VIAGEM VISUAL

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VIAGEM VISUAL Rio de Janeiro

Paulo Rezende

Uberaba Belo Horizonte




Apresentação 5 Introdução 7 Rio de Janeiro 8 Uberaba 19 Carvoaria 25 SOS Rio Uberaba 33 Folia de Reis 42 Casarões de Uberaba 54 Mata Atlântica – uma pálida lembrança 61 Aves do Cerrado 66 Praça da Liberdade 79 A visão do Cemitério 85 Serra da Canastra 92 Passagem do Tempo 101



Apresentação Paulo Vicente de Rezende rodou meio-mundo para descobrir-se e realizar-se naquilo que realmente gosta. Nasceu em Conquista MG, numa fazenda onde corria um riachozinho alegre saltando entre pedras escuras. De lá veio para Uberaba, depois Belo Horizonte, Rio de Janeiro e novamente em Uberaba. Foi na década de 50 que nos conhecemos e nos tornamos amigos. Fui seu professor e trabalhamos juntos em grupos de conscientização política, entre a classe estudantil. No Rio de Janeiro estudou Ciências Sociais. Mas nada disso fez com que se realizasse. Procurou novos rumos e foi terminar estudando pintura, desenho, fotografia e escultura contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Muitos anos se passaram. Vim a encontrá-lo novamente aqui em Uberaba. Foi uma notícia vinda pelo telefone: “Prata, estou novamente em Uberaba. Vim para ficar.” Fui procurá-lo. Eu tinha naquele momento na memória aquele adolescente de 58. Estava diferente, de bigode e barbicha e sem aqueles cabelos negros que tratava com vaidade. Era agora um senhor, já casado, pai e avô. “Time goes by...” Paulo não era mais um bancário, era um artista que se interessava apenas pela arte enquanto arte. Era outra pessoa, mas o mesmo amigo de sempre. Com freqüência nos encontramos. Ele sabe que admiro seu trabalho, por isso não me deixa por fora daquilo que vai criando. É um artista fora dos padrões convencionais. Procura o detalhe. Vai em busca de ângulos aparentemente sem sentido. Não é um realista no sentido que chamamos de ingênuo. Seus quadros, para os leigos no assunto, assustam e causam estranheza. Pintura ou escultura para ele não é algo para ser entendido ou explicado. Ele vai além do comum. Aprendemos na velha filosofia que a arte é a expressão do belo e belo é tudo aquilo que visto agrada. Como diziam os latinos: 5


“Pulchrum est quod visum placet”. Paulo Rezende foge desse esquema. Seus quadros, sua pintura e suas fotos não procuram agradar. Ele procura novos rumos. Usa materiais estranhos, papel, pigmento, chapas, cobre oxidado sobre diferentes suportes. É originalíssimo. São trabalhos experimentais, idéias sem procura de um resultado final, criação aparentemente sem equilíbrio. Todos nós, sem que tomemos consciência, estamos sempre à procura de um sentido para as coisas, de significados. É isto o que caracteriza Paulo Rezende: a procura. Na fotografia é a mesma tendência: a procura de ângulos aparentemente sem significados. Neste livro, agora editado, seu objetivo é perpetuar os lugares pelos quais passou: Uberaba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro. Quase sempre em preto e branco. A fotografia está no seu sangue. É bisneto de José Severino Soares (1835-1917), premiado muitas vezes na Exposição Nacional de Fotografia no Rio de Janeiro. Paulo presta homenagem ao seu bisavô com duas fotografias. Seu livro é um livro de memórias em fotos. Eternizou em suas fotos tudo o que o atraia: velhos casarões de Uberaba, igrejas antigas (ângulos), aves do cerrado, folia de reis, carvoarias, Serra da Canastra. Em 2007, Paulo Rezende, no Centro de Cultura José Maria Barra, fez uma exposição realmente original. São fotografias de pessoas nascidas em cada ano, de 1901 a 2007. Cada foto como que congela o tempo em que foi tirada. Por amizade e delicadeza, “congelou-me” em 1922. Faz tempo, hein, Paulinho? No mais, meus parabéns ao velho amigo ainda não congelado. Parabéns pela originalidade de seu livro como “aquele que corre atrás de coisas que ninguém vê”. Padre Prata Uberaba, julho de 2008 6


Introdução Na década de 60, sai de Uberaba para trabalhar e estudar. Naquela época, era a viagem ao futuro desconhecido, sedutor e cheio de esperança. Uma aventura para todo jovem interiorano, à procura de oportunidade e crescimento no grande centro urbano. Inicialmente, fui para Belo Horizonte, onde terminei meu segundo grau, no Colégio Estadual, ingressei na Faculdade de Ciências Econômicas, no Curso de Sociologia e fui trabalhar num banco mineiro. Posteriormente, fui para o Rio de Janeiro, onde permaneci por mais de trinta anos. Lá, realmente vivi e curti outras vidas. Na década de 90, estudei pintura, desenho, escultura contemporânea, gravura, fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi a minha relação direta e real com a arte: a realização de minhas exposições e o contato com artistas de expressões e linguagens diferentes. A partir de 2002, inicio uma viagem visual com fotografais do Rio de Janeiro, Uberaba e Belo Horizonte. Imagens que ilustram minha vivência com estas cidades e seu entorno: deslumbre com a arquitetura e a natureza; curiosidade com os usos e costumes; denúncia do descaso com o meio ambiente; perturbação com a passagem do tempo. Paulo Rezende Uberaba, 2011

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Rio de Janeiro Rio foi e continua sendo a minha grande experiência de vida. Trabalho, arte, trilhas, escaladas, montanhas, mar, beleza, asa delta, praias, lagoas, calçadão, maresia, vida trepidante, alegria, descontração, cinema, shopping, restaurantes, descobertas. Em cores ou preto e branco, uma maravilha que seduz, hipnotiza e encanta o olhar. No penúltimo dia de minha partida, em 2002, para uma ausência momentânea, registrei, com fotos em preto e branco, um percurso que me é tão rico e sedutor: Botafogo, Copacabana, Lagoa Rodrigues de Freitas, Escola de Artes Visuais Parque Lage, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra, Lagoa de Marapendi, Recreio. Nos anos seguintes, nas oportunidades que retornava ao Rio, continuava a fotografar os lugares por onde passava, congelando as imagens que nunca deixei de admirar.

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Enseada de Botafogo

Copacabana 9


Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Lagoa Rodrigues de Freitas 10


Ipanema e Leblon

Barra da Tijuca 11


Recreio dos Bandeirantes

Praia do Recreio 12


Baia da Guanabara

Centro do Rio de Janeiro – Praça XV 13


Centro Cultural do Banco do Brasil – Instalação da Exposição Lusa a Matriz Portuguesa

Mosteiro de Santo Antônio 14


Marina da Glória

Barco de Pescadores – Barra da Tijuca 15


Cordão de Biguás – Barra da Tijuca

Praia da Barra da Tijuca 16


Lagoa de Marapendi

Pescador – Lagoa de Marapendi 17


Rio de Janeiro vista de Niter贸i

Rio de Janeiro vista a茅rea 18


Uberaba O primeiro impulso que tive, ao retornar a Uberaba, após alguns anos, foi rever algumas construções, inauguradas nas primeiras décadas do século XX, que tanto me seduziram na infância: Grupo Escolar Brasil, Cine Royal, Igreja São Domingos, Igreja Santa Rita, Cine Teatro São Luiz, Mercado Municipal, Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores, Palácio Episcopal. Ao fotografar estes espaços, ia lembrando as histórias que contavam de meu bisavô, um fotógrafo pioneiro, viajor por dezoito Estados brasileiros e Europa, que aqui veio morar e falecer. José Severino Soares (1838-1917), considerado o primeiro fotógrafo de Uberaba, premiado numa Exposição Nacional de Fotografias, realizada no Rio de Janeiro em 1875, retratou pessoas e registrou momentos históricos da cidade. Com duas fotos dele, uma de meu avô, por volta de 1908 e outra da inauguração do Grupo Escolar Brasil, em 03/10/1909, presto minha homenagem. Minhas fotos em preto e branco foram tiradas, com filme de baixa sensibilidade, Kodalith ASA 6, em junho de 2002.

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Accioly Severino Soares, fotografado por JosĂŠ Severino Soares, por volta de 1908 20


Foto de José Severino Soares da Inauguração do Grupo Escolar Brasil, em 03/10/1909

Mercado Municipal 21


Igreja de Santa Rita

Igreja de S達o Domingos 22


Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores

Palácio Episcopal 23


Igreja Santa Teresinha

Cer창mica Misson 24


Carvoaria O contato que mantive com uma carvoaria no Triângulo Mineiro, em 2003, possibilitou o registro de algumas fotos em preto e branco e um breve contato com o trabalhador. O lado mais triste da Carvoaria, além da poluição e agressão ao meio ambiente, é o trabalho do carvoeiro. Por um período, longe de sua família, se estabelece junto aos fornos de onde se afasta, normalmente, após a conclusão da queima e armazenamento do carvão. Um precário barraco, construído de pau a pique e lona, serve de moradia. O trabalho é executado sem nenhuma proteção, sob forte calor e a presença sufocante da fuligem e da fumaça. No domingo preservado, a monotonia é afugentada com muita cachaça. Tive uma recepção acolhedora e alegre, contrastando com um ambiente de desconforto e solidão.

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SOS Rio Uberaba Em 2003, recém chegado à Uberaba e chocado com a poluição do Rio Uberaba, registrei algumas imagens em preto e branco, num trecho de aproximadamente 100 metros, localizado na cidade e próximo da avenida denominada Via Verde. Além do Rio Uberaba, fotografei seu afluente – um esgoto a céu aberto –, nos fundos da Fundação Cultural de Uberaba. A ausência de cores nas fotos denunciava a verdadeira cor plúmbea das águas. Em 2007, quando novamente voltei a fotografar o mesmo local, agora em cores, a constatação foi a mesma: o rio continuava poluído e teimava em sobreviver, com sua bela mata ciliar e com uma fauna que resistia à poluição e ao mau cheiro. A água é o nosso bem mais precioso: constitui dois terços de nosso corpo e 70% da superfície da Terra. Menos de 1% da água terrestre é água doce e própria para consumo humano. No Brasil, apesar de ter a maior bacia hidrográfica do mundo, se o consumo continuar no ritmo atual, cerca de 30% da população poderá ter de racionar água até 2025. A água está se tornando, progressivamente, um dos principais focos de conflito do presente século. Mas, infelizmente, ela continua sendo tratada como uma dádiva eterna que não precisa de cuidados: desperdiçamos, poluímos e desprezamos o nosso bem mais precioso.

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Folia de Reis A Folia de Reis ou Reisado é uma festa popular, de caráter religioso, herdada dos colonizadores portugueses. Sua comemoração era semelhante à portuguesa, pelo menos até o século XVIII, com trocas de presentes na véspera do Dia de Reis. Em Portugal, em meados do século XVII, tinha como principal finalidade divertir o povo. No Brasil, com o tempo, adquiriu traços mais populares, misturando-se a novos elementos, como o candomblé, no Rio de Janeiro, ou às congadas, em Alagoas. Atualmente, a Folia de Reis se constitui de um auto, em que são dramatizadas as passagens bíblicas do nascimento de Cristo, da visitação dos reis magos e da fuga da sagrada família para o Egito. É uma manifestação alegre e colorida, impregnada de expressão de fé e os preciosos versos são preservados de geração em geração, por tradição oral. Entre a véspera de Natal e o dia 6 de janeiro – Dia de Reis –, grupos de cantadores e instrumentistas, trajando roupas coloridas e transportando a bandeira, percorrem a cidade, entoando versos relativos à visitação dos Reis Magos – Baltazar, Belchior e Gaspar – ao Menino Jesus e recolhendo oferendas – comida e dinheiro. Nas apresentações, é “oferecida” a bandeira do grupo – enfeitada com fitas e santinhos –, à qual tributam especial respeito. A Bandeira Guia ou Santa Guia – simbolizando a estrela que orientou os Reis Magos na visita ao menino Jesus – é o maior símbolo da Folia de Reis e vai sempre à frente. O grupo – normalmente integrado por 12 membros (mesmo número dos apóstolos) – é composto pelo Alferes (ou Capitão, chefe da Confraria), dos cantadores, instrumentistas (viola, violão, sanfona, reco-reco, chocalho, cavaquinho, pandeiro, triângulo, caixa são os principais instrumentos) e palhaços. Os palhaços, representando os soldados do Rei Herodes, vestidos com roupas coloridas e cobertos 42


por máscaras, são responsáveis pela distração e divertimento de quem assiste à apresentação e vão sempre afastados um pouco da formação normal da Folia, nunca se adiantando à bandeira. A Folia de Reis é comemorada, notadamente, em cidades do interior do Nordeste, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e nas periferias de grandes cidades. Na década de 20, estava restrita ao meio rural. Com a intensa migração dos camponeses para os grandes centros urbanos, houve o deslocamento das antigas Companhias de Reis. A Folia de Reis, ao lado de Congadas e Moçambique, é uma das manifestações do folclore mais antigas em Uberaba-MG. Atualmente, esta cidade conta com, aproximadamente, 100 companhias. As fotos em preto e branco foram tiradas por ocasião do 48º Encontro Anual de Folia de Reis, realizado em 12 de fevereiro de 2006 e, as fotos em cores, em 4 de março de 2007.

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Casarões de Uberaba Na cidade de Uberaba-MG, no final do ano de 1.800 e nas primeiras décadas do ano de 1.900, foram construídos casarões, tanto em estilo art déco e eclético, com elementos neoclássicos, como na arquitetura islâmica indiana – esta em decorrência do intenso contato dos criadores de gado Zebu com a Índia. No decorrer dos anos, poucos foram preservados, alguns tombados pelo Patrimônio Histórico e restaurados – como resgate da cultura e preservação de uma época –, muitos derrubados e, em seu lugar, construídos diferentes tipos de edificação. Os casarões remanescentes – que, no passado, tiveram momentos de glória e hoje se encontram abandonados e em avançado processo de deterioração – ainda resistem, à espera de restauração e inclusão definitiva à memória arquitetônica da cidade. As fotos em preto e branco foram tiradas nos meses de março e abril de 2006.

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Mata Atlântica – uma pálida lembrança No início do ano de 2007, pela manhã, ao longo da Rodovia Anhanguera, no sentido da cidade de Ribeirão Preto-SP ao Triângulo Mineiro, enfrentei um tempo chuvoso, totalmente fechado, com baixa visibilidade. A visão de uma paisagem desolada, com raríssimos exemplares de uma outrora exuberante Mata Atlântica, criava um ambiente lúgubre em contraste com a luminosidade que normalmente está presente na região. A presença de isoladas e pouquíssimas palmeiras, ipês, embaúbas, cedros, jequitibás, buritis inseridos num cenário momentâneo de nebulosidade, carregava a lembrança pálida, apagada e muito fragmentada do território original ocupado pela Mata Atlântica. A Mata Atlântica percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta, ocupando uma área de 1 milhão e 300 mil quilômetros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica e, atualmente, restam apenas cerca de 5% da sua extensão original. Em relação ao Estado de São Paulo, a Mata Atlântica cobria 80% do seu território. O início do desmatamento na região fotografada coincide com a formação das primeiras fazendas de café do século 19 e prosseguiu, até hoje, com a produção de álcool e açúcar. Depois dos 500 anos de ocupação, o que restou da Mata Atlântica está confinado aos poucos corredores ainda existentes ao longo das encostas, local onde era mais difícil cortar, em especial nas regiões Sul e Sudeste, ao longo das Serras do Mar, Geral e da Mantiqueira. Além desses remanescentes, o que ficou são ilhas isoladas no planalto e na região Nordeste.

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Aves do Cerrado Todas as fotos foram tiradas no estado de Minas Gerais, especificamente na cidade de Uberaba e na zona rural de Sacramento. Deslumbrado pela grande quantidade de espécies de aves na cidade de Uberaba, onde atualmente estou residindo e trabalhando, decidi iniciar um trabalho fotográfico no ano de 2007. Posteriormente, visitei a área rural de Sacramento e a Serra da Canastra. A avifauna do Cerrado, com cerca de 837 espécies – de mata, de campos de cerrado, de campos de altitude, brejos, matas ciliares, veredas de buritis, rios, lagoas –, é extremamente rica e diversa, abrangendo aproximadamente metade das aves listadas no Brasil. As áreas nativas, hoje, representam menos de 30% de sua extensão original. O Cerrado, um dos biomas de maior diversidade de fauna e flora do mundo, integra o bloco dos 25 grandes biomas mais ameaçados do planeta, segundo estudo da ONG Conservation International. As aves respondem à ação antrópica, colonizando novas áreas, abandonando outras, ou permanecendo nos habitats pouco alterados Com as construções das cidades, ocorreu a substituição dos ambientes naturais pelos habitats ditos antrópicos – ruas, praças, pomares, lagos, jardins, gramados, casas, prédios –. Nas áreas rurais, fez-se a conversão do cerrado nativo por áreas de pastagens, cultivos agrícolas, fazendas. Se quisermos ter a companhia das aves do cerrado, precisamos da vegetação e da paisagem do cerrado, de plantas, flores e frutos, bem como permitir a sobrevivência, controlando predadores, coibindo a caça e a captura, estimulando reprodução em cativeiro para atender à demanda de aves de estimação, realizando pesquisas para manejar o ambiente de forma favorável a toda avifauna nativa.

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Alma-de-gato (piaya cayana)

Anu-branco (guira cuckoo) 67


Bem-te-vi (pitangus sulphuratus)

Canรกrio-da-terra-verdadeiro (sicalis flaveola) 68


Papa-mosca-do-cerrado (culicivora caudacuta)

Tucanuรงu (ramphastos toco) 69


Gavi茫o-carij贸 (rupornis magnirostris)

Encontro (icterus cayanensis) 70


Gralha-do-cerrado (cyanocorax cristatellus)

Tico-tico (zonotrichia capensis) 71


Birro (melanerpes candidus)

Caracarรก (caracara plancus) 72


PrĂ­ncipe, verĂŁo (pyrocephalus rubinus)

Curicaca-comum (theristicus caudatus) 73


SaĂ­-andorinha (tersina viridis)

Suiriri (tyrannus melancholicus) 74


Maria faceira (syrigma sibilatrix)

Sabiรก-do-campo (mimus saturninus) 75


Jo達o-de-barro (furnarius rufus)

Periquito-rei (aratinga aurea) 76


Seriema (cariama cristata)

Pica-pau-do-campo (colaptes campestri) 77


Sabiรก-do-banhado (embernagra platensis)

Tiziu (volatinia jacarina) 78


Praça da Liberdade Belo Horizonte foi a primeira grande cidade que conheci. Naquela época, havia um grande êxodo de jovens das cidades do interior que procuravam, na grande cidade, a oportunidade de crescimento escolar, profissional. O contato com um novo mundo, mais trepidante e repleto de novidades, provocava uma grande excitação e carga emocional. Tempos de descobertas, de mudanças embaladas pela música dos Beatles, pela nouvelle vague, pelas pregações do Frei Xico, pelas aulas de antropologia do Rubinger, pelos movimentos de esquerda, pelo ambiente surreal e bachiano do Bu “Che” co. Momentos precocemente abafados pela TFM, pelo movimento militar. Em fevereiro de 2007, depois de alguns anos, visitei, com certa nostalgia e com outro olhar, a capital mineira. Agora, bem maior, com novas construções, shoppings, concessionárias, locais e bairros transformados, uma nova Savassi. Mas a grande surpresa foi a Praça da Liberdade, ponto de encontro da cidade, com seu estupendo conjunto arquitetônico e paisagístico restaurados: Palácio da Liberdade, Secretarias de Estado em estilo eclético com elementos neoclássicos, construções no estilo Art Déco, prédios modernos como o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, coreto, fontes e a exuberante e magnífica aléia de palmeiras imperiais.

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A visão do Cemitério A visão do cemitério sempre nos causa certo temor. Visitá-lo, só mesmo como obrigação, algo forçado: em enterro de parente, de amigos próximos, de celebridades, de pessoas com quem estabelecemos um vínculo qualquer. Quando criança, ir ao cemitério no dia 2 de novembro, geralmente sob um sol escaldante, era uma obrigação mórbida, revestida quase sempre de curiosidade: caminhar pelas ruas dos túmulos à procura de algum conhecido morto, olhar as fotos e ficar imaginando como seriam essas pessoas em vida. Ou, simplesmente, vagar o olhar sobre as torres, as cruzes, os vasos, as inscrições, as estátuas de anjos e as diferentes edificações, numa experiência sem sucesso ao tentar decifrar aquela estranha, irreal e silenciosa moradia. Hoje, vou visitar o cemitério sem nenhuma obrigação. Com outra curiosidade e olhar: entender e registrar as diferenças construídas. A construção do cemitério, mantendo todas as diferenças existentes em vida – edificações imponentes, outras pobres, locais valorizados contrastando com simples espaços –, somente resulta numa tentativa inútil de dissimular o nivelamento imposto pela morte. As fotos do cemitério de Uberaba foram tiradas em março de 2007.

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Serra da Canastra Em julho de 2007, fizemos uma inesquecível excursão ao Parque Nacional da Serra da Canastra. Uma paisagem de tirar o fôlego: ar puro, chapadão a perder de vista, longínquas montanhas, céu de um azul intenso. As grandes ondulações de terreno, com predominância da vegetação rasteira, constituíam uma paisagem única. Uma rara e deliciosa sensação de ser único naquela imensidão. Época de extrema seca, as matas ciliares eram isoladas e destacadas manchas verdes numa imensa planície de tons desvanecidos. Raras flores se destacavam e algumas poucas aves (seriema, urubu-rei, maria-branca, maria-preta, bico de pimenta, ticotico, caracará e outras por nós desconhecidas) davam sinal de vida. Para nossa frustração, não encontramos as grandes atrações: o lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro. Antes de iniciar a saída do Parque, a parada obrigatória para visitar a nascente do Velho Chico. Após 60 km de estrada de terra, descemos a serra e rumamos para o vale com vista privilegiada do belo, imponente e magnífico maciço da Serra da Canastra. Outras surpresas nos esperavam: a saborosa comida mineira, o contato com o Rio São Francisco, a visita imperdível à Cachoeira Casca D’Anta – 186 metros – e o estonteante vôo de ultraleve sobre o vale e o chapadão da Serra da Canastra.

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Passagem do Tempo Em setembro de 2007, realizei, no Centro de Cultura José Maria Barra, SESI/FIEMG, Uberaba, uma exposição de fotografias, numa tentativa de registrar o período ocorrido nos últimos cento e seis anos, um quinto da história do nosso País. As próprias fotos das pessoas, nascidas em cada ano, de 1901 a 2007, tentam congelar o tempo na ocasião em que foram tiradas. Os registros dos eventos, nascimentos e falecimentos, acontecidos em cada ano, permitiu à memória saltar sobre a cronologia, recuperar o tempo passado e concluir, numa reflexão viva do presente, que o homem é um ser que existe no tempo e que a vida humana é uma passagem. Das 106 pessoas fotografadas, selecionei onze, cada uma representando a década de seu nascimento.

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1901-2007, Vó Fiúca  Início do século XX  Pela primeira vez, realiza-se a entrega do Prêmio Nobel: Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz.  Segurança nas transfusões com a classificação dos tipos sangüíneos (A/B/O)  Realizada em Paris a primeira exposição do jovem pintor (19 anos) Pablo Picasso  Promulgada, no Brasil, a 1ª Constituição Republicana  Santos Dumont ganha o prêmio Deutsch de la Meurthe por contornar a torre Eiffel  No Rio, a capoeira, o batuque e a umbigada são proibidos  A “Cidade de Minas”, capital de Minas Gerais, é rebatizada como “Belo Horizonte”  Nascimento de Carl Barks, criador do Pato Donald e outras personagens (m. 2000), Hirohito, Imperador do Japão (m. 1989), Louis Armstrong, músico (m. 1971), Walt Disney, cineasta (m. 1966)  Falecimento da Rainha Vitoria do Reino Unido (n. 1819), Giuseppe Verdi, compositor italiano de óperas (n. 1813) 102


1912, Galdino  Os EUA absorvem 36% das exportações brasileiras  Fundado o Santos Futebol Clube  Fundada a Faculdade de Medicina de São Paulo (USP)  Titanic afunda na viagem inaugural  Nascimento de Jackson Pollock, pintor norte-americano (m. 1956), Jorge Amado, escritor (m. 2001), Luiz Gonzaga, o “rei do baião” (m. 1989), Mazzaropi, comediante (m. 1981), Michelangelo Antonioni, cineasta italiano (m. 2007)  Literatura: Tarzan dos Macacos, de Edgar Rice Burroughs

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1922, Padre Prata  Descoberta a vitamina E  Criado o Imposto de Renda  Semana de Arte Moderna  Oficializada a letra do Hino Nacional Brasileiro  Formação da União Soviética  Fundação do Partido Comunista do Brasil  O nadador Johnny Weissmuller (futuro Tarzan em 1932) bate o recorde dos 100 m livre (58,6 segundos)  Nascimento de Pier Paolo Pasolini, cineasta, escritor (m. 1975), Leonel Brizola, político (m. 2004), Otto Lara Resende, escritor mineiro (m. 1992), Tônia Carrero, atriz, Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor (m. 1997), José Saramago, escritor português (m. 2010)  Falecimento de Gastão de Orleans, Conde D´Eu (n. 1842)  James Joyce publica Ulisses, marco da literatura moderna

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1936, Cezar  Publicação da primeira tira de BD Fantasma, de Lee Falk.  Hitler assina aliança com o ditador italiano fascista Benito Mussolini  Nascimento de Martha Rocha, Miss Brasil, Éder Jofre, pugilista, Pedrinho Mattar, pianista (m. 2007), Luiz Fernando Veríssimo, escritor  Literatura: Raizes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda

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1949, Cidmar  Criação da OTAN  União Soviética testa sua primeira bomba atômica  Mao Tsé-tung funda a República Popular da China  A Alemanha é oficialmente dividida em dois países  Criado o Dia dos Namorados no Brasil  Nascimento de Djavan, cantor, Niki Lauda, piloto de F1, Ana Maria Braga, apresentadora de TV, Antonio Fagundes, ator, Bete Mendes, atriz, Emerson Leão, futebolista, Meryl Streep, atriz, Fagner, cantor, Simone, cantora  Falecimento de Richard Strauss, compositor austríaco (n. 1863)

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1957, Cardoso  Considerado o ano inaugural do movimento musical urbano da Bossa Nova  Tratado de Roma estabelece a Comunidade Econômica Européia  Lançamento do Sputnik I, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra  O piloto argentino Juan Manuel Fangio vence o GP da Alemanha, em Nürburgring e conquista seu quinto título mundial na Fórmula 1  No Maracanã, Pelé estreia na seleção brasileira, com 16 anos de idade  A Filial Brasileira da Volkswagen começa a funcionar com a produção diária de oito veículos  Nascimento de Osama bin Laden (m. 2011), fundamentalista islâmico, Spike Lee, cineasta  Falecimento de Humphrey Bogart, ator (n. 1899), Washinton Luis, Presidente do Brasil (n. 1869), Diego Rivera, pintor mexicano (n. 1886)

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1966, Gislaine  China: revolução cultural queima livros ocidentais  Golpe de estado que instaurou a ditadura argentina  Os Beatles dão o seu último concerto, em São Francisco  Nos EUA é concebido um aparelho que roda jogos eletrônicos na televisão, lançado comercialmente apenas seis anos mais tarde  Entra no ar, em São Paulo, no canal 05, a TV Globo  Inauguração da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)  O presidente Castello Branco fecha o Congresso Nacional  A jovem equipe do Cruzeiro vence o melhor time de futebol da época, o Santos, por 3 a 2, no Pacaembu e sagra-se campeão da Taça Brasil  Nascimento de Romário, jogador de futebol, Alexandre Borges, ator, Mike Tyson, boxeador campeão de peso pesados, Fernanda Torres, atriz, Cláudia Raia, atriz, Giulia Gam, atriz  Falecimento de Venceslau Brás, Presidente do Brasil (n. 1868), Walt Dysney (n. 1901), Buster Keaton, comediante (n. 1895)

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1978, Marcinho  O cardeal polonês Karol Józef Wojtyła se torna o papa João Paulo II  Nasce na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo  Começam a ser implantados os primeiros sistemas de telefonia celular  Ernesto Geisel envia emenda ao congresso para acabar com o AI-5  Suicídio em massa dos seguidores do pastor Jim Jones, que tomaram veneno, morrendo cerca de 912 pessoas  Criado o avião Boeing 767  Nascimnento de Carolina Dieckmann, atriz, Danielle Cicarelli, modelo  Falecimento de Papa Paulo VI (n. 1897), Papa João Paulo I (n. 1912)

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1986, Roberta  O ônibus espacial Chellenger explode exatos 72 segundos após decolar, matando seus sete tripulantes  Criado o Plano Cruzado, plano econômico que previa congelamento e tabelamento de preços e salários  Chernobyl é assolada por um desastre nuclear  Nascimento de Rafael Nadal, tenista espanhol  Falecimento de Simone de Beauvoir, escritora e filósofa francesa (n. 1908), Jorge Luis Borges, escritor argentino (n. 1899), Cary Grant, ator (n. 1904)

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1999, Antônio  O euro começa a ser usado em transacções electrónicas, em onze países  Projeto da Internet2 brasileira prevê a interligação entre 14 cidades, para teleducação e telemedicina, revolucionando a rede pública  Internet 2 será 300 vezes mais veloz que a atual  Falecimento de Antônio Houaiss, filólogo, escritor (n. 1915), Bidu Sayão, soprano brasileira (n. 1902), Dias Gomes, dramaturgo brasileiro (n. 1922)  Literatura: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de J. K. Rowling

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2006, Júlia  Plutão deixa de ser reconhecido como um planeta  Centenário do vôo histórico do 14 Bis  Decola o primeiro vôo entre São Paulo e Pequim  Boeing 737 da GOL, com 154 passageiros a bordo, colide com outro avião de pequeno porte. Não houve sobreviventes  Colapso no sistema aéreo brasileiro provoca atrasos nos aeroportos do país  Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, vencido por Felipe Massa, tornando-se o primeiro brasileiro a vencer em casa desde Ayrton Senna, em 1993  Brasil sagra-se campeão mundial de vôlei masculino  Cientistas divulgam o mapa genético das abelhas  Cientistas da Nasa encontram provas de água no planeta Marte  Muçulmanos protestam contra declarações do papa Bento XVI sobre Maomé  Falecimento de Betty Friedan, líder feminista estadunidense (n. 1921), Aldemir Martins, artista plástico (n. 1922), George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha (n. 1915), Raul Cortez, ator (n. 1932), Puskás, jogador de futebol húngaro (n. 1927) 112


Paulo Rezende Nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especializou-se em Ensino de Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Estudou pintura, desenho, escultura contemporânea, gravura e fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, entre 1996 e 2001. Em 2005, participou como artista local do projeto Rede Nacional Artes Visuais/FUNARTE, em Uberaba. Paulo Rezende expõe seus trabalhos desde 1997 e foi premiado no 2º Panorama de Artes Plásticas de Uberaba em 2002, no III Salão Nacional de Artes Plásticas de Curvelo em 2005 e no Festival de 1 Minuto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro na Categoria Arte em 2008. Suas obras fazem parte do acervo de várias instituições culturais.

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