Revista Premium

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ANO 4 - Nº 11

ANO 4 - Nº 11

Brasília Cinco edifícios da capital do País que se tornaram símbolos arquitetônicos

Encantos da Índia Passeios históricos e badalação no destino que virou sinônimo de espiritualidade

Marieta Severo Mãe companheira, avó coruja e atriz realizada




Expeditente

Queiroz Galvão Diretor-presidente: Diretores Corporativos:

Regionais:

Frederico Pereira Administrativo: Arno Stupp Engenharia: Henrique Suassuna Fernandes Financeiro: Fernando Roberto Bitu Moreno Produtos / Projetos: Ricardo Costa Carvalho de Gusmão Regional PE: Mucio Pires de Souto Regional SP: Carlos Roberto Morais Coimbra Regional BA: Luiz Pimentel Regional RJ: Pedro Gomes da Cunha Regional DF: Claudia Simone Moreiras

Editora

JB Pátria Editora Ltda. Presidente: Diretor: Administrativo / Financeiro: Circulação: Comercial:

Jaime Benutte Iberê Benutte Gabriela S. Nascimento Patricia Torre Otto Busch

Premium Magazine Publisher: Conselho editorial: Editora: Projeto gráfico e arte: Diretor de arte: Revisão: Colaboradores: Impressão:

Jaime Benutte Carol Boxwell, Christiana Guimarães, Germana Monte, Michaella Baratz e Ricardo Leal Kelly Souza Belatrix Ltda. Marcelo Paton Patrícia Pappalardo Amanda Sampaio, Dani Berti, Kalinka Merkel, Manoela Ferreira, Marina Monzillo, Priscila Roque e Vanessa Kiyan Gráfica Santa Marta Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.

A Revista PREMIUM QUEIROZ GALVÃO é uma publicação trimestral da JB Pátria Editora Ltda. www.patriaeditora.com.br Fale Conosco:

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Editorial

décima primeira edição da revista Premium vem com novo design, novas seções e uma homenagem a Brasília, em uma matéria que destaca os edifícios que se tornaram símbolos da arquitetura da capital do País. Na estreante seção Top 5, convidamos o designer Pedro Franco para eleger os cinco objetos que ele considera mais incríveis no mundo do design. E como nem sempre o reconhecimento de uma peça se sobrepõe à fama de seu criador, criamos a seção Arte Contemporânea, onde enfatizamos algumas personalidades que firmaram seus nomes no mercado arquitetônico e hoje estão além de seus projetos. Em Bem Viver, alguns especialistas dão dicas de como montar em casa ambientes que estimulem o descanso sem a necessidade de fazer grandes reformas. Uma chaise aqui, uma vela acolá, e seu home theater ou varanda se transforma em um ambiente de leitura, de tarefas prazerosas ou simplesmente um espaço onde é possível somente relaxar. Marieta Severo e o carisma conquistado junto ao público após 12 anos interpretando a personagem Dona Nenê, em A Grande Família, e Paulo Borges, com suas alegorias fantásticas de carnaval são os artistas escolhidos para trazer ainda mais alegria a essa edição. Os encantos da Índia, com dicas de uma repórter que passou trinta dias por lá, recheiam a seção Turismo. E por falar em recheio, se o mundo acabasse hoje, qual seria sua última refeição? No embalo das lendas que envolvem o ano 2012, chefs de diferentes regiões do País entraram no clima de brincadeira e responderam à pergunta. Os personagens que marcaram a história do cinema brasileiro e as comemorações do centenário de Jorge Amado também são temas das próximas páginas. Aproveite! Frederico Pereira Diretor-presidente

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Sumário

Brasileiros Ilustres

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O carnaval de Paulo Barros tem efeitos dignos de filmes hollywoodianos

Capa:

Marieta Severo Foto:

Jorge Bispo

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Decor

Paisagismo Sustentável

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Especialistas dão dicas de como montar ambientes externos de bem com a natureza

Jardins de inverno trazem a alegria das plantas para dentro de casa sem perder o aconchego

e ainda... 8 Spot

14 Top 5

Moderno, retrô ou ecológico: objetos decorativos para todos os estilos

O designer Pedro Franco destaca cinco peças do mundo do design

20 Arte ContemporâNea Grandes arquitetos, decoradores e designers de interiores da atualidade

48 Gourmet Se o mundo acabasse hoje, qual seria sua última refeição? Cinco chefs respondem à pergunta


Capa

Destino internacional

32

Marieta Severo fala sobre filhas, netos e da familiriaridade com o público após 12 anos de A Grande Família

38

Caótica, porém encantadora, a Índia é um convite a passeios históricos e espirituais

Arquitetura

58

Brasília e seus cinco poderes da construção: edifícios que se tornaram símbolo da arquitetura local

54 Bem viver

62 Queiroz Galvão

72 Art Cinema

76 Art Cultura

82 Crônica

Ambientes que se transformam em verdadeiros espaços zen

Os lançamentos da construtora em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Salvador

Os personagens que marcaram história no cinema brasileiro – e na memória do público

Homenagens por meio de exposições e minisséries marcam o centenário do escritor Jorge Amado

Uma estante, alguns livros e muitas lembranças...

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Spot

Consumo

Design, tecnologia e arte para decorar a casa

Ilusão de ótica O designer Fabio Novembre deu um toque mágico para um objeto cotidiano com a criação da Org Table. Com tampo de vidro e pernas flexíveis feitas de corda, a peça lembra um cristal flutuante. Para que o tampo de mantenha firme, há Fotos: divulgação

algumas pernas fixas na mesa, com articulações cilíndricas de aço inox. Pelo excesso de cordas e pelo lado lúdico que a peça desperta, Novembre brinca ao se referir à parte inferior da mesa como uma floresta por onde passam Tarzan e Jane. Disponível nas cores vermelho, preto ou branco. Mais informações no site: www.unicahome.com

Efeito mágico O tradicional ponto de crochê ganhou uso inusitado nessa poltrona de Marcel Wanders, um dos grandes designers da atualidade. A peça é composta por fios de malha trabalhados com pontos de crochê e endurecidos com epóxi. Não é a primeira vez que o designer transforma algo extremamente delicado em um mobiliário resistente, leve e esteticamente atraente. Sua coleção de peças de crochê – feitas em edição limitada – inclui luminária, cadeira e mesa. Mais informações de venda no site: www.marcelwanders.com

Com jeito de artesanal Lembra-se daqueles canudinhos de papel feitos de jornal ou revista que se aprende a fazer na escola? Pois é, a ideia saiu das salas de aula do passado e se tornou moda na decoração do presente. Muitos objetos feitos de canudos de folhas de revista têm adornado espaços em grandes mostras de decoração pelo país, o que confirma essa tendência. O sofá Luxury é uma dessas peças feitas com reaproveitamento de papel, e faz parte da linha Eco-Friendly da loja Espaço Til. Mede 52 cm X 92 cm. Preço: R$ 1.538,00. Site: www.espacotil.com.br

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Gibi na estante A moderna estante da Schuster faz parte da linha Valentina e agrada quem prefere uma decoração moderna. A coleção leva o nome de uma personagem de histórias em quadrinhos da década de 60, que representa o espírito estético da época com um certo erotismo artístico. Valentina foi criada pelo ilustrador italiano Guido Crepax, à imagem e semelhança da atriz Louise Brooks. A ideia era que ela fosse uma coadjuvante nas histórias de Crepax, mas ficou tão famosa que ainda hoje tem sua imagem utilizada. Informações de venda: www.moveis-schuster.com.br

Clima retrô A minigeladeira com estampa dos antigos sucessos da Coca-Cola é uma boa opção para manter suas bebidas na temperatura certa e sempre à mão, seja no cantinho do quarto, num bar residencial ou até mesmo em viagens e passeios. Mede 28 x 25 x 18 cm e tem capacidade para 4 litros (6 latinhas). Pode ser ligada na tomada (110V) ou até mesmo no acendedor de cigarros do carro. É feita de plástico resistente e possui uma alça na patê superior. O visual retrô dá um ar de exclusividade à peça. À venda na loja virtual Laris: www.laris.com.br. Preço: R$ 549,00 (Coca-Cola Drive-Thru)

Design cultural A vida cosmopolita e agitada num centro comercial de uma grande cidade: essa foi a inspiração para que o designer maranhense Júnior Ramos criasse o banco People, da Quadrante Design. A peça ganhou destaque na mídia, prêmios e participações em mostras internacionais. O assento é feito de madeira laminada, presa a oito pares de silhuetas de pernas humanas por parafusos tipo barra roscada. Lúdica, a peça lembra uma multidão em movimento, em um local em que as diversidades culturais convivem de forma harmônica. Informações de venda: www.quadrantedesign.com.br

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Spot

Para os dois lados O banco Ibirapuera, da Tora Brasil, tem encosto móvel de ferro que possibilita escolher em qual lado sentar. É uma boa opção para espaços públicos ou áreas externas de uma casa. É feito de madeira Pequiá. De acordo com informações da empresa, a matéria-prima da Tora Brasil provém de floresta de manejo de impacto reduzido no norte do Pará. Preço: R$ 18.000,00. Site: www.torabrasil.com.br

Natureza esculpida As peças artesanais da Raízes Design dão a impressão de trazer um pouco da natureza rústica para dentro de casa. Em formato de plantas e bichos, as peças ficam bem tanto como enfeites de parede ou como esculturas. A obra Beija-Flor é esculpida na raiz de candeia (corpo) e pau-brasil (flor). A haste é de aço inox reciclado e o acabamento é com madeira tratada com cera de abelha. A Árvore do Cerrado é de raiz de candeia, peroba rosa e pau-brasil. Ambas as peças são do designer Rogério Fernandes. Preços: R$ 620,00 (Árvore do Cerrado) e R$ 550,00 (Beija-Flor). Site: www.raizesdesign.com.br

Inspiração no campo Antes de criar um sofá de vime, a designer Eulália de Souza Anselmo assistiu a uma colheita do material. Viu que a armazenagem era feita separando o vime em maços e pendurando-os num galpão velho de madeira. O imigrante italiano trabalhava duro no meio de uma paisagem linda: o sofá Vimeiro estava ali, naquela produção, naquele cenário. Sobre os amontoados de feixes de vime natural, Eulália colocou o futon de algodão que finaliza a peça. O resultado, segundo a própria designer, é fronteira entre design e expressão artística. À venda na Dpot: www.dpot.com.br. Preço sob consulta.

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Movimentamos diariamente 1 bilhão de pessoas no mundo. Isso quer dizer que em 1 semana movemos o mundo. Para nós, elevadores, escadas e esteiras rolantes são mais que simples meios de transporte. São responsáveis pelo movimento da vida e pela mobilidade de milhões de pessoas ao redor do mundo. Para sermos mais exatos, transportamos 1 bilhão de pessoas diariamente em nossos equipamentos em mais de 100 países. Esse impressionante número nos dá orgulho e satisfação. Afinal, cada uma dessas vidas, com seus sonhos, ideias e emoções, deve ser levada por nossos equipamentos com segurança e conforto. Por isso, é pensando em você que buscamos, todos os dias, soluções inovadoras, modernas e eficientes.

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Spot

Banho divertido A Ducha Manual Sapo, da Metalbagno Spazi, tem um sapo de silicone que revira os olhos e grasna quando sua cabeça é apertada. É possível retirar a capa de sapo, e por baixo há um chuveiro com três opções de jatos: um acaricia a pele com uma sensação de chuva leve, outro proporciona uma massagem e o terceiro é uma combinação de ambos. Preço: R$ 547. Site: www.metalbagno.com.br

Esculturas As Árvores com Frutas, do artista Mario Cafiero, são feitas de madeira maciça e chapa zincada com recorte a laser e pintura eletrostática. As peças têm várias opções de temas, todas numeradas, datadas e assinadas. Comercializadas pela Vd’sign: www.vdsign.com.br. Preço: a partir de R$ 500.

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UM CONVITE À ARTE DE VIVER BEM. IMAGENS ILUSTR ATIVAS

I M AG E N S I LU S T R AT IVA S

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Vendas

Realização

Todas as perspectivas e plantas arquitetônicas contidas neste material são meramente ilustrativas, podendo sofrer alterações de cor, formato, textura, posição, acabamento, metragem. A vegetação será entregue conforme especificado no projeto do empreendimento, sendo suas imagens meramente representações da futura fase adulta das espécies. As especificações estão contidas no memorial descritivo. Projeto legal em aprovação sob o número 02/270.067/2011. As vendas do empreendimento só ocorrerão após o registro do memorial de incorporação no cartório competente. Engenheiro responsável: Pedro Gomes da Cunha- CREA RJ 162545\D. Arquiteto responsável: Inácio Leão Obadia CREA 18.859-D.


To p 5

Pedro Franco

e sua jovialidade inspiradora

Designer reconhecido internacionalmente indica cinco peças modernas e ousadas que compõem um interessante mix de brasilidade e globalização Foi a partir de um workshop ministrado pelos Irmãos Campana que Pedro Franco entrou no universo do design. O primeiro resultado dessa imersão que ele fez no mundo das formas foi a poltrona Orbital, que no ano seguinte já estava exposta no Fuori Salone de Milão e na mostra Brasil Faz Design. Três anos mais tarde, Vanni Pasca, atual curador da Abitare Il Tempo — segunda maior mostra de design da Itália — publica a Orbital na capa do livro Scenari del Giovane Design, o que fez o trabalho do brasileiro ganhar reconhecimento e projeção internacional. Atualmente é dono da loja A Lot Of e expandiu sua atuação para além do design de produto ao se tornar idealizador

ções, como a poltrona Supernova, que recebeu o prêmio

e curador da mostra Brasil É Cosi, no Salão do Móvel de

Profissional Brasil Faz Design, exposta no Museu Brasileiro

Milão, criada com o objetivo principal de internacionalizar o

da Escultura, e hoje é vendida em países como Itália, Fran-

design brasileiro que dita tendências.

ça, Áustria e Kuwait. Franco é contrário à massificação,

O designer canarinho de 33 anos é dono de um estilo mo-

caminho que buscou em contrapartida ao produto chinês.

derno e arrojado que se reflete em suas premiadas cria-

Para ele, cada produto deve ser único e exclusivo.

Vermelha Chair, Irmãos Campana (Brasil) “Fernando e Humberto Campana são os grandes responsáveis não só por internacionalizar o design brasileiro, mas também por trilhar rumos jamais vistos no design contemporâneo. Tem importância histórica para o design, assim como Deschamps Design e Memphis Group”, explica Franco. A cadeira é fabricada pela italiana Edra.

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Skate Chair, Zanini de Zanine (Brasil) “Essa peça do Zanini de Zanine tem um recontexto de shapes de skate. Vale a pena anotar e acompanhar este jovem designer brasileiro.”

The Ghost Chair, Valentina Gonzalez Wohlers (México) “Peça lúdica e divertida, assinada por uma promissora designer mexicana.”

Lockheed Lounge, Marc Newson (Austrália) “Peça high-tech, característica do trabalho de Newson. Tem titânio em sua produção.” Essa poltrona, única no mundo, atingiu £ 1 milhão na Sotheby´s quando foi arrematada.

Crates Cabinet, Droog Design (Holanda) “Recontextualiza caixas de feira e supermercados. Peças clássicas datadas de 2001 por este coletivo holandês.”

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Fotos: Mauro Samagaio

Brasileiros Ilustres

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O mago do

Carnaval Paulo Barros e sua ousadia artística com claras referências à cultura pop americana a Marquês de Sapucaí, diante de um público atônito, a comissão de frente troca de roupa em um piscar de olhos. Sanfonas viram molas dançantes. Personagens perdem a cabeça, literalmente. O ilusionismo, o efeito surpresa e a estética inovadora são os elementos da revolução comandada por Paulo Barros no carnaval carioca desde que ele assumiu a Unidos da Tijuca em 2004. Sua ousadia já garantiu dois títulos à escola, em 2010 e 2012. Não se via um carnavalesco tão autoral, cujos acenos artísticos são tão fortemente identificados, desde o reinado de Joãosinho Trinta na Beija-Flor nas décadas de 70 e 80. E foi exatamente em Nilópolis, terra da Beija-Flor, que Paulo Barros nasceu há 50 anos. Cresceu folião, participando da vida no barracão da escola, mas sem sonhar em virar um profissional do carnaval. Apaixonado pelos Estados Unidos, foi estudar inglês e se tornou comissário de bordo da Varig. Antes, fez faculdade de Arquitetura por dois anos até sofrer um grave acidente automobilístico. Teve problemas no rosto e uma recuperação difícil, após algumas operações. Na companhia aérea, foram 13 anos até largar tudo novamente, mas levou tempo para conseguir emprego em uma escola de samba. Começou como carnavalesco em 1999, na Arranco Engenho de Dentro. No Grupo Especial, estreou na Unidos da Tijuca. Saiu em 2006 para comandar primeiro a Viradouro, depois a Vila Isabel. Só voltou em 2010.

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Brasileiros Ilustres

Criar efeito visual e cenografia de impacto é a marca do carnavalesco

Festa carioca com ares de Hollywood

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A tal paixão pelo estrangeiro, porém, continua. As criações

que Paulo Barros é conhecido. Outra característica mar-

de Paulo têm referências claras à cultura pop, ao cinema e

cante são as suas alegorias vivas. Seus carros são per-

seus efeitos especiais. Harry Potter já apareceu na aveni-

formáticos, como aquele de 2004 em que pessoas re-

da assim como Michael Jackson, Homem-Aranha, Indiana

produziram a estrutura do DNA. O efeito visual é sempre

Jones e Rei Leão. Não faltam alfinetadas: é criticado por

impactante, a cenografia e os componentes da escola se

americanizar o brasileiríssimo carnaval. Ele confessa: esse

misturam, se transformam.

é um motivo a mais para manter a “globalização cultural”

No desfile de 2012, a Unidos da Tijuca deu um show: havia

dos desfiles. Trata-se de uma espécie de provocação

um carro feito inteiramente de barro, e a bateria misturou

bem-humorada.

forró ao samba para fazer uma homenagem a Luiz Gonza-

Mas não é só por aproximar Hollywood do Rio de Janeiro

ga, o Rei do Baião. Um ginasta romeno foi chamado para


“Realmente gosto de inventar. Tenho vários livros de receitas,

mas não me conformo com elas”

fazer acrobacias na comissão de frente – as tais sanfonas que viravam molas. A coreografia foi assinada por Priscilla Mota e Rodrigo Negri, bailarinos solistas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Resultado nota 10 alcançado por um perfeccionista que, confessa, briga muito. “Eu sou muito sentimental, não pareço ser. Sou muito carrancudo, mas tudo para acontecer um grande desfile”, afirmou o carnavalesco na internet após ganhar o título este ano.

O “bicho-papão” do carnaval Para relaxar, o hobby de Barros é cozinhar em sua casa em Niterói (RJ), onde montou um fogão industrial e outro à lenha. Mas até entre as panelas, sua vocação é a ousadia: “Realmente gosto de inventar. Tenho vários livros de receitas, mas não me conformo com elas. Sempre preciso mudar algo, interferir”, comentou ele em março. O carnavalesco, porém, não quer brilhar apenas uma vez por ano. Planeja produzir um espetáculo ao estilo dos de Las Vegas, com conteúdo brasileiro. E tem o projeto de começar a escrever um livro, uma obra com relatos sobre o carnaval, da concepção de um desfile à construção, de como surgem as ideias e são postas em prática. Serão as histórias de um vencedor, para quem até a concorrência já joga confete: Alexandre Louzada, carnavalesco da Mocidade Independente de Padre Miguel, já declarou que Barros é o supercarnavalesco do momento. E que chegou a pensar “O ‘bicho-papão’ está aí”, ao assistir a um desfile de Barros.

Luiz Gonzaga e a cultura nordestina foram os temas da Unidos da Tijuca deste ano Premium

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Arte contemporânea

destaques Tendência, inspiração, criatividade... Profissionais contemporâneos das áreas de arquitetura e decoração contam como é atuar nesse universo de cenários e objetos, onde a função de uma peça é tão importante quanto a forma. Cada profissional com suas especificidades, de acordo com a área onde atuam

Geraldo Estrela Geraldo Estrela atua no Distrito Federal desde 1975 e, com criatividade, consegue deixar sua marca na cidade planejada. “O arquiteto trabalha muito a criatividade e, como toda cidade, Brasília possui seus parâmetros urbanísticos. A função dele é reunir todos esses quesitos – parâmetros construtivos, informações de mercado e diferenciais de produto – e conceber a obra atribuindo inovação”, diz. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura do Distrito Federal, ideias não lhe faltariam. “Iria conceber um complexo de uso múltiplo às margens do Lago Paranoá, no qual estariam residências, comércios, lazer e entretenimento em um só local”, imagina. Ficaria mesmo feliz se pudesse difundir na arquitetura da capital do País um assunto que está na moda, mas que há muito tempo é tema recorrente em sua carreira: sustentabilidade. “O conceito de arquitetura sustentável sempre norteou meus projetos e minha parceria com entidades como a Green Building Council Brasil (GBCBrasil) e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) trouxe muitas melhoras”, diz. “Atualmente trabalhamos em edifícios sustentáveis no Setor Noroeste em Brasília”, completa. O mais emocionante na carreira do arquiteto é conceber espaços desafiadores de uso coletivo. São mais de 900 projetos realizados, e ainda há muita criatividade, garante Estrela: “O arquiteto trabalha com a imaginação em cada etapa, em cada projeto. Minha inspiração vem da natureza e das viagens que faço pelo mundo”, diz. Para ele, seu estilo é funcional e de vanguarda. “Primo sempre pela qualidade de vida do usuário e tiro maior partido das cores na volumetria.”

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Fernanda Marques Arquiteta, proprietária de um e-commerce e, agora, designer de objetos, Fernanda Marques é o reflexo da mulher moderna que não para. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura em São Paulo, distribuiria arte contemporânea por pontos estratégicos da capital, principalmente os mais “nervosos” e congestionados. “Faria um grande bem para a cidade e a seus moradores”, diz. O lado empresária tem falado alto nos últimos tempos. O e-commerce SD Online + Fernanda Marques é a realização de um sonho antigo da arquiteta de levar a um público maior um pouco do seu estilo e do seu modo de ver as coisas. “A internet supriu essa necessidade. O retorno tem sido além do esperado, com um crescimento do volume de vendas, em média, 30%, a cada mês”, comemora. Em seus quase 23 anos de carreira, um projeto foi marcante: o Banco Infinito, de madeira. “No dia em que foi exposto no prédio da Bienal, em pleno SP Arte, senti que meu sonho tinha se realizado”, diz. Alguns elementos que pontuam os trabalhos de Fernanda são a sensação de atemporalidade, os móveis e objetos posicionados de modo a não congestionar a visão e as obras de arte em pontos estratégicos. “Guardo com carinho o primeiro cliente atendido que me ligou para manifestar a sua satisfação com meu trabalho”, diz. Dois nomes do cenário de arquitetura internacional são destacados por Fernanda: a iraquiana Zaha Hadid e o canadense Frank Gehry são dois nomes do contexto de arquitetura internacional que merecem destaque, segundo Fernanda. Novos talentos e designers brasileiros consagrados também entram na lista de referências importantes da arquiteta: “Indico todos os arquitetos da escola modernista de arquitetura paulista. De Paulo Mendes da Rocha a Giancarlo Gasperini. Sem esquecer Lina Bo Bardi e Vila Nova Artigas. Eles são uma fonte inesgotável de inspiração e conceitos”, afirma.

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Arte contemporânea

Fernanda Pessoa de Queiroz Dois momentos merecem destaque na vida profissional da carioca Fernanda Pessoa de Queiroz. Formada em Programação Visual pela PUC-RJ, passou dois anos em Paris, estudando no Atelier d’Etalage, um dos maiores centros de decoração e vitrine, reconhecido pela Chambre de Commerce et Industrie de Paris. A temporada na Cidade Luz foi um divisor de águas em sua carreira, que foi da comunicação visual para a decoração. Além da experiência de ter vivido fora do País, Fernanda trouxe na bagagem o olhar aprendido durante o curso, que é utilizado em todos os seus projetos. “Não tenho um trabalho favorito. Faço cada um deles como se fosse pra mim. Tenho um grande envolvimento, tanto que vários clientes viraram grandes amigos”, conta. Outra ocasião que marcou a carreira de Fernanda foi sua primeira participação na Casa Cor Rio, em 1995, onde projetou um closet masculino. “O evento foi um trampolim para que meu trabalho fosse reconhecido no Rio de Janeiro”, diz. O estilo casual e sofisticado de Fernanda mistura móveis contemporâneos com itens de outras épocas. “Para não errar na hora, recomendo inserir uma estrutura básica com cores neutras, e, assim, valorizar as peças antigas e criar uma harmonia visual”, indica. Se pudesse deixar sua marca na arquitetura da Cidade Maravilhosa, Fernanda incrementaria a orla da lagoa Rodrigo de Freitas com deques, para que o público pudesse tomar sol e usufruir mais ainda a bela paisagem. “Amo o que eu faço”, afirma a arquiteta.

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Foto: László Barsi

Decor

jardins

de inverno Por Manoela Ferreira

Eles agregam valor ornamental ao ambiente e proporcionam integração com a natureza 24


Feito com plantas artificiais, jardim de Pricila Dalzochio ocupa de forma prática um espaço ocioso

mais agradável passear em parques e praças

podendo ser adaptados de acordo com o espaço dis-

para apreciar as áreas verdes durante os dias

ponível. Além disso, o local fica à escolha do cliente,

quentes. Mas quem sente falta da natureza

desde que tenha luz solar e ventilação. “Basta usar al-

durante a temporada de frio pode encontrar

guns vasos com as plantas certas, pedras, uma parede

nos jardins de inverno uma forma de “levar para casa” a

forrada de folhagens verdes e já é possível ter um”, ex-

alegria das plantas sem perder o aconchego do lar.

plica a paisagista Gigi Botelho.

Projetados para decorar o interior das residências, os

É o caso do projeto realizado por Odilon Claro, paisa-

jardins de inverno não exigem um tamanho específico,

gista e proprietário da Anni Verdi, que fez um jardim Premium

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Decor

um profissional para deixar em dia poda, adubação e o controle de pragas e doenças. Segundo Gigi Botelho, está na moda fazer jardins de inverno nos apartamentos também, utilizando coberturas ou varandas, ambas fechadas com vidros.

Uso de material adequado evita umidade Colocar móveis como bancos, cadeiras e sofás próximos aos jardins permite usufruir ao máximo o espaço. “A intenção é trazer o verde mais para perto das pessoas. Hoje em dia precisamos desse contato com a natureza, principalmente em cidades grandes como São Paulo”, diz Odilon. A arquiteta e paisagista Juliana Freitas projetou um jardim na sala de uma residência de final de semana, em Itu. “Nas pisadas eu usei cerâmica antiderrapante, que imita madeira. Para entrar na casa, o visitante acaba passando por dentro do jardim. Já o mobiliário externo deve ter durabilidade. Se for de fibra, tem de ser sintética, e as madeiras devem sempre receber um verniz apropriado”, explica. Isso Foto: divulgação

porque o jardim pode causar umidade. Móveis próximos às plantas permitem maior interação com a natureza; projeto de Gigi Botelho

As plantas são escolhidas de acordo com o local. Áreas que recebem luz natural na maior parte do dia podem conter plantas de sol. “Já utilizei uma árvore no centro do jardim, chamada Acer japônico. Sistema de irrigação automática também é indicado”, diz. O solo pode ser feito de pedriscos em deques de madei-

que pode ser visto a partir do banheiro da suíte de uma

ra. No caso do projeto ser feito sob solo natural (sem laje),

casa. “Usamos vasos sem fundo feitos de aço corten,

alguns cuidados são necessários. Em um de seus projetos

painéis nas paredes do mesmo material, uma bacia de

desse estilo, Juliana adubou a cova da árvore e os cantei-

pedras com uma fonte que nós mesmos produzimos e

ros de forração com matéria orgânica, corretivo de acidez

um sistema de irrigação”, diz.

e areia para contribuir com a drenagem. “Virou um jardim

Mas ele afirma que é sempre bom verificar a clarida-

simples, mas ornamental”, diz Juliana.

de, a ventilação e, principalmente, a insolação do lugar para garantir o sucesso do jardim o ano todo. “Uma opção é fazer o teto retrátil com policarbonato transparente, por exemplo. Ele permite a entrada de claridade

Plantas artificiais: uma opção prática e econômica

e pode deixar o ambiente arejado quando necessário.”

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Os cuidados podem ficar por conta do próprio dono,

Para quem não pode se dedicar aos cuidados com plantas

caso ele goste de lidar com plantas, porém, uma vez

e flores, uma dica é utilizar plantas artificiais. A arquiteta

por mês é recomendável uma manutenção feita por

Pricila Dalzochio teve a ideia de preencher o espaço ocioso


Foto: Evelyn Müller

Painel vertical, vasos e pedras compõem o jardim da Anni Verdi, que é coberto por material transparente

embaixo da escada de uma loja de roupas com algo que trouxesse vida ao ambiente, e optou por flores artificiais. O local, que na maioria das vezes ficava inutilizado devido à baixa altura, agora pode ser muito bem explorado. Ela conta os segredos para que ele pareça real: “No mercado existem plantas artificiais de vários tamanhos, desde dez centímetros até dois metros de altura. O ideal é fazer um conjunto com diversos tamanhos, para a volumetria ficar interessante. No meu projeto, foram utilizados capim verde, helicônias e orquídeas artificias.” O tempo médio para fazer um jardim deste tamanho é de duas a três horas e o grande benefício é que ele não

Segundo Juliana Freitas, áreas que recebem luz natural podem ter plantas de sol

requer rega, adubação e poda, além de não fazer sujeira nem atrair insetos. “É preciso somente limpar com um pano úmido quando tiver poeira acumulada ou com Segundo ela, as plantas artificiais são 15% mais caras do que as naturais, o que é compensado pela ausência de gastos com manutenção.

Foto: divulgação

um espanador”, diz Pricila.

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Pa i s a g i s m o S u s t e n t รก v e l

espaรงo

ecolรณgico Por Vanessa Kiyan

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Especialistas sugerem maneiras de montar uma área verde alinhada com as práticas sustentáveis ma atitude sustentável no paisagismo vai além do cultivo de plantas em jardins imponentes. Ela começa na escolha da mão de obra, que deve ser estritamente local, bem como no uso de plantas nativas, acostumadas ao ambiente. Aproveitar móveis que já existem na casa também é outro item a se considerar. Com o auxílio de especialistas, é preciso avaliar a geografia da região, a temperatura, a quantidade de chuva e o tipo de solo. Com o estudo em mãos, é possível definir com propriedade o melhor tipo de vegetais a usar. “Se a área externa tiver um jardim, deve-se aproveitar as espécies nativas. Não seria um paisagismo sustentável o cliente querer araucária no Nordeste ou coqueiro no Sul. Podem até sobreviver, mas vai ter essa questão do deslocamento e do custo ambiental”, lembra a engenheira agrônoma Cláudia Litvin. “Um jardim exige manutenção ao longo do tempo, mas o ideal é que ele se mantenha sozinho. A partir disso pode-se criar um estilo, mas sempre aproveitando o que já se tem em casa. Só assim temos um paisagismo sustentável”, diz Cláudia.

Ilustração artística feita pelo paisagista Benedito Abbud

Piso permeável ajuda a evitar inundações Para a manutenção do jardim, o paisagista Ronaldo Kurita dá uma receita caseira, no estilo “minha avó fazia”: “Resíduos orgânicos da cozinha – como casca de legumes e frutas e casca de ovos decompostos – servem de nutrientes para as plantas. Pragas e doenças também podem ser combatidas Premium

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Fotos: Celina Germer

Pa i s a g i s m o S u s t e n t á v e l

Ronaldo Kurita reaproveitou latas de leite condensado para criar pequenos vasos de planta

com as caldas de fumo e de sabão de coco, evitando materiais tóxicos e poluentes”, sugere. Para regar as plantas, o uso de equipamentos com sensores que são ativados quando a baixa umidade é constatada no solo e desativados em caso de chuva evita desperdício. Jardins verticais em projetos bem planejados podem substituir o uso de aparelhos de ar-condicionado em regiões muito quentes, segundo Kurita, que cita outros exemplos sustentáveis: “Uma árvore bem posicionada que projete uma sombra ou um espelho d’água que aumenta a umidade também ajudam”, diz. As áreas de estar externas podem receber pisos permeáveis que permitem a absorção da água da chuva

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Móveis de áreas externas devem ser resistentes; piso permeável permite a absorção de água da chuva


Utilizar espécies nativas e madeiras certificadas em deques e pergolados é essencial em um ambiente sustentável

pelo solo, abastecendo os lençóis freáticos e evitando inundações nas cidades. “O mais indicado atualmente é o piso drenante. Ele possui muitas características positivas: permeabilidade, é antiderrapante, tem alta resistência, custo acessível e fácil assentamento”, enumera o paisagista. Utilizar madeira certificada em deques, pergolados e móveis são outras atitudes importantes para criar um

Jardins verticais e árvores bem posicionadas são ideais para regiões quentes, pois reduzem a sensação de calor

ambiente sustentável.

Iluminação também deve seguir princípios sustentáveis A iluminação a ser usada está intimamente ligada à sustentabilidade do projeto. As mais recomendadas são do tipo fluorescente, por consumirem menos que as incandescentes. Outra boa pedida é a iluminação com LED, também bastante econômica e com bom efeito em pontos de iluminação externa. “Para um projeto paisagístico, devemos considerar a economia, mas sem comprometer o efeito desejado para iluminação das áreas comuns e da vegetação. Uma boa alternativa é prever controles automáticos de iluminação externa, que desligam o sistema quando há luz natural suficiente”, indica a arquiteta paisagista Renata Morelli. Um projeto de paisagismo sustentável vai além do cuidado ambiental. De acordo com o paisagista Benedito Abbud, pensar no conforto do morador faz parte do tema. “As pessoas também estão inseridas no ambiente. A sustentabilidade é social e pessoal, já que cada pessoa precisa estar bem para ajudar o planeta.”

A engenheira agrônoma Claudia Litvin aproveita os móveis da casa para criar ambientes externos sustentáveis

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Foto: Jorge Bispo

Capa

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Realizada

Por Thaís Botelho

Aos 65 anos – quase 50 de carreira –, Marieta Severo festeja a continuidade dos teatros que inaugurou e relembra momentos da carreira e junto à família altam 40 minutos para as 18h30 de uma quinta-feira e Marieta Severo está aflita para cumprir um de seus compromissos diários mais prazerosos: o de buscar as netas na creche. “Sou avó coruja mesmo e faço de tudo para levantar meu ibope”, diverte-se a atriz de 65 anos e avó de sete. Ainda que tenha uma rotina agitada entre gravações às segundas, terças e quartas, do seriado A Grande Família – no qual há 12 anos dá vida à dona de casa Nenê – e os compromissos com seus teatros Poeira e Poeirinha, no Rio, a sua grande família da vida real tem dia certo para se reunir. “Aos domingos, nos queremos, nos procuramos. O almoço na minha casa com toda a turma é religioso”, conta, aos risos, ao parafrasear o cantor e compositor Caetano Veloso, amigo da família desde os tempos em que a atriz era casada com Chico Buarque. “Sempre que Caetano nos encontrava falava dessa turma, que era grande”, explica a atriz, mãe de Silvia, Helena e Luisa, do casamento de mais de 30 anos com Chico Buarque, com quem fugiu para a Itália em 1969, na época em que o cantor e compositor se exilou durante a repressão da ditadura militar. “O tempo de exílio foi muito difícil, mas nos adaptamos.” Da época na Europa, também ficou a paixão pela França, mais especificamente Paris, onde a atriz tem apartamento há 20 anos no Marais, bem próximo ao rio Sena. “Lá tenho uma vida de bairro – como se fosse uma cidade do interior, mas é totalmente cosmopolita –, que me oferece as melhores opções culturais, como teatro, museus e exposições. Uma das últimas que vi foi do Ron Mueck, um artista plástico que esculpe com hiper-realismo”, conta. Em um bate-papo descontraído, Marieta, que está há quase 50 anos na TV, falou da vida simples que leva no Rio de Janeiro — onde nasceu e “não é capaz de deixar” —, da carreira e da família. Premium

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Capa

Acima, com as filhas Silvia e Luisa, durante um show no Canecão, no Rio; à direita, com Silvia e Helena e grávida de Luisa; ao lado, acompanhada do pai durante sua formatura no colégio

e, para mim, é um barato. Mas agora, respondendo melhor à pergunta anterior, prefiro achar que não vai ficar nada dela, justamente para eu ter essa liberdade de criar e fazer acontecer tão bem com outros personagens. Para você, qual é o grande segredo da longevidade de

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Há 12 anos você dá vida à Dona Nenê, em A Grande

A Grande Família?

Família, e já disse que, se soubesse que levaria todo

Acho que são personagens ícones e que as pessoas se

esse tempo, não teria feito. O que fica dela para você?

identificam, sabe? Estão presentes em nosso dia a dia,

E é verdade! Mas ela terá para sempre um lugar absoluta-

são comuns. O Lineu, por exemplo, o pai de família correto

mente especial na minha vida. Não sei exatamente o que

e tal representa um lado nosso, do brasileiro. Por mais que

vai ficar, só sei que nunca imaginei que essa experiência

se tenha corrupção e desonestidade, o brasileiro gosta de

seria tão avassaladora, pois ganhei um conhecimento tão

se identificar com o Lineu. Mesmo o nosso malandro, o

profundo dela, que já não preciso mais pensar como ela irá

Agostinho. Ele só faz mal pra ele. É a família que se ama,

reagir em determinada situação. Fora que isso me trouxe

em que o mais importante é o afeto. Os autores são de

uma liberdade muito grande em criar e improvisar. Hoje não

uma criatividade e talento admirável e inesgotável. Acerta-

penso mais como fazer, brota tudo com muita facilidade.

ram ao retratar o cotidiano dos brasileiros.

Em que momentos a Marieta é mais parecida com a

E o que achou das mudanças no seriado? Você suge-

Dona Nenê?

riu algo?

Não sou extrovertida. Sou mais fechada e cautelosa com as

Eu adorei e foi brilhante. Para dar esse up, a solução da passa-

minhas coisas, e ela não é nada assim. Mas, como dona de

gem de tempo é maravilhosa e trouxe coisas deliciosas para o

casa e mãe de família, é muito representativa das mulheres,

programa. O Guel [Arraes] e a equipe de autores acompanhou

e eu me incluo nisso. Gosto do jeito que ela reage às situa-

muito também o Brasil atual e trouxeram para os personagens,

ções, sua ingenuidade e a maneira amorosa como vê todo

como a Bebel representando os chamados “novos ricos” etc.

mundo. Acho que as mulheres têm isso, e coloquei coisas

Muito engraçado. Nós todos conversamos muito e sugestões

que sinto também. Certas atitudes e sentimentos são tipica-

surgem, mas, como disse, ganhei uma liberdade incrível com a

mente das mulheres, e sei que todas se identificam com ela

Nenê e improvisos meus acontecem.


Em 1987, caracterizada como Marquesa de Meurteuil, para a peça Ligações Perigosas

Se não estivesse fazendo seriado, o que estaria fazendo na TV? Fiz muito tempo de A Comédia da Vida Privada, gosto muito deste núcleo de comédia do Guel, por exemplo. Acho que

cular em Central do Brasil, ela já tinha mais idade. Mas a

eu estaria fazendo novelas. Estamos em um momento es-

televisão vive da imagem e vai querer a bela e jovem. E eu

petacular de novela com escritores novos, com novas ideias

aceito. Acho, aliás, que quem nos salva disso é o teatro e

e narrativas. A TV está em um momento de grande mudan-

eu tenho o meu sempre me acompanhando. Quero fazer

ça, de qualidade. Vejo que estamos aprimorando. Adoro as

personagens até morrer, e farei os adequados. Se minha

novelas Avenida Brasil e Cheias de Charme, por exemplo.

imagem não estiver mais de acordo com o padrão da TV,

Têm proposta nova e personagens com abordagens dife-

irei me realizar sempre no teatro.

rentes e são bons. Ainda quero voltar a fazer novela. Como surgiu a ideia de montar um teatro, o Poeria Algumas atrizes da sua geração já disseram que não

(inaugurado em 2005)?

há bons papéis para elas na TV. Você concorda?

Era um sonho. Há 20 anos tentei ter um espaço na Funda-

É claro que estamos numa sociedade que valoriza a ju-

ção Progresso e acabou não dando certo, tive de arquivar

ventude de uma maneira absurda. Quando eu era jovem,

esse sonho. Um dia, conversando com a minha “amiga

eu queria ser mais velha, veja só. E hoje em dia não tem

irmã” Andrea Beltrão sobre as dificuldades da profissão,

mais isso. Acho que existem bons papéis, sim, mas não

ela gostou da ideia e abraçou. Eu queria uma coisa mam-

discordo das minhas colegas. São poucos. Estou enve-

bembe, que a gente pudesse ter toda a liberdade no que

lhecendo em A Grande Família e é mais confortável, pois a

trazer para cá, criar, dar aulas. Ser uma realização e liberta-

Dona Nenê vai ficando velhinha igual [risos]. Por outro lado,

ção. E conseguimos. Tenho o maior orgulho deste projeto

quando a Fernanda Montenegro fez aquele papel espeta-

que já formou vários artistas. Temos um grupo de roteirista Premium

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Capa

que até ganhou prêmio com um curta-metragem que fizeram. Poxa, que gratificante! Tenho a sensação de missão cumprida. Hoje temos o Poeirinha também, mais recente, no prédio ao lado. Sua amizade com a Andrea Beltrão é de anos e são sócias no teatro. Como é essa relação? A melhor! A amizade e a sociedade se misturam o tem-

Em sentido horário: Em 1973, na peça Desgraças de uma Criança; em 1982, na peça Aurora da Minha Vida, e em 1989, em A Estrela do Lar. Acima, com a amiga Andrea Beltrão na peça A Dona da História, de 1998

po todo e a gente adora. O momento mais esperado de quando nos reunimos para falar das coisas do teatro é a hora de jantar. Sempre acabamos em um lugar gostosinho

público é muito bom. Tenho total liberdade no Rio de Ja-

e conversamos muito, damos risadas...

neiro e levo uma rotina normal, simples, faço tudo. Amo essa cidade, bebo essa cidade, seria incapaz de deixá-la.

Relembrando seu início no teatro, conseguiria falar de

Essa história de paparazzi comigo quase não acontece,

algum trabalho que tenha sido mais marcante?

pois eu não alimento. Tem muita gente que reclama, mas

Nada será tão marcante como a criação do Poeira e do Poei-

alimenta. Também não aviso para onde estou indo.

rinha. Esses projetos vão quilômetros além do meu tamanho como atriz. Foi um estresse, tivemos prejuízo financeiro, mas

Falando sobre sua carreira no cinema, você fez pa-

a alegria e a satisfação não têm preço. Quando eu encontro

péis marcantes, como Carlota Joaquina. Mas existe

uma pessoa que diz que se formou lá, fico envaidecida. Te-

algum personagem que você sonha em interpretar e

mos uma programação de cursos muito ampla. Tive perso-

não aconteceu?

nagens adoráveis em novelas, mas acho que o público sem-

Sim, o mais marcante talvez tenha sido Carlota Joaqui-

pre vai me associar à Nenê. Estamos colados na cabeça das

na, que ficou emblemático para o cinema brasileiro, trou-

pessoas [risos]. Adoro o carinho quando me param na rua e

xe toda uma época e que vai além do meu trabalho. Mas

vem conversar e falar da Nenê.

digo que sou incapaz de me deter no que eu não fiz. Não me interessa nada do que não fiz, pois se não aconteceu,

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Esse assédio é maior ou menor no Rio, onde você

não era meu, não iria me levar onde estou. Estou neste

mora desde que nasceu?

lugar por meus acertos, erros, sucessos e fracassos. Sou

Não sei dizer, mas não me incomoda em nada. Adoro as

uma pessoa que vive o presente, aqui, agora. O que pas-

pessoas que chegam para falar da Nenê. Esse carinho do

sou, passou. Não vou me atentar ao que foi ruim.


Acima, à esquerda, com Marcos Palmeira em cena do filme Os Solitários, com estreia prevista para o segundo semestre de 2012. À direita, no filme Guerra de Canudos, de 1997. Ao lado, como intérprete de Carlota Joaquina, no filme de mesmo nome, em 1995

zade muito grande, não sou uma mãe mais velha, sabe? Com os netos, idem. Adoro buscar as menores na creche e faço de tudo para aumentar meu ibope com essa turma. Adoro crianças e moro na mesma casa que criamos as filhas. Aqui tem casa de boneca, cama elástica, parquinho... Se eu não fosse atriz, seria professora primária. Em uma homenagem feita a você na TV, a atriz FernanQue memórias ficaram da época que você estava ca-

da Montenegro elogiou sua disposição e a capacida-

sada com o Chico Buarque e fugiu com ele para o exí-

de de ser tanta coisa ao mesmo tempo. Tem medo de

lio na Itália, em 1969?

envelhecer?

Sou muito ruim de tempo e data... Mas foi um amontoa-

Meu único medo é não ter mais neurônios e a cabeça não

do de coisas. É muito difícil viver fora do País, ainda mais

funcionar mais. Sobre a aparência, como a maioria das mu-

como exilado. Vivíamos fora, mas nunca vivi tanto o Brasil

lheres, não gosto de olhar no espelho e ver as rugas no

como nessa época. Nos alimentávamos e buscávamos

pescoço, etc. Me reconheço direitinho, mas me desagrada

notícias do Brasil o tempo inteiro. Nós nos adaptamos.

[risos]. Porém, não tenho medo de envelhecer. Sempre tive

Mas teve seu lado bom também, fizemos grandes amigos

o mesmo shape com 50 e poucos quilos e eu mantenho.

em Roma, por ser um povo super receptivo. Da Europa,

Não gosto dos resultados de plásticas que vejo por aí. Essa

meu destino preferido é Paris, onde tenho apartamento há

coisa dura, sem expressão, me desagrada. Estou com 65

20 anos, em Marais.

anos, vou querer ter cara do quê? De 30? Não dá! Se você é feliz do jeito que é e com o mundo, fica tudo certo.

E como é sua relação com as três filhas mulheres, Silvia, Helena e Luisa?

E o que ainda falta realizar?

Tenho um orgulho enorme das minhas filhas e acho que estão

Minha missão se concretizou com a criação do meu teatro

no mundo de uma maneira muito bacana. Sou muito amiga das

e quero continuar, quero que ele faça história e seja reco-

minhas filhas. O almoço na minha casa com toda a turma é reli-

nhecido como um lugar de excelência teatral. Quero ter

giosamente aos domingos. Temos uma proximidade e uma ami-

sorte de manter isso. Premium

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Fotos: Kalinka Merkel

Destino Internacional

ÍNDIA,

o PAís dos contrastes Por Kalinka Merkel

A capital, Nova Délhi, é caótica, barulhenta e fascinante. Deixe os preconceitos de lado e se abra para uma nova cultura 38


ensar em ir para a Índia já foi sinônimo de um sonho que exigia muito planejamento, dinheiro e aventura. Mas hoje visitar o país está mais fácil: existe uma boa estrutura turística que oferece não apenas bons preços e muito conforto, como roteiros de luxo e exotismo, além de inúmeras atrações que vão de ruínas históricas a parques temáticos com toda sofisticação. Délhi encontra-se em uma localização estratégica nas rotas norte-sul e leste-oeste, o que lhe confere uma posição privilegiada na história indiana. Para começar, esqueça tudo o que já viu. Para conhecer a Índia você tem de se livrar das comparações para que o país possa revelar tudo o que tem para mostrar. Em um primeiro momento você poderá ver tudo com os olhos do caos e provavelmente vai se assustar: lixo, barulho de buzinas por todo lado (não é raro ler nas placas dos carros e caminhões a frase “por favor, buzine”), muita poluição — no ar e visualmente ­—, vacas (às vezes camelos) soltas na rua no meio do trânsito, búfalos puxando carroças amontoadas de pessoas, carros novos – outros muito velhos – e muita, muita gente nas ruas: dos jovens que usam calça jeans aos sadhus (homens santos). Mas, se conseguir abstrair essa primeira impressão, você será surpreendido. Logo ao chegar em Délhi, ainda no aeroporto, você vai entender que há algo muito especial que só a Índia tem. E , acredite, você vai querer voltar.

História e arquitetura na Velha Délhi Em uma única cidade o velho e o novo convivem com grande diferença. Na Velha Délhi, resquícios do império mogul nos séculos 16 e 17 inspiram, com certo ar de aventura, uma bela caminhada pelo denso emaranhado de vielas, bazares e mercados de especiarias que formam o coração pulsante da antiga cidade. Você pode começar visitando o complexo de Qutb, que fica relativamente próximo ao aeroporto de Indira Gandhi, na periferia, no Mehrauli Archaelogical Park, considerado Patrimônio da Humanidade da Unesco. É nele que fica Qutb Minar, a torre mais alta da Índia, que marca o local do primeiro reino mulçumano no Norte da Índia, fundado em 1193. Essa foi a primeira das famosas “sete cidades” em Délhi. A sétima, Shahjahanabad, é onde hoje fica a Velha Délhi. Outra atração que merece a visita é a mesquita Jami Masjid, a maior da Índia, que chega a comportar 25 mil fiéis de uma vez. Depois de idealizar uma das mais belas expressões arquitetônicas do mundo, o Taj Mahal, Shah Jahan Chegar às seis horas da manhã no Taj Mahal pode ser sua única chance de desfrutar momentos quase a sós com o monumento, que é um dos mais famosos do mundo

mandou erguer em 1656, em uma colina, a mesquita que é cercada por ruelas movimentadas e que sem dúvida é um dos pontos altos da Velha Délhi. Não muito longe fica outra criação de Shah Jahan: o Red Fort (Forte Vermelho). Fica nas adjacências da rua Chandni Chowk, no coração da Velha Délhi. As muralhas de arenito vermelho deram nome ao forte que foi encomendado em 1639 e demorou nove anos para ficar pronto. Foi sede do governo mogul até 1857, quando seu último imperador, Bahadur Shah Zafar, foi destronado e Premium

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Destino Internacional

Ruínas na área histórica onde foram lançadas as bases do Sultanato de Délhi

Com cinco andares e 73 metros de altura, a Torre de Qtub Minar é a mais alta do país e marca o local do primeiro reino mulçumano no Norte da Índia, fundado em 1193

exilado. Hoje, o Red Fort permanece imponente e é nele que

Na Nova Délhi estão as grandes e largas avenidas, jardins

o primeiro-ministro faz o discurso do Dia da Independência

bem tratados e enormes construções públicas, como os

indiana, conquistada em 15 de agosto de 1947.

prédios do governo e o bairro diplomático, onde estão to-

A mesquita e o forte continuam lá, mas as mansões da

das as embaixadas. São também as mansões coloniais

nobreza (as havelis) foram ao chão ou estão desfiguradas.

construídas pelos britânicos na década de 1930, além de cen-

Daquela época ficam as histórias e algumas ruínas que so-

tenas de bares e casas noturnas, que fazem da noite umas

breviveram ao tempo e à colonização inglesa.

das mais agitadas da Índia. A cidade está cheia de boas opções de restaurantes de comida apimentada que podem cus-

Agito noturno e gastronômico na Nova Délhi

tar de R$ 5 a R$ 50, além de refeições tipicamente ocidentais.

A capital indiana hoje é uma mistura de ruínas de cidades

que seguem o estilo dos carros ingleses dos anos 1960, as-

medievais, palácios, túmulos e mesquitas, e de constru-

sim como na arquitetura.

ções modernas que não param de se multiplicar.

Entre as principais atrações, o Índia Gate, um arco de areni-

Ao fundo, o complexo governamental na Nova Délhi, em Raisina Hill, onde ficam o Rashtrapati Bhavan, os secretariados e o Parlamento circular

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Heranças da colonização britânica são vistas por todo lado. Não apenas nos carros, que seguem a mão inglesa — elas estão nos uniformes escolares das crianças, nos automóveis


Lago Pichola, em Udaipur. A cidade que fica no deserto do Rajastão é conhecida por ser a Veneza indiana e é um dos destinos dos trens de luxo

to vermelho, erguido em homenagem aos soldados indianos

O ápice do passeio? Quando você o avista pela primeira

e britânicos que morreram na Primeira Guerra Mundial e aos

vez, enquadrado pelas molduras arquitetônicas típicas in-

que tombaram em batalhas da Fronteira Norte-Oeste da pro-

dianas. Em uma descrição pouco romântica, é como um

víncia e da Terceira Guerra Afegã.

“tapa na cara”. E você sentirá isso durante todo o tempo

A descrição pode parecer sem graça e não animar muito, po-

que estiver andando ao seu redor.

rém a Nova Délhi é agradável e animada. É ao redor do India Gate que aos domingos muitas pessoas se reúnem, sendo uma ótima oportunidade para ver gente e conhecer mais sobre os indianos. Jovens com seus amigos e famílias inteiras se encontram nos gramados para relaxar e se divertir.

Trens transformam passageiros em marajás A Índia possui uma das mais complexas redes ferroviárias

Taj Mahal, uma verdadeira maravilha

do mundo, implantada pelos ingleses, que alcança quase qualquer ponto do território nacional. Mas há trens que o levam além: para o mundo luxuoso dos marajás. São palácios sobre rodas exclusivamente turísticos, uma herança

Considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo, o Taj Mahal

do Rajastão, que percorrem lindas cidades enquanto você

merece o título que tem. Quem nunca ouviu falar do “símbolo

desfruta da pompa de um tempo de riqueza e mordomias.

do amor eterno”? Com mármore branco e pedras preciosas

Entre as opções, o Royal Rajasthan on Wheels percorre

que mudam de cor com o passar das horas, 20 mil traba-

em oito dias as belezas do Estado do Rajastão – com seus

lhadores levaram 22 anos (1631-1653) para construir esse

inúmeros palácios e fortes -, a religiosidade de Varanasi,

símbolo do amor do imperador mongol Shah Jahan por sua

além de Agra e Délhi.

esposa favorita, Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz.

Idealizado pelos mesmos criadores do Palace on Wheels,

Por mais que já se tenha ouvido falar sobre o mausoléu, ver

a viagem que passa pelo interior do deserto começa em

de perto essa maravilha arquitetônica é algo maior do que se

Délhi, com duração de uma semana. O trem passa por

possa imaginar.

Jodhpur, Udaipur, Chittorgarh, Sawai Madhhopur, Jaipur,

Visitado por milhares de pessoas diariamente, a dica é acordar

Khajuraho, Varanasi e Agra (onde fica o Taj Mahal), de onde

antes do sol nascer. O portão oeste abre às 6h (os outros dois

retorna a Délhi.

abrem às 8h), mesmo horário em que o Sol desponta. A dica

São 13 salões de luxo. Além de restaurantes que servem

é valiosa para quem não quer pegar filas intermináveis.

verdadeiros banquetes e bons vinhos, o trem oferece um

Embora seja possível ir e voltar no mesmo dia para Agra (a

spa, serviço personalizado e uma decoração rica em de-

partir de Délhi são em média quatro horas de viagem), vale

talhes, com pinturas e objetos, que remetem ao esplendor

a pena dormir uma noite na cidade só para poder desfru-

dos marajás. Uma viagem que passa pelas areias do de-

tar desse amanhecer no Taj Mahal. Mas lembre-se: ele é

serto, fortalezas e palácios, com escapadas de aventura

fechado para visitação às sextas-feiras.

pela floresta, mas sempre com muita sofisticação. Premium

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Destino Internacional

Outra opção é o Maharajas’ Express, o trem mais luxuoso da Índia. São cinco opções de roteiros que oferecem aspectos diferentes da Índia: patrimônios, fortalezas e palácios, além de uma reserva com os famosos tigres indianos e o Taj Mahal. Embora os preços sejam à altura da glória dos marajás, a tarifa inclui praticamente tudo: hospedagem, todas as refeições, água e bebidas (inclusive alcoólicas), além dos ingressos para entrada nas atrações, guias turísticos, taxas para câmeras fotográficas e todas as atividades de lazer.

OITO Dicas para lidar bem com a diversidade cultural da Índia - Muito cuidado com a água: de preferência compre garrafas no hotel. Em alguns casos ter um lacre não quer dizer que a garrafa não foi reutilizada. - Na Índia tudo é muito barato. Antes de comprar é preciso negociar — uma tradição cultural. Antes de sair do hotel pergunte quanto custa determinado serviço, seja um táxi ou um ingresso. Isso ajuda a ter parâmetros na hora da pechincha. Fique atento: muitos produtos industrializados já vêm com preços marcados nas embalagens pela fábrica. - A Índia é sim um país muito religioso. Por isso tente seguir algumas regras de vestuário – o que pode ser bem divertido, principalmente para as mulheres. Para vestir um sári (tecido de 5 metros que é enrolado no corpo) certamente será preciso a ajuda de alguma indiana. E preste atenção ao passo a passo, porque será quase impossível colocá-lo sozinho novamente. As batas que cobrem ombro e quadril são uma ótima opção. Os homens podem apenas evitar bermudas e regatas. - Ao atravessar a rua, deve-se olhar para o lado oposto do que o habitual no Brasil, pois lá a mão é inglesa. Por incrível que pareça, os carros andam com o retrovisor recolhido, cruzam avenidas sem semáforos como se estivessem sozinhos enquanto desviam de pessoas e vacas, com pouca lógica conhecida.

Na Índia se buzina no trânsito na mesma proporção em que se acelera ou freia, ou seja, o tempo todo. Por isso é bastante comum ver carros e caminhões com a frase ”por favor, buzine” escritas em suas traseiras

- Um pouco de conhecimento do vocabulário hindu pode ajudar na interação com as pessoas. Namastê é uma maneira respeitosa de se cumprimentar ou de se iniciar uma conversa. Os indianos têm muita curiosidade em conhecer os estrangeiros (não se espante se alguém pedir para tirar uma foto sua ou com você), e vão caprichar no inglês para conseguir se comunicar. Ram Ram significa boa sorte e é uma maneira mais informal, mas muito simpática, de saudação. Shukriáh ou Deniwad querem dizer obrigado. - A higiene é um ponto de grande contraste cultural que assusta os viajantes. É difícil entender, mas acredite – é mesmo cultural. No país dos marajás a pobreza está por todos os lados e as ruas estão cheias de excrementos das vacas e os homens têm o hábito de cuspir no chão. Não se esqueça de olhar onde pisa. - Na Índia não se usa papel higiênico, apenas água. Por isso tenha sempre um rolo na mochila. Os hotéis geralmente oferecem o artigo, que é vendido em muitos lugares. - O contraste cultural é grande. E se você busca paz interior, comece por uma boa hospedagem. Não vale a pena economizar nesse quesito. Por mais caro que seja em rúpias, vai ser muito mais barato que qualquer pousada ou hotel brasileiro.

Os rickshaws são uma alternativa de locomoção bastante comum. Mas é preciso um pouco de espírito de aventura para cruzar o transito maluco e caótico das grandes cidades

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A


Especial Hotéis Urbanos

Re

Copacabana Palace, rj Veja alguns dos serviços do hotel que conquista de rock star à realeza • 12 mil metros quadrados • 243 apartamentos e suítes (todos de luxo), dos quais 147 ficam no prédio principal e 96 no prédio anexo

Fotos: Alessandro Batistessa

• Os apartamentos dos andares clássicos podem ter: camas king size, casal ou solteiro; vidros à prova de som; ar-condicionado; banheiro; rádio-relógio; TV por assinatura com canais de notícias, filmes, séries e esportes; telefones com duas linhas e discagem direta internacional; conexão para fax e internet banda larga, minibar e cofre individual • O sexto andar tem sete luxuosas suítes com uma piscina negra exclusiva; infraestrutura de tecnologia; tecidos franceses, obras de arte e tapetes orientais • O anexo tem 96 apartamentos, com suítes de aproximadamente 70 metros quadrados, com sala, banheiro, varanda privativa com vista para a praia de Copacabana e quarto com enxoval de acabamento Trussardi 300 fios. Há também suítes com banheiros com cerâmica italiana, varandas privativas e vista para a cidade. Equipadas com duas linhas telefônicas com conexão para modem, e-mail de voz, aparelho de DVD, cofre eletrônico, roupões de banho, pantufas etc.

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quinte O diferencial dos grandes hotéis urbanos de luxo do país ma cama, um chuveiro e, às vezes, o

Centro Universitário Senac Águas de São Pedro.

direito ao café da manhã pode ser o

O Ministério do Turismo brasileiro tem uma relação

essencial em uma hospedagem rápi-

de obrigatoriedades que um hotel precisa cumprir

da em grandes centros urbanos bra-

e serviços que deve oferecer para que entre nas

sileiros. Mas para quem está disposto a manter o

categorias de estrelas (de uma a cinco). Muitas das

luxo de casa quando viaja, mesmo em estadias de

características de luxo exigidas são padrão em di-

um ou dois dias, isso não é suficiente.

versos lugares do mundo.

Xampu de qualidade, roupas de cama de algodão

Localizado em uma das praias mais requisitadas do

egípcio, flores, serviço de engraxate e baby sitter,

Rio de Janeiro – e construído nos tempos em que

alimentos de primeira e funcionários bilíngues são

a região não era tão badalada assim –, o Copaca-

apenas alguns exemplos dos mimos oferecidos

bana Palace foi inspirado nos hotéis Negresco, em

para hóspedes dispostos a pagar diárias que che-

Nice, e no Carlton, em Cannes, e hoje atrai cente-

gam a custar mais de R$ 20 mil.

nas de turistas para suas acomodações, com valo-

“O público dos hotéis urbanos de luxo, em geral,

res entre R$ 1.140 a R$ 5.600.

são executivos de grandes empresas, principal-

Por lá já passaram estrelas do rock, de Hollywood,

mente estrangeiros, que viajam a negócio e não

políticos, atletas, membros da realeza e diver-

abrem mão do alto nível de conforto”, diz Luciani

sas outras personalidades. Orson Welles, Nelson

Guimaro Dias, professora do curso de Hotelaria do

Mandela, a princesa Diana e o príncipe Charles,

Katy Perry, Nelson Mandela, Paul McCartney, Tom Cruise e a princesa Diana foram algumas personalidades que usufruíram do luxo do Copacabana Palace

Premium

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Especial Hotéis Urbanos

Design inovador fez do Unique uma referência arquitetônica na paisagem paulistana

Unique, sp Saiba mais sobre o hotel que chama a atenção pelo design • 20 mil metros de área construída • Seis andares de apartamentos, térreo, mezanino e terraço de cobertura • 95 apartamentos (de 36 a 312 metros quadrados)

• Centro de eventos de 5 mil metros quadrados • Fitness center, piscina, sauna, wi-fi, locação de DVD / Blu-ray • Restaurantes Skye (cobertura) e bar Wall (lobby) • Estacionamento para 700 carros • Pacotes especiais: Dream Red, Dream Purple e Dream Blue. O Dream Red, por exemplo, inclui decoração com pétalas de rosa e velas em gel; champanhe Veuve Clicquot; roupões Trussardi, Surprise du Chef e café da manhã servido no apartamento.

Foto: Leonardo Finotti

• 85 quartos e 10 suítes, equipadas com: camas queen size, banheiras de hidromassagem, TVs LCDs, CD e DVD player com entrada mp3 e home theater com sistema de som surround, mesa de trabalho com acesso à Internet de alta velocidade, sem fio ou a cabo, correio de voz e duas linhas de telefone, sendo uma móvel para uso em todas as áreas internas do hotel, amenities Bvlgari, chinelos Havaianas, room service 24h

Hotéis de luxo têm serviços parecidos, mas conceitos diferentes Apesar de o público ser bem específico, não são poucos os hotéis voltados para o luxo no Brasil. Com conceitos diferentes, eles vão dos mais tradicionais e clássicos – que agradam os mais conservadores –, aos arrojados e modernos, para um público jovem. “Grandes marcas têm a capacidade de

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Axl Rose, Katy Perry, Stevie Wonder, o casal teen Justin

criar conceitos de hospedagem e sempre desenvolvem pro-

Bieber e Selena Gomez, Paul McCartney, Tom Cruise e

dutos para atender o mercado do luxo”, diz Luciani.

Mick Jagger são apenas alguns dos hóspedes ilustres do

Com projeto arquitetônico de Ruy Ohtake e ambientação

Copacabana Palace.

interna de João Armentano, o Unique, em São Paulo, tem

As preferências dos hóspedes são registradas para que

design ímpar, cheio de curvas e com fachada revestida de

possam ser lembradas e atendidas. O aroma dos ambien-

cobre envelhecido. Seu formato gera assunto: uns cha-

tes é exclusivo e foi desenvolvido para proporcionar acon-

mam de barco, outros de melancia.

chego. Mimos como caixa de bombons confeccionadas

O Unique tem uma sala de eventos para 1.200 pessoas no

com os nomes dos hóspedes, água mineral exclusiva com

subsolo; o bar The Wall, no lobby, e o famoso restaurante

o rótulo do hotel, roupões, velas e serviços de florista, bu-

Skye, na cobertura. As roupas de cama das suítes são da

tique, spa, salão de beleza e fitness center são alguns re-

marca Trussardi, e há uma linha de produtos de higiene para

cursos para manter os hóspedes do Copacabana Palace

o corpo com cinco itens, assinada pela grife Bvlgari. O quarto

numa atmosfera exclusiva.

mais caro, a suíte presidencial Oasis, tem diária de R$ 22 mil.


Os serviços de hotéis de luxo geralmente não diferem mui-

para fazer e desfazer as malas dos hóspedes; engraxe de

to entre si, portanto, Luciani indica priorizar alguns fatores,

sapatos; uma garrafa de vinho tinto no quarto e uma so-

como a localização – em relação aos lugares onde o hóspe-

bremesa da pâtisserie; chinelos Havaianas; jornais; duas

de terá compromissos. “Também ajuda olhar o site oficial do

peças de roupa passadas, 15 minutos de massagem

hotel para ver os serviços e trocar informações com outros

shiatsu e acesso ao spa com sauna e ofurôs.

usuários em fóruns”, indica a professora de hotelaria.

Localizado na rua Oscar Freire – famosa por concentrar

“O produto normalmente é o mesmo: boa cama e boa co-

um grande número de lojas de luxo; uma espécie Rue du

mida, por exemplo. Mas o mais importante é intangível:

Faubourg Saint-Honoré de Paris –, o Emiliano tem fitness

o serviço”, diz a professora de hotelaria. O diferencial, no

center com vista para o bairro Jardins.

caso, está em como o hóspede é tratado, se ele realmente

Chegou cansado de um dia de reuniões profissionais? Peça

se sente especial ou se o atendimento não faz jus aos altos

o menu de travesseiros, para fins medicinais ou preferências

preços das diárias.

pessoais. E durma bem. Isso não é um sonho – ao menos

Emiliano tem mimos que vão de mordomos a menu de travesseiros

Emiliano prima pelos mimos, como doces, vinho e menu de travesseiros

Fotos: Tadeu Brunelli

para quem se dispõe a pagar até R$ 2.350 de diária.

Com média de quatro funcionários por hóspede (uma das proporções mais altas do mercado), o hotel Emiliano, em São Paulo, oferece cortesias como serviço de mordomos

Emiliano, sp Conheça alguns dos serviços que o hotel disponibiliza

• 28 apartamentos Luxo com 42 metros quadrados e cama king size • 10 apartamentos Luxo com 42 metros quadrados e duas camas queen size • 19 Suites Emiliano com 84 metros quadrados e cama king size • Televisor LCD de 40” nas suítes e um de 32” nos apartamentos luxo; DVD e home theather 5.1 digital surround; estação de trabalho com telefone IP com duas linhas e viva-voz; telefone sem fio em cada acomodação; uso ilimitado de internet high-speed e wireless nos quartos; banheiros de mármore Carrara com duchas de pressão e massagem; assentos japoneses com controle de temperatura e bidê eletrônico; toalhas de 850 gramas em tamanhos gigantes; roupa de cama de algodão egípcio 500 fios e travesseiros recheados com plumas de gansos húngaros, cadeiras Charles Eames e sofá de couro italiano • Exclusivamente nas suítes: televisor LCD de 26” com DVD player nos quartos e outro de 19” sobre a banheira, e uma banheira de ferro forjado em estilo inglês • O spa tem dois ofurôs, jacuzzi, sauna e um fitness center aberto 24 horas • Terapeutas para serviços como massagem shiatsu, massagem relaxante, reflexologia, drenagem linfática, esfoliação e tratamentos faciais Foto: Tuca Reines

• Champagne Bar & Caviar, espaço onde é possível apreciar mais de 70 rótulos de champanhes e espumantes acompanhados de degustações especiais de caviar • Cadeiras criadas pelos irmãos Campana fazem parte da decoração do lobby do hotel Premium

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Gourmet

Se o mundo

Beto Pimentel

acabasse hoje,

o que você comeria

por último?

por Kalinka Merkel

Cinco personalidades gastronômicas do Brasil respondem à pergunta que evoca lembranças, desejos e, às vezes, saudade final de 2012 está cada vez mais próximo e, com ele, as discussões sobre as crenças do “fim do mundo” aumentam. Mas e se o mundo fosse mesmo acabar, qual seria seu último desejo? O que você faria, ou melhor, o que você comeria? Foi o que perguntamos a cinco personalidades gastronômicas do Brasil.

Beto Pimentel (Restaurante Paraíso Tropical, Salvador) Dono de uma simpatia sem igual, quem vê o chef Beto Pimentel cuidando do seu jardim, das suas pimentas e subindo nas árvores do seu pomar, não imagina que sua culinária já cruzou oceanos e é reconhecida e premiada pela maior escola de gastronomia do mundo: a Commanderie des Cordons Bleus, na França.

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Mas o agrônomo de formação gosta mesmo é das coi-

um no almoço. Pedi ‘repeteco’ e ela disse que eu esperas-

sas que tem em seu quintal: o da frente de casa, o mar,

se pelo jantar. Quando ela foi dar o cochilo diário após o al-

e o de trás, onde cultiva frutas nativas brasileiras e outros

moço comi todo o resto do arroz doce”. E em meio a essas

produtos que utiliza para cozinhar em seu restaurante – o

lembranças reafirma: “Sim, esse seria meu último desejo”.

Paraíso Tropical, em Salvador. Sem pensar muito o chef logo revela seu prato predileto: o Polvo Tropical. A receita é de sua autoria e leva tudo que mais gosta – frutas nativas e polvo grelhado e banhado ao caldo do achachairu, cacau, biribiri, mel de abelha nativa, limão e ervas aromáticas. “Sim, esse seria meu último desejo!”, exclama Beto Pimentel ao pensar em qual seria sua última refeição. O polvo é o fruto do mar que mais gosta. As frutas são sua grande paixão. Por isso sua escolha não poderia ser outra: “Esse prato me faria lembrar, lá ‘no outro mundo’, que um dia cuidei de um pomar maravilhoso e orgânico.” E brinca filosofando ao explicar que costuma usar em seus pratos

Isabela Raposeiras (Coffee Lab, São Paulo) Precursora do barismo quando o assunto começava a a primeira Mestre de Torra (Roast Master), uma qualidade que a diferencia de todos os especialistas em café atualmente em ação no País. Em seu Coffee Lab, um laboratório propriamente dito onde

Foto: Nana Vieira

despontar no Brasil, Isabela Raposeiras tornou-se também

Isabela Raposeiras

prepara blends (mistura de grãos distintos) e single origins (café de origem única) vindos de microlotes criteriosamente selecionados entre os melhores produtores do Brasil, Isabela torra grãos e oferece aos clientes experiências únicas.

Mara Mello (Pâtisserie Mara Mello, São Paulo)

Mas, se alguém acha que a barista e Mestre de Torra escolheria como seu último desejo um gole de café, está en-

Mara Mello é uma profissional irrequieta. Chef pâtissière

ganado. Em meio aos seus equipamentos de torra de alta

desde 1998 e ganhadora de alguns dos principais prêmios

tecnologia, Isabela conta o que lhe dá mais prazer na vida:

de gastronomia de São Paulo, Mara dá aulas e palestras e,

“Comer o arroz-doce da minha avó.”

sempre que pode, vai a Paris para pesquisar e se reciclar.

Vinda de uma família apaixonada e sempre envolvida profis-

De lá traz novidades para sua pâtisserie, que mais parece uma

sionalmente com vinhos, gastronomia e charutos, a barista

“joalheria açucarada”, sempre adequando suas criações com

não sabe ao certo se o arroz-doce da avó é o melhor do

base na pâtisserie francesa, para o terroir brasileiro.

mundo ou se ele é especial por evocar boas memórias:

Mas não é só pelas novidades que a chef vai a Paris. Ela

“Uma das coisas que me dão mais prazer de comer na vida

também vai atrás daquilo que considera a melhor coisa

é esse arroz-doce e jamais saberei se por ser realmente

do mundo: as clássicas éclairs de chocolate, ou bomba,

maravilhoso ou por evocar lembranças ‘quentinhas’ para o

como é mais conhecida no Brasil. Sem titubear, Mara

meu coração.” E relembra: “Uma vez, minha avó fez uma

garante: “Esse seria meu último desejo, a última coisa

panelada para toda a família e serviu um potinho para cada

que eu gostaria de comer antes de o mundo acabar.” Premium

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Gourmet Embora sejam muitas as opções de sabores, a chef — que é chocólatra — diz: “Mas tem de ser de chocolate amargo e de preferência da Maison Du Chocolat.” Quando ela descreve o doce ressaltando os detalhes, como a massa muito leve e aerada, o recheio de chocolate cremoso que é produzido na própria Maison com sabor excepcional e tamanho perfeito, você logo entende por que esse seria seu último desejo. E enquanto o mundo não acaba, Mara Mello faz da bomba de chocolate um ritual: compra éclairs no dia em que chega e no dia de partir. E conta: “Na minha última estanão pude deixar de ir até a Maison Du Chocolat comprar algumas éclairs. Como não daria tempo de pegar um táxi ou coisa assim, saí pedalando enquanto meu marido me esperava na recepção do hotel. Mas garanti meu último momento de prazer absoluto na França.”

Foto: Ricardo D’Angelo

dia eu já estava atrasada para ir para o aeroporto, mas

Mara Mello

Renato Carioni (Restaurantes Cosi e Piazza 36, São Paulo) Dono de três restaurantes de sucesso em São Paulo, o chef catarinense Renato Carioni, conhecido por sua contemporânea culinária italiana gosta mesmo é de pão com ovo. Mas não de qualquer um – só o de sua avó. Único membro da família que não mora em Florianópolis, em Santa Catarina, vai com regularidade para a ilha por dois motivos: a saudade dos parentes e o pão de milho da vó Zilda. Carioni não lembra ao certo qual foi a primeira vez que comeu o pão de milho da avó. E nem poderia, já que conhece o pão desde que nasceu. Mas não troca a receita da avó por nenhuma outra do mundo. A receita ninguém tem. “Quando quero tenho de ir buscar”, conta o chef. Aos 88 anos de idade, dona Zilda faz duas fornadas por semana do pão que é “cascudo por fora e fofinho por dentro”: a primeira distribui entre os irmãos e a segunda é para os filhos. Quando Renato vai visitar a avó é recebido tradicionalmente com um chá da tarde. “Na verdade é com café”, Foto: Tadeu Brunelli

conta o chef, que justifica: “Mas é tão fraquinho que

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costumo dizer que é um ‘chafé’.” A melhor parte do lanche? Aquela que ele diz ser a última que gostaria de Renato Carioni

saborear antes do fim do mundo: “O pão de milho com um ovo em cima e gema bem molinha.”


Thiago Castanho (Restaurantes Remanso do Peixe e Remanso do Bosque, Pará) Merecedor de todos os prêmios que coleciona — entre eles os de “Chef do Ano”, “Novos Talentos” e “Melhor Restaurante” por conceituados veículos nacionais –, o paraense Thiago Castanho tem como base de sua cozinha a paixão pelos ingredientes locais e a memória afetiva do cotidiano familiar. E se hoje é um aclamado chef da nova cozinha brasileira, relembra que tudo começou quando seu pai decidiu transformar sua sala em um pequeno restaurante para sustentar a família. O negócio deu tão certo que já são dois restaurantes na Amazônia — o primeiro, Remanso do Peixe, inaugurado por seus pais em 2001, e sua nova casa, Remanso do Bosque, à beira de um parque nacional. Foto: Tadeu Brunelli

Por enquanto o chef nem pensa no fim do mundo, mesmo porque tem muita coisa para fazer ainda. “Mas se isso acontecer”, pondera Castanho, “gostaria de poder comer pela última vez a caldeirada de cabeça de filhote com tucupi e jambu que meu pai prepara desde que sou criança.”

Thiago Castanho

Arroz-doce da avó de Isabela Raposeiras Ingredientes: 1 xícara pequena de arroz 1 litro de leite 1 lata de leite condensado 1 canela em pau 3 xícaras pequenas de água Modo de preparo: Em fogo médio, ferva o arroz na água e canela até a água secar. Despeje o litro de leite e mexa, colocando o leite condensado aos poucos para não grudar no fundo da panela. É importante ficar mexendo o leite sem parar para não grudar. Você vai saber se está pronto quando levantar a colher e o leite estiver cremoso. Retire do fogo, coloque em uma vasilha e salpique canela em pó por cima. Quanto mais cremoso o leite estiver, mais consistente vai ficar depois de frio.

Premium

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Gourmet

A éclair de chocolate amargo de Mara Mello Ingredientes da massa:

Modo de preparo:

200 g de leite 200 g de água 8 g de açúcar 8 g de flor de sal 180 g de manteiga 220 g de farinha 300 g de ovo à 25ºC

Bata os dois cremes na batedeira com o globo até ficar leve e macio. Bata em velocidade média e tome cuidado para não bater muito. Coloque o creme em um saco de confeiteiro com o bico redondo liso e preencha o fundo das mini éclairs. Mantenha na geladeira.

Modo de preparo: Peneire a farinha e reserve. Ferva o leite com a água, o sal, o açúcar e a manteiga. Retire do fogo e acrescente a farinha de trigo. Volte ao fogo baixo e misture até a massa desgrudar do lado da panela e da colher. Coloque a massa na batedeira com a pá e bata até esfriar um pouco. Acrescente os ovos, um de cada vez – espere a massa absorver o ovo para acrescentar o próximo. Não coloque o ovo frio na massa quente, o ovo deve estar aproximadamente a 25ºC. A massa estará pronta assim que absorver todos os ovos. Coloque a massa em um saco de confeiteiro com o bico redondo liso e em uma assadeira forrada com papel manteiga faça éclair do tamanho de aproximadamente 10 cm de comprimento. Coloque a assadeira no freezer. Aqueça o forno a 250 graus e asse as éclairs por 15 minutos. Baixe o forno para 180ºC e asse por mais 5 minutos. Deixe esfriar e faça um pequeno furo na base para poder rechear. Rende aproximadamente 50 unidades.

Ingredientes da ganache de chocolate amargo 250 g chocolate 70% 400 g de creme de leite 50 g de açúcar invertido ou glucose Modo de preparo: Ferva o creme de leite com o açúcar invertido e despeje sobre o chocolate picado. Leve à geladeira para endurecer. Para glacear as éclairs, coloque um pouco de ganache em um pote e amoleça um pouco no micro-ondas – tome cuidado para não aquecer muito, se ficar muito fluida a ganache escorrerá nas laterais. Mantenha na geladeira.

Ingredientes do creme de chocolate: 125 g de leite 125 g de creme de leite 60 g de gema de ovo (2 gemas) 50 g de açúcar 150 g de chocolate 70% 20 g de pasta de cacau Modo de preparo: Leve o leite e o creme de leite para ferver. Misture a gema e o açúcar e despeje um pouco do liquido quente nesta mistura, incorpore e junte ao restante na panela e deixe engrossar em fogo baixo. A mistura não deve ultrapassar a temperatura de 85ºC, senão separa. Coloque o creme em um bowl. Derreta o chocolate junto com a pasta de cacau e misture com o creme. Guarde na geladeira até endurecer.

500 g do creme de chocolate (receita anterior) 250 g de mascarpone

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Foto: Tadeu Brunelli

Ingredientes do creme de mascarpone de chocolate


Tropical Grelhado de Polvo e Camarão, indicado por Beto Pimentel Ingredientes:

Modo de preparo:

100 g de abacaxi 100 g de maçã 100 g de pera 100 g de manga 60 g de caju 50 g de jambo 50 g de kiwi 80 g de banana da terra 130 g de goiaba 50 g de carambola 50 g de lâmina de coco verde 50 g de jaca (sem o caroço) 50 g de sapoti 100 g de ameixa 6 unidades pequenas de tamarindo 1 xícara de chá da calda de graviola 1 xícara de chá da calda do cacau 6 colheres de sopa de mel de jataí 200 g de camarão grande e limpo 200 g de polvo cozido (inteiro) 1 dente de alho amassado 3 unidades do sumo de biribiri 1 colher de sopa de pimenta de biquinho Sal a gosto

Parte 1 Corte as frutas em rodelas ou tiras. Misture a calda da graviola e a do cacau com o mel. Leve as frutas para a grelha e vá regando com essa mistura até dourar virando-as sempre para não queimar. Parte 2 Em uma panela com 200 ml de água coloque o camarão, o polvo e o restante dos ingredientes. Leve para o fogo e cozinhe por 3 minutos. Grelhe o camarão e o polvo em uma chapa regando-os com o líquido da cocção dos mesmos. Finalização Em uma pedra de granito ou uma travessa rasa coloque o camarão e o polvo ao centro e as frutas grelhadas ao redor.

Premium

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Bem Viver

ESPAÇO

RELAX

Por Amanda Sampaio

Profissionais ensinam como transformar cômodos da casa em áreas de descanso com bom gosto e sem reformas 54


Velas e colchão estilo mineiro sobre piso elevado deram sensação de aconchego ao home theater de Fernanda Negrelli

m chalé à beira-mar, um

O ideal é ter pelo menos um local na

Paulo, a varanda é um dos principais

resort

estrelas,

casa reservado para recompor as

espaços para criar um clima de total

uma clínica estética, o

cinco

energias, descansar o corpo e a men-

repouso. Se o cliente gosta de tomar

tão sonhado spa. Luga-

te do estresse diário, proporcionando

vinho ou fumar charuto, por exem-

res perfeitos para relaxar, mas nem

uma sensação de paz. De acordo com

plo, ela recomenda decorar a varan-

sempre acessíveis para quem vive em

a designer de interiores Solange Guer-

da como uma espera de restaurante,

meio à correria do dia a dia. Traba-

ra, não há cômodo certo para compor

para receber os amigos. “Uma ideia

lho, filhos, estudos, administração da

uma atmosfera relaxante. “Pratica-

interessante é instalar uma adega e

casa... Mas será que não há uma for-

mente em todos os ambientes de uma

poltronas para leitura”, exemplifica. “E

ma de relaxar sem ter que abrir mão

casa é possível montar um cantinho

se o ambiente for aberto, revestir os

de tudo isso? Sim, é possível, desde

para relaxamento, seja na varanda, na

assentos com tecido náutico, que não

que o espaço de relaxamento este-

sala ou até mesmo no banheiro.”

desbota quando molha”, completa.

ja instalado bem perto de você, no

Para Betina Barcellos, sócia da In Hou-

No caso de ser um ambiente interno,

aconchego do seu lar.

se Designers de Interiores, em São

estofados com tecidos removíveis gaPremium

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Bem Viver

Varanda fechada com vidro e decorada com plantas, madeira e velas ganhou ares de ambiente de repouso

rantem o aconchego sem dificultar a limpeza das peças,

sação de aconchego. “Madeira, pedras, fibras, lamparinas,

indica a arquiteta Fernanda Negrelli. Acostumada a com-

cascas de árvore, tecidos claros e macios, fontes de água

por espaços zen, ela recomenda utilizar os cantos dos am-

e plantas diversas são curingas, ideais para estimular o re-

bientes para incluir áreas de descanso. “Pode ser com um

laxamento em qualquer espaço do lar”, explica Solange.

colchão estilo mineiro, aqueles baixinhos, ao lado do sofá,

Outro fator muito importante para induzir o clima de sosse-

tudo com muita cara de decoração asiática. Pode-se ele-

go e recarregar as energias é a iluminação. Optar por spots

var um pouco o piso da região onde o futon será instalado,

com lâmpadas dicroicas embutidas no teto permite regular

para dar a sensação flutuante ao colchão”, recomenda. “É

a intensidade da luz e direcioná-la de acordo com a situa-

importante que haja espaço mínimo para a pessoa deitar”,

ção. Luzes sobre a cabeça podem causar ofuscamentos

completa.

e desconforto. Solange conta que também vale usar mais

Cores, texturas e iluminação adequadas ajudam a criar o clima de repouso

de um tipo de fonte luminosa, como arandelas, abajures e luminárias, que possibilitam criar cenários diferentes. E não há lugar melhor para brincar com a iluminação do que uma sala de televisão. A luz indireta cria penumbras e deixa o espaço mais aconchegante, propício para o relaxamento. Um sofá mais profundo, um pufe, ou um chaise

Não há regras rígidas para tornar a sua casa mais confor-

são essenciais para curtir um bom filme ou uma música.

tável e própria para relaxar, já que a noção de conforto é

“Até a imagem da televisão fica melhor com um fundo mais

pessoal. Porém, alguns elementos podem aumentar a sen-

escuro”, lembra Betina. Solange Guerra indica usar elementos como pedras, fibras e tecidos claros para dar sensação de relaxamento

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Sofá amplo, uso de tapete macio e luz indireta criam cenário de conforto na sala de TV de Betina Barcellos


Banheiras com tecnologia embutida transformam a hora do banho em um momento zen

Outro item essencial para escurecer ou clarear o ambiente

para se transformar em um spa particular. “O banheiro ga-

e provocar essa sensação de aconchego é a cor das pare-

nhou status de sala de banho e hoje é um dos locais mais

des. Se a intenção é relaxar, cores muito quentes e vibran-

importantes da casa”, diz Solange.

tes não são recomendáveis, pois deixam as pessoas agi-

Recorrer à tecnologia pode ser uma ótima ideia para a

tadas. Dê preferência a tons mais frios e que transmitam

hora do banho se tornar ainda mais especial. “Banheiras

calma, como azul, lilás, cinza e branco. Outra excelente

com televisões embutidas, DVD e sistema que mantém

opção é trazer o verde para a decoração, seja na tinta das

a água aquecida por horas são muito procurados”, con-

paredes ou acrescentando plantas e flores aos ambientes.

ta Betina. Há também algumas colunas de banho que já

Tecnologia permite reproduzir em casa o conforto de hotéis e spas

vêm com mp3, entrada para pen drive, cascatas e até esquema de luzes para cromoterapia. Mas não se esqueça de combinar as cores e estilos com o resto da decoração. Não tem segredo. Com um toque de criatividade e equilíbrio, é possível transformar sua casa em um santuário de

Varanda, sala de televisão, living: nesses espaços é pos-

puro relax, sem reformas nem gastos desnecessários. Se

sível sentar, deitar, desfrutar de uma leitura, saborear um

a sua noção de relaxar é ler um bom livro, assistir a um

bom drinque e, consequentemente, relaxar. O quarto, en-

filme, ou tomar um banho demorado, disponha no am-

tão, já foi feito para isso. Mas há um cômodo que, na maio-

biente elementos que tornem essas experiências ainda

ria das residências, deixou de ser um espaço de transição

mais agradáveis.

POR ONDE COMEÇAR Você pode criar o seu cantinho ou aplicar alguns conceitos básicos na casa toda e relaxar onde quiser. Dê atenção especial às dicas abaixo: Cores – Todas as cores leves acalmam a mente. Mas tons claros de verde e azul funcionam como curingas e dão a sensação de mais aconchego. Iluminação – A luz suave e difusa, em tons de vermelho e laranja, é ideal para criar ambientes relaxantes e intimistas. Natureza – O verde das plantas traz naturalmente mais paz aos ambientes. Além disso, cuidar das plantas pode funcionar como uma verdadeira higiene mental. Mobiliário – Não confunda aconchego com excesso de informação. Exagerar na quantidade de móveis e elementos decorativos pode ser prejudicial à mobilidade nos cômodos e, consequentemente, ao relaxamento. Premium

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Foto: Ana Quesada

Arquitetura

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Interior da Catedral de BrasĂ­lia


Os poderes de

Brasília

Por Priscila Roque

A arquitetura moderna, que também presta suporte às artes plásticas, é uma das principais atrações da capital do país la é cinquentona e representa uma das maiores materializações em escala do urbanismo e da arquitetura moderna no mundo. Projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, Brasília foi inaugurada em abril de 1960. Desde essa época abriga a capital do País. Brasília foi o primeiro sítio em arquitetura moderna a ser tombado como Patrimônio Mundial pela Unesco. Esse é um feito curioso quando se observa que seu principal mentor é vivo e continua em atividade. “O Brasil, na segunda metade da década de 1950, foi o país que construiu o sonho do projeto moderno. Niemeyer é, de fato, o indivíduo que conseguiu traduzir em forma e construção a brasilidade, a liberdade e o Estado”, comenta o arquiteto Rodrigo Queiroz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e especialista nas obras de Niemeyer.

Foto: Rodolfo Stuckert/ SEFOT-SECOM

Detalhe noturno da Câmara dos Deputados

Premium

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Foto: Ana Quesada

Arquitetura

O Palácio do Itamaraty é lembrado por seus arcos

O edifício mais visitado da cidade também é um dos mais premiados na carreira de Oscar Niemeyer. De acordo com Rodrigo Queiroz, a igreja tem por objetivo fazer com que o indivíduo tenha uma experiência de aproximação com o eterno. Por isso, na cúpula há sempre pinturas que remetem ao paraíso. “De modo singular, essa catedral absorve todo arcabouço da história da arquitetura religiosa e o traduz. Como a cúpula, que é o próprio céu de Brasília”, ele explica. Ao entrar, o visitante é induzido a um percurso na obra em uma descida por um túnel negro. Com a pupila dilatada, o impacto posterior a essa experiência potencializa a intenção do arquiteto de estabelecer uma relação de contraste. “É a transição entre o mundo real e o espaço da nave, completamente preenchida de luz, com anjos de bronze pendurados. Ele trabalha com toda a iconografia da arquitetura religiosa e histórica”, afirma Queiroz. Os desafios da arquitetura de Brasília não estão somente na ponta do lápis. Para executá-las é preciso um bom engenheiro, como Joaquim Cardozo, falecido no final dos anos 1970. “Ele era um poeta. Para ser calculista do Niemeyer, é preciso entender e jogar a favor daquelas formas. É preciso compreender a ideia e definir a estabilidade a partir da originalidade do desenho”, revela Rodrigo Queiroz. 60

Um dos exemplos é o “prato” do Congresso Nacional, que abriga a Câmara dos Deputados e desperta a curiosidade de quem o vê. Como é que dentro daquela forma existe uma assembleia que tangencia o chão em um único ponto? “São construções pesadíssimas que não transmitem o peso que têm, justamente porque o desenho evoca essa leveza”, completa. O Palácio do Itamaraty, onde também já funcionou o Ministério das Relações Exteriores, simboliza o País para o mundo, como ressalta Rodrigo Queiroz. Antes no Rio de Janeiro, hoje no Distrito Federal, ele é visto como uma síntese da cultura estética brasileira nesses 500 anos pelo número de obras que guarda em sua coleção, além de seu projeto arquitetônico. “Ao percorrer o ambiente e chegar em seu ponto final, a cobertura se abre de modo extraordinário para a própria cidade. É como se descortinasse essa unidade entre o urbanismo, a arquitetura e o paisagismo. Um tapete de vegetação e de pedra que harmoniza a setorização proposta pelo Lúcio Costa e as formas de Niemeyer que pousam nessa superfície preenchida por Burle Marx. O Palácio do Itamaraty é fundamental para entender o que é o Brasil”, diz. Em Brasília, não são poucos os trabalhos que unem obras do artista plástico Athos Bulcão aos projetos de Niemeyer. “A arquitetura moderna brasileira, como


Foto: Tuca Reinés/Acervo Fundação Athos Bulcão

nenhuma outra no mundo, conseguiu se prestar como um suporte para as artes plásticas, seja como um espaço para escultura ou uma superfície para um painel ou pintura”, explica Queiroz, ressaltando a cumplicidade de ambos. Um momento que exemplifica o casamento perfeito de pensamentos é a Igreja Nossa Senhora de Fátima. “O mais interessante dessa relação é que ela se dá com o preenchimento das paredes usando as formas geométricas do Athos, de modo que elas potencializam as linhas da arquitetura de Niemeyer”, complementa. Muitos edifícios de Brasília são de Niemeyer, entretanto, há outros que merecem destaque, como a Assembleia Legislativa. Esse foi o primeiro espaço projetado a partir de um concurso público – e vencido por um grupo de São Paulo recém-formado, em 1988. O desenho, que ficou engavetado por anos, foi retomado no início da última década pelo próprio grupo e, em 2010, finalmente inaugurado. “Um dos diferenciais é a praça para o uso de funcionários e visitantes – um espaço de convivência. Percebemos que, em Brasília, muitos edifícios são ‘soltos’ na paisagem, isolados, como um monumento. Queríamos criar algo mais urbano, no sentido mais tradicional, como em São Paulo”, explica o arquiteto Luís Mauro Freire, um dos integrantes do escritório Projeto Paulista que projetou a Assembleia.

A arquitetura da Igreja Nossa Senhora de Fátima faz referência ao chapéu das freiras

Foto: Nelson Kon/ Projeto Paulista

A Assembleia Legislativa foi inaugurada mais de 20 anos após seu projeto inicial

Premium

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Ilustrações e foto: divulgação

Queiroz Galvão

| São Paulo

Investimento

Empreendimentos com estrutura de clube marcam a expansão da Queiroz Galvão no interior de São Paulo

Solar do Japi rivilégio de ter a natureza por perto, mas com segurança de condomínio fechado, o empreendimento Solar do Japi está a 25 minutos de São Paulo, próximo à rodovia dos Bandeirantes e ao centro de Jundiaí. Outros lançamentos da Queiroz Galvão no município estão previstos para os próximos meses, como parte da expansão e investimento da construtora na região, que tem demanda crescente. O Solar do Japi tem estrutura de clube: com mais de 30 itens de lazer voltados para diversas faixas etárias – de lan house e piscinas a quiosque com forno de pizza –, não é necessário sair

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Ilustração artística do bosque

Ilustração artística do terraço gourmet do apartamento de 97m²

Ilustração artística dos quiosques do Solar do Japi, com churrasqueira e forno de pizza

Churrasqueiras e quadras ficam no fundo do empreendimento, para que o barulho não incomode os moradores dos primeiros andares. Segundo a paisagista, o diferencial do empreendimento

de casa para se divertir em família e com qualidade de

está na dimensão que ele possui – o Bosque privativo tem

vida. “Isso é muito importante, pois o térreo de hoje é a

mais de 26 mil metros quadrados de área verde preserva-

rua de antigamente”, diz Martha Gavião, paisagista res-

da, e, além disso, o condomínio fica ao lado da Serra do

ponsável pelo projeto.

Japi. “São duas torres no mesmo terreno, mas elas ficam

“É como morar dentro de um parque. Normalmente, os

distantes uma da outra. Não tem aquele incômodo de abrir

espaços mais utilizados pelos moradores costumam ser

a janela e ver o morador do prédio da frente. E não são

a piscina e a churrasqueira. Então fizemos piscinas enor-

muito altos, ou seja, não causam grandes sombras nas

mes, onde não é preciso disputar um lugar ao sol. E como

áreas sociais”, diz Martha. “O terreno é imenso, e o mora-

o público que costuma usufruir de áreas sociais normal-

dor sente isso logo ao entrar no condomínio”, completa.

mente é o mais novo – crianças e adolescentes –, criamos

Os apartamentos têm duas opções de metragem (97

locais onde é possível sociabilizar, como a piscina de biri-

ou 119 metros quadrados), e cada metragem tem duas

bol. Mas também temos a raia, para adultos que querem

opções de planta, com quatro ou três dormitórios (duas

simplesmente nadar”, explica Martha.

ou uma suíte). Premium

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Queiroz Galvão

| São Paulo

Ilustração artística do living do Infinity (apartamento de 147 metros quadrados)

Infinity No bairro Retiro, região valorizada da zona oeste de Jundiaí, está o Infinity, lançamento da construtora previsto para o segundo semestre. “O empreendimento respeita o entorno, de tipologia residencial, e traz como partido de projeto a implantação de um cinturão verde de caráter público em torno dos edifícios. Para minimizar o impacto no trânsito local, foi previsto um alargamento na avenida”, diz Rafael Carrero, arquiteto da ABrasil Arquitetura, responsável pelo projeto. O Infinity tem duas metragens: 116 ou 147 metros quadrados, com opções de planta. “Os ambientes são amplos e integrados, tanto nos apartamentos quanto na extensa área de lazer”, diz Carrero. A vista dos apartamentos será uma das vantagens, já que o empreendimento está localizado em um dos pontos mais altos de Jundiaí. “O projeto foi pensado de modo a criar privacidade Ilustração artística da praça das águas do Infinity

entre os moradores – a área de lazer do condomínio está no térreo, se encontra em nível superior às ruas que contornam o projeto –, ao mesmo tempo em que oferece uma vista privilegiada da cidade”, explica o arquiteto.

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LANÇAMENTO

apartamento, pelo melhor preço. Ilustração artística das Piscinas

4 e 3 dorms DE 30 ITENS DE LAZER

o ot

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Serra do Japi

Foto do local

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Ilustrações: divulgação

Queiroz Galvão

| Recife

Ilustração artística da sala de jantar

Boris Kertsman Localizado no 2º Jardim, na Avenida Boa Viagem, em Recife, empreendimento está rodeado por praças e tem vista para o mar

m uma região valorizada e muito bem estruturada, com serviços, praças e com vista para o mar de Boa Viagem, está o Boris Kerstman, novo empreendimento da Queiroz Galvão em Pernambuco.

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Ilustração artística da fachada do edifício

O Boris se destaca como elemento de ordem numa paisagem cheia de prédios. Sua arquitetura de forma bem

Praia de Boa Viagem

Foto: Fred Jordão

Ilustração artística da suíte

Vista privilegiada inclui praia, praças e manguezal

definida se torna um marco referencial em meio a tantas construções de um bairro tão requisitado. “É uma

Todas as suítes do prédio têm vista para o mar da praia

obra humanizada, com paredes meio curvas dentro dos

Boa Viagem e as salas têm janelas envidraçadas que vão

apartamentos”, diz Marco Antonio Gil Borsoi, arquiteto

de uma parede à outra, do chão ao teto. “Ele foi cons-

responsável pelo projeto, que teve coautoria de João

truído na diagonal, o que trouxe um benefício: de um lado,

Domingues.

você tem vista para a orla, do outro, para um manguezal

Numa avenida longa e de mão única como a de Boa Via-

preservado”, diz o arquiteto. São 32 unidades, sendo uma

gem, o ponto de referência dos moradores acaba sendo

cobertura duplex.

o que há por perto: no caso, as praças do 2º Jardim,

A principal matéria-prima visível é o granito branco, pois,

quase um quintal do Boris. “Uma das praças urbanas

segundo Borsoi, fachada de cores claras é preferência

fica bem ao pé do empreendimento, com coqueiros e

em Recife. “Os tons claros refletem a claridade do sol, e

jardim tropical. É uma região primordialmente residencial

o Boris será uma fonte luminosa no meio da paisagem”,

e valorizada”, diz Borsoi.

filosofa Borsoi. Premium

67


Queiroz Galvão

| RIo de Janeiro

V

ernissage

Condomínio residencial com espaços que possibilitam a convivência em momentos de sossego ou diversão

Vernissage Residence & Club, novo empreendimento da Queiroz Galvão no Rio de Janeiro, será construído em uma rua tranquila e arborizada de Jacarepaguá. O bairro, na zona oeste da capital carioca, tem boa infraestrutura e

prestação de serviços no entorno, como faculdade, escolas, pizzarias e cinemas. As áreas de lazer do Vernissage terão espaços para praticar arvorismo e tirolesa, por exemplo, além de mirantes, parque aquático e bosque particular, para que os moradores possam conviver com a natureza diariamente.

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Ilustração artística do bosque particular

Serão 404 apartamentos, e as salas, quartos e varanda terão piso de porcelanato em tom claro, que, segundo a arquiteta Sophia Galvão, ajuda a manter a sobriedade: “A Ilustrações: divulgação

dica para decorar apartamentos compactos é preferir cores

Ilustração artística do Vernissage Residence & Club

claras e neutras. Também é muito importante não entulhar o espaço, não encher de objetos e móveis”, diz. A arquiteta foi responsável por decorar um apartamento que servirá de modelo para quem for conhecer o empreendimento. As plantas incluem apartamentos com dois, três ou quatro dormitórios, todos com suíte (ver box). A área social atende todas as idades: ateliê, brinquedoteca e um parquinho com a “casa do Tarzan” para as crianças; um salão de festas teen e um espaço de convivência com a temática futebol para os jovens, e quiosque com churrasqueira e um espaço para tomar café

Tipologia dos apartamentos 2 quartos 232 unidades de 60 a 65m² e 2 unidades de 78m² 3 quartos com 1 suíte 46 unidades de 76,40 m² 3 quartos com 3 suítes 46 unidades de 60,16m² 4 quartos com 3 suítes 20 unidades de 107 a 109m²

Coberturas:

3 quartos com 1 suíte 40 unidades de 120 a 156m² 4 quartos com 1 ou 3 suítes 20 unidades de 156 a 214m²

que agradam os adultos. Além de um charmoso bosque, com caminhos entre as flores e árvores para que os momentos em família possam ser aproveitados próximos à natureza.

Ilustrações artísticas da brinquedoteca e da “casa do Tarzan”

Premium

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Queiroz Galvão

| Salvador

Itapuã

A oportunidade de transformar em realidade o sonho de morar em um dos bairros mais atraentes de Salvador

Ilustrações e foto: divulgação

Parque

ôr um velho calção de banho, sentir a preguiça no corpo na Praça Caymmi e, numa esteira de vime, beber uma água de coco, olhando um mar que não tem tamanho: os conselhos da canção Tarde em Itapuã são de uma época em que a tranquilidade reinava absoluta em Itapuã, no subdistrito de mesmo nome, em Salvador. Os tempos são outros, e a região, que já chegou a ser chamada de local “por onde se conhece a entrada da Bahia”, se desenvolveu. Deixou de ser um local frequentado somente por pescadores, mas continua a ter paisagens encantadoras, cheias de mistérios e lendas. Lugar hospitaleiro, com um clima

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Ilustrações artísticas da praia de Itapuã, do living e da área garden (área presente nos apartamentos térreos)

Miniclube residencial para diferentes faixas etárias Nesse cenário, a Queiroz Galvão lança seu primeiro empreendimento Slim, o Itapuã Parque, condomínio fechado com duas torres. São 160 apartamentos com área privaIlustração artística da piscina

tiva de 65 ou 72 metros quadrados, todos com sacada ou garden. A área social do empreendimento tem piscina adulto e infantil, deque molhado, churrasqueira, academia,

bom e paisagens diversificadas. Ainda vale a pena seguir

quadra, brinquedoteca, salão de jogos e salão de festas.

o conselho dos compositores Toquinho e Vinícius de Mo-

“A arquitetura do Itapuã Parque parte do essencial, sem per-

raes, autores da canção, e passar uma tarde em Itapuã.

der, contudo, a funcionalidade e a beleza”, diz Augusto Xavier,

Mas, melhor do que passar um dia na região, é poder mo-

arquiteto responsável pelo projeto. “É um miniclube residencial

rar no bairro, com grande infraestrutura, hotéis de luxo,

dotado de espaços de convivência, lazer e esportes, implanta-

shoppings e famosas atrações de Salvador, como a lendá-

dos em uma ilha de paisagismo que acolhe harmoniosamente

ria Lagoa do Abaeté e o Farol de Itapuã.

crianças, idosos, adultos e adolescentes”, completa. Premium

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Foto: Acervo Museu Mazzaropi

Art Cinema

As faces do

Mazzaropi como Bernardino Jabá, em O Lamparina, de 1963

cinema nacional

por Priscila Roque

Polêmicos ou populares, esses personagens se tornaram referência das telonas brasileiras pagam-se as luzes, o projetor é ligado. Sen-

O humor caipira de Taubaté

tado em uma das poltronas da sala escura,

72

o espectador percorre o enredo de um filme.

Um homem do campo construído pelos olhos de um sujeito que

Sozinho. No cinema, a imersão é tão profun-

dividiu seus primeiros passos entre Taubaté e a capital de São

da, que até seu próprio corpo parece penetrar em uma

Paulo. Com os pincéis, Mazzaropi começou a retratar a vida in-

outra realidade.

teriorana, na sua “vida real”. Depois, já nas telas da TV e do cine-

A trama exibe personagens capazes de criar um elo

ma, deixou o primeiro ofício para dar vida àquele caipira cheio de

com quem os vê. Aplausos para atuações marcantes

humor e bastante popular que cativou o povo brasileiro. Neste

e falas impecáveis. Esse casamento pode tornar prota-

ano, o nascimento de Mazzaropi completa seu centenário.

gonistas e coadjuvantes emblemáticos para a história

Jeca Tatu, Zé Nó ou Bernardino, não importa. Na alma, são to-

do cinema.

dos Mazzaropi. “De Jeca ele não tem nada. Extremamente es-

A seguir, especialistas destacam cinco personagens do

perto e inteligente, ele soube não apenas criar um personagem

cinema brasileiro que valem a discussão, seja pela po-

absoluto, mas ganhar dinheiro – e perder – como ninguém no

lêmica que causaram para uma época, pela popularida-

cinema brasileiro. Para ele, ou se tem uma indústria do cinema

de que alcançaram junto ao público, seja por servirem

ou não se tem nada. Optou pelo nada”, comenta o poeta e

de referência de um gênero.

cineasta Paolo Gregori.


Uma mulher de fibra Personagem principal disfarçada de coadjuvante. Assim é a guerreira Rosa, vivida por Yoná Magalhães no longa de Glauber Rocha Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1964. “Ela é uma mulher bem importante porque não se conforma com a realidade que lhe é dada. Ela tenta, de todas as maneiras, ir contra tudo isso. Muitos papéis de mulheres do Cinema Novo têm um pouco dessa lógica, mas acho que Rosa é emblemática pela força que tem”, justifica o professor e pesquisador cinematográfico André Gatti. Para a também pesquisadora em cinema e jornalista Foto: Cinemateca Brasileira

Natalia Barrenha, muito já se falou sobre a política e a linguagem inovadora dessa produção, mas pouco sobre a representatividade que ela teve. “Rosa chama muito a atenção por estar no centro da narrativa, sem estar. De certa maneira, há uma reconfiguração do pa-

Yoná Magalhães em cena como Rosa em Deus e o Diabo na Terra do Sol

pel habitualmente conferido às mulheres”, explica.

Tabu no cinema brasileiro O ator Milton Gonçalves deu vida à Diaba, personagem inspirada na caricata figura carioca de Madame Satã, na década de 70, no filme de Antônio Carlos Fontoura, A Rainha Diaba. “No início do cinema nacional, o papel de homossexual normalmente era insinuado, não explícito. Rainha Diaba se destaca por ter uma personagem intensa, que é central. Ele mostra um travesti negro e marginal”, ressalta o pesquisador André Gatti.

Foto: arquivo pessoal João Carlos da Fontoura

Com argumento de Plínio Marcos, a trama conta a história de um homossexual que chefia um grupo relacionado ao tráfico de drogas em um universo cruel de intrigas e traições. Há quem considere a interpretação de Milton Gonçalves uma das melhores do cinema nacional. Atuação em A Rainha Diaba rendeu prêmios para Milton Gonçalves

Premium

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Art Cinema

Terror para exportação “Você, você e todos vocês” é o bordão mais famoso daquele sujeito de roupas pretas, unhas longas e cartola que ganhou o mundo com seu cinema trash. O personagem Zé do Caixão se transformou no alter ego de seu intérprete, José Mojica Marins, e tem autorização do próprio para vagar por aí. Ele aparece em filmes de Marins desde os anos 1960 e, hoje, apresenta até um programa de entrevistas no Canal Brasil. Para o cineasta Paolo Gregori, ele é uma mistura de Ed Wood com Roger Corman. “Um ser iluminado e mito-

O fenômeno pop Quase uma unanimidade entre o público atual, Capitão

para difundir o medo. Sua obra é a metáfora de nossa sociedade: miserável, ameaçadora, gananciosa, pervertida, hipócrita e escatológica. Os filmes são a quintessência do que há de mais brasileiro dentro de nós: o grotesco”, ele analisa.

Foto: divulgação

Zé do Caixão, o coveiro louco presente na TV brasileira e no cinema mundial

Foto: Juliana Torres/ Canal Brasil

lógico que entendeu que o cinema é o melhor espaço

Nascimento, presente nas primeira e segunda partes de Tropa de Elite, é um dos personagens mais marcantes da história do cinema nacional. A popularidade alcançada se deve à identificação por parte de quem o assistiu. “O projeto do filme contemplava uma história autoral que ganhou qualidade pela escolha impecável do ator principal, um acerto do diretor e de toda a equipe”, pontua o crítico e professor de cinema Franthiesco Ballerini. A jornalista e pesquisadora Natalia Barrenha ficou surpresa. “No primeiro filme, ele é um xerife do Velho Oeste nos anos 1950 com a ausência de medo, a integridade e a responsabilidade. No segundo, ele é um xerife contemporâneo, vindo mais de um filme dos Irmãos Coen do que de um filme do John Ford. É interessante como se questionam as ideias de herói, de justiça e da necessidade de justiça por meio dele — assuntos muito delicados em um país de justiça lenta e falha como o nosso”, conclui.

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Wagner Moura como Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2


Premium

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Art Cultura

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Cem anos de

jorge amado Por Marina Monzillo

a sexta-feira de Carnaval, o trio elétrico de Daniela Mercury anunciou: Salve Jorge! Era o início da homenagem da Bahia para um de seus filhos mais ilustres, Jorge Amado, escritor que completaria cem anos em 2012. Diante de milhares de foliões, músicas inspiradas em seus personagens foram cantadas e um corpo de baile encenou uma ópera popular baseada em histórias como Dona Flor e Seus Dois Maridos e Gabriela. A festa de Momo sempre permeou a vasta obra amadiana – seu primeiro romance é O País do Carnaval (1931). Por isso, e por sua importância para a cultura brasileira, além de ser lembrado em seu Estado natal, o autor foi tema dos desfiles das escolas Imperatriz Leopoldinense, no Rio de Janeiro, e Mocidade Alegre, em São Paulo. A série de comemorações do centenário, de fato, começou em 2011, um ano antes da efeméride – Jorge Amado nasceu em Itabuna, no interior baiano, em 10 de agosto de 1912. No cinema, foi lançado Capitães da Areia, da cineasta e neta do escritor Cecília Amado. No teatro, a peça Dona Flor e seus Dois Maridos percorre o Brasil. Editora da obra de Jorge Amado desde 2008, a Companhia das Letras lançou uma caixa que reúne os quatro livros das mulheres de Jorge (Tieta, Dona Flor, Gabriela e Tereza Batista). E ainda vem mais por aí: Navegação de Cabotagem e Os Velhos Marinheiros ganharão edições especiais ilustradas e será publicada Jorge & Zélia, Correspondência Inédita, reunião de cartas que o escritor trocou com a mulher, Zélia Gattai, enquanto estava no exílio. Também foi organizada uma exposição, Jorge, Amado e Universal, no

Premium

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Art Cultura

Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que reúne peças do acervo da família do escritor e da Fundação Casa de Jorge Amado. São elementos da sua vida e obra, como fotos, manuscritos, objetos e materiais audiovisuais que recriam o universo ficcional que tanto reverencia a cultura baiana. A exposição já passou pelo Museu da Arte Moderna de Salvador e será apresentada em mais oito capitais. Por fim, o projeto Amar Amado homenageou o escritor em Ilhéus, na Bahia, com seminários e festivais, além da dramartugia e música brasileira.

O inventor do Brasil moderno O crítico literário José Castello escreveu: “Não há escritor brasileiro que tenha a imagem pessoal tão ligada à de nosso país quanto Jorge Amado”. Sorridente, caloroso, com um jeitão informal e até displicente, o baiano, morto em 2001, era a cara do Brasil. E colocou esse Brasil nas páginas de seus livros, inventando essa imagem moderna, do século 20, da nação miscigenada, das mulheres sensuais, da malandragem, do povo corajoso que não esmorece diante das adversidades. Os romances de Jorge Amado foram sempre um grande sucesso de vendas. As traduções alcançaram 50 países. E há, ainda, as adaptações para cinema, televisão e rádio que transformaram suas personagens em parte indissociável da vida brasileira. Como disse Castello: “Enquanto assistia na tevê às encenações das histórias de Jorge, o Brasil via a si mesmo, e aprendia quem estava predestinado a ser.” Em 1961, o autor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1984 recebeu a Legião de Honra, a maior condecoração francesa, e em 1998, o título de doutor honoris causa da Universidade Sorbonne. No fim da vida, já era havia tempos, uma instituição nacional, que ensinou seus milhares de leitores a conhecer, respeitar e amar a cultura afro-brasileira, a culinária regional, a capoeira e o candomblé.

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A estante branca por Marina Monzillo

ão é o sofá macio nem a mesinha de design alemão que custou uma pequena fortuna. Meu objeto preferido da casa é a estante de livros. Pela primeira vez, tenho um espaço especialmente destinado aos meus livros, meus adorados livros. Ela é branca, com nichos assimétricos e ocupa lugar nobre da sala de estar. Mesmo neste tempo de iPads e e-books, não consigo descartar o tradicional papel. Adoro as capas, o peso do livro em minha mão, o barulhinho das páginas viradas rapidamente – para mim, parecem as asas de um pássaro levantando voo, me conduzindo para o universo daquela história. A estante branca é um móvel espaçoso, mas não o suficiente. Ganharam o direito de ocupar trechos das prateleiras as obras que pretendo reler ou consultar, e com as quais tenho uma relação afetiva – seja pelo assunto, pela dedicatória ou pelo momento em que entrou e fez parte da minha vida. Os outros volumes foram para um armário no quartinho da bagunça, mas isso não significa que ficaram negligenciados. Os preferidos estão arrumados de acordo com os temas: contos, romances norte-americanos, literatura russa, autores latinos, vampiros, chick-lit, cinema, jornalismo, e assim vai. Já me encontrei diversas vezes parada diante da estante: olho, admiro,

Foto: Fotolia

namoro. Endireito e entorto livros, decoro os espaços com pequenos objetos colori-

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dos, estrategicamente posicionados entre os volumes. Sou apaixonada e cheia de ciúmes da estante branca, assim como sou pelos livros. Um caso de metonímia, o continente pelo conteúdo.


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