Observando animais na escola para etuda-los

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OBSERVANDO ANIMAIS NA ESCOLA PARA ESTUDÁ-LOS Maria Angelita Bedates Ribas (angel.aribas@hotmail.com) Bolsista do projeto PIBID Universidade Federal da Fronteira Sul/UFFS Jane Elise Dewes Abdel (jane_abdel@hotmail.com) Supervisora do projeto PIBID Escola Municipal de Ensino Fundamental D. Pedro II Roque Ismael da Costa Güllich (roquegullich@uffs.edu.br) Coordenador do projeto PIBID Universidade Federal da Fronteira Sul/UFFS Rosa Ten Kathen Jung(rosaremijung@gmail.com) Professora regente da escola Escola Municipal de Ensino Fundamental D. Pedro II Resumo: O presente texto tem como finalidade compartilhar o resultado do emprego de experimentação em aulas de Ciências na perspectiva do educar pela pesquisa. Acreditamos que a experimentação atua como uma importante ferramenta no desenvolvimento e na formação do conhecimento científico. Neste texto temos a intenção de descrever e analisar uma atividade ocorrida durante as aulas de Ciências. Para tanto, abordamos os obstáculos e possibilidades encontrados pelos professores e pelos alunos no mecanismo reflexivo e produtivo ao desenvolverem os conteúdos conceituais relacionado ao experimento.

Palavras-chave: Experimentação, Ensino de Ciências, Formação de Professores

INTRODUÇÃO O ensino de Ciências na Educação Básica ainda apresenta uma grande resistência à experimentação, de forma que é fácil aos docentes simplesmente transmitir os conteúdos que estão contidos nos livros didáticos sem questioná-los, através de uma educação tradicional. Este tipo de processo pedagógico consiste em apenas depositar o conhecimento em seus alunos de forma expositiva e narrada acreditando que eles são um depositório de saberes e que anteriormente nada sabiam. Professores devem combater essa ideia ainda predominante nas salas de aulas e na formação de novos professores assumindo, ao invés dessa perspectiva, um modelo mais contemporâneo baseado no senso crítico, que forme profissionais para a pesquisa e gradativamente adicionando aos seu perfil a reflexão como prática transformadora, buscando formar professores e alunos reflexivos.


Mudanças na formação de professores, podem influenciar seus alunos no desejo pela pesquisa e a curiosidade que moverá para novas descobertas no diversos campos da Ciência e mobilizará saberes para a vida social. Os professores de Ciências e Matemática da educação básica do Município de Cerro Largo-RS, estão fazendo sua formação no Grupo de Estudos e Pesquisa em Ciências e Matemática (GEPECIEM), onde a pesquisa como formação esta especialmente evidenciada, pois de forma clara é desenvolvida a formação através da pesquisa-ação, como um processo que se dá em torno da reflexão e sistematização das práticas. A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa onde através de um olhar a sua própria prática cada participante faz a sua própria pesquisa, refletindo sobre a ação e melhorando-a. Cada ação do docente é pensada, refletida, problematizada e refeita de forma a ser melhorada, sendo que isso caracteriza a pesquisa-ação. De acordo com Galiazzi e Moraes (2002, p. 238): a iniciativa de repensar e reestruturar a formação de professores com base no educar pela pesquisa, para poder atingir a melhoria de sua qualidade, parte da convicção da necessidade de superar a aula caracterizada pela simples cópia, a nova formação se constituirá em uso da pesquisa como atitude cotidiana na sala de aula.

Nesse sentido, o objetivo deste relato de experiência é compartilhar ou estabelecer uma troca com outras pessoas, além de demonstrar como atividades experimentais mediatizadas por processos de pesquisa auxiliam tanto na discussão da formação dos alunos e como de professores de Ciências. Segundo Galiazzi e Moraes (2002, p. 238): “assumir o educar pela pesquisa implica em assumir a investigação como expediente cotidiano na atividade docente. O pesquisar passa a ser princípio metodológico diário de aula.” Desta forma, o trabalho de aula gira sempre em torno do questionamento, que vai além do conhecimento de senso comum. A prática educativa do professor deveria indicar a sua intenção, no sentido de demonstrar as finalidades educativas de sua prática, isto é, as transformações que podem surgir a partir da sua ação. Esta prática pressupõe aulas mais interessantes, dentro de uma metodologia investigativa e colaborativa que possibilite a participação dos alunos no processo de ensinar e aprender. Dentro deste contexto é que se inserem as propostas de uma prática fundamentada na experimentação e na interatividade, neste sentido, é que pretendemos apresentar esse relato de experiência sobre a coleta de animais no pátio da escola onde alunos


do 4º ano do ensino fundamental aprenderam os primeiros conceitos sobre animais.

A METODOLOGIA

No pátio da Escola Municipal de Ensino Fundamental D. Pedro II, realizamos uma prática experimental na disciplina de Ciências com os alunos do 4º ano do ensino fundamental. A turma da 4ª ano tem o número de 4 alunos e uma professora formada em Estudos Sociais e Pedagogia sendo que esta possui ainda pós-graduação em Interdisciplinariedade. Por ter poucos alunos, a turma tem ensino multiseriado tendo no mesmo ambiente os alunos do 2º ano e estes alunos estão aproveitando todas as atividades do 4ºano, mas a professora não cobra as atividades no mesmo nível. Nesta prática utilizamos os seguintes recursos materiais: potes de vidro, panos de algodão umedecido em água, animais diversos e palito de churrasco. Os animais foram coletados perto da escola pelos alunos e colocados separadamente dentro dos potes de vidro com tampas. Em cada pote colocamos um pano umedecido com água para o animal não desidratar e morrer, salientando valores como, por exemplo: o respeito pela vida (ver figura 2). Posteriormente, já em sala de aula, através da intermediação da professora e bolsista, os alunos observaram, discutiram, interagiram, trocaram ideias, analisaram curiosamente e fizeram comparações entre todos os animais coletados. A curiosidade foi despertada para a forma do corpo, hábitos, número de patas ou membros, tamanho, alimentação, cor, entre outras. Observamos e comentamos as principais características dos animais. Aconteceram vários questionamentos à professora. Os alunos estavam impressionados e motivados com o aprendizado. Relataram e desenharam tudo o que aprenderam sobre os animais pesquisados. Concluídos os relatos, os animais coletados foram devolvidos à natureza. A partir desta prática, fazendo uma abordagem diferenciada na aula convencional, os alunos puderam comparar, diferenciar, identificar, aprender a respeitar os animais e refletir sobre a importância deles na natureza. A aula foi dinâmica, pois os alunos, trocaram ideias, fizeram questionamentos e refletiram sobre a importância de conhecer e registrar várias espécies de seres vivos.


REFLETINDO A PARTIR DA PRÁTICA

Alguns educadores costumam afirmar que não existe uma fórmula ou receita para se executarem boas ações de aprendizagem. Estão certos. Não existe uma receita, existem várias. Cabe ao educador analisar cada uma, observando seus pontos positivos, sua dinâmica e seus objetivos. Criar suas próprias receitas, rever outras, adicionando ao processo o fator pesquisa de suas receitas, ou seja de suas práticas pedagógicas. Atualmente vivemos na sociedade da comunicação. Com todos os recursos e mídias que dispomos, não podemos ter uma visão extremamente simplista acreditando que “nada que os outros fizeram dará certo em minha comunidade, pois somos diferentes”. Ao desconsiderar outros projetos, perdem-se importantes informações sobre ações que antecederam ao que você pretende realizar. A atividade, aqui mencionada foi realizada dentro de um contexto sócio-cultural, portanto uma ação realizada com sucesso em determinada localidade, pode não apresentar o mesmo resultado se aplicado em outro contexto, mesmo que se proceda da mesma forma. Assinalamos ser de grande importância, ao educador que se propõe a aplicar uma ação, entrar em contato com a proposta para verificar os preparativos, as dificuldades, as parcerias a serem realizadas e as implicações no processo de aprendizagem. Muitas pessoas ainda pensam que apenas o ser humano é importante, podendo todas as outras formas de vida do planeta serem sacrificadas em seu benefício. Olhe em sua volta. Quantos quilômetros você teria de andar para não enxergar no horizonte uma pessoa ou uma casa? Desta forma, o professor é capaz de introduzir uma atividade de coleta de animais, por exemplo, e a partir desta coletar os elementos necessários para abordar os conceitos científicos relacionados ao experimento. No decorrer da experimentação os alunos foram instigados a compreender o que estava acontecendo, desta maneira eles puderam observar cada animal em seu habitat e como cada um deles se comportava ao deixá-lo. Pediu-se que relatassem o que viram e que ao escrever informassem o máximo de características possíveis de cada espécime (figura 5). Nos relatórios escritos, ao relatrem as características de cada animal, muitas verdades se comprovaram e muitos equívocos anteriomente tidos como verdades foram refutados, pelas crianças. A dificuldade crescente na escrita não se fez presente apenas pelos alunos, mas


também pelos professores, pois escrever algo diferente exigiu muita compreensão dos processos pedagógicos e dos conceitos biológicos envolvidos. Sendo assim, as possibilidades eram muitas e o uso do livro didático foi deixado de lado, pelo menos por hora, os conceitos científicos foram sendo criados coletivamente pela classe e sendo ressignificados pelos alunos. A maneira em que foi conduzida a experimentação também ensinou muito sobre a preservação da natureza e a importância que esta tem em nossas vidas, especialmente na ação proposta aos alunos para que coletassem os animais na natureza e mais tarde os devolvessem à ela (ver figura 1, 3 e 4). A maneira como transcorre o experimento deve ser levada em conta ao desenvolver-se o relatório sobre este, onde ocorre uma das grandes dificuldades dos alunos e até mesmo dos professores, pois, ao relaterem as suas atividades encontram grandes obstáculos no desenvolvimento dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Segundo, o relato abaixo descrito, há contradições na escrita do aluno, assim como erros conceituais, tais como: “… não é dividida em pedaços.” Assim como: “tem quatro pernas”, por outro lado, demonstram o esforço em reproduzir o que aprenderam talvez como um processo de imitação, o que indicia uma raiz de conceitualização (VIGOTSKI, 2001; 2002). No diálogo e nas correções da professora e bolsista foi possível apresentar os conceitos de modo a clarificar as defasagens conceituais.

Descrição da prática Ciências Após a saída ao pátio e a coleta de animais coletei uma barata do mato. Ele é preta, tem quatro pernas e só fica debaixo do pano. Ela tem tamanho médio, é muito achatada, é bem redondinha, não é dividida em pedaços.É bem fácil saber onde esta a cabeça. A barata tem quatro patas, possui antenas, não tem asas e tem olhos pretos. Ela tem a casca dura. Sua cor é bem pretinha e não tem cheiro. A barata não fez cocô ainda e ela prefere lugares escuros para se esconder e ficar descansando tranquilamente. Gostei de conhecer de perto este bicho (Aluna: C.T.K.J, 2011).

Por vezes a tradução dos conceitos observados(prática) para a escrita(teoria) não ocorre da maneira esperada ou satisfatória. Nesse sentido o professo precisa estar atendo a desafiar seus alunos na produção e significação conceitual de modo a produzir conceitos científicos sobre a temática envolvida. Desta maneira, acreditamos que a prática aliada a conteúdos deve estar sempre presente nas aulas de Ciências, pois, podem trazer grandes benefícios aos alunos que por sua vez, passam a serem instigados a busca e a construção de seu conhecimento e acabam aprendendo mais sobre o assunto.


CONCLUSÃO Dentro de uma concepção construtivista, é função essencial do professor a promoção de atividades que levem o aluno a questionar, refletir e agir. O depoimento sobre a prática, em anexo, do aluno ao relatar a atividade também se refere a esse ponto, pois considera as atividades experimentais como oportunidades para pensar, para refletir e dar significado ao que se está aprendendo. Essas relações podem ser concretizadas quando a experimentação é realizada em ambientes que favoreçam os trabalhos de grupo e em ambientes distintos da sala de aula. O aprendizado possibilitado pela experimentação é muito valioso aos alunos e aos professores e licenciandos em formação, especialmente porque interagem num programa como o PIBIDCiências que está qualificando os processos formativos através da investigação sobre a ação, pela via reflexiva REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. p. 67. GALIAZZI, M.C. MORAES, R. Educar pela pesquisa: espaço de transformação e avanço na formação inicial de professores de Ciências. In: Ciência & Educação, Porto Alegre. v. 8, n. 2, p. 237-252, 2002. VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p.496. ______. A formação social da mente. Tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. ANEXOS

Fonte: Ribas, 2011. Figura 1: Alunos coletando animais

Fonte: Ribas, 2011. Figura 2: Animal coletado por aluno


Fotos:

Fonte: Ribas, 2011. Figura 3: Alunos coletando animais

Fonte: Ribas, 2011. Figura 5: Alunos escrevendo relat贸rio

Fonte: Ribas, 2011. Figura 4: Alunos coletando animais


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