Parq 17 - 02.2010

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REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 17. FEVEREIRO 2010. WWW.PARQMAG.COM


Seja Responsável. Beba com Moderação. www.bebacomcabeca.pt


Director

TEXTOS

STYLING

Francisco Vaz Fernandes

André Murraças Ângela Araújo Carla Carbone Júlio Costa Diana de Nóbrega Júlio Dolbeth Luísa Ribas Maria São Miguel Paula Melâneo Pedro Lima Rui Miguel Abreu Sofia Saunders Tânia Figueiredo

Carlos Vilaça Chiara Vecchio Conforto Moderno Juliana Lapa Rúben Moreira

francisco@parqmag.com Direcção de Arte

Alva — Valdemar Lamego www.alva-alva.com Tradução

Roger Winstanley Seja Responsável. Beba com Moderação. www.bebacomcabeca.pt

roger@parqmag.com PARQ

Publicidade

Número 17

Francisco Vaz Fernandes

fev. 2010

francisco@parqmag.com

Ilustração

Vanessa Teodoro Rui Lourenço

FOTOS

Cláudia Santos claudia@parqmag.com

REVISTA GRATUITA DE MODA E CULTURA URBANA. PARQ. NÚMERO 17. FEVEREIRO 2010. WWW.PARQMAG.COM

Ana Tavares André Brito Paula Melâneo Mário Ambrózio Mário Príncipe Pedro Pacheco Ricardo Gomes

periocidade Mensal Depósito legal 272758/08 Registo ERC 125392 Edição Conforto Moderno Uni, Lda. número de contribuinte: 508 399 289 PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa

Dois anos de terapia urbana editorial: francisco Vaz Fernandes

00351.218 473 379 Impressão BeProfit / SOGAPAL Rua Mário Castelhano · Queluz de Baixo 2730-120 Barcarena 20.000 exemplares distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq. Assinatura anual 15€. www.parqmag.com capa alexandra nefedova (Elite) fotografada por Mário Príncipe. Vestido Patrizia Pepe, anel H&M produção Conforto Moderno styling Carlos Vilaça hair Fábio Amaral (Facto Bairro Alto) make-up Anne Sophie assistida por Alexandra Silva desenhos rui lourenço

Dois anos de Terapia Urbana! Pelo menos tal como o descreve o Bruno Ferreira, o realizador do primeiro filme promocional PARQ, a propósito do nosso aniversário, que comemoramos em Fevereiro. No começo, andávamos à procura de uma voz única, de uma claridade que definisse a revista tal como a luz de Lisboa. Pretendíamos um lugar onde a qualidade fosse um critério, tanto no panorama português como internacional, algo que nos desse um espaço e uma razão de existir dentro de uma cultura urbana própria. Confesso que a ideia de um PARQ como espaço aberto, de convergência e de partilha se impôs desde o início porque nos possibilitava essa perspectiva de grandes horizontes. A PARQ não queria ser o pequeno mundo de cada um de nós, mas um universo amplo e plural onde o maior número possível de indivíduos se pudesse rever. Estávamos conscientes de que não queríamos representar um público, mas vários que se tocam nas margens de forma cada vez mais ampla. No entanto, quando procurámos fazer o filme e foi necessário construir a imagem da revista,

tivemos que aprofundar todas estas ideias iniciais e tentar perceber como seriamos vistos. Um pequeno inquérito reforçava a ideia de um público muito diverso e díspar, com ópticas muito diferentes em relação à revista, mas que referiam regularmente a importância da PARQ abrir perspectivas novas na sua vida quotidiana. Foi amadurecendo esta ideia, talvez até influenciados pelo espelho de Alice no Mundo das Maravilhas, que parece voltar a ganhar uma certa importância nesta década em que a ideia de tradução de realidade se impõe. E foi assim que sem pretensão chegámos a este conceito, ouvindo outras vozes, entre elas a do Bruno Ferreira, que nos levou a esse ponto de chegada que foi a “Terapia Urbana”. Sem dúvida um bom ponto de partida para este ano, depois de termos cumprido o nosso Obanesco “yes, we can” lançado no primeiro aniversário. Estamos todos de parabéns!


Os espertos tiveram uma boa ideia, e essa ideia era louca.

SMART HAD ONE GOOD IDEA AND THAT IDEA WAS STUPID. Shop online at Diesel.com


BE STUPID


Como defines a tua última colecção, a do Verão de 2010? Inspirei-me nos anos 90, no fotógrafo Irving Penn, em Linda Evangelista, Stephanie Seymour e em todo o culto das supermodelos. É uma colecção de carácter desportivo, transposta para o uso quotidiano, com recortes inspirados nos fatos de banho cruzados. É uma colecção à flor da pele. O que é que te leva a perder o controlo (o bom e o mau)? Jantaradas prolongadas sem nada para fazer no dia seguinte (o bom). Não ter cigarros (o mau). Inspiras-te na música para o teu trabalho? Qual seria a tua banda sonora perfeita (intemporal)? Normalmente, a música vem depois e, quando a descubro, ouço-a até à exaustão. Para mim, cada desfile exige uma banda sonora diferente. Tens alguma referência essencial quando começas uma colecção? Quais são as tuas inspirações? Costumo começar por uma referência visual concreta. Que vai variando. Uma fotografia, um filme. Qualquer imagem pode ser um ponto de partida.

Consideras-te mais formalista ou funcionalista? Gosto de pensar que essa divisão já não faz sentido. Qual é o teu melhor público? As minhas fãs incondicionais.

O que é que nunca te pode faltar? Um papel e uma lapiseira.

Qual seria a tua equipa ideal? Benfica, para sempre. Pedindo antecipadamente desculpa às minhas clientes adeptas de outras equipas.

Quem poderia ser um bom desafio para tu vestires? Cristina Branco.

Depois de um período de ausência, Pedro Pedro regressou em 2008 ao principal palco de moda português, a Moda Lisboa. Os seus desfiles são, de estação para estação, os mais aguardados. As suas criações são discretas e femininas, à procura de um mercado real.

pedro pedro texto júlio dolbeth  Foto ana tavares

006 – Real People

www.pedroxpedro.blogspot.com



O facto de trabalhares num banco, um universo cinzento em geral, não te faz sentir um caso de dupla personalidade quando escreves no teu blogue? Eu percebo a pergunta mas acho que resulta de um equívoco muito comum na construção das identidades sociais. Pelo menos em relação à minha identidade. Aquilo que eu faço ou deixo de fazer tem muito pouco peso na construção do meu eu. Já o meu eu pode ter imensa importância na forma como desempenho o meu trabalho, seja ele como blogger ou bancário. Acho que isso está bem patente no Alfaiate (ou pelo menos eu gosto de pensar que sim). Enquadra-se num tipo de que já não é propriamente uma novidade, mas não deixa de ter um registo muito pessoal.

Como nasceu essa vontade de fazer um blogue sobre moda de rua? Eu andava desejoso por ter um projecto próprio, mais debruçado sobre a escrita até. A ideia de criar o Alfaiate surgiu precisamente da descoberta deste tipo de blogues. Sempre me interessei por vestuário (mais do que pela moda em si) e sou um tipo observador. Achei o conceito giríssimo e ocorreu-me que me podia divertir imenso a concretizá-lo em Lisboa. Provavelmente já te apontaram as semelhanças que há entre o teu projecto e o blogue “The Sartorialist”, de Scott Schuman. Foi um modelo? Completamente. A ideia inicial foi literalmente decalcada do The Sartorialist. A identidade própria do Alfaiate foi-se construindo aos poucos.

Não sendo Lisboa propriamente uma grande capital de moda, achas que mesmo assim és surpreendido na rua por pessoas que merecem ser fotografadas? Acredito piamente que há algumas cidades europeias onde é significativamente mais fácil encontrar pessoas para ilustrar um blogue desta natureza, mas em relação a isso, que fique muito claro: Lisboa enche-me as medidas.

É fácil abordar pessoas na rua para se deixarem fotografar? Independentemente da minha maior ou menor capacidade para me dirigir a estranhos, devo dizer que me é bem mais fácil fazê-lo hoje do que há um ano atrás. Isto porque, no início, eu próprio tinha algumas reservas em relação ao Alfaiate e ao futuro do blogue. Hoje, para ser completamente franco, tenho um certo orgulho pelas pequenas conquistas que consegui e pelas dificuldades que ultrapassei. É como se tivesse demorado algum tempo até eu mesmo conseguir reconhecer a plena legitimidade do meu próprio projecto. A partir do momento em que isso acontece, tudo se torna mais fácil. Quando fotografo alguém, estou absolutamente convencido que essa pessoa se vai gostar de ver no Alfaiate. Seja pela escolha da foto que público sobre a pessoa em causa seja pelos títulos dos meus posts e pelos textos que escrevo, porque tratam sempre bem quem lá aparece. Essa certeza é tudo o que preciso para me sentir confortável para abordar alguém.

Em comparação com outros blogues, os teus textos são mais longos e assumem muitas vezes um carácter de crónica do quotidiano. Segues algumas referências literárias? Não tenho nenhuma referência literária em particular e, para ser completamente franco, leio muito pouco. Há uns tempos, um amigo disse‑me que estava a ler um post meu sobre a minha irmã e que lhe parecia que me estava a ouvir dizer aquilo que lá estava escrito. Fiquei tão contente. Agora há uma coisa que aprecio. Homens como o António Lobo Antunes e o Miguel Sousa Tavares. Tenho um certo fascínio, não sei se tanto pela sua escrita se pela imagem que tenho deles próprios. Não estão preocupados em expor a sua sensibilidade. Não parecem recear que alguém questione a sua virilidade por isso. Vou-te confessar o seguinte: adorava saber a opinião do MST sobre o Alfaiate e nem me assusta minimamente a hipótese de ele considerar o blogue profundamente desinteressante. Gostava de saber. Agora, se ele me inspira? Acho que a última coisa que li dele foi uma crónica sobre a crise dos mercados financeiros, há seguramente mais de um ano. Mentira! Depois disso, li também o texto sobre o Facebook, estou-me agora a recordar.

A moda está na rua e os caçadores de estilo são seguidos regularmente na blogosfera. José Cabral, ex‑estudante de Sociologia, ex-comissário de bordo, há dois anos e meio a trabalhar na Banca, criou o “O Alfaiate Lisboeta”, onde publica imagens e comentários sobre quem mais o inspira.

JOSe CABRAL texto francisco vaz fernandes  Foto José cabral

008 – Real People

www.oalfaiatelisboeta.blogspot.com



Fugindo à prática profissional “clássica” da Arquitectura, quando e porque entraste no mundo da comunicação? Tanto as vivências de Barcelona como o mestrado em Arquitectura y Arte del Espacio Efímero da ESTAB/UPC, em 2001, me introduziram num território considerado, na altura, alternativo ou “marginal”, quando comparado com a prática profissional dita “clássica”. Depois, veio a passagem pela Experimentadesign 2003 e pela Luzboa 2004, mais tarde, a experiência no mundo editorial, na arq|a —revista de arquitectura e arte, nas internacionais FRAME e MARK e também no comissariado, com as exposições e ciclo de conferências Geração Z #1. Para mim, esta “entrada” na comunicação não se tratou de uma ruptura com a prática canónica da Arquitectura, mas antes de uma exploração de outras potencialidades que a prática oferece.

Em que difere este teu novo projecto da agência de comunicação das restantes agências? Antes de ser uma agência de assessoria de imprensa é um atelier-laboratório, especializado no desenvolvimento de estratégias de comunicação vocacionadas para a Arquitectura e para o Design. Vejo-o como uma prática emergente nacional que actua, nos intervalos entre quem cria, quem recebe e quem consome, de forma independente e sustentável.

Como é explorada essa vertente laboratorial? Enquanto laboratório, defendemos que cada caso deve ser analisado de forma independente e, sempre que possível, deve conciliar as práticas de Publishing Experimental e de Publicity Experimental. Publishing que, por definição, significa «tornar algo público» e Publicity enquanto «tentativa deliberada para direccionar a percepção do público sobre um assunto». O carácter não convencional desta estratégia, ao privilegiar a reflexão e o ensaio de novos conceitos e formatos comunicantes, é, para nós, essencial na aproximação e interacção com os respectivos públicos.

Arquitecta de formação, com um percurso multidisciplinar, Margarida Ventosa divide-se entre a área editorial, o comissariado e o projecto que lançou recentemente: thecommunicationoffice (experimental publicity/publishing).

margarida ventosa texto+Foto Paula Melâneo

010 – Real People

www.thecommunicationoffice.com


Calções plissados pretos, Luís Buchinho.

Como classificas a tua loja? O espaço “La Brocante” funciona simultaneamente como loja e atelier de criação. A loja vende peças "Vintage", algum mobiliário e candeeiros que se misturam com outras peças de iluminação, criados pelo próprio atelier. Qual é o critério para a escolha das tuas peças? Quais são as que guardas para ti e as que deixas na loja? Não guardo nada para mim, vai tudo para a loja. Entro em “estado de arrebatamento” quando descubro uma peça que vale mesmo a pena. Compro-a, mas com rapidez crio uma distância e desligo-me. O que é mais excitante para ti: criar ou coleccionar? São dois mundos totalmente diferentes, mas de uma certa forma complementares. Sinto-me bem a saltitar de um para o outro. É disso que preciso para o meu equilíbrio. Qual a direcção que o coleccionismo vai tomar no Século XXI? Penso que o coleccionismo terá tendência a diminuir, devido ao desenvolvimento cada vez mais forte do mundo virtual. Pensas que no futuro vai haver um apego menor aos bens materiais? Esse apego aos bens materiais a que te referes não faz sentido no mundo virtual. Quando digo que o coleccionismo vai deixar de existir, refiro-me aos moldes actuais, dado que será o “armazenamento virtual” que prevalecerá no futuro. Este processo será muito mais evidente nas futuras gerações, dado que a nossa apenas passa por uma fase de transição. Qual é o teu mercado de velharias favorito? O “Marché aux Puces de Saint-Ouen” em Paris, “Marché aux Puces de Plainpalais” em Genève e a minha querida Feira da Ladra em Lisboa. Nunca abdicarei dela.

Perto do Largo do Rato em Lisboa, existe uma porta que se abre para um universo maravilhoso. Um espaço pouco usual, que sempre me despertou curiosidade, até ao dia em que conheci Sandy Graça, a alma da “La Brocante” ou dito de outra forma, a guardiã da gruta de Ali-Bábá.

sandy graca texto Roger Winstanley  Foto Ricardo Gomes  styling Rúben Moreira  make-up Sara Menitra

011 – Real People

www.sandylabrocante.blogspot.com


red Clutch CAROLINA HERRERA, perfume TOM FORD White Patchouli, cinto em pele envernizada TOMMY HILFIGER, sapatos de verniz REPETTO, espelho e carteira MARC BY MARC JACOBS, ténis CONVERSE, óculos GUCCI, sapatos em pele CAMPER

012 – Shopping

Foto mário ambrózio

www.marioambrozio.com  styling chiara vecchio


blue Sapatos CAMPER, relógio e carteira em pele COCCINELLE, sapatos em pele DIESEL, lenço e porta-moedas MARC BY MARC JACOBS, clutch em pvc BCBG Max Azria, câmara digital DSC-H20 SONY, óculos RAYBAN na André Ópticas, sapatos em pele envernizada REPETTO

013 – Shopping

Foto mário ambrózio

www.marioambrozio.com  styling chiara vecchio


silver Anel prateado com pedras PEDRADURA, anéis TOUS, relógio em pele e mostrador com diamantes LONGINES na Boutique dos Relógios, colar com cristais BCBG Max Azria, brincos em metal e cristais MANGO, relógio em aço GUCCI na Boutique dos Relógios, colar em prata TOUS, relógio em aço HUGO BOSS na Boutique dos Relógios

014 – Shopping

Foto mário ambrózio

www.marioambrozio.com  styling chiara vecchio


gold Pulseira, alfinete, colar e anel em vermeil TOUS, anel em metal e esmalto VALENTIM QUARESMA, relógio de bolso CARTIER na Boutique dos Relógios Plus, relógio em aço e pele MARC BY MARC JACOBS, anel em ouro amarelo DINH VAN na Machado Joalheiro, relógio em aço CALVIN KLEIN na Boutique dos Relógios, anel em metal com pedras PEDRADURA, anel em metal com pedras MANGO, anel em ouro amarelo com citrino e anel em ouro amarelo com quartzo rosa TOUS

015 – Shopping

Foto mário ambrózio

www.marioambrozio.com  styling chiara vecchio


o Baile

texto: sofia saunders

La Roux texto: pedro lima

Em Março, Lisboa vai render-se a duas das maiores forças da cena pop britânica. Dia 13, os La Roux assumem o controlo dos sintetizadores no palco do Lux. O duo, formado pela jovem Elly Jackson e Ben Langmaid, apresenta o aclamado álbum homónimo, inspirado na era synthpop dos anos 80, em nomes como Yazoo, The Human League ou Depeche Mode. Mais do que revivalismo, os La Roux exploram um conceito retro-futurista, de visual andrógino impecável e acordes contagiantes, nalguns dos temas mais ouvidos deste ano, como Quicksand , In For The Kill , Bulletproof ou I’m Not Your Toy. lux, lisboa. Dia 13 de Março.

Florence and the Machine

Dam-Funk & Panda Bear

texto: rui miguel abreu

O próximo dia 12 de Fevereiro é para marcar a bold em todas as agendas: Panda Bear, aka Noah Lennox, homem dos Animal Collective que mantém uma íntima relação com Lisboa, apresenta-se ao vivo no Lux com uma bagagem recheada com canções do seu aplaudido álbum Person Pitch e, certamente, novo material, uma vez que está em vésperas de voltar a editar a solo. Num ano em que Merryweather Post Pavillion dos Animal Collective encabeçou inúmeras listas de melhores álbuns, este concerto reveste-se de todas as razões necessárias para perdurar na nosa memória durante muito tempo. Bónus acrescido: na mesma noite, o Lux recebe um DJ set de Dam-Funk, principal embaixador de um novo som funk construído em cima de uma particular memória dos anos 80, mas plenamente aberto às infinitas possibilidades oferecidas pelo presente —entre outras coisas, Dam-Funk remisturou… Animal Collective.

Já no dia 16, recupere-se o fôlego para mais uma grande noite, desta vez na Aula Magna, para um concerto ao som de outra musa ruiva, Florence and The Machine. A londrina Florence Welch, dona de uma voz poderosa e de uma atitude feroz em palco, apresenta Lungs, o seu álbum de estreia e um dos mais elogiados de 2009. Um disco que explora os temas da morte e da violência, entre tons melódicos de harpas, baterias pulsantes, vocais crus e explosivos de emoção. Uma viagem épica, que culmina com temas incríveis como Dog Days Are Over, Rabbit Heart (Raise It Up), Drumming Song ou You Got The Love.

Dam editou —como a Parq recentemente deu conta— outro dos títulos que marcou 2009: Toeachizown , com selo da ultra-trendy Stones Throw, que certamente fornecerá material para a viagem em que o produtor e dj de Los Angeles servirá de cicerone. O Lux não costuma receber muitos djs deste género, que constroem boas partes do seu set a recuperar a produção mais obscura de um lado frequentemente apontado como “errado” dos anos 80 —modern soul e funk originalmente erguido a golpes de sintetizador e camadas industriais de gel nos curly locks. Para animar a pista, Dam costuma usar igualmente o microfone —para apresentar os temas, para anunciar mudanças de tempo rítmico ou para apelar à dança. Tudo isto junto parece prenunciar uma noite que exige presença obrigatória.

aula magna, lisboa. Dia 16 de Março.

lux, lisboa. Dia 12 de fevereiro.

texto: pedro lima

016 – You Must

O Baile decidiu juntar-se a uma das maiores promotoras portuguesas, a Kalimodjo, e organizar um grande evento na Lx Factory, no fim-de-semana de Carnaval e véspera de S. Valentim. “O Baile vs. Kali Records” promete ser um evento épico, com duas áreas diferentes para dar espaço a tanta música. A lista de artistas convidados é fora do comum e conta com nada mais nada menos do que três cabeças de cartaz. Em primeiro lugar, está um dos projectos com mais hype em terras de Sua Majestade: os Radioclit (na foto), cujo último disco, The Very Best Album , fez as delícias da crítica inglesa, sendo mesmo considerado uma das grandes obras do electro pop ecléctico de 2009. Segue-se Plaid, um dos grandes nomes da música electrónica, associados à editora Warp Records, e ainda Foamo, um dos jovens talentos mais promissores da nova vaga de electro, que tem como fundadores os Soulwax e os Justice. Mas não é tudo! Com seis representantes do melhor que se faz a nível de música electrónica em Portugal - DJ Ride, Octa Push, Drop Top, Zombies For Money, Zeder e Twofold —O Baile promete aquecer. Lx factory, lisboa. Dia 13 de fevereiro



maarten baas Exposição retrospectiva

Design Miami texto: pedro lima

Miami nem tido dificuldade em libertar-se da imagem caricata de paraíso para a terceira idade e de um certo kitsh de praia. Mas a verdade é que, devido a uma política hábil dos seus políticos locais, tem-se vindo a afirmar como um território de contemporaneidade. Além de algumas galerias europeias, que já preferiram abrir sucursais em Miami em vez de Nova Iorque, Miami conseguiu captar duas importantes feiras. Recebe, actualmente, uma extensão da Feira de Arte de Basel (Suíça) e realiza a Miami Design. Apesar desta não ser em nada comparável à feira de Milão, o principal centro de negócios, conseguiu ganhar, nos seus cinco anos de existência, uma

018 – You Must

especificidade única, alcançando um lugar importante. É uma feira onde se encontram, no essencial, edições limitadas do grandes designers, representados por galerias de Design, ou seja, é uma feira direccionada essencialmente para os coleccionadores, em número crescente desde os anos 90. Nesta edição, realizada sob uma chuva tropical de Dezembro, marcaram presença, pela primeira vez, a Droog Design (Amsterdão) a Mitterand + Cramer, (Genebra) e a Paul Kasmin Gallery, (Nova Iorque), peças essenciais que, ao lado da Moss, da R 20th Century Gallery, Galerie Patrick Seguin (de Paris) e Sebastian + Barquet

(México) garantiram uma representação digna do novo Design. Como em todos os anos, o momento alto da feira é o prémio da Design Miami, este ano entregue ao holandês, de 31 anos, Maarten Baas, depois de ter premiado, em edições anteriores, nomes como Zaha Hadid, Marc Newson, Tokujin Yoshioka e os irmãos Campana.


alexandre farto espectro ascensor da bica, lisboa

Vasco Araújo

texto: francisco vaz fernandes

Com Debret, Vasco Araújo volta ao tema do colonialismo, evocando relações de poder e tendo como referência o trabalho do artista francês que viveu mais de uma década no Rio de Janeiro ao lado da Corte portuguesa. Debret registou, para além das estratégias brutais de dominação, cenas de interacção e de sociabilidade que se viviam nessa colónia, em fase de se tornar capital de um Estado europeu. Ou seja, ao lado do trabalho estafante e mesmo da exibição de castigos públicos, Debret representou os negros em actividades amenas e lúdicas que alimentam alguma ambiguidade na perspectiva do francês . Vasco Araújo procura reproduzir algumas dessas cenas dentro de ovos em forma de caixa, ao jeito dos ovos de Fabergé, com o propósito de enfatizar o acto de abrir, descobrir e penetrar num certo microcosmos. Isolados em mesas, espalhadas pelos dois pisos do Pavilhão Branco do Museu da Cidade de Lisboa, o artista propõe uma releitura desse universo de Debret que, sob a influência do Cientificismo Iluminista, obedecia a um desejo de inventariar, catalogar e classificar esse pequeno mundo exótico para as concepções europeias. As permisas de dominador e submisso, subjacentes na obra de Debret, são recriadas por Vasco Araújo que, pontualmente, lhes atribui uma dimensão sexual, com algum humor. Introduz ainda nesse diálogo as noções de repulsa e da atracção que já o sociólogo Gilberto Freyre descrevia como elementos estruturantes de toda a vida colonial portuguesa no Brasil. Desta forma, as pequenas cenas ultrapassam uma espécie de estado de biblô, desconstruindo o exotismo com que Debret teria contemplado esse quotidiano. Vasco Araújo questiona assim essa capacidade de Debret individualizar tipos humanos «diferentes» transformando-os em um “outro”. Por essa razão, reconstrói cenas ambíguas que testam esses mecanismos da construção do “outro”. A vitalidade deste trabalho vive precisamente desta permanente actualidade das relações de poder entre indivíduos ou nações nas suas consequentes construções do “outro” e subconsequentes negociaçoes entre dominado e submisso. Museu da Cidade 3ª a dom, das 10h às 13h e das 14h às 18h Até 7 de Março

019 – You Must

Arte em Movimento texto: francisco vaz fernandes

Pela primeira vez, a Carris envolveu-se num projecto de Arte Pública com que valoriza ao mesmo tempo o seu património e a identidade de Lisboa. A empresa propôs a quatro artistas portugueses a intervenção em quatro dos seus ascensores históricos, símbolos pitorescos da cidade. O resultado pode ser visto até 30 de Julho. Alexandre Farto cobriu o ascensor da Bica com um material reflector, com o intuito de criar um cinema contínuo e efémero, numa espécie de devolução da cidade à cidade. Já Vasco Araújo centrouse nos bancos corridos do ascensor da Lavra, onde fixou pequenas placas metálicas com frases gravadas, algumas retiradas da obra de Fernando Pessoa, outras simplesmente pensamentos pessoais em torno da ideia de viagem. A leitura de cada frase presta-se, assim, a jogos de identificação com o passageiro que ocupa o lugar. Permite‑lhe uma intervenção activa na escolha do lugar com que mais se identifica. A procura de uma cumplicidade com o passageiro foi também a estratégia seguida por Susana Mendes Silva, que partilha as suas memórias no ascensor de Santa Justa e instiga os passageiros a fazer o mesmo, enviando para endereço online, fotografias e confissões públicas. Por último, Susana Anágua concentra-se na visibilidade de um fenómeno de entropia, que acontece no exercício mecânico de troca de forças que permite que o ascensor da Glória funcione.


Hella Jongorius

texto: francisco vaz fernandes

A Camper convidou a designer holandesa Hella Jongorious, um dos nomes mais importantes da Droog Design, a redesenhar algum dos seus modelos mais icónicos. A designer concentrou-se nas técnicas que frisam um lado manual com ligeiras imperfeições, dando mais um impulso na filosofia da marca de calçado sedeada em Maiorca: o processo de diferenciação dos sapatos. A capacidade da Camper impor no mercado modelos particulares esteve, desde cedo, apoiada em grandes nomes do Design internacional. Marti Guixé partiu de um slogan que apelava às pessoas para não correrem para produzir campanhas com imagens da Espanha profunda, frisando a perspectiva de um produto baseado na tradição e de uma maneira de viver do Sul, a fazer sonhar todos aqueles que viviam debaixo do cinzentismo das nossas cidades. Já Jaime Hayon redesenhou algumas das lojas, dando à Camper um carácter cosmopolita, mas sem perder de vista a sua identidade cultural. Hayon seria o primeiro a criar uma colecção de sapatos que permitia à Camper ascender a um patamar superior das criações de design. Por tudo isto, Hella Jongorious, mais do que perspectivas novas, traz a consolidação desse terreno para um cliente que procura algo de ímpar, manual e com raízes numa cultura profunda..

Wasteyourself

texto: sofia saunders

A escolha das impressões das t-shirts é cada vez mais importante para a construção de uma certa auto-imagem. Daí que as principais marcas apostem, a cada nova estação, em colaborações com os ilustradores do momento. Desta vez, foram os britânicos Dan Lowe e Norman Hayes, do estúdio de design Wasteyourself, a ser chamados, com o seu estilo de cartoon antigo, para desenvolver uma edição limitada de t-shirts da Hilfiger Denim. O imaginário icónico norte-americano serviu de inspiração a um modelo masculino em que o Uncle Sam divide o protagonismo com os não menos icónicos cachorros quentes e as tartes de maçã. Já a t-shirt de mulher é marcada pela infame águia americana, igualmente concebida de uma forma peculiar e eclética. www.tommy.com

www.camper.com

020 – You Must


Pump it

Laurel

texto: sofia saunders

Encerradas as comemorações do centenário da Fred Perry no ano de 2009, a colecção Laurel SS10, considerada a linha superior da marca, mergulha nas suas raízes, trazendo peças que evocam os anos 40. É uma colecção inteiramente inspirada em roupa para a prática de ténis, o que está bem presente nos materiais e nas cores usadas, mas também em elementos figurativos, como a malha, mais aberta nas mangas, a revelar uma certa transparência, ao mesmo tempo que evoca as redes de um court. As peças são em geral simples, com alguns apontamentos de alfaiataria, nas calças com pinças, blusões cintados, para além das já habituais camisas fit, com colarinhos e punhos, garantindo sobriedade. Uma colecção urbana, elegante e descontraída.

texto: Francisco Vaz Fernandes

Depois de José Cardoso, do colectivo Salão Cobói, ter realizado um conjunto de trabalhos para a Parq (n.º 16, de Novembro) comemorando os 20 anos dos modelos Pump, da Reebok, a Parq decidiu organizar uma exposição deste colectivo no atelier gráfico estúdio da Bá. Para além de um conjunto de desenhos de José Cardoso, desta vez, vão poder ser vistos alguns dos Toys de Apolinário Pereira. O estúdio Bá vai ter igualmente trabalhos alusivos aos 20 anos dos Pump, com modelos originais e alguns comemorativos, criados exclusivamente pelas principais lojas de sneakers do mundo. RUA DO BARÃO, 10, LISBOA, JUNTO À SÉ. tel. 21 887 23 96/97 24 fev. – 21 mar. 4ª-6ª das 15-18h. Sáb. até às 19h

www.reebok.com www.ba-studio.com

www.fredperry.com

021 – You Must

www.salaocoboi.com


diesel www.diesel.com

pepe jeans www.pepejeans.com

replay www.wearereplay.com

sisley www.sisley.com

replay www.wearereplay.com

Denim All Over (again) levi's www.eu.levi.com

texto: ângela araújo

Material estrela da próxima estação, a ganga vai usar-se muito! Com efeitos rasgados ou em patchwork, com diferentes tons, cores, lavagens e combinações, sem esquecer o look total dos anos 80. O denim aparece em força nas novas colecções para a Primavera e Verão de 2010. Esta tendência teve especial impacto na moda masculina. Vimo-la, aliás, um pouco por todo o lado, durante as semanas de moda internacionais. A dupla DOLCE&GABBANA adoptou o estilo cowboy e explorou as combinações de duas peças, a MISSONI os efeitos de lavagens com degradês muito interessantes, Karl Lagarfeld apresentou para a CHANEL algumas sugestões com patchwork e a DSQUARED apostou nos já reincidentes jeans rasgados que, aparentemente, vão continuar a usar-se esta estação.

022 – You Must

Quase todas as peças existem em versões denim. Os calções não têm porque faltar em nenhum guarda roupa pois existem para todos os gostos: hot pants, short pants, boy pants, etc. As calças continuam a ser a peça forte, mas além dos reincidentes skinny, que continuam a convencer a generalidade dos criadores, vão usar-se outros modelos. Calças com fundilho, largas em cima e mais justas em baixo, prometem rivalizar com as “so last season” leggings. Modelos de cós descaído vão evidenciar-se sobretudo no vestuário masculino, com a DIESEL a apresentar algumas propostas interessantes. Estas calças de estilo cavaleiro usam-se altas na cintura e apertadas com um cinto, acessório inseparável. Na bainha são preferencialmente curtas ou enroladas pelo tornozelo. Existem para ambos os sexos e dão aquele look casual e ao mesmo tempo sofisticado que a moda sabe tão bem fazer!

A LEVI’S apostou num clássico esquecido nos anos 70, as camisas country. Quem não teve já no armário uma camisa de ganga clara com botões de mola em madre-pérola e gola recortada em bico? Os vestidos usam-se compridos, os blusões rasgados ou com aspecto gasto e velho como seriam se nunca os tivéssemos tirado do armário em que os colocámos para jamais usar. Os jumpsuits, peça forte da estação, têm nas versões em ganga uma boa opção, assim como as tradicionais jardineiras. Esta primavera use tudo em denim! A H&M celebra esta tendência com um vasto conjunto de acessórios. Uma boa forma de completar um look total! O estilo pode ser mais clean, se optar pelos tons mais claros ou brancos, como na colecção da REPLAY, ou aproximar-se mais do estilo grunge dos anos 90, com jeans muitos rasgados e misturas de blue denim e castanho. As possibilidades são infinitas, aproveite!


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023 – You Must

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Star Wars

texto: Maria São Miguel

A febre St ar Wars chegou à Adidas Originals, com uma linha completa de roupa e de calçado que fazem referência a vários episódios e personagens dessa famosa saga. Os filmes marcaram a história do Cinema independente, impressionando um público jovem, através de inúmeros efeitos especiais. O certo é que, três décadas depois do primeiro filme, várias gerações continuam a venerar a saga, mantendo vivo o mito. A colecção começa a chegar às lojas a partir deste mês e estará disponível nas lojas Adidas Originals e clientes seleccionados, em todo o país, como Adidas Originals Aliados, Prof, Big Punch, Waves and Woods, Na Maior e Akira. www.adidas.com

Havaianas Paul & Joe texto: ângela araújo

A marca Paul & Joe foi criada por Sophi Albou, designer francesa que já trabalhou com importantes nomes da moda internacional como a Assedin Alaia, e a Pierre Cardin. Em 1995 lançou a primeira colecção masculina que foi um sucesso imediato e logo um ano depois lançou também a colecção feminina. Actualmente possui uma marca de cosméticos a Paul & Joe Beauté, uma linha infantil a Paul & Joe Litle e a Paul & Joe Sister, uma linha feminina com preços mais acessíveis e dirigida a um target mais jovem. Em Portugal pode ter o primeiro contacto com a marca com os modelos de Havaianas Paul & Joe já disponíveis na próxima estação. Os modelos de Havaianas Paul & Joe são acompanhados de uma t-shirt. Ambos os artigos existem para homem e senhora. A versão feminina tem o estampado de um flamingo em tons de rosa e uma tira na mesma cor metalizada, já a versão masculina é azul e tem dois coloridos papagaios. Sophie Albou conseguiu nesta colaboração mostrar o espírito fresco e moderno da Paul & Joe usando elementos tradicionais da cultura brasileira. O resultado são uns chinelos com um design super "alto astral" que certamente se irão destacar entre os muitos modelos multicoloridos das Havaianas. www.havaianas.com

024 – You Must


Deam Chalkley texto: Maria São Miguel

O Look Book da colecção Levis Engineered SS10 foi confiado ao fotógrafo inglês Deam Chalkley, que se tem distinguido na área da fotografia de street wear. Para realçar uma colecção baseada no ambiente californiano dos college dos anos 60, o fotógrafo teve como cenário um antigo ginásio, onde predominam os tons de madeira, o que lhe garantiu um cunho retro. Para contrabalançar, foram espalhados informalmente elementos que podemos encontrar no nosso quotidiano, mas que são típicos de um armazém, ao lado de trabalhos de arte discretos. De uma simplicidade magistral, este trabalho reforça toda a energia da colecção dos jeans Engineered , conhecidos pelos seus anatómicos cortes torcidos. Das fotografias, ressalta ainda a colecção de t-shirts da Engineered , baseada nos desportos escolares favoritos dos anos 60, assim como as edições especiais do londrino McFaul Studio.

N98 TRACK JACKET

www.eu.levi.com

texto: ângela araújo

Inspirado na final do Campeonato Mundial de Futebol de 1998, disputada entre o Brasil e a França, o clássico Track Jacket de zip frontal da Nike surge na versão N98, numa forma de celebrar a parceria que mantém até hoje com a equipa brasileira. Disponível numa versão premium para a Colecção NSW, é feito em Gore Windstopper, marca registada de um material de alta qualidade com uma tecnologia desenvolvida especialmente para atletas. Trata-se de um material com três camadas, que permitem repelir a água, diminuir o impacto e o frio causado pelo vento e uma boa respiração, características ideais para o vestuário desportivo. O N98 Track Jacket é um casaco de qualidade, fácil de usar, com um fit flexível e confortável com ombros ergonómicos. Cortado a laser e com costuras seladas, o N98 Track Jacket é revelador de uma construção e acabamentos perfeitos em todos os detalhes, tornando-o um exemplo de qualidade e preciosismo num clássico desportivo. www.nike.com

025 – You Must


Sonia Rykiel

texto: tânia figueiredo

Após o sucesso da colecção de lingerie da estilista francesa Sonia Rykiel para a marca sueca de fast fashion H&M, está prestes a chegar às principais lojas da marca, em todo o mundo, a segunda parte desta parceria, agora para a colecção de Primavera-Verão 2010. Sendo Rykiel conhecida como a fundadora de “The house of knits”, a H&M traz —e como não podia deixar de ser, a preços convidativos— esta peça ícone, as malhas, para crianças entre um ano e meio e os oito anos e para senhora, a juntar a uma colecção limitada, feita também de acessórios. As peças traduzem a identidade da designer, com riscas, cores fortes, como amarelo, rosa, roxo, e o uso de adornos, como pérolas e laços. Como já vem sendo hábito em cada uma das iniciativas da marca com designers de renome, aguarda-se com ansiedade e alguma agitação a chegada do dia 20 de Fevereiro, data a marcar no calendário como o dia em que vai estar nas lojas a colecção parisiense. www.hm.com

Heritage Line texto: sofia saunders

Para celebrar o 100.º aniversário da sua linha Heritage, criada em 1910, a Louis Vuitton apresenta uma nova gama de oito pequenos produtos de pele para homem e senhora. Inspirada pelo savoir-faire único dos artesãos da marca. Tal como no início do século XX, são usadas as peles mais macias na construção de malas, carteiras ou porta-cartões que cabem em qualquer bolso ou mala. Estas peles finas são tingidas com extractos de plantas e depois enrugadas à mão de acordo com um processo que requer uma perícia rara. O brilho destas pequenas peças resulta da sua discrição, simplicidade, cuidado e detalhe na aplicação técnicas tradicionais que são uma das grandes herança da Louis Vuitton. www.louisvuitton.com

Ray-Ban Ultra Wayfarer texto: ângela araújo

A marca RAY-BAN lança em 2010 uma nova linha exclusivíssima! Os óculos RAY-BAN Wayfarer. Depois do sucesso do clássico modelo Aviador, relançado em edição limitada em 2008, a marca aposta novamente na reedição de um dos seus modelos icónicos. Os óculos são em acetato e possuem uma placa de ouro nas hastes com o logo da marca gravado a laser. Existem duas versões, uma com lentes verdes e outra com lentes espelhadas a ouro. Ambas são polorizadas. Esta tecnologia já não é uma novidade para a RAYBAN, que continua a apostar na melhor tecnologia, aliada a valores de autenticidade e tradição. As lentes são feitas em vidro de alta qualidade, com filtro polarizante, que aumenta a definição e a nitidez das cores. Além disso, levam um filtro antireflexo, que reforça a protecção contra a luz solar, e estão dotadas de um novo sistema hidro-repelente, o P3 PLUS, que faz deslizar as gotas de água. Tudo para assegurar o conforto dos seus clientes. Os 7000 exemplares que a RAY-BAN Wayfarer vai pôr à venda em todo o mundo, vão estar apenas em locais seleccionados, permitindo a quem os adquirir a exclusividade de uma marca que já nos habituou a valores de tradição e modernidade. www.rayban.com

026 – You Must


Beachcomber Concept texto: júlio costa

Tratando-se para já de um protótipo, que será apresentado no Salão Internacional de Detroit, em Janeiro de 2010, o Mini Beachcomber Concept apresenta fortes argumentos para vir a ser comercializado. Este alargamento da Mini a outros sectores do mercado ressuscita o icónico Mini Moke da década de 1960, uma herança bem patente em pormenores como a grelha do radiador ou através da construção open-body, sem portas e tecto do Beachcomber. É uma feliz actualização do Mini Moke, à procura de um público-alvo jovem e activo, adepto de actividades ao ar livre. Os interiores são totalmente reconfiguráveis, de forma a permitir o transporte de todo tipo de equipamentos desportivos. Com tracção integral, faz com que nenhum

027 – You Must

destino seja impossível. O Beachcomber pretende também integrar-se na rotina citadina, possibilitando, para isso, a colocação de portas e tecto em elementos que rapidamente podem ser colocados ou retirados, sem esquecer todas as amenidades que já são conhecidas dos anteriores modelos da Mini. www.mini.com


N900 Internet Tablet

texto: Júlio Costa

O N900 é o nome do novo Internet Tablet da Nokia, capaz de proporcionar uma experiência similar à da utilização de um PC, mas num equipamento mais compacto. Animado por um poderoso processador, com 1GB de memória para aplicações, permite ter dezenas de aplicações abertas e a correr, em simultâneo. O ecrã táctil WVGA de alta resolução, juntamente com o software de navegação Mozilla, permite visualizar os websites tal como num computador. Além disso, possui um teclado deslizante QWERTY, que facilita a escrita de mensagens. Com ligação à Internet a alta velocidade (HSPA/WLAN) permite também fazer chamadas com o Skype. Sendo a lista de características longa demais para enumerar aqui, destacam-se os 32GB de memória, expansível até 48GB com cartões de memória microSD, câmara de 5 mega-pixels com lentes Carl Zeiss e GPS. Quanto a aplicações, há downloads disponíveis, muitos deles gratuitamente, no site da Nokia. O Nokia N900 encontra-se em comercialização por um preço recomendado de 599€. www.nokia.com

SMX-F40 Digital Video

Televisão 3D

texto: júlio costa

A CES em Las Vegas serviu de palco para a Samsung apresentar as novas câmaras de vídeo digital da Série F, apostadas em continuar o sucesso obtido com a SMX-F34 . As novas câmaras, que diferem entre si pela capacidade de memória interna, expansível com cartões SD/SDHC, apresentam melhorias ao nível da autonomia (4h por carga) e capacidade de armazenamento, sendo possível guardar 6 horas de vídeo por cada 16 GB de memória interna. O Intelli Zoom permite ir além do zoom óptico de 52x, sem prejudicar a qualidade da imagem. Estas câmaras permitem a visualização, edição e upload de conteúdos para a Web, a partir de qualquer PC, em qualquer lugar do mundo e sem instalar qualquer software adicional, através do sistema Intelli Studio, que simplifica a partilha das gravações, utilizando para tal os sites de partilha de vídeos e as redes sociais. A SMX-F40 possui também um modo foto, capaz de captar imagens de 1.9 mega-pixel e resolução de 1600x1200.

texto: júlio costa

A Toshiba exibiu na CES 2010 um protótipo da Cell Tv, uma televisão alimentada por um processador Cell que promete fazer com que a experiência 3D deixe de ser um exclusivo das salas de cinema. Com capacidade para converter conteúdos 2D em 3D quase em tempo real, recorrendo a óculos que, sincronizados com a TV, permitem uma experiência tridimensional, apresenta ainda um lado interactivo, através da tecnologia 3D Motion Gesture. Os movimentos das mãos são captados por uma câmara de vídeo integrada que os traduz em comandos. A Cell TV oferece ainda qualidade de imagem superior, integrando um painel, desenvolvido internamente e que inclui um sistema de retroiluminação LED. Dispõe de sistema de videoconferência e de partilha de imagens online.

Prevê-se o lançamento em Fevereiro de 2010.

A Cell Tv deverá chegar à Europa no Outono de 2010, não estando, no entanto, ainda definida a configuração da versão europeia deste equipamento.

www.samsung.com

www.toshiba.pt

028 – You Must


Rouge texto: sofia saunders

Na sequência dos grandes avanços técnicos, iniciados há 10 anos com a implantação da tecnologia Micro-fi, para uma maquilhagem como segunda pele, a Giorgio Armani Cosmetics vem agora propor uma cor num batom que transcende as fórmulas clássicas e batons de longa-duração. A Color-FilTM é uma tecnologia exclusiva que une a cor duradoura a um conforto excepcional. Selado numa embalagem elegante, preta lacada, com um sistema de fecho magnético, promete durar cerca de 8 horas nos lábios, hidratando-os, mas sem desaparecer graças a emolientes exclusivos e a ceras micronizadas que se espalham para uma aplicação suave e confortável. www.giorgioarmanibeauty.com

Pallete Y Mail

Amor Perfeito texto: maria são miguel

O Highlighter funciona como iluminador, para um look mais natural e com um acabamento de pérola, enquanto o Blush Harmony dá à pele o toque da seda, resultando numa tez cintilante e relaxada, ao mesmo tempo que a protege do sol (FPS 10). A embalagem respira a essência sofisticada da marca, um estojo dourado com letras cor de fogo e com a morada histórica da Maison YSL, guardado numa miniatura da tão característica mala da marca Y-Mail.

Amor Perfeito assinala a entrada de José António Tenente no mundo da perfumaria, fruto do desafio lançado por Luís Pereira, da 100ML, a JAT, para a criação de um perfume com a sua assinatura. E se a primeira versão, a feminina, já tinha sido lançada no MUDE, em Novembro de 2009, chega agora ao mercado a versão masculina. Este “duo” apresenta muitas semelhanças, a começar pelo frasco, que se distingue apenas pela cor da tampa. Os aromas, de base âmbar e couro, seguem a mesma lógica com diferentes notas de topo. Em termos gerais, é um perfume doce e sedutor que segue a imagem das criações de Tenente. Tem ainda a particularidade de ter sido desenvolvido e criado inteiramente em Portugal, pela 100ML, uma empresa especializada na distribuição de marcas de perfumaria portuguesas que entraram no mercado em 2008. Os fundadores, Luís Pereira e Catarina Fragata, trazem uma larga experiência ao serviço da Cartier e da Chanel como mais valia para as marcas nacionais.

www.yslbeautyus.com

www.joseantoniotenente.com

texto: tânia figueiredo

Yves-Saint Laurent lança uma edição limitada para a colecção de maquilhagem 2010, a paleta de pós iluminadores chamada Pallete Y-Mail. Disponível em 2 tons: face Highlighter n.º1, com cores rosa aurora, malva e bege, e Blush Harmony n.º 2, com pigmentos pastel, rosa shocking e rosewood, ambos proporcionando um acabamento perfeito da tez.

029 – You Must


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2 ENERGIE

20 Le Coq Sportif

3 Adidas

21 Shulong

4 Adidas

22 Diesel

5 Nike

23 merrel

METÁLICO

24 Keds

6 Reebok

25 Cat

7 Fornarina

26 havaianas

8 Nike

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MEIO CANO

27 Fred Perry

9 Adidas

28 Fred Perry

10 Gravis

29 Fly London

11 Shulong

30 Lacoste

12 Reebok

31 Vans

13 Pepe Jeans

Alpargatas

14 Salsa

32 Lacoste

15 Hermes

33 Diesel

15 Onitsuka Tiger

34 Havaianas

Camurça

35 Adidas

17 Lacoste 18 Cohibas

031 – Shopping


Para Samuel Úria e B Fachada, o encontro proposto pela PARQ no café do Cinema São Jorge teve pouco de inédito. E se ambos desconheciam que a chegada de “Nem Lhe Tocava” e “B Fachada” às lojas tinha acontecido na mesma data, o mesmo não se pode dizer do conhecimento (leia-se audição) dos discos de cada um. Tanto que B Fachada foi convidado para as gravações de Samuel Úria, num encontro já experimentado em palco.

Sem surpresas mas também sem pruridos, desfazem-se em elogios, ao contrário. Úria, o baptista benfiquista, escreveu no Twitter e repetiu à PARQ que “para a história vai ficar que José Mário Branco era um analfabeto”. Mais comedido, B Fachada não calou a sua admiração pelo cantautor das longas patilhas mas reconheceu ter “imensa dificuldade em ser imparcial” com a própria música e com a dos amigos. Úria, no entanto, insistiu: “Eu acho que consigo ultrapassar esta questão. Tu ouves um disco do Fachada e com a costura com que aquilo é feito, abstrais-te. Parece música clássica. É um disco de detalhe com pormenores de arrebatamento. Os meus discos são mais atabalhoados”.

Mais do que músicos pertencentes a uma mesma família estética –e na burocracia B Fachada já não está na Flor Caveira– o que está aqui em causa é a “aceitação”, defende o ex-estudante de Física que, naquela tarde fria de Dezembro, se fez acompanhar pelo novo “brinquedo”, um iPhone baptizado de Fumupa. “Esta uma das primeiras oportunidades para tal acontecer em muitos anos. A oportunidade de ter na mesma geração um João Só e um Norberto Lobo, para além de tudo o que está no meio, é uma coisa que nunca existiu”. E vêm os brasileiros à conversa: de Caetano Veloso a Roberto Carlos, dois veteranos que em 2008 gravaram juntos e sem preconceitos. “Em Portugal, isso é mais complicado a não ser que se trate de uma experiência comunitária. A amplitude até se cria em bases que não estritamente musicais”, defende Úria, antes de recordar outros tempos: “isso acontecia nos anos 70 por uma questão ideológica. Hoje em dia, há gente que se junta para comunhão dos consagrados. Nós não temos essas preocupações”. E nova lição de história completa a ideia: “É a ideia da Bauhaus na Alemanha. Muita gente a partilhar uma série de coisas diferentes e haver um estilo comum que alberga perspectivas completamente distintas. Isso acontece um bocado connosco. As pessoas associam-nos, sabendo ou não que somos amigos. Obviamente, a língua é um cimento”.

Fachada tem apenas 25 anos mas é um catedrático da música portuguesa. Ele interpreta o contexto sem pudor de falar sobre os consagrados —Clã, Camané ou Sérgio Godinho— dos defuntos (António Variações, de quem diz ter morrido antes de gravar um disco perfeito) ou dos amigos, como Norberto Lobo ou Manuel Fúria. “O que mais nos afasta de outras pessoas é a seriedade. Existe uma grande diferença entre fazer um disco seriamente ou levá-lo demasiado a sério”, assume. “Distingue-nos dos anos 90. Uma banda gravava um disco e depois não o ouvia. Entretanto, passava mais três anos sem gravar”, continua. E a conclusão chega com terceiros em mente: “O importante é voltar a abrir a cabeça das pessoas para o facto de não haver um número de lugares limitado. Cada um tem o seu espaço, desde que não pense que é o Deus da música”. Sem fugir ao tema, Úria demarcou território: “Não nos assumimos como cantautores para nos construirmos à imagem de outros antepassados. É um bocado o contrário. Queremos ser músicos e construtores das nossas canções para alargarmos a ideia do que é um músico. No caso do Fachada, tentam catalogálo como o novo Variações. Mas eu tenho a certeza que, daqui a 20 anos, vão aparecer novos B Fachada”.

A propósito da edição dos álbuns dos respectivos, na recta final de 2009, a PARQ juntou Samuel Úria e B Fachada à mesma mesa. A conversa fluiu ao ritmo das muitas ideias que defendem.

samuel uria + b fachada O Que Faz Falta texto Davide Pinheiro  foto diana ramos

032 – Soundstation


033 – Soundstation


Na verdade, a banda Marina & The Diamonds é unicamente composta por Marina Diamandis, a vivaz vocalista, nascida na cidade de Abergavenny em Gales. Os Diamonds apenas surgem como forma carinhosa de se dirigir aos seus fãs. A partir de Londres, Marina produz música diversificada, que flutua entre baladas despidas de efeitos sonoros, acompanhadas apenas por piano, e temas new wave, poderosos e magnetizantes, repletos de drama e teatro, ou não fosse descendente de pai grego. Dona de uma voz incrível e de um timbre quente e escuro, a lembrar a estética peculiar de Kate Bush, Tori Amos ou Lene Lovich, canta de uma forma difícil de descrever por palavras, entrelaçando gritos melodiosos e sons estridentes, que contrastam com outros graves e guturais. Um jeito muito próprio de cantar, que se ouve com curiosa estranheza e que explora as várias faces da cantora, ora atrevida ora vulnerável, doce ou implacável.

Frequentemente comparada a nomes como Little Boots, La Roux ou Kate Nash, Marina & The Diamonds soube explorar novos caminhos. Distanciou-se desta pop delicodoce através de um formato mais arrojado, que combina uma energia suficientemente contagiante para cativar fiéis seguidores dos Top Charts, com um lado mais selvagem capaz de chegar aos ouvintes do Indie. No entanto, Marina deve ser julgada pelo seu mérito, pela sua capacidade de criar músicas pulsantes de vida, inteligentes, poderosas, que chegam mesmo a ser comoventes.

English Version p.80

A estreia deu-se com Obsessions, um impressionante tema de pop orquestral, aplaudido em todos os quadrantes, dominado por um ritmo calmo e íntimo que ganha corpo e cresce à medida que a vocalista fala da fragilidade, do medo e dos desgostos de amor. Seguiu-se o excêntrico e ofegante Mowgli’s Road, onde introduz os teclados e baterias desgarradas, em ritmos pontuados por relógios de cuco, batidas energéticas e percussão tribal. Destacam-se ainda o incrível I Am Not a Robot, que explora inteligentemente as suas vulnerabilidades pessoais sem cair no cliché, e que chegou acompanhado por um belíssimo videoclip, dirigido pelo fotógrafo de moda Rankin e o realizador Chris Cottam, onde Marina surge coberta de purpurina; Seventeen, música pop borbulhante repleta de vibratos vocais, e Simplify, tema mais maduro em que demonstra a sua versatilidade e poder vocal. Todos temas incluídos no competente EP Crown Jewels.

Não restam dúvidas de que Marina Diamandis é uma one woman show que foca em si toda a exuberância da banda. O calor e a envolvência da voz, as nuances Glam da sua sonoridade dispara diamantes em todas as direcções, mesmo em temas mais comerciais como Hollywood, o primeiro single retirado do muito aguardado e de longa-duração The Family Jewels, que promete brilhar no próximo mês de Fevereiro. Um disco que se espera versátil e tão caleidoscópico como o próprio universo da cantora.

Há uma estrela emergente na arena pop britânica. Marina & The Diamonds dá corpo a um novo estilo musical, texturado por uma voz poderosa, uivos, falsetes e a dose certa de demência. Música com brilho de pedra preciosa.

marina & the diamonds pop reluzente texto pedro lima www.stereobeatbox.blogspot.com

034 – Soundstation

www.myspace.com/marinaandthediamonds


035 – Soundstation


Por alguma razão, os livros que reúnem capas de discos de jazz exercem um profundo fascínio sobre os amantes de música em geral. Talvez porque esta música seja tão frequentemente despida de palavras que cabe às capas a complexa missão de ilustrar coisas tão diversas como o estado de espírito ou o posicionamento político e intelectual dos músicos que gravaram toda essa extraordinária música. No passado, livros dedicados à Blue Note e à corrente cool da Califórnia permitiram perceber como o design era uma ferramenta crucial na hora de construir uma identidade, tanto colectiva como individual. Mais recentemente, a colecção Jazz Covers, que o português Joaquim Paulo concebeu para a prestigiada Taschen, voltou a colocar-nos diante dos olhos o riquíssimo legado de design gráfico que este género representa. E agora Stuart Baker, da Soul Jazz Records, e o prestigiado divulgador/editor/DJ Gilles Petterson editam Freedom, Rhythm & Sound, fantástico tomo dedicado à corrente mais progressiva, alternativa, livre e radical do jazz que nasceu das lutas libertárias do Movimento dos Direitos Civis, nos Estados Unidos da década de 60.

Não deixa de ser extraordinário que livros como este surjam num momento em que a música abandona com cada vez maior rapidez o universo do tangível —os relatórios de vendas digitais de música nos Estados Unidos assinalam uma considerável subida no ano de 2009. A música, hoje em dia, é quase sempre consumida como um cenário de fundo que emerge das colunas que ladeiam os nossos desktops enquanto trabalhamos ou como parte de um cada vez maior número de gigas que nos acompanham para todo o lado e que nos entram pelos ouvidos nos transportes públicos ou enquanto caminhamos na rua. As capas reunidas em Freedom, Rhythm & Sound lembram que a música já foi consumida de outra maneira —de uma forma mais militante, que facilitava inclusive um certo ritualismo físico: ouvir discos exigia espaço, disponibilidade, concentração. Estes objectos eram por isso pensados em função dessas práticas.

Neste livro, as imagens são enquadradas por um belíssimo texto de Stuart Baker, que identifica uma «terceira via» no jazz aqui representado, «distante do mercado de souljazz liderado pela Blue Note e a Prestige nos anos 60 e, similarmente, da fusão jazz-rock de Miles Davis e Herbie Hancock nos anos 70. E também não é apenas o caminho do free jazz, um movimento que, exceptuando John Coltrane e os seus discípulos, já tinha perdido muito do seu público inicial em 1965». O autor prossegue: «Ao invés disso, este livro cataloga uma terceira via de músicos e artistas profundos, espirituais e afro-cêntricos que constantemente questionaram e redefiniram tanto a sua posição na sociedade como a sua relação com o jazz». E, nesse sentido, este livro oferece uma outra perspectiva sobre um período específico da história do jazz, uma forma alternativa de contar a saga — estética, mas também política e social— da música de gigantes como Sun Ra e de editoras militantes como a Strata East ou a Tribe, resultantes de um espírito associativo que traduzia os tempos, mas também oferecia uma opção de resistência perante uma indústria que então começava o seu caminho rumo a explosão dos anos 80.

Com imagens incríveis, muitas vezes concebidas de forma artesanal, em contrastes fortes resultantes de uma economia de meios que espelhava uma atitude DIY colocada em prática muitos anos antes do punk ter ensinado que uma fotocopiadora, uma tesoura e cola podiam ser armas de afirmação massiva, estas capas são singulares, extraordinárias e, muitas vezes, absolutamente impossíveis de encontrar. Ser independente na América dos anos 70 também significava que muitos destes discos nunca conheceram edições superiores a 500 ou mil exemplares, muito pouco para uma comunidade internacional sedenta destas raridades, que tem em coleccionadores como Gilles Petterson, uma espécie de elite que tem sabido preservar essa memória física. E isso confere a Freedom, Rhythm & Sound um acrescido valor documental. Ou seja, torna-o muito mais do que um livro de mesa de café.

Gilles Petterson & Stuart Baker compilaram em livro algumas das mais revolucionárias capas do jazz de intervenção que marcou o período do Movimento dos Direitos Civis na América, nos anos 60 e 70.

freedom rhythm & sound jazz gráfico texto Rui Miguel Abreu

036 – Soundstation

www.souljazzrecords.co.uk


037 – Soundstation


nick cortese

Imagens cortesia Galerie Jeanroch Dard www.jeanrochdard.com

038 – Viewpoint


outsider youth [live through 2009 grafite sobre 96,5 x 63,5 039 – nick cortese

shrine this] papel cm


high modern interior with weeping trees 2009 grafite sobre papel 63,5 x 96,5 cm

040 – Viewpoint


night falls softly over total bullshisville 2009 grafite sobre papel 63,5 x 96,5 cm

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texto francisco vaz fernandes

nuno ramos uma criança a brincar depois do bombardeamento English Version p.80

Artista plástico e escritor, Nuno Ramos foi o vencedor da sétima edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura com o seu livro "Ó", que será editado em Portugal pela Cotovia em Março. Paulista, de 49 anos, é reconhecidamente um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros, com uma carreira internacional que até hoje fazia um pouco de sombra à literária. É um criador irrequieto que desliza, com declarado prazer, para outras áreas, já que muita da sua obra apela a fusão de várias artes. Sozinho ou em parceria com outros artistas, dirigiu quatro curtas-metragens e é ainda autor de canções já gravadas por Gal Costa, Rômulo Fróes e Mariana Aydar. O seu livro “Ó” é difícil de catalogar, tal como o seu criador, porque se situa em zonas de fronteira entre géneros para melhor entender o mundo. Entre a poesia e o ensaio, “Ó” contém a presença de uma voz que quer falar das coisas do mundo e tem urgência em tratar os assuntos mais diversos.

Chegou à Literatura porque as Artes Plásticas, terreno onde até hoje ganhou mais visibilidade, apresentavam limites de criatividade? Não, acho que não tive nenhuma crise com meu trabalho como artista plástico. Na verdade, foi ao contrário. Quando era adolescente, sempre pensei em ser escritor, mas alguma coisa não me satisfazia. De certa forma, com vinte e poucos anos, sentia-me habilidoso com as palavras, mas não sentia que a própria Literatura me chamasse, pedisse algo de mim. Acho que tive uma adolescência e uma pós-adolescência muito ansiosas por causa disso. O contacto com as Artes Plásticas pôs-me no mundo da matéria, de algo que acontecia fora de mim, que tinha peso e cor e consistência, que caía, apodrecia, ficava de pé, causava acidentes. Foi esse impulso para fora, para a matéria fora de mim, que me atraiu nas Artes Plásticas. Acho que voltei a escrever a partir dessa experiéncia de corporificação, de atribuíção de qualidades físicas a um impulso que vem do pensamento.

Quando surgiram os primeiros textos publicados? Tenho a ideia que uma parte deles foi aparecendo em catálogos de exposições que ia produzindo… Quando tomou consciência dessa necessidade de mostrar os seus textos? Meu primeiro livro foi o “Cujo”, de 92. Antes, publiquei um pouco em revistas e catálogos. Usei muitos trechos do “Cujo” em esculturas e instalações minhas. Publicar foi uma coisa natural. Sou muito ansioso para expor, mas nem tanto para publicar. Então, demorei um pouco. Mas faço as duas coisas com constância há bastante tempo. O importante para mim é não deixar que se unam nem demais nem de menos. Quero manter uma voz literária que não sirva as Artes Plásticas. Assim, mesmo quando escrevo para um trabalho plástico (como por exemplo na “Série Fala”, um conjunto de nove instalações com altifalantes incrustados, onde há emissão de textos produzidos especificamente para elas e lidos por autores, numa espécie de dramaturgia plástica), procuro uma voz autónoma, auto-suficiente.

042 – Central Parq | Grande Entrevista

Mesmo assim, Artes Plásticas e Literatura por mais próximos que pareçam estar são dois mundos separados. Tem dois públicos diferenciados, tem dois círculos de amigos, o das artistas e a dos escritores? Acho que as pessoas com quem dialogo mais de perto acompanham as duas coisas. Mas dá pra dizer o seguinte: a Literatura Brasileira, depois de um esplendor que atravessa alguma coisa em torno de 50 anos (entre o primeiro Modernismo, no início dos anos 20, e meados dos anos 70), perdeu força e coesão e vem tentando encontrar o seu prumo. A produção plástica, por outro lado, ainda parece ascendente, com grande riqueza de artistas jovens e, acima de tudo, sem que o núcleo de seus melhores artistas seja verdadeiramente conhecido. É ainda um tesouro enterrado. São situações bastante diversas e frequentar ambas é um pouco estranho.


Acha que, ao contrário das Artes Plásticas, onde o Brasil tem um certo palco internacional, em termos literários não tem havido grande interesse pela produção literária brasileira? Confesso que não sei avaliar isso direito, mas parecem-me situações distintas. Acho que o mercado de Arte estourou, no mundo inteiro, a partir de finais do anos 80, começo dos 90, passando a girar num planeta de valores absolutamente inédito, daí uma certa internacionalização da produção plástica. Isso ocorreu com o Brasil, mas também noutros países, em especial através das feiras de Arte e das grandes mostras, bienais etc. Não sei dizer se algo semelhante ocorreu no mercado editorial, mas tenho a impresssão que não. Foi, portanto, para si uma surpresa ter ganho um prémio de Literatura com “Ó”, um livro que mistura vários géneros literários, que pode ser visto como um compêndio de pensamentos soltos? Surpresa completa! O livro é meio estranho e ter sido indicado já era um prémio. Mas fiquei muito, muito feliz. Ganhar um prémio pelo qual você espera deve ser a coisa mais chata do mundo.

Concorria com alguns nomes de peso, como Miguel Lobo Antunes. Isso intimidava-o ou simplesmente deixou o assunto morrer? Acho que não pensei muito nisso, não. Como define este seu terceiro livro? Ele é feito de ensaios, falsos ensaios, sobre as coisas mais diversas, que se vão encadeando, arbitrariamente, até formar uma espécie de mobile, entremeados por trechos em prosa poética, grafados em itálico, como se a voz dos ensaios se descolasse dos assuntos, de qualquer assunto, e tentasse mostrar a si mesma. Mas, sem querer forçar demais, acho que vejo o livro como um longo poema. A linguagem está quase sempre naquele estado de gestação, de indefinição, pronta para o assalto, que me parece próprio da poesia. Esta questão dos limites dos géneros parece ser a zona para onde gosta de confluir. Sentese bem nestas zonas de fronteiras, nestas zonas híbridas? De facto, preciso dos géneros como um obstáculo, como uma mariposa batendo num vidro. No meu trabalho plástico, a coisa funciona do mesmo modo. Gosto do contorno do género para deslizar, negar, driblar, mas para voltar a ele também. Num certo sentido, este formato original (conto, poema, ensaio; pintura, desenho, instalação) dáme o impulso básico, que vou depois apagando, traindo.

043 – NUNO RAMOS

O facto de ser um artista plástico reconhecido, de ser um escritor premiado, de estar envolvido na área da música e ter uma admiração pelos actores, isso faz de si um artista total, um género de Leonardo da Vinci? Quisera! Mas acho que não. A magia em Leonardo é a passagem desimpedida entre a aparência e o ser, entre a ilusão e o conhecimento, entre Arte e Ciência, que obviamente não ocorre em ninguém, hoje em dia. Meu trabalho é um entre tantos, procura beber na crise do mundo moderno, com sua ilusão de potência e mudança radical da vida.

Acho que procuro me nutrir dos destroços desse mundo, como uma criança brincando depois de um bombardeamento. A atracção pelos géneros mais diversos não vem do esforço de totalização (a Arte que reúne tudo, como em Leonardo e, de certa forma, ainda em Beuys), mas do fragmento desamparado, procurando conexão. Sei que escreveu músicas para a Gal Costa e tem um interesse activo pela música brasileira. Como é a sua relação com a música? Faço canções com o meu amigo e assistente de atelier, Rômulo Froes, e com outro artista plástico, Eduardo Climashauska. Os discos de Rômulo Froes têm veiculado um número grande de canções minhas, em parceria ou sozinho. Acho que, como me tornei artista plástico tarde, vindo de outra área (a Literatura), e depois voltei a escrever quando já era artista plástico, acabei ganhando essa ilusão de que é possível frequentar quase que qualquer género e que há um certo ganho estético no despreparo técnico. A verdade é que toco mal e canto pior, mas divirto-me compondo e isso acabou ocupando um lugar grande no meu quotidiano.

Meu dia-a-dia é mais ligado ao meu trabalho como artista plástico, até porque meu ganha-pão vem daí. Mas escrevo sempre, pela manhã. Sou naturalmente disperso nas minhas actividades práticas, bem como nas minhas leituras, e queixo-me sempre disso. Mas, na verdade, quase tudo o que produzi veio no contexto de uma vida atribulada, numa sala barulhenta. Acho que me acostumei a isso. Considera-se uma pessoa caótica? Não. Tenho os mesmos amigos há duzentos anos, meus filhos são grandes, meu casamento é antigo. Apenas quero fazer coisas demais.

É um território que gostaria de explorar mais? Acho que vou continuar, sim. Ruy de Castro, no livro “Rio Carnaval de Fogo”, tenta explicar toda a história do Rio de Janeiro a partir dos seus músicos. Concorda que é um fenómeno estruturante da identidade do Brasil? Concordo. A canção é o momento em que o Brasil se conecta consigo, em que o pobre diz versos elevados, em que a desigualdade absurda silencia. É a única coisa verdadeiramente democrática entre nós, e uma urna que nunca acaba de se esvazia. Há um número enorme de compositores ou de canções inéditas, que ainda hão-de ser descobertas, como sítios arqueológicos esperando escavação. A indústria cultural não parece ter tido força para macular e destruir essa identidade que continua viva. Como gere o tempo, como consegue ter tantas actividades diferentes? Calculo que uma carreira de artista seja, por si só, tão absorvente que deve restar muito pouco tempo para todas as outras suas actividades…

O que é que o perturba mais no seu quotidiano, no seu processo criativo? Claro que meu dia-a-dia, como o de qualquer outra pessoa, tem aquelas questões minúsculas que ocupam muito mais espaço do que deviam ocupar. Mas o que verdadeiramente me preocupa é pegar num número exacto de coisas para fazer (exposições, textos, entrevistas, palestras), que não seja exagerado nem insuficiente. Preciso de bastante demanda e deprimo um pouco se não tenho compromissos a cumprir. Por outro lado, sei bem o quanto o excesso de demanda destrói a especificidade de cada uma das coisas. Esse ponto de equilíbrio (quantos sims, quantos nãos é preciso dizer?) é que é difícil de achar.


Já várias vezes referiu a ideia de equilíbrio. Entre a Literatura e as Artes Plásticas, vida profissional e artística, entre sins e não. Gosta de saber que consegue ter as coisas sobre controlo? Acho que controlo não é a palavra para mim; ambivalência é minha palavra. Gosto de boiar entre os extremos, numa espécie de dúvida aquosa, suficientemente espessa para eu poder caminhar sobre ela. Isto vem, talvez, de uma identificação com extremos contraditórios, por exemplo, Carnaval e luto. Meu trabalho parece conter opostos pouco conciliados. Certa vez, numa retrospectiva, um curador de Bordeaux, após algumas horas conversando comigo e percorrendo as salas, fez-me a seguinte pergunta: e quem é o outro artista?. Ele achava que eu só tinha feito metade da minha própria exposição!

Em parte da sua obra plástica, nas grandes instalações que cria, há em geral a presença da palavra, seja quando está inscrita ou quando se pode ouvir numa gravação. A sua obra não se completa sem a presença da palavra? Há uma grande parte da minha produção que não tem palavra nenhuma, nem provém do mundo da palavra; aquilo que chamo de “quadros”, meus “relevos-quadros”, que não têm título nem memória temática. Nestes, o repertório de formas, por sinal bastante simples, é inteiramente autónomo. Mas, em boa parte do que faço, eu diria que me aproximo da solução plástica pela palavra. Assim, gosto de escrever sobre um assunto X, que me interessa para um trabalho, tentando cercá-lo. Por exemplo, às vezes um material me atrai e começo a ler um pouco sobre aquilo e a girar em círculos, a desenhar e anotar nomes, pedaços de frase. Claro que procuro não ligar directamente uma coisa à outra, mas sinto que o meu trabalho rende quando eu alcanço, em algum momento da constituição do trabalho, uma contaminação entre sentido e matéria. Quando comparado com gerações de artistas, que caminharam para a desmaterialidade, revisita algumas linguagens plásticas de movimentos históricos? Acha que esta é uma característica comum da Arte brasileira contemporânea? Há grandes artistas brasileiros com pouca ênfase na matéria, ou nos aspectos mais literais da matéria –Guignard, Mira Schendell, Waltércio Caldas, Iran do Espírito Santo. Da minha turma, lembrome do Hélio Oiticica, do Tunga, do José Resende, do Iberê Carmargo, onde essa presença da matéria é explícita. Não creio que haja em nenhum destes caminhos uma característica dominante na Arte brasileira. E comparativamente não acha a sua “turma”, para usar a sua expressão, mais relevante”? De jeito nenhum!

Numa perspectiva histórica, o Brasil é dos poucos países da América Latina que responde as perspectivas de um modernismo europeu. Considera que isso contribui para que os artistas tenham uma maior capacidade de projecção nos circuitos internacionais?

O Brasil, na frase famosa, é um país “condenado ao Moderno”. Por outro lado, é um país que nunca se modernizou de facto, no sentido weberiano, da autonomia das instituições e da constituição da cidadania. É um país razoavelmente rico, que se industrializou com facilidade e pujança, mas com uma distribuição de riqueza verdadeiramente pornográfica. Então, talvez seja possível dizer que a vocação moderna, aliada à incapacidade para se modernizar, constitui uma ambivalência constitutiva e central na nossa História recente, com reflexos intensos na produção cultural. O Modernismo brasileiro é uma espécie compensação dessa ambivalência, pagando o preço de uma certa falta de realidade. Para falar de um grande artista: Niemeyer não é uma espécie de Corbusier sem a presença da História, que orientou toda a produção do arquitecto francês, perdendo em solidez e universalismo, mas ganhando uma leveza e uma imaginação inacreditáveis. O mundo de certa forma começa do zero com Niemeyer, daí que Brasília tenha sido construída no Planalto Central, aquele deserto plano sem uma montanhazinha sequer, nada o precede nem tensiona. Sua excepcional liberdade vem daí. O facto de viver num país com um alto nível de criminalidade, onde o valor da vida humana parece ter pouco valor, fá-lo pensar mais numa poética da vida?

O facto de viver num país com alto nível de criminalidade faz a vida humana renovar o seu valor a cada dia, a cada pedacinho de violência, a cada fragmento de morte, a cada manchete de jornal. Viver no Brasil é ser assaltado pelo desejo de amor total a cada criança que bate no vidro do carro. O Brasil, com tudo o que tenha alcançado de avanço institucional, ainda é um país em carne viva. Claro que o meu trabalho, como tantos outros, responde de algum modo a isso.

044 – Central Parq | Grande Entrevista

De que forma esse facto é evidente na sua obra? Evidente, no sentido de explícito, espero que não seja nunca. Não vejo com bons olhos uma transposição mecânica entre o mundo social e o estético. Mas acredito que, de alguma forma, está lá —a ideia de carne viva, por exemplo, de algo ainda não cicatrizado, aplica-se com fidelidade a quase tudo o que eu faço. Resumindo, algo não formado, que não seca, que não se estabiliza, que não está pronto, atravessa o meu trabalho como um todo, o que não deixa de ser um pedido, no plano social, por uma espécie de segunda chance. Além disso, há um sentido de urgência que talvez venha daí também. O seu recente livro ainda não tem uma distribuição alargada em Portugal e, apesar de já ter exposto em Lisboa, continua a ser um perfeito desconhecido em Portugal. Acha que isso é um reflexo das relações culturais entre Portugal e o Brasil? De facto, esse intercâmbio é muito fraco. Mas meu livrinho vai sair em Portugal, no começo de Março, pela editora Cotovia, e fiquei muito, mas muito feliz com isso. Acho que vou ao lançamento e estou muito curioso por saber como será lido aí. O que será necessário para que haja mais curiosidade de ambas as partes? Acho que oportunidades reais. O Prémio Portugal Telecom, por tratar ambas as literaturas, já é um grande passo (devo esta entrevista a ele). Mas seria preciso mais. Ainda que algumas coisas óptimas tenham acontecido. Cito duas: o prédio excepcional que o Álvaro Siza fez em Porto Alegre, para a Fundação Iberê Camargo, e o projecto que o Paulo Mendes da Rocha está desenvolvendo para o Museu dos Coches em Lisboa. Ao que sei é descendente de portugueses. Nunca viu o facto como uma vantagem? Meu pai (já falecido) é português, saiu de Portugal exilado por Salazar, produziu uma edição comentada de Os Lusíadas, citava de cor o episódio de Inês de Castro. Isso era bom, era natural, era o que era. Não sei dizer se é uma vantagem. E isso não é suficiente para que queria estreitar relações com o panorama artístico português? Com absoluta certeza que é.


iluminai os terreiros, 2007 video

045 – NUNO RAMOS


texto carla carbone  foto lisa klappe

joost van bleiswijk linear e cubista

Joost van Bleiswijk é um designer holandês de mobiliário que nos faz pensar no tempo e nos transporta para uma época em que a Arquitectura e o Design despontavam para a modernidade e a técnica, mais precisamente, para o início do Século passado. Bleiswijk joga com o tempo, lembra-nos a fragilidade do nosso gosto e ainda as preocupações de Dorfles. Neste deambular pelas lembranças, o designer recorda-nos o mais importante: as emoções.

Bleiswijk é amigo —foram aliás colegas na academia de Eindhoven— dos designers Kiki van Eijk, Studio Job, Maarten Baas, Jurgen Bey, Hella Jongerius, Piet Hein Eek, Richard Hutten.

Em primeiro lugar, as formas de objectos e mobiliário de Joost van Bleiswijk parecem inspiradas na Art Déco ou em certa Arquitectura americana do início do Século passado. Nas palavras do designer, são objectos que procuram resumir séculos de Design, aludindo à história das Arts and Crafts. Bleiswijk dá o exemplo de um candelabro: “eu colecciono centenas de imagens de candelabros, depois tento formar uma conclusão pessoal, um candelabro que resuma todos os outros”, uma metáfora. As estruturas de Bleiswijk são construídas sob o princípio de, na união das partes, não haver nem parafusos nem colas. Os vários componentes dos objectos são unidos por meio de encaixes.

046 – Central Parq | Design

As peças são planas. Formam, por isso, superfícies lineares e linhas cubistas. Numa altura em que se elogia o ornamento, as formas de Bleiswijk, sobretudo no seu mobiliário, constituídas por paralelipípedos com arestas vivas, parecem prescindir de toda essa figuração.

O mobiliário de Joost van Bleiswijk reflecte um apelo. Talvez as imagens de complexos elementos naturais, bem como o seu elogio decorativista, estejam a atingir um ponto de saturação. Talvez este seja o tempo de voltar a discutir o esvaziamento do ornamento. Em tempo de contenção, debruçamo-nos novamente sobre o que é verdadeiramente essencial e útil. Dorfles reflecte sobre o gosto e as suas oscilações: “a Arte 'reflecte o seu tempo', o zeitgeist é formado por valores também estéticos, mas sobretudo sociais. E é ainda mais verdade que a Arte reflecte as condições sociais de uma determinada época”. Também é verdade que a Arte, muitas vezes, pode ir contra o seu próprio tempo (o que pode ser o caso do designer) e, mais ainda, que a Arte pode reflectir condições económicas. Num tempo em que todos procuram o efémero, Bleiswijk considera importante a criação de objectos que durem nesse tempo: “não gosto de um Design que represente aquilo que é trendy, só pelo que é trendy”, ou que

satisfaça por ser cool ou rápido. Bleiswijk respeita o passado e, por isso mesmo, resgata formas consideradas clássicas: “tenho muito cuidado na selecção de objectos que faço. Por exemplo, uma ampulheta não é um objecto típico de Design contemporâneo. Temos hoje todos aqueles telefones móveis. A ampulheta conta uma pequena estória sobre o tempo, sobre o modo de como as pessoas vivem o tempo. Os objectos trabalham com as emoções das pessoas. São mais do que meros relógios digitais com formas que estão na moda”.

É por isso que Bleiswijk procura as formas lineares. Não gosta das formas curvas gratuitamente. Para o designer, se as formas resultam direitas isso deve-se ao modo construtivo das peças. “Eu recrio antes o curvo, repetindo pequenas linhas direitas.”

www.joostvanbleiswijk.com


047 – Joost van Bleiswijk


joo va bleis corroded Litle clock, 2009 metal

no screw no glue serning tray, 2008 Metal cromado

single-cut vases 2006

Metal polido à mão

corroded candle stick 3, 2009 metal

no screw no glue candelabrum, 2008 Metal cromado

corroded candle stick 1, 2009 metal

no screw no glue wall cabinet, 2008

456x54x284cm, Metal cromado

048 – Central Parq | Design


ost an swijk compose amphora 2008

madeira laminada

out lines 2001

madeira laminada

black set 2005

Madeira laminada

compose goblet 2008

madeira laminada

black set 2005 madeira laminada

even-uneven 2001

black set 2005

madeira laminada

049 – Joost van Bleiswijk

madeira laminada


texto Luísa ribas  foto Cortesia victoria and albert museum

decode sensações digitais

Código, interactividade e redes são as três perspectivas que agregam um conjunto de obras de Design digital e de interacção, que o Victoria & Albert Museum de Londres propõe actualmente, com a exposição "Decode: Digital Design sensations". Reunindo aproximadamente 30 obras, esta exposição mistura 'clássicos' com trabalhos recentes, especialmente criados para a exposição. Consegue traçar uma panorâmica sobre propostas estabelecidas e emergentes da Arte e Design digital.

Centrada no espaço da Porter Gallery, a exposição prolonga-se tanto no espaço como no tempo, com uma série de intervenções na entrada e nos jardins do Museu, bem como no site. Com uma identidade generativa open-source, concebida por Karsten Schmidt, Decode transforma-se em Recode, sublinhando a natureza transformativa e participatória deste domínio criativo. O público é convidado a transformar esta identidade e os resultados são exibidos nos ecrãs do metro de South Kensington.

Alguns dos trabalhos expostos focam a tradição do uso do código como material plástico e como ferramenta para o Design e criação estética de formas visuais activas e autónomas. Este facto é essencialmente confirmado nos trabalhos de Casey Reas, Lia ou John Maeda. Um outro trabalho o Exquisite Clock da Fabrica (Benetton) faz a transição para o tema das redes, neste caso usando fotografias que o público pode alojar no site www.exquisiteclock.org. Já outros trabalhos, como We Feel Fine, de Jonathan Harris e Sep Kamvar ou os Flight Patterns de Aaron Koblin, ilustram a exploração dos resíduos deixados pelas comunicações quotidianas em blogs, news feeds e redes sociais.

050 – Central Parq | Arte

A interactividade é, inevitavelmente, a secção mais vasta, com distintas aproximações às relações recíprocas entre a obra e o espectador. Propondo formas transparentes, intuitivas e orgânicas de interagir, exploram-se as qualidades lúdica, poética ou reflexiva da interactividade. O Opto Isolator II de Golan Levin consiste num olho robótico que, de forma lúdica, inverte a condição de observador e, sendo assim, é a obra que passa a olhar‑nos e não o contrário. Simon Heijdens, um dos designers deste grupo em ascensão vertiginosa, mostrou as suas habituais projecções de plantas virtuais na fachada do edifício. Heijdens cria organismos vegetais que reagem a elementos do ambiente exterior, como o sol, o vento e a presença dos espectadores. O seu trabalho causa sempre grande impacto no espectador, para além de jogar de forma poética com a crescente ausência de elementos naturais no ambiente urbano.

Uma grande parte das obras integra a presença e participação do observador, traduzindo-a literalmente como espelhos. O imponente Venezian Mirror da Fabrica (Andy Cameron e Sam Baron) apresenta esse contraste entre a moldura material e a imaterialidade do 'reflexo' digital que distorce a percepção do tempo, como um retrato em subtil mutação. No que se refere a Weave Mirror de Daniel Rozin, a obra produz mecanicamente um reflexo do espectador, enquanto Study For a Mirror dos Random International produz um retrato temporário de luz quando alguém permanece imóvel.

Entre a plasticidade do código, os resíduos das comunicações em rede e as qualidades da interactividade, as “sensações do Design digital” que se experienciam nesta exposição assinalam um território confirmado de práticas criativas, que vai além da mera exploração de materiais e técnicas híbridas ao inquirir a possibilidade de criar experiências significantes. Neste sentido, a reflexão e comentário que propõem sobre as formas contemporâneas de percepção e interacção evocam a mente elástica proposta pelo MoMA (no contexto da exposição de design de 2008 www.moma.org/visit/calendar/exhibitions/58) como capacidade de negociar a mudança e a inovação. Decode evoca esta ideia, apostando numa selecção de obras mais contida e consensual, em geral já conhecida e confirmada no campo, com algumas das obras aliás já premiadas. Mesmo as que foram criadas para exposição foram fruto de encomendas e, como tal, não representavam grandes riscos, pois tinham assegurada alguma garantia de qualidade. A exposição Decode, na sua forma, extensões e eventos associados, pode ser lida como um projecto e programa fundamental do museu V&A: uma estratégia do “maior museu de artes decorativas e Design do mundo” de forma a actualizar o seu discurso face ao público, investir nas práticas digitais contemporâneas e criar um terreno sólido de reflexão sobre a forma como estas obras são modeladas e, por sua vez, modelam a cultura. victoria & albert museum, londres até 11 de abril 2010

www.vam.ac.uk/


house of cards aaron koblin, 2009 3d data

vencedor de um grammy para melhor video de mĂşsica

051 – decode


texto roger winstanley  foto Bea nettles

bea nettles the mountain dream English Version p.81

No final dos anos 60, imbuída de um espírito comunitário, Bea Nettles criou, a partir de uma comunidade artística, o primeiro Tarot composto por fotografias. Além do interesse histórico, este baralho é o testemunho de uma sociedade em busca de modelos alternativos de vida.

Em termos astronómicos, a Era de Aquário acontece todos os 2160 anos e marca o fim e começo de um novo ciclo da rotação da terra. Quando Bea Nettles entrou na idade adulta, esse conhecimento místico estava interiorizado na cultura popular e, para certas comunidades, esta Era representava uma oportunidade de profundas mudanças de mentalidade. Assim, algumas propuseram novas organizações sociais, com um nível de partilha nunca até então existente. Para Theodore Roszak, historiador especializado nas contra-culturas, estes temas místicos atingiram o auge no final dos anos 60, início da década de 70. O I-ching e o Tarot eram bastante populares e, curiosamente, em 1967, o popular mago Aleister Crowley aparecia na capa do álbum dos Beatles, Sergeant Pepper’s Lonely Hearts club Band, ao lado de figuras como Edgar Allan Poe ou Carl Jung.

Nesse mesmo ano, a artista Bea Nettles entrou para a Pendland Art School (Carolina do Norte) para estudar Gravura e passou a viver rodeada de estudantes de Arte e de indivíduos de cabelos compridos e que compravam roupa em lojas de segunda mão. A contestação à guerra do Vietname era um dos motivos de conversa entre os jovens da sua idade, cada vez fechados em comunidades, contestando as políticas das gerações mais velhas. A relação com a comunidade escolar foi prolongada, porque mesmo depois de terminar a formação, Bea Nettles pôde continuar na Escola como artista residente não oficial. Fortaleceu, assim, os laços que a uniam a uma comunidade artística que favorecia experiências artísticas colectivas. Qualquer perspectiva de uma produção colectiva estava em aberto e a jovem artista estava já disposta a partilhar as suas experiências fotográficas, então ainda a dar os primeiros passos

Foi nesse ambiente comunitário, no Verão de 1970, que depois de ter comprado um vestido preto estampado com estrelas brancas, Bea Nettles idealizou um arquétipo de

052 – Central Parq | Arte

tarot, a partir das experiências fotográficas que estava a explorar. Tinha apenas 23 anos e os recursos eram pequenos, mas tal não a demoveu. Serviu-se das paisagens locais, assim como da sua comunidade de amigos, que assim participaram activamente na execução deste baralho, que tardaria cinco anos a concluir. Ainda hoje é possível reconhecer grande parte dos seus figurantes em “Mountain Dream”, nome pelo qual viria a ficar conhecido. A carta da “Lua” foi personificada por uma das professoras de Tear da Universidade, enquanto a “Estrela” foi interpretada por uma ceramista amiga que não se importou de pousar nua. A própria Bea entrou, auto-retratando-se, com o seu vestido de estrelas, como Rainha de Ouros. Este trabalho foi executado muitos anos antes da fotografia digital, numa época em que nem se vislumbravam os milagres que hoje o Photoshop é capaz de fazer. Todas as imagens foram, por isso, trabalhadas manualmente, usando nalgumas cinco negativos sobrepostos para criar efeitos. Muitas vezes, era necessário ter objectos a flutuar, no meio de nuvens, e os negativos tinham que ser retocados ou pintados. Pela curiosidade de ter sido o primeiro tarot a ser realizado por métodos fotográficos, este baralho tem despertado grande curiosidade. É também interessante verificar que o processo comunitário em que se produziu traria aspectos performativos que já eram premonitórios de algumas práticas artísticas que viriam a ganhar grande relevância durante os anos 70, como a Body Art ou a Land Art, onde o registo documental fotográfico ganhou grande ênfase.

Na altura em que Bea Nettles a começou a estudar, a dita fotografia artística era realizada em geral a preto e branco. O panorama era dominado por um conjunto de fotógrafos americanos que tinham criado a chamada Escola Americana, muito baseada em instantes captados nas ruas. No entanto, a jovem estudante procurava um trabalho experimental. A obra de Andy Warhol, que propunha imagens icónicas de celebridades

e a Pop Art também não a seduziam, apesar de serem a principal referência da sua geração. Bea inclinava-se mais para o tipo de fotografia narrativa que Lucas Samaras realizava. Num laboratório de fotografia tradicional, a jovem estudante desenvolveu um trabalho de manipulação, justapondo, retocado e pintando negativos, técnicas que, comparadas com as que são disponíveis hoje, só nos podem parecer rudimentares. No entanto, como refere a artista, nessa época “não tinha a possibilidade de recorrer a um banco de imagens, caso precisasse de juntar uma águia a voar. Tinha que encontrar uma viva e fotografá-la”. O mesmo acontecia com as chamas, quedas de água, espadas e todos os outros acessórios que tinham que aparecer nas imagens de um tarot. Para isso, socorria-se de uma máquina fotográfica de meio formato da Yashica D e do laboratório da Escola de Arte. Em 1975, todo o processo de execução e produção das maquetas estava terminado e pronto para ser editado.

O Mountain Dream foi impresso em Rochester, no estado de Nova Iorque. Dele se fizeram apenas 800 exemplares, através de um processo quase artesanal. Desta primeira edição, poucos restavam no final dos anos 70. Grande parte tinha sido oferecida a amigos e quase que caía no esquecimento, até ao dia em que passou a ser mencionado na Encyclopaedia of Tarot, de Stuart Kaplan (1982), que o reproduz e o considerou historicamente relevante, por abordar pela primeira vez um género com mais de 500 anos de história a partir da fotografia. O original passou então a ser muito procurado e, por essa razão, foi recentemente relançado. A passagem do tempo não datou as imagens, que continuam a ser mágicas, transportando-nos para o mundo idílico de uma comunidade artística que, no final dos anos 60, partiu para a recriação de arquétipos atemporais como resposta às grandes preocupações que, naqueles tempos, assombravam o mundo.

www.beanettles.com


the fool

053 – bea nettles


texto andré muraças  foto Cortesia FOX Portugal

televisao homo tv

Desde sempre que os homossexuais procuraram imagens que os representassem. Ao contrário do cinema, o armário televisivo esteve fechado mais tempo, devido à invenção tardia das séries. Mas, tal como o cinema, a televisão foi-se tornando espelho do caminho que a homossexualidade ia percorrendo fora do ecrã. E ainda que mais tarde, essas imagens passaram elas próprias a inspirar culturas e vidas ditas alternativas, moldando e criando novas imagens. Da procura de uma identidade chegou-se à proliferação de identidades.

Os ingleses

Os Anos 90

A história é longa. No Reino Unido, corria o ano de 1972 e a série Are You Being Served? mostrava um muito afectado Mr. Humphries em jantares com um “amigo”. Graças a Reviver o Passado em Brideshead (1981), Sebastian terá sido o ícone gay de muitos. Curiosamente, a série Oranges Are Not The Only Fruit (1990) adapta polemicamente o livro de Jeanette Winterson e ignora quase por completo o facto da personagem principal ser lésbica e do quão importante isso é para a história. Depois, existem casos de opções moderadas e de outros onde a corda foi esticada ao limite. Queer as Folk (1999), por exemplo, mostrou explicitamente, mais ainda na consequente adaptação norte-americana, as vidas de um grupo de gays e lésbicas em toda a sua universalidade de características. Se a série inglesa focava mais um lado clubbing num tom pop e kitsh (com grupos homossexuais a dizerem que a imagem fútil não era a mais correcta e que nem todos os gays eram promíscuos e adeptos de drogas), as consequentes seis temporadas dos EUA exploravam a fundo os problemas apenas lançados na original. E a diversidade continua com Absolutely Fabulous, Beautiful People, Little Britain, Footballer's Wives, Torchwood ou até um saudoso Allo, Allo! (aquele gendarme comicamente inesquecível...) brincam com uma audiência não tão limitada quanto isso. E não esqueçamos as séries de carácter histórico, como os ambientes politicamente corrompidos e desavergonhados de The Line of Beauty ou as vitorianas lésbicas de Fingersmith e Tipping the Velvet, a partir dos romances de Allan Hollinghurst e Sarah Waters, respectivamente.

Tales of the City (1993) é uma série norte-

054 – Central Parq | Gay

-americana que adapta o livro de Armistead Maupin, completando-se em mais duas consequentes séries. Foi também ela a mostrar o primeiro beijo gay em horário nobre, o que no governo de então foi um escândalo, resultando numa investigação por ordem do Congresso à estação de televisão produtora da série. E se o caminho se fez com alguns obstáculos as séries Sex & the City e Will & Grace passaram de pequenos ghettos televisivos a fenómenos mundiais, vistos por todos. Com Sex & the City entramos num cosmos de amores e desamores, com vestidos e sapatos caros a misturarem-se com personagens homossexuais numa multiplicação citadina. Com Will & Grace, o foco incide sobre o protagonista, Will, o gay mais heterossexual da TV, e em Jack, o amigo sempre acompanhado da fag hag Karen. Por outro lado, os namorados de Will são abordados da mesma forma que os namorados de Grace, a protagonista feminina. Seria injusto não lembrar também The Ellen Show, Xena – a Princesa Guerreira …

O caso Fox A primeira década deste milénio é então bastante variada em termos de enfoque e visibilidade de personagens homossexuais, o que pode representar um final de percurso. Algumas dessas séries têm passado por nós, tanto nos canais públicos como nos canais por cabo, nomeadamente os da FOX. O leque vai do mais sério ao mais cómico. Há de tudo, para todos os gostos e isso é

muito positivo em termos de educação de alguns espectadores mais conservadores. É possível rir com o gorducho do Family Guy, que aqui e ali, na sua inércia norte-americana, decide ser gay por uns dias. American Dad não só tem um pai moralista, em estado de pânico ao ser apanhado numa convenção de republicanos gay —Gays! They´re everywhere!, exclama— e completamente intolerante em relação ao casal gay vizinho e ao seu cão; como ainda tem por casa um extraterrestre muito peculiar, uma verdadeira Judy Garland, deprimida e malcriada, com uns copos a mais. É brincar com a maneira como os EUA vêem os ditos 10% de população. E a brincar, a brincar... Pegase no comando e, noutro canal, temos Ugly Betty, a feia mais bonita do mundo das revistas de moda com a sua simpática família onde há o jovem sobrinho gay —pedagógico para pais e filhos com dúvidas e medos juvenis; e ainda Marc, colega de trabalho fashion que se junta com um improvável namorado e, claro, a irmã do director da revista, Alexis, que descobrimos mais tarde já ter sido homem. O zapping deixa-nos ver e rever, noutro canal, as mulheres de Wisteria Lane. Numa das temporadas, estas Donas de Casa Desesperadas recebem o típico casalinho gay com queda para Arte e adeptos do culto do corpo. É cliché? É. Eles existem, por isso, aguentem-se! Além disso, toda esta série tem um flair gay. Basta ver uma dona de casa em vestido couture a cortar a relva do jardim… Mais gay é difícil. Um outro clique para mudar de estação e o arrogante Dr. House tem como colega uma médica bissexual. Sim, o mundo


E há mais. Muito mais médico está, como todos os outros universos profissionais, repleto. E lembram-se da médica do Serviço de Urgência ou estavam distraídos com o Clooney? E das meninas lésbicas da Anatomia de Grey? Elas também por lá andam, com os mesmos problemas de Meredith em relação aos homens. São séries mais melodramáticas, com focos universais e plurais, não exclusivo dos homossexuais, mas cuja evidência é agradecida e necessária. Irmãos e Irmãs, por exemplo, mete um irmão gay numa alargada família e confronta-o com um namorado de diferentes visões políticas, religiosas e afectivas. É entre eles que existe o conflito. Ah, e eles casam-se… Deste lado, comovemo-nos tanto ou mais quanto os mil e um casamentos a que já assistimos em televisão. Esta série faz-nos ainda lembrar de Sete Palmos de Terra, onde um dos irmãos também é gay, mas o que é desvendado são as suas dificuldades em assumir-se e relacionar-se com a família e o posterior namorado, no meio de mortes caricatas e funerais inesperados. Noutro canal, a série L-Word trouxe uma revolução televisiva ao ter um elenco de personagens maioritariamente lésbicas ou bissexuais. A estrutura das histórias, a diversidade das próprias senhoras —não há uma lésbica igual!— a contínua manifestação de dificuldades e situações tão vulgares quanto um qualquer heterossexual, mas sem esquecer as intrínsecas peculiaridades, tornaram a série numa das mais vistas pelos grupos, mas também por gente de fora das comunidades, que procurava identificação nestas figuras. Fazia falta. Da mesma maneira que fazia falta que a série Nip/Tuck fosse para além do gay e do lésbico. Ainda que exista nela uma enfermeira orgulhosamente lésbica, um dos cirurgiões a questionar a sua sexualidade, um dos filhos envolvido com um transsexual, aparecem ainda diversas personagens desconfortáveis consigo mesmas. Insatisfeitos com a ideia de estarem fechados em corpos estereotipados. Aqui já não há só heterossexuais ou homossexuais. Há queers e tudo o que não cabe noutras séries e pode parecer anormal ou diferente. Mas não é.

A diversidade a que assistimos na televisão das duas últimas décadas é mesmo grande. É só lembrar as séries OZ, The OC, as revisitações de Melrose Place e 90210, o muito sexual/sensual True Blood, com o dificilmente catalogável Lafayette —o empregado de Bon Temps, The Dante´s Cove, Noah's Arc, The Lair, a série animada Rick and Steve - The Happiest Gay Couple in All the World, pior que qualquer South Park. E ainda The Tudours, Rome, os meninos e meninas ricas em Gossip Girl, a sci-fi Caprica, a emocionante mini-série Angels in America passada nos anos da SIDA e envolta em afectos, e até os machos de The Sopranos que não aguentaram descobrir que Vito Spatafore, um dos seus, era um gay mafioso. Também é necessário referir a popularidade de reality-shows onde participaram concorrentes homossexuais como RuPaul´s Drag Race, Project Runway, MTV´s Real World, Big Brother, The Amazing Race, A Shot at Love with Tila Tequila, Survivor, Boy Meets Boy ou Queer Eye for the Straight Guy. Aqui já tudo parece banal e aceitável. Por um pouco tontos que sejam alguns episódios deste formato televisivo, os reality-shows serão talvez a forma suprema da normalização da homossexualidade na TV. marc st.james ugly betty michael urie

“thirteen” dr. hadley DR. house olivia wilde

055 – televisão

Uma nota final para os distraídos. As séries Glee e Modern Family não têm nem um ano de existência e são já uma referência para o futuro. Glee é sobre um grupo escolar onde vão parar os loosers da escola: o gay, o paraplégico, a feia, a afro-americana gorda, a asiática gaga e o jogador de râguebi cantor. Pode parecer uma comédia e é, não fosse ela do mesmo criador de Nip/ Tuck. Aqui o anormal é o mais normal possível. Canta-se, dança-se mas ai de quem a confundir com um mísero High School Musical! Glee é sobre aquela idade complicada onde uma canção de um musical da Broadway ou do Top 5 pode fazer toda a diferença e ajudar-nos a crescer. Já Modern Family mostra-nos o quotidiano de três casais, todos eles ligados por laços familiares. Se há homens mais velhos casados com jovens latinas, ou pais que falam com os filhos como amigos de escola, também existe o humorado casal gay, com uma criança adoptada. No meio de tanta confusão, este “pormenor” é muito pouco, já se está a ver. Más imagens? Boas imagens? Não vale a pena queixamo-nos de falta presença homossexual em séries de televisão. Ela existe e deve continuar a existir. O público deve ver. Ser exposto e confrontado. Quanto mais normalizadas as séries estiverem, menos tímidas serão as aparições. Assistir-se-á então a uma perfeita banalização de aspectos menos confortáveis para alguns mas com tanto ou mais para dizer como qualquer outra série de TV. A televisão está cada vez mais colorida, sim. Procurou-se, assumiu-se e normalizou-se entre outros. Arriscou, engoliu sapos, protestou e zangou-se. Orgulhosa ou mais discreta, manifesta-se de forma variada. Já não era sem tempo.


texto tânia figueiredo

designers de moda dos eua pragmatismo americano

Na primeira década de 2000, a América apresentou ao mundo novos nomes da Moda Internacional. Participantes de concursos da CFDA, “Council of Fashion Designers of América”, licenciados em universidades conceituadas como a Parsons School of Design, ou aprendizes de estilistas de renome, estes jovens talentos começaram a impor-se, dando cada vez mais prestígio à jovem semana da Moda de Nova Iorque. A imprensa especializada não pára de elogiar os novos criadores americanos, mas as interrogações sobre esta revolução sucedem-se e já há quem especule sobre quantos e por quanto tempo conseguirão sobreviver.

Sem grande tradição na Moda, e sobretudo Alta Costura, os jovens designers americanos agarraram-se ao que era mais profundo na sua cultura de Moda: o seu life style. Interpretando o tipificado sport/casual norte-americano, renovaram e acrescentaram novas inspirações e vivências a marcas já de renome, como a Ralph Lauren, a Tommy Hilfigher e a GANT. Talvez as colecções apresentadas pela nova vaga de designers americanos não estejam tanto centradas no sonho do pioneiro na pradaria em comunhão com a natureza, já que introduzem inspirações que vêem de zonas de Manhattan, especialmente da zona de West Village, designada como o bairro boémio e onde se concentra o maior número de artistas, pintores, fotógrafos e designers por metro quadrado. Chegam de todos os cantos, são jovens independentes, descontraídos e, tal como os seus antecessores, chegaram para cumprir o chamado sonho americano. São todos estes que constituem essa comunidade que parecem ser a fonte de inspiração comum para a maior parte dos novos criadores de moda americanos. Tanto Thakoon, Derek Lam, Alexander Wang como Proenza Schouler centram-se na cultura popular, pontualmente na cultura desportiva, com particular destaque para Alexander Wang, que evoca o futebol americano, mas sempre com um requinte que lembra as colecções apresentadas nas semanas de moda europeias. Impõe-se o sentido pragmático, já que na América muitos dos excessos artísticos do Velho Continente acabam controlados por objectivos mais comerciais.

056 – Central Parq | Moda

Thakoon é um criador de origem tailandesa, vindo da Parsons School of Design e que, contrariamente ao que é comum nas capitais da moda, onde há mais competitividade, decidiu aventurar-se logo com uma colecção própria. Resultado: um país receptivo a novidades trazidas por jovens designers adorou e, a partir de 2005, o seu estilo feminino, onde imperam padrões florais, estampados de leopardo em vestidos e mini-saia suit vingou, sobretudo junto de um público jovem, mas com poder de compra. Conseguiu, assim, lançar esta estação a linha Thakoon Addition, mais premium e que passa a ser uma extensão da sua colecção de base. Este estilista em ascensão conta com o apoio de Michele Obama, que o considera um dos seus estilistas preferidos, e de Giuseppe Zanotti, que desenhou os sapatos da sua nova colecção de Primavera e Verão de 2010.

Alexander Wang

é mais um talento que estudou Design de Moda na Parsons School. Lançou a sua primeira colecção em 2005, composta maioritariamente por malhas. Em 2007, expandiu a sua linha para uma colecção feminina de pronto-a-vestir e finalmente, um ano depois, apresentou a sua linha de sapatos. No último ano, este criador esteve em alta, falou-se e escreveu‑se sobre ele como nunca tinha acontecido a um jovem americano. E acabou por receber o prémio Swiss Textiles —uma porta aberta para o êxito na Europa.

Derek Lam, outro dos furores americanos, iniciou a sua carreira como assistente de Michael Kors e deslumbrou a crítica, nomeadamente Anne Wintour, a influente directora da revista Vogue americana, com a sua própria linha de luxo (2003), composta por peças de fácil utilização, rompendo com a complexidade europeia, muitas vezes inerente a primeiras linhas. Este excelente começo garantiu que Lam fosse, em 2005, contemplado com o prémio Swarovski’s Perry Ellis para Womenswear, o prémio mais prestigiado nos EUA, e que, em 2007, arrebatasse o prémio de Designer de Acessórios do Ano.

Por fim, Proenza Schouler é o nome por detrás da dupla de designers Lazaro Hernandez e Jack McCollough. Conheceram-se nos tempos de escola, na Parsons. Estagiaram, respectivamente com Michael Kors e Marc Jacobs, antes de se lançarem em 2002, com a sua marca jovem e desportiva. Além de terem conquistado o prémio Swarovski’s Perry Ellis para pronto-a-vestir em 2003 e o prémio de Designer do Ano na categoria de Womenswear em 2007, esta equipa alcançou popularidade junto do público dado o preço acessível das suas criações e da forma como programaram a expansão das suas lojas.


A mesma política de preços, associado o design cuidado e a alguns prémios de prestígio impulsionaram a carreira de Zac Posen, que se lançou em 2002, com apenas 21 anos. De todos os novos valores, é ele o mais lúdico e, apesar das reticências iniciais da crítica, Posen veio a provar o seu talento, propondo peças soberbas, com muito glamour, em geral inspiradas nos anos 40. Este verão comercializa pela primeira vez uma linha —Z Spoke — com uma gama de preços mais baixos, mantendo a mesma vertente chique e requintada numa óptica urbana. Num estilo completamente antagónico ao que faz o imaginário americano tradicional, Rodarte impôs-se com uma proposta sombria e apocalíptica, inspirada em filmes de terror. Por detrás da marca, estão as irmãs Kate e Laura Mulleavy, que impressionaram pela aplicação de técnicas elaboradas de tricô, aliada a uma construção têxtil complexa. Apresentaram a primeira colecção em 2005 e o seu percurso conta já com uma série de prémios da CFDA. Agora, fala-se muito de uma aproximação de James Mcarthur, Vice-presidente da Gucci que, neste momento, é visto como o grande mentor da carreira destas jovem. Para o Verão de 2010, esta equipa mostra uma colecção com tecidos nobres, como chiffon e seda, e tecidos tingidos, envelhecidos ou queimados. Sem o mesmo sucesso internacional das irmãs Mulleavy, Doo Ri Chung é apontado como uma das grandes promessas americanas na área da Moda, com dificuldade de encaixar no típico Sportswear americano. Licenciada pela Parsons School of Design, apresentou a primeira colecção em 2003. Tornou-se uma figura mediática quando ganhou o prémio Swarovski’s Perry Ellis para Womenswear e o prémio Vogue Fashion Funds, em 2006. As suas colecções irradiam cores e formas inovadoras sendo reconhecida pelos vestidos em jersey, drapejados e leves. Muito desta projecção internacional dos criadores americanos deve-se à vitalidade do seu mercado, mas também, cada vez mais, pelo facto da semana da Moda de Nova Iorque ter vindo a ganhar uma maior projecção. Encetar uma carreira em Paris é muito improvável, porque é praticamente impossível conseguir captar a atenção dos media, distraídos com os desfiles dos principais criadores, anulando quaisquer iniciativas paralelas ou em menor escala. Nesse sentido, Nova Iorque oferecessese, durante uma semana, como uma boa janela de oportunidades, como bem percebeu Joseph Altuzurra. Iniciou-se em Nova Iorque como estagiário de Marc Jacobs e de Proenza Schouler e tem vindo a destacar-se como assistente da linha de pronto-a-vestir feminino da conceituada casa Givenchy. Apresentou pela primeira vez uma colecção na Primavera/Verão 2009 e surpreendeu tudo e todos, na estação passada, com os cortes simples, tons neutros e o apelo à couture, sempre com uma base monocromática e minimalista.

057 – designers de moda dos EUA

Cada edição da semana da moda em Nova Iorque inova e renova a concepção de Moda americana, que começou a ter maior consciência do seu lugar no mundo e a criar uma identidade única com o passar dos anos. Apesar de alguns dos seus criadores de renome, como Marc Jacobs e Jeremy Scott, apresentarem as suas colecções em Paris, a passadeira nova iorquina sente que uma nova mistura de valores, com diferentes perspectivas da moda, em tempo de crise mundial, vai preenchendo o sonho americano, libertando uma arte que estava quase relegada para segundo plano. Marcas, conceitos e identidades novas são uma promessa para os aficionados da Moda americana que, temporada após temporada, ficam mais surpreendidos e fidelizados a nomes de projecção mundial.

zac posen www.zacposen.com


derek lam www.dereklam.com

Thakoon www.thakoon.com

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058 – Central Parq | Moda

rodarte www.rodarte.net


Doo.Ri Chung www.doori-nyc.com

Alexander Wang www.alexanderwang.com

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Alexander Wang www.alexanderwang.com

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Alexander Wang www.alexanderwang.com

059 – designers de moda dos EUA

Alexander Wang www.alexanderwang.com

Proenza Schouler www.proenzaschouler.com


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valentim quaresma


Amelia EarHarT fotografia

André Brito www.andrebrito.com

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Milene Veiga

agradecimentos Museu do ar, my god, casa batalha museu do ar base aérea 1 • granja do marquês, sintra • telf.: 219 582 782 / 219 581 294 inaugurado em dezembro de 2009


casaco patrizia pepe, tshirt guess by

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CAR LOS: blaser de malha de algodรฃo

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Blue is the sky  Pedro Pacheco

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Hugo Gonçalves   Conforto Moderno     Carlos Vilaça Vera Pimenta     Carlos Ferra & Daniel Silva

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CAR LOS: windrunner nike

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DANIEL: calções e marcel INSIGHT, blusão LACOSTE RED, relógio NIXON


DANIEL: sweat LACOSTE, windrunner NIKE SPORTSWEAR, calções LEVIS ENGINEERED, óculos

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CAR LOS: calções CUSTO BARCELONA, camisola e cinto REPLAY, correntes T_COLLECTION


CAR LOS: cardigan REPLAY, t-shirt

ADIDAS, calções FRED PERRY


CAR LOS: calças e echarpe REPLAY camisolão MARLBOROUGH, t-shirt

LEVIS, botas FLY LONDON cinto DIESEL, óculos BURBERRY DANIEL: calças camisa e echarpe

DIESEL, blusão GANT, impermeável CUSTO BARCELONA, cinto LACOSTE, sapatos FLY LONDON, óculos PRADA



Escada Sport texto: tânia figueiredo

77 – Parq Here | Places

No passado dia 19 de Dezembro, foi inaugurada a primeira loja da marca alemã Escada Sport em Portugal, em Lisboa, na Rua Castilho.

público jovem, deixando para trás uma imagem de marca feita de peças exclusivas e requintadas de Alta Costura.

Junta-se assim às 20 marcas que a Castilho Fashion Street, intitulada rua da moda no coração de Lisboa, tem para oferecer. Especulou-se bastante, durante o Verão de 2009, sobre a possível dissolução do Grupo Escada, mas felizmente a empresa continua a crescer e a expandir o número de lojas pelo mundo. Desde que a bilionária Megha Mittal comprou a marca, esta sofreu algumas mudanças, passando a direccionar-se mais para a confecção de ready to wear, redireccionando a linha Escada Sport para um

A primeira colecção em Lisboa é leve e fresca, predominando os tons neutros terra, inspirados no imaginário do safari e do deserto, cortados com apontamentos electroshock (azul, laranja, roxo, rosa e cinza claro). Um look clássico, casual e trendy, a não perder esta Primavera de 2010. ESCADA SPORT Rua Castilho, nº 57 Lisboa Telf: 213 710 303


Oculista das Avenidas texto: sofia saunders

Há espaços que sabem unir de forma única tradição e inovação. É o caso da Óptica das Avenidas, uma empresa familiar com mais de 50 anos, que começou em Lisboa com um pequeno espaço de optometria, na Avenida Marquês de Tomar, numa época em que oftalmologia nem sequer tinha dado os primeiros passos em Portugal. Os equipamentos de optometria, que foram sendo adquiridos ao ritmo das inovações e de acordo com as necessidades dos clientes, garantiram o sucesso e a reputação que a actual Direcção procura preservar, contornando a tentação do “fast food” instalado pelas grandes empresas ópticas entretanto implantadas na capital. Seguindo a tradição, o acompanhamento da inovação técnica continua a ser uma das garantias da equipa do Oculista das Avenidas, que assegura que cada serviço de check-up individual à visão seja muito mais completo do que os habituais. Além disso, o espaço renovado do Campo Pequeno foi equipado com a mais recente tecnologia e um sistema de multimédia de comunicação interactiva integrada, inovador na Europa. Permite que uma visita ao espaço seja mais emocionante, conduzindo o cliente a uma experiência de compra emotiva, sensorial e que se torna memorável. A simples escolha

78 – Parq Here | Places

de óculos de sol, por exemplo, permite que, frente ao expositor da marca pretendida, o cliente tenha uma percepção de outras propostas da marca, sugeridas no ecrã de um LCD, assim como outro material de comunicação relativo, como campanhas publicitárias. Outro equipamento, desta vez disponível pela Silhouette, facilita um estudo facial do cliente, permitindo sugerir as armações de óculos que melhor se ajustam ao seu rosto. A selecção de produto segue os mesmos princípios, procurando tanto a diversidade como a escolha de um produto diferenciado, propondo assim desde óculos mais exclusivos até aos de representações de marcas de excelência, como Alain Mikli e Philippe Starck. Avenida 5 de Outubro, 122-B 1050-061 LISBOA TEL: 217 999 060

Campo Pequeno, 48-B 1000-081 LISBOA TEL: 217 959 043


Fornarina

texto: tânia figueiredo

Após seis meses de espera, a Fornarina, marca italiana representada pela famosa e polémica actriz Lindsay Lohan, inaugurou no Chiado a sua primeira loja própria no mercado português. Nos últimos cinco anos, apenas era possível encontrar esta marca em lojas multimarca ou na loja de Outlet no Freeport em Alcochete. O Chiado foi a localização eleita, pela sua magia histórica e movimento. Fornarina é um projecto ambicioso que promete responder às necessidades daqueles para quem cada pormenor ou adorno importa. Eclética e descontraída, é uma marca de denim que aposta na qualidade e silhueta das peças. Ícone no mercado da moda, este laboratório de experiências do grupo Fornari, destaca-se pelas cores fortes e vibrantes e conta com o apoio de caras conhecidas internacionais, como a cantora Katty Perry e a top model dos anos 90 Amber Valleta. A nível nacional, as actrizes Sofia Ribeiro, Maya Booth e Jessica Athayde e a apresentadora da TVI Leonor Poeiras deram a cara pela marca na apresentação do novo espaço, em Janeiro deste ano. A loja presenteia os fashionistas com diferentes estilos, desde o mais desportivo, passando pelo chic até ao mais clássico. Sem dúvida um local a constar no roteiro de compras lisboeta. Fornarina, Lg. do Chiado, 13, Lisboa

79 – Parq Here


marina & the diamonds

nuno ramos

p. 34

p. 42

There’s a new star on the Brit-pop scene. Marina & The Diamonds bring us a new style of music textured by a powerful voice, howling, falsetto and slightly crazed. Music with all the sparkle of a precious stone.

Artist and writer, Nuno Ramos was the winner of the 7th Edition of the Portugal Telecom prize for literature, with his book “O”, due to be published by Cotovia in March. This 49 year old from São Paulo is an acclaimed international artist whose career in the art world has somewhat overshadowed his literary aspirations, despite the fact that he has long had a self-professed love of merging different art forms. He has worked both on his own and in collaboration with other artists such as Gal Costa (for whom he has written song lyrics), Rômulo Fróes and Mariana Aydar, as well as directing four short films. His book, “O” is - like its author - difficult to pigeonhole, but perhaps can be seen as pertaining to that category of books aimed towards helping us better understand the world around us. Halfway between essay and poetry, “O” has a unique voice which urgently wants to speak to us of the widest, most varied subjects.

To tell the truth, Marina & the Diamonds is made up solely of Marina Diamandis, the lively vocalist born in Abergavenny, Wales. The Diamonds of the title refer affectionately to her fans. Based in London, she produces an extraordinary style of music which fluctuates between ballads, stripped of all effects, returning back to basics with only piano and voice, and a more new wave style, powerful, magnetic, campy and theatrical, which isn’t too excessive considering her Greek pedigree. Her voice, with its hot, dark timbre has something – at times - vaguely reminiscent of the voice of Kate Bush, Tori Amos or Lene Lovich, and she sings in a way which is difficult to describe, with melodic, shrill shrieks contrasting with something deeper, more guttural. It is a very individual way of singing, which strikes us with its sheer oddness, and the way she seems to have so many facets as a singer, sometimes defiant, yet in other moments sweet and vulnerable. Often compared to big names such as Little Boots, La Roux or Kate Nash, Marina & The Diamonds are exploring new avenues. She distances herself from her sweeter contemporaries with a more daring format, while still retaining enough contagious energy and wildness to hit the top of the charts yet still reach an indie audience. She should be judged by her ability to create tracks pulsating with life, which are intelligent, powerful and also deeply moving. The first release was Obsessions, an orchestral pop theme, which was extremely well received in all quarters, a serene, intimate rhythm which gains force as she sings of fragility, fear and unhappiness in love. Next came the eccentric and breathless Mowgli’s Road, with keyboards and unruly drums punctuated by cuckoo calls, energetic beats and tribal percussion. Then there is the incredible I Am Not a Robot, intelligently exploring her own vulnerability without slipping into cliché, and accompanied by a beautiful video shot by fashion photographer Rankin and directed by Chris Cottam, with Marina painted with glitter, a frothy pop song full of vibrato. Simplify is more mature and amply demonstrates her versatility and vocal power. All are included on the Crown Jewels EP. There’s no doubt that Marina Diamandis is a one woman show, with all the exuberance of the band focused on her. The warmth and power of her voice resonates, the Glam nuances, shooting off diamonds in all directions, even on her more commercial songs such as Hollywood, which is the first single taken off the anxiously awaited album The Family Jewels which promises to shine this month of February. This debut is expected to be as versatile and kaleidoscopic as the singer herself.

Did you turn to literature because the visual arts, the area in which you have attained most visibility, seemed limited in some way for expressing your creativity? No, I don’t think I had any type of crisis as a practitioner of the visual arts. In fact, it was quite the opposite. When I was an adolescent, I always thought of being a writer, and was constantly feeling dissatisfied. In a way, when I was about twenty years old, I always felt I had a certain talent with words, but didn’t feel that literature itself was my vocation. I think my teenage years – and post-teenage years – were anxious times because of this. My contact with the art world put me firmly in the material world, something other, outside of myself, a world which had weight, colour and consistency, which fell, rotted, stood proud and caused accidents. It was this outward impulse towards external matter which attracted me to the fine arts in the first place. In a way, I think I went back to writing partly because of these experiences with corporeality, the attribution of physical qualities to an impulse which comes from thought. When were your first texts published? I thought that some of them popped up in the exhibition catalogues which you published? When did you first feel an urge to show your writing? My first book was “Cujo” in 1992. Before this I used to publish in magazines and catalogues. I also used some passages from “Cujo” as part of sculptures and installations of mine. To then publish them was a natural next step. I am very anxious about exhibiting my artwork, oddly less so about actually publishing, but nevertheless have been doing both for quite a while. The important thing for me is not to let these things fuse neither too much nor too little. I want to maintain a literary voice which isn’t automatically relevant for the visual arts. Even when I write for a visual arts piece (as in, for example, “Série Fala”, a series of nine installations with loudspeakers, and texts spoken by actors, a kind of fine art drama), I aim for a more automaton voice, something self-sufficient. However close they may seem, the plastic arts and literature are worlds apart. Do you have two different audiences, two distinct circles of friends; artists and writers? I think the people who I’m closest to follow both. However, I can say that Brazilian literature, after a 50 year golden age (between the first phase of modernism at the beginning of the 1920s and the middle of the 1970s) lost its way a little, and has been trying to recuperate some of it’s force and coherence ever since. The plastic arts, on the other hand, still seem to be flourishing, with great young artists, the nucleus of which is not

80 – Parq Here | English Version

particularly well-known. It is still something of a buried treasure. They are both in very different phases and, for me, having a foot in each is rather odd. Perhaps, unlike the fine arts, for which Brazil is renowned internationally, Brazilian Literature is a relatively unknown quantity? I have to confess, I wouldn’t really know how to assess this properly, but they both seem to be a part of very distinct scenarios. I think art exploded all over the world as from the end of the 1980s, beginning of the 1990s, generating unprecedented values and hence a certain internationalisation of art production. This happened in Brazil but also in other countries too, via Art Fairs, Biennales, large scale exhibitions etc. I can’t be absolutely certain that something similar didn’t happen in the publishing world, but as far as I know, I don’t think it did. Was it a surprise to you when you won a literary prize with “O”, a book which mixes up various literary genres which could be interpreted as a compendium of free thought? A complete surprise. The book is a bit unusual, and to be nominated was already a prize for me. It made me very, very happy. To win a prize which you are expecting must be the most boring thing in the world. You were up against some pretty heavyweight names, such as Miguel Lobo Antunes. Did this intimidate you or did you just go with the flow? I don’t think I really thought about it, to be honest How would you define this, your third book? It is made up of essays, fake essays, about all manner of things, randomly triggering things like a mobile, with poetic prose, italics, and the voice detaching itself from the subjects at hand and attempting to show itself. Without wanting to force things too much, I see the book as a long poem. The language is constantly in gestation, undefined, ready to attack, which seems to me to be a characteristic of poetry This question of the limits of genres seems to be an obstacle to perhaps where you’d like to be. Do you enjoy being on the borders of hybrid zones? Actually, I need genres as a kind of obstacle for me, like a moth bashing against a window. In my more plastic work, it’s the same. I like the outline of the genre in order to deny and dribble around but invariably come back to. In a way, the original format (short story, essay, painting, drawing, installation) gives me the basic impulse which afterwards I erase and betray. Does the fact that you are a well-known artist, an award-winning writer, involved in the music scene and admired by actors, make you a kind of “complete” artist, a modern-day da Vinci? It would be nice, but I don’t think so. The magic in Leonardo is that there is no impediment between what is and what appears to be, between illusion and knowledge, Art and Science, which obviously doesn’t really happen to anyone nowadays. My work is one of many, which I try to do as best as I can in the current world crisis, with its illusion of power and with the extreme changes at play in our lives. I think I try to feed on the wreckage of the world, like a child playing after an air raid. The attraction for this wide variety of genres comes not from an urge for totality (with Art reuniting everything, as in the work of Leonardo and, up to a point, in the work of Bueys), but from the forsaken fragment seeking a connection. I know you have written songs for Gal Costa and that you have an interest in Brazilian music. Tell us about your relationship with music. I write songs with a friend of mine who is also my studio assistant, Rômulo Froes, and also another artist, Eduardo Climashauska. The albums of Rômulo Froes have quite a few songs of mine, collaborations, or ones I wrote alone. As I became a visual artist quite late, coming from other spheres of activity (like literature), I later went back and wrote songs when I was working as an artist and ended up with this idea that you can somehow flit from one genre to another, and that what the result lacks in technique, it makes up for in aesthetic terms. The truth of the matter is that I play badly and sing even worse, but I enjoy composing and it now makes up a large part of my daily routine.


Is it an area you would like to explore more? I plan to continue, yes. Ruy de Castro in his book “Rio Carnaval de Fogo” tries to explain the history of Rio de Janeiro in terms of its music. Would you agree that it is an intrinsic part of Brazilian identity? I would, yes. Song is a way for Brazil to connect with itself, with the poor and disadvantaged declaring poetic verse, and with inequality to some extent silenced. It is the only truly democratic thing we have, a never-ending fountain – and there are a huge number of composers and unrecorded songs yet to be discovered, like archaeological sites awaiting excavation. The industry of culture hasn’t the strength to destroy this and it remains alive regardless. How do you organise your time, how do you manage to keep so many different activities on the go at the same time? I guess that – for you – the job of an artist must be so all-encompassing, that you have very little time left over at the end of it all for your other activities! My day to day life revolves around my work as a visual artist because, of course, it is how I truly earn my living. However, I always write in the morning. I’m naturally quite dispersed in my practical activities, I complain about this with my reading, for example, but to be honest you could say that almost everything I produce is the result of a hectic life in a noisy room. I’m quite used to it now. Would you say you’re quite a chaotic person? No. I have had the same friends for two hundred years, my children are grown up, I am in a long-standing marriage. I just try to do way too many things . On a day to day level, What disturbs you most as part of the creative process? My day to day life – like anyone’s - has tiny issues which occupy much more space than they really ought to, but what really worries me is getting the right number of things to do (exhibitions, texts, interviews, seminars), neither too few nor too many. I need enough demand, and it depresses me slightly if I don’t have commitments to meet. On the other hand, I know that too much demand destroys the particulars of each individual thing. Getting this balance (how many times do I have to say “yes” or “no”?) is really quite difficult. Various times you have referred to the idea of balance, between literature and art, professional life and artistic life, between yes and no. I wonder if you do actually have things under control? I don’t think “control” is a word I would use – ambivalence is more my type of word. I like to float between extremes, in a kind of watery doubt, which is thick enough for me to actually walk on. Perhaps this comes from my identification with contradictory extremes – like carnival and mourning. My work seems to contain opposites which are not always easy to conciliate. Once, in a retrospective exhibition, a curator in Bordeaux, after talking to me for a few hours and walking through various exhibition rooms, asked “who is the other artist?” He thought I had only done half of my own exhibition! In some of the installations of your visual art, the word is very present, either because you hear it in recorded form or it is written. Would your work be incomplete without the presence of the word? A substantial part of my work does not have the presence of the word, neither this nor proof of the word – those that I call “Quadros”, my relief paintings, which don’t have title or thematic memory. In these, the repertoire of form, while simple, is entirely autonomous. Most of what I do, though, is veering towards a plastic solution for the word – thus I like to write about a subject – for example – which interests me, and I try to surround it. Sometimes I am fascinated by something and I start to read about it, I go round in circles, draw and write notes, sentence fragments. Of course, I don’t try to directly link one thing to another, yet feel that my work comes into its own when I reach this point, and I reach a contamination between feeling and matter.

81 – Parq Here | English Version

bea nettles p. 52

In 1970, at Penland Art School, North Carolina, American artist Bea Nettles created the first ever tarot deck entirely made up of photographic images and this deck captures for us something of the atmosphere of a young, creative community at a pivotal time in American history. Astronomically, the Age of Aquarius is a wobble in the earth’s rotation every 2,160 years. However, historically, the Age of Aquarius for most of us is those few years in the late 1960s and early 1970s when all things “occultly marvellous” as Theodore Roszak, counterculture historian called it, exploded in popular culture, especially music. In these few years, pop culture saw an unprecedented mystical revival flourish. Cult Magus Aleister Crowley appeared on the cover of The Beatles’ Sergeant Pepper’s Lonely Heartsclub Band, alongside Edgar Allen Poe and Carl Jung. Eastern gurus such as Sri Mahavatara Babaji and Paramhansa Yogananda became cultural references for many and astral travel, the I-Ching, tarot cards and the third eye became the height of fashion. The same year that The Beatles launched their seminal album, American artist Bea Nettles entered Penland Art School as a printmaking student. While there, surrounded by artists and (as she told us) “people with long hair who bought their clothes in thrift stores”, and with the Vietnam War at its height, she discovered photography and became unofficial artist in residence. In the summer of 1970, she bought a black taffeta dress with white stars and in a dream that night, came up with the idea of recreating the tarot archetypes using the medium of photography. She was 23 years old and worked on the project for the following 5 years, photographing in landscape settings of Penland, using fellow artists, friends, colleagues and family as models. A weaving teacher with long flowing hair doubled up as the Moon, a ceramicist posed naked for the Star, and she photographed herself in the taffeta dress as the Queen of Pentacles. This was years before digital photography and photoshop had even been imagined and all the images were composed manually, with some cards made up of 5 negatives superimposed to give certain magical effects of things flying or suspended on clouds. In some cases negatives were retouched or the photographic prints were painted. She created the first ever entirely photographic tarot deck which captures for us something of the flourishing artistic community of the time around a traditional art school in North Carolina.

Art photography at the time was almost entirely black and white, small scale, with a lot of emphasis on 35mm "street photography." She studied with the photographers Robert Fichter and Jerry Uelsmann at the University of Florida, as an undergraduate, both of whom were very experimental in their approach, and her and her contemporaries were beginning to take an interest in Warhol’s iconic images of celebrities and Pop Art. However, at the time, Bea was more interested in the narrative photography of Lucas Samaras. Her teacher, Uelsmann taught the darkroom techniques of using multiple negatives, or blends, which she used to produce these images. From Fichter, she realized that she could paint on photographs and negatives to get certain effects, images which may seem rudimentary to us now, but which at the time were new and experimental. The Mountain Dream Tarot was an opportunity to experiment with these different mediums. As she told us; “if you needed an eagle in an image, you had to find an eagle to photograph...the same was true with flames, water, boats, swords, and all of the other props. I worked in standard black and white darkrooms and shot the images with my medium format Yashica D camera, processed the film, and printed either in Penland's darkroom or my own. The photographic prints were then hand coloured and/or painted onto. The cards in the original deck were machine-stitched between 2 sheets of frosted mylar.” The Mountain Dream Tarot was first printed in 1975, in Rochester, New York State. Only 800 copies were made, with Bea helping to assemble them all, gluing labels and boxing them up. Many decks were given away to friends and models and by the end of the 1970s, few were left. Some years later, it was included in Stuart Kaplan’s Encyclopaedia of Tarot, deemed historically significant for being the first ever photographic treatment of all cards in a genre which had been in existence for over 500 years. It became highly collectible and in 2001 was republished. The passing of time has not dated these images, which appear to us more and more haunting, more magical with each passing year. We are transported back to an idyllic artistic community, with art school friends acting out tarot archetypes, the Vietnam War happening elsewhere, the American art scene in upheaval and a way of working with photography which appears to have vanished forever.


diapositivo

O Amor é Fodido

Crónica de Claúdia Matos Silva ilustração de vanessa teodoro [www.thesupervan.com]

—Exclamou! Para aligeirar o ambiente pesado, constatei: —Curioso, esse é o título de um livro do Miguel Esteves Cardoso. O Rodrigo olhou para mim de soslaio e num ápice li tudo o que lhe passava pela cabeça e não se atrevera a dizer. —Ah, não sabia - Afirmou. Conheciamo-nos desde sempre e desde essa altura servia de "saco de pancada" a todas as suas fúrias existenciais. Ao longo de anos a fio ouvira todas as suas lamúrias e do alto da minha sensatez desenhava-lhe os possiveis caminhos para chegar ao objectivo maior, ser feliz. Se pensam que o Rodrigo recorria aos meus conselhos, desenganem-se. Adorava ouvi-los e achava-os extremamente inteligentes, por fim, fazia sempre tudo à sua maneira. Com aquele jeito desastrado, usava do riso dócil como fórmula do eterno perdão pelas suas más decisões. Na sua cabeça tinha 18 anos. Continuava a ouvir Xutos e Pontapés como se fosse a primeira vez e só não andava de cabelo comprido porque não podia fugir ao veredicto dos espelhos - a calvice - e parecer-se com o Michael Bolton dos anos 80/90 não era "cool" para a sua reputação de guitarrista virtuoso da Brandoa. A chegar à casa dos quartenta via-se a braços com uma dúvida - já mal conseguia viver com as rotinas da Carlota, mas imaginar a vida sem ela, parecia-lhe inconcebivel. A questão tornara-se premente com o surgimento de Marlene, que em pouco tempo se tornou a sua fã número um. Se em palco a bela loira fazia-o sentir-se o "Rei do Rock" em casa com a trigueira Carlota era um autêntico "Lord".

82 – Parq Here

Passaram três anos e eu via-me no mesmo café, a olhar em silêncio para um Rodrigo que me expunha os prós e contras de cada uma das mulheres. Que mal teria feito a Deus para continuar a ouvir - sem mudar sequer uma vírgula - a mesma treta, os mesmos argumentos e as desculpas que supostamente legitimavam a farsa em que vivia. Mas naquele dia, Rodrigo trouxe um novo elemento para a mesa; os bifes da Carlota. A doce trigueira, convicta vegetariana, nunca se negou a cozinhar belos nacos de carne para o seu companheiro. Era uma prova de amor que nenhuma loira "podre de boa" poderia suplantar, concluia. —Tens ai a resposta. - Afirmei. É intrigante mas o Rodrigo deu-me ouvidos. —Homessa?! - Espantam-se! Não se espantem, é que desta vez eu disse o ele queria ouvir. O que a Marlene não sabe é que tem aqui uma amiga para a vida. Poupei-a a um idiota chapado, o meu bom amigo Rodrigo. Não seria justo condená-la a um tipo que não conhece o magnífico livro do MEC ( Miguel Esteves Cardoso) - que em plenos anos 90, mais de 20 anos depois da queda da ditadura em Portugal - vê o seu livro retirado das montras das livrarias porque o título era um atentado ao pudor. Ora um verdadeiro atentado foi escutar a história deste Rodrigo, que será comum a tantos outros, que vive num mundo livre com a possibilidade de escolher e que infelizmente não tem maturidade para exercer o seu direito ao voto e ser finalmente feliz.



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