Desafios para o transito do amanha

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CADERNO ESPECIAL

EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS

DOMINGO

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 1º de maio de 2011

Desafios para o trânsito do amanhã “Em 1990, Pernambuco tinha uma frota de 390 mil veículos. Em 2002, alcançou a marca de um milhão de carros. E comemorou. Em menos de 10 anos quase duplicamos essa frota e agora corremos o risco de sofrer”. O depoimento do presidente do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, Laédson Bezerra, promovido pelos Diários Associados em Pernambuco, é um retrato dos desafios que todos nós temos pela frente. O que fazer diante de um cenário de catástrofe iminente? O fórum terá 10 edições até o fim do ano. Na sua primeira edição, na última quarta-feira, teve como tema as rodovias federais. Neste caderno especial, aprofundamos as questões levantadas durante o encontro. Ao final das edições, as propostas apresentadas vão ser reunidas em um documento para ser entregue às autoridades. A ideia é que cada um possa contribuir com propostas para a melhoria do trânsito. As grandes intervenções viárias, que estão em curso, dentro da infraestrutura para a Copa de 2014, são importantes, mas é preciso também desenvolver em cada um a atitude cidadã e a cultura do bem. Evitar fechar os cruzamentos, não estacionar em locais impróprios, obedecer à sinalização, descobrir as vantagens de ser educado também no trânsito. Então, sejam bem-vindos!

EXPEDIENTE:

Diretora de redação: Vera Ogando.Textos: Daniel Alves e Tânia Passos Edição: Jaqueline Andrade Edição de fotografia: Heitor Cunha. Design: Jaíne Cintra e Kelen Linck


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 1º de maio de 2011 DIARIOd

CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

O excesso de peso dos caminhões é apontado como um dos vilões para a degradação da BR-101 Sul. Na foto abaixo, posto de pesagem abandonado em Moreno, na RMR

Privatizar é a saída para as BRs? JULIO JACOBINA/DP/D.A PRESS

EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS

Especialistas debateram sobre os problemas das rodovias

Tema polêmico foi discutido na primeira edição do fórum sobre trânsito dos Diários Associados em PE

J

á não nos contentamos com um pavimento de qualquer jeito. É preciso que as vias funcionem como um tapete: boa pavimentação, sinalização e segurança para trafegar. É pedir muito? Até bem pouco tempo conviver com as rodovias em péssimas condições parecia fazer parte da “normalidade”, mas já não é mais assim. Hoje, percebe-se que pagamos um preço alto por serviços ruins e ninguém gosta disso. Não por acaso, a privatização das rodovias voltou ao centro das discussões. O assunto foi um dos temas levantados no Fórum Desafios Desafios do Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados em Pernambuco, que trouxe em sua primeira edição as

rodovias federais. Mas, afinal, privatizar as estradas é a solução? O tema polêmico trouxe à tona a situação atual da BR-232. E a pergunta que se faz é se ela tivesse sido privatizada após a sua duplicação em 2002, estaria nas condições em que se encontra hoje? Menos de 10 anos depois da sua duplicação, a BR-232 apresenta problemas de drenagem, buracos em vários trechos, placas trincadas, acostamentos ruins e sinalização deficiente. Pelo menos 18 pontos críticos foram identificados pelo Departamento Estadual de Estradas e Rodagens (DER). Para o engenheiro e professor das universidades Federal e Católica de Pernambuco, Maurício Pina, um dos palestrantes do fórum, essa é uma decisão que a sociedade terá que tomar. “Ninguém gosta de pagar a mais por um serviço que é obrigação do estado. Mas quem paga mais usa mais. A Ponte Rio/Niterói é privatizada e nós não pagamos na-

da. Se ela não fosse privatizada também pagaríamos pela manutenção dela”, afirmou. Na opinião de Maurício Pina, o estado tem pelo menos duas rodovias federais em condições de serem privatizadas: as BRs 232 e 101. “A demanda das duas vias justificaria tificaria uma privatização uma vez que são rodovias que recebem um volume de tráfego muito grande e a maioria de cargas pesadas vindas de outros estados que danificam o pavimento”, explicou o professor. Para se ter uma ideia desse im-

pacto, o professor explica que todas as equações feitas por instituições internacionais sobre o efeito da carga no pavimento estima que para cada 10% do excesso de peso, aumenta o efeito elevado à quarta potência. “É um impacto de 46% a mais do suportável em cima do pavimento. Então, uma rodovia que duraria 10 anos, só dura metade”, explicou. No caso das estradas federais que cortam o estado a fiscalização fiscalização do excesso de carga praticamente não existe. Na Região Metropolitana, as três balanças instaladas

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

Pedágio na Ponte do Paiva A única via privatizada no estado é a do sistema viário do Paiva. O sistema tem início a partir da ponte que atravessa o Rio Jaboatão com 320 metros de extensão. A via litorânea tem 6,2 quilômetros de extensão e é composta de canteiro central, ciclovia, passeio, iluminação com cabeamento subterrâneo, passarela para pedestres, ciclovia e mirantes. Conta ainda com duas praças de pedágio posicionadas nos extremos do sistema viário, sendo uma em Itapuama, no município do Cabo de Santo Agostinho, e outra em Barra de Jan-

gada, no município de Jaboatão dos Guararapes. Os motoristas de veículos passeio pagam R$ 3,70 nos dias úteis e R$ 5,50 nos fins de semana e feriados. Outros veículos com até 5 toneladas terão tarifa específica. O sistema começou a funcionar no dia 11 de junho de 2010, já com a cobrança do pedágio. Segundo os estudos de flux f luxo de tráfego, a estimativa para o primeiro ano de funcionamento era de cerca de 1.800 veículos por dia. Hoje o fflux luxo é de mais de 3 mil veículos/dia. “Esse resultado só confirma a importância desse

na década de 1970 em Igarassu, Moreno e Ribeirão não funcionam há mais de 20 anos. No posto da balança de Moreno, as instalações foram ocupadas por famílias de sem-teto. De acordo com o superintendente de operações do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), Emerson Valgueiro, após as obras de requalificação das BRs 232 e 101, os postos serão reativados. “Temos seis unidades móveis de balança e duas fixas no interior. Vamos reativar os equipamentos na RMR”, disse.

Único exemplo de via privatizada no estado, fluxo de veículos já superou as previsões novo sistema viário para o desenvolvimento da região”, ressaltou Ivan Moraes, gerente de operações da Rota dos Coqueiros. Em 2004, a Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco chegou a elaborar um estudo de via-

bilidade de privatização da BR232. De acordo com o engenheiro Maurício Pina, que participou do estudo, o valor da tarifa do pedágio estimada na época era de R$ 1,50. “Acho que o valor não seria muito diferente. A

tarifa da Ponte do Paiva é mais alta porque eles executaram a obra e estão retirando do pedágio os recursos para cobrir as despesas. Na BR-232, o pedágio seria apenas para a manutenção”, explicou.

! depoimentos

Os exemplos de melhoria que temos pelo Brasil apontam para a conveniência desse mecanismo. As 10 melhores rodovias federais do país têm o pedágio. Além disso, paga-se por algo que está se usando. Diferente de quando pagamos através dos impostos, que temos descontos sem mesmo usar” ● César Cavalcanti - chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (UFPE)

No momento em que se privatiza e se angaria recursos para manter a rodovia em bom estado, acho uma coisa boa. Porém, antes de fazer isso, precisamos de mais estudos para não cometermos equívocos” ● Simírames Queiroz presidente do Conselho Estadual de Trânsito


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entrevista >> Maurício Pina

“Devemos discutir sobre a privatização da 232”

JULIO JACOBINA /DP/ D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Mestre em engenharia civil com especialização na área de transporte, o professor da UFPE e da Unicap Maurício Pina foi um dos palestrantes da 1ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã. Pina dedica-se aos estudos do setor há mais de 36 anos. Depois de tanto tempo acompanhando o assunto na academia e na prática, o doutorando em engenharia civil é um dos poucos nomes no Recife indicado para falar sobre um dos maiores problemas das cidades brasileiras: o trânsito. Em entrevista ao Diario, ele deu sua opinião sobre questões polêmicas como privatização das estradas, o crescimentos anual dos acidentes e Copa do Mundo.

Seria viável a privatização de estradas como a BR-232, por exemplo? Sim. Os investimentos para manter essa rodovia são elevados. Atualmente, as demandas sociais estão muito grandes. Educação, saúde e segurança cada vez mais consomem volumes maiores de recursos. As pessoas tendem a reclamar que seria mais uma coisa para se pagar, mas é justo. Só paga quem usa, quem não usa não paga. Está na hora de abrirmos essa discussão sobre a BR232. Há 9 anos ela foi duplicada e consome cada vez mais recursos e precisamos de uma definição da fonte para isso. O excesso de peso dos caminhões é um dos principais destruidores das rodovias. As regras de pesagem estipuladas para esses veículos são cumpridas? O que se fiscaliza aqui nas rodovias federais em Pernambuco é quase nada. Tínhamos três pos-

tos: um em Igarassu, que nunca funcionou; outro em Moreno e mais um em Ribeirão, todos inativos. Esses dois últimos foram desativados em 1998 porque houve uma greve de caminhoneiros na época e o sindicato deles colocou como exigência ao governo o fechamento desses postos de pesagem. Desde então, não há fiscalização. Com isso, um pavimento que era para durar dez anos, com cinco se acaba. As estradas mal conservadas contribuem para acidentes? Em 2005, tivemos 3.969 acidentes. Em 2010, foram mais de 6.700. Algo em torno de 90% de crescimento em cinco anos. Temos que levar em consideração três elementos que provocam o acidente: o homem, a via e o veículo. Boa parte é causada pelo ser humano, por imprudência, álcool com direção. No entanto, nas estatísticas nunca aparecem as vias como provocadoras de

acidentes. Ninguém diz que a rodovia estava em péssimo estado e que o motorista precisou desviar de um buraco e tal fato causou o acidente. O que o senhor acha dos investimentos na infraestrutura viária para a Copa do Mundo? Discordo muito quando as pessoas dizem que temos que melhorar o trânsito por causa da Copa. Sou radicalmente contra essa afirmativa. Sabe por quê? Estamos em uma situação de total caos no trânsito da cidade. Não podemos dizer que vamos melhorar em razão da Copa. Devemos melhorar porque precisamos. Claro que eu entendo que o evento é uma oportunidade de captar recursos para isso. Afinal, serão investimentos de grande porte. Barcelona é um grande exemplo pois, na Olimpíada de 1992, mudou a estrutura e se transformou em uma nova cidade. Os equipamentos ficaram.

Discordo quando falam que temos que melhorar o trânsito por causa da Copa. Devemos melhorar porque está um caos” Maurício Pina, professor e especialista em trânsito


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RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS

Rodovia do Jeans duplicada o município de Caruaru aos estados da Paraíba e Alagoas. Um dos palestrantes do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, o engenheiro e superintendente de Operações do Departamento Naprincipal via de acesso cional de Infraestrutura de Transaos polos têxteis do porte (Dnit), Emerson Valgueiro, Agreste do estado, a BR- informou que 58% das obras estão 104, também conhecida como Ro- concluídas. “Estamos adiantados. dovia das “Confecções” ou do A nossa previsão é entregar tudo “Jeans”, já teve a primeira etapa até o fim do ano”, informou. Essa BR representa para os mudas obras de duplicação finalizanicípios da região uma das mais da há duas semanas. Foram entregues pelo governo do estado importantes vias de escoamento 21,4 quilômetros, do total de 51,7 dos seus produtos, o que deverá, quilômetros. A BR corta os muni- com o fim das obras, beneficiar aproximadacípios de Caruaru, Santa Cruz Hoje, via tem fluxo mente um milhão de pesdo Capibaribe e soas. A via tamdiário de 15 mil Toritama. O resbém exerce tante da obra, veículos. Meta é um papel funiniciada em judamental no nho de 2009, chegar a 25 mil aumento do deverá ser finaturismo e do lizado até o fim deste ano. Atualmente, essa rodo- intercâmbio comercial e cultural via recebe cerca de 15 mil veícu- entre as cidades vizinhas. O trecho da obra já concluído los diariamente. Em um dia de vai da saída de Caruaru até o ensulanca, o flux fluxo chega a 25 mil veículos. Duplicada, a pista suporta- troncamento da PE-145, no acesrá 49 mil veículos/dia. A obra es- so a Fazenda Nova. O restante do tá orçada em R$ 319 milhões. Mes- trajeto até o distrito de Pão de mo sendo uma via de escoamen- Açúcar, em Taquaritinga do Norto no Agreste, não levantou ne- te, segue em andamento. Dois vianhum tipo de discussão sobre pri- dutos também já foram entregues. “A duplicação dará outra vivatização. A rodovia faz a interligação dos da ao tráfego dessa importante polos comerciais do Agreste, sen- rodovia. Os viadutos também evido importante por cortar o esta- tarão os semáforos”, afirmou a Éryka yka Luna. do no sentido Norte/Sul, ligando presidente do DER-PE, Ér

Primeira etapa da obra foi entregue há duas semanas. Até o final do ano, será concluída

A

No alto, duplicação do viaduto em Caruaru. Acima, na 408, facilidade para a Copa

+ saibamais BR-104 Total de quilômetros duplicados

Após duplicação

Investimento

Trecho e obras prontas

Média de carros/dia

49 mil veículos/ dia

R$ 120 milhões

51,7

21,4 km

15 mil

Após duplicação

Investimento

Início da obra Junho de 2009

(58% concluído)

R$ 319 milhões Atualmente: Média de carros/dia

20 mil

Previsão de finalização Final de 2011

BR-408 Quilômetros duplicados

19,7 km (27% concluídos)

30 mil

Início da obra Outubro 2009 Previsão de finalização Maio de 2012 Fonte: DER-PE

Acesso à Cidade da Copa O futuro da realização da Copa do Mundo em Pernambuco passa pelas obras de duplicação da BR-408. Parece exagero, mas não é. A pista é o principal acesso à Cidade da Copa. Afinal, ela é ligada ao principal corredor viário do estado, interagindo com a BR232, o Terminal Integrado de Passageiros (TIP) e com o sistema metroviário metropolitano, além de permitir a conexão com a BR-101, no Recife. Apesar de ter começado a obra de duplicação no mesmo período da BR-104, em outubro de 2009, a BR-408 só concluiu aproximadamente 27% das suas obras. Durante o Fórum no Diario de Pernambuco foi discutida a necessidade de mais rapidez na duplicação dessa rodovia. A BR-408 é uma das quatro rodovias federais que estão tendo as obras executadas pelo estado, mas parte dos recursos é da União. O engenheiro e superintendente de Operações do Dnit, Emerson Valgueiro, que acompanha os trabalhos, informou que a previsão de conclusão da BR-408 é para maio de 2012, mas revelou que os trabalhos precisarão ser agilizados. “Devemos dar maior andamento. Essa via é importantíssima não só para a Copa de 2014, mas também para a mobilidade do nosso trânsito”, disse Valgueiro. A duplicação da rodovia vai beneficiar os municípios de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Nazaré da Mata (RMR) e Carpina, na Zona da Mata Norte.


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RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Orçada em R$ 450 milhões, requalificação da BR-101 inclui via para coletivos no trecho urbano

A

obra de requalificação da 4ª perimetral, no trecho urbano da BR-101, também chamado de contorno do Recife, está orçada em R$ 450 milhões. O trecho de 42km vai receber um corredor exclusivo de ônibus nos padrões do BRT (Transporte Rápido por Ônibus). O corredor de ônibus sairá do quilômetro 41, em Igarassu, e se estenderá até o km 83, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes. De acordo com a Secretaria de Transportes do estado, a licitação do projeto executivo será aberta no dia 10 de maio e a expectativa é que até setembro seja dado início à licitação da obra, a partir do projeto básico. A meta é deixar pronta a 4ª perimetral até 2013. Com um tráfego de 35 mil a 55 mil veículos, o trecho do contorno do Recife é um dos mais problemáticos. Além do tráfego intenso, a via se encontra em péssimo estado de conservação. Em vários trechos o pavimento apresenta fissuras e trincas. A manutenção ocasional da operação tapa-buraco é um paliativo que só piora quando os buracos voltam a abrir. A sinalização é precária e o canteiro central é muitas vezes usado como ponto de retorno irregular. Pelo projeto da Secretaria de Transportes de Pernambuco, a rodovia terá o pavimento requalificado ao longo do contorno em cerca de 40 km. O canteiro central será usado para implantação das estações de embarque no padrão do BRT: pagamento antecipado e embarque no nível da porta de entrada, a exemplo do metrô. No percurso será implantado ainda um elevado nas proximidades da reitoria da UFPE até a BR -232. Com a implantação de uma faixa exclusiva para ônibus, a via será alargada. Além da faixa do ônibus haverá outras três faixas para os veículos. O projeto também prevê dois viadutos: um sobre o viaduto da Caxangá e outro próximo ao Posto da Polícia Rodoviária Federal nas imediações do Colégio Militar.

Um corredor para ônibus GOVERDO DO ESTADO DE PE/DIVULGAÇÃO

BR 101 (4ª perimetral )

R$ 450

milhões é o custo estimado para a obra

2 viadutos

serão construídos para implantação do corredor BRT

1 elevado

será implantado entre a reitoria da UFPE e a BR 232

42 km

será o trecho do corredor do BRT de Igarassu a Jaboatão dos Guararapes

Corredor que deixará o trânsito fluir sairá de Igarassu e seguirá até Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes

também havia apontado problemas estruturais na via. De acordo com o superintende de operações do Dnit, Emerson Valgueiro, por causa disso o órgão não of oficializou icializou o recebimento da rodovia federal que havia sido entregue ao estado para as obras de duplicação. “Nós pedimos para que fossem

feitos os reparos, mas isso nunca ocorreu e os problemas se agravaram”, afirmou Emerson Valgueiro. As obras de recuperação da BR 232 estão dentro do cronograma da Secretaria de Transportes de Pernambuco. De acordo com a presidente do Departamento Estadual de Estradas e Rodagens

(DER), Éryka Luna, foram identificados ficados 18 pontos críticos da rodovia. Segundo ela, o maior problema é de drenagem. “Estamos fazendo obras emergenciais de manutenção, mas o problema maior de drenagem só será resolvido com a recuperação da via que vai ser licitada neste mês”, apontou.

BR 232

2002

Os problemas estruturais da 232 O custo da obra de recuperação da BR-232 está estimado em R$ 100 milhões. A rodovia apresenta problemas estruturais, que já haviam sido identificados em 2004 em um relatório feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit). Outro relatório feito por técnicos da USP,

+ saibamais

Conclusão da duplicação

As obras de recuperação serão realizadas da saída do Recife até Caruaru (um trecho de 130 km). A estimativa é que a obra, prevista para ser iniciada em 2012 seja realizada até 24 meses. “Depois da recuperação, o estado vai tentar receber os recursos que foram investidos”, afirmou Éryka Luna.

R$ 500 mi

custo de execução da obra

R$ 100 mi custo da requalificação

2012

Previsão do início das obras de restauração


CADERNO ESPECIAL

SILVINO/DP

DOMINGO

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 22 de maio de 2011

Integração é senha para a mobilidade

Nenhum tipo de mobilidade é capaz de funcionar de forma isolada. São rodovias que se integram ao cotidiano das cidades. São cidades que também dependem de sua própria capacidade de se integrar, movimentar ou parar. Não são apenas os transportes de massa que são essenciais. Todas as formas de mobilidade são bem-vindas. A rodovia que divide espaço com o ciclista de forma segura. O ciclista que sabe o seu lugar e o pedestre, até então sem vez, sem passeios, que descobre que tem direito ao seu espaço. O trânsito que teremos amanhã depende de cada um de nós, mas também das políticas públicas. Na segunda edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados, mostramos que a mudança do olhar redesenha um novo mapa viário para o estado e recria possibilidades. Descobrimos também que a iniciativa privada tem um papel fundamental no desenvolvimento por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e, sobretudo, que a Copa do Mundo não se resumirá a três jogos, mas deixará para nós um dos maiores legados na infraestrutura viária. Nunca se investiu tanto na mobilidade de uma única vez. Lições que caminham juntas: investimentos, políticas públicas e cidadania. Já não era sem tempo.

EXPEDIENTE :

Diretora de redação: Vera Ogando.Textos: Daniel Leal e Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha. Design: Moacyr Campelo


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 22 de maio de 2011 DIARIOd

desafios para o trânsito do amanhã 101

BR

316

BR

OURICURI

PE-- 320 PE 320

408

3

CAR ARU UAR ARU U ARC AR COVERDE

GARANHUNS

BR

PETROLINA PETR OLINA

423

polígonos viários

2

Agreste/S Agr Sertão Formado pelas PEs 265,280, 292, 320 e 360,

3

Sertão/S Sertão Formado pelas PE- 390, BR -116, PE- 604, PE-

possibilita a integração dos polos entre

555 e BR- 428, faz a integração dos polos entre

tráfego para desafogar a BR- 232.

Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Serra

os sertões do Pajeú, Araripe e São Francisco.

Integra os polos de engenhos,

Talhada e Floresta. Integra os polos da

Integra os polos da caprinovinocultura,

confecções e turismo no litoral Sul

caprinovinocultura, turismo e bacia leiteira

gesseiro, fruticultura e roteiro do vinho

BRs 101, 232 e 423, cria alternativas de

PALMARE ALMARESS

PE-- 177 PE 177

BR

Formado pelas PEs 126,177 e as

1

VITÓRIA DE SANT ANTO O ANTÃO

PE-- 126 PE

PE-- 555 PE

Zona da Mata/Agr Agreste

polos econômicos

A expansão dos polos industriais aumentará a circulação e a gente precisa se antecipar” Isaltino Nascimento, secretário de Transportes de Pernambuco

U

m olhar ao contrário. De Leste a Oeste, do Sul ao Norte. A nova estratégia para o desenvolvimento das rodovias estaduais obedece a lógica não apenas de reduzir distâncias e tirar do isolamento comunidades quase esquecidas. Isso também, mas principalmente fazer a interligação dos polos produtivos nos quatro cantos do estado. O desafio tem pela frente um universo de 142 estradas estaduais, hoje precárias. A meta é transformar essas vias, mal pavimentadas, em verdadeiros eixos de integração em três anos. E, nessa perspectiva, a espinha dorsal é a BR-232, que atravessa praticamente todo o estado. No tema rodovias estaduais, da 2ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados, a Secretaria de Transportes apresentou o redesenho de traçados já existentes e de outros que ainda não existem, tendo como foco o prolongamento do olhar, do litoral para o interior.

E há uma razão para isso. Não é preciso ir muito longe para perceber que o litoral é onde se concentra a maior malha viária do estado e mesmo assim em colapso. Com o processo de duplicação de vias estruturadoras, a exemplo das BRs 101, 104, 408 e 423 e a promessa de mais um trecho da 232, de São Caetano a Cruzeiro do Nordeste, o passo agora é melhorar as condições de rodovias estaduais também estratégicas na interligação dos polos produtivos. Entre elas PEs 90, 120, 126, 127, 177, 275, 292, 360, 390 e 320. A reestruturação das rodovias tem como propósito criar pelo menos três polígonos viários nas zonas da Mata, Agreste e Sertão. Os polígonos viários irão funcionar não apenas como rotas de desenvolvimento, mas também como alternativas de corredores para desafogar a BR-232. A Agência Condepe/Fidem já faz projeções de estrangulamento dessa rodovia em até cinco anos em função da demanda dos polos de

Ter erciário ciário moderno moderno e art artesanat sanato o

C aprinoo aprinoovinocultur vinoculturaa e turismo

Madeiraa e móveis Madeir móveis

Fruticultur ruticulturaa irrigada irrigada e turismo

Tecnologia da informação inf

Leite e derivados, e turismo

Turismo

TERESA MAIA/DP/D.A. PRESS

O secretário de Transportes, Isaltino Nascimento, apresentou plano para as rodovias desenvolvimento. “A expansão dos polos industriais no interior do estado aumentará a circulação de cargas e a pressão sobre a BR-232. Basta olhar o que está acontecendo em Suape, Caruaru e Salgueiro. É uma questão de tempo e a gente precisa se antecipar”, afirmou o presidente da Agência Condepe/Fidem, Antônio Alexandre. Segundo ele, os estudos sobre os impactos na malha viária dos transportes de carga ainda não foram concluídos, mas é preciso planejar alternativas para atender a demanda. “A

ferrovia Transnordestina será estratégica porque ela segue paralela à BR-232, mas além disso, o estado está apostando em um sistema viário de rotas alternativas potencializando as PEs”. Um exemplo do plano B, previsto no cronograma da Secretaria de Transportes, pode ser visto no município de Garanhuns, no Agreste Meridional. Para quem viaja hoje de Garanhuns para o Recife, a lógica é pegar a BR-423 e acessar a BR-232 até chegar à capital. Com a proposta do polígono, depois da requalifica-

Secretário das Cidades, Danilo Cabral, fez palestra no fórum

Logística de Transportes (PNLT), não há ainda um cronograma de implantação. Pelo plano, a estimativa é até 2015. Orçado em cerca de R$ 1,3 bilhão, não há ainda projeto e tampouco a definição dos recursos. “Essa via é importante porque ela irá tirar todo o tráfego pesado que hoje passa por dentro dos centros urbanos do nosso litoral e vai desafogar também a 101. O arco é uma das prioridades do governo do estado”, afirmou o secretário. Enquanto o arco não vem, o estado dividiu a recuperação da PE- 60 em quatro segmentos: Do quilômetro 0 ao km 10, já é duplicado. Do km 10 ao 13,3, o trecho se encontra em obras de duplicação. É o que contorna a refinaria e serve também de 2º

ção das PEs 177 e 126 será possível chegar ao mesmo destino acessando também a BR-101, sem utilizar a 232. “Para atrair o tráfego nesse sentido precisamos de rodovias em condições perfeitas com boa pavimentação, acostamento e sinalização. Elas não vão ser duplicadas, mas em alguns casos serão alargadas”, detalhou o secretário de Transportes, Isaltino Nascimento. Está prevista ainda a pavimentação também de vias vicinais para interligar comunidades e dos acessos aos estados vizinhos.

FOTOS: ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

PE- 60 ainda é um nó a ser desatado Uma das principais rodovias estaduais no litoral Sul já não comporta mais o tráfego. A proposta de federalização da via ainda não foi aprovada no Congresso Nacional. Principal acesso às praias do litoral Sul e ao Complexo de Suape, mesmo se a duplicação já estivesse concluída já estaria satuf luxo atual de quarada com um flux se 50 mil veículos/dia, sendo mais de 30% de tráfego comercial. De acordo com o secretário de Transportes, Isaltino Nascimento, a principal alternativa para desafogar o tráfego da PE- 60 e da BR101 será a implantação do arco metropolitano. Ele saírá de Suape margeando o litoral até Itamarcá. Tem cerca de 140km e cortará sete municípios. Apesar de fazer parte do Plano Nacional de

Confecção Conf ecção e turismo

Apiculturaa e ges Apicultur gesso

PEs nas rotas da produção Governo aposta em sistema viário alternativo pela rodovias estaduais, que funcionarão como eixos de integração

BR

RECIFE RE CIFE

PE-- 265 PE

2

CARPINA

232

PE-- 360 PE

428

BR

PE-- 280 PE SERRA TALHAD TALHADA A

PE-- 604 PE

104

PE-- 292 PE 292

PE-- 390 PE

SAL ALG GUEIR UEIRO O

BR

AFOGADOS AFOG ADOS DA DA INGAZEIRA ING AZEIRA

116

1

EDITORIA DE ARTE/DP

BR

Uma das principais rodovias do Litoral Sul, a PE-60 já está com o trânsito saturado acesso a Suape. Do km 13,3 até o km 21, o projeto de duplicação foi licitado e está orçado em R$ 59 milhões. Aguarda a audiência pública do Ei-Rima e de alguns ajustes solicitados pela Prefeitura de Ipojuca. Do km 21 ao 86,6 na divisa de Alagoas,

aguarda o termo de referência para elaboração do projeto. “Nós estávamos aguardando a federalização para os recursos serem do governo federal. Mas o projeto ainda não passou. Por enquanto, vamos executar os projetos licitados”, revelou o secretário. O

complexo de Suape está executando uma autoestrada paralela a PE -60, por meio de uma Parceria Pública- Privada (PPP). É uma via de 12 km que já existia e faz parte do sistema viário de Suape, que vai possibilitar o escoamento do Norte e do Sul.


especial 3

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 22 de maio de 2011 DIARIOd

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Não basta tapar os buracos Empreiteiras terão que cumprir parâmetros básicos de qualidade nas rodovias

Serão analisados indicadores como bom acostamento, sinalização e buracos” Carlos Júnior, secretário executivo de Transportes

H

istoricamente, as rodovias pernambucanas são sinônimos de estradas esburacadas e problemáticas. Dos cinco mil quilômetros de estradas estaduais pavimentadas, pelo menos 20% estão em péssimas condições. As chuvas, aliadas a um sistema de drenagem falho e um mau serviço de recapeamento, só ajudam a manter a má fama. Para mudar essa realidade, a Secretaria de Transportes promete inverter a lógica da manutenção das estradas estaduais visando requalificar ualificar as rodovias pavimentadas no estado. O processo é simples: antes, quando o governo contratava uma empresa para restaurar um trecho de uma estrada, a empreiteira só ficava responsável por tapar os buracos. Como muitos desses serviços eram realizados e, pela baixa qualidade, logo apresentavam falhas, o governo resolveu mudar: agora só irá contratar as empresas por pacotes onde estarão incluídos tanto a restauração quanto a manutenção. Ambos agregados em um contrato de três anos, que só será totalmente pago após o fim dos serviços cumpridos e devidamente realizados. Para iniciar o processo de mudança, uma empresa foi contratada este ano para fazer um raio x das 142 rodovias estaduais pavimentadas. Nos próximos 30 dias,

será entregue à Secretária de Transportes a análise de 588 quilômetros, em 18 rodovias. Os demais estudos serão entregues em quatro meses. “Nosso objetivo é universalizar o padrão de atendimento para toda a rede. Além disso, queremos restringir a manutenção dos pavimentos a intervenções emergenciais e improdutivas. Vamos otimizar a aplicação dos recursos disponibilizados”, af afir irmou o secretário da pasta, Isaltino Nascimento. Dos dez mil quilômetros de estradas estaduais, cerca de 50% são pavimentadas. A outra metade é composta por leito natural (de terra batida) ou terraplenagem pronta, que ainda irá ser finalizada. “Apesar desse número de rodovias não pavimentadas, a nossa preocupação atual é recuperar as estradas já construídas”, afirmou o secretário executivo de Transportes, Carlos Júnior. Segundo ele, esse novo modelo proposto tem uma peculiaridade: só concluirá o pagamento à empresa contratada caso os parâmetros básicos de qualidade sejam cumpridos. “Indicadores como bom acostamento, sinalização horizontal, drenagem e ausência de buracos serão devidamente analisados”. Esta metodologia de conservação das estradas já é utilizada em Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul.

+ saibamais Malha viária em Pernambuco

9.978 km

é o total de rodovias estaduais

4.897 km

(50%) estão pavimentadas

1 mil km pavimentados estão em péssimo estado de conservação

5.081 km

estão em leito natural ou em processo de terraplanagem (não pavimentados)

Idade média das rodovias estaduais pavimentadas

31 anos

1,2 mil km

Ex: PE-507 (Salgueiro-Serrita) e PE-090 (Carpina-LimoeiroSurubim)

21 anos

1,8 mil km

Ex: PE-089 (Limoeiro-SirigiTimbaúba) e PE-062 (GoianaCondado-Aliança)

11 anos

1,9 mil km Ex: PE-585 (AraripinaSerrolândia) e PE-300 (Inajá-Manari)

Recuperação das vias é prioridade, mas contratos mudarão

Fonte: Secretaria de Transporte de Pernambuco


4 especial

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ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Empreendimento da Ponte do Paiva é o único exemplo no estado de uma PPP no sistema viário. O fluxo de veículos já superou as expectativas em apenas dois anos

Alternativa viável e lucrativa Especialistas defendem Parceria Público-Privada (PPP) como meio rápido para mudar a péssima realidade das estradas

S

ão aproximadamente dez mil quilômetros de rodovias estaduais. Como o próprio nome sugere, essa malha é dependente das finanças do estado para se manter em boas condições. Todavia, ao longo das estradas que pertencem a Pernambuco, cerca de 50% estão sem pavimentação. Além disso, dos cinco mil quilômetros que estão pavimentados, mais de um mil estão em péssima conservação. Apesar de o governo apostar em uma mudança radical na política de manutenção das estradas, uma tendência, segundo os especialistas, é a Parceria Público-Privada (PPP), que surge como uma saída rápida, de qualidade e, sobretudo, lucrativa tanto para o governo quanto para a empresa que aderir a concessão. Com a necessidade emergencial de não só recuperar as rodovias no estado como também expandi-las em tempo recorde, visando os investimentos para a Copa do Mundo, a maioria dos especialistas aponta a par-

ceria como um meio seguro e viável para o estado mudar a péssima realidade das estradas. “As dez melhores rodovias do Brasil estão em São Paulo e todas são frutos de PPPs. Não vejo como não se pensar nisso. Algumas pessoas podem questionar o fato de ter que passar a pagar pelo serviço. Mas é justo: só paga quem usa. No público, mesmo quem não usa, também paga via impostos”, disse um dos especialistas convidados do Fórum, o chefe do Departamento de Arquitetura

A Ponte do Paiva e a Arena da Copa são modelos positivos de PPPs e Engenharia da UFPE, César Cavalcanti. A Ponte do Paiva, no Litoral Sul, e a iniciativa para a construção da Arena da Copa, em São Lourenço da Mata, são dois bons exemplos de PPPs em Pernambuco. Essas parcerias acontecem quando o setor privado projeta, financia, executa e opera uma determinada obra/serviço. “De todas as PPPs no mundo, apenas 3% não deram certo”, defendeu o palestrante do tema no Fórum, o vice-presidente do Sindicato Nacional de

Arquitetura e Engenharia do estado (Sinaenco-PE), Ilo Leite. O objetivo das parcerias é atingir o melhor atendimento de uma determinada demanda social. Como contraprestação, o setor público paga ou contribui financeiramente, no decorrer do contrato, com os serviços já prestados à população, dentro do melhor padrão de qualidade aferido pelo poder concedente. Como também é consultor do governo do estado sobre PPPs, Ilo Leite admitiu que Pernambuco tem alguns projetos em estudo para possíveis implantações de novas parcerias. “Está em gestação um pensando na área de saneamento, interiorização para 13 localidades do Expresso Cidadão e também está em análise rodovias com a questão da mobilidade urbana. Onde se imaginar área de serviço publico, cabe um estudo sobre uma PPP”. A boa recepção às PPPs, durante o Fórum, foi quase uma unanimidade, mas o tema foi tratado de forma mais cautelosa pelo secretário de Transportes, Isaltino Nascimento. “Sabemos que essas parcerias são uma alternativa, mas, atualmente, para as nossas rodovias, estamos apostando no novo modelo do plano de manutenção. Esta estratégia, inclusive, está sendo apoiada e aprovada pelo Banco Mundial”, explicou o secretário.

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

entrevista >> Ilo Leite

“No mundo, apenas 3% das parcerias deram errado” Um dos maiores especialistas em PPPs do Brasil, o engenheiro Ilo Leite foi um dos palestrantes da segunda edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã. Com experiência internacional em consultoria a várias empresas europeias, é o atual vice-presidente do Sinaenco-PE e foi contratado como consultor de PPPs pelo governo de Pernambuco. Segundo ele,“em qualquer área pública, você sempre vai encontrar alguma possibilidade de fazer uma PPP”.

Ilo Leite, especialista em PPP fez palestra no fórum

Se não fosse a PPP, o estado não teria condições de tocar o projeto da Arena da Copa em tempo hábil”

Ilo Leite, vice-presidente do Sinaenco - PE e especialista em PPP

As PPPs podem ser a solução para a melhoria das estradas no estado? Essas parcerias são grande soluções para onde o governo precisar multiplicar seus recursos. O estado tem muitas responsabilidades: saúde, educação, segurança. E tudo isso necessita prioritariamente de investimentos e muitos recursos. O cobertor é curto: ou cobre a cabeça e deixa os pés do lado de fora ou o contrário. Como funciona essa parceria? Normalmente, fazemos aqui no estado uma Participação de Manifestação de Interesse (PMI). Uma empresa se apresenta para o estado e solicita uma autorização de estudo, que o governo pode permitir ou não. Se aprovado, o projeto entra em licitação como PPP. Nesse caso, analisamos sustentabilidade, acompanhamos a modelagem da parceria, vendo se está tudo dentro da lei, se há equilíbrio econômico-financeiro. A parceria pode

ter no mínimo 5 e no máximo 35 anos. Se não fosse a PPP, teríamos condições de realizar o projeto da Copa no estado? Não. Os prazos eram muito curtos, os recursos (em torno de R$ 500 milhões) elevados e os níveis de exigência da Fifa altíssimos. Foi uma via necessária utilizada pelo estado e, se não fosse assim, certamente não teríamos condições de tocar o projeto. Pernambuco possui projetos de PPPs em curso? Está em gestação pensamentos na área de saneamento, interiorização para 13 localidades do Expresso Cidadão, e também estão em análise rodovias com a questão da mobilidade urbana. Especialmente para as estradas, essa parceria pode aparecer como uma solução viável. Afinal, a burocracia para licitar uma obra de recapeamento, por exemplo, pode demorar meses.


especial 5

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FOTOS: MARCELO SOARES/ESP DP/D. A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã Estado promete dobrar número de ciclovias nos corredores metropolitanos

O

caminho da melhoria na mobilidade não passa apenas pela requalificação das rodovias e vias urbanas. A integração de diversos modelos de mobilidade são essenciais dentro da estrutura de deslocamentos. Entre eles, a bicicleta. Isso mesmo. Muitos trabalhadores usam a bicicleta como meio de transporte, mas esbarram na falta de condições ou ausência de ciclovias ou ciclofaixas. A PE-15, uma rodovia estadual que interliga os municípios de Igarassu, Paulista, Olinda e Recife tem apenas 11 quilômetros de ciclovia e mesmo assim em situação precária. Falta sinalização e o espaço destinado às bicicletas, em alguns trechos, é ocupado pelo comércio informal. Em outros, a pista é usada para depósito de lixo e de entulhos. Apesar das condições precárias, a ciclovia da PE-15 ainda é utilizada. No Fórum Desafios Desafios para o Trânsito do Amanhã, o secretário das Cidades, Danilo Cabral, anunciou que o estado vai ampliar a quilometragem das ciclovias da RMR de 73,4 km para 143,4 km. A proposta é integrar as faixas nos quatro corredores de tráfego previstos no PAC da mobilidade: os eixos Norte/Sul, Leste/Oeste, Avenida Norte e ainda a quarta perimetral na BR-101, que corresponde ao contorno Recife. “A gente espera dobrar o número de ciclovias nesses corredores metropolitanos”, afirmou o secretário. Segundo ele, os

Na PE-15, os 11 quilômetros de ciclovia estão em péssimo estado de conservação. Lixo, entulho e até comércio tomam conta da faixa

Ciclistas sem mobilidade 11km da PE-15 vão ser requalificados. “O espaço da ciclovia na PE15 já existe, mas vem sendo mau utilizado, inclusive com a presença de comerciantes na faixa”, apontou o secretário. Dos municípios que dispõem de ciclovia, a capital pernambucana tem a maior malha cicloviária. Ainda assim, os 27 km são em faixas descontínuas, o que não permite uma interligação para o

usuário. Segundo o plano municipal de mobilidade do Recife, apresentado em fevereiro deste ano, o município estima aumentar o sistema cicloviário para 424 km, mas o plano não define em quanto tempo. Já o município de Jaboatão dos Guararapes é o que tem a menor média cicloviária da RMR, com apenas 900 metros de ciclovia na orla de Piedade. Para incentivar ainda mais o

uso das bicicletas como um tipo de modal de integração, o secretário das Cidades anunciou também que os terminais do Sistema Estrutural Integrado (SEI) vão receber bicicletários. “A pessoa vai poder chegar de bicicleta no terminal, deixar o equipamento, pegar o ônibus ou metrô e quando voltar pegar a bicicleta e fazer o caminho de volta”, afirmou Danilo Cabral. O sisteSETRANS/DIVULGACAO

+ saibamais Corredores para intervenção na mobilidade

Leste/Oeste

Extensão: 12,8 km Fluxo de pessoas: 180 mil/dia Custo Estimado: R$ 183,6 milhões

Norte/Sul

Extensão: 30,5 km Fluxo de pessoas: 182 mil/dia Custo Estimado: não divulgado

Acesso à Cidade da Copa, PE05 e TI Cosme e Damião

Extensão: 8,5 km Fluxo de pessoas: não divulgado Custo Estimado: R$ 300,8 milhões

BR-101

Extensão: 42 km Fluxo de pessoas: 143 mil/dia Custo Estimado: R$ 480 milhões

AvenidaNorte

Descrição: Segue do Terminal Integrado da Macaxeira até o Centro do Recife. Extensão: 8,9 km Fluxo de pessoas: 143 mil/dia Custo Estimado: não divulgado Fonte: Secretaria das Cidades

Corredor Norte/Sul na Agamenon Magalhães ainda sem definição de modal

ma, que atualmente tem 13 terminais integrados em operação, terá 22 quando as obras forem concluídas em dezembro de 2012. Segundo o secretário, os terminais novos já estarão equipados com os bicicletários e os antigos terão que ser adaptados. Se para o ciclista a realidade do trânsito ainda é ingrata, imagine então para o pedestre. Uma estimativa das empresas de ôni-

bus é que cerca de um terço da população da Região Metropolitana do Recife (RMR) está fora do sistema e se desloca a pé. A melhoria da mobilidade das rodovias precisa vir acompanhada das condições do pavimento, da sinalização, da oferta de ciclovias, dos passeios em condições adequadas e da interligação do sistema de transportes com os terminais integrados.

Na espera dos recursos do PAC A PE-15 é a rodovia estadual que irá receber parte do corredor Norte/Sul. O corredor vai iniciar no município de Igarassu e se estenderá até Jaboatão dos Guararapes. A interligação de rodovias estaduais e federais com os corredores metropolitanos é um caminho sem volta e necessário. A PE-15, por exemplo, faz ligação direta com a Avenida Agamenon Magalhães. Além do Norte/Sul fazem parte também o Leste/Oeste, Avenida Norte e a 4ª perimetral (BR-101). Desses, somente a 4ª perimetral está em fase de licitação. A estimativa é que até junho o governo federal divulgue a relação dos projetos aprovados pelo PAC da Mobilidade, onde estão inseridos os corredores de tráfego. Até o fim deste mês, o governador Eduardo Campos definirá os modais que vão compor os corredores: BRT (Transporte Rápido por Ônibus) ou monotrilho.

De acordo com o secretário das Cidades, Danilo Cabral, a indefinição é em relação ao trecho que vai do Shopping Tacaruna à Zona Sul e Avenida Norte. “Tanto o corredor Leste/Oeste como o contorno Recife, o modal será o BRT. O restante nós temos que aguardar a definição do governador”, afirmou o secretário. Ainda segundo Danilo Cabral a demora na definição não irá trazer atrasos para a licitação. “Os projetos estão prontos. Quando o governador escolher é só enviar para a licitação”, explicou. O Norte/Sul terá 30,5 km. A primeira etapa, no entanto, está prevista até o Terminal Integrado Joana Bezerra, no Recife. O prolongamento até o Terminal de Cajueiro Seco, em Prazeres, Jaboatão, somente quando a Via Mangue ficar pronta. O projeto da Prefeitura do Recife estima que em 2013 a via esteja concluída.


CADERNO ESPECIAL

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

DOMINGO

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 10 de julho de 2011

Para fazer o Recife andar Com quantos prédios e carros se faz a imobilidade de uma cidade? Depende das ruas, do próprio sistema viário e da qualidade do transporte público. Mas a mobilidade vai muito além do transporte individual ou público. Todas as formas de deslocamento são válidas. O bê-à-bá deveria começar pelas calçadas. Somente no Recife, cerca de 20% da população se deslocam a pé. Nossos passeios são mal cuidados, em geral têm obstáculos. Outros são desnivelados, quase ladeirados. Outros sequer existem. É nessa condição que a

EXPEDIENTE:

macromobilidade vem sendo discutida e o nosso dever de casa ainda não foi feito. Estamos longe também de dispor de um sistema de ciclovias eficiente. O que existe são trechos sem nenhum tipo de conexão. As necessidades são urgentes e o calo aperta mais quanto entra em cena o transporte individual. Na contramão de uma lógica de mobilidade, a aposta pelos automóveis tem sido uma opção preferencial não só aqui, mas em todo o mundo. O preço dessa escolha pode ser visto nos engarrafamentos que enfrentamos

todos os dias. O tempo que perdemos no trânsito é em média de 30%. Imagine o desperdício disso em uma semana, um mês ou um ano. O Plano de Mobilidade do Recife prevê alternativas a longo prazo. Mas já há intervenções sendo apresentadas para reduzir o impacto dos entraves, como a construção da Via Mangue, o alargamento do Capitão Temudo e a reestruturação da CTTU. Igualmente importante é a operação sistemática de manutenção das vias que, por enquanto, é pouco perceptível. E, finalmente, a aposta no trans-

porte público. As linhas alimentadoras do transporte complementar são hoje peças fundamentais no contexto da mobilidade, mas sem esquecer a imprescindível necessidade de melhoria do sistema viário. No Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados, fizemos um raio x do que existe hoje na capital pernambucana e do que ainda está por vir. Até 2014, esperamos um novo trânsito e principalmente uma nova mobilidade urbana para a capital e a Região Metropolitana.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Anamaria Nascimento, Nina Wicks e Tânia Passos Edição: Karla Veloso e Gabriel Trigueiro Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

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desafios para o trânsito do amanhã

CTTU investe em pessoal e tecnologia

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS

+ saibamais Plano de Mobilidade Urbana do Recife O plano inclui cinco eixos a serem desenvolvidos pela CTTU: 1.Eliminação de giros à esquerda: Entre a Avenida Norte e a Rua da Hamonia: proibido a partir de 9 de julho Entre a Avenida Agamenon Magalhães e a Avenida Rui Barbosa e entre a Avenida Agamenon Magalhães e a Rua Henrique Dias: proibido a partir de 23 de julho Entre a a Avenida Norte para a Rua Gomes Coutinho: proibido a partir de 30 de julho

Central de operações da companhia em Santo Amaro. Projeto de reestruturação busca melhorar as estruturas interna e externa

Ór Órgão intensifica monitoramento do trânsito diante do aumento do fluxo de veículos

D

esde 2003, quando foi criada, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) nunca viveu uma transformação tão intensa. Medidas como duplicação do número de agentes, aquisição de viaturas, melhoria na sinalização das vias e instalação de semáforos que funcionam mesmo com chuva forte devem se tornar realidade até o próximo ano. A reestruturação foi um dos temas debatidos na 3ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados. Aumentar o contingente de técnicos e guardas municipais foi tomado como prioridade pela presidente da CTTU, Maria de Pompéia Lins, que elaborou o projeto de reestruturação. No início do ano, eram 290 agentes de trânsito. Atualmente são 400 e o efetivo deve aumentar ainda mais após a

+ saibamais Números da CTTU

66 câmeras de monitoramento

24 fotossensores 24 lombadas eletrônicas 400 agentes de trânsito

642 semáforos de trânsito

31 motocicletas 38 viaturas Fonte: CTTU

realização de um concurso público previsto para agosto. Mais 200 agentes serão contratados, totalizando 600, ou seja, mais que o dobro da quantidade inicial. Segundo Maria de Pompéia, as transformações na empresa abrangem três segmentos: a parte física, os equipamentos e o quadro de pessoal. “Nosso maior desafio é fazer com que os motoristas fiquem felizes com o trânsito. Todas as questões necessárias para que tenhamos uma empresa de fiscalização e controle de transporte que responda às necessidades dos recifenses são levadas em consideração”, frisou. Entre as ações já desenvolvidas pela CTTU está a melhoria dos semáforos da cidade. Mais de 200 equipamentos estão recebendo bateria como fonte de energia alternativa. “Uma das principais reclamações era quanto ao desligamento dos semáforos quando chovia. Esses equipamentos são muif luxo de to importantes para o flux veículos e não podem ter só uma fonte de energia”, explicou Maria de Pompéia, autora da ideia das baterias. Os semáforos das avenidas Agamenon Magalhães, Ca-

xangá e Norte funcionam com a fonte alternativa. “Até agosto, os equipamentos da Rua Real da Torre, das avenidas Conselheiro Aguiar e Dois Rios e de outras vias estarão com as baterias”. A ideia da presidente da CTTU já foi, inclusive, exportada para São Paulo. “A capital paulista também tem problemas de desligamento de semáforos com a queda de energia. Os paulistas viram reportagens sobre nossa ideia e quiseram implantá-la por lá também. Uma empresa recifense desenvolve a tecnologia que eles vão implementar na cidade. É muito bom ver nossa ideia expandindo”.

Futuro

De acordo com Maria de Pompéia, ainda há muito o que ser feito para se chegar a uma situação ideal para o trânsito do Recife. Entre as melhorias previstas para os próximos anos está o aumento no número de equipamentos eletrônicos. O Recife conta hoje com 24 fotossensores que registram o avanço de sinal e aumento de velocidade. O projeto de reestruturação da empresa prevê um aumento no número dos equipa-

Na Avenida Mascarenhas de Morais, embaixo do viaduto Tancredo Neves: proibido a partir de 3 de setembro 2. Melhoria nos semáforos: Até agosto deste ano, 210 grupos de semáforos estarão operando com o sistema de baterias 3. Sinalizações mais eficientes: A CTTU tem até 2012 para melhorar a sinalização, com placas e pintura, por exemplo, nas principais vias do Recife

Número de agentes atuando nas ruas dobrou neste ano mentos. “A aquisição de mais semáforos, fotossensores e lombadas eletrônicas está sendo discutida e ainda vai passar por processo de licitação, por isso ainda não há um prazo, mas podemos garantir que o número de equipamentos vai aumentar”, disse. Outra questão que está sendo discutida pela CTTU é a estrutura física da empresa. A CTTU funciona, desde 2003, na Rua Frei Cassimiro, 91, em Santo Amaro, área central do Recife. O prédio

não pertence à empresa e não oferece estrutura física sufuciente para os funcionários e visitantes da companhia. “As salas são realmente pequenas e não dão conforto suficiente às pessoas. Não é impossível trabalhar aqui, mas a esirtrutura pode ser melhorada”, af afir mou Maria de Pompéia. Segundo ela, a intenção é se instalar no imóvel da antiga Companhia de Transportes Urbanos (CTU), localizado na Rua Treze de Maio, 207, também em Santo Amaro.

4. Disciplinamento nos entornos dos mercados públicos: Inclui a regulamentação de estacionamento, além da implantação e manutenção de sinalização horizontal e vertical. Os mercados de Afogados, Água Fria, Boa Vista, Casa Amarela, Cordeiro, Encruzilhada, Madalena, Nova Descoberta e São José receberão o ordenamento até o próximo ano 5. Melhoria viária: Ações para melhorar o tráfego nas principais vias do Recife. A Rua José de Alencar, no bairro da Boa Vista, por exemplo, terá o sentido invertido até dezembro deste ano Fonte: CTTU

Carga e descarga serão regulamentadas “O grande vilão do trânsito é o processo de carga e descarga”. Foi com essa frase que a presidente da CTTU começou a falar sobre os problemas de mobilidade no Recife. Segundo Maria de Pompéia, além de intervenções físicas, a empresa está elaborando um projeto de lei que pretende regulamentar a operação de carga e descarga de mercadorias além do Centro Expandido (Bairro do Recife, Boa Vista, Santo Antônio, São José, Santo Amaro, Ilha do Leite e Cabanga), onde a lei municipal, de 1996, que estabelece regras para que esse tipo de transtorno não aconteça, já vale. A intenção é fazer com que a carga e descarga seja regulamentada em todos os bairros do Recife. A lei já proíbe a parada e o es-

tacionamento de veículos de transporte, com comprimento superior a 6 metros nos dias úteis no Centro Expandido, nos corredores de transporte coletivo do Centro e nos corredores metropolitanos, urbanos principais e secundários, das 7h às 19h. Na Avenida Boa Viagem, as sinalizações colocadas pela CTTU estabelecem regras para carga e descarga na via. O serviço pode ser realizado das 5h às 8h e das 17h às 20h e só pode ser executado por cargas e descargas de mercadorias especiais ou emergenciais, pois a legislação dá respaldo a esses serviços. O projeto será encaminhado à Câmara dos Vereadores neste ano e, caso seja aprovado, ficará proibida a parada e o estacionamento de carga e descarga das 6h às

Falta de ordenamento atrapalha o trânsito e gera risco para os próprios trabalhadores 22h, de segunda a sábado, em vários bairros. “A ideia é fazer com que não só o motorista do veículo que está realizando a carga ou a descarga seja punido, mas também a empresa que está receben-

do ou enviando mercadoria. É uma ação conjunta com outros órgãos da prefeitura”, explicou Maria de Pompéia, afir afirmando que ainda não há prazo para a proibição entrar em vigor.

>> acesse

diariodepernambuco.com.br /vidaurbana Vídeo do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã


especial 3

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desafios para o trânsito do amanhã

A necessidade de ciclovias FOTOS: RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

Recife tem 24km desse acesso contruído. Meta é implantar mais 424km no prazo de 20 anos

Q

uando se fala se mobilidade urbana, desafogamento do trânsito e sustentabilidade, muitos planos de ação apontam para o uso de bicicletas como transporte, seja prioritário ou complementar. Hoje o Recife possui 24km de ciclovias construídas. As principais estão localizadas na avenidas Norte, Boa viagem e do Forte. Não há ligações entre elas, uma das principais queixas dos usuários, que precisam se aventurar no meio do trânsito para chegar ao seu destino. O plano de mobilidade urbana da Prefeitura do Recife prevê a construção de 424km de ciclovias. A solução integrada às outras sugestões de mobilidade, como o aperfeiçoamento das calçadas e incentivo ao transporte público, procura minimizar o uso de carros. Mas tem prazo de construção previsto para 20 anos. Para o garçom Luiz Carlos Gomes, 43, que mora no Prado, Zona Oeste do Recife, visitar a mãe em Olinda virou uma tarefa difícil. Desde que adotou a bicicleta como meio de transporte, ele passou a restringir as visitas, que agora acontecem uma vez por mês. “Percorrer 20km até Olinda sem uma estrutura que me ofereça segurança e facilite meu acesso é muito desgastante”, avaliou o ciclista.

+ saibamais Hoje existem 24 km de ciclovias construídas, nos seguintes pontos Avenida do Forte Engenho do meio Avenida 21 de Abril Avenida Norte Centro Avenida Brasília Formosa Avenida Boa Viagem Os novos trechos

74 km de ciclovias

nos corredores hidrográficos Rio Beberibe Rio Capibaribe Canal do arruda Ilha do Retiro Mustardinha Rio Morno Rio Tejipíó Via Mangue Canal do Jordão

Na Avenida Caxangá, ciclistas se aventuram em meio aos carros por falta de uma via apropriada para o veículo Também adepto da bicicleta, o motorista Henrique Lucena da Silva, 20, já quebrou dois dedos do pé em uma colisão com um veículo. “Por falta de ciclovias, a gente tem que se arriscar no trânsito mesmo. E os carros não respeitam as bicicletas. Quando saio de casa, tenho a ciclovia da Avenida do Forte. Mas quando chego na Avenida Caxangá não tem mais”. Segundo o presidente do Instituto da Cidade do Recife - Pelópidas Silveira, Milton Botler, a prioridade é para as ciclovias que dão acesso aos corredores de transpor-

te público. “Inicialmente pensamos nas bicicletas como transporte complementar. Ao invés de percorrer 20km, o ciclista pedalaria 3km e em seguida utilizaria algum transporte público. Para isso, precisamos também da construção de bicicletários”, esclareceu Botler. “Faz muito pouco tempo que se incorporou o tema de acessibilidade às políticas públicas. Com o plano todo executado, teremos uma malha perfeita de ligamento entre as ciclovias. Mas para isso é preciso tempo e investimento”, completou.

Percorrer 20km até Olinda sem estrutura que ofereça segurança é um risco”

Luiz Carlos , 43, que mora no Prado e usa a bicicleta para visitar a mãe, em Olinda

120 km de ciclovias

nos corredores de transporte Avenida Beberibe Avenida Norte Corredor Leste-Oeste Avenida Abdias de Carvalho Avenida Mascarenhas de Morais Corredor Norte-Sul 3ª Perimetral 4ª perimetral

156 km de ciclofaixas Avenida Norte Avenida Maurício de Nassau Avenida Agamenon Magalhães Cais José Estelista Ibura a Boa viagem Rua Maria Irene Dois Irmãos Várzea


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desafios para o trânsito do amanhã

Calçadas, o dever de casa FOTOS: LAIS TELLES/ESP DP/D.A PRESS

+ saibamais

Lei Municipal 16.890/03 (“Lei das Calçadas”) Regulamentada pelo decreto 20.604/04 Trata da construção, manutenção e recuperação das calçadas no Recife A lei determina que proprietários de imóveis ou condôminos são responsáveis pela conservação das calçadas Os cidadãos são legalmente obrigados a consertar a calçada em frente ao seu imóvel dentro do prazo de 90 dias Caso não realize o conserto da calçada, o proprietário pode ser notificado pela Prefeitura do Recife, sob pena de multa

Mariana Pereira, 88: dificuldade para andar nas ruas

Lei municipal determina que os proprietários façam a manutenção do passeio. Regra que não vem sendo cumprida

A

ndar pelas calçadas do Recife tem sido um ato cada vez mais tortuoso. São tantos os obstáculos no passeio que a mobilidade dos 20% da população que se deslocam a pé pela cidade é dificultada ou até impedida. Os galhos ou raízes de árvores, barracas ambulantes, sacos de lixo ou desníveis que atrapalham o caminho dos que transitam pelas vias da capital pernambucana são, também, responsabilidades dos cidadãos. O fato é que a lei municipal das calçadas - n°16.890/03, aprovada há oito anos, não tem sido respeitada. A legislação determina que os proprietários façam a manutenção de sua própria calçada. Muitos recifenses, porém, não conhecem a lei. Outros sabem que devem cuidar do passeio em frente à residência, mas continuam a desrespeitar a norma. A pedagoga aposentada Luzinete Lopes, 68 anos, moradora do bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, conhece a lei municipal e sabe que deve cuidar do trecho da calçada da Rua Pau-

lino Câmara que fica em frente à sua casa. “Sei que tenho que manter minha calçada bem cuidada e livre de obstáculos. Já fiz um reparo nela, inclusive”, contou. O vizinho dela, no entanto, desconhecia a legislação até a chegada da reportagem do Diario de Pernambuco na rua. “Nunca tinha ouvido falar nesta lei. Estava por fora, mas agora estou sabendo”, afirmou o engenheiro Sílvio Rêgo, 59 anos. As calçadas mal cuidadas prejudicam muitas pessoas, mas, principalmente, os idosos e deficientes físicos. A aposentada Mariana Pereira, 88 anos, por exemplo, sente muita dificuldade dificuldade ao caminhar pelo Recife. Além da idade avançada, ela sofre de artose, uma doença degenerativa das articulações. “Já levei três quedas nas calçadas da cidade. Ando forçada pelas ruas, mas preciso resolver meus problemas e não tenho quem faça isso por mim”, disse. O cadeirante Marcelo Costa, 47, trabalha na área central do Recife e se arrisca pelas calçadas do centro. “Os buracos e ausência de rampas são os maiores obstáculos para os que usam cadeira de rodas. É um sofrimento enorme circular por aqui e acabamos nos arriscando ainda mais passando pela pista com os veículos”, ressaltou.

Fiscalização

A Lei Municipal das Calçadas determina, desde 2003, que a ma-

O valor da multa varia de R$ 161,36 a R$ 2.418,77 e depende do tipo de infração Caso o município execute o serviço de conserto da calçada, o proprietário terá ainda que pagar um percentual de 10% acima do preço do reparo Cabe a Prefeitura conservar as calçadas que margeiam os rios, canais, lagos, praias, praças e as que ficam em frente aos prédios públicos, além de canteiros centrais de avenidas, praças, parques

Moradora de Santo Amaro, Luzinete Lopes, 68, sabe que deve cuidar do espaço nutenção delas cabe ao proprietário do imóvel. Porém, o que se percebe é que a legislação não tem sido respeitada. De acordo com a lei, o cidadão pode ser multado de R$ 161,36 a R$ 2.418,77, dependendo do tipo de infração cometida. A Diretoria de Controle Urbano do Recife (Dircon) é responsável pela fiscalização do cumprimento da legislação. A diretora do órgão, Maria José D’Biase, afirma que o papel da Dircon vem sendo feito. “Exigimos o cumprimento da legislação vigente. Antes da Lei das Calçadas, já existia a lei federal de acessibilida-

de, de 2000. Novos projetos só são aprovados se estiverem de acordo com a legislação”. Ainda segundo D’Biase, a Dircon faz um trabalho em parceria com o Núcleo de Acessibilidade da Prefeitura e está elaborando uma cartilha sobre a manutenção das calçadas. “A ideia é oferecer várias opções de padrões construtivos a partir das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Hoje todos os projetos da prefeitura são contemplados com as normas de acessibilidade. Estamos também fazendo trabalhos junto às escolas, hospitais e praças”, explicou.

Exigimos o cumprimento da legislação vigente. Novos projetos só são aprovados se a seguirem” Maria José D’Biase, diretora da Dircon

Estragos causados por obras públicas e privadas devem ser consertados pelas empresas responsáveis pelas obras Rampas construídas para a entrada de veículos só são permitidas se ocuparem até um terço da largura da calçada A construção das rampas só pode ser feita se não prejudicar a arborização da rua As calçadas devem ser construídas e reformadas com materiais antiderrapantes Não é permitido deixar algum obstáculo que impeça o livre trânsito de pedestres pelas calçadas


especial 5

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 10 de julho de 2011 DIARIOd

desafios para o trânsito do amanhã

Transporte complementar facilita o deslocamento Sistema que substituiu as kombis atende demanda de populações que antes sofriam para se locomover

+ saibamais Números do transporte complementar do Recife

70 milpessoas são transportadas por dia no sistema

63

bairros e altos do Recife são atendidos pelos complementares

141 veículos compõem a frota do sistema

28% da frota já foram renovados com

40 novos ônibus

8 anos é o tempo

de vida útil dos primeiros micro-ônibus adquiridos em 2003

FOTOS: MARCELO SOARES/ESP. DP/D. A PRESS

Q

uem lembra das vans e kombis que invadiam o centro do Recife e transformavam o trânsito em um caos? Oito anos depois, essa cena já não faz mais parte da paisagem urbana da cidade. No lugar delas, surgiu o transporte complementar com a função de não mais concorrer com os ônibus e sim fazer a complementação do sistema em áreas de difícil acesso ou onde não há demanda suficiente. Das 26 linhas previstas para entrar em operação desde 2003, oito ainda não começaram a operar. Elas foram divididas em interbairros e alimentadoras. Essas últimas são gratuitas e transportam o passageiro até a parada de ônibus mais próxima. Já a interbairro tem a função de atender demandas de menor porte de um bairro para outro. De

Moradores tinham que caminhar por longas distâncias até as paradas

No Alto do Rosário, linha alimentadora melhora o transporte de moradores, mas via está em más condições

acordo com a Companhia de Trânsito e Transporte Público (CTTU), o sistema complementar atende hoje toda demanda dos altos da cidade. De fato melhorou e a própria população reconhece. Mas ainda não é o ideal. No Alto do Rosário, Zona Norte, uma van faz o transporte de passageiros dos moradores até a parada de ônibus mais próxima. Nem sempre foi assim. Antes, para ter acesso aos ônibus, os moradores precisavam vencer a distância do alto até uma região mais plana onde houvesse paradas do sistema regular de transporte. Parece perfeito, mas não é. As alimentadoras, em geral, atuam nos pontos onde o sistema viário é

ruim. Na Rua Chagas Ferreira, Alto do Rosário, a via esburacada é um tormento para os passageiros e motoristas. “O ônibus quebra umas duas vezes por mês”, revela o motorista Giliarde da Silva, 28 anos. Na van, encontramos o auxiliar de cozinha Anílson Edson, 32 anos, que estava indo para o trabalho e pegou carona na linha alimentadora. “Ficou muito melhor para a gente. Mas quando volto do trabalho subo a ladeira a pé. Saio depois da meia-noite e as vans só funcionam até as 22h”. Para a dona de casa Adriana Santos, 39, a opção da van é suficient suficiente. “Vou raramente ao centro. Muita coisa resolvo no bairro. Desço e subo na van sem pagar. Se precis-

ar ir ao centro, tem ônibus”, afirmou. De fato, a circulação de ônibus nos morros é cena bastante comum. Segundo o engenheiro e especialista em transporte, Germano Travassos, a cidade é bem servida de ônibus. “Há uma concentração de linhas nos morros, mas o ônibus não chega onde o sistema viário não permite e onde não há demanda que justifique”. A comunidade de Sítio dos Pintos, Zona Norte, é uma das que solicitaram uma linha alimentadora, mesmo dispondo de ônibus. “No caso de Sítio dos Pintos, há um problema do sistema viário que precisa ser resolvido antes de implantarmos uma alimentadora”, explicou a diretora de transpor-

2014 é o prazo limite

Linhas têm funções distintas

Números dos ônibus convencionais na RMR

O sistema de transporte complementar atende 63 bairros e altos da cidade e transporta cerca de 70 mil pessoas por dia. São 36 comunidades atendidas pelas sete linhas interbairros e 27 que recebem as 17 linhas alimentadoras. Uma das razões para essa disparidade é a distância. As linhas interbairros percorRem trechos de até 30 quilômetros e cobrem um número maior de comunidades. E as alimentadoras têm a função apenas de levar o passageiro

para renovação de toda a frota

385 linhas 2.730 ônibus

1,8 milhão de passageiros transportados ao dia Fonte: CTTU e Grande Recife

para a parada mais próxima. Atualmente a CTTU estuda a implantação de duas novas linhas: uma interbairro ligando o Jordão ao Aeroporto e uma alimentadora na Cidade Universitária. “A Alimentadora na Cidade Universitária vai evitar que uma grande quantidade de ônibus circule nas ruas do campus. O passageiro vai poder descer nas imediações da reitoria e pegar um transporte. O sistema também vai atender a demanda interna de um prédio pa-

ra outro já que as distâncias são grandes”, explicou Bárbara Estolano. Segundo ela, tanto a universidade como os empresários de ônibus estão simpáticos à iniciativa, que ainda não tem data para ser implantada. Em oito anos de implantação do complementar a frota está sendo renovada. Os micro-ônibus vão dar lugar a ônibus de 21 lugares. A mudança na classificação é uma exigência de uma lei federal para que todos os veí-

te da CTTU, Bárbara Estolano. A distância para justificar uma alimentadora é de 600 a 700 metros. Das oito linhas complementares que ainda não entraram em operação, pelo menos duas não devem sair do papel. São as interbairros Shopping/Setúbal e Torre/CDU. “Essas regiões hoje são bem servidas de ônibus e não justificaria a implantação de complementares. Provavelmente vamos fazer ajustes dos itinerários”, explicou Estolano. De 2003 a 2011, houve modif modificações icações no sistema. O edital previa um número maior de linhas interbairros. “Hoje a gente percebe que há uma demanda maior pelas alimentadoras”, explicou Bárbara.

culos tenham o elevador para o cadeirante. “A gente também conseguiu redução no IPVA e no ICMS da mesma forma que os ônibus convencionais”, comemorou o presidente da CoopeNorte, Manoel Leôncio Correia. Segundo ele, já foram adquiridos 40 novos ônibus, dos 170 que compõem a frota do complementar. “Até 2014 toda a frota deverá ser renovada, inclusive das linhas alimentadoras que ainda funcionam com vans”, afirmou.

O sistema é bom, mas como só funciona até as 22h, ainda subo a ladeira a pé quando chego” Anílson Edson, auxiliar de cozinha, morador do Alto do Rosário


CADERNO ESPECIAL

PAULO PAIVA/ESP. DP/D.A PRESS.

DOMINGO

Olinda e Jaboatão

encaram encar am os problemas problemas da (i)mobilidade

Onde começa um e termina o outro ? Os dois vizinhos de (porta) do Recife vivem os extremos das diferenças e semelhanças. Jaboatão dos Guararapes tem cinco vezes o território de Olinda, quase o dobro da população e possui a segunda maior arrecadação do estado. Mas quando se fala em mobilidade urbana, eles comungam praticamente dos mesmos problemas. A frota de veículos dos dois municípios é semelhante e, nesEXPEDIENTE:

se caso, Olinda fica em desvantagem pela pouca dimensão territorial. Ambos superaram a marca dos 100 mil veiculos. Jaboatão tem 21 mil carros a mais do que Olinda e apenas 13 agentes a mais. Quanto ao número de semáforos, Olinda fica na frente com 65 equipamentos contra 48 de Jaboatão. E nenhum dos dois municípios possui equipamentos redutores de velocidade. Faltando apenas três anos para a Copa de

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 31 de julho de 2011

2014, eles têm um enorme desafio a cumprir - um dever de casa sempre adiado. O tempo é curto para melhorar as vias urbanas e a capacidade operacional do tráfego. Na 4ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, uma radiografia dos dois municípios mais próximos da capital pernambucana, carentes de uma política de mobilidade que deve ir muito além da Copa.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 31 de julho de 2011 DIARIOd

MARCELO SOARES/ESP DP/D. A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

+ saibamais Olinda

43,5km2

é a área do município

380 mil habitantes

108 mil

veículos é a frota registrada até junho/2011

75

agentes de trânsito

65

semáforos

50 permissionários Na Avenida Barreto de Menezes, em Jaboatão, veículos param a todo instante e cobradores disputam passageiros como os velhos clandestinos

Transporte público não pode ser vilão

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS.

Em Olinda, transporte complementar facilita mobilidade. Jabotão sofre por não integrar o Sistema Integrado (SEI)

N

ão há como melhorar a mobilidade de uma cidade se não for levada em conta a qualidade do transporte público. Em Jaboatão dos Guararapes, o sistema que deveria ser complementar é responsável por 80% do transporte de passageiros na área urbana do município, cerca de 120 mil pessoas por dia. E deixa muito a desejar. Mesmo com a regulamentação do sistema, que reduziu o número de veículos pela metade, a forma de trabalhar não mudou em nada em relação à época dos clandestinos. Em Olinda, o transporte complementar responde por 6,43% dos passageiros transportados por dia no município, o que representa cerca de 2.400 pessoas. A regulamentação do sistema em 2002, reduziu de mil kombis para 25 microônibus. O complementar passou a fazer apenas a função de alimentar o sistema onde o ônibus convencional não chega. O terminal do Caenga, no bairro de Rio Doce, em Olinda, inau-

gurado em 2008, é exclusivamente para o complementar. Os passageiros esperam sentandos ou fazem fila para entrar no veículo. O cronograma das viagens é definido pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Somente Olinda e Recife integram atualmente o consórcio. Os passageiros admitem que o modelo atual é mais organizado, mas ainda há críticas. A dona de casa Cristina Leite, 37 anos, reclama da demora nos intervalos de saída dos veículos e da cobertura do terminal. “Sem dúvida é mais organizado, mas quando tem chuva de vento a gente se molha e às vezes a gente espera mais de 40 minutos para sair um carro”, disse. Em Jaboatão dos Guararapes as paradas não têm cobertura. Os passageiros esperam em calçadas estreitas e até na rua. É só uma parte do sofrimento. Na Avenida Barreto de Menezes, uma das principais vias do centro de Prazeres, os veículos chegam nas paradas a todo instante e os cobradores descem para disputar a preferência dos passageiros. O acerto do pagamento é feito na rua mesmo e, para não perder tempo com o abre e fecha das portas, é comum os deslocamentos de porta aberta. Mas não é só isso. Não há contro-

Em Olinda, semáforos já contabilizam 35 anos

Com quase a mesma frota, Olinda e Jaboatão dos Guararapes enfrentam problemas semelhantes na operacionalização do trânsito. A cidade Patrimônio Cultural da Humanidade tenta administrar não apenas sua frota de 108 mil veículos, mas também o trânsito vindo de outros municípios. Tanto Olinda quanto Jaboatão são corredores naturais para quem se desloca para os litorais Norte ou Sul. “Olinda recebe um número muito maior de carros do que a sua frota e nós temos corredores de tráfego muito curtos, mas com um fflu luxos intensos”, explicou o prefeito Renildo Calheiros. A municipalização do trânsito em Olinda ocorreu no ano de 2005, sete anos depois de Jaboatão

7 linhas municipais 77 linhas intermunicipais 11 linhas complementares

2.400

pessoas são transportadas por dia pelo complementar

37.321

pessoas são transportadas por dia pelas linhas municipais

358.804

pessoas são transportadas por dia pelas linhas intermunicipais

Jaboatão dos Guararapes

256km2

é a área do município

645 mil habitantes

129 mil

veículos é a frota registrada até junho de 2011

Passageiros podem esperar sentados o complementar no Terminal do Caenga, em Olinda le para evitar a superlotação e os passageiros se acomodam do jeito que podem. A cabeleireira Iran Maria dos Santos, 30 anos, reclama do excesso de passageiros. “Tem gente que vai quase sentando no colo do motorista”. A gerente de operações de trânsito de Jaboatão, Lúcia Recena admite que o sistema tem ainda muito o que melhorar. “Nós conseguimos acabar com os clandestinos, mas há ainda um hábito adquiri-

do na forma antiga de se trabalhar, que ainda não foi superado. O nosso trabalho será de intensificar a fiscalização”, afirmou. Jaboatão também não está inserida no Consórcio Metropolitano e isso significa que o passageiro, que usa o transporte complementar ou as linhas de ônibus municipais não pode fazer parte do Sistema Estrutural Integrando (SEI), onde com apenas uma passagem é possível entrar e se deslocar pa-

dos Guararapes. Os dois municiípios ainda engatinham na questão da operacionalização do trânsito. Olinda até bem pouco tempo tinha apenas 29 agentes de trânsito e hoje conta com 75, mas o número ainda é insuficiente. Jaboatão tem apenas 88 para uma frota de 129 mil veículos. De acordo com o prefeito Elias Gomes, está sendo elaborado um plano de mobilidade para o município que prevê, entre outras ações, a implantação de uma central de controle de tráfego e um concurso público para 200 agentes, além da compra de equipamentos de monitoramento. “A nossa expectativa é de implantar essas melhorias até o próximo ano”, afirmou Elias Gomes. Em Olinda são 65 semáforos,

ra qualquer município da região metropolitana. “Eu vim de Boa Viagem para Prazeres e tive que pagar duas passagens”, reclamou a dona de casa Daniele da Silva, 22 anos. De acordo com o prefeito Elias Gomes, a previsão é que o município passe a fazer parte do consórcio ainda este ano. “O sistema de bilhetagem eletrônica já foi implantado no complementar. Faltam alguns ajustes”, afirmou o prefeito.

88

agentes de trânsito

48

semáforos

400 permissionários do transporte complementar

12 linhas municipais 58 linhas intermunicipais

MARCELO SOARES/ESP DP/D. A PRESS

Aprendendo a desatar os nós PAULO PAIVA/ESP. DP/D.A PRESS.

cadastrados no transporte complementar

120 mil

pessoas são transportadas por dia pelo complementar

24 mil

pessoas são transportadas por dia nas linhas municipais

246 mil

pessoas são transportadas por dia nas linhas intermunicipais

Sinais sincronizados facilitam mobilidade em Piedade implantados há 35 anos. O município não dispõe de nenhuma lombada eletrônica ou equipamentos que flag f lagrem o avanço de sinal. Déficit de material humano e tecnológico, insufientes para atendar a demanda do município. “Nós vamos licitar uma sé-

rie de ações para melhoria do gerenciamento de tráfego, inclusive a modernização dos semáforos e a compra de equipamentos eletrônicos para monitorar o trânsito”, afirmou o secretário executivo de transporte, controle urbano e ambiental, Adriano Max.

Fonte: Prefeituras de Olinda e Jaboatão dos Guararapes e Grande Recife Consórcio


especial 3

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desafios para o trânsito do amanhã

Gestores deixam em segundo plano projetos que viabilizam os deslocamentos não motorizados. Cidades correm atrás do prejuízo

N

a mobilidade urbana, pedestre e ciclista não podem ser esquecidos. Quanto mais existir a opção dos deslocamentos não motorizados, menos carros haverá nas vias. Os municípios de Olinda e Jaboatão dos Guararapes não são os únicos a deixar essa premissa em último plano. As duas cidades dispõem de ciclovias, ambas na orla. Olinda tem dois quilômetros de ciclovia no Bairro Novo e terá mais quatro com a ampliação da via litorânea até a Ponte do Janga. Jaboatão tem três quilômetros de ciclovia na orla e projeto para fazer a ligação com a ciclovia da orla de Recife. Também em obras no município, a requalificação da Avenida Ayrton Senna, que passará a ter uma ciclovia de 2 kms na pista leste. As ciclovias em trechos isolados são apenas um primeiro passo. A interligação da cidade em

vias seguras para o ciclista ainda é um sonho distante para os dois municípios, e mesmo para o Recife. As dificuldades vão desde a captação de recursos à adaptação de vias não projetadas para este fim. “Em Olinda, as ruas são muito estreitas e teria que haver grandes desapropriações”, explicou a secretária de planejamento e gestão do município, Sônia Calheiros. Segundo ela, na requalificação ualificação da Avenida Presidente Kennedy, não foi possível implantar uma ciclovia por falta de espaço. O mesmo ocorreu com o binário das avenidas Transamazônica e Brasília. Nem sempre espaço é o problema. A Ponte do Paiva tem ciclovia, mas a avenida que foi construída na orla de Barra de Jangada, que se liga a ponte, não tem. “É perfeitamente possível implantar uma ciclovia na orla de Barra de Jangada e fazer a ligação com o Paiva, depois com a orla de Jaboatão e com a orla de Recife”, afirmou o secretário de Serviços Públicos do município, Evandro Avelar. Segundo ele, também há projetos de implantar ciclovias na requalificação da Estrada de Curcurana e no trecho do eixo de integração da BR 101 com Jaboatão Centro pela PE - 17.

BLENDA SOUTO MAIOR/ESP. DP/D.A PRESS

Ciclovias continuam esquecidas

+ saibamais Mapa cicloviário de Olinda

2 km de ciclovia na orla (existe atualmente)

4 km de ciclovia na orla da ampliação da via litorânea ( em execução)

6 km de ciclovia margeando a futura Via Metropolitana Norte (projeto)

4 km de ciclovia na duplicação do trecho da 2ª perimetral (projeto)

2 km de ciclovia margeando um trecho do canal de Bultrins (projeto)

8 km de ciclovia no trecho a ser recuperado da PE -15 (do estado) Total

26 km de ciclovia para serem implantados até 2014

Jaboatão tem 3km de ciclovia na orla e projeto de ligação com ciclovia de Boa Viagem

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS

para Jaboatão

3 km de ciclovia na orla ( existe atualmente)

Em Olinda, as ruas são muito estreitas e teria que haver muitas desapropriações” Sônia Calheiros, sec. de Planejamento

Mapa cicloviário previsto

2 km para fazer a ligação com a orla de Recife (projeto)

2 km de ciclovia na pista Leste da Ayrton Senna (em execução) Total

Bairro Novo tem 2km de ciclovia e vai ganhar mais 4km

7 km de ciclovia para ser implantado até o fim do ano


4 especial

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desafios para o trânsito do amanhã

Pavimentando o futuro FOTOS: PAULO PAIVA/ESP. DP/D.A PRESS

Intervenções nas rotas do turismo e duplicação da segunda perimetral interligada a uma nova via são prioridades em Olinda

A

Cartão de visitas da cidade-patrimônio, Sítio Histórico será recuperado com a pavimentação das vias, dos passeios e o reforço na sinalização

+ saibamais

Metropolitana Norte, orçada em R$ 400mi, é obra mais ambiciosa

Requalificação da Avenida Presidente Kennedy Implantação do binário da Kennedy Duplicação da 2ª perimetral Expansão da via litorânea até a Ponte do Janga acia do Beberibe Bebe Recuperação das vias dos bairros da bacia Vetor Norte/Sul (da Avenida Olinda até o limitee de Paulista Vetor Norte/Sul- PE-15 ennedy Vetor Leste/Oeste - Avenida Presidente Kennedy Fonte: Prefeitura de Olinda

Via Metropolitana Norte - Olinda 1 Projeto de Urbanização - canal de Bultrins 2 Complementação da 2ª perimetral/ do entorno

4 Áreas para reassentamentos- construção de conjuntos habitacionais

4

principal ligação para os altos de Olinda e para a segunda perimetral. A via que está sendo requalificada vai receber um corredor exclusivo de ônibus no canteiro central, semelhante ao que existe hoje na Avenida Caxangá. “Paralela à Presidente Kennedy, nós criamos um binário com as avenidas Transamazônica e Brasília, que vão servir para desafogar a Kennedy”, explicou a secretária de planejamento e gestão, Sônia Calheiros.

3

4 al Perimetral II Perimetr

iadutoo Novo Viadut Nov

2

3 1

Av. G Canal Bultrins over nad or C arlo s de

lio Vargas ou Carlos de Lima Cavalcanti. Poderá fazer fazer essa ligação pela Metropolitana Norte”, afirmou. Apesar da sua importância não há ainda um cronograma definido das obras. “É uma obra muito cara que será feita em parceria com o estado e o governo federal. Nós estamos trabalhando o trecho do canal dos Bultrins”, adiantou o prefeito. Outra via estratégica dentro da dinâmica do trânsito no município é a Presidente Kennedy,

Cana l Our o Pre to

Norte vai margear os canais do Fragoso e do Bultrins, saindo do limite de Paulista para se encontrar com a 2ª perimetral na PE15. “Haverá um viaduto que vai passar por cima do terminal de integração da PE-15 ligando a Metropolitana Norte, explicou o prefeito. A nova via e o trecho duplicado da perimetral vão totalizar 10 quilômetros de extensão. “Quem vier de Paulista e quiser ir para o Recife não precisará usar a Getú-

PE 15

Avenida Presidente Kennedy vai ganhar um corredor de ônibus no canteiro central

2

Lim a Ca valc ante

3 Construção de lagoas de retenção e urbanização

Metro polita na No rte / C anal B ultrins Frago so

Via Metropolitana Norte

5 PE 1

pecialista em trânsito e professor da Universidade Federal de Pernambuco, ele conhece bem os desafios da mobilidade. “Não houve planejamento das cidades e há muito o que ser feito. O trabalho conjunto de melhoria de pavimentação e gerenciamento do tráfego é o caminho dentro das limitações existentes”, afirmou. Uma cidade com pouco mais de 300 mil habitantes e uma frota de 108 mil veículos, não era para sofrer tanto com os gargalos diários, mas sofre. Olinda fica na rota do Recife para quem vem do litoral Norte. A PE-15, que corta o município é uma rodovia estadual que faz parte do projeto do Corredor Norte/Sul. O trânsito intenso na via acaba trazendo impacto nas vias internas. Um dos projetos mais esperados é a duplicação do trecho da 2ª perimetral que fará ligação com uma nova via a ser implantada: a Metropolitana Norte. Segundo o prefeito de Olinda, Renildo Calheiros, a via é a mais importante intervenção para melhorar o tráfego que hoje passa dentro do município e está orçada em mais de R$ 400 milhões. Pelo projeto, a Metropolitana

Mapa viário das obras de Olinda

II P Du erim pli e ca tra çã l ol

Cidade Patrimônio Cultural da humanidade tem carências de mobilidade na área do Sítio Histórico. Mas não é só. Além dos limites da cidade histórica, os problemas são ainda mais evidentes. Um dos grandes desafios desafios é melhorar a qualidade do pavimento das vias, a sinalização e os passeios. Uma das intervenções previstas é a recuperação das vias de interesse turístico. Pelo menos treze vias serão recuperadas. O projeto não inclui, no entanto, obras de acessibilidade e a implantação de ciclovias. “Não há como fazer tudo de uma só vez. Os recursos que Olinda conseguiu foram para deixar essas vias, de importância turística, em condições adequadas de trafegabilidade”, explicou o secretário de Serviços Públicos do município, Oswaldo Lima Neto. Es-


especial 5

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desafios para o trânsito do amanhã

Jaboatão quer garantir velocidade ao trânsito, quebrar o isolamento externo e investir na ligação dos bairros que não se interligam

BR 408

BR 232

2 PE 007

4 Cavvaleir Ca aleiro o

1

Eixo tegração Inte PE 017

MARCELO SOARES/ESP DP/D. A PRESS

3

1 10 R B

Curcur Cur curana ana

C

omo tirar uma cidade do isolamento metropolitano? O município de Jaboatão dos Guararapes está sendo redesenhado do ponto de vista viário. A começar pela requalificação da Estrada da Batalha, um dos principais acessos ao litoral Sul. A obra foi o pontapé para uma série de mudanças no traçado viário do município. O bairro de Prazeres, por onde passa a via, também receberá um binário que vai ligar a Estrada da Batalha à Avenida Ayrton Senna, que também será requalificada. A Ayrton Senna vai receber um corredor exclusivo de ônibus e ciclovia. O projeto também inclui a melhoria das calçadas e sinalização. “Nós estamos priorizando os principais corredores de tráfego para dar mais velocidade ao trânsito. Pela Avenida Ayrton Senna também vai passar o projeto do estado, do Corredor Norte/Sul”, explicou o secretário de Serviços Públicos do município, Evandro Avelar. Um dos maiores desafios que o prefeito Elias Gomes disse que tem pela frente não é apenas tirar a cidade do isolamento metropolitano, mas também do seu próprio isolamento. Segundo o prefeito, são várias cidades dentro de uma que não se interligam. “Tem a cidade de Prazeres, de Piedade e Candeias, de Jaboatão Centro e de Cavaleiro. Nós queremos criar uma unidade e o sistema

Mobilidade nos centros urbanos de Jaboatão

1 Jaboatão Centro: Binário

da Avenida Manuel Rabelo e Av. Visconde do Rio Branco e a requalificação das PE-07

2 Jaboatão Centro: Estrada da Luz, a requalificação da via

3 Centro Urbano de Prazeres:

Avenida Ayrton Senna e binário da Aarão Lins de Andrade e as ruas Emiliano Ribeiro e Cel Francisco Galvão

4 Centro Urbano de Cavaleiro: Requalificação das ruas do entorno do mercado com a implantação de um binário

Principais eixos metropolitanos de Jaboatão

1. BR-101 (Radial do contorno da RMR)

2. BR-232 (Interiorização) 3. BR-408 (Acesso Cidade da Copa)

4. Eixo de Integração (PE-17,

Estrada de Curcurana, Av.Manoel Rabelo/Av.Barão de Lucena e Estrada da Batalha)

5. Eixo do Metrô (Linha Recife/Jaboatão Centro;Linha Tip e Linha Cajueiro Seco) 6. Eixo do Trem (Cabo/Curado e futura implantação do VLT Cajueiro Seco/Cabo)

Estão previstas cerca de 300 intervenções para este ano viário é fundamental na melhoria da mobilidade”, explicou. Melhorar as condições das vias e criar novas mecanismos de ligação entre os bairros fazem parte do plano de mobilidade do município previsto para ser implantado até 2020. Mas algumas ações já estão em curso. A Avenida Bernardo Vieira de Melo, que sequer era sinalizada, ganhou sinalização horizontal e vertical e semá-

101 BR 101

Por um sistema viário integrado

+ saibamais

7. Corredor Norte/Sul

(BR-101, PE-15, Av.Agamenon Magalhães, Domingos Ferreira e Ayrton Senna) Fonte: Prefeitura do Recife

foros sicronizados. Dentro das ações de mobilidade, estão previstos investimentos na ordem de R$ 71,5 milhões dos cofres do município para cerca de 300 intervenções este ano, incluindo o binário da Avenida Aarão Lins de Andrade, em Prazeres. Além da pavimentação de 254 ruas com serviços de drenagem e saneamento. É um esforço, sem dúvida, porém mais uma vez a acessibilida-

de não será contemplada nessas obras. Para um município que nunca priorizou o sistema viário, as lacunas ainda são grandes. De acordo com o secretário de Serviços Públicos, Evandro Avelar as ações de melhoria da mobilidade dos centros urbanos do município envolvem inerligação de áreas até agora esquecidas. É o caso de Jaboatão Centro. “A via principal do centro de Jaboatão não

comporta mais o tráfego.É uma situação insustentável”, afirmou. No local será construído um binário das avenidas Manuel Rabelo e Visconde do Rio Branco. A intervenção inclui ainda a requalificação da PE-07, uma via estadual, que faz a ligação ao bairro de Cavaleiro e a BR-101. A ação também prevê a requalificação ualificação da Estrada da Luz, que faz a ligação de Jaboatão Centro com a BR-232.

“Com essas intervenções a gente vai possibilitar tirar a área mais antiga de Jaboatão do isolamento”, afir afirmou o secretário. No bairro de Cavaleiro está prevista a requalificação das ruas do entorno do mercado e a implantação de um binário. Na área das praias, uma das intervenções previstas em parceria com o estado é a duplicação da Estrada de Curcurana com paradas em baias e ciclovia.

Av. Bernardo Vieira de Melo já tem sinalização vertical e horizontal


CADERNO ESPECIAL

PEDROM/DP

TERÇA-FEIRA

Tecnologia

Inteligência a serviço ser viço do trânsito

Encontrar caminhos livres para trafegar não tem sido fácil. Seja de carro, a pé, ou de transporte público. Mas há mecanismo para reduzir os efeitos danosos dos engarrafamentos. O primeiro deles, indiscutivelmente, é o investimento no transporte público. O outro é dispor, com antecedência, de informações sobre os gargalos. E, nessse sentido, a tecnologia está cada vez mais ao alcance de todos. A internet é uma das ferramentas, EXPEDIENTE:

a exemplo do site transitolivre.com e do Twitter. Mas é preciso também apostar nas políticas públicas de mobilidade. O último Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), de 2008, aponta as diretrizes para o sistema viário com projeções até 2020. O plano indica as intervenções viárias, mas também aponta alternativas para o pedestre e o ciclista. E na parte que cabe ao transporte individual, que acaba sendo a maior par-

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 30 de agosto de 2011

te, é necessário também um eficiente trabalho na engenharia de tráfego. Na quinta edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, esse foi o principal tema da pauta, com discussões em torno da capacitação dos agentes e da tecnologia disponível para atuar na fiscalização. Para enriquecer o debate, o Diario foi a São Paulo conhecer o funcionamento da engenharia da maior cidade do país. Temos muito a aprender.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, terça-feira, 30 de agosto de 2011 DIARIOd

CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã No site www.transitolivre.com o internauta acompanha em tempo real a situação do trânsito e calcula melhor sua rota

T

odo brasileiro é um pouco técnico de futebol. No trânsito, não é muito diferente. Todo mundo opina. Mas pelo menos em um aspecto, a operacionalização do tráfego pode estar ao alcance dos dedos. Na quinta edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados, que tratou da questão da engenharia de tráfego, uma ferramenta cada vez mais poderosa, a internet, se torna parceira para driblar os gargalos no trânsito. No site www.transitolivre.com, os internautas podem traçar suas rotas e acompanhar em tempo real qual delas oferece a melhor opção de trafegabilidade. Pelo menos no próprio trajeto, o motorista é sim um engenheiro do seu tráfego. Além da internet, o celular, o rádio e a televisão são ferramentas que ajudam na guerra diária para vencer as distâncias. O estado caminha para atingir a marca dos dois milhões de veículos e mais da metade circula na Região Metropolitana do Recife. Não por acaso, é cada vez mais comum os motoristas caírem nas armadilhas das rotas alternativas. O que é bom em um dia, pode não ser necessariamente no outro, e o motorista corre o risco de ser surpreendido com

Seja engenheiro do seu percurso TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS

Para ter acesso aos dados, usuário precisa fazer um cadastro simples mais um engarrafamento. Na plataforma do site é possível escolher os caminhos mais livres e acompanhar o comportamento do tráfego a qualquer hora do dia e da noite. “Acho que é uma excelente contribuição para a melhoria da mobilidade na nossa cidade”, ressaltou o vereador Maré Malta, autor de um projeto de lei que pretende criar escalonamentos de horários para as escolas e o funcionalismo público no sentido de reduzir os fflu luxos nos horários de pico. Para o especialista em trânsito e professor de engenharia das universidades Federal e Católica de Pernambuco, Maurício Pina, o site é um instrumento que ajudará a reduzir as vias engarrafadas. “Se o motorista consegue saber com antecedência onde há gargalo, ele tem condições de evitar essa via e, dessa forma, será um carro a menos para contribuir com os engarrafamen-

>> acesse

www.transitolivre.com Confira as melhores opções de trajeto para evitar congestionamentos

A população também poderá participar, enviando informações: pelo telefone 3421-4244 pelo twitter @transitolivrepe

Maria de Pompeia, presidente da CTTU, elogia iniciativa tos”, destacou Pina. As principais vias da Região Metropolitana do Recife são apresentadas no site sob quatro cores, que indicam as condições do tráfego. Na página, também é possível acompanhar as imagens das câmeras da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), atualizadas minuto a minuto. E ainda observar, em uma única tela, a situação dos principais corredores viários do Grande Re-

Informação móvel é tempo ganho Os caminhos mais curtos nem sempre são as melhores opções. A estudante do curso de direito Cláudia Maria Borba, 26 anos, mora na Zona Norte do Recife e estuda no centro. Para se informar sobre o trânsito, ela costuma acessar o Twitter. Acho mais prático e não perco tempo”, afirmou. “Hoje é mais fácil ter acesso a essas informações e isso significa também menos tempo no trânsito”, disse. A presidente da CTTU, Maria de Pompéia, considera importante a

JULIO JACOBINA/DP/D.A.PRESS

Sérgio Baptista, da SegSat, parceira do pernambuco.com na oferta do serviço

população dispor das mais diversas ferramentas para se informar sobre o trânsito, mas faz um alerta. “A CTTU entende que a população precisa estar bem informada. Mas é importante lembrar que as consultas aos celulares devem ser feitas antes de as pessoas comecomeçarem a dirigir. Ou seja, o uso do celular só deve ocorrer se o carro estiver estacionado. Não é permitido usar o aparelho quando o sinal fecha ou o trânsito estiver parado”, ressaltou Maria de Pompéia.

cife. O conteúdo do site também pode ser acompanhado pelo programa Trânsito Livre, na Rádio Clube AM (720 khz), das 7h às 9h f lashes na programação. e com flashes Além de informar os possíveis caminhos, o transitolivre.com calcula, de acordo com a velocidade desenvolvida na via, no horário da consulta, o tempo esperado para que a pessoa chegue ao seu destino. “Dessa forma, você personaliza a busca de trajetos e recebe in-

Maurício Pina acredita que um carro a menos faz diferença formações definidas sobre qual caminho tomar no dia específico da consulta. Por ser muito dinâmico, isso muda com facilidade. Um dia, será melhor seguir pela Imbiribeira, no outro, pela Avenida Conselheiro Aguiar. O site é que vai ajudar nessa decisão”, explica o diretor da SegSat, Sérgio Baptista. A empresa é parceira do Pernambuco.com na disponibilização do serviço. Para ter acesso aos dados, o usuário deve reali-

LUCAS OLIVEIRA/ESP. DP/D.A PRESS

Cláudia Borba acessa o Twitter porque acha mais prático

zar um cadastro simples no site, informando seu CEP e, então, poderá adicionar seus endereços preeferenciais, como residência, trabalho e escola dos filhos. Com as informações na tela, o usuário consegue obter até duas alternativas de trajeto. Segundo Sérgio Baptista essa limitação foi uma opção para evitar o congestionamento do sistema. “De qualquer forma as pessoas podem criar roteiros diversos”, explicou.

por SMS número 50056 (custo de R$ 0,31 + impostos)

pelo site radioclubeam.com.br

Programação Rádio Clube AM (720khz) das 7h às 9h e flashes a partir das 14h Apresentação: Kaká Filho (manhã) e Eduardo Lima (tarde) REPRODUÇÃO ODUÇÃO TRANSIT TRANSITOLIVRE OLIVRE..COM OLIVRE REPR

personaliz sonalizar ar busca busca de trajeto trajetoss na página Motorista pode per


especial 3

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desafios para o trânsito do amanhã

Capacitação para quem está na linha de frente

BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS

Estudiosos defendem a especialização dos agentes de trânsito. Parceria entre CTTU e universidades pode sistematizar formação

A legislação e os agentes de trânsito No Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o artigo nº 280 determina que a autoridade de trânsito pode designar para a função de agente de trânsito, o servidor civil, estatutário, celetista e ainda o policial militar

E

m uma metrópole que recebe quase um milhão de veículos, a operacionalização do tráfego exige cada vez mais um trabalho especializado. Uma das grandes polêmicas em relação à municipalização do trânsito está na capacitação dos agentes de trânsito. Na maioria das cidades brasileiras, o guarda municipal atua no trânsito. No Recife não é diferente. Embora não haja consenso sobre o exercício da função, o próprio Código Brasileiro de Trânsito (CTB) deixa uma brecha, no artigo 280, admitindo que a autoridade de trânsito tem o poder de designar para a função o servidor civil, estatutário, celetista e ainda o policial militar. Segundo o professor de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Oswaldo Lima Neto, a engenharia de tráfego é uma das disciplinas do curso de engenharia e exige uma especialização. “Trânsito é uma

+ saibamais

Já a Constituição Federal de 1988 diz, no parágrafo 8º do artigo 144, que a guarda municipal tem a função de guardar e zelar pelo patrimônio Para o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) o entendimento é o mesmo da Constituição Federal e não reconhece o guarda municipal como agente de trânsito

Falta de gestão na operação do trânsito e ausência de estrutura de pessoal e equipamentos comprometem eficiência coisa muito complicada e requer um pessoal especializado. É necessário um quadro concursado com agentes de trânsito e não guardas municipais. Eu acho que guarda tem outra função”, criticou. Para ele, uma das grandes falhas na questão do trânsito é a falta de gestão na operação e

ausência de uma estrutura adequada tanto de pessoal quanto de equipamentos. Na quinta edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, uma das propostas apresentadas foi a criação de uma parceria entre a academia e a Companhia de Trânsito e Transporte

Urbano (CTTU). O professor de engenharia das universidade Federal e Católica de Pernambuco Maurício Pina sugeriu a criação de um núcleo de capacitação. “Nós precisamos formar pessoas capazes de atuar no trânsito em todos os níveis, desde o agente de trânsito até os gestores”, expli-

cou. A presidente da CTTU, Maria de Pompéia, aceitou as críticas. “Acho que essa parceria com a academia é importante e nós aceitamos. Além disso, estamos realizando um concurso até o fim deste ano para melhoria do quadro técnico da CTTU”, afirmou Pompéia.

O Denatran, no entanto, não interfere diretamente nas políticas municipais e a maioria dos municípios brasileiros usa a guarda municipal como agentes de trânsito. É o caso de Recife. O curso para formação do agente de trânsito feito pela própria CTTU tem duração média de 122 horas Fonte: CTTU e Denatran


4 especial

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TANIA PASSOS/DP/D. A PRESS

TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Com sete milhões de carros nas ruas, São Paulo possui seis centrais de monitoramento, a maior cobrindo 868Km. No Grande Recife, uma central controla 500 mil veículos

O Big brother por trás do fluxo nas vias Monitoramento permite identificar o problema e remover o obstáculo que provoca o congestionamento

U

m carro quebrado em uma via de flux f luxo intenso ou estacionado de forma irregular é uma faixa a menos e congestionamento na certa. E o motorista que está em meio ao caos costuma se perguntar se ninguém da central de operação de tráfego está vendo aquilo? Uma das premissas básicas da engenharia de tráfego, segundo os especialistas, é identificar o problema e remover rapidamente qualquer obstáculo que esteja impedindo o fluxo normal das vias, seja um carro parado no meio do caminho, um acidente ou até buracos na pis-

ta. Para que isso ocorra são necessários dois requisitos básicos: que as autoridades de trânsito tenham conhecimento do que está acontecendo e disponham dos elementos necessários para resolver o problema. O Diario foi até a central de operação de tráfego da maior metrópole do país para conhecer de que forma funciona a gestão do trânsito em uma cidade que já superou a marca dos sete milhões de veículos. Se em São Paulo os engarrafamentos costumam ser medidos por quilômetros, imagine o que seria da cidade sem o eficiente sistema de monitoramente de tráfego existente. São seis centrais de monitoramento. A maior delas fica no centro da capital e cobre uma área de 868 quilômetros. Para isso, conta com 360 operadores em quatro turnos, nos sete dias da semana, 356 câ-

meras e dois mil agentes. Outra ferramenta que ajuda a enxergar o que está acontecendo no trânsito, são os Postos Avançados de Comunicação (PAC), que funcionam em 32 edifícios da capital. Ou seja, os prédios servem de postos de observação com agentes de

Carro quebrado ou parado em uma via de movimento é certeza de “nó” trânsito munidos de binóculos e rádio para avisar se alguém está fazendo besteira no trânsito. “Se um carro estacionar em uma via de trânsito intenso, isso significa três quilômetros de engarrafamento e, para desfazer o nó, eu levo até uma hora”, expli-

Questão de (boa) educação Um dos trabalhos mais importantes da Central de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) está voltado para a educação no trânsito. No centro de treinamento da companhia funciona um verdadeiro laboratório do trânsito. As ações são voltadas principalmente para as crianças, mas há também cursos direcionados para adolescentes e adultos. O centro de treinamento tem agenda diária com alunos de escolas públicas ou privadas. O primei-

ro contato deles ocorre com as normas de trânsito. O trabalho impressiona não apenas pela curiosidade natural que é despertada, mas também pela vontade que eles têm de fazer o que é certo. Depois de uma breve palestra, eles seguem para a cidade cenográfica com vias urbanas. Usar a faixa de pedestre e prestar atenção nas cores dos semáforos são parte da brincadeira educativa. “Gostei muito e aprendi que não pode atravessar a rua fora da faixa de pe pe--

destre e, se não tiver faixa, tem que atravessar longe das curvas”, afirmou Daiane Vitória, 9, da escola municpal Fagundes Varela. O centro de treinamento foi implantado em 1991. A última campanha da CET é sobre o respeito à faixa de pedestre. “A CET está sendo pioneira nesse trabalho e a gente percebe que há uma preocupação também da população em participar”, afirmou Irismar Menezes, gestora de educação da CET.

cou Hércules Justino, superintendente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET - SP). Além da própria infraestrutura de 20 guinchos entre médios e grandes, a CET licitou empresas para serviços terceirizados de guincho e até limpeza das vias, em caso de acidente. “Imagine se um caminhão tomba e despeja óleo na pista. A gente tem uma empresa contratada para fazer essa limpeza, do contrário, a via não seria desobstruída”. Há ainda uma interação com os bombeiros, a polícia e outras secretarias municipais. “Se tivermos problema de buraco em via que esteja atrapalhando o trânsito, a gente entra em contanto com a empresa de manutenção”, afirmou. Em São Paulo, a chuva é outro fator complicador e mais do que congestionamentos há o risco de enchentes. “Algumas vias se trans-

formam em rios; antes, os carros eram arrastados, agora a gente tem a informação com antecedência do nível de inundação e fecha as vias. Ninguém passa até ser seguro”, detalhou. Com mais de 40 anos, a CET acumula experiência e tecnologia, mas tem como seu maior obstáculo o crescimento da frota. Para uma cidade com sete milhões de veículos e dois mil agentes de trânsito, a proporção é de um agente para cada 3.500 carros. No Recife, se contarmos somente a frota da capital de 500 mil veículos e 400 agentes, a proporção é de um agente para 1.250 carros. Por enquanto, a nossa situação está um pouco mais “confortável”, mas com a velocidade do crescimento da frota, ou seja, de cinco mil novos veículos por mês, essa margem não significa muito tempo. TANIA PASSOS/DP/D. A PRESS

Fonte: CTTU e CET

+ saibamais

Os números do Recife

216 km² de cobertura

1 central

de monitoramento de tráfego

500 mil veículos é a frota da capital

400 agentes 66 câmeras, sendo 27 com transmissão online

1 guincho

próprio de médio porte

4 guinchos

com uma empresa terceirizada (porte médio)

48 equipamentos eletrônicos

Os números de São Paulo

1,6 mil km² de cobertura

6 centrais

de monitoramento de tráfego

7 milhões de veículos

2 mil agentes

de trânsito (para toda a cidade)

356 câmeras

(da central do centro para uma área de 868 km)

20 guinchos

próprios - tamanhos médios e de grande porte

30 guinchos

de empresas terceirizados (médio e de grande porte)

19 painéis

de mensagens nas vias centrais

575 equipamentos

de fiscalização eletrônica

Da teoria, crianças treinam em uma cidade cenográfica


especial 5

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desafios para o trânsito do amanhã

Hora de inverter a lógica da mobilidade Passeios encurtados e alargamento de vias privilegiam o transporte individual. Pedestre nunca é levado em conta

+ saibamais

Desempenho da rede viária da RMR a partir do PDTU Estratégia Nada Fazer 2012 (ano base 2007)

200% de aumento de vias congestionadas na RMR 63% de redução de vias com boas condições de fluidez 83% de tempo tempo gasto a mais em vias congestionadas em relação a 2007

Estratégia Nada Fazer2020 (ano base 2007)

213% de aumento de vias congestionadas na RMR

64% de redução de vias com boas condições de fluidez 96% de tempo gasto a mais

nas vias congestionadas em relação a 2007

Benefícios da estratégia selecionada em 2020 com as intervenções propostas

75% de redução das vias

congestionadas na hora de pico

185% de melhoria de fluidez nas vias com boas condições de tráfego

61% de economia de tempo

em vias congestionadas em relação ao nada fazer em 2020

Benefícios da estratégia selecionada em 2012 com as intervenções propostas

63% de redução de vias

congestionadas na RMR em relação a estratégia do nada fazer

148% de melhoria de fluidez

das vias em boas condições de tráfego

69% de redução do tempo nas

vias em relação a estratégia do nada fazer em 2012 Fonte: PDTU

RICARDO FERNANDES/P/D. A PRESS

N

ão há como ser diferente. A escolha das políticas públicas de mobilidade traz consequências diretas no tipo de mobilidade que nós temos. A aposta do poder público, nas últimas duas décadas, pelo menos, tem sido pelo transporte individual. Especialista em mobilidade urbana, o engenheiro e consultor Germano Travassos destacou algumas intervenções viárias no Recife que mostram essa tendência. Ele fez um recorte em um raio de 1,2 quilômetro, no entorno do Terminal Integrado Joana Bezerra, que tem um público diário de cerca de 40 mil pessoas. O especialista aponta que, mesmo sendo um dos terminais com maior movimento na cidade, as intervenções feitas no entorno privilegiaram o transporte individual. E ele destaca: as pontes Joaquim Cardoso e Gregório Bezerra, o alargamento do Viaduto Capitão Temudo e a implantação da Via Mangue. “Tanto o pedestre como o passageiro de ônibus não receberam nenhum tipo de benefício a exemplo de ciclovias ou melhoria nas condições do próprio terminal”, avaliou Travassos. O Terminal Joana Bezerra é um dos 11 que irão receber intervenção do governo do estado com recursos avaliados em R$ 44 milhões nos 11 equipamentos. “Foram necessários 14 anos para finalmente os terminais serem contemplados com investimento. Para se ter uma ideia, esses recursos equivalem a uma única intervenção para o transporte indivual como é o caso do alargamento do Capitão Temudo”, comparou o especialista. Entre as intervenções viárias equivocadas para a mobilidade, segundo Germano Travassos, um dos palestrantes da 5ª edição do FóFórum Desafios para o Trânsito do

Congestionamentos na Avenida Herculano Bandeira, no Pina, não acabaram com as intervenções viárias Amanhã, está a Avenida Herculano Bandeira, no Pina. A via teve os passeios encurtados nos dois sentidos para priorizar o transporte individual e mesmo assim não conseguiu acabar com os problemas de congestionamentos. “O pedestre não é levado em conta. O passeio é estreito e com obstáculos, e para piorar, a via exclusiva de ônibus foi desativada e o transporte individual também ocupa a faixa do ônibus. Ou seja, regredimos”, aponta o especialista. Dentro da política de oferecer melhores condições de mobilidade, ele aponta ainda a ausência de estacionamentos para bicicletas. “O Terminal Integrado de Igarassu, por exemplo, tem uma vo-

cação para receber ciclistas, que não é aproveitada. Não há um local apropriado e mesmo assim os ciclistas improvisam um estacionamento”, revelou. Além dos ciclistas, os terminais integrados poderiam também oferecer opção para os motoristas que quiserem deixarem o carro e pegar o transporte público. Aliás, sobre isso, houve uma tentativa na década de 1980 que acabou não vingando no estacionamento do Terminal Integrado Joana Bezerra. “Era uma ideia boa, mas fora do seu tempo. Hoje ela precisaria ser repensada”, apontou o deputado estadual Ricardo Costa (PTC), da comissão de mobilidade da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

>> automóveis em 1º plano 5 3 Linha do Metrô

1

4

2

(1) TI Joana Bezerra, (2) Alargamento do Viaduto Cap. Temudo, (3) Sistema Viário de J. Bezerra, (4) Pte. Joaquim Cardoso, (5) Pte. Gregório Bezerra, (6) Via Mangue, (7) Túnel sob Av. Herculano Bandeira

6 7

Plano Diretor ainda é só um documento As políticas públicas não nascem do dia para a noite. É preciso um planejamento. O último Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), concluído em 2008 e tendo como base as projeções de 2007 até 2012 e 2020, serve de instrumento para os gestores públicos direcionarem os investimentos viários. A coordenadora do PDTU, Regilma Souza, explicou, durante o fórum, que foram analisadas duas conjunturas: a

primeira com a realização das intervenções e a segunda com a estratégia do nada fazer. O estudo teve como base o ano de 2007 e aponta que o desempenho das vias, no caso de nenhuma intervenção ser realizada até 2012, sofrerá um aumento de 200% de congestionamento e uma redução de 63% das que estão em boas condições de uso. Já o tempo gasto em vias congestionadas sofrerá um aumento de

83% em relação a 2007. Passados mais da metade do prazo para a primeira projeção, as intervenções previstas não foram concluídas e a maioria das obras sequer iniciadas. O cenário preocupante tem a seu favor o plano de mobilidade para a Copa de 2014. O PDTU indica, por exemplo, a implantação de corredores exclusivos de ônibus, integração dos terminais de ônibus com o metrô, expansão da linha do metrô

(concluída), e melhoria da rede viária com a construção de viadutos, duplicação de trechos já saturados, implantação da 3ª perimetral e a construção de uma via metropolitana, para desafogar o trânsito da BR 101, que passa em zonas urbanas. Também está previsto no PDTU, a implantação da 4ª perimetral, que está em projeto, o contorno Recife da BR-101. Ainda sem uma fonte de recursos definida. “Já se

fala na 5ª perimetral, que será o anel viário, mas a 2ª e a 3ª não foram concluídas”, criticou Regilma Souza. Para garantir a mobilidade, os investimentos previstos pelo PDTU estão orçados em R$ 3,5 bilhões. Desses, R$ 2,5 bilhões deveriam ser aplicados até 2012 e R$ 1 bilhão até 2020. A maior parte dos recursos está prevista no Pacto de Aceleração de Crescimento da Copa. A estimativa é de aplicar 63% dos recursos.


CADERNO ESPECIAL

GREG/DP

DOMINGO

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 25 de setembro de 2011

Motos:

contra a barbárie, a educação As mortes no trânsito provocadas por acidentes de motos em Pernambuco são uma das faces mais cruéis da explosão do aumento da frota, que vem crescendo mais de 300% a cada década. E a quantidade de mortes já chegou a números alarmantes. No ano de 2010 foram registradas 571 mortes, uma média de 1,5 por dia. No mesmo ano, a frota alcançou 639 mil motos. Na década de 1990, a diferença entre carros e motos era de 90%, hoje já reduziu essa distância para cerca de 30%. EXPEDIENTE:

A explosão do aumento na forta não veio acompanhada de um aspecto fundamental: a formação dos condutores. Os própriosmotociclistasadmitemafragilidade dapreparaçãoeoteste do Detran não é suficiente para medir a habilidade. O resultado pode ser visto nas ruas com motociclistas mal preparados eimprudentese,oqueépior,transformadosemarmasletaiscontra eles mesmos e terceiros. Mesmo sem a exigência da lei, os próprios motociclistas estão se organizando em clubes e pas-

sandoaofereceralternativasdereciclagemparaumadireçãosegura. Eles também chamam atenção da responsabilidade dos fabricantes em relação aos equipamentos de segurança. NasextaediçãodoFórumDesafiosparaoTrânsitodoAmanhã nhã,, promovido pelos Diários Associados, as motos foram o temadadiscussão.Paratentarreverteroquadro,ogovernodoestadoinstituiuoComitêdePrevençãodeAcidentesdeMoto,com a meta de reduzir pela metade as mortes em até 10 anos.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 25 de setembro DIARIOd

de 2011

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

Adrenilson Gonzaga sofreu uma fratura na perna, foi operado e deve ficar um bom tempo no hospital

A sorte dos sobreviventes Na Traumatologia do HR, mais de 80% dos internados são vítimas de acidentes de motos. Recuperação costuma ser longa e incerta

A

emergência da traumatologia do Hospital da Restauração está quase sendo chamada de emergência de traumas de moto. Mais de 80% dos atendimentos são de vítimas de acidente de motocicleta, que ocupam praticamente todos os leitos, todos os dias. Na última segunda-feira, o Diario foi conhecer as histórias dessas pessoas, vítimas do mesmo tipo de trauma, e que passaram a dividir suas dores, suas esperanças e expectativas enquanto se recuperam em uma cama de hospital.

Apesar das sequelas, muitos acidentados voltam a pilotar Há oito meses internado, o exmotociclista José Romariz Rêgo, 42 anos, assiste à chegada de novos pacientes. Alguns conseguem ter alta antes dele. José sofreu um acidente no dia 28 de janeiro deste ano, na Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Ele havia pego carona na moto de um amigo e viu quando um carro entrou na contramão e atingiu os dois em cheio. Desde que foi internado, ele já passou por seis cirurgias, mas acabou perdendo a perna esquerda. A amputação havia ocorrido quinze dias antes de nossa chegada ao hospital. O ex-motociclista estava conformado, mas inseguro quanto ao futuro. “Eles fizeram de tudo para salvar a minha perna, mas não teve jeito. O importante é que estou aqui. Muitos morrem no acidente. Só não sei como será minha vida daqui para frente”. Casado e

Internado há oito meses, José Romariz perdeu a perna depois de passar por seis cirurgias pai de quatro filhos, ele e a mulher costumavam usar a moto como meio de transporte . “Perdi a perna, mas mesmo se não tivesse perdido não iria mais usar moto. Minha esposa também não quer mais. Foi preciso isso acontecer para gente entender que o risco é muito grande e eu poderia ter morrido”, afirmou. Nem todas as vítimas de acidente de moto pensam assim. O mototaxista de profissão Adrenílson Ramos Gonzaga, 26 anos, foi internado no HR no dia 30 de agosto deste ano. Ele sofreu fratura na perna, foi operado e deverá ficar um bom tempo internado. “Uma moto bateu de frente com a minha. Eu desmaiei e acordei no hospital. Mas ainda acho a moto um meio de transporte seguro. O motoqueiro que bateu em mim estava bêbado. Quando eu sair daqui volto a pilotar”, disse. Tamanha disposição também pode ser vista no motoqueiro Ediclei dos Santos da Silva, 25 anos, que sobreviveu a um acidente por quase milagre. A moto de Ediclei também se chocou com outra. O outro piloto morreu. Ele passou dois meses em

coma e teve perda temporária da memória. Internado desde o dia 1º de agosto, está quase recuperado. Só continua preso à cama devido a uma fratura na perna e outra no braço. “Só é o tempo de sair daqui para subir na moto. Na minha opinião, é o melhor meio de transporte e de trabalho. Não tem outro”, afirmou Ediclei. Se depender da mãe, ele terá que procurar outra profissão. “Não quero que ele volte a andar de moto. Muita gente está morrendo”, revelou Maria de Fátima dos Santos Nevez, 45 anos. Cirurgião há 21 anos do Hospital da Restauração, o médico João Veiga, atual coordenador do Comitê de Prevenção de Acidente de Motos, diz que já perdeu as contas de quantas vezes teve que comunicar a um pai ou uma mãe a morte do filho, vítima de acidente de moto. “A gente faz de tudo para salvar e, quando não consegue, chega o pior momento de dar a notícia. Hoje me recuso a fazer isso. Designei essa função a um residente. Já dei minha contribuição por 21 anos. Tenho filhos adolescentes e me coloco na posição dos pais”.

+ saibamais Radiografia dos acidentes de moto em PE

8.700

atendimentos em 2010

571 mortes 30%

das vítimas apresentavam sinais de embriaguez

70%

não eram habilitadas

Ediclei dos Santos da Silva ficou dois meses em coma

Motos ganham espaço nas vias Em 1990, Pernambuco tinha uma frota de apenas 33.381 motos. Dez anos depois houve um salto para 144.804, um aumento de 334%. Era o início de uma explosão no consumo, que encontrou terreno em duas conjunturas: a facilidade na compra do veículo com prestações a perder de vista e a corrida para escapar do transporte público a qualquer preço. Não deu outra. De 2000 a 2010, houve mais 341% de aumento da frota que passou, no ano passado, para 639.404 motos. A cada ano, o acréscimo surpreende. De 2008 para 2009 houve um aumento de 83.096 novas motos. De 2009 a 2010 esse aumento chegou a 99.020 e a tendência é aumentar ainda mais. Apesar de ser um veículo pequeno de fácil locomoção, a moto chega a ocupar 4 vezes mais espaço que o ônibus nas vias. Para ser controlada, essa “epidemia” deve seguir alguns caminhos. O primeiro é a melhoria do transporte público. A moto ou o carro não podem ganhar para o ônibus ou o metrô. “Na moto eu chego mais rápido ao trabalho. Se for depender do ôni-

bus, vou perder muito tempo”, revelou o motociclista Rozano Gomes, 39 anos. A expectativa da melhora do transporter público deve vir com os investimentos para a Copa de 2014. O estado, o município e o governo federal anunciaram investimentos na ordem de R$ 1,3 bilhão na infraestrutura viária de transporte, que inclui corredores exclusivos, paradas em nível, hora de chegada e partida e, de quebra, a implantação do projeto de navegabilidade para a parte Oeste da cidade. “Não estamos defendendo que as pessoas deixem de comprar carro ou moto. Mas esses podem e devem ter outra utilidade, como por exemplo o lazer. Nas atividades do dia a dia, o transporte público deve ser prioridade e com qualidade”, declarou o presidente do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, o engenheiro Laédson Bezerra. O outro viés é o da educação e fiscalização. “Nós vamos direcionar as ações do comitê de Prevenção de Acidentes em dois pilares: educação no trânsito e fiscalização”, detalhou João Veiga, coordenador do comitê estadual.

Evolução da frota de motos em PE 701.139 motos

11%

639.406 motos

das vítimas ficaram mutiladas

20%

(até o mês de agosto)

dos atropelamentos de pedestres nas calçadas são por motociclistas

77%

dos acidentes deixam os pacientes em estado muito grave

Fonte: João Veiga, em pesquisa no HR

33.381 motos 1990

144.804 motos 2000

2010

2011

Fonte: Detran - PE


especial 3

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 25 de setembro de 2011 DIARIOd

ALEXANDRE GONDIM/DP/D.A PRESS - 03/07/2008

desafios para o trânsito do amanhã

entrevista >> Moacir Alberto Paes

“Não há estudo sobre a causa dos acidentes no país” JULIO JACOBINA /DP/ D.A PRESS

Vilã ou vítima? Estigmatizada, em função da quantidade de vítimas no trânsito, a moto vem se transformando em alvo fácil de críticas. Mas a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motos (Abraciclo) questiona a ausência de um estudo da causa dos acidentes. De fato não existe. Também não há hoje um padrão de fiscalização que seja capaz de identificar as condições do veículo e do condutor. Na entrevista abaixo, o diretor executivo da Abraciclo, Moacir Alberto Paes, fala sobre o que poderia ser melhorado na fiscalização e capacitação. Há muito o que ser feito e os fabricantes também preci-

Quando há um acidente com moto ninguém investiga se ela estava com defeito”

sam ser chamados para fazer a parte deles.

Diretor da Abraciclo critica a falta de um padrão na fiscalização de veículos e condutores

O senhor concorda com a tese de que a moto é a grande vilã no trânsito? E ela é? Porque não há nenhum estudo de causa dos acidentes no Brasil. Não sabemos ao certo se a responsabilidade é do condutor ou do veículo, ou ainda de terceiros. Um buraco na pista, por exemplo, pode ser um causador de acidente.

Na sua opinião, a fiscalização precisaria ser mais rigorosa? Sim. Quando há um acidente envolvendo moto ninguém investiga se a moto estava com defeito. Em alguns casos é possível identificar se o condutor estava ou não alcoolizado, mas a moto não é fiscalizada.

rar a qualidade e os acessórios serem obrigatórios no ato da venda do produto. É preciso que tenha uma regulamentação sobre isso, uma vez que não é permitida a venda casada. E não é certeza se fosse oferecido um capacete básico junto com a moto, se o motociclista iria utilizar.

Em relação aos itens de segurança da moto, os fabricantes não poderiam melho-

De que forma os fabricantes podem colaborar na redução dos acidentes?

O motociclista brasileiro é preparado o suficiente na

hora de tirar a carteira de habitação? Há uma grande lacuna na capacitação. O que importa é passar no teste do Detran. Tem uma piada conhecida que diz que basta saber fazer o oito para passar no teste. E isso, claro, não mede a capacidade do condutor. Em São Paulo, por exemplo, não sei aqui, mas lá tem motociclista que altera a moto para que ela acelere mais e então fica mais fácil de passar no teste da rampa.

Nós estamos abertos a colaborar no que for possível. E já fizemos algumas iniciativas por conta própria, inclusive com a realização de mutirão para fiscalizar as condições das motos. Foram observados 21 itens de manutenção em alguns estados brasileiros. Aqui, por exemplo foi observado que se quebra mais a coroa e a corrente. Não sabemos ao certo a razão, que precisa ser melhor investigada. Em São Paulo são os freios que são mais danificados.

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4 especial

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desafios para o trânsito do amanhã

+ saibamais

Condutores mal preparados e a falta de equipamentos de segurança nas motos reforçam as estatísticas

Dicas de como pilotar com segurança: Não passe em alta velocidade entre os carros. Numa emergência, você pode precisar frear rápido. E frear acima dos 30 Km/h entre os carros pode ser muito difícil

A

epidemia social resultante do crescimento da frota de motos no estado respinga responsabilidade para todos os lados. Não há um único culpado. O efeito dominó tem raízes que se iniciam desde a ausência de uma formação adequada dos condutores, da não disponibilização, pelos fabricantes, dos equipamentos de segurança e da falta de responsabilidade de motociclistas, motoristas e pedestres. A resolução nº 356/2010 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) define os requisitos de segurança, por exemplo, para motofrete e mototáxi: protetor de pernas e motor, aparador de linha (corta-pipa), faixas refletiv ef letivas e dimensões das cargas e alça para apoio dos passageiros, entre outros. A resolução, no entanto, não aponta até onde vai a responsabilidade do fabricante. “Os itens de segurança da moto eram para vir junto com a moto. Ninguém compra um carro faltando o cinto de segurança. A nossa legislação é omissa na hora de chamar os fabricantes à responsabilidade”, criticou o motociclista e conselheiro de segurança do Clube Bodes do Asfalto, Aílton Martins Cezar. A crítica de quem está numa guerra diária no trânsito é também em relação à falta de formação dos condutores. E nesse quesito a lacuna é talvez a mais danosa, uma vez que traz consequências, em geral, irreversíveis para o próprio condutor ou terceiros. “Ninguém aprende a conduzir nos cursos das autoescolas. A pessoa aprende apenas a passar e as autoridades sabem disso e não fazem nada para mudar”, afirmou Aílton Cezar. E ele não é o único. O próprio diretor de fiscalização do Detran, Sérgio Lins, admite que a formação não é suficiente. “São escolas de habilitação. Não de formação”, revelou durante uma audiência públi-

A velocidade boa é pouco acima da velocidade dos carros. Se eles estiverem parados o perigo é dobrado Os motoristas podem abrir a porta do carro, colocar o braço para fora, ou uma criança pode colocar a cabeça para fora Cuidado ao passar ao lado de ônibus parados. Algum motorista pode passar pela frente dele tentando atravessar a rua e dar de cara com você

Tragédia em efeito dominó ca sobre os motociclistas na Câmara de Vereadores. A educação no trânsito é um dos pilares do Comitê Estadual de Prevenção de Acidentes. Segundo o coordenador e médico João Veiga, será feito um trabalho junto às escolas. “Somente este ano, nós teremos 60 escolas que irão adotar a disciplina de educação no trânsito, mas a proposta é ampliar para todos os níveis de ensino”, revelou. Dentro do tema de educação, o motociclista Aílton Martins Cezar acredita que é uma oportu-

nidade de se repensar a formação dos condutores. “O estado precisa fiscalizar e tornar obrigatória uma formação mais completa para os condutores. Não adianta criar metas de redução da mortalidade se não se combater a raiz do problema”, ressaltou. E a raiz pode ser o próprio condutor. “Eu costumo dizer que a moto sozinha não oferece nenhum risco. Mas uma moto com um condutor mal capacitado é tão perigosa quanto uma arma carregada”, comparou Moacir Alberto Paes, da Abraciclo.

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A. PRESS

Qual a parte que cabe a cada um de nós? Do estado, a capacitação dos condutores, a educação da disciplina trânsito na rede escolar e, ainda, a fiscalização. A parte que cabe aos condutores é pilotar com responsabilidade, participar dos cursos de capacitação, entender a lógica da direção defensiva e saber se comportar no trânsito em meio a uma selva de carros. Aos motoristas, a responsabilidade no trânsito requer também um detalhe básico de respeito aos

veículos menores e ao pedestre. O pedestre também precisa saber ocupar o seu espaço no trânsito e isso significa usar a faixa e os passeios. “Precisamos fazer um trabalho de base. Há registro de que 20% dos atropelamentos de pedestres nas calçadas são feitos por motociclistas. Ninguém está respeitando o espaço de ninguém e é claro que isso não pode continuar assim”, ressaltou João Veiga, do Comitê Estadual de Prevenção de Acidentes.

É mais fácil “rolar” por baixo de um ônibus do que de um carro Observe os retrovisores. Se entortar o restrovisor de um carro, pare e arrume. Se quebrar, seja honesto e pague Não tire “onda” com a cara dos motoristas presos no engarrafamento. Eles com certeza já estão muito revoltados por estarem presos no trânsito Não pare para discutir. Não vale a pena jogar fora seu tempo em discussões que não trazem benefício algum A velocidade no trânsito depende muito da capacidade de frenagem da sua moto, e da sua habilidade, que você como bom motociclista, deve conhecer e reconhecer sempre Não pare a moto em cima da faixa de pedestre. Você se arrisca a ganhar uma multa e não ganha mais tempo com isso

Em 20 anos, frota de motos no estado cresceu 600%

Desafio para todos O aumento da frota de motos no estado cresceu mais de 600% nas duas últimas décadas. É o segundo tipo de veículo em maior número no estado. Só perde, por enquanto, para o carro. Uma diferença de menos de 30%. Em 1990, essa diferença era de quase 90%. “As motos vieram para ficar. É preciso saber conviver com elas e cada um deve fazer a sua parte”, afirma o conselheiro de segurança do clube Bodes do Asfalto, Aílton Martins Cezar.

Se você se desequilibrar entre um carro e um ônibus, opte por se encostar no ônibus. Ele tem a superfície mais lisa e poucos pontos para prender sua moto

O certo é parar longe do sinal (semáforo). Isso também evita a situação desagradável do motor morrer na frente de todo mundo À noite é recomendável não parar “em cima” do sinal. Os assaltos acontecem nestes pontos Se a a rua tiver pouco movimento, é melhor avançar o sinal do que ficar parado. Claro, olhando antes de avançar Fique atento ao retrovisor. Caso veja uma moto com dois ocupantes se aproximando, deixe a moto engrenada (aliás, deixe sempre engrenada) e prepare-se para acelerar

Diferença entre o número de carros e motos é de 30%

Fonte: Motoclube Bodes da Estrada (www.bodesdaestrada.com.br)


especial 5

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desafios para o trânsito do amanhã

Basta fazer o oito… LAIS TELLES/ESP. DP/D.A PRESS

Com cinco aulas práticas e o teste de condução no Detran, pode-se tirar a habilitação para moto

U

ma das maiores críticas em relação à formação dos motociclistas pelas autoescolas e centros de formação de condutor, para quem vai tirar a carteira de habilitação para moto, é quanto ao tipo de curso que é oferecido. A meta é deixar o aluno pronto para o teste do Detran, mas não necessariamente saber conduzir com segurança no trânsito. “É costume dizer que basta saber fazer o oito com a moto, que o candidato passa no teste”, declarou o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Moto (Abraciclo), Moacir Alberto Paes. Com 15 aulas práticas em uma autoescola, Andréa Sales, 28 anos, conseguiu tirar a carteira de habilitação para as categorias A e B, respectivamente, carro e moto.

Nova resolução do Contran deve melhor nível dos instrutores

Cerca de 70% dos candidatos são aprovados no exame, que consiste de desafios de equilíbrio, como curvas, zigue-zagues e subidas em rampas

Das quinze aulas obrigatórias, 10 ficaram para o carro e cinco para aprender a pilotar moto. E ela não teve dificuldade para passar. Não é um caso isolado. Dos 200 exames realizados por dia no Detran-PE, cerca de 70% são aprovados. Para o teste da moto, o desafio é fazer o oito, três curvas à direita e três à esquerda, um zigue-zague em dois cones e a subida na prancha acelerando sem desequilibrar. “Não me sinto pronta para as ruas. O aprendizado vai ser na prática”, admitiu Andréa. Os cursos oferecidos nas escolas e centros de formação estão de acordo com a resolução nº 168/2004 do Contran. Segundo o coordenador de educação de trânsito do Detran/PE, Marcelo Tenório, as cinco aulas oferecidas são suficentes para preparar o aluno. “Pilotar é uma questão intuitiva. O curso é suficiente se o instrutor preparar bem o aluno”. A segurança do coordenador de trânsito do Detran não parece condizer com o que acontece na prática. Basta olhar para as estatísticas dos acidentes. Um total de 8,7 mil atendimentos com vítimas de acidentes de moto em 2010. “Ninguém começa a dirigir um carro

com perfeição. Com a moto é a mesma coisa. A prática ensina”, afirmou Tenório. Se depender do que diz a resolução do Contran, no caso de mudança de classificação, isto é, de quem já dirige e vai tirar a carteira para moto, as aulas teóricas não são obrigatórias desde 1998. Mas, nesse aspecto, há chances de melhora. Uma nova portaria do Contran vai entrar em vigor em fevereiro de 2012. Trata-se da resolução nº 321/2012, que prevê reavaliação dos instrutores e examinadores dos testes. A expectativa é de que o nível dos instrutores e examidores passe a ser top de linha. “O Detran de Pernambuco está entre os seis detrans do Brasil que vão aplicar a nova resolução. Até o fim do ano, vamos implementar exames para instrutores e examinadores”, detalhou Marcelo Tenório, que integra o Comitê Estadual de Prevenção de Acidentes com Motos. Segundo ele, quem não passar no teste e for reincidente perderá a licença para ser instrutor. Isso dificilmente ocorrerá. Afinal, se um instrutor não consegue passar em um teste, não precisa dizer mais nada.

LAIS TELLES/ESP. DP/D.A PRESS

+ saibamais Você sabe quantos tipos de condução de motos existem? Condução Urbana: No trânsito urbano das cidades Nos fins de semana Lazer

Andrea tem a carteira, mas não se sente segura TANIA PASSOS/DP/D. A PRESS

Condução em BRs: Viagens Condução Off-Road: Trafegar em terrenos não pavimentados Condução Esportiva: Off-Road (Trilha, enduro, em competição de motocros) Autódromos (Tracky Days, competições)

Motociclistas chegam ao CET com muitos vícios

Exibições (Stunt Bikes, Manobras, Acrobracias, Arena Cross) Fonte: Motoclube Bodes da Estrada

Reaprendendo a pilotar De volta à sala de aula. O motociclista Everton dos Reis, 27 anos, pilota moto há dois anos, mas teve que se submeter a um curso oferecido pelo Centro de Treinamento da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), que ensina motociclistas, já habilitados, a enfrentar com segurança o trânsito de São Paulo. A exigência foi da empresa onde ele trabalha. “A firma mandou que todos os empregados que usam a moto como meio de transporte fizessem o curso de formação da CET. Aqui estou reaprendendo a me comportar no trânsito”, contou. Um dos ensinamentos do curso é em relação à frenagem. A moto tem três tipos de freios: dianteiro, traseiro e o freio motor. O instrutor da CET é categórico no primeiro dia de aula. “Esqueçam tudo o que vocês aprenderam para fazer o teste do Detran. Aqui vocês vão aprender a

pilotar com segurança”, afirmou o instrutor que não teve autorização para dar entrevista. Ele faz simulações de frenagem com a moto para mostrar como o veículo se comporta em diferentes velocidades e condições do piso. Outro ponto insistentemente repetido é quanto a obrigatoriedade do uso da viseira. “Os motociclistas chegam aqui com muitos vícios”, revelou a gestora de educação da CET, Irismar Menezes. No Recife, cursos do gênero são oferecidos pelo Sesc/Senat e o centro de treinamento de motos da Honda, em parceria com os clubes de moto. “Basta o motociclista se associar a um dos clubes que terá acesso gratuito. Depois da experiência, a maioria reconhece que não sabia pilotar”, contou Aílto Cezar, do Motoclube Bodes da Estrada. “Infelizmente a procura pelos cursos ainda é muito pequena”, revelou Lúcia Recena, gestora do trânsito em Jaboatão.


CADERNO ESPECIAL

JARBAS/DP

DOMINGO

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 16 de outubro de 2011

Leis não andam sozinhas

O Brasil tem uma das melhores legislações de trânsito do mundo.Aafirmaçãoéquaseumaunanimidadeentreosprofissionaisqueatuamnaáreadetrânsito.Masporqueseráquenós, cidadãos,nãosentimosissonaprática?Aocontrário.Osentimento coletivo é de que prevalece a impunidade, o que na verdade é umcontrassenso.Easestatísticasmostramisso:cercade40mil pessoasmorremporanovítimasdeacidentedetrânsitono país eosresponsáveisdificilmentevãoparaacadeia.Ondeerramos? Umaquestãoécert erta:nãobastaterapenasumaboalegislação.

EXPEDIENTE:

Éprecisoqueosestadosemunicípiosestejampreparadospara lidarcomumtrânsitoqueficamaioracadadia.EmPernambuco, dos 187 municípios apenas 26 tiveram o trânsito municipalizado.Edesses,apenas10funcionamefetivamenteintegrados.Falta de pessoal qualificado e infraestrutura adequada são algumas dasdeficiênciasdosmunicípios,queacabam nãoconseguindo melhorar a qualidade do trânsito. Outra questão que nos equipara a países bem menos desenvolvidos e nos distancia dos países do primeiro mundo: não

somoseducadosparaotrânsito.Sejacomomotoristaoupedestre. Aindapreferimos,porexemplo,tirar“vantagem”nahoradeestacionardeformairregular,atrapalhandootrânsito.Jáopedestre nãopensaduasvezesaoatravessarforadafaixa.Parafuncionar, a legislação tem que vir acompanhada de um tripé básico: estruturadosórgãosdetrânsito,educaçãodetrânsitonasescolas e fiscalização eficiente. Se a lei fosse cumprida, os motoristas “culposos” dariam lugar aos responsáveis, que já teriam entendido que trânsito seguro depende de todos nós.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos e Rafaella Magna Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

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desafios para o trânsito do amanhã

O difícil dilema da interpretação

FOTOS: RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS - 18/12/2008

Acidente provocado por Alisson Jerrar, que dirigia alcoolizado e matou uma pessoa , continua sem desfecho na Justiça

Não há consenso sobre a culpabilidade de um motorista que provoca mortes. Impunidade ou cumprimento da lei?

N

ão há unanimidade entre os juristas em relação a tipificação de crime em acidentes de trânsito. Mas na maioria das vezes, quem provoca o acidente, mesmo quando resulta em morte, é enquadrado em homicídio culposo (sem intenção de matar). A premissa é de que se a pessoa tivesse intenção de matar também correria o risco de morrer. Não por acaso, quase ninguém fica preso depois de um acidente. Onde não há culpa, em tese, não há punição. O primeiro caso em Pernambuco que veio de encontro a essa “regrinha” ocorreu em 2008, mais de uma década depois que o novo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) entrou em vigor. Mesmo assim permanece sem desfecho até hoje. O empresário Allisson Jerrar Zacarias se envolveu em um acidente de trânsito em dezembro de 2008, aos 21 anos. Ele voltava de uma festa às 5h45, segundo a perícia, dirigindo a mais de 100 quilômetros, quando avançou o sinal vermelho em um dos cruzamentos da Avenida Domingos Ferreira, Boa Viagem. A camionete que ele dirigia atingiu o pálio onde estavam Aurinete Gomes de Lima, 33 anos, o marido e

a filha. Aurinete morreu na hora. O empresário acabou sendo enquadrado no crime de homicídio doloso, no caso o dolo eventual (quando se assume o risco de matar), e pode ser o primeiro pernambucano a ir a júri popular em razão de um acidente de trânsito. A defesa recorreu e o jovem responde o processo em liberdade. Na época, o então presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, desembargador José Fernandes, chegou a dizer que a sentença tinha um apelo pedagógico para os motoristas que costumam dirigir alcoolizados. "A jurisprudência está mudando para entender que nos casos de delitos de trânsito com o motorista embriagado, ele assume os riscos. A temeemeridade da conduta desse condutor pode classificar um episódio de morte resultante de um acidente nessas condições como homicídio doloso", explicou. Para o advogado Paulo César, a lei não tem o papel de educar e sim de manter o estado de direito. “A educação é um papel do estado. Manter o estado de direito é respeitar os direitos de todas as partes. Por mais que exista um sentimento de querer fazer justiça de qualquer forma. A lei tem que ser imparcial”, avalia. O advogado diz que há uma diferença entre uma pessoa que mata em um acidente de trânsito e outra que aponta o revólver e atira. “Se alguém puxa o revólver para outro e atira, tem intenção de matar. Mas se você está com a arma e acidentalmente ela dispara, não

Rodrigo Lopes estava no carro (acima) com Allsson há intenção. No acidente de trânsito, a intenção da pessoa também deve prevalecer. Se ela atropelou alguém e matou, sem a intenção, não pode haver dolo”. Pode até ser, mas hoje o carro nas mãos de motoristas despreparados é sem dúvida uma arma, esteja ele com a inteção ou não de provocar acidentes. “Uma pessoa que bebe, pega o carro e dirige em velocidade é um criminoso. Ele não apenas está pondo a própria vida em risco, mas a de outras pessoas. Quem está no volante tem essa escolha”, ressalta Diza Gonzaga, da Fundação Vida Urgente. Ela perdeu o filho em um acidente de trânsito e ajudou a criar a fundação que leva o nome dele, Thiago de Moraes Gonzaga.

A jurisprudência está mudando para entender que nos casos de delitosdetrânsito com o motorista embriagado, ele assume os riscos ernandess, ernande Desembargador José Fernande ex-presidente do TJ/PE

Legislação ficou mais rigorosa O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) completou 14 anos. Entre os avanços na atual legislação, o advogado Paulo César destaca maior rigor para retirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Antigamente, a carteira tinha validade de até 20 anos. Hoje em dia, a cada cinco ou três anos é preciso fazer a renovação, e isso inclui os testes de aptidão física”, explica. Na opinião da presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Simíramis Queiroz, o CTB é completo também no que

diz respeito à formação dos condutores. “A legislação tem um rigoroso programa que deve ser cumprido pelos candidatos que vão tirar a CNH. Mas a questão que precisa ser colocada é se a legislação está sendo cumprida corretamente pelos centros de formação de condutores”, ressalta. Ainda segundo ela, cabe ao Detran esse tipo de fiscalização. Do ponto de vista das penalidades, o CTB contabiliza alguns avanços se comparado ao Código Penal. No artigo 121, parágrafo 3º

do Penal, o homicídio culposo pode resultar em pena de um a três anos. Já no artigo 302 do CTB, o homicídio culposo, no trânsito, pode resultar em pena de dois a quatro anos de prisão, suspensão e proibição da CNH. “No homicídio culposo a pena é aumentada de um terço à metade se o acidente ocorrer na faixa de pedestre”, explica o advogado. Nos casos de lesão corporal grave, o Código Penal prevê, no artigo 129, pena de dois meses a um ano. E no artigo 303 do CTB, a pe-

na é de seis meses a dois anos. “O CTB é bem mais rigoroso oso do que que o Código Penal. enal. Então, não se po po-de dizer que há impunidade, punidade, mas é natural que as pessoas que ue per per-deram alguém queiram am uma pu pu-nição máxima”, opina.

>> acesse

diariodepernambuco.com.br /vidaurbana entrevista com Paulo César, advogado

mais + saibamais Composição do Sistema Nacional de Trânsito

3 - Os Os órgão órgãoss e entidades entidades executiv ecutivo os de trânsito trânsito da União, União, doss Es do Estado tadoss, do Distrit Distrito o Feder Federal al e dos dos Municípios; Municípios;

1 - O Cons Conselho elho Nacional de Trânsit rânsito o - CONTR CONTRAN, AN, coor oordenador denador do Sist Sistema e órgão ór gão máximo normativo normativo e consultiv onsultivo; o;

4- Os Os órgão órgãoss e entidades entidades executiv ecutivo os rodo rodoviário viárioss da União, União, doss Es do Estado tadoss, do Distrit Distrito o Feder Federal al e dos dos Municípios; Municípios;

2 - Os Os Cons Conselho elhoss Es Estaduais de Trânsit rânsito o - CETRAN CETRAN e o Cons Conselho elho de Trânsit rânsito o do Distrit Distrito o Feder Federal al CONTR ONTRANDIFE, ANDIFE, ór órgão gãoss normativo normativ os, consultiv onsultivo os e coor oordenador denadorees;

5 - A Polícia Rodo Rodoviária viária Feder Federal; al; 6 - As Polícias Polícias Militare Militares dos dos Estado tadoss e do Distrit Distrito o Feder Federal; al; e 7- As Juntas Adminis dministr trativ ativas as de Recur ecurssos de Infraçõe Infraçõess - JARI. Fonte: CTB


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desafios para o trânsito do amanhã

A cultura da lei seca

ARTE SOBRE FOTO DE MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS

Apesar das críticas à fiscalização, tolerância zero ao álcool para os motoristas, aos poucos, vem mudando comportamentos

N

ão se pode dizer que a lei seca não causou impacto. A tolerância zero ao álcool para os motoristas, instituída na legislação de trânsito pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2008, ganhou outra conotação e conseguiu mudar comportamentos. Beber e dirigir, uma combinação sempre perigosa, passou a ser encarada com mais cuidado pela maioria. Não apenas pelo medo da multa, mas também pelo risco de passar pelo menos um ano sem poder dirigir. A estudante Raíssa Martins, 22 anos, há quatro tem carteira de habilitação e começou a dirigir já consciente da tolerância zero de álcool. “Quando saio para uma balada, deixo o carro em casa. Ou vou de táxi ou de carona, mas não me arrisco”, revela. De agosto de 2008 a julho de 2011 foram fiscalizados no estado quase 290 mil veículos, o equivalente a 14,5 % da frota. Parece pouco e é. Mas segundo o diretor de fiscalização e engenharia de tráfego do Detran, Sérgio Lins, o estado vem conseguindo manter um padrão de

+ saibamais

Números da vigilância Teste de alcoolemia

2008

Total de veículos abordados

47.432 107.535 99621 34.639

fiscalização. Só perde para Rio de Janeiro e São Paulo, mas levando em conta a frota e a estrutura deles”, compara. Mesmo mantendo o padrão, a impressão é que a fiscalização perdeu fôlego e há alguns pontos a considerar: as campanhas educativas também estão menos

2010

2011

Total 289.227

Total de Motos abordadas

1.953

9.279

8.367

2.854

22.453

Total de Infrações

4.552

11.731 12.739

4.681

33.703

4.051

1.821

11.592

Total de CNH Recolhidas

fiscalização. Em 2009 foram 107 mil veículos fiscalizados e no ano passado 99 mil. O trabalho é realizado por seis equipes que atuam em pontos alternados na capital e região metropolitana, de terça a domingo. “O Detran de Pernambuco é um dos mais atuantes do país na questão da

2009

intensas e há também uma crítica em relação ao trabalho dos agentes. “A lei seca quase funcionou, mas a partir do momento em que alguns agentes começaram a aceitar “bola”, ela perdeu a força”, critica o empresário Saulo Gomes, 35 anos. Segundo o diretor de fiscaliza-

859

ção do Detran, Sérgio Lins, praticamente não há denúncias em relação aos agentes do órgão. “A gente não tem recebido denúncia nesse sentido e se ocorrer, ela será investigada. É um procedimento totalmente inaceitável que traz prejuízos para toda a sociedade”, afirma. No ano passa-

4.861

do, mais de cinco mil multas foram aplicadas em motoristas que se recusaram a fazer o teste do bafômetro, mas apresentavam sinais de embriaguez. “Mesmo que se recusa a fazer o teste, o agente tem condições de identificar se há sinais de embriaguez e fazer a autuação”, explica.

O S E G U R O D P V AT É C O M O O C A PA C E T E : P R O T E G E V O C Ê E M C A S O D E A C I D E N T E D E T R Â N S I T O. MAS NÃO É POR ISSO QUE VOCÊ VAI DAR MOLE, NÉ?

Nos últimos anos, o índice de acidentes envolvendo motos só tem crescido no nosso Estado. É por isso que o DPVAT, o seguro do trânsito, vem alertar você sobre a importância de usar capacete e pilotar com cautela, respeitando sempre as leis. Mas, se mesmo assim acontecer um acidente, conte com o seguro que é um direito seu e dos 190 milhões de cidadãos deste país. Use o seu seguro DPVAT sem intermediários: 0800 022 12 04 ou www.dpvatseguro.com.br

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PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS

desafios para o trânsito do amanhã

+ saibamais O que diz a Lei Motofrete Motocicleta - deve estar equipada com um baú, grelha, bolsas ou caixas laterais para transportar a carga. Mototáxi Motocicleta - deve possuir alças metálicas para apoio do passageiro Condutor - deve usar capacete e colete com faixas refletoras Para exercer a profissão os cerca de 2.800 motoboys e mototaxistas do estado, devem ter, no mínimo, 21 anos de idade e pelo menos dois anos de carteira de habilitação.

Mototaxistas e motofretistas terão que passar por curso de especialização e usar equipamentos específicos de segurança

Contran regulamenta atividade profissional dos motociclistas, mas lei só produzirá efeitos em agosto de 2012

A

profissão de mototaxista e motofretista foi regulamentada em 2009, por meio da Lei 12.009, e regulamentada em 2010. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabeleceu as Resoluções 350 e 356, mas apenas neste ano elas entraram em vigor. A regulamentação desses profissionais e as novas resoluções sobre equipamentos de segurança e cursos preparatórios só trazem benefícios. A resolução 350/2010 obriga os condutores a passarem por um curso de especialização, seja para o transporte de passageiros (mototaxe) seja para entrega de mercadorias (motofrete). O curso deve ter 30 horas, sendo 25 horas de teoria e cinco de aulas práticas. Apesar da regulamentação, essa formação ainda não é oferecida na maioria dos estados brasileiros. Em Pernambuco, só é válido o curso ministrado no Serviço So-

Para um ofício de risco, a lei cial do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), que custa R$160, de acordo com o presidente do Sindicato dos Mototaxistas de Pernambuco, Rinaldo Tavares. Já a Resolução 356/2010, estabelece requisitos mínimos de segurança para o transporte de carga e passageiros. Os veículos deverão ter um protetor de pernas e motor, uma antena para proteção contra linhas de pipa, e estar cadastrados na categoria aluguel, ou seja, possuir a placa vermelha. De acordo com Rinaldo Tavares, o estado, órgãos fiscalizado-

res, empresas e profissionais têm um ano para se adequarem às novas exigências, ou seja, em agosto de 2012. Até lá, fica a critério de cada prefeitura regulamentar. “As placas vermelhas só serão instaladas nos municípios que regulamentarem e fizerem a licitação”. Edson Magalhães, tem 42 anos e há 15 trabalha como mototaxista. Para ele, essas resoluções vão ajudar a melhorar e fortalecer o grupo. “Com a padronização, o cliente vai identificar o mototaxista com maior facilidade, além de tornar o serviço mais seguro”.

Quadriciclos na urbe Nos últimos tempos, o quadriciclo deixou de ser vendido apenas como um equipamento motorizado para uso off-road e agrícola para ganhar também os jovens e adultos da classe média e alta nas fazendas, praias e condomínios privados. Hoje, apenas 10% dos modelos vendidos são para o trabalho no campo. Por serem considerados máquinas agrícolas, os quadriciclos não podem ser em-

placados e, portanto, não podem circular em áreas urbanas. O quadriciclo não consta do Registro Nacional de Trânsito e a legislação sobre seu uso não é específica. Em junho, o jovem Bruno Nogueira, de 15 anos, morreu em um trágico acidente. Estava dirigindo um quadriciclo mas, de acordo com a resolução 008/2010 do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), não poderia. Na semana

passada, no Janga, mais um acidente envolvendo um quadriciclo poderia ter sido evitado. Pela lei, quando pego em situação irregular, o veículo é apreendido. Segundo dados do DetranPE, neste ano foram realizadas sete apreensões, sendo apenas cinco liberados. O motivo é simples: a máquina só pode circular no perímetro urbano com a autorização do órgão.

JULIO JACOBINA /DP/ D.A PRESS

Edson Magalhães acredita que categoria sai fortalecida JAN MELO/DIVULGAÇÃO

O profissional também deverá ter a certificação de um curso especializado de 30 horas-aula já regulamentado pelo Contran As aulas serão ministradas pelos Departamentos de Trânsito (Detrans) ou por instituições autorizadas e abordarão assuntos relativos à ética, cidadania e segurança.

O curso Segundo a regulamentação, o curso será dividido em duas etapas: curso teórico que terá carga horária de 25 horas-aula e o curso de Prática de Pilotagem Profissional com duração de cinco horas-aula. Para realizar o curso, o condutor não poderá estar cumprindo pena de suspensão do direito de dirigir, cassação ou impedido judicialmente de exercer os seus direitos. Para ser aprovado e poder trabalhar legalmente, o condutor não poderá faltar a nenhuma aula e deverá ter 70% de acertos na avaliação final. Se reprovado, terá o prazo máximo de 30 dias para realizar outra avaliação.

Itens Capacete - Deve ter viseira e faixa refletora Antena - Protege contra linhas de pipa Protetor - de perna e motor Colete - Deve ter faixa refletora Baú - Deve ter faixa refletora

Acidente no Janga mostra que proibição não é respeitada

Alça - Usada para apoio do passageiro em mototáxi


especial 5

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 16 de outubro de 2011 DIARIOd

desafios para o trânsito do amanhã

Para quem é de direito CTTU promete fazer rondas para inibir a ocupação indevida das vagas especiais. Serão aplicadas multas

E

stá no Código de Trânsito Brasileiro: os motoristas que se arriscam estacionar nos estabelecimentos privados nas vagas reservadas aos idosos, pessoas com deficiência e gestantes correm o risco de levar multa. O Código prevê a aplicação de todas as penalidades previstas na lei para lugares abertos à circulação de pessoas, mesmo que o local seja pago. Desde janeiro de 2010, a Companhia de Trânsito e Transporte

Urbano do Recife (CTTU) tornou obrigatória a colocação do documento no painel do carro identificando que o mesmo transporta alguém nas condições descritas. Caso o automóvel esteja estacionado sem a credencial, estará sujeito a reboque e infração leve, multa no valor de R$ 53,20 e três pontos da Carteira Nacional de Habilitação(CNH), determinados pelo Código de Trânsito Brasileiro. No Recife, desde o dia 1º de outubro deste ano, quem for fflag lagrado ocupando as vagas dos estacionamentos exclusivos será multado se não apresentar a credencial emitida pela CTTU. De acordo com a presidente do órgão, Maria de Pompéia, os agentes vão visitar os locais e farão giros com motocicle-

tas e batedores. “Caso houver denúncia, vamos disponibilizar um agente para ir no momento ao local e checar. Como os shoppings possuem um fflux luxo mais intenso, será o local ideal para conscientizar as pessoas”, diz a presidente. A dona de casa Lúcia Alecrim, 72, comemora a decisão. “Estacionar sem a permissão nas vagas preferenciais é um ato sério de falta de educação”, afirma. Há cinco anos dona Lúcia utiliza o adesivo no carro, mas já se cansou de ver pessoas que não têm direito ocupando as vagas. “Quando eu encontro, falo e peço para tirar o carro do local. Mas é muito difícil.. Com as mudanças no Código, Lúcia acredita que esse tipo de situação irá diminuir consideravelmente.

R$ 53,20

Como retirar o documento

Mais de 3 mil

A permissão, que deve ficar no painel do veículo, comprova que a pessoa tem direito a estacionar nas vagas reservadas a idosos, gestantes e deficientes

Idosos e gestantes devem estar com o RG, CPF, comprovante de residência e documento do veículo. O carro será vistoriado

Fiscalizações iniciadas desde 1º de outubro

Quem ainda não se cadastrou pode solicitar a credencial na sede da CTTU (Santo Amaro)

Pessoas com deficiência devem levar, além dos documentos acima, o laudo médico.

A permissão emitida em 30 minutos

Caso não possam comparecer, devem mandar procuração

Permissões para estacionar de janeiro de 2010 até o início deste mês

Obrigatória a colocação do documento no painel do veículo desde janeiro de 2010

ANDRE MARINS/ESP. DP/D.A PRESS

Lúcia Alecrim reclama da “falta de educação” ao volante PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS.

Beneficiados precisam deixar visível a credencial ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS.

+ saibamais Valor da multa que será aplicada para quem descumprir a norma

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

Projeto de lei vai disciplinar processo de carga e descarga

Depois da hora do rush É fácil andar pelas ruas do Recife e encontrar veículos pesados fazendo carga e descarga nas vias. A legislação municipal que fala sobre a circulação desses transportes ainda é falha. Por isso, a CTTU vai regulamentar o tráfego pesado além do Centro Expandido (da Agamenon Magalhães até o Marco Zero), onde a lei municipal de 1986 estabelece regras para evitar o transtorno. Além disso, projeto de lei que tramita na Câmara Municipal deve melhorar essa realidade, proibindo a parada e o estacionamento de carga e descarga em horário útil em vários bairros da cidade. O diretor de operações da CTTU, Agostinho Maia, afirma que o motorista e a empresa que recebe ou envia a carga serão punidos. “Essa ação vai envolver diversos órgãos da prefeitura, mas ainda não tem nada certo. Não existe um prazo para entrar em vigor”. A médica Eliane Santos, de 69 anos, moradora da Rua São Gonçalo, na Boa Vista, conhece bem o problema. Ela já perdeu as contas das vezes que organizou abaixo-assinados para os órgãos competentes tentando evitar que transportes pesados continuem utilizando a área inadequadamente. “Todos os f luxo dias eles atrapalham o flux do trânsito e a passagem dos moradores”, diz.


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CADERNO ESPECIAL

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

DOMINGO

MARCELO SOARES/ESP.DP/D.A PRESS

TERESA MAIA/DP/D.A. PRESS

MARCELO SOARES/ESP.DP/D.A PRESS

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 30 de outubro de 2011

Por que não usar o transporte público? A Região Metropolitana do Recife tem uma população de cerca de 3,7 milhões de pessoas e dispõe de um Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) capaz de transportar por dia 2 milhões de usuários. Parece muito? Não é. Apenas um terço desse universo se desloca a pé, o restante segue com o transporte individual que lota as vias. Para se ter uma ideia, já ultrapassamos a marca de um milhão de veículos na RMR e temos uma frota de 3 mil ônibus. Nessa lógica é preciso levar em conta que um carro transporta em média duas pessoas, e um ônibus convencional, 80. Isso explica os nossos engarrafamentos? EXPEDIENTE:

Os prognósticos não são muito animadores. Pesquisas indicam que, enquanto crescem em proporções assustadoras os usuários de carro e motocicletas, a migração para o transporte público é insignificante. Em cinco anos a frota no país aumentou 34% e a demanda pelo serviço público apenas 6%. Em 2010, só na RMR, foram 88 mil novos carros com uma média mensal de sete mil. Não há via que suporte tamanha demanda. O discurso da melhoria do transporte público para atrair o usuário do transporte individual ainda não decolou. E há vários aspectos ainda não considerados: transporte de melhor

qualidade, acessibilidade plena, integração de todo o sistema, aposta nas ciclovias e melhoria dos passeios. Um requesito fundamental: é preciso ter hora certa para sair e chegar ao destino. Ônibus e metrô são os principais modais que nós dispomos. O metrô é um transporte estruturador alimentado pelo ônibus, mas temos uma linha de apenas 39,5 quilômetros. São os ônibus que seguram a maior parte da demanda e eles disputam o espaço das vias com os carros. A Copa nos alenta com a possibilidade de dias melhores. Na 8ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, o transporte público foi o foco da discussão.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro

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de outubro de 2011

desafios para o trânsito do amanhã

Uma longa jornada comum TÂNIA PASSOS taniapassos.pe@dabr.com.br

ram 6h30 de uma quintafeira, quando embarquei na estação do metrô/aeroporto, Zona Sul do Recife, depois de uma caminhada de 15 minutos. Mesmo perto, o acesso da Barão de Souza Leão à estação do metrô, em Boa Viagem, deixa muito a desejar. As calçadas são ruins e a sinalização de travessia para pedestre não existe. Também não

E

podia contar com um ônibus circular que me deixasse na estação. Mas a minha missão era outra: identificar o funcionamento do sistema de transporte com a integração ônibus/metrô. E para isso, era preciso encontrar um personagem que vivenciasse a realidade desse modelo todos os dias. Encontrei Ivanildo José Nascimento, 37 anos, no metrô da Linha Sul. Ele é técnico em manutenção, mora em Jardim Piedade, na Zona Sul de Jaboatão dos Guararapes, e trabalha no bairro da Macaxeira, Zona Norte do Recife. Para chegar ao trabalho às 8h, ele sai de casa (a pé) às 5h50. São cerca de 40 minutos de caminhada até pegar a primeira condução do dia, o metrô, às 6h30.

5h50

FOTOS: TANIA PASSOS/DP/D.A PRESS

Usuário da integração ônibus/metrô gasta mais de um mês por ano no deslocamento de casa para o trabalho

6h30

O começo no metrô O trajeto do metrô é tranquilo. Não há ainda superlotação da Linha Sul, que, por enquanto, funciona sem os terminais de ônibus integrados e tem uma demanda de cerca de 20 mil passageiros por dia, enquanto a Linha Centro transporta 205 mil pessoas. A estimativa é que a integração da Linha Sul fique pronta até dezembro de 2012. Ao todo serão 23 terminais integrados às duas únicas linhas de metrô do Recife, Sul e Centro. Juntas elas têm 39.5 quilômetros de exten-

são. Com a integração concluída, a estimativa é de duplicar a demanda. Voltando à Ivanildo, ele esperava sentado o momento de fazer a primeira integração. Conversando com a reportagem, ele disse perder, em média, quatro horas e meia por dia nos deslocamentos (ida e volta) para o trabalho. É quase um dia inteiro por semana. Quatro dias no mês e 48 por ano, ou seja, passa mais tempo nos deslocamentos para o trabalho do que no seu mês de férias.

7h15

Hora das integrações Ivanildo não reclama quando chega o momento de fazer a primeira integração do dia. Na estação Joana Bezerra, desce e pega outro metrô, a Linha Centro, que o levará à Zona Norte. Agora, o volume de passageiros é bem maior, mas ele consegue um lugar para sentar. O próximo passo é a integração com o ônibus na estação do Barro, que tem o maior volume de passa-

geiros do sistema. São 50 mil pessoas por dia. Desse total, 12 mil são passageiros integrados do metrô. Ivanildo chega à estação por volta das 7h15 e tem pressa para entrar na fila do ônibus. “Quando os fiscais estão aqui, a fila é organizada, mas se não tiver ninguém é cada um por si. É a lei do mais forte para entrar no ônibus. Mulheres e velhos sofrem mais”, explica.

A realidade do sistema

8h15

Finalmente, no trabalho Da estação do Barro, ele segue no ônibus, também sentado, para o terminal integrado da Macaxeira.“Hoje eu estou com sorte, mas nem sempre é assim”. De lá, ele pega a sua quarta condução do dia: dois metrôs e dois ônibus.Tudo por uma única passagem. Como ele entrou no sistema pelo metrô, a tarifa foi de R$ 1,50. Essa é a principal vantagem do Sistema Estrutural Integrado (SEI), o usuário consegue se deslocar dentro do sistema com uma única passagem. “O sistema seria melhor se a gente não passasse PEDROM/DP

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tanto tempo preso nos engarrafamentos. É claro que isso só acontece no ônibus; na viagem de metrô o caminho é livre”, afirma. Já são quase 8h quando ele chega à estação da Macaxeira e pega o segundo ônibus para descer na Avenida Norte. Viajou em pé, pela primeira vez no dia. A viagem é curta, só duas paradas. Na Avenida Norte, me despedi de Ivanildo. Ele seguiria ainda a pé alguns quarteirões até o seu trabalho. “São 8h, devo chegar lá às 8h15,mas um atraso de até 30 minutos é normal”.

Deixei Ivanildo e segui de ônibus da Avenida Norte à Cruz Cabugá. Sem engarrafamento, o percurso talvez não levasse mais do que 20 minutos. Mas demorei mais de uma hora.O cobrador do ônibus disse que era um dia normal.Nenhum protesto,nenhum carro quebrado,nenhuma obra.Apenas carros demais. Compreendi que Ivanildo tinha razão: o sistema funciona, mas está muito longe de ser ideal. Talvez o maior desafio do transporte público (por ônibus) seja vencer os engarrafamentos.E a receita dos especialistas é sempre a mesma: corredores exclusivos, onde os coletivos não disputem espaço com os veículos pequenos. Nesse quesito ainda engatinhamos.Em corredores importantes como os das avenidas Conselheiro Aguiar, Abdias de Carvalho,Mascarenhas de Moraes e Norte,entre outras, não há prioridade para o transporte público. O aumento da velocidade numa pista exclusiva não é nenhuma conquista, mas um dever de casa que não vem sendo feito. Os caminhos nunca serão totalmente livres, mas quem sabe , no futuro, Ivanildo e outros milhares de usuários não percam mais de um mês de suas vidas nos deslocamentos de casa para o trabalho.


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desafios para o trânsito do amanhã

BRT é promessa de futuro melhor FOTOS: SECRETARIA DAS CIDADES/DIVULGAÇÃO

Implantação dos ônibus rápidos foi autorizada. Serão corredores exclusivos ao longo da BR-101 s quatro conduções que o técnico em manutenção Ivanildo José da Silva, 37, precisa pegar para fazer o deslocamento de sua casa, em Jardim Piedade, Jaboatão dos Guararapes, até a Macaxeira, Zona Norte do Recife, poderá resumir-se a uma. O BRT (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus), de acordo com o projeto aprovado pelo governo, sairá da estação Cajueiro Seco, em Jaboatão, passará pela estação Macaxeira e seguirá até Igarassu. É praticamente uma reta ao longo do trecho urbano da BR -101,em um corredor exclusivo. O serviço inclui ainda estações em nível, com pagamento antecipado, e painel com as informações de horário de chegada e partida dos trens. O governador Eduardo Campos já aprovou a obra. Mas há outras alternativas para diminuir o tempo de desloca-

A

Projeto foi escolhido levando em conta critérios técnicos

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Serão construídas estações em nível, com painel de informação e compra antecipada mento dos usuários. O estudo elaborado pelo Metrorec/CBTU prevê para o trecho da estação Cajueiro Seco à estação Macaxeira uma linha férrea no trecho urbano da BR-101 para o Veículo Leve sobre Trilho (VLT). O projeto não chegou a ser analisado pelo governo do estado. Segundo Eduardo Campos, o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), apresentado em 2008 e encomendado pela própria CBTU, não definia VLT para aquela área e sim um corredor exclusivo de ônibus. “O projeto foi feito levando em conta critérios técnicos mostrados no

PDTU”, justificou o governador. Segundo a engenheira e especialista em transporte urbano, Regilma Souza, o PDTU pedia uma análise da demanda. “Não temos demanda naquela área para o metrô. O VLT também atenderia, mas o BRT cabe perfeitamente na recomendação do PDTU e ainda dentro do prazo e do volume dos investimentos disponíveis para aquela área”, explicou. Para o técnico em manutenção Ivanildo José da Silva, seja qual for o projeto, a possibilidade de ter a viagem encurtada e com uma única condução me-

lhorará muito a vida dele e dos usuários que dependem dessa linha. “O metrô é o melhor transporte público considerando que ele anda. Mas se a gente tiver um ônibus que não fique preso nos engarrafamentos e que cumpra os horários será muito bom”. A estudante Mirtes Almeida, 24 anos, mora no bairro de Prazeres e estuda na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “É um percurso longo e a gente troca três vezes de condução. A nossa qualidadade de vida seria outra. Perdemos muito tempo nos deslocamentos”, lamentou.


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desafios para o trânsito do amanhã

O transporte público que temos FOTOS: MARCELO SOARES/ESP. DP/D.A PRESS

Usuários das linhas de ônibus enfrentam atrasos, superlotação e calor, além das péssimas condições dos abrigos e calçadas e nos principais corredores de tráfego o transporte público ainda não é o ideal, imagina então nas linhas que não fazem parte do Sistema Estrutural Integrado (SEI), onde encontramos a face mais cruel do serviço. Desde o tipo de abrigo usado nas paradas, às péssimas condições das calçadas, falta de climatização nos coletivos, superlotação e ainda a reclamação número um: a demora nos intervalos das viagens. Na falta de painéis eletrônicos para informar o horário de chegada das linhas, os usuários costumam pedir ajuda aos fiteiros que se fixam nos pontos de parada. Ademir José Rodrigues, 54 anos, trabalha há 15 na calçada da Escola Estadual São Francisco de Assis, em Água Fria, e é uma espécie de central de informação dos ônibus da linha do bairro. “Se eu ganhasse por informação, já estava rico”, brinca o dono do fiteiro. Ele conta que as perguntas mais frequentes são referentes aos horários e as linhas que seguem para o centro. “Eu informo sem problemas, mas tem gente que quer saber até os minutos para o próximo ônibus. Às vezes não dá”. Em pé e já sem paciência, o aposentado Bartolomeu Ferreira, 62 anos, esperava a chegada do seu ônibus da linha Chão de Estrelas. “Estou aqui há 30 minutos, é assim todo dia”. Chegar com segurança às paradas é outro obstáculo. As calçadas não oferecem conforto. Em alguns casos, elas mal existem. Um ada sesedos critérios para que a parada ja, de fato, um abrigo é a largura do passeio (no mínimo 1,50 metro). Mas nem sempre há espaço. Na Avenida Cônego Barata, Zona Norte do Recife, no sentido Água Fria, encontramos o primeiro exemplo dessa realidade. Em uma calçada estreita, a parada de ônibus é identificada apenas com uma bandeira. Passava do meio dia quando registramos usuários acomodados em um espaço que mal dava para uma pessoa e com sol a pino. Os abrigos das paradas de ôni-

+ saibamais TRANSPORTE POR ÔNIBUS

2 milhões de passageiros 3 mil ônibus 385 linhas 26 mil viagens por dia 13 terminais integrados e mais 10 até 2012 450 milhões de passageiros

S

integrados TRANSPORTE FERROVIÁRIO

39,5 14,5km

Metrô quilômetros Linha Sul mil usuários estações trens viagens/dia

35 10 5 174

Linha Centro -

É no fiteiro fiteir de Ademir Rodrigues,, em Água Fria, F que a população se informa sobre horários e linhas do bairro bus são de responsabilidade da empresa Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Ao todo são 6.238 paradas. Desse total, 400 são abrigos com publicidade localizados nos principais corredores. Não há interesse da publicidade nas áreas de subúrbio. O mais comum nessas áreas são abrigos de concreto ou de metal. Bem diferente do que se encontra, por exemplo, na Avenida Agamenon Magallhães ou na Avenida Domingos Ferreira. “Estamos trocando os abrigos com

Não há previsão de reforma nos abrigos situados nos subúrbios publicidade por modelos mais modernos nos principais corredoedores”, afirmou Taciana Ferreira, diretora de operações do Grande Recife. Nada previsto para os bairros do subúrbio. Dentro dos ônibus, o problema é outro: o calor nos coletivos. Com um clima quente, a sensação térmica fica ainda maior para quem fica preso nos engarrafamentos. A professora Nelciene Braga, 38 anos, tenta aliviar o calor usando um caderno como

abanador. “A gente sofre com o calor. Na época das kombis, as empresas diziam que iriam oferecer ônibus climatizados e nada não foi feito”, reclamou. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE), Fernando Bezerra, explicou que a climatização nos coletivos só é indicada para os ônibus do tipo opcional ou BRT (Transporte Rápido por Ônibus). “ Nos ônibus que têm uma abertura de porta com uma frequência muito grande a climatização não funciona porque o ar vai todo embora. Aliás, não conheço nenhuma cidade brasileira que use ar-condicionado nesse tipo de ônibus”, afirmou. Segundo ele, tanto o BRT quanto os opcionais têm paradas em trechos mais longos. A climatização dos ônibus está prevista nos veículos que irão circular nos corredores de tráfego exclusivo. De acordo com diretora de planejamento do Grande Recife Consórcio, Ivana Wanderley, um dos itens da licitação para as linhas de ônibus do Recife e Região Metropolitana, que terão edital lançado até dezembro, prevê o ar-condicionado nos ônibus dos corredores. “Também está sendo analisada a possibilidade de as empresas terem uma maior contrapartida social”.

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25km

18 estações 205 mil usuários/dia 20 trens 309 viagens/dia LINHA DÍESEL De Cajueiro a Cabo de Santo Agostinho

33 kms 4 locomotivas 40 viagens/dia e passará para 82 com o VLT em 2012 6.500 passageiros/dia e passará para 53 mil com VLT em 2012

Passeio deve ter largura mínima de 1,50m nas paradas

Integração inclui complementares No Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP), gerido pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, além do metrô e dos ônibus das linhas que integram o sistema, há ainda o transporte complementar. Apenas Recife e Olinda fazem parte, atualmente, do consórcio. No Recife, o sistema opera desde 2005 e tem atualmente duas linhas: alimentadoras e interbairros. As duas transportam por dia 59 mil pessoas. “O complementar é importantíssimo para ali-

mentar as linhas convencionais”, afirmou Carlos Augusto Elias, diretor de transporte da CTTU. Em Olinda são 25 microônibus que compôem o transporte complementar do município e que transportam por dia cerca de 50 mil usuários. “As linhas complementares alimentam os corredores de tráfego e as linhas coletoras. Olinda tem muitos altos e o complementar chega onde o ônibus não consegue”, revelou o secretário executivo de Transporte e Trânsito de Olinda, Adriano Max.

TRANSPORTE COMPLEMENTAR RECIFE

140 microônibus 2 linhas Alimentadora - 18 linhas e 25 mil pessoas/dia Interbairros - 7 linhas e 34 mil pessoas/dia OLINDA

25 microônibus Linhas alimentadoras nos altos passageiros/dia

50 mil

Fonte: Grande Recife, Metrorec e municípios


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desafios para o trânsito do amanhã JULIANA LEITAO/DP/D.A PRESS

GIL VICENTE /DP /D.A PRESS - 4/11/04

Mobilidade não é sonho CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRE

VLTs Os VLTs vão fazer a linha de Cajueiro Seco e Cabo de Santo Agostinho. As viagens terão em média 22 minutos. Sete trens devem transportar 153 mil passageiros.

Ônibus com GPS Três mil veículos na RMR serão equipados com GPS. Painéis eletrônicos também serão instalados nos terminais integrados e estações dos principais corredores.

Controle e Operações (CCO)

Até 2014, a Secretaria das Cidades espera implantar dois dos três corredores fluviais que aguardam recursos do PAC da Mobilidade: o Norte e o Oeste. O último apresenta maior demanda de passageiros, cerca de 10.500 pessoas. As rotas totalizam 22 km e estão orçadas em R$ 398 mi.

Uma central de monitoramento será instalada no Grande Recife Consórcio de Transporte, com PCs e painéis de LCD para acompanhamento em tempo real do percurso dos ônibus. CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRE

m corredor exclusivo, paradas em nível, ônibus climatizados a uma velocidade média de 40 quilômetros, nos horários de pico. E, ao lado, carros a 10 km/h, presos nos engarrafamentos. O futuro se desenha dessa forma. E em qual dos lados você quer estar? Atrair o usuário do transporte individual para o transporte público é o desafio dos gestores públicos. Porém a melhoria tem que ser percebida não apenas nos principais corredores de tráfego, mas também nas linhas alimentadoras e com melhor acessibilidade aos terminais integrados ao metrô. Até a Copa de 2014 serão três importantes corredores de tráfego: Norte/Sul, Leste/Oeste e a BR-101. Todos com o BRT, modelo adotado em Curitiba e Bogotá. A opção pelo VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) se restringe, por enquanto, à linha Cajueiro Seco/Cabo de Santo Agostinho. O modal, no entanto, é uma opção onde o sistema ferroviário possa ser implantado no futuro. “É um sistema que transporta mais pessoas, tem uma energia limpa e garante maior velocidade. Temos estudos que poderão ser viabilizados a longo prazo”, explica o gerente de manutenção do Metrorec, Bartolomeu Carvalho. Apesar de ter uma linha de apenas 39,5 quilômetros, o metrô é o transporte público que funciona como elemento estruturador do sistema de transporte público.

Transporte fluvial

CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRE

RMR se prepara para ganhar três corredores de tráfego, 13 novos terminais integrados e até um meio fluvial

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LAIS TELLES/ESP DP/D.A PRESS

Transporte rápido O Corredor Leste- Oeste fará ligação com a Cidade da Copa. Já o Corredor Norte-Sul, de Igarassu até o Recife, deverá transportar 182 mil pessoas. O Corredor da 4ª Perimetral (BR 101) deve transportar 143 mil pessoas, indo do entroncamento da BR-101 com a PE-15 à Jaboatão.

Informações via SMS Um serviço de mensagens pelo telefone celular, por onde o passageiro receberá informações, deve entrar em funcionamento em janeiro de 2012.

Os terminais de integração do ônibus com o metrô acompanham o percurso das duas linhas hoje existentes: Sul e Centro, que, juntas, transportam 240 mil pessoas por dia. Mais da metade dos passageiros é oriunda dos ônibus. “A função do ônibus é alimentar o metrô. São modais complementares e não concorrentes”, afirma Taciana Ferreira, di-

retora de operações do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. O Sistema Estrutural Integrado (SEI) tem atualmente 10 terminais de integração, e a meta para 2012 é alcançar 23 terminais, além de outro em 2013, com o Terminal Integrado Cosme e Damião, porta de entrada da Cidade da Copa. Com todos os

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terminais integrados, a demanda de passageiros no sistema deverá duplicar. Além dos dois principais modais, a expectativa é que o transportee ffluvial luvial de passageiros também comece a funcionar. O projeto está entre os quatro previstos no PAC da Mobilidade. O fluvial contempla três corredores, o principal deles, o Oeste, tem previsão de trans-

portar 10.500 pessoas. “O projeto vai desafogar a Avenida 17 de Agosto e a Rui Barbosa e passará a ser uma solução para quem hoje vem de carro da Zona Oeste com destino ao Centro”, ressalta o secretário das Cidades, Danilo Cabral. A melhoria do transporte público passa por soluções de mobilidade que vão além dos mo-

dais. Os terminais integrados, por exemplo, não têm espaço para estacionamento. “Essa cultura tem que ser estimulada. O terminal de Paulista, por exemplo, tem uma bicicletário improvisado pela população. Ou seja, há uma vocação que não está sendo aproveitada”, critica o consultor em transporte, Germano Travassos.


CADERNO ESPECIAL

PEDRO/DP

DOMINGO

Sem educação não há solução O padrão de comportamento de uma sociedade é determinado pela forma como a maioria encara os valores sociais. No trânsito não é diferente. As infrações, por exemplo, são vistas como socialmente aceitas. Não existe indignação diante do motorista que estaciona na faixa ou ultrapassa o sinal vermelho. Talvez isso explique a dificuldade das campanhas educativas surtirem o efeito esperado. Mudar o padrão é mudar a lógica do convencimento. Ao contrário de usar a multa como forEXPEDIENTE:

ma de educação, o próprio vizinho passa a ser o instrumento de uma virada comportamental. Pelomenosnafilosofia,oprincípioéconquistaraté30%deum determinadosegmentodasociedadeparaqueorestantedasociedade assimile. Da mesma forma que se aprende o errado, é possível aprender o certo. Nessa lógica, os especialistas acreditam que atitude é repetida quando é socialmente aceita. É claro que não se faz revolução de um dia para a noite e tam-

P ER N A M BUCO DIARIOdeP

Recife, 27 de novembro de 2011

pouco em todos os lugares ao mesmo tempo. Imagin Imaginee então então a multiplicação de agentes sociais de trânsito no âmbito de uma rua, do seu entorno e do bairro. O 9º caderno do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã traz como tema a educação e mostra os desafios de uma escola para multiplicar as ações educativas no universo do bairro de Casa Amarela com seus 25 mil moradores. Revela ainda a razão da educação de trânsito não fazer parte do cotidiano das unidades de ensino.

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro


2 especial

d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 27 de novembro de 2011 DIARIOd

desafios para o trânsito do amanhã

Ponto de virada para um trânsito-cidadão

Cultura de respeito às normas pode ser criada a partir das comunidades para, então, ganhar a cidade

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS

Com passos firmes e decididos, as crianças caminham sobre a faixa de pedestre, seguras de que aquele espaço será respeitado pelos motoristas. A cena real ocorre na frente de uma escola particular, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Mas bem que poderia se expandir para as ruas do entorno, o bairro, a cidade, o estado, o país. A ideia de se trabalhar a educação do trânsito a partir das comunidades é baseada na teoria do filósofo Malcolm Gladwell. Ele parte do princípio de que, se 30% de um segmento significativo da sociedade se convencer de que a prática de um determinado comportamento é válida, toda a sociedade passará a exerce-la. É o chamado ponto de virada, a exemplo do que ocorreu em Nova York, quando a população comprou a ideia de ser contra a violência. Ou em Brasília, quando os motoristas se convenceram de que respeitar a faixa era o certo a ser feito. Também podemos ser convencidos. A iniciativa da escola é um passo que pode e deve ser multiplicado pelas escolas do bairro. E

Convença 30% de uma comunidade e transformará os outros 70%

Em São Paulo, morrem duas pessoas por dia atropeladas na faixa de pedestre João Muniz, 10 anos, estudante da 4ª série do Colégio Apoio

quem sabe assim elas alcancem os 30% dos 25 mil habitantes do bairro de Casa Amarela. Nada que não possa ser feito. “A gente vem trabalhando a conscientização dos alunos e pais de alunos. Mas a nossa meta é também trabalhar o entorno. Uma ideia é promover um encontro de todas as escolas do bairro para trabalharmos a temática do respeito às normas do trânsito com a participação dos órgãos de trânsito”, afirma a diretora pedagógica do Colégio Apoio, Rejane Maia. No que depender da disposição dos alunos, a meta tem tudo para ser alcançada. Os estudantes Luíza Braga, João Carlos Muniz, Ricardo Dias,Mateus Zarzar, Fernanda Guedes, Carolina Smith e Jú-

lia Roffé sonham em transformar o mundo que cabe nas suas casas e nas ruas onde moram e estudam. “Em algum momento, o motorista também é pedestre e ele não vai querer ser atropelado, então, é preciso saber respeitar”, defende Luíza. João Muniz traz a estatística na ponta da língua. “Em São Paulo, duas pessoas morrem por dia atropeladas na faixa de pedestre. Só porque o motorista ainda não entendeu que o pedestre tem prioridade”, ressalta. Com uma área de 185 hectares e uma densidade populacional de

138 habitantes por hectare, Casa Amarela é um dos bairros mais populosos do Recife. O bairro faz limite com Casa Forte, uma das áreas mais nobres da cidade. Na área limítrofe, a ocupação imobiliária segue os mesmos padrões do bairro nobre. É o lado “rico” do bairro, que trouxe junto um número maior de carros para trafegar nas vias. Mesmo sendo um bairro tradicionalmente popular, a presença de carros é cada vez maior até mesmo no morro, onde se concentra uma população de baixa renda. No morro, as ruas

são estreitas e as casas, em sua maioria, não dispõem de garagem. O resultado é que os carros ocupam os trechos estreitos de calçadas. “Carro é uma necessidade, mas não há espaço para guardá-lo”, justifica o morador João Menezes, 38 anos. Esse talvez seja um outro desafio: como trabalhar a mobilidade e o respeito às normas de trânsito em espaços não planejados para esse tipo de ocupação? Há muito o que ser feito, mas o respeito à faixa de pedestre já é um grande passo.

Alunos do Colégio Apoio aprendem a fazer a travessia na faixa de pedestre

Convencer os motoristas a respeitar a faixa é um dos desafios dos alunos

Respeito ao próximo é a primeira lição

“Dê educação para o homem que ele transforma o país”. A frase, do educador Paulo Freire, não poderia se aplicar melhor ao contexto do trânsito. Motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres compartilham as mesmas ruas e avenidas todos os dias, mas o respeito ao espaço do outro parece não existir. Motoqueiros levam os retrovisores dos carros, motoristas

pensam ter a prioridade sobre motociclistas e ciclistas, pedestres acreditam estar com a razão... Para o coordenador da pós-graduação em gestão de trânsito da Faculdade Maurício de Nassau, major Israel Moura, a educação para o trânsito permaneceu em sesegundo plano até entrar em vigor o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em 1997. Mas as pessoas

não adquiriram, na mesma proporção, o respeito ao próximo e a noção de segurança. “Essa geração que está sendo amputada no Hospital da Restauração é vítima da má formação como cidadã para o trânsito”, pontua. Segundo dados do Ministério da Saúde, 40.610 pessoas morreram em acidentes de trânsito no Brasil em 2010, quase 7,5% acima

do registrado em 2009. “Recife é a 5ª cidade mais violenta no trânsito. As escolas não formam as crianças para serem cidadãs responsáveis. Não basta ensinar uma placa, mas mostrar os danos causados pela infração”, afirma. Mas algo começa a mudar e as crianças e jovens podem ser protagonistas em potencial dessa transformação, por ora, silenciosa.


especial 3

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desafios para o trânsito do amanhã ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

entrevista >> Guido Soares Azevedo

“O condutor não se sente culpado de não cumprir a lei”

O

engenheiro civil Carlos Guido Soares Azevedo, formado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é consultor em organizações públicas na área de trânsito e transporte em todo o país há mais de 30 anos. Ele participa de projeto do Iaupe – Instituto de Apoio à UPE - no Ministério da Integração Nacional para implantação de um sistema de Modelo de Gestão para a pasta. Mas tem como maior desafio a criação de “agentes sociais de trânsito”. Ele está convencido de que a melhoria na qualidade e segurança do trânsito depende não apenas dos órgãos de trânsito na sua função de fiscalizar e operar, mas, principalmente, de um “convencimento” da população sobre o modo certo de agir. Nesta entrevista, ele fala sobre a revolução que pode começar em uma rua e baseia a sua teoria em duas hipóteses. Como o senhor baseou a sua teoria da criação dos agentes sociais de trânsito? A primeira é que a sociedade local autoriza (consciente ou inconcientemente) o comportamento irresponsável no trânsito, independente da lei. A segunda é que os autores de trânsito buscam se ajustar aos comportamentos socialmente aceitos em cada localidade, independente de sua formação. Oturista,po turista,porexemplo,s o,sse“abra rasileira” quando vem para cá? Isso mesmo. Ele pode cumprir todas as regras no seu país, mas se ficar por aqui de três a quatro meses e presenciar a “normalida-

de” das infrações, ele pode repetir o mesmo comportamento. Assim como nós, brasileiros, temos mais cuidado no comportamento fora do país. Na questão da educação, o senhor segue a mesma linha de pensamento do filósofo Malcolm Gladwell de se trabalhar a conscientização dentro das comunidades? Exatamente. Eu acredito que a sociedade precisa ser convencida de que obedecer às normas de trânsito, por exemplo, é o certo a fazer e não porque há risco de alguma punição. Se houver uma mudança de comportamento, o restante do gru-

po assimila. Não é verdade quando dizem que quando pesa no bolso, o motorista cumpre as normas, como foi o caso da obrigatoriedade do cinto de segurança? É verdade, sim, mas se o agente de punição não estiver presente, seja um guarda de trânsito ou uma lombada eletrônica, o condutor não se sente culpado de não cumprir a lei. Pelo contrário é um comportamento socialmente aceito.

multar o motorista que não respeitar a faixa de pedestre. Não é esse o caminho? Eu acho um grande equívoco esse tipo de punição que irá funcionar por determinado período e em determinados lugares. O motorista precisa ser convencido de que é errado não respeitar a faixa e não pelo medo da multa.

É verdade. Não se deve a ter pretensão de trabalhar uma campanha na cidade como um todo e esperar um resultado imediato. O trabalho deve ser feito nas comunidades. Por isso, eu defendo a criação de centros de educação social de trânsito. É preciso deixar a educação normativa para a educação social de trânsito.

Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego lançou uma campanha de

O senhor falou que esse tipo de revolução pode começar na própria rua. Como seria?

De que forma funcionaria esses centros? Imagine, por exemplo o bairro

do Curado e junto com a comunidade, os empresários, os órgãos de trânsito desenvolverem ações com as pessoas para o respeito a sinalização no bairro, que terá seus próprios agentes sociais de trânsito. Não tenho dúvidas de que a comunidade é capaz de fazer essa revolução. E essa teoria que eu defendo será trabalhada numa linha de pesquisa da Universidade de Brasília. Espero que o trabalho possa ajudar na mudança de concepção do que hoje é a educação de trânsito.


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desafios para o trânsito do amanhã

Salve-se quem puder Individualismo traz consequências para a mobilidade de forma geral e vira padrão de comportamento

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comportamento de um motorista no trânsito não necessariamente reflet f lete o seu modo de ser enquanto cidadão, mas deveria. O que nos faz esquecer as “boas maneiras” é, em parte, a guerra que tem se transformado o trânsito. É o tal do salve-se quem puder. E os mais diversos absurdos resultam da prática individualista, que traz consequências para todo o resto, que, na primeira oportunidade, dá o “troco” na mesma moeda. Nesse patamar, entramos no mesmo nível de consciência coletiva. Mesmo quando, em determinado momento, somos nós os prejudicados, alguns metros à frente lá estamos nós repetindo o comportamento “padrão” do individualismo. Retratar os descaminhos do trânsito é, sobretudo, descrever as cenas diárias com as quais nos deparamos ou protagonizamos no trânsito. Desde um avanço de sinal, estacionar em local impróprio, dirigir falando ao celular, fazer uma conversão indevida para encurtar o caminho, mudar de faixa sem ligar a seta, ocupar até a terceira faixa para passar na frente em uma conversão e, ainda, estacionar sem culpa na faixa de pedestre e, mesmo assim, acordar todos os dias como se normal fosse não fazer o que é certo. Mas há outras situações também gritantes. Um caso emblemático é o da Praça dos Manguinhos, no bairro do Parnamirim, que era literalmente usada como estacionamento. Os motoristas chegavam a subir o canteiro. Depois de muita reclamação dos moradores, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) “resolveu” o problema instalan-

do “gelo baiano” em todo o piso da praça que, para piorar, está em péssimo estado. Os carros de fato não sobem mais, ficam no entorno da praça, que continua não sendo dos moradores. “Os motoristas são muito mal educados”, resume o engenheiro José Carlos dos Santos Silva, 70 anos, depois de estacionar em local proibido. Outra situação inusitada é a barraquinha de frutas instalada em cima de uma faixa de pedestre, no cruzamento da Conselheiro Portela com a Rosa e Silva, no bairro das Graças. É impossível não enxergar, mas a cena vem se repetindo há anos e os pedestres que usam a faixa são obrigados a contornar a barraca no meio dos carros. “Recife deve ser o único lugar do mundo onde o comércio ambulante usa a faixa de pedestre para negociar”, reclama a professora Marta Oliveira Costa, 53 anos. Que os motoristas são abusados e não respeitam os ciclistas e pedestres, isso a gente já sabe, mas o pedestre também tem sua parcela de culpa pela total ausência de zelo com a própria vida. Um exemplo diário pode ser visto na Avenida Conde da Boa Vista, no cruzamento com a Rua do Hospício. O sinal de pedestre é quase de “enfeite”, praticamente ninguém respeita. Foi o que aconteceu com a dona de casa Adriana Silva, 28 anos, que atravessou a avenida com o sinal fechado para ela e segurando a mão da filha de seis anos. “Eu não percebi que estava fechado. Passei com pressa porque ela estava me aperreando”, contou a mãe. Para o consultor de trânsito Cláudio Guido, prevalece a ausência de culpa por infringir a lei. “O motorista que reduz a velocidade na lombada eletrônica e aumenta logo que passa do equipamento é o mesmo que só obedece à regra se tiver um guarda de trânsito por perto. Não houve mudança de comportamento”.

TERESA MAIA/DP/D.A PRESS

Estacionamento irregular Na subida do Morro da Conceição, em uma rua estreita que cabe um único carro, o motorista decide ocupar o espaço da calçada, sem opção de acessibilidade para o pedestre

TERESA MAIA/DP/D.A PRESS

Travessia de alto riscoemviapública Na Avenida Conde da Boa Vista, mesmo com o sinal de pedestre, os riscos de atropelamento são constantes. Os pedestres ignoram quando o sinal fecha e continuam passando pela faixa

MARCELO SOARES/ESP.DP/D.A PRESS

Descumprimento da lei A operação de carga e descarga nas ruas do Recife ainda é um problema. Os motoristas não respeitam os locais proibidos. A partir de janeiro de 2012, a CTTU promete apertar o cerco e limitar a operação das 22h às 6h

PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS.

PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS.

Sem regras Uma barraca de frutas em plena faixa de pedestre no cruzamento da Conselheiro Portela com a Rosa e Silva é um exemplo de imobilidade

Obstáculo Uma cena comum é o uso inadequado das ciclovias. O flagrante do fotógrafo Paulo Paiva mostra uma moto estacionada na ciclovia da Avenida Norte. A pista exclusiva é constantemente invadida


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desafios para o trânsito do amanhã JARB ARBA A S/DP

Trânsito, ainda órfão da educação

mais + saibamais

Responsável pelo ensino da disciplina no país, Denatran não possui estrutura para atender demanda

1996 - Lei Lei de Diretriz Diretrize es e Bas Base es da Educação Educação Nacional (LDBEN) Não pre prevê a educação educação na grade grade curricular e tema tema trans transvver erssal

199 9977 - Código Código de Trânsito Brasileir Br asileiro o (C (CTB): art.. 76 - educação: art Adoção de cont conteúdo eúdoss de educação educ ação (magistério (magistério e treinament tr einamento o de pro professor orees)

2004 - Cons Conselho elho Nacional de Trânsito (C (Contr ontran) an) Instituiu Ins tituiu o tema tema trânsito trânsito par paraa projet pr ojeto os pedagógico pedagógicos

A

educação de trânsito não é e não será disciplina curricular nas escolas. A decisão é do Ministério da Educação, mas o tema pode e deve ser inserido nas diversas disciplinas de forma transversal, prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) desde 1997. Na teoria parece funcionar, mas na prática isso pouco acontece. A orientação do MEC é que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) forneça material aos estados e estes aos municípios para que o assunto seja debatido nas escolas. A falta de estrutura é um dos empecilhos. A consultora técnica do Denatran, Rita Cunha, que participou da 9ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã com o tema educação de trânsito, revelou que o departamento responsável pelos projetos de educação conta apenas com 13 funcionários e, desses, apenas cinco são da casa, o restante é terceirizado. “É um volume de trabalho muito grande para o tamanho do país. Mesmo assim, estamos trabalhando para a melhoria da educação”, afirma Rita Cunha. inição do MEC de não Com a def definição assumir a responsabilidade de ensinar a disciplina trânsito, restou aos órgãos de trânsito a realização de campanhas períodicas, que não têm conseguido alcançar os objetivos. Apesar do sucesso dos palhacinhos da Turma do Fom Fom, o número de acidentes e mortes ainda é grande. No Brasil, morrem por ano mais de 40 mil no trânsito. “Nós somos 10 vezes pior do que qualquer país “, diz o consultor em trânsito Carlos Guido. De acordo com o sociólogo e consultor em trânsito Eduardo Biavati, a única forma de atingir as diversas camadas da sociedade é pela escola. “Nenhum órgão de trânsito é capaz de ter a penetração que a escola tem em todos os municípios”, destacou. Que o caminho é a escola parece haver consenso nesse sentido. No Recife, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) iniciou junto as escolas do município um processo de capacitação dos professores por meio do Plano Municipal de Edu-

O que diz a legislação sobre educação de trânsito:

Estabelec tabelecee que o Denatr Denatran an forneça material material de apoio às escolas 2009 - Portaria Portaria 14 147 do Denatr enatran: an: Diretriz Dir etrizees nacionais de educação educação par araa o trânsito: trânsito: pré-es pré-escolar e ensino fundamental e médio: Infanto-juv Infant o-juvenil: enil: noções noções de traavessia de faix tr faixa, a, sinais sinais,, andar de bicicleta, cidadania Fundamental: 3 livro livros com com seis seis histórias his tórias par paraa ser serem em distribuídas distribuídas nas es escolas e dois so soft ftw war arees educacionais educ acionais Médio - produção produção de vídeos vídeos sobr sobree um trânsito trânsito cons conscient cientee 2009 - Re Resolução 26 265 do Denatr enatran an Formação teóric teórico-técnic o-técnicaa dos dos pro pr ofessor orees par araa 1ª 1ª habilitação Atividade extr extracurricular acurricular e opcional par araa alunos alunos e pro professor orees Detr etran an re responsáv sponsável el pela autoriz aut orização ação,, contr ontrole ole e fisc fiscaliz alização ação Font onte: e: Denatr Denatran an

cação para o Trânsito. “Inicialmente estamos capacitando 100 coordenadorese e profissionais de informática com aulas semipresenciais. A nossa estimativa é que até 2015, todos os professores da rede sejam treinados”, afirma o gerente de educação de trânsito, Francisco Irineu. Em 2012, o município promete implantar uma escola municipal de trânsito, que ficará sob a coordenação da Secretaria de Educação. O espaço será de pesquisa em educação de trânsito, com laboratório para as crianças aprenderem na prática as regras básicas do trânsito. Para Biavati, a educação infantil é importante, mas deve se estender para os jovens. “Há uma preocupação grande com a criança, mas o jovem que está prestes a dirigir fica sem a formação e

acaba sendo inf influenciado luenciado pelo grupo e deixando de lado o que aprendeu aos cinco anos”. O Detran/PE foi pioneiro na formação extracurricular de professores com o Programa Detran na Escola. A Secretaria Estadual de Educação no Curso de Formação de Instrutor de Trânsito TeóricoTécnico foi parceira na iniciativa. A ação está prevista na resolução nº 265 do Denatran. Até agora apenas os municípios do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Petrolina e Caruaru foram beneficiados. Uma das vantagens do modelo é que, após o curso, o professorinstrutor tem autoridade para repassar o conteúdo aos alunos na mesma lógica dos clubes de foremação de condutores. “O aluno recebe o mesmo conteúdo ensina-

do nas autoescolas. As escolas que adotam o modelo são inseridas no sistema do Detran”, explica Fátima Bezerra. A ideia era capacitar dois mil alunos nas escolas. Mas a iniciativa esbarrou em um detalhe. “Uma lei federal determinou que para ser instrutor era necessário ter habilitação na categoria D e isso acabou desestimulando os professores a continuar com a formação”, comenta a presidente do Cetran, Simíramis Queiroz.

INES CAMPELO/DP/D.A PRESS

SERVIÇO Cursos para educação no trânsito: Detran/PE - 81- 3184-8004 CTTU - 81- 3355-5316 Sest/Senat - 81 2119-0220 Sec - 81- 3212-1616 Centro Educacional de Trânsito da Honda (CETH) - 81 - 3252-6764

Turma do Fom Fom seduz a criançada com apelo lúdico


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CADERNO ESPECIAL

PEDROM/DP PEDR OM/DP

DOMINGO

10 passos passos para para mudar o trânsito

O trânsito de hoje não será igual ao de amanhã. Será pior. Em todo o país a frota de veículos tem estimativas de crescimento de 9,19% ao ano. Em Pernambuco, temos um incremento mensal de mais de dois mil veículos. É um caminho sem volta. O desafio para o trânsito do amanhã não é apenas encontrar alternativas de melhorar a convivência coletiva com o respeito às normas de trânsito. Isso também, mas é importante a intervenção do estado na melhoria da estrutura da mobilidade urbana do ponto vista viário e de circulação, com

EXPEDIENTE:

todos os elementos que integram a cadeia dos deslocamentos: o pedestre, o ciclista e o motorista. Não existe pretensão de frear o consumo automobilístico, mas é possível estimular a boa convivência no trânsito e o poder público pode e deve apostar em soluções de mobilidade, a começar pelas calçadas: o primeiro elo em toda e qualquer estrutura dos deslocamentos. Somente na Região Metropolitana, 23% das pessoas se deslocam a pé. Durante nove edições do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários

Associados, ouvimos 28 especialistas sobre os temas ligados diretamente ao trânsito. Na última edição do fórum, trouxemos as contribuições apresentadas pelos participa rticipantes. Mesmo com o aumento da frota podemos descobrir outras formas de encarar os deslocamentos, seja no transporte público (de qualidade), de bicicleta (com ciclovias), ou de carona. E quem sabe assim, passe a ser normal tirar o carro da garagem apaenas para os passeios. Iniciemos, então, o caminho que levará às necessárias mudanças no nosso trânsito!

Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Tânia Passos Edição: Lydia Barros Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro

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P ER N A M BUCO DIA IAR RIO IOdeP

Recife, 18 de dezembro de 2011


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2 especial

desafios para o trânsito do amanhã

Outras formas de vicenciar a cidade Os 10 0 passos p para mudar o trânsito não se encerram neles mesmos. O que é prioridade hoje, hoje pode não ser amanhã. Queremos calçadas, ciclovias, transporte público de qualidade, respeito às normas de trânsito. Depois disso, novas prioridades vão surgir. As mudanças são conceituais e dependem de nossas atitudes enquanto cidadãos. Temos a chance de viver uma outra cidade menos caótica e individualista. Não é pouco.

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Mobilidade não motorizada

Segurança nas calçadas O primeiro passo da mobilidade é o caminhar a pé. Somente na Região Metropolitana do Recife, mais de 800 mil pessoas se deslocam a pé. A única infraestrutura necessária para isto são as calçadas. No entanto, a maioria delas não oferece as condições adequadas, seja pela ocupação indevida, falta de manutenção ou dimensões inferiores ao que determina a legislação. Em alguns casos, as calçadas nem mesmo existem. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a largura mínima de um passeio público é de 1,20 metro. E é o mínimo que vem sendo adotado pela maioria dos municípios. No Recife, a legislação municipal determina para as novas obras largura mínima de 1,50 metro. A lei repassa para os donos dos imóveis a responsabilidade dos passeios. A sugestão do fórum é que o poder público cuide e padronize as calçadas e os proprietários façam a manutenção. As prioridades são para os acessos aos corredores de tráfego, terminais de integração, unidades de saúde e escolas.

Velocidade sem motor Quanto menos pessoas usarem carro, melhor. Então, comece a mirar com outros olhos quando vir um ciclista na via. É um carro a menos disputando espaço. A convivência de ciclistas e motoristas no trânsito, no entanto, é desigual. O carro não quer perder o espaço que foi feito para ele e o ciclista busca por um espaço que ainda não tem. Os 20 quilômetros de ciclovias existentes na capital pernambucana não são o bastante para conectar a cidade e o ciclista e ele acaba sendo obrigado a se aventurar pelo trânsito. O plano de mobilidade do Recife pretende ampliar as ciclovias para 420km em duas décadas. Enquanto isso não acontece, campanhas de conscientização, recuperação e instalação de ciclovias principalmente na Zona Norte (onde há uma vocação para o uso do equipamento) e ainda uma melhoria da sinalização nas vias com indicativos de preferências para o ciclista. Outra aposta é incentivar espaços para bicicletários e aluguéis de bicicletas como já existem em outros países. Ciclovias cheias significam menos carros nas ruas.

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desafios para o trânsito do amanhã

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Estacionamento mais difícil

Há pelo menos três pressupostos para a redução do uso do automóvel: a melhoria do transporte público, das opções não motorizadas e, por fim, dificultar a presença do carro nos centros urbanos. Se não há estacionamento, em tese, não há como ir de carro. Na prática não é assim. Os motoristas usam as vias públicas para estacionar os veículos com ou sem permissão. A proposta trazida para o fórum pelo engenheiro e consultor Germano Travassos é que os espaços públicos só poderão permitir estacionamentos de autos privados se: a) Forem antes assegurados passeios com larguras adequadas para pedestres; b) Forem preservados espaços seguros (segregados ou não) para o uso das bicicletas; c) Forem asseguradas as necessárias prioridades para o transporte público e a localização adequada das paradas dos ônibus; d) Se o uso da via para estacionamentos não criar restrições à fluidez da circulação. O fórum defende que sejam reduzidas as ofertas de estacionamentos públicos e estimulada a criação de estacionamentos privativos, sem a concorrência da rua. Sugere ainda a oferta de linhas circulares interligadas aos estacionamentos e a criação de espaços para bicicletários.

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Estudo de transporte

Todo planejamento requer a disponibilidade de informações atuais e confiáveis. A última pesquisa domiciliar de origem e destino na Região Metropolitana do Recife foi no primeiro semestre de 1997. O padrão de deslocamento, passados quase 15 anos, não é mais o mesmo. Na época em que a pesquisa foi feita, não havia os centros de compras existentes hoje, que são geradores de tráfego. Os professores Maurício Pina, César Cavalcanti e Oswaldo Lima Neto trouxeram, entre outras sugestões, uma nova pesquisa de origem e destino. "Significativas alterações nos hábitos de mobilidade da população metropolitana ocorreram nesse período. É necessário um estudo de transporte e tráfego de pessoas e cargas na RMR", afirmou César Cavalcanti. Para se ter uma ideia da importância da pesquisa, o último Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) teve como base a pesquisa de 1997, que sofreu adaptação para o estudo.

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6 Retaguarda de equipamentos

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Integração é palavra de ordem A prioridade ao transporte público é o principal discurso quando se defende a melhoria do trânsito e da mobilidade urbana. Mas os investimentos, nos últimos 20 anos, caminharam na contramão ao priorizar o transporte individual. Conquistar o público que migrou para o carro ou para a moto é um desafio que vai além da estrutura que hoje é oferecida. Apostar no transporte público de qualidade, independente do modal, é criar mecanismos de acessibilidade, regularidade e conforto, que ainda não existem. O metrô é o transporte de massa estruturador, mas dispõe apenas de 39,5 km de linha. Os ônibus são responsáveis pelo transporte de mais de 60% da demanda de passageiros da Região Metropolitana do Recife. O modal escolhido para os futuros corredores de tráfego é o BRT, sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus. Além da escolha do modal, outras ações agregadoras são necessárias para tornar o transporte público atraente. "O importante é dispor de um sistema integrado multimodalmente, para quem as pessoas andem a pé, de bicicletas, de carro, de transporte público, todos integrados, e pagando uma única tarifa para atenderem as necessidades de deslocamentos", afirma Oswaldo Lima Neto, engenheiro, professor e doutor da Universidade Federal de Pernambuco.

+ saibamais É preciso garantir Regularidade nos horários de saída e chegada dos coletivos Acessibilidade plena aos terminais integrados Melhoria das calçadas em um raio mínimo de 500 metros dos terminais Linhas circulares Sinalização para indicar o acesso aos terminais e sinalização para os deficientes físicos

Sistema de manutenção dos corredores de tráfego Bicicletário em todos os terminais Opção de estacionamento para quem preferir deixar o carro nos terminais Paradas de ônibus com acessibilidade não apenas nos corredores, mas nos bairros por onde circulam as linhas Linhas exclusivas para os ônibus, além dos principais corredores de tráfego

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Qualquer cidade com uma frota elevada de veículos necessita de uma boa operação de tráfego. No caso da capital pernambucana, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), fundada em 2003, não dispõe ainda da infraestrutura necessária para gerenciar um tráfego de um milhão de veículos. A companhia pretende chegar aos 600 agentes de trânsito, mas precisa melhorar também a infraestrutura interna e ampliar o quadro técnico. O fórum defende a instalação de mais equipamentos eletrônicos redutores de velocidade. Hoje são 45 equipamentos para uma cidade com 13 mil vias. Também defende mais câmeras para potencializar o trabalho dos agentes. Atualmente 26 câmeras transmitem imagens, em tempo real, mas não conseguem traduzir o trânsito fora da área de monitoramento. Na Avenida Boa Viagem, por exemplo, as câmeras estão localizadas no Pina. Os equipamentos poderiam flagrar os veículos que estacionam de forma irregular na 3ª faixa, mas não há "olhos" para o flagrante. O fórum defende ainda a descentralização do monitoramento em pelo menos mais duas unidades nas zonas Norte e Sul. Identificar o que não está funcionando, seja por uma operação de carga e descarga, veículo quebrado ou um buraco qualquer. Isso é uma operação de tráfego presente e eficiente.

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Infraestrutura do sistema Por melhor que seja um corredor de tráfego, ele terá sua capacidade operacional comprometida se não houver uma operação sistemática da manutenção. Vias esburacadas significam ônibus mais lentos, atraso nas viagens, desconforto para os usuários e aumento do desgaste do veículo. O fórum defende uma política de manutenção dos corredores viários, incluindo a sinalização horizontal e vertical. Sem a sinalização adequada, o trânsito fica confuso e nas vias onde não há corredores exclusivos de ônibus, os transtornos são ainda maiores.


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desafios para o trânsito do amanhã

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Uma questão de educação Só mesmo a boa convivência pode tornar suportável a guerra que tem se transformado o trânsito. Além das campanhas temáticas realizadas pelos órgãos de trânsito, o fórum defende que o trânsito seja incluído na educação transversal e passe a fazer parte da rotina das escolas. Mas para isso é necessário que as instituições, a comunidade e a sociedade em geral cobrem das escolas um maior comprometimento. Pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN), as escolas não são obrigadas a trabalhar a temática, mas o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estimula os órgãos a fazer essa ponte com as unidades educacionais, inclusive com a distribuição de material e técnicos para capacitar os professores.

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A disseminação do veículo de duas rodas trouxe preocupações. Em duas décadas, o aumento da frota passou de 33 mil para 730 mil, um aumento de mais de 2000% . Uma das consequências é o “inchamento” das vias; a outra, mais grave, são as vítimas dos acidentes. O fórum defende a melhoria do transporte público para atrair de volta os usuários que optaram pela moto porque o transporte público não estava conseguindo satisfazer as necessidades de deslocamentos e também mais rigor na formação dos condutores. Hoje com apenas cinco aulas, uma pessoa que nunca teve experiência com moto consegue se habilitar no teste do Detran.

Tolerância zero O trânsito mata mais de 40 mil pessoas por ano no Brasil e, apesar dos avanços na legislação, ainda é grande a sensação de impunidade. Muitas das mortes são enquadradas como homicídio culposo, sem a intenção de matar. O fórum defende tolerância zero para motoristas alcoolizados. Aumentar a presença da fiscalização de agentes, guinchos e mais lombadas eletrônicas. Também defende que os municípios implantem a municipalização dos trânsito. Apenas 26 cidades já implantaram a municipalização e somente 10 funcionam efetivamente.

Sinal vermelho para as motos

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Atenção às novas demandas Conjugar o planejamento urbanístico da Região Metropolitana do Recife com suas demandas por mobilidade. O fórum sugere adequar a rede viária básica de forma a permitir que as ligações sejam condizentes com os fluxos de trânsito, a exemplo da 3ª perimetral, navegabilidade dos rios e arco metropolitano. E ainda proporcionar infraestrutura adequada para as novas demandas habitacionais resultantes da implantação de grandes projetos estruturadores do tipo refinaria, fábrica de automóveis, estaleiro e industrias em geral para evitar o processo de favelização no entorno dos mesmos.

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