A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

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mudanças podem ser vistas por dois ângulos: o primeiro é “de dentro pra fora”8, ou seja, pelo olhar daqueles que pertenceram (e pertencem) ao campo de atuação dessa área e que viveram (e ainda vivem) intensamente suas transformações. O outro diz respeito ao processo no qual essas mudanças estavam inseridas pelo olhar “de fora pra dentro”, ou melhor, a conjuntura na qual a sociedade estava inserida nessa época, realizando assim a interpretação dialética dos acontecimentos desses últimos anos. Entretanto, apesar de tantas mudanças implementadas na área, percebe-se que os paradigmas ligados à aptidão física não sofreram alterações significativas em seu conteúdo. Os antigos Corpos Produtivos, incentivados por uma política de adestramento para a indústria brasileira, nascida no regime do Estado Novo, passam a ceder lugar a um novo tipo de corpo, pautado nas necessidades do mercado - que se transformou com o passar dos anos. Essa nova concepção de corpo acompanhou o aprimoramento da indústria que se automatizou, nas décadas de 1970 e 1980, e ampliou sua produção, necessitando de consumidores para seus produtos. Podemos dizer, de maneira simplista, que a sociedade construída a partir da década de 1970 é aquela sintonizada com o consumo de bens materiais, dando ênfase ao livre comércio de mercadorias e desembocando na atual conjuntura política-econômica, já discutida no primeiro capítulo. Pois bem, a Educação Física não poderia deixar de sofrer as repercussões dessa transformação que, através de sua ala conservadora, adere às novas regras estabelecidas pelo mercado. Dessa maneira, vemos surgir em seu bojo práticas que irão desencadear no que chamamos “a produção de corpos mercador e mercadoria”, se caracterizando como [...] corpos que duplamente se mercantilizam, seja como porta-vozes da indústria cultural corporal, assumindo o papel de camelô vendendo – através do mote da atividade física enquanto elemento de saúde – ‘Taffmam-e’, ‘Vitassay’, ‘Gatorade’, ‘Topper’, ‘Rainha’, ‘Penalty’, ‘Adidas”, [...], seja revestindo-se ele mesmo da condição de mercadoria, reificando-se [...] (CASTELLANI FILHO, 1993)

Assim, percebemos que, apesar das mudanças, a Educação Física ainda permanecia “a mesma”, ou seja, em parte sintonizada com aqueles que detinham o poder e defendiam

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Esta interpretação das mudanças ocorridas na Educação Física, a partir da década de 1980, é realizada no artigo de CASTELLANI FILHO, Lino. Pelos meandros da educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.14, n. 3, maio/1993. Nele, o autor se vale de um processo de análise complementar e dialético pelo qual nos mostra as transformações ocorridas na sociedade (de fora pra dentro) e na Educação Física (de dentro pra fora).

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