parte do público, para além de os valorizar torna-os motivados para, em qualquer tarefa, se sentirem capazes de cumprir os objetivos que lhes são propostos”, continuou. Além disso, “já começam a ter a noção de responsabilidade”, assume Jorge Queijo que tem acompanhado a evolução do comportamento do grupo. “Um intervalo deles é uma agitação constante, há conflitos, há paixões. Agora, trabalham muito bem em grupo e respeitam-se uns aos outros, já não se atropelam a falar”. Ou seja, “estão muito mais disciplinados e muito mais conscientes deles próprios e do espaço dos outros, é a diferença que faz este género de intervenções artísticas”, remata a coreógrafa. E para quem julga, que a tarefa de dirigir este grupo é mais complicada, Jorge Queijo e Dora Silva esclarecem que não: “nós abrimos espaço para que eles realmente também decidam, para fazê-los sentirem-se capazes de explorarem aquilo que conseguem fazer, quer a nível físico, quer a nível musical”. A participação fica ao critério de cada um e na hora de lidar com as limitações, “porque nós também as temos”, a natu-

ralidade é a palavra de ordem, explica a coreógrafa, ao que o músico acrescenta que “ainda é mais divertido trabalhar com eles porque não há má disposição, nem há tempo para isso”.

Shazham é o título do espetáculo inspirado nos heróis de banda desenhada.


Cultura 83

“Numa ópera repleta de força, de coragem, de loucura e êxtase, encontramos personagens distintas e extraordinárias que viveram na mesma região durante um longo período de tempo. As suas narrativas são entrelaçadas com visões assombrosas, estranhas tradições e eventos recorrentes. Cada história interligada desenha um caminho para o desconhecido”, pode ler-se na programação.

Adquiriram-se instrumentos para a CerciGui e formou-se o grupo de música com 20 elementos que trabalha simultaneamente com o grupo de Dança constituído por 21 elementos.


Cultura 84 O percurso O que começou por ser, apenas, “umas sessões de voluntariado” que Jorge Queijo fez na Cercigui, rapidamente, depois de apresentado à CEC, ganhou novos contornos. A 21 de dezembro de 2011 acontece o “Ópera de Todos” como parte do programa preparatório para Guimarães CEC 2012. Este espetáculo grandioso envolveu quase todos os alunos da cooperativa de solidariedade social vimaranense. Mais de 170 pessoas no palco do Centro Cultural Vila Flor “fizeram parte” e deram parte de si, num espetáculo que superou as expetativas de todos. Dora Silva relembra que “a aceitação do público foi muito boa, ninguém estava à espera do que ia ver, foram surpreendidos”. A coreógrafa considera que a plateia ficou “realmente com outra perspetiva sobre este género de trabalho que já tem algum caminho trilhado, mas que ainda tem muito para andar”. Depois desta primeira atuação, com “800 pessoas no final a aplaudir durante 10 minutos”, o maestro Rui Massena propôs a continuação de oficinas durante 2012, com pequenas apresentações do trabalho realizado. Foi com o intuito de dar continuidade ao projeto que surgiram as sessões inclusivas - “uma em junho e outra, agora, no final de novembro”, explica o músico Jorge Queijo. O primeiro foi muito centrado na dramatização que foi criada e num elenco enorme de encenadores, músicos, atores de coro, uma coisa muito teatral. O segundo já foi uma mistura de 50 por cento de dança, música e instrumentos”, descreve o músico. Já a 2.ª Sessão Inclusiva foi “um espetáculo completamente novo” musical e artisticamente, foi muito mais virado para a dança. Dora Silva confessa que “este terceiro espetáculo acaba por ser o culminar desta jornada que se revelou tão intensa e tão particular”. A bailarina e coreógrafa entende que é fulcral incluir esta “viagem” no processo de construção

de tudo isto. “Até porque eles próprios estão diferentes, nós também estamos diferentes e tentámos usar isso como material”, conclui. Com mais de um ano de percurso a influenciar o processo criativo, este novo espetáculo de música e dança centra-se nas histórias e sonhos de cada elemento deixando para trás a palavra mágica, Shazham, de um herói de banda desenhada que intitulou e inspirou o primeiro espetáculo. Arrojado, revelador, catártico são os adjetivos utilizados por Jorge Queijo e Dora Silva para caracterizar a 2.ª Sessão Inclusiva. Sem cópias, nem reposições, este espetáculo assume-se como uma criação nova pensada também para “que possa ser levada a outros sítios”. Isto porque, se este projeto ganhou força e visibilidade no âmbito da CEC, não pretende desaparecer com ela e, por isso, sonha com um futuro sólido no ceio da comunidade artística de Guimarães.


Cultura 85

ece e que “Eles têm uma inocência que preval etivos. E é fantástica e são extremamente rec erentes as limitações também são muito dif géneo e e muito díspares, é um grupo hetero esse é o maior desafio”. Dora Silva

vontade “Mas a vontade que eles têm e o à l e isso com que eles fazem as coisas é incríve caminhos inspira-nos e leva-nos para outros e de tracriativos. É um desafio muito bom est balhar com os alunos da CerciGui”. Jorge Queijo


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RAMPIT Um espetáculo inclusivo “Viagens atribuladas à volta do mundo, de um D. Quixote dos tempos modernos que gosta de voar, apresentadas por um grupo de atores que transporta para cena, não só a própria história, mas também tudo o que acontece nos bastidores antes da representação da mesma” – é este o mote para um espetáculo que engloba Teatro, Dança e Música. Um espetáculo onde “a inclusão social e a igualdade de direitos foram o combustível para a criação coletiva original de um grupo que integra pessoas com e sem deficiência”, conforme refere a apresentação de “Rampit”.


Cultura 87


Cultura 88

Estas são algumas das imagens do espetáculo de dia 17 de novembro, que decorreu no Centro Cultural de Carregal do Sal. A Casa da Cultura de Santa Comba Dão recebeu, no fim-de-semana seguinte, o “Rampit” e voltará a receber o grupo a 5 de abril de 2013. A 9 deste mês, os artistas deslocam-se a Sintra, estando na forja o agendamento de outras atuações. O “Rampit” foi criado pela Sempre Sobre Rodas – Associação Para a Criação e Desenvolvimento Recreativo de Desportos e Artes, associação constituída em Santa Comba Dão este verão, mas que começou a dar os primeiros passos em 2011, com a tese de mestrado de João Paulo Silva (atual presidente) sobre dança e teatro inclusivo. “Eu queria responder à pergunta se seria possível, através da dança e do teatro, integrar pessoas socialmente”, contou o, também, professor da Expressart’ – Escola d’Artes do município de Santa Comba Dão, ambas instituições parceiras da Sempre Sobre Rodas no lançamento deste espetáculo. Para desenvolver a sua tese, João Paulo Silva juntou um grupo de pessoas com e sem deficiência e foi criado um espetáculo que é acompanhado de tradução para língua gestual e de música ao vivo. Ao todo são quase duas dezenas de pessoas em palco, desde músicos (presentes em maior ou menos número, de acordo com a sua disponibilidade), atores, atrizes, bailarinas e técnicos. Uns com deficiência… Outros não… Todos em nome da inclusão! A par do projeto de âmbito cultural e recreativo, a Sempre Sobre Rodas está a tentar angariar verbas para a aquisição de uma bicicleta adaptada, apostando, também, na vertente desportiva. São precisos cerca de 2.300 euros. A associação quer comprar uma ‘hanbike’ que depois “ficará disponível a toda a comunidade” na Ecopista do Dão, podendo ser utilizada mediante o pagamento de uma quantia simbólica para manutenção. Daí que a entrada para assistir ao “Rampit” não tenha um preço fixo, pedindo-se aos espetadores que doem à associação o valor que entenderem e puderem.


Sugestão de Leitura

Testemunhos de Ouro Ao todo são “onze” os atletas e ex-atletas que “dão vida” a “Testemunhos de Ouro”. As conquistas, as escolhas, as dificuldades, os episódios mais marcantes, as carreiras, os percursos, as participações, em nome da bandeira lusa, em Jogos Paralímpicos… Com este livro, o jornalista e ex-desportista de atletismo, Marco António, bem como o fotógrafo e repórter de imagem Luís Barulho, procuram lutar contra o desconhecimento da sociedade portuguesa em relação ao desporto paralímpico. Este é, assim, um projeto inteiramente sem fins lucrativos, estando disponível em versão default (fundo branco, letra negra) e contraste (fundo negro, letra branca). “Testemunhos de Ouro” é um livro que, conforme refere nota publicada no site do Comité Paralímpico de Portugal, “conta a verdadeira natureza dos atletas paralímpicos portugueses”. O lançamento decorreu aquando da apresentação da Missão Paralímpica para Londres 2012.

Marco Antonio - AUTOR

Julio Barulho FOTOGRAFO

Nome: Testemunhos de Ouro Editora: Edição de Autor - Online Lançamento: 22 de Agosto de 2012 Onde encontrar? www.comiteparalimpicoportugal.pt , www.marcoantonio.pt e/ou http://testemunhosouro. mediasmile.net/index.html Preço: Download Gratuito

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Lugar 90

Viver em Viseu

A cidade de Viseu, localizada no interior centro de Portugal, segundo um estudo de opinião realizado pela Associação de Defesa do Consumidor (Deco) é a melhor cidade portu guesa para se viver. Será que este município da Beira Alta é tido em tão boa conta junto da população com deficiência? Quem melhor que o Provedor dos Cidadãos com Defic iência, Joaquim Escada, para responder a esta questão e fazer um retrato da realid ade viseense.

Texto: Sofia Pires Fotos: Gentilmente cedidas

Situada no coração da Beira Alta, Viseu fita, do cimo do planalto onde se estendem, as muitas serras – Serra de Leomil Montemuro, Serra da Lapa, Serra do Arado, Serra da Estrela, Serra da Lousã e Serra do Caramulo - que a rodeiam. Repleta de pinhais, a “cidade do verde pinho” é sede de município e capital de distrito e, por isso, alberga inúmeros serviços estatais num labirinto de ruelas cheio de encantos a desco-

brir. Viseu é uma cidade antiga, e dessa antiguidade há vestígios um pouco por todo o lado. Desde a Cava do Viriato, até à Porta do Soar e à Sé Catedral, passando pelo Rossio, por outras praças, largos, capelas e igrejas. Há muitos monumentos para admirar. O roteiro é longo e inclui, também, casas e solares, vários exemplos da arquitetura de outras épocas que contam estórias da História de Viseu. É um percurso por outras épocas até aos dias de hoje em que

o antigo encaixa com o moderno. Talvez seja por tudo isto que Viseu foi eleita pela segunda vez como a melhor cidade para se viver em Portugal – em 2007 a Deco tinha feito uma sondagem semelhante, em que o resultado foi idêntico. No estudo deste ano os inquiridos consideraram que a Cidade de Viriato tem o melhor sistema viário, os passeios mais limpos, tem mais e melhores espaços verdes, ciclovias e uma boa coordenação entre os diferentes


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serviços municipais. Também as áreas da educação, da saúde, comércio e serviços parecem contribuir para a qualidade de vida desta cidade que está em décimo lugar na tabela internacional do ranking. Para garantir que estas condições de vida estejam também acessíveis à população com deficiência, a Câmara Municipal de Viseu criou, em 2004, o cargo de Provedor dos Cidadãos com Deficiência. A escolha para ocupar o lugar desta figura sensível recaiu sobre o professor Joaquim Escada que

acredita “servir de advogado das pessoas com deficiência, quer das instituições quer das pessoas singulares”. A cidade tem características antigas que apontam à necessidade de uma intervenção mais profunda devido à propensão para a existência de barreiras físicas e arquitetónicas, nomeadamente, “o traçado irregular, as suas ruas estreitas e desniveladas, com passeios estreitos e edifícios públicos de difícil acesso”, pode ler-se na proposta de criação do provedor aprovada por unan-

imidade na reunião ordinária da Câmara Municipal de Viseu, realizada no dia 23 de abril de 2004. Mas esta é a realidade de muitas cidades portuguesas que, nem por isso, optaram por criar a figura do provedor para melhor auscultar as necessidades dos cidadãos com deficiência e efetivar a realização dos direitos dos cidadãos com deficiência permitindo-lhes exercer uma cidadania plena. Joaquim Escada considera importante salientar que a figura do provedor existe por causa da sensibilidade do ex-


Lugar 92 ecutivo da Câmara Municipal. “Viseu está num bom caminho há muitos anos atrás”, afirma Joaquim Escada acrescentando que, “tem a ver com a sensibilidade das pessoas, nomeadamente do presidente da Câmara”. Já foram feitos muitos esbatimentos de barreiras arquitetónicas, nomeadamente no Rossio, onde todos os semáforos têm sinais sonoros, os passeios são rebaixados e com linhas guia para cegos. É de salientar que foi efetuado “o levantamento das barreiras arquitetónicas de todo o concelho, por uma entidade nacional ligada a esta área, em termos de ruas, passeios, transportes e edifícios públicos”, revela Joaquim Escada. No que diz respeito às novas construções, já é mais fácil “contemplar todas essas situações com rampas ou elevadores para os andares dos edifícios”. As normas técnicas de acessibilidades já foram implementadas, por exemplo, na Biblioteca Municipal D. Miguel da Silva e no Museu do Quartzo. Se o mercado de trabalho viseense no estudo da Deco tem nota negativa, também para o provedor é um dos maiores problemas com que se depara. “Ajudámos os jovens que estão em formação profissional a ter um projeto de vida, apesar de hoje, na sociedade em que vivemos, ser difícil qualquer pessoa ter um projeto de vida a longo prazo”, confessa Joaquim Escada. Para além das questões relacionadas com a formação profissional e o emprego, também são realizadas ações de sensibilização, principalmente nas escolas, para acabar com as barreiras mentais, as mais difíceis de esbater. Por ocasião do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, que se comemora a 3 de dezembro, as escolas e instituições fazem colóquios, seminários e ações de sensibilização. “Nas semanas próximas dessa data, estamos de mãos dadas nessa tarefa difícil de sensibilizar”, diz Joaquim Escada. Aliás, todo o trabalho é realizado em rede, também, com o serviço social e a própria Segurança Social. Viseu tem neste momento nove instituições ligadas à área da deficiência e nas palavras de Joaquim Escada “são todas instituições que fazem um trabalho extraordinário”. O, também, presidente da Associação de Andebol de Viseu diz que as instituições têm um papel fundamental no fomento do desporto adaptado e na sensibilização da prática desportiva. “Todas as instituições estão filiadas a instituições nacionais de desporto e participam em projetos nacionais”. E além disso, recentemente foi inaugurado o polidesportivo adaptado de Fontelo com todas as condições para a prática de modalidades como o boccia, o basquetebol em cadeira

de rodas, o futebol para invisuais, entre outras. O balanço de Joaquim Escada é positivo, mas realista: “já muitas coisas foram feitas, mas de qualquer das formas ainda há um longo caminho a percorrer”. O Provedor dos Cidadãos com Deficiência de Viseu sublinha a necessidade do trabalho conjunto e não se desculpa com a crise: “nós temos que saber ultrapassar todas estas situações de uma forma criativa, tentando ter mais e novos parceiros no sentido de, em conjunto, continuarmos a fazer este trabalho, sem estarmos preocupados com esta questão. Mas é evidente que ela existe, nós damos conta todos os dias”. Apesar da atividade do provedor ser circunscrita aos cidadãos residentes no concelho de Viseu, os visitantes com deficiência acabarão por tirar proveito e usufruir do trabalho realizado. O turismo aces-

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cas ligadas a esta “Todas as instituições têm boas práti que se possa, para co pou a área. Mas todos fazemos aind habitantes, mil 100 tem que u num concelho como Vise itetónicas, também esbater, para além das barreiras arqu ”, revela Joaquim esbater as barreiras das mentalidades Escada. s muito, as pessoas “Nós, que vivemos em Viseu, gostámo u e penso que, na Vise de to que nos visitam gostam mui caminho para tenbom num mos área da deficiência, esta oportunidades para tar ser uma cidade com igualdade de uim Escada. todos e acessível a todos”, assume Joaq


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sível é, por isso, também uma das preocupações da autarquia e o programa do executivo passa por “sensibilizar o setor para que Viseu possa ser uma cidade acessível a todos aqueles que a visitam”. Com um passado profissional sempre ligado à área da deficiência, Joaquim Escada, além de trabalhar localmente, considera importante que certas situações sejam discutidas a nível central, com a Associação Nacional de Municípios, junto do Governo. A existência do provedor é um incentivo à discussão destas questões a nível nacional e, para tal, Joaquim Escada defende que se deve “tentar que mais municípios possam ter a figura do provedor, uma figura facilitadora da igualdade de oportunidades e de tratamento das pessoas com deficiência em relação às pessoas sem deficiência”.


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Dia 30 de novembro | sexta 21h00 IV GALA SOLIDÁRIA DA APPDA - VISEU Local: Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu Organização: APPDA-Viseu Dia 1 e 2 de dezembro | sábado e domingo 11h00 às 18h30 Exposição/venda de trabalhos elaborados pelos utentes das Instituições de Viseu da área da deficiência Local: Hall de entrada do Hospital S. Teotónio Os espetáculos no Teatro D. Maria II têm interpretação em Língua Gestual Portuguesa. É necessário fazer a sua reserva com sete dias de antecedência. Para mais informações visite www.teatro-dmaria. pt. Sessões com interpretação em Língua Gestual Portuguesa: - M-Show | 3 fev 2012 às 16h15 - Condomínio da Rua | 10 fev às 16h - O Segredo da Arca de Trancoso | 10 mar 2013 às 16h15 - Olhos de Gigante| 21 abr 2013 às 16h15 - Como Gostais | 14 abr 2013 às 16h - Fausto | 2 jun 2013 às 16h15 - O Campeão do Mundo Ocidental | 9 jun 2013 às 16h - Violência – Fetiche do Homem bom | 21 jun 2013 às 16h

A Câmara Municipal de Viseu, as instituições dedicadas à deficiência e as escolas da cidade comemoram juntas o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: Dias 30 de novembro | sexta e 1 de dezembro |sábado Seminário “Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência na Comunidade Local: Hotel Montebelo Organização: APCV- Associação de Paralisia Cerebral de Viseu

Dia 3 de dezembro | segunda Seminário Organização: Câmara Municipal de Viseu 09h30 Abertura Presidente da Câmara Municipal de Viseu Diretor da Escola Secundária Emídio Navarro Provedor do Cidadão com Deficiência do Município de Viseu 09h55 Pausa 10h10 Conferências 11h40 Pausa 11h50 Conferências Momento cultural por jovens Encerramento AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO | Escola Secundária Emídio Navarro 10h30 - 12h30 Desporto adaptado | Coord.: APCV; APPACDM e Grupo de Jovens da APPC 10h00 – 12h30 | 14h15 – 15h30 Ateliers ao vivo | Coord.: APPACDM 10h00 – 12h30 | 14h15 – 15h30 Adaptação de brinquedos | Coord.: CRTIC -Viseu 10h00 – 12h30 | 14h15 – 15h30 Software de apoio a crianças com deficiência | Coord.: CRTIC -Viseu 14h30 - 16h00 Ateliês de dança com a participação de utentes do CDP Santo Estevão e de alunos do ensino articulado da área da dança da Esc. Secund. Emídio Navarro no Lugar Presente | Coord.: Centro Deficientes Profundos Santo Estêvão Dia 5 de dezembro | quarta 21h00 - III GALA DE SOLIDARIEDADE DA DAAPPACDM – VISEU Local: Viriato – Teatro Municipal Organização: APPACDM-Viseu


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Exposição “A Cor do Natal” A exposição de Pintura e Desenho “A Cor do Natal”, composta por 60 desenhos e pinturas da autoria de pessoas com deficiência, está patente, de 3 a 31 de dezembro, na Biblioteca Aquilino Ribeiro, em Moimenta da Beira. Realizada no âmbito de sete edições do Concurso Nacional de Postais de Natal promovido pela Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência (ANACED) entre 2003 e 2009, esta mostra é resultado do esforço deste concurso para abrir espaço de participação artística ativa às pessoas com deficiência, ao mesmo tempo que convida entidades públicas e privadas de todo o país a escolherem as propostas apresentadas para os seus Postais de Natal, de forma a dar visibilidade às capacidades destas pessoas.

Exposição “Homo Virtualis” Esta exposição “Homo Virtualis”, apresentada ao público pela primeira vez em agosto de 2011 integrada na IV edição da Bienal Internacional de Arte Contemporânea na Ilha do Porto Santo, está patente no Auditório Municipal de Vila do Conde, de 3 a 22 de dezembro. Trata-se de duas coleções de trabalhos cedidas pela Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência (ANACED), constituída por 14 telas em acrílico e a óleo, da autoria de 18 pintores. Para a ANACED esta é mais uma oportunidade para “valorizar e projetar a criação artística das pessoas com deficiência”..


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Inclusão!

Um projeto que não procura resultados imediatos mas sim conquistas diárias… Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: Instituto Politécnico de Leiria

O projeto está ainda numa fase inicial, no entanto já foram várias as ações desenvolvidas e outras atividades estão em curso. Grandemente dedicado à questão da inclusão e da deficiência, a Unidade de Investigação Inclusão e Acessibilidade em Ação (iACT) do IPLeiria (Instituto Politécnico de Leiria) lançou o projeto IPL(+)INCLUSIVO, cujo objetivo é “promover a diversidade enquanto oportunidade de enriquecimento mútuo”. O IPL(+)INCLUSIVO está a ser desenvolvido durante o ano letivo 2012/13. A ideia passa por desafiar toda a comunidade académica a envolver-se neste projeto. A comunidade envolvente também está a ser chamada a intervir e participar, desde associações locais, paróquia, Instituto Prisional, entre outros. E quando se pensa em inclusão, qual a primeira questão, tradicionalmente, levantada? Barreiras físicas… Em entrevista à Plural&Singular, a coordenadora da iACT, Josélia Neves, conta que “em 2011 a Unidade de Investigação Acessibilidade e Inclusão e Ação fez um primeiro estudo no IPLeiria, fazendo um levantamento das barreiras físicas e atitudinais mais sentidas no universo deste Instituto”. De acordo com a responsável foram detetadas várias “falhas, embora se tenham encontrado outras tantas razões para acreditar estar no bom caminho”. Josélia Neves prossegue, explicando que “foram identificadas barreiras físicas” e que “algumas estão a ser melhoradas outras terão de se manter por algum tempo mais por razões conjunturais”, adiantando que “mesmo nesses casos tem-se procurado minorar os problemas da forma possível”. Mas o IPL(+)INCLUSIVO é muito mais do que um estudo ou um levantamento sobre barreiras ar-

quitetónicas. “O grande desafio deste ano temático está em melhorar as condições de acesso através das atitudes”. E o enfoque não se fica pelas pessoas com deficiência. “A inclusão é abordada em todos os domínios e em relação a todas as pessoas. E toda a barreira física pode ser minorada quando não existem as outras barreiras – aquelas que mais doem – as barreiras humanas”, desenvolveu Josélia Neves. Assim, o projeto do iACT do IPLeiria “ambiciona sensibilizar para um sentido lato de inclusão, abrindo o âmbito da intervenção a outros perfis potencialmente sujeitos a discriminação (etnia, género, orientação religiosa…)”, conforme, aliás, se lê na página oficial do projeto na Internet. Todas as Escolas e todos os Serviços do IPLeiria estão a ser chamados a participar neste projeto, sendo que cada um o aborda dentro das suas especificidades e interesses. “O nosso objetivo é que, ao longo do ano, todas as pessoas do universo IPLeiria tenham parado um pouco para pensar nestas questões da inclusão”, referiu Josélia Neves, acrescentando que existem várias formas de participar. “Por um lado, temos sessões de formação no âmbito de certos cursos; por outro, temos sessões de sensibilização mais formais; mas acreditamos que a formação informal tem maior impacto. Assim, estamos a apostar mais em ações de sensibilização mais lúdica e algo inusitada. Um mobdance agora… uma refeição às escuras logo… um cartaz diferente noutro momento… queremos trabalhar de forma discreta mas constante e em diferentes frentes com estratégias diversificadas. Esperamos assim chegar a mais pessoas e de forma mais profunda”, completou.


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Motivação

Pedido um balanço do que foi feito até ao momento e do envolvimento da comunidade escolar e envolvente, Josélia Neves destacou a “motivação” de todos os intervenientes. A responsável considerou, também, “fundamental” trabalhar “de dentro para fora” para que o IPLeiria se assuma como “uma Instituição inclusiva”. “Existe um grande investimento no nosso pessoal. Os funcionários não docentes têm manifestado especial interesse no projeto e são elementos-chave na implementação da política de inclusão do Instituto”, referiu. E quando questionada sobre qual a fórmula mágica do iACT para conseguir mobilizar mais e mais pessoas em torno do tema da “inclusão”, a coordenadora faz um paralelismo com as questões de solidariedade que motivam muitas pessoas “no momento difícil que o país atravessa”. É que, concluiu Josélia Neves, “há uma maior consciência de que existe um ‘outro’ que merece alguma atenção”. Assim, ainda que mobilizar pessoas não seja “um processo fácil, pois implica conciliar vidas muito diferentes” e trabalhar em equipa seja “igualmente difícil por razões de vária ordem”, o IPL(+)INCLUSIVO está a conseguir “ativar grupos” e os resultados estão a ser considerados “muito animadores”. Projetos como o IPL(+)INCLUSIVO exigem muita persistência e uma atitude de ‘mão na mão’. As pessoas precisam de ser motivadas, conduzidas e incentivadas. Uma vez conquistadas demonstram uma enorme generosidade. O grande trabalho está em fazer com que as pessoas vejam o projeto como delas”, disse Josélia Neves.

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qual grande passo EM DISCUSO DIRETO: Na sua opinião ser um projeto e de e deix o” lusã falta dar para que a “inc idade? passa a ser, definitivamente, uma real ndo ela for apren“A verdadeira inclusão só se dará qua gerações até que mas algu dida no berço. Ainda vai levar a nova atitude. O num as dad as mentalidades estejam mol camadas mais nas feito ser de grande investimento terá se dê é preciso que jovens. Mas para que essa mudança Mudar o mundo fazexistam exemplos vivos de inclusão. Muitas formigas a se com pequenos passos de formiga. rença” – Josélia dife a r dar pequenos passos podem faze stigação InInve de ade Neves, coordenadora da Unid Politécnico tuto Insti do o Açã clusão e Acessibilidade em de Leiria.

Pequenas vitórias

Sem conseguir destacar apenas um momento, uma ação ou uma atividade do IPL(+)INCLUSIVO, contando que se têm vivido “várias pequenas conquistas”, porque “todas as ações são uma ‘festa’ e cada pequeno gesto vale por si”, Josélia Neves adiantou que será difícil avaliar o impacto global deste projeto pois vários processos de aprendizagem incutidos ou trabalhados nas atividades no âmbito do IPL(+) INCLUSIVO são “lentos”. “Incluir o outro na nossa vida requer aceitá-lo nas suas fragilidades e reconhecer nele(a) razões válidas para fazer parte desse nosso pequeno universo. É mais fácil identificar o ‘peso’ do que reconhecer a ‘vantagem’”, explicou. Assim, “mudar mentalidades” podia, também, ser o lema do ILP(+)INCLUSIVO que não quer esgotarse no ano letivo 2012/13: “É apenas o início de um projeto que se quer para a vida. O fruto que se espera é que ele continue quando o ano temático terminar”.

SIVO

Dimensões de atuação do IPL(+)INCLU

s do IPLeiria estão - Formação – docentes e investigadore tro e fora do IPL; den são inclu a dar formação na área da inúmeros protem exis – etos Proj - Desenvolvimento de oas de dentro e fora jetos em curso que integram pess unidade envolvente do IPLeiria. Trabalhamos com a com nizados e pessoas in(escolas, associações, grupos orga dividuais); unidade do IPLeiria - Ações de sensibilização – toda a com de sensibilização s açõe lver está convidada a desenvo cas,…) em todos os (palestras, jogos, provocações lúdi domínios da vida quotidiana; mais do que propor - Apoio a projetos de inclusão – projetos dos outros, ações, o IPLeiria está a apoiar os ades dos parceiros. ssid contribuindo na medida das nece


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Um livro e muito mais…

A coordenadora do iACT, Josélia Neves, tem vindo a dedicar grande parte da carreira a temas como educação, linguagem acessível e inclusão. E, numa mescla entre o profissional e o pessoal, nasceu o livro “O menino de dedos tristes”, uma obra multiformato que pretende ser acessível a TODOS! Texto: Paula Fernandes Teixeira Foto: Gentilmente cedida por Josélia Neves

“O menino de dedos tristes” hoje é feliz... Porque existe e porque pode ser “lido” por TODOS! Licenciada em Línguas e Literaturas modernas pela Universidade do Porto, com mestrado em Estudos Ingleses pela Universidade de Aveiro e doutoramento em Estudos de Tradução, Josélia Neves, a coordenadora do iACT (Unidade de Investigação Inclusão e Acessibilidade em Ação) é autora de uma tese sobre o tema “Tradução Audiovisual: Legendagem para Surdos”, publicada em Londres. A um vasto currículo como docente, nomeadamente no Instituto Politécnico de Leiria, onde introduziu a disciplina de Tradução Audiovisual, e como docente convidada na Universidade de Coimbra, no âmbito dos Cursos de mestrado e de doutoramento em Estudos de Tradução, junta

colaborações em cursos de mestrado e de doutoramento em várias universidades estrangeiras. Assim, o percurso da coordenadora pelo iACT, unidade que está a desenvolver o projeto IPL(+)INCLUSIVO, tem nas áreas da inclusão, da comunicação acessível e da educação, entre outras, alguns dos seus pilares principais. Aliás, numa rápida leitura ao currículo de Josélia Neves, através da página oficial do iACT, ganham evidência as áreas de interesse desta docente: comunicação inclusiva, tradução audiovisual, audiodescrição e legendagem para surdos. Além do seu trabalho enquanto docente e investigadora, a coordenadora o iACT “acumula” o


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gosto pela escrita, tendo-lhe dado vida através de um projeto pessoal que vai ao encontro do que, a nível profissional, mais está presente na sua vida/ carreira – a pluralidade de linguagens com vista à inclusão. E eis que nasce “O menino de dedos tristes” que é muito mais do que um simples livro. “Dentro de mim vive um dos muitos meninos e meninas que gostariam de ler livros feitos à sua medida”, assim começa a descrição de “O menino de dedos tristes”… “Nem todos conseguem ler livros impressos com letras e figuras coloridas. Alguns precisam de formatos especiais. Eu sou um exemplo disso mesmo”, continua… “O menino de dedos tristes” é um livro multiformato dedicado a miúdos e graúdos que pode ser lido/ tocado/compreendido/ouvido/sentido por TODOS! “O menino de dedos tristes” é um livro infantil que foi desenvolvido para pessoas cegas, pois existe em Braille e em formato audiolivro, para pessoas surdas pois existe em videolivro com Língua Gestual e, uma vez que existe em formato pictográfico, pode ser lido por quem só compreende uma linguagem simples e explicada por figurinhas. Da autoria de Josélia Neves, “O menino de dedos tristes” tem ilustrações de Tânia Bailão Lopes, foi

lançado em outubro desde ano, e trata-se de um projeto que está já a ser desenvolvido por escolas e bibliotecas portuguesas, podendo considerar-se uma ferramenta ímpar na aprendizagem de Língua Gestual Portuguesa ou mesmo Braille. Aliás, este é um dos objetivos da autora do livro: “Quantos mais parceiros aderirem a esta rede, mais materiais existirão para partilhar entre todos”, disse, contando que este projeto “nasceu da consciência de que existem muitas pessoas sem acesso à comunicação, à informação e ao lazer”. “O menino de dedos tristes” está a ser vivido “intensamente e por razões diferentes”, de acordo com Josélia Neves, “tanto por crianças, como por adultos”. “Os mais pequeninos descobrem que há meninos ‘diferentes’ e que precisam de coisas diferentes também. Os mais velhos tomam consciência que para todos os problemas há uma solução que normalmente surge pela mão de um verdadeiro amigo. Os adultos consciencializamse de que têm a obrigação de fazer qualquer coisa”, completou a autora deste livro multiformato, confessando que “tem sido muito gratificante ver como cada pessoa ‘lê’ este livro à sua maneira”.

o porquê? Este é um livro multiformato inclusiv

o, “O Menino de Dedos Tristes” tem livr dio au do e ille Bra em s sõe ver s Além da tos alternativos: audiolivro com ma for com os eir fich ios vár z tra um CD que serviram de base à ilustração da e qu ros ad qu s trê s do o içã scr de soundpainting; stual Portuguesa; videolivro em Língua Ge obra; videolivro em Língua Gestual sa eolivro em Língua Gestual Portugue vid as; sad glo s da en leg com sa gue Portu as pictográfica (SPC); lista pictogram são ver al; gin ori to tex do s da en com leg o em Braille (sobre versão a tinta ssã pre im ra pa f .wi to ma for em (SPC); versão . Este livro inclui, ainda, exevo rel em o ssã pre im ra pa es açõ str ou a branco); ilu tos alternativos. plicações sobre como fazer os forma a conça você mesmo’, pois qualquer pesso ‘fa KIT de e éci esp a um de -se ata “Tr Na vo se seguir as instruções simples. ati ern alt to ma for em os livr r cria segue outro projeto: ‘Projetos de Leituum de ial erc com são ver a é o livr e verdade est a transformação de livros imar tiv en inc a cur pro e qu a’ ad tilh ra Inclusiva Par explicou Josélia Neves. pressos em formatos alternativos”,


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