A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

Page 208

Dessa forma, Nestor Capoeira retoma a discussão sobre esse tema e, se baseando nos estudos de Muniz Sodré (apud CAPOEIRA, 1992, p. 17), considera [...] que a questão do começo é um falso problema – na capoeira e em geral. O importante não é o começo – a data histórica não tem tanto interesse assim -, mas sim o princípio: quais as condições que a geraram e o que a mantém em expansão. Isto é: o conjunto de condições e circunstâncias históricas e culturais para que aquele jogo tenha se expandido. No caso da capoeira, o começo é brasileiro, mas o princípio – tanto o fundamento, a historicidade, quanto o mito – é africano.

Esta definição é extremamente elucidativa para a compreensão desse tema e demonstra a articulação do autor com relação ao trato das questões inerentes à Capoeira. Sendo assim, ele defenderá a origem brasileira para essa manifestação e prosseguirá sua abordagem sobre seu histórico se valendo dos trabalhos e diálogos travados entre ele e os estudiosos Jair Moura33, Júlio César de Souza Tavares34 e Muniz Sodré35. Vemos assim que existe um outro mote seguido neste livro, pois ocorre a aproximação do meio capoeirístico, ou pelo menos deste mestre, com a produção acadêmica/universitária, para buscar subsídios na compreensão do fenômeno Capoeira. Este processo é iniciado porque começa a ser oferecido ao público, a partir de 1987, uma série de novos estudos relativos aos negros e à escravidão, aumentando, consequentemente, os dados sobre a Capoeira. Dessa maneira, passa-se a questionar as informações antes difundidas pela tradição oral e, até então, única fonte de conhecimento acessível aos capoeiristas. Embasado nos novos dados, a abordagem histórica realizada por Nestor Capoeira (1992) é dividida em: “A escravidão”, “Bate-papo com Muniz Sodré: 1810 a 1830, uma guinada histórica”, “Bate-papo com Júlio César: 1830 a 1888, o auge da repressão”, “A marginalidade” e “As academias”. Entretanto, todas as informações obtidas pelo autor são passadas em um tom de informalidade, buscando atingir o maior público possível. Isso não significa dizer que ele deixa de lado questões complexas, como a dinâmica cultural escrava no Rio de Janeiro ou a reinvenção da tradição dessa manifestação cultural, em Salvador, na década de 1930. 33

O autor refere-se a conversas informais realizadas com Jair Moura e à obra “Capoeira, Luta Regional Baiana” deste estudioso, publicada em 1979, nos Cadernos de Cultura da Prefeitura Municipal de Salvador. 34 O trabalho utilizado na obra de Nestor Capoeira é TAVARES, Júlio César. Dança da Guerra: ArquivoArma. 1984. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade de Brasília (UnB).

196


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.