A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

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escravos. No entanto, percebemos, além desta busca de autonomia, a não absorção desta mão-de-obra, encarada como desqualificada para o novo trabalho industrial - por ser exescrava -, e o preconceito existente em relação ao mito do escravo indolente e indisciplinado. Roberto Moura (1983, p. 12) contempla esse assunto com a seguinte visão: A intensa imigração de operários europeus que ocorre no período não vinha atender às necessidades internas de mão-de-obra, já que esta era abundante, se justificando não só pelas vantagens técnicas que os estrangeiros ofereciam as nossas primeiras indústrias – que não investiriam no treinamento de trabalhadores nacionais – mas principalmente pelas ideologias raciais que suportavam os grandes investimentos do Estado, que via o imigrante como agente culturalmente civilizador e racialmente regenerador de um Brasil idealizado por suas modernas classes superiores.

E ainda segundo ele, “A ruptura determinada pela Abolição, [...] não ofereceria para a maior parte dos negros alternativas para a reordenação de suas vidas a partir de sua nova posição social, a não ser aquelas por eles mesmos construídas[...]” (MOURA, 1983, p. 12) Concordamos com estas afirmações porque elas dão conta dos aspectos que envolviam a população de origem escrava e mestiça e que faziam-na mergulhar em uma complexa rede de controle, na qual lhe era cobrado o trabalho regular e disciplinado, para que pudessem se encaixar nos padrões sociais desejados - domicílio certo, família pautada nos padrões higiênicos, etc. - ao mesmo tempo em que o sistema social não lhe permitia a obtenção deste trabalho e o estabelecimento de condições mínimas de sobrevivência. Neste contexto, vemos a manutenção de algumas práticas escravas que ajudaram essa população a sobreviver neste sistema desfavorável, tecendo teias de solidariedade entre a nova classe trabalhadora no período pós-abolição. No caso específico do Rio de Janeiro, no início do século, os mecanismos de controle e opressão jurídica aos desempregados, vadios, prostitutas e toda ordem de marginalizados funcionavam em grande escala, haja vista o próprio código penal de 1890. Além da repressão policial, outros procedimentos foram tomados no intuito de limpar a cidade da presença das indesejáveis figuras que representavam o atraso da Nação. De acordo com Maria Ângela B. Salvadori (1990, pp. 41–42): A questão sanitária foi amplamente discutida no fim do século passado (séc. XIX), levantando a necessidade de sanear as moradias populares e erradicar as epidemias, também associadas imediatamente à pobreza. Os discursos jurídicos identificavam a vadiagem à população pobre carioca, especialmente aos negros, nos discursos médicos e nas falas de higienistas, a pobreza era

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