A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

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Outro ponto que nos chama a atenção é o de relacionar a alegria e o gosto pela festa ao tipo de escravo que, a princípio, foi o “inventor” da Capoeira. Daí, imaginamos que o caráter de manifestação lúdica esteve ligado à sua expressão, principalmente às enumeradas por Manoel Querino e Édison Carneiro nas obras citadas por Marinho (1945), que fazem menção aos costumes dos negros escravos na Bahia de outrora. Afirmando que a Capoeira tivera suas origens com os escravos angolanos e que fora aprimorada pelos mestiços/mulatos, o autor passa a detalhar algumas características relativas aos capoeiras do tempo do Império, da Primeira República e do início do século XX, sempre pautado na bibliografia estudada. Por conta da diversidade das obras, nos é mostrada a configuração da capoeiragem em três localidades diversas: no Rio de Janeiro, na Bahia e em Pernambuco. Apesar de realizar um trabalho detalhista na abordagem histórica, seu estudo tinha como pressuposto principal apontar que, por ser uma prática de origem brasileira, a Capoeira deveria servir aos propósitos nacionais, que eram o desenvolvimento de um método de defesa nacional que servisse para fortalecer o físico e o caráter do homem brasileiro, dado que naquele período não se cogitava a participação feminina na Capoeira. No segundo e terceiro capítulos, ele se valeu de crônicas sobre os costumes dos capoeiras nas três cidades apontadas acima - Rio de Janeiro, Salvador e Recife -, para retratar as abordagens sobre o tema. Lançando mão de autores como Luiz Edmundo106 e Mário Sette107 e de material literário como Memórias de um Sargento de Milícias, Casa de Belchior, O Cortiço e Poemas e Canções108, ele procurou demonstrar como os historiadores e literatos enxergaram a Capoeira. No entanto, com relação à análise desse material, percebemos que ele se limitou a transcrever aqueles que, de alguma forma, mencionavam a Capoeira mas se eximiam de manifestar qualquer opinião a respeito, e repetiu o mesmo procedimento por ocasião das obras relativas à educação física que trataram do tema, como o livro Educação Física Japonesa, de Irving Hancock, traduzido por Santos Porto (apud

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Inezil Penna Marinho (1945, pp. 33 e 45) cita as seguintes obras de Luiz Edmundo: O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-reis e O Rio de Janeiro do meu tempo. 107 A crônica citada de Mário Sette (apud MARINHO, 1945, p. 42) é “Os Brabos”. 108 As obras literárias citadas pelo autor encontram-se no Capítulo III – A influência da capoeiragem na literatura nacional In MARINHO, I. Subsídios para o estudo da metodologia do treinamento da capoeiragem. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945, pp. 73 - 85.

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