A Educação Física Na Roda De Capoeira... Entre A Tradição E A Globalização - Paula Cristina D

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de Palmares), sobre seus costumes no país – obras e ensaios de Ribeyrolles, Debret103, Manoel Querino104, Édison Carneiro105 –, as abordagens relativas ao Período Imperial – escritos de O. Lima (apud MARINHO, 1945, p. 20) - e aquelas relativas ao início da primeira república – Assis Cintra (apud MARINHO, 1945, pp. 25 – 27 e 66). Diante de todo esse apanhado bibliográfico, Inezil Penna Marinho buscou traçar um panorama do percurso dos negros angolanos no Brasil, os quais ele supunha serem os inventores desta prática em solo brasileiro, e atribuiu a eles a organização das fugas dos trabalhos braçais na monocultura canavieira e a organização dos quilombos, notadamente o Quilombo dos Palmares. O autor, pautado nas observações de Manoel Querino, concordava que somente esses tinham as características extrínsecas para a produção desta manifestação cultural. Dizia que [...] Eles tinham defeitos que não são comuns aos outros africanos, mas muito freqüentes nos nossos crioulos e mestiços. Os Angolas eram conhecidos por loquazes, imaginosos, indolentes e insolentes, sem persistência para o trabalho, férteis em recursos e manhas, mas sem sinceridade nas coisas, muito fáceis de conduzir pelo temor aos castigos, e ainda mais pela alegria de uma festa, mas também voltando as costas ao receio, desde que ele não estava iminente, pouco cuidadosos da responsabilidade que se lhes confiava, entusiasmando-se por qualquer assunto e fazendo chacota dele pouco depois, mostrando ter grande predileção pelo que é reluzente e ornamentado, como todos os povos de imaginação viva e ligeira (MARINHO, 1945, p. 15)

Observamos nestas afirmações que a figura dos escravos angolanos é ligada à do mestiço/crioulo brasileiro, o que reafirma a tendência da linha naturalista, adotada por Marinho quando sustenta que o tipo adequado para a prática da capoeiragem é o mulato. Dizia ele: “[...] Interessante é assinalar a forma por que os mestiços – mulatos – a assimilaram, conseguindo que alcançasse maior eficiência e se tornasse mais temida” (MARINHO, 1945, p. 7).

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As citações utilizadas são de C. Ribeyrolles e Debret e referem-se à superioridade da raça mestiça em detrimento da negra e da branca, reafirmando as idéias naturalistas nas quais Marinho se apoiava em sua obra. Elas encontram-se em Marinho (1945, p. 19). 104 Inezil Penna Marinho cita as seguintes obras de Manoel Querino: A Bahia de Outrora e Costumes africanos no Brasil, para tratar especificamente da origem da Capoeira e de sua prática na Bahia nos séculos XIX e início do XX. Dados obtidos em Marinho (1945, pp. 31, 35, 36, 38 - 41 e 62 – 64). 105 As obras de Édison Carneiro são Religiões Negras e Negros Bantús e foram utilizadas por Marinho (1945, pp. 14, 15, 35 e 42).

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