A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

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Outro autor que tratou do assunto foi Manoel Querino (apud PIRES, 1996, p. 195), que estudou as manifestações das culturas africanas no Brasil. Querino era profundo conhecedor da cultura negra no estado da Bahia e atribuía aos negros angolas a introdução da Capoeira no país. Em Pires (1996, p. 195), existe uma discussão mais aprofundada sobre a classificação usada por Querino para designar as diferenças culturais entre as etnias africanas, já que o referido autor acaba por reduzir equivocadamente os negros embarcados no antigo porto de Angola como pertencentes a essa região. É importante notar que esses três autores citados possuíam diferentes linhas de pensamento. O primeiro deles, Sílvio Romero, tinha como princípio as teorias ligadas às linhas biologizantes que naturalizavam a cultura dos negros. Se contextualizarmos este autor, compreenderemos que no final do século XIX as teorias a respeito da inferioridade da raça negra em detrimento da branca estavam fervilhando, justificando essa tendência. 8 Manoel Querino, apesar de ser classificado como culturalista, deixa transparecer em suas análises resíduos da linha biologizante, uma vez que expressa diferenças entre as raças, julgando-as através de suas culturas. Câmara Cascudo já tinha como pressuposto a linha de pensamento folclorizante da Capoeira. Essa, por sua vez, teve como seu precursor o intelectual Edson Carneiro, que partiu de um referencial africano para folclorizar a Capoeira dentro do contexto de cultura africana. Esses intelectuais a colocam primordialmente como divertimento, jogo atlético, dança, mas principalmente como uma manifestação cultural negra nacional que deveria ser preservada como parte das raízes sócio-culturais brasileiras. De acordo com Pires, que analisa todo o quadro de raciocínio desses estudiosos defensores da origem africana da capoeira, percebemos que [...] na perspectiva desses intelectuais, a capoeira precisa da cor da pele dos africanos como forma valorizativa dos negros no Brasil. Por outro lado, as condições de alimentação, saúde, educação e ocupação da população negra foram temas que estiveram longe das penas dos intelectuais da primeira metade do século XX. Em compensação, os negros receberam símbolos culturais que nem sempre correspondem às suas práticas. Aos olhos desses intelectuais, os negros foram valorizados com a introdução do conceito de ‘cultura negra’ no processo de construção de uma cultura nacional (PIRES, 1996, p. 197).

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Para saber mais sobre as teorias de inferioridade da raça negra, pode-se recorrer a AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 76.

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