OLHANDO PARA DISSECAÇÃO DE PEIXES COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA

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OLHANDO PARA DISSECAÇÃO DE PEIXES COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA Débora Harms Stangherlin Jaqueline Pinheiro Andres Ligia Sturza Rodrigues Marisa Both Roque Ismael da Costa Güllich Resumo: O presente relato descreve uma aula prática de Ciências no 6° Ano do Ensino Fundamental sobre “Dissecação de peixes”. Esta ação é parte do contexto de iniciação a docência do PIBIDCiências, na qual licenciandos estão articulando aulas experimentais no Ensino de Ciências com supervisão de professores da escola, supervisores do programa e professores formadores da Universidade. Neste escrito descrevemos a aula em contexto e aspectos pedagógicos, bem como os materiais utilizados para a realização da prática experimental. A metodologia da aula, as aprendizagens de licenciandas e dos alunos também fazem parte da discussão. Na interação entre alunos e licenciandas bolsistas, surge o diálogo formativo e o processo de evolução conceitual vai sendo atingido de modo progressivo e gradual. Ao serem descritas e analisadas às aulas, professores da escola, licenciandos e formadores vão atribuindo novos sentidos à experimentação no ensino de Ciências pela via da reflexão. Palavras-chave: Experimentação, Iniciação à docência, PIBIDCiências, Ensino de Ciências.

Introdução O presente relato de experiência descreve uma aula prática de Ciências no 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental da Escola Doutor Otto Flach, sobre “Dissecação de peixes”, a qual visava retomar o conteúdo já desenvolvido pela professora em outro momento em sala de aula. Esta ação é parte do contexto de iniciação a docência do PIBIDCiências, na qual licenciandos do Curso de Licenciatura em Ciências - Biologia, Física e Química, estão articulando aulas experimentais no Ensino de Ciências em colaboração com professores da escola, supervisores do projeto e professores formadores da Universidade. A aula realizada trata-se de uma prática pedagógica utilizando-se de aula experimental no ensino de Ciências, realizada no laboratório da escola, com o objetivo de ampliar as possibilidades de aprendizagem e conhecimento dos alunos acerca do tema: peixes ósseos.


Metodologia Primeiramente foi preparada uma atividade didática sobre dissecação de peixes, onde os alunos deveriam completar no esquema preparado para atividade, o nome de cada parte da anatomia externa e interna de um peixe ósseo.

Fonte: Stangherlin, 2011.

Figura 1: Peixe ósseo utilizado na prática Na realização desse experimento foram utilizados os seguintes materiais: peixe; tesoura de pontas finas ou faca pontiaguda; luvas de látex; pinças de dissecação; papéis absorventes (limpos); uma bandeja retangular de plástico; lápis; borracha e papel de desenho. Com o auxílio desses materiais realizamos a dissecação do peixe mostrando aos alunos a anatomia externa e interna do animal. Primeiramente os alunos foram divididos em três grupos para melhor visualização da prática, e neste primeiro instante mostramos a parte externa do peixe para cada grupo e após realizavam uma atividade didática proposta como relatório, que era completar as partes de um peixe em uma figura (esquema de um peixe ósseo).


Fonte: Stangherlin, 2011.

Figura 2: Atividade didática Após essa etapa explicávamos a anatomia interna do peixe e os alunos interagiam conosco através de questões, mantendo um diálogo sobre o assunto, pois já haviam estudado o conteúdo, e interagiam atentamente às explicações. Novamente, após todos terem observado a anatomia interna, dirigiam-se para seus lugares a fim de completar o restante da atividade didática, o relatório. Ao finalizar a atividade prática auxiliamos os alunos no processo de organização da atividade didática, esclarecendo dúvidas ou dificuldades encontradas.

Fonte: Stangherlin, 2011.

Figura 3: Momento em que o grupo recebia a explicação sobre a anatomia externa do peixe


Durante a realização da atividade prática foram feitas perguntas aos alunos, tais como: 1- Onde se localizam as brânquias? Para que servem? 2-Quais os tipos de nadadeiras? 3 Onde se localiza a linha lateral? Para que serve?4- Onde esta localizada a bexiga natatória, e para que serve? 5- Qual é a importância dos peixes nos rios e lagos? Prevalecendo assim um ambiente de questionamento com o jogo de perguntas, para propiciar uma aprendizagem através do que preconiza o educar pela pesquisa, que segundo Demo (1997, p.2): “a escola deve ser o ambiente criativo por excelência, onde o aluno tem participação ativa e motivação constante, e não um ambiente repressor que cultiva apenas a disciplina”. Nesse sentido, o programa PIBIDCiências deseja facilitar o processo de aprendizagem, pela via da experimentação, com base na proposta integradora de pesquisa-ação, que tem como enfoque a

reflexão crítica, de modo a propor um processo formativo através de

movimentos reflexivos que inter-relacionem pesquisa, ação e formação

como uma

aprendizagem que demanda estudo, diálogo crítico e interlocução entre distintos ambientes de trabalho e de formação. Olhando para a prática realizada Começamos nossa aula prática questionando os alunos sobre as partes do peixe ósseo, pois segundo Moraes, Galiazzi e Ramos (2002, p.2): “o movimento do aprender através da pesquisa inicia-se com o questionar [...] A pergunta, a dúvida, o problema desencadeia uma procura. Leva a um movimento no sentido de encontrar soluções.” Como coloca Moraes, Galiazzi e Ramos (2002) o questionamento desperta nos alunos uma procura pelas respostas e no momento em que foram desafiados eles começaram a pensar e a responder as perguntas feitas como: Onde se localizam as brânquias? Onde se localiza a linha lateral? Onde está localizada a bexiga natatória e para que serve?, entre outros questionamentos. A maioria destes questionamentos foram respondidos corretamente, pois os alunos já tinham um prévio conhecimento a respeito do tema trabalhado, o que facilitou a realização da prática e serviu para melhor significarem esse conteúdo. Eles saíram da aula sabendo onde se localiza a linha lateral, aprenderam qual a função da bexiga natatória e onde a mesma se localiza, entre outros conceitos que aprenderam de forma diferenciada através de uma aula prática de laboratório. Acreditamos que pela via do questionamento, os alunos elaboram seus argumentos e são instigados a pensar nos conceitos. Nesse sentido a aula desenvolvida foi bem


participativa, os alunos interagiram, nos indagaram sobre o tema exposto e muitos nos colocaram que nunca tinha tido a oportunidade de estar no laboratório de Ciências e participar de uma aula prática. A falta de tempo e a desmotivação de alguns professores são os fatores que os impedem, muitas vezes, de realizar alguma atividade prática e diferenciada em suas aulas, onde segundo Moraes (2002, p.238): a iniciativa de repensar e reestruturar a formação de professores com base no educar pela pesquisa, para poder atingir a melhoria de sua qualidade, parte da convicção da necessidade de superar a aula caracterizada pela simples cópia, a nova formação se constituirá em uso da pesquisa como atitude cotidiana na sala de aula.

Como Moraes (2002) salienta desejamos formar um professor que possa educar pela pesquisa, e que deste modo melhore a qualidade de suas aulas, e a pesquisa se torne algo cotidiano em sua prática. Este objetivo também deve permear a formação inicial dos licenciandos na área de Ciências visando formar profissionais capacitados, exercerem seu trabalho como professores que produzem sua aula no coletivo e não como meros transmissores do conhecimento. Acreditávamos que teríamos dificuldades para aplicar a aula prática em razão de ser uma turma grande e agitada, então a professora da escola nos sugeriu distribuir a turma em grupos, o que facilitou o desenvolvimento e o bom andamento da atividade. “Nesse processo, todos os envolvidos passam a ser sujeitos das atividades. São autores da reconstrução de seus próprios conhecimentos. Os trabalhos se relacionam intimamente com o que os participantes pensam e fazem”(MORAES, 2002, p.239). Em relação ao que o autor afirma, também acreditamos que o trabalho em grupo fortalece o aprendizado, pois é um momento que possibilita o diálogo entre os alunos, tornando possível a troca de conhecimento e permitindo que os alunos sejam autores de seu processo de aprendizagem, desencadeando o início do desenvolvimento da autonomia. Essa foi nossa primeira aula como futuras professoras, mas para a realização desta aula tivemos alguns obstáculos, como o adiamento da aula por falta de tempo, problema este que enfrentamos desde o começo do projeto, e que nos inibiu de realizar outras atividades práticas com as turmas. Outro imprevisto enfrentado foi o fato de já termos o peixe e a aula não ter sido realizada no dia combinado, acarretando assim termos que usar o peixe congelado e não fresco como exigia o roteiro, isso dificultou a visualização de algumas partes internas do peixe, mas não prejudicou o bom aproveitamento da aula.


Acreditamos que poderíamos ter questionado mais os alunos e levantado assuntos como, qual a relação com outros grupos como o caso do opérculo, que está presente nos peixes e nos cartilaginosos não, poderíamos também ter trabalhado a diferença entre as classes vistas anteriormente, e ter abordado sobre espécies de peixes de água doce e salgada. Conforme MORAES (2001, pg.4): a partir do questionamento dos conhecimentos já existentes inicia-se um processo de construção de novos argumentos capazes de substituirem os conhecimentos questionados, argumentos que necessitam ser fundamentados e defendidos com rigor e competência. Como futuras professoras percebemos que foi essencial para nossa formação a participação nas escolas, pois é um ambiente que proporciona interação com os alunos, professores, e com a realidade escolar, realidade esta que já nos prepara para sermos futuras professoras. É um processo de iniciação, que primeiramente nos deixou assustadas com a realidade que encontramos na escola, pois é uma escola que atende um grande número de alunos em vulnerabilidade social, desmotivados e sem expectativas para um futuro melhor. Com a vivência na escola percebemos que eram alunos difíceis de trabalhar, pois eram carentes até mesmo de afeto, mas com o passar do tempo percebemos que se fossemos compreensíveis eles também colaborariam conosco, e foi o que aconteceu, pois quando trabalhávamos algum assunto, ou atividade, eles colaboravam, ficavam atentos, pois era uma aula diferenciada em que estavam presentes interesses de aprendizagem. Muitas vezes quando não entravamos em sala de aula, eles nos questionavam pelos corredores da escola se tínhamos esquecido deles, quando iríamos retornar e se iríamos leválos novamente para o laboratório escolar de Ciências. Dessa maneira, nos passavam força para ir à escola. Também refletimos que estamos realmente em um curso que se preocupa com o fazer docente e a formação de seus professores e que queremos nos formar para podermos atuar nas realidades e pensar possibilidades de proporcionar um futuro melhor a esses alunos. Conclusão Na interação, no diálogo formativo o processo de evolução conceitual vai sendo atingido de modo progressivo e gradual. Ao serem descritas e analisadas às aulas, professores da escola, licenciandos e formadores vão atribuindo novos sentidos à experimentação, foco da ação do PIBIDCiências nas Escolas, que pela via da reflexão tenta facilitar o processo e contribuir para o aperfeiçoamento do trabalho docente em sala de aula. Entramos na escola Estadual Doutor Otto Flach com o objetivo de ajudar a melhorar a


realidade escolar, tentando transformar as aulas tradicionais em aulas interativas, em que os alunos tenham participação ativa, pretendendo criar um sujeito capaz de desenvolver habilidades, ter iniciativa e ambições por uma vida melhor, transmitir valores onde estes coloquem os estudos em primeiro plano. Acreditamos que esta é uma maneira de ajudar os alunos a melhorar a realidade social de onde vivem e a aprender Ciências. Referências GALIAZZI, M.C; MORAES, R. Educação pela pesquisa como modo, tempo e espaço de qualificação da formação de professores em Ciências. Ciência e Educação, v.8, n.2, p 237252, 2002. DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas, SP: Editores Associados, 2.ed., 1997. MORAES, Roque. Educar pela pesquisa: exercício de aprender a aprender. 2001. [Texto manuscrito]. MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo; RAMOS, Maurivam G.. Pesquisa em sala de aula: fundamentos e pressupostos. In: (...autores e título do livro- vou ver ) Porto Alegre: EdiPUCRS, 2002.


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