Parahyba 02

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NESTA EDIÇÃO

3 Histórias da Antena Juliana Ramos e Mateus Lira 8 Praça no Lajeado

SIAA

12 Atlas ambulante II

Fabrício Ferreira e Renata Marquez

19 Espaço público cotidiano Lígia Milagres 26 Luz no Grajaú Daniel de Paula 27 O concreto arado Emmanuel Almada, Lídia Morais, Maura Coutinho 32 Gambiarra

Flora Rajão

33 Camiones, contenedores y colectivos Santiago Cirugeda 40 Inteligencia colectiva

Inteligencias Colectivas

46 O que o povão usa Douglas Carlos 52 Atlas da diversidade Antonio Yemail, Francisca Caporali, Juliana Torres, Natacha Rena 60 Escuela Nueva Esperanza Al Borde

Espaço aberto, horizontal e multidisciplinar de discussões sobre a cidade. número 02 / março de 2012 ISSN número 2237-1885 www.editorialpet.wordpress.com Editores: Felipe Carnevalli, Jéssica Passos, Vítor Lagoeiro Conselho editorial: Editorial PET e Diogo Carvalho Revisão: Gustavo Nascimento, Laura Lopes Projeto gráfico: Felipe Carnevalli, Jéssica Passos, Luiz Gustavo Pataro, Luiza Silva, Marcela Figueiredo e Vítor Lagoeiro Colaboradores: Al Borde, Antonio Yemail, Daniel Mendes, Débora Caetano, Douglas Carlos, Emmanuel Almeida, Fabrício Ferreira, Flora Rajão, Francisca Caporali, Los Hidrológico, Inteligencias Colectivas, Júlia Guadix, Juliana Ramos, Juliana Torres, Lídia Morais, Lígia Milagres, Luiza Magalhães, Mariana Maia, Maura Coutinho, Natacha Rena, Núria Manresa, Pedro Henrique Silva, Raquel Prado, Renata Marquez, Santiago Cirugeda, Shundi Iwamizu, Thiago Fontes Editorial PET: Anielle Freitas, Celina Borges, Felipe Carnevalli, Gabriel Braga, Jéssica Passos, Júlia Birchal, Juliana Lima, Lívia Morais, Luiz Gustavo Pataro, Luiza Silva, Marcela Figueiredo, Marcelo Azarias, Matheus Cardoso, Pedro Flora, Pedro Igor, Renato Brandão, Vítor Lagoeiro, Ulisses Mattos Capa: Luciana Brandão Agradecimentos: Al Borde, Diretório Acadêmico da Escola de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFMG

69 Bate-papo com Oficina Informal

Todo o conteúdo é de responsabilidade única de seus autores e não reflete necessariamente a opinião da revista.

72 Malhas globais, inventos locais

editorialpet@gmail.com

Pedro Henrique Silva, Luiza Magalhães

El Jarillón - Acciones en red sobre el agua Los Hidrológicos

Para anunciar ou enviar material, entre em contato por e-mail PET Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba, 697, Sala 414B Escola de Arquitetura UFMG Belo Horizonte, MG Brasil

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CARTA DO EDITORIAL Os vislumbramentos de modernização e progresso no Brasil culminaram em um modelo importado às pressas de industrialização, de produção do espaço urbano e, de forma mais abrangente, da construção do conhecimento científico. Alheios a essa postura, existem alternativas de produção de saberes que, impulsionados por uma escassez de recursos, podem resultar em soluções geniais e inusitadas para problemas do cotidiano. O que falta é apenas o merecido olhar de reconhecimento daqueles que já se acostumaram com o óbvio. Em um contexto de crescimento econômico nacional e de subsequentes intenções de integração da cidade informal à cidade formal, essas genialidades cotidianas se mostram cruciais para se pensar a cidade emergente. Não se trata de abandonar o conhecimento exógeno nos processos de transformação do espaço urbano, mas sim de propor uma reflexão sobre a possibilidade de se considerar, em detrimento da política da tabula rasa, os saberes, as tecnologias e cultura locais já existentes nesse contexto que se transforma. É exatamente o olhar sobre essas inventividades corriqueiras que buscamos compartilhar nesta edição, uma maneira de mostrar a potência de ações singelas baseadas na vida habitual dos indivíduos. Os trabalhos a seguir demonstram também como tais soluções pontuais podem servir de ponto de partida para o planejamento de questões de maior escala, respondendo de forma satisfatória às demandas da contemporaneidade. Mais do que valorizar a espontaneidade da vida corriqueira, a segunda edição da Parahyba busca entender as genidalidades cotidianas como terreno fértil para a transformação do espaço urbano.

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HISTÓRIAS DA ANTENA Juliana Ramos e Mateus Lira Graduandos em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG Bolsistas de iniciação científica do grupo MOM (Morar de Outras Maneiras) mateusliramm@gmail.com / jujuvramos@gmail.com Belo Horizonte, MG

Quando eu cheguei aqui na Vila das Antenas não tinha nada, era tudo mato. Meu pai comprou o terreno com um cômodo construído a troco de um acordeon, de um senhor que morava lá no Conjunto e tinha o apelido de Zé Pisca Pisca. E não tinha documento não, dava era um recibo. Não tinha água, não tinha luz, não tinha esgoto. Tinha só uns barracõezinhos que dava pra contar quantos, todos de um cômodo, feitos de adobro e cobertos com sapê. A gente mesmo fazia o adobro: juntava água suja, pegava terra do terreno mesmo, misturava, amassava, colocava nas forminhas, batia o barro e depois ia tirando, fazendo os tijolos. Outras casas eram de lata: buscava essas latas de 20 litros, abria e ia pregando na madeira, fazendo a parede de lata mesmo. E daí ia aumentando a casa, fazendo os cômodos aos poucos. Mas a gente não mudava pra construir não, ficava construindo ali dentro. E era construído por tarefa, não era feito tudo de uma vez. Aproveitava dinheiro de férias, décimo terceiro. Ventava muito, porque os barracões eram poucos e não tinha nenhum prédio em volta. A gente chegava a ouvir o barulho do vento batendo na antena à noite, e a maioria dos barracões não aguentavam a chuva e o vento e caiam. Quase todo ano tinha que levantar as paredes de novo.

Essa narrativa foi elaborada a partir dos depoimentos de diversos moradores da Vila das Antenas, localizada no Morro das Pedras, em Belo Horizonte. Os relatos foram coletados em entrevistas, no contexto do projeto História em Construção, que é uma parceria entre o grupo de pesquisa MOM e os moradores da Vila. Para assistir ao vídeo, busque por “Vou me acabar aqui” no YouTube.com

Os caminhos eram uns trilhozinhos de terra, de uma largura que não passava duas pessoas junto. E quando chovia dava aquelas valetas de terra. Entre as casas tinha aquelas cerquinhas de bambu, com arame. Em alguns becos, quando morria uma pessoa que era velha no lugar, eles punham o beco com o nome da pessoa. Ali embaixo tem umas meninas que desceram por água abaixo, morreram, e o nome ficou beco Mara, que a Mara também desceu por água abaixo. E o outro morreu também então pôs o nome beco Canudo. A água era buscada longe, tinha que descer a pé até o córrego, lá embaixo na Vila São Domingos. Já pensou buscar lata d’água na cabeça? Às vezes até pagava os outros pra trazer pra mim. Quando tinha que lavar roupa, fazia uma trouxa com as roupas sujas pra levar na cabeça e as crianças levavam umas marmitinhas com a comida. A gente ficava

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lá embaixo até secar a roupa, pra ficar mais leve pra trazer de volta. E depois subia aquele morro todo com a lata cheia. Em casa a gente enchia o tambor d’água, e aos poucos ia usando pra lavar louça e tomar banho. Aí tinha um chuveiro de balde, que era o chuveiro da gente. Meu marido arrumou um balde, furou ele todo e arrumou uma tampa. A gente pendurava o chuveiro e na hora que você ia tomar banho, puxava a tampa e caía a água. A gente tomava banho nesse chuveiro mesmo. Aí a água acabava, um corria, e enchia o balde de novo. Aqui não tinha esgoto, então a gente abriu uma fossa. Mas a água suja que sobrava do banho e de lavar roupa a gente não jogava na fossa. Fazia uns regos dentro do lote e essa água descia lá pra baixo. Não era encanado, cavava com enxada e fazia o rego. O rego do vizinho de

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cima vinha e jogava no meu, que encontrava com o do outro mais em baixo, e ia descendo. Comida a gente comprava na venda do Seu Gastão ou do Seu Afonso, tudo no quilo: açúcar, arroz, macarrão. O leite no litro, querosene no litro. E cozinhava era com gordura de porco. Muita gente criava galinha e porco. Eu criei dois porcos, um casal. Do lado do meu serviço tinha um restaurante, eles me davam comida e eu trazia comida limpinha, a lavagem dos porcos. Dava banho neles todo dia, porque se não desse banho eles não dormiam. E criamos tanto amor que quando matou tivemos que repartir pelos vizinhos todos, porque ninguém aqui em casa teve coragem de comer. Depois disso eu não quis mais criar bicho.


No fundo da casa tinha abacate, laranja, bananeira, cana. Os meninos carregavam telha pra mim e eu pagava eles com cana. Tinha muita horta também. Em um pedacinho do terreiro eu plantava uns pés de couve, aquela couve que vira árvore. Tinha até que subir na escada pra pegar as folhas. E tinha tanto que dava para repartir entre os vizinhos. Fim de semana ia todo mundo pro campo de futebol. Cada vila do morro tinha o seu time. Lá no Pavilhão tinha o Pavilhão Esporte Clube, nós aqui da Antena, Antena Futebol Clube. Então fazia assim, um torneio. Dia das mães as mulheres jogavam futebol, as mães jogavam contra as mães. E quando não tinha jogo oficial, juntava aquela molecada, dez pra cada lado, e fazia a pelada, a “arranca unha”. Essa era a nossa diversão. Sempre tinha alguma festa junto com uma religiosidade. Todo mundo esperava o seu Hugo fazer a festa de Cosme e Damião, era uma festa muito bonita, juntava todo mundo pra ir. A Dodora fazia a festa de

queimar o boneco, a do Judas. Queimava o Judas na rua mesmo, perto do chafariz. Igual todo lugar tem, tinha um que tocava o cavaquinho, outro o violão, um que gostava de cantar. Então chegava um momento que eles reuniam e faziam um conjuntozinho. Chegava sábado e domingo juntava aquela turma de moça e rapaz, e a gente dançava a noite inteira. Lamparina acesa e todo mundo dançando, poeira subindo, e nem confusão tinha. A maioria dessas festas acabou, foi reduzindo a quase nada hoje. Festa junina ainda tem, mas não compara. Aos poucos foi chegando mais gente e a Vila foi crescendo. Muita gente aqui tinha parente no interior, que falava: “Essa roça tá ruim.” E os moradores daqui chamavam: “Vamo lá pra Belo Horizonte!” Aí dava um pedacinho do terreno pra algum parente construir. Outros vinham de outras vilas, porque tinham sido idenizados ou expulsos. E todo mundo daqui tinha uns pedacinhos grandes, com quintal. Aí chegava o pessoal de fora, dava um chorinho, e o dono do terreno vendia ou dava uma parte. Em outros casos o pessoal da Vila falava: “Aquele pedacinho ali não tem dono não.” E a pessoa vinha e fazia o barracão ali mesmo. Assim a Vila ia crescendo, os quintais e as hortas iam virando casa, os barracões iam aumentando. Antes da iluminação era lamparina, vela, lampião de gás, tudo isso eu usei. Aí depois os vizinhos foram puxando a luz, colocando poste e puxando. Um punha um relógio na casa dele, e da casa dele ele ia soltando os bicos pra todo mundo. Era aqueles postinhos de madeira, de pau mesmo, e saía fincando na rua e levando a luz da casa de um pro outro. E todo fim de mês a gente dividia as contas. Um dia um morador aqui conseguiu a luz na prefeitura, não sei como, e chegou pra gente e falou “Olha, vai trazer a luz, mas todo mundo vai ter que arredar a cerca.” Aí a gente foi diminuindo no quintal e abrindo a rua, alargando o beco. Tirava um um pedacinho: “Eu vou tirar um metro”, e o outro falava: “Eu vou tirar meio metro”, então foram aumentando. O primeiro lugar a ter água aqui na região foi o Conjunto Santa Maria.

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Eles falavam que não davam água pra gente porque eles tinham que pagar por essa água. Então, juntou o pessoal da Vila e entrou num acordo com o pessoal do Conjunto: “Vamos fazer o seguinte, vocês fazem um preço e a gente paga a água que a gente levar pra casa”. Um tempo depois o pessoal da Vila juntou de novo e começou a fazer manifestação. Juntava a turma toda, levavam panela pra rua, lata, batia na lata, batia na panela, gritando “queremos água”, aí vinha a reportagem. Então eles puseram um chafariz aqui na esquina. A fila virava pra pegar água, era uma brigaiada. E ali o povo buscava a água a noite toda, eu mesma buscava até uma hora da madrugada. Mas água encanada mesmo só depois da gente entrar com uma pressão na Copasa. Aí botaram água nuns tubozinhos e arrumaram os becos. Há um tempo atrás os vizinhos eram mais unidos. Antigamente parecia família. Nesse sentido de comunidade, naquele tempo tinha mais união do que agora. E a Vila diminuiu muito porque ela ia até pro lado de lá da Avenida. Onde tem os prédios agora era cheio de casinha, mas aí os ricos tomaram conta. Foi idenizando o povo e fazendo esses prédios. E eu acho que eles são doidos pra tirar essa Vila pra enfiar mais prédio aqui pra dentro. Eles tão só chegando, só crescendo o olho, o pessoal cheio da grana. E nós sabemos que aqui é um progresso muito grande, o valor imobiliário aqui também é muito grande. Porque no início eles chegaram aqui pixando as casas sem falar nada com a gente o que era, com o jaleco da prefeitura. Quer dizer, já pondo na cabeça da gente que a gente tá destinado a deixar aquele espaço que a gente tá morando. Quantos barracões eles tiraram aqui pra construir uma rua. E tá aí hoje aberto sem terminar a rua, essa bagunça toda, esse poeirão. A maioria dos moradores que morava aqui nesse beco, que hoje vai virar rua, a gente era praticamente família. Eles esperaram o povo vir e construir a favela pra depois acabar com o sossego do favelado. E parece que a intenção deles é levar todo mundo pro predinho. Mas se for pra eu sair da minha casa aqui pra ir pra esses predinhos aí, quero não. Porque o lugar melhor pra morar é esse lugar aqui. Eu não tenho vontade de sair daqui, não. Posso até mudar, mas contra o meu gosto. Eu acho que aqui, eu vou me acabar aqui.


Desde finales del 2010 hasta el presente, Colombia atraviesa por la que ha sido la mayor crisis ambiental de su historia. El invierno ha causado tragedias alrededor del país y ha dejado miles de afectados y damnificados. Por otro lado los reportes oficiales (y nuestra propia intiución) dan cuenta de que las alternaciones y emergencias invernales han llegado para quedarse. Dicho de otro modo, los fenomenos climáticos de lluvia y sequía son desde ahora aspectos de primera linea en la agenda política y económica del país y una plataforma común desde la que pensar su ordenamiento y crecimiento (o decrecimiento) futuro. Pero desde las perspectiva de unos ciudadanos de a pié, o para ser más especificos desde la practica profesional de un grupo de pequeños colectivos de arquitectos y artistas, quisieramos saber cual es el rol que nos corresponende en todo esto. O en el mismo sentido ¿Cómo podemos actualizar nuestra agenda critica, nuestra despensa o nuestro ropero? Para dar respuesta a estas preguntas, hemos seguido los titulares de los principales medios impresos del país como un hilo conductor que nos permitiera develear desde una visión critica el estado del país y sus perspectivas tras la tragedia; a cambio hemos obtenido un sin fin de nuevas preguntas que hemos compilado y graficado en el fanzine El Jarillón. Si usted es de aquellas personas que tiene las mismas preguntas o que quizas tenga la respuesta para alguna de ellas, puede contactarnos en loshidrilogicos@gmail.com.

Taller: ACCIONES EN RED SOBRE EL AGUA - Una reflexión a la ola invernal Proyecto: EL JARILLÓN – Ideas Impermeables / Autores: Los Hidrológicos / Organizador: Posiciones de Emergencia (Daniel Olarte, Santiago Buendía, Susana Eslava) / Co – Producción: La Agencia Ubicación: Bogotá - Colombia / Fecha: Mayo 2010 Directores Invitados: AL BORDE, David Barragán y Pascual Gangotena, Ecuador / OFICINA INFORMAL, Antonio Yemail, Colombia / Manuel Villa, Arquitecto, Colombia / Santiago Pradilla, Arquitecto, Colombia Participantes: Arquitectos: Felipe Rodriguez, Carlos Urrego, Santiago Buendía, Daniel Olarte, Juan Pablo Gaitán, Ana María Bustamante, Carlos Martinez, Andrea Salas / Diseñadora: María Angélica Rodríguez / Publicista: María José Mantilla / Economista: Alejandro Peña / Artista: Susana Eslava / Créditos Fotográficos: Carlos Urrego, Santiago Pynol, Antonio Yemail, AL BORDE http://issuu.com/loshidrologicos/docs/jarillonissue

páginas 07, 18, 51, 66, 67 e 73 desta revista


PRAÇA NO LAJEADO

SIAA - Shundi Iwamizu Arquitetos Associados siaa.arq.br siaa@siaa.arq.br São Paulo, SP

Em 2007, fomos convidados a participar da segunda edição do projeto desenvolvido pelo Instituto Sou da Paz para a reformulação de espaços públicos localizados em três diferentes bairros da periferia da Cidade de São Paulo: Lajeado, Brasilândia e Jardim Ângela, todos caracterizados pelo aumento dos índices de violência e pelo alto grau de pobreza. Quando iniciamos o projeto, a equipe de educadores do Instituto já trabalhava na área do Lajeado há mais de um ano para a escolha do local de intervenção, estudando as características do bairro e seus principais problemas, identificando os líderes da comunidade e também os grupos sem voz ativa. Como arquitetos, tivemos que repensar a maneira de explicitar nossas idéias e redefinir a própria noção de projeto, buscando aproximar uma prática pautada pela precisão do fazer e da técnica à vivência cotidiana da comunidade local e de suas reais necessidades. Mais do que transformar os precários espaços públicos em novas áreas de lazer e esporte para as comunidades locais, o objetivo do Instituto Sou da Paz era promover o encontro entre os diversos atores sociais da comunidade – até então desagregada – em torno de um objetivo comum.

Ficha técnica Data do projeto: 2007 Conclusão da obra: 2008

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Arquitetura: SIAA_ Anita Freire, Cesar Shundi Iwamizu, Geórgia Lobo, Guilherme Petrela, Marina Colonelli, Moracy Amaral Contratante: Instituto Sou da Paz Construtora: Sudeste Gerenciadora: EMETEC Orçamento: Nova Engenharia Estrutura: AVS Hidráulica e Elétrica: COMPRENG SC Iluminação: Ricardo Heder Terraplanagem: Rosano Souza Fotografias: Pedro Kok, Instituto Sou da Paz

Participamos de oficinas para o reconhecimento das qualidades de outros espaços públicos referenciais e para a realização de pesquisas históricas relacionadas ao desenvolvimento do próprio bairro. Também participamos de inúmeras assembléias públicas aos sábados, espaço democrático aberto aos debates que foram fundamentais para o desenvolvimento do projeto arquitetônico. Decidimos realizar a obra por meio de contratação de uma pequena construtora, desde que ela optasse por utilizar mão de obra local, evitando o trabalho pesado por meio de mutirões aos finais de semana, mas utilizando esses momentos para atividades participativas de interesse da comunidade, como os mutirões para a definição da pavimentação da quadra, a escolha dos brinquedos ou o final de semana de plantio das mudas conseguidas junto à subprefeitura.


imagens da região antes da intervenção e da participação da população local nas decisões e na obra da praça

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Mais importante que a realização do projeto arquitetônico pronto e acabado, fomos convocados a valorizar o processo projetual que deveria servir como espaço de interação, troca e, por que não dizer, conflito, entre os grupos do futebol, do rap, da igreja e das mães, todos envolvidos nos processos de decisão de projeto e na gestão do orçamento de obra. Não foi um processo simples e sem crises, mas, concluída a obra, podemos afirmar que a praça não teria o mesmo desenho, nem teria a mesma apropriação, caso tivéssemos eliminado qualquer uma das etapas deste processo.

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ATLAS AMBULANTE II Fabrício Ferreira, graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG Renata Marquez, professora dos cursos de Design e Arquitetura e Urbanismo na mesma instituição www.geografiaportatil.org Belo Horizonte, MG

PREÂMBULO O projeto em andamento intitulado Atlas Ambulante propõe enxergar o vendedor ambulante e as particularidades da sua atividade nas ruas, investigando as subjetividades constituintes do território. Este artigo traz um recorte do atlas, apresentando quatro ambulantes que caminham entre Belo Horizonte e Contagem e fabricam e/ou comercializam os seus produtos de forma artesanal. Cada um deles recebeu uma câmera para registrar os lugares por onde passam e um mapa com os seus itinerários foi traçado, a partir de encontros e conversas, na tentativa de fazer emergir a cidade móvel feita por sua passagem. A EXPERIÊNCIA DAS RUAS

Referências bibliográficas: CANÇADO, Wellington; MARQUEZ, Renata (Orgs.). Atlas Ambulante/Walking Atlas. Belo Horizonte: ICC-Instituto Cidades Criativas, 2011. LEFEBVRE, Henri. The Production of Space. WileyBlackwell, 1991. RIO, João do. A alma encantadora das ruas: crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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SANTOS, José Alcides F. Estrutura de posições de classe no Brasil: mapeamento, mudanças e efeitos na renda. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: UFMG/IUPERJ, 2002.

O jornalista João do Rio (1881-1921) viveu na cidade do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o século XX e escreveu, numa coletânea de crônicas, um elogio às ruas. Podemos elaborar considerações de duas ordens a partir da experiência espacial que ele registrou. Primeiro, João do Rio constrói uma paisagem urbana que não é feita de edifícios ou monumentos, mas de uma memória imaterial constituída pela geografia humana que articula os espaços concebido, percebido e vivido (LEFEBVRE, 1991) numa cartografia literária de “individualidades topográficas” (RIO, 2008, p. 34). Ele considera “a rua um ser vivo” (RIO, 2008, p. 51) e enxerga nas ruas, disponível a quem quiser ver, “um tratado de psicologia urbana” (RIO, 2008, p. 97). Essa coleção de personagens que são os protagonistas da cidade no âmbito das ruas articulam uma cidade oficial correspondente a uma ordem projetada e controlada (o espaço concebido) com uma cidade cotidiana (o espaço vivido), através das suas práticas espaciais singulares (o espaço percebido). Em segundo lugar, surge a indagação se, um século depois dos tempos de João do Rio, a cidade ainda preserva tais estímulos de psicologia urbana. O imaginário da riqueza urbana, tão em voga na literatura moderna que se iniciava no final do século XIX, resiste às novas tecnologias presentes naquilo que experimentamos como vida urbana e ao utilitarismo crescente do mundo? “A rua é a eterna imagem da ingenuidade” (RIO, 2008, p. 30). Será romantismo compreender as ruas como o


território do possível, do permitido e do ócio? Não seria necessário introduzir novos termos à concepção literária e artística das ruas, tais como cidadania, coletividade, compartilhamento e negociação, mas sem perder a capacidade da imaginação poética do cotidiano na procura pela “estética da rua” (RIO, 2008, p. 46)? “As pequenas profissões”, “as profissões ignoradas” (RIO, 2008, p. 56), “os artistas de arte prática” (RIO, 2008, p. 92), profissionais ambulantes assim definidos por João do Rio, continuam atuantes na paisagem urbana nos dias de hoje. Quem são eles? Como concebem a cidade e como a cartografam? Este artigo pretende trazer à tona quatro personagens que testemunham práticas urbanas informais que, convivendo com a ideia hegemônica de modernidade, constroem possibilidades de outras sociabilidades e paisagens. Na busca por ambulantes na cidade, o próprio ato de pesquisar torna-se um exercício de deambulação, de “[...] ir por aí, de manhã, de dia, à noite [...]” como João do Rio, de experimentar uma cidade não vista, não pensada, não desenhada. A ECONOMIA INFORMAL As estatísticas do trabalho informal têm aumentado nos últimos anos, principalmente como consequência da falta de empregos formais, da falta de qualificação necessária e da mudança do perfil produtivo. Ao ampliar as oportunidades para trabalhadores qualificados reforça-se, ao mesmo tempo, a exclusão dos postos de trabalhos para quem não tem qualificação, atingindo assim a maioria da população. Contratos temporários, terceirização, instabilidade no emprego, horários nada flexíveis e possibilidades de obter maiores rendimentos são alguns fatores que deslocam trabalhadores para o mercado informal. A cidadania está embutida na profissão e os direitos do cidadão restringem-se aos direitos do lugar que ocupa no processo produtivo, tal como reconhecido por lei: “tornam-se pré-cidadãos, assim, todos aqueles cuja ocupação a lei desconhece” (SANTOS, 2002, p.68). A construção de cidadania se expressa, por exemplo, pelo acesso à

aposentadoria, direito social para quem contribui para algum tipo de previdência pública ou privada. No Brasil, Getúlio Vargas aprovou em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), definindo as relações de trabalho, o salário mínimo, a determinação de horas de trabalho e outros direitos. Essas leis também definem a diferença entre trabalho formal e informal. Já a Constituição da República de 1988 diz que o trabalho é um direito do cidadão. Ao executar um trabalho, os trabalhadores recebem salários, têm acesso aos benefícios e fazem parte da sociedade. Trabalhadores sem carteira não gozam de benefícios como licença remunerada, décimo terceiro salário, salário família, vale transporte, licença médica e seguro desemprego, caso parem de trabalhar por motivo de dispensa ou demissão voluntária. A regulamentação profissional está ligada ao conceito de “cidadania regulada”: a regulação ocupacional foi uma estratégia adotada pela elite dirigente para implementar políticas sociais que limitavam a abrangência dos direitos aos trabalhadores “formais” e excluíam os trabalhadores “informais” dos benefícios sociais. Recentemente, o Governo Federal juntamente com o SEBRAE lançou uma cartilha para que alguns empreendedores individuais possam “legalizar” o seu trabalho e assim garantir sua cidadania. Segundo dados do SEBRAE, 565.911 pessoas se inscreveram no programa, que é chamado de SIMPLES, em 15 meses de funcionamento. Entretanto, algumas questões ainda permanecem: o caráter de patrimônio imaterial não poderia oferecer um caminho para deslocar o olhar exclusivamente econômico sobre os ambulantes para o olhar sociocultural? A legalização dos ambulantes não trata apenas de aplicação de um modelo da economia formal em vez de imaginar outros modelos possíveis e que poderiam conviver? Por exemplo, os ambulantes que se movem na fronteira intermunicipal, teriam que contribuir com os impostos em mais de um município? Quais as efetivas vantagens e desvantagens na legalização?

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ÉDER Na Avenida do Contorno, Bairro Santa Efigênia, Éder empurrava sua bicicleta. Trazia oito variedades de pães, além de biscoitos e broas. Ele sai de sua casa no Bairro Santo André, que fica em cima da padaria que produz os pães que ele vende, às 5h. Percorre Floresta, Centro e Santa Efigênia, retornando às 11h para o Santo André. Às 13h, com o cesto reabastecido, faz o itinerário da tarde retornando, novamente ao lugar de origem, às 19h30. Ele veio de Caratinga, seguindo o caminho que outros amigos haviam traçado antes dele. Há três anos e meio em Belo Horizonte, Éder tem 25 anos e trouxe também seus pais e irmãos, depois de 8 meses aqui. A sua bicicleta possui um cesto e um caixote que ele comprou no Mercado Central, totalizando o valor de R$ 800,00 de equipamento. Faz manutenção na bicicleta duas vezes por semana. Quanto aos desafios de andar de bicicleta no movimento crescente do trânsito, conta que uma vez bateu num carro de polícia que tentou ultrapassá-lo e que, em outra ocasião, sua bicicleta foi apreendida e teve que pagar uma multa de R$ 533,39 para liberá-la. Um amigo já perdeu três bicicletas assim, e foi melhor comprar outra em vez de tentar recuperar as antigas. Ele disse que quer legalizar a sua situação com a Prefeitura e que sua equipe está cuidando disso, já que são mais de 1.000 padeiros de bicicletas na cidade.

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MARLENE A avenida José Faria da Rocha, no Eldorado, Contagem, no número aproximado 1.400, é onde diariamente encontra-se D. Marlene, 62 anos, mãe de um casal de filhos, moradora da mesma avenida. Escolheu trabalhar ali por ser próximo de sua casa pois precisa dar assistência ao filho deficiente. Salgadeira, ambulante há três anos, tem um carrinho de ferro que mandou fazer por R$ 200,00 num serralheiro das redondezas. Conta que já foi atropelada nessa avenida quando estava indo entregar uma encomenda de pizzas que terminou de fazer às 00:00h do dia anterior. Perdeu todo o serviço e o custo de R$ 60,00, além de não ter sido socorrida pelo motorista. O carrinho é o seu instrumento de trabalho, onde carrega os salgados, fritos e assados, juntamente com dois tipos de refrescos – diga-se de passagem, geladíssimos. Ela fez sua freguesia numa parte da avenida onde a curva de nível é praticamente invariável, pois, devido a problemas de saúde, não consegue subir e descer ruas íngremes. O curioso é que em seu carrinho tem a seguinte frase: “Não vendo fiado”, mas, paradoxalmente, ela tem uma caderneta na qual anota o consumo de cada cliente para receber depois.

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NILSON Nilson é morador do bairro Jatobá, na região do Barreiro. Trabalha há seis anos vendendo frutas num carrinho de mão. Ele, juntamente com os seus seis companheiros, saem de casa às 4h da manhã, todos os dias, e dirige-se para o Ceasa para comprar as frutas de época que serão vendidas por eles de porta em porta: pêssego, goiaba, ameixa, morango, uva, jabuticaba, mexerica, manga e atemóia (fruta que, como explica Nilson, é parente da pinha). Chega ao centro por volta das 9h e só retorna para casa quando termina de vender as frutas. Antes de ser vendedor ambulante, costumava trabalhar como pedreiro e servente. Entretanto, devido a problemas de coluna, decidiu trabalhar como ambulante. Gosta do que faz, ver lugares, pessoas, estar na rua e fazer parte dela. Escolheu os bairros onde vende mais – Barroca, Funcionários, Cidade Jardim, Santo Antônio, Lourdes e Centro. Ele começa o itinerário pela Avenida do Contorno e de lá vai até a Avenida Amazonas. Depois, volta até a Savassi percorrendo a Getúlio Vargas, Cristóvão Colombo, Professor Moraes, Bias Fortes, Augusto de Lima e Paraná. Como a grande maioria dos ambulantes entrevistados, também sofre com a fiscalização. Um amigo ambulante, que é vendedor de pipocas, uma vez deu-lhe um telefone para que ele pudesse legalizar o seu trabalho, mas ainda não teve tempo de parar para ligar.

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FRANCISCO Francisco é vendedor de materiais de limpeza. Mora no bairro Tirol, no Barreiro. Era ajudante de pedreiro, quando vivia no Ceará. Veio para Belo Horizonte trabalhar como ambulante com um cunhado, que também é de lá, há cinco anos. O ano passado conseguiu retornar ao Ceará, mas só a passeio. Hoje tem aqui três irmãs e sua mãe que veio passar uns dias e acabou ficando... Francisco trabalha de segunda a sábado, sai de casa por volta de 8h30 da manhã e retorna por volta de 17h, mas sábado só trabalha até às 13h. Gosta de trabalhar como ambulante em Belo Horizonte porque considera as pessoas daqui acolhedoras. Sempre que podem lhe servem um cafezinho, conta ele. No seu carrinho, que custou R$150,00 numa serralheria, vende sabão, amaciante, cloro, detergente, pasta brilho, limpa piso, álcool perfumado e cera líquida. Grande parte desses materiais é produzida pela sua família. Usa como recipientes garrafas pet, potes e galões de 5 litros, sempre procurando reciclar os vasilhames. Só vende fiado se o valor ultrapassar R$35,00. Oferece o Kit Limpeza: sabão, desinfetante, amaciante, cloro e sabão para banheiro, totalizando R$60,00, e divide o pagamento em duas vezes (30 e 60 dias). Já levou algum calote, afirma. Percorre bairros da divisa da cidade de Belo Horizonte e Contagem: Tirol, Lindéia, Industrial, Itaipú, Amazonas, Inconfidentes, Riacho, Novo Riacho, Santa Cruz, Milionários, Betânia e Palmeiras. Tem clientela fixa mas também costuma bater de porta em porta. As ruas de que gosta mais são Rua Américo Leite (Bairro Industrial), Rua Rio Cuiabá (Bairro Riacho), Rua Rio Congo (Bairro Novo Riacho) e Rua Antônio Nogueira (Bairro Inconfidentes), pois nelas há muitos clientes. Uma kombi o transporta junto de seus três companheiros até os bairros escalados. O mesmo carro os busca após a venda, “daí conseguem maior aproveitamento do tempo.” Disse que a polícia nunca o incomodou, pelo contrário: quando a kombi passa em uma blitz, eles não são parados. Um carro já bateu em seu carrinho, mas foi ressarcido em R$30,00, valor suficiente para consertar o dano, apesar de ter perdido o dia de trabalho.

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O ESPAÇO PÚBLICO COTIDIANO Provocando e informando a ação direta na produção do espaço público: a experiência do módulo de projeto espaço público cotidiano (Escola de Arquitetura, UFMG) A quem pertencem os espaços públicos de uma cidade? Quem decide sobre a sua produção? Os espaços públicos localizados em vizinhanças residenciais cuja abrangência é microlocal devem ser produzidos da mesma maneira que os espaços públicos que servem a toda uma região da cidade? Se nas vizinhanças onde a infraestrutura é provida pela Prefeitura há o senso comum de que o espaço público é de responsabilidade dessa instância, nos ambientes urbanos autoproduzidos e autoconstruídos dificilmente os moradores têm consciência da autonomia que está em jogo quando a favela vira bairro. A problematização dessas questões permite ultrapassar a constatação apressada de que, nas grandes cidades, os espaços públicos são espaços de ninguém. Para isso, sugiro o enfoque no espaço público cotidiano com o objetivo de discutir a produção dos espaços livres presentes na escala microlocal, localizados entre a moradia e as áreas destinadas oficialmente ao convívio e lazer1. À primeira vista, o espaço público cotidiano se resume a faixas reservadas para a circulação, como quase todas as ruas e calçadas de Belo Horizonte, ou a resíduos sem apropriação cotidiana. Isso se repete até mesmo nos bairros onde o tráfego não é intenso e o resultado são ambientes sem rastros de uso e, por isso, estéreis tanto para quem vive quanto para quem caminha por eles. Na grande maioria dos casos, os vizinhos não atuam na caracterização do espaço público cotidiano, ainda que eles façam parte do seu dia a dia - seja pela escassez de discussão sobre o assunto ou pela falta de informação sobre como incrementá-lo. Um espaço desse tipo precisa de poucas transformações para que passe a ser usado no dia a dia, ou seja, são necessárias intervenções de pequeno porte que podem ser negociadas, decididas e organizadas pelas próprias pessoas, dispensando procedimentos que dependem da Prefeitura ou de especialistas. A partir disso, o módulo espaço público cotidiano – que faz parte da disciplina Projeto de Arquitetura na Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG2 – coloca o seguinte

Lígia Milagres Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG Professora voluntária na mesma instituição Pesquisadora do Grupo MOM (Morar de Outras Maneiras) ligia.milagres@gmail.com Belo Horizonte, MG

1 - Trata-se do espaço público formado pelas calçadas, ruas, canteiros centrais, rotatórias, áreas lindeiras a ferrovias, resíduos de lotes, áreas sob linha de transmissão e qualquer outro espaço livre passível de uso na escala microlocal. O termo espaço público cotidiano vem sendo utilizado desde a pesquisa do mestrado da autora com o objetivo de analisar as especificidades desse tipo de espaço e o poder de decisão dos habitantes urbanos sobre ele. A dissertação, intitulada Entre o quintal e o parque: possibilidades de produção do espaço público cotidiano, está disponível em: http://www.mom.arq.ufmg.br/05_ biblioteca/acervo/DISSERTACAO_LIGIA_11_03_2011.pdf. 2- O módulo é ministrado pela autora, que atualmente é Professora Voluntária do Departamento de Projetos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG.

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problema: é possível provocar a reflexão e discussão sobre a produção do espaço público na escala microlocal? E, ainda, quais tipos de instrumentos poderiam ser investigados para informar a ação direta das pessoas interessadas em transformar e utilizar esses espaços livres na vizinhança? No lugar de discutir a produção do espaço público com base na estrutura burocrática da administração municipal, a discussão sugerida no módulo tem como perspectiva a produção direta e coletiva, ou seja, uma produção negociada entre os moradores de uma porção urbana e que depende da sua ação direta. Diferentemente da produção oficial de parques e praças, a produção direta e coletiva pode acontecer ao longo do tempo e de acordo com as decisões daqueles que usam o espaço, misturando em um processo contínuo etapas que são bem delimitadas na produção formal (projeto, construção e uso). Em um primeiro momento, os estudantes se dividem em grupos e escolhem uma porção urbana residencial, analisando criticamente de que modo se dá a produção do espaço público cotidiano. Paralelamente a isso, são levantadas e sistematizadas possibilidades de intervenção em pequena escala que poderiam ser organizadas pelas próprias pessoas, sendo importante que os aspectos construtivos dessas intervenções fiquem claros para o público em geral. Com base nisso, em um segundo momento, os grupos investigam instrumentos que poderiam contribuir para a discussão sobre a produção coletiva e para informar os moradores do entorno sobre as possibilidades de intervenção – tendo como base aquelas que foram sistematizadas anteriormente. Ou seja, no lugar de fazer um projeto, o objetivo é encontrar uma maneira de disseminar informações úteis que ampliem o leque de ação dos potenciais usuários e produtores do espaço. Os instrumentos podem ter diversos formatos, podendo ser um panfleto, um site, um vídeo, uma intervenção no local, dentre outros.

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Os dois trabalhos apresentados a seguir foram desenvolvidos na primeira versão do módulo (que aconteceu nos meses de agosto e setembro de 2011) e apresentam diferentes abordagens do problema. Um deles investiga a possibilidade de extrapolação do uso de uma escadaria que liga duas ruas no bairro Santo Antônio. Utilizada apenas como passagem, ela não é apropriada pelos moradores do entorno, o que se deve, certamente, a uma produção formal alheia às decisões da vizinhança. Nesse caso, o objetivo do grupo de estudantes foi provocar sobre as possibilidades de uso a partir da introdução de elementos simples que mudariam o funcionamento do espaço. Foram usados instrumentos como panfletos, blog com fotomontagens e videos, proposta de reunião com a diretoria de escolas da região e disposição de manuais no próprio espaço. O outro caso aborda uma área pública nas margens do Córrego Joões, no bairro Pompéia. A recuperação do córrego - que atualmente recebe lixo e esgoto de outras regiões - e o uso público de suas margens parecem remotos diante da falta de informação e de engajamento dos moradores do entorno. Durante a investigação, o grupo de estudantes conheceu um morador da região que despoluiu um trecho do córrego que passa em seu quintal por meio do uso de técnicas alternativas e de pequeno porte. A proposta do grupo foi sistematizar as práticas desse morador e desenvolver instrumentos que as difundissem na vizinhança da área pública. No seu limite de tempo, o módulo é utilizado para a problematização das situações e para e investigação inicial dos instrumentos por parte de cada grupo. Os trabalhos contribuem para desencadear a discussão sobre a produção do espaço público cotidiano tanto nas vizinhanças analisadas quanto entre os próprios estudantes.


dentro oà

eservada você erco e menos 3

dobre aqui

1 MANUAL PRÁTICO INTERVENÇÃO AO LONGO DA ESCADARIA NO BAIRRO SANTO ANTÔNIO, BELO HORIZONTE Mariana Maia, Núria Manresa e Thiago Fontes

A. Crie brinquedos com corda: B.Faça o seu escorregador A. Crie brinquedos comportátil corda: B.Fa

Manual prático

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Antes de mais nada é necessário limpar o terreno. Para isso tenha um kit com os seguintes objetos:

* Lembre-se de

Aprenda como transformar o barranco do seu bairro 1 3 2 divertida em uma praça

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Chame seus vizinhos!

para ter este manual entre no site:

http://ruaarduinobolivar.blogspot.com/

separar o lixo orgânico do reciclável!!!

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ancinho + pazinha + luvas de jardinagem + sacos de lixo

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Arranje uma caixa de papelão média ou grande, que seja fácil de cortar.

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Recorte um pedaço grande o suficiente para que você possa sentar e apoiar as mãos junto ao corpo.

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Em uma superfície inclinada e gramada: escorregue!!!

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Antes de mais nada é necessário limpar o terreno. Para isso tenha um kit com os seguintes objetos:

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Arranje uma caixa de papelão média ou grande, que seja fácil de cortar.

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Recorte um pedaço grande o suficiente para que você possa sentar e apoiar as mãos junto ao corpo.

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Antes de mais nada é necessário limpar o terreno. Para isso tenha um kit com os seguintes objetos:

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ancinho + pazinha + luvas de jardinagem + sacos de lixo

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ancinho + pazinha + luvas de jardinagem + sacos de lixo Para uma muda de 1,5 m de Coloque uma estaca de 2m dentro altura, abra uma cova de 60 cm da cova para servir de apoio à de largura, altura e profundidade. muda. Reserve a terra retirada.

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Arranje uma caixa de papelão média ou grande, que seja fácil de cortar.

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Recorte um pedaço grande o suficiente para que você possa sentar e apoiar as mãos junto ao corpo. Coloque a muda na cova. Amarre a Feche a cova com a terra reservada planta na estaca com uma borracha na etapa 1. Além da terra você em forma de oito para que a muda pode tapar a cova com esterco e não encoste na superfície estaca. inclinada e abudo. Regue a muda pelo menos 3 Em uma vezes por semana. gramada: escorregue!!!

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dobre aqui

A. Crie brinquedos com corda: B.Faça oC.seu escorregador portátil da: B.Faça o seu escorregador portátil Plante uma muda :

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1 CARTILHA DE INTERVENÇÃO AO LONGO DO CÓRREGO JOÕES NO BAIRRO POMPÉIA, BELO HORIZONTE Débora Caetano, Júlia Guadix, Raquel Prado

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Luz no Grajaú Daniel de Paula imagem encontrada em escritório do Departamento de Iluminação Pública da cidade de São Paulo danieldepaula_art@yahoo.com São Paulo, SP


A cidade moderna é uma máquina de produzir desejos e triturar utopias. Imerso no concreto próprio dos espaços urbanos, porém, encontram-se formas alternativas de vivência, saberes que resistem e reinventam esse espaço, mesmo que passem desapercebidos aos olhares menos atentos. As práticas de Agricultura Urbana (AU), embora ainda pouco visibilizadas e compreendidas, têm contribuído nesse sentido para a ampliação do pensamento sobre a natureza dos espaços urbanos, incorporando a noção de diversidade e do caráter híbrido das formas de vida na cidade. Praticada em diversos espaços e contextos, a AU, nos últimos anos, tem se tornado um tema de interesse acadêmico e político que aparece associado a questões tão diversas quanto sociobiodiversidade, segurança alimentar e nutricional, gênero, economia popular solidária e práticas tradicionais de cuidado com a saúde.

O CONCRETO ARADO Emmanuel Duarte Almada Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (UNICAMP) Lídia Maria de Oliveira Morais Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA UFMG) Maura Neves Coutinho Prefeitura de Nova Lima, MG Todos integrantes do Grupo Aroeira - Ambiente, Sociedade e Cultura (UFMG)

A Agricultura Urbana é uma prática multidimensional, que inclui desde práticas de cultivo de plantas, criação de animais, extrativismo vegetal até o uso de plantas medicinais que se organiza dentro de um ambiente urbano. Embora possa ser praticada em qualquer espaço, é nas periferias e nos bairros pobres dos grandes centros urbanos que as práticas de AU são encontradas em suas formas e abrangências mais ricas. Ocorrem em hortas familiares ou comunitárias; em canteiros feitos em latas, pneus sobre o piso ou lajes onde se cultivam plantas ornamentais, alimentícias e ritualísticas; podem contar inclusive com pequenos criatórios de abelhas, galinhas, porcos, vacas, cavalos e cabras. Pode-se dizer que os agricultores urbanos, por serem de origem predominantemente rural, reinventam, à sua maneira, os saberes e práticas agrícolas do passado em sua realidade atual, no presente dos espaços urbanos, subvertendo de modo criativo os ritmos e padrões das grandes cidades. Historicamente, o homem rural foi e ainda é expropriado da terra, em processos que remetem ao Cercamento dos Campos e à Revolução Industrial, no séc. XVIII, na Inglaterra e que persistem até os dias atuais. A mecanização da produção agrícola e a escalada da industrialização são responsáveis pela expulsão das populações rurais em direção às cidades engendrando a intensificação e o descontrole do processo de urbanização. Esse processo reverberou em nível mundial, acompanhando o ideal de desenvolvimento do modelo urbano-industrial capitalista. O homem moderno

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vivenciou desde então o processo de desruralização das cidades, a deterioração do ambiente urbano, a poluição, a superpopulação e a insalubridade. Especialmente ao longo do século XX o espaço rural brasileiro se tornou também um lugar de realização desse modelo, impulsionado pela mecanização agrícola. A vivência harmônica do homem com o ambiente rural fica assim relegada muitas vezes apenas à esfera da memória, e os saberes e experiências vinculados a ela, silenciados. O projeto de modernidade assim desenvolvido e assentado na ciência ocidental de caráter técnico-instrumental conduziu, desse modo, ao aprofundamento da especialização do campo e da cidade enquanto espaços produtivos aparentemente dicotômicos. Nos países ditos periféricos, inclusive o Brasil, a onda de migrações para os grandes centros urbanos ocorreu principalmente a partir da segunda metade do século XX e teve como uma das causas principais o pacote tecnocientífico da Revolução Verde. Apoiada no discurso malthusiano do suposto conflito entre crescimento populacional e disponibilidade de alimentos, a agenda política e econômica desse movimento conduziu à implantação de extensas monoculturas, à formação de grandes latifúndios e à adoção de um modelo de produção agrícola altamente dependente da utilização de insumos químicos industriais e maquinários pesados. A Revolução que se anunciava como combatente da fome expulsou o homem do campo e fragilizou seu modo de vida tradicional, inviabilizando suas práticas costumeiras e fundamentais à sua reprodução social e gerando famintos no campo e na cidade. Na bagagem desses “deserdados da terra”, nas palavras de Margarida Maria Moura, que chegaram aos milhões nas metrópoles brasileiras na década de 1970, o valor não era a matéria-moeda, mas as esperanças, as sementes, as mudas e os pequenos animais, a memória e o potencial criativo de reinvenção naquele novo espaço de vida. Nas últimas décadas os elementos que caracterizam o espaço urbano se espalharam por praticamente toda a superfície do planeta,


sendo uma face importante do processo de globalização cultural e econômica. Todavia, os elementos simbólicos do rural seguem a ele mesclados e ganham novos contornos na cidade. A Agricultura Urbana é um desses elementos da vida camponesa que se reinventa nas cidades, ou ainda, é forma de reconstrução e ressignificação de uma vivência do que se pode chamar de “natural” em um ambiente urbano. Ademais, plantar dentro da cidade é uma possibilidade de autonomia sobre a alimentação e a saúde - hoje tarefa terceirizada aos especialistas - por meio do cultivo de variedades alimentícias e plantas medicinais usadas tradicionalmente nos “tempos da roça”. A institucionalização da AU na atualidade tem se tornado foco de interesse dos governos locais, que nela vislumbram uma forma de ação estratégica capaz de contribuir para a realização do direito humano à alimentação, reconhecendo seu potencial promotor de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional (SSAN). Mas “não só de pão vive o homem”. Ao longo das décadas, sobretudo nas periferias, os pequenos espaços de solo descoberto, ou “vazios urbanos” nos quais se poderia cultivar alguma variedade alimentar ou medicinal, perderam lugar para o cimento, garagens, novas casas e “puxadinhos” para os filhos e netos. Sabe-se que a contribuição efetiva da AU para a alimentação das pessoas que a ela se dedicam é, na maioria das vezes, restrita. Ainda assim, homens e mulheres seguem plantando, o que demonstra que cultivar não é um ato apenas prático ou produtivo, mas simbólico, político e afetivo. Relatos de agricultores urbanos coletados em entrevistas no âmbito do projeto Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana da Região Metropolitana de BH (CAUP-RMBH) denotam o caráter sentimental conferido à relação com a terra e o plantar, além do valor das relações sociais que são construídas em torno dos processos produtivos. Há, ainda, a função de apropriação e reivindicação política da luta pelo território em ambiente urbano, seja para morar ou plantar, que encontra na AU um argumento e uma importante frente de resistência.

Ser “da roça” é visto nas cidades como uma condição pejorativa, como tudo aquilo que se contrapõe aos modelos valorizados pela modernidade. Nesse ambiente marcado pela dureza do concreto que ecoa na dureza dos olhares, uma horta é um elemento de re-ligação com a terra em seu sentido afetivo e também com a memória e os ritmos orgânicos das plantas, dos animais e do próprio corpo. Assim, plantar uma horta ou criar pequenos animais é deixar que a vida viceje em meio à normatividade urbana, tornando-se mesmo ação transgressora. As práticas de AU, tanto pela cultura (da roça) que revive e recria quanto pela natureza (não-controlada) que acolhe e promove, põem em xeque as velhas e ainda influentes dicotomias tradicional/moderno, natural/artificial, rural/urbano. Na modernidade, a construção do tempo-espaço segue os ritmos do capital. Os tempos globais se materializam nos espaços locais, silenciando os tempos alternativos e tradicionais. O tempo de uma horta não é o tempo da cidade ou da produção agrícola mecanizada. O tempo da cidade, como tempo moderno, é um eterno presente que nega o passado como imagem do arcaico a ser superado, em uma “fuga para frente” na qual os competidores disputam investimentos e benefícios, e sempre voltam ao lugar relativo de onde partiram. Plantar na cidade reativa, ainda que parcialmente, a percepção dos tempos cíclicos. Com a AU, as estações do ano vão além da alternância entre coleções de moda de inverno e verão. Frutas e legumes precisam ser plantados e só podem ser colhidos em determinadas épocas do ano, o que devolve aos ventos, às chuvas, aos dias de sol e à lua um lugar de referência na prática humana de (re)produção do espaço. É preciso estar atento aos sinais da natureza para saber quando e como trabalhar a terra e seus frutos. Se as cidades modernas promovem o “desperdício das experiências” e as “monoculturas da mente”, termos utilizados por Boaventura de Souza Santos e por Vandana Shiva, respectivamente, as práticas de AU, ao contrário, são geradores de olhares, de saberes, de vidas e dos

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afetos que compõem a sociobiodiversidade das cidades. A diversidade de cultivares talvez seja um dos mais importantes patrimônios da humanidade, gerados ao longo de séculos de experimentação e cultivo por comunidades rurais e grupos indígenas espalhados pelo planeta. No entanto, pouco se sabe sobre a diversidade agrícola que se encontra entremeada e invisibilizada nos territórios urbanos. Na horta comunitária da Vila Cafezal em Belo Horizonte, por exemplo, encontramos uma miríade de variedades de hortaliças, plantas medicinais e frutíferas, muitas das quais desconhecidas pela maioria dos belorizontinos, esquecidas ou disfarçadas pela massa de cimento que se sobrepõe às memórias e homogeneíza os sentidos; Em um quintal pequeno no Bairro Alto Vera Cruz, espécies alimentícias e de plantas medicinais, cultivadas e cuidadas por um casal de conhecedores populares de plantas medicinais deram origem a uma Farmácia Viva, que é referência na comunidade local e exemplo de cuidado com a saúde do corpo e da mente; Na Vila Acabamundo, incrustada em uma região de alta renda de BH, uma horta comunitária é instrumento de resistência contra a desapropriação de uma família, que seria despejada diante de interesses do setor imobiliário; Ocupações urbanas e periurbanas utilizam o tema e a prática da agricultura para desenvolver trabalhos educativos, discussões sobre gênero, fomentar a economia popular solidária através do beneficiamento de produtos da horta, além de proporcionar momentos de partilha de experiências e restabelecimento de vínculos entre os moradores e entre as suas histórias de vida. Esses exemplos são apenas pequena fração ilustrativa das apropriações possíveis através das práticas de AU, seja por um viés comunitário, individual ou institucional. Em Belo Horizonte, em Minas Gerais e no Brasil, estão em processo, desde a década de 90, programas e projetos governamentais com vistas ao fomento das práticas de AU. Entre eles, vale lembrar, no âmbito municipal, os Centros de Vivência Agroecológico (CEVAE’s) e o Programa Cidades Cultivado para o Futuro (CCF); no âmbito estadual, a Lei Estadual de Apoio à Agricultura Urbana (2006), de responsabilidade da Secretaria


de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA) e, na esfera federal, através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), projetos como o já citado CAUP. Paralelamente, surge em 2004 a Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (AMAU), que é composta por representantes de grupos comunitários (de quintais, hortas comunitárias, plantas medicinais, beneficiamento de alimentos etc.); Associações comunitárias; Movimentos sociais; Ocupações rurais e urbanas; Pastorais Sociais; Redes e coletivos e ONGs. Ela se constitui como um espaço de diálogo e troca de experiências entre os grupos envolvidos, com vistas ao fortalecimento e a visibilidade do movimento de AU na RMBH, além de fomentar o debate político acerca dessa temática. Assim, uma rede de atores vem se formando e se fortalecendo, dialogando com as políticas públicas e construindo em conjunto um contexto mais favorável ao desenvolvimento e ao reconhecimento de práticas de AU nesse espaço de disputa que é o território urbano. O Grupo Aroeira/UFMG, de onde falam estes autores, se insere desde 2007 nessa dinâmica, propondo e experimentando novas práticas de ação de pesquisa, ensino e extensão junto a algumas experiências de AU e aos processos relacionados à AMAU. Parte-se do princípio de que é necessário e urgente a promoção de uma “ecologia dos saberes” que reconheça as vozes historicamente silenciadas pela ciência moderna ocidental. Assim, o concreto de que se constituem as bases da cidade moderna está sendo infiltrado por práticas mais ternas, mais orgânicas e mais solidárias de se viver no espaço urbano. É a resistência pacífica e silenciosa minando, transparecendo e florescendo no seio daquilo que se pretende sólido e infalível. As cidades são recriadas assim, à maneira daqueles que nela vivem, dela se apropriam e a partir dela criam formas de ressignificar sua existência. Afinal, não há modelo econômico ou social que seja capaz de esgotar a infinidade de possíveis realidades.

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Gambiarra Flora Raj達o florajao@gmail.com Belo Horizonte, MG


CAMIONES, CONTENEDORES Y COLECTIVOS Camiones, contenedores, colectivos parte de una ocasión excepcional de recuperación del patrimonio mobiliario público: una serie de contenedoresvivienda, cedidos por la Sociedad Municipal de Rehabilitación Urbana del Ayuntamiento de Zaragoza, para ser puestos en uso por diferentes colectivos, asociaciones y grupos de ciudadanos. Las experiencias previas de los Aularios - Trinchera Autoconstruidos para la Facultad de Bellas Artes de Málaga (2006) y Aula Abierta en Granada (2007) fueron para nosotros un aprendizaje importante. De ellas obtuvimos muchas herramientas que nos han facilitado las cosas en una iniciativa de mayor envergadura como ha sido esta; no sólo a nivel técnico, legal y administrativo, sino también en todo lo relacionado con el trabajo cooperativo y la generación de riqueza colectiva.

Santiago Cirugeda Arquiteto, fundador do estúdio Recetas Urbanas e da rede colaborativa Arquitecturas Colectivas www.recetasurbanas.net www.arquiteturascolectivas.net Sevilla, Espanha

El abanico de situaciones experimentadas hasta la fecha es heterogéneo. Los grupos implicados en este experimento provienen de campos muy diversos y a ellos se unen personas que, desde las instituciones, han apostado por la creación de espacios cedidos, con mayor o menor grado de autogestión, a los habitantes. A la diversidad del conjunto de promotores se sume la amplia casuística de los proyectos, mostrando diferentes protocolos para situaciones muy dispares, que incluyen distintos tipos de acuerdos de ocupación y definiciones legales, financiación y gestión, relaciones con el entorno y el contexto, fórmulas de temporalidad y continuidad. El éxito y la expansión vírica de esta iniciativa demuestran la importancia de los procesos de autogestión como complemento o propuesta de un trabajo social y político diferente al del poder, que trata punzantemente de controlar y capitalizar cualquier actividad ciudadana. RE-USO Casualmente, tras una conferencia que impartí en el COA de Zaragoza el 15 de febrero de 2007, Juan Rubio del Val, de la Sociedad Municipal, me comentó que estaban desmantelando un poblado y que se quedarían vacías catorce

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viviendas de 42m², cuyo destino probablemente iba a ser el desguace. Dichas viviendas, construidas con tres módulos prefabricados cada una, habían dado servicio como asentamiento provisional a una población de etnia gitana, que finalmente fue realojada en viviendas de protección oficial. El 1 de marzo de 2007 Recetas Urbanas inició las gestiones necesarias para ofrecer a diferentes asambleas, cooperativas, colectivos y asociaciones la posibilidad de adjudicarles gratuitamente algunos de estos contenedores para construir su sede residencial y/o centro de trabajo. El transporte de los módulos, la instalación y la gestión de licencias y permisos correría de parte de los grupos que asumieran la responsabilidad de darles uso. Su acondicionamiento se podría hacer en colaboración con Recetas Urbanas, que daríamos la posibilidad de incluir, para su legalización, las justificaciones técnicas, los proyectos de instalación y el seguro de responsabilidad civil del arquitecto que está escribiendo.

Equipamiento temporal para el festival Perejil's. Straddle3 con la colaboración de Rehasa estructuras y Rceteas Urbanas, Julio 2008.

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El 12 de marzo, apenas dos semanas más tarde, se ponían en marcha los primeros camiones, y en sólo dos meses la mayoría de los contenedores-vivienda habían abandonado Zaragoza, unos para ser almacenados con carácter provisional, y otros inmediatamente instalados, aunque de forma incierta y muchas veces arriesgada. OCUPACIÓN Anuncios en la prensa y multitud de carteles pegados por la ciudad de Vigo hicieron posible que los miembros del colectivo Alg-a encontraran por fin un suelo en el que instalar sus contenedores. Era ésta una medida radical que el colectivo gallego tomó después de meses de negociaciones con las administraciones públicas —meses de muchas promesas y pocos frutos. Pero el teléfono sonó: un particular que había visto su anuncio los llamaba para ofrecerles nada menos que una finca de 2.500m² en un entorno idílico, en el que podrían desarrollar con bastante libertad su proyecto. Echarse a la calle y


Oficina de Información y Asesoramiento para la Construcción de Viviendas Alegales en Azoteas, en el marco del programa cultural Madrid Abierto, Paseo del Prado. Recetas Urbanas con la colaboración de Straddle3. Madrid, España, Febrero 2008. La Araña, estudio móvil y temporal del colectivo Recetas Urbanas. Recetas Urbanas. Isla de la Cartuja, Sevilla, España, Julio 2009.

contactar a los medios resultó ser más ágil y eficaz que la búsqueda de subvenciones, la negociación con las instituciones, las costosas licencias de ocupación, permisos, etc. Lo que en un principio podría parecer una forma atípica de llevar a cabo una ocupación nos estaba revelando una “receta urbana” idónea. Ninguno de los proyectos de Camiones, Contenedores, Colectivos ha tenido un arranque fácil. En la mayoría de los casos los colectivos se sumaron a la iniciativa con entusiasmo, recogiendo los módulos aún sin saber donde habrían de ubicarlos. Una vez obtenidos, quedaba un reto mayor: conseguir un suelo y negociar sobre él una ocupación, temporal o perentoria, que permitiera a cada uno de los espacios germinar y prosperar. Ha sido una difícil tarea en la que ha jugado un papel fundamental la oportunidad. En un extremo hemos vivido casos como el de Alg-a, con ocupaciones de parcelas privadas en entornos paisajísticos y rurales, mediando acuerdos verbales con los propietarios (Park-apart, Nautarquía); en el otro, ocupaciones de solares o edificios públicos (Künstainer, el Niu,


Poyectalab - Espacio multidisciplinar que está destinado a albergar diferentes actividades culturales. Recetas Urbanas con colectivo Proyecta y el ayuntamiento de Benicassim, España. Marzo 2011.

Centro sociocultural en Castuera, las Arañas) instaladas en entornos urbanos y mediando acuerdos con la administración pública, entre la alegalidad y lo que llamamos legalidad inducida. A veces ambas situaciones se han superpuesto, como es el caso de Park-a-part de Straddle3. Antes de poder trasladar y asentar los módulos en Arbúcies —localidad en la que se estaba negociando un acuerdo verbal de ocupación de parte de un solar privado— tuvimos que recurrir a medidas de emergencia y poner en uso los contenedores durante un festival de arte urbano, con el objeto de ganar tiempo. Además tenemos los casos extremadamente difíciles en los que nos hemos visto obligados a incurrir en la ilegalidad: la ocupación para el Centro de Formación en La Cañada Real, con el colectivo Todo por la Praxis y

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la Iglesia de Santa Domingo de la Calzada, y las sucesivas ocupaciones ilegales, con diversos movimientos y traslados de contenedores, para el espacio educativo autogestionado SpaiDer3*. AUTOCONSTRUCCIÓN Bajo la responsabilidad civil del arquitecto que escribe, un recinto de obras y una hormigonera a pleno rendimiento en el centro de la Iglesia de Santa Lucía (Sevilla) nos permitieron trabajar y experimentar a gusto (de septiembre a noviembre del 2009) con diversos elementos prefabricados. Resguardados de la intemperie, y en el corazón de este insólito espacio, fabricamos sin cesar diversos tipos de piezas —


incluso pudimos experimentar con nuevas técnicas para hacerlas más ligeras. Todo ello formaba parte de un proyecto artístico para Espacio Iniciarte, una iglesia desacralizada propiedad de la Junta de Andalucía. El destino de las piezas producidas no fue revelado a la institución. Con esta acción, Recetas Urbanas llevamos a sus últimas consecuencias algo que ya habíamos ensayado el año precedente en el Festival de arte urbano Madrid Abierto: la producción y la gestión de recursos como práctica artística. En la ocasión anterior recuperamos una casa modular que había estado funcionando como Oficina de Información y Asesoramiento para la Construcción de Viviendas Alegales en Azoteas, en el Paseo de Cibeles, durante la celebración del festival. Una vez finalizado, repartimos sus materiales entre diversos de los colectivos implicados o relacionados con Camiones, Contenedores, Colectivos. El objeto de estas operaciones de emergencia era apoyar la autoconstrucción de unos proyectos que, en casi la totalidad de los casos, partían de presupuestos mínimos y de la autofinanciación. La recuperación de los contenedores no era más que el comienzo de una continua lucha por la supervivencia que nos ha llevado a echar mano no sólo de materiales, sino de todos los recursos y canales a nuestro alcance. COOPERACIÓN Los contenedores de SpaiDer3* que retiró la policía fueron recuperados y reciclados en el proyecto Nautarquía de Straddle3 y la Alien Nación. Los contenedores del Niu serán desmontados y trasladados a en un solar propiedad del Ayuntamiento de Sevilla para reconvertirlos en un espacio cultural autogestionado con el colectivo La Matraka. Straddle3 estuvo con nosotros montando la cubierta del AlgaLab o la vivienda en el Patio Maravillas, y Recetas Urbanas colaboraba asimismo en la autoconstrucción de la Casa de Paja de

Michelle Pecoraro, de Stradlle3. Además del flujo de materiales de un proyecto a otro ha habido una dinámica progresiva de cooperación y ayuda mutua entre los colectivos. Era el germen de una incipiente red que iba más allá del proyecto de reciclaje de los contenedores. En noviembre de 2009 se colocaban en la cubierta del Centro de Formación de la Cañada Real las bovedillas que fabricamos en la Iglesia de Santa Lucía. Al mismo tiempo se construía en Cáceres el Cacharro 2.0, primer proyecto de colaboración entre diversos de los colectivos implicados en la iniciativa Camiones, Contenedores, Colectivos. Ambos espacios reutilizaban contenedores, aunque no eran ya las viviendas de Zaragoza, sino contenedores marítimos de segunda mano. La red de información y cooperación que se había ido creando a lo largo de este tiempo, principalmente a través de la colaboración y participación de algunos colectivos en las aventuras de los otros, había sentado la base para poder coordinar la construcción de uno y otro proyecto a la vez, en un tiempo récord. ARQUITECTURAS COLECTIVAS Unos meses antes de meternos en esta empresa, Recetas Urbanas y Straddle3 habíamos organizado un encuentro de colectivos en Sant Pere de Torelló. Con él dábamos continuidad a la dinámica iniciada dos años antes en Córdoba (septiembre de 2007) con las Jornadas de Arquitecturas Colectivas que organizamos Recetas Urbanas en el marco del Festival Eutopía07 —cuando apenas hacía cinco meses de la cesión de los contenedores. Desde entonces, se vienen celebrando bajo este nombre diversos encuentros entre la ciudadanía, profesionales y agentes sociales de diversa procedencia, en los que al hilo del arte y la arquitectura se debate y se piensa sobre la construcción y gestión participativa del entorno urbano. Concebimos estos encuentros como reuniones productivas de colectivos, asociaciones y agentes públicos que desarrollan actividades de índole artística, cultural, social y política. Los colectivos participantes proceden, entre otros, de los

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campos del asociacionismo urbano, la educación, el arte, la ecología, el pensamiento, la arquitectura, la gestión cultural, el cooperativismo, la vivienda y las nuevas tecnologías. Durante las jornadas se celebran presentaciones, talleres prácticos, exposición de proyectos, intercambio de referencias, etc. En ellas compartimos las experiencias, los hallazgos, los problemas, las dudas, las posiciones políticas, los deseos. Ponemos en común todo aquello que ha ido revelando respuestas y que ha originado preguntas en los diferentes grupos, con el fin de tener un amplio muestrario de opciones de trabajo colectivo, que nos sirvan de ejemplo, ayuda e incentivo a nosotros y a otros grupos de ciudadanos que quieran participar en la gestión y producción de su espacio y su entorno. La celebración de estos eventos se aprovecha como oportunidad para construir y ensayar prototipos de equipamiento de espacio público, nuevas tipologías de vivienda o el reciclaje de espacios en desuso.

Nave Lanzadera Nautarquía. Straddle3 y la Alien Nación. Sant Pere de Torelló, Barcelona, España, Octubre 2008.

Lo que buscamos con estos encuentros, además de generar conocimiento y crear vínculos, es poder evaluar lo que estamos haciendo y hacia dónde nos dirigimos. Si la autoconstrucción y autogestión de los espacios han servido como un instrumento de cohesión y evaluación para los mismos colectivos, los encuentros han sido una herramienta de promoción de relaciones y dinámicas de colaboración entre nosotros, y a la vez de ampliación de la red de información, cooperación y acción directa que se ha comenzado a crear vinculada a la iniciativa. El refuerzo de los lazos entre nosotros está siendo progresivo. MUERTE La tarde del 5 de julio de 2009 un acto vandálico convertía en cenizas Künstainer, el espacio artístico autoconstruido y autogestionado por el colectivo de creadores y artistas Caldodecultivo, en Tarragona. Las llamas devoraron los contenedores, que estaban instalados en un parque de esta ciudad, llenándolo de vida y actividad durante seis

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meses intensos. En el momento del incendio, los contenedores estaban cerrados a cal y canto, para disgusto del colectivo, que se hallaba a la espera de que la administración diera el visto bueno a su reapertura. El programa de actividades que Caldodecultivo había elaborado debía de haber dado comienzo con la llegada de la primavera y el buen tiempo, en el mes de abril. En una emotiva carta a los colectivos, Unai Reglero, uno de los promotores del proyecto, aseveraba con toda la razón que si el espacio hubiera estado en funcionamiento, tal y como estaba previsto, no hubiera sido incendiado. No deja de ser irónico que en Recetas Urbanas hayamos bromeado muchas veces acerca de prender fuego al espacio de Aula Abierta, en Granada. Para nosotros es una forma de reivindicar que lo importante del espacio común no es tanto su dimensión física y material como la vivencial. No todo está conseguido con la resolución de la ocupación y la autoconstrucción. El uso es necesario para seguir vivos, y desgraciadamente, esta es una responsabilidad que en muchos casos no está sólo en las manos de los colectivos. Lo importante de toda esta historia es que la quema de los módulos no acabó con Künstainer. Todo el tejido social y cultural que había crecido con el espacio sobrevivió de alguna forma al acto vandálico, y continúa vivo y activo. El mapa de la iniciativa, surgido a la vez que nos dábamos cuenta de la necesidad de creación de una red, recoge tanto las experiencias precedentes de Aula Abierta y Trincheras, como todos los proyectos emprendidos, hayan sido construidos o denegados, estén a la espera de mutar o ver la luz, hayan desaparecido, como SpaiDer3* y Künstainer. Esta cartografía, de la que existen multitud de versiones, es mucho más que un plano de situación: su función no es tanto visualizar las experiencias como crear un documentoherramienta que facilite a todos y cada uno de los colectivos el éxito en las negociaciones necesarias para poder llevar a cabo sus proyectos.

con el paso del tiempo, nos han ido mostrando diversos protocolos de gestión y financiación, mecanismos de ocupación de solares o edificios, maneras de funcionar como colectivos, asociaciones y cooperativas, instrumentos de autocrítica y evaluación. Aunque el reuso de los contenedores ha involucrado a un número de 13 colectivos que trabajan con la autoconstrucción como una de sus armas de participación, el sondeo y contactos realizados en estos tres años de trabajo intenso, no se ha limitado sólo a ellos. A día de hoy son más de 50 colectivos de toda España y 11 en Latinoamérica (Argentina, Colombia, México, Paraguay y Uruguay) los que trabajan en red en diferentes proyectos. Actualmente estamos trabajando en nuevas herramientas: por un lado un archivo sobre colectivos y sus experiencias, basado en un cuestionario, y que puede dar idea de la magnitud del problema de la falta de espacio que afecta a diversos grupos ciudadanos; por otro, una serie de fichas técnicas que recogen lo aprendido en esta experiencia y otras similares en Europa y Latinoamérica. Estas fichas reflejan los diferentes protocolos de ocupación del suelo que se han producido, así como aspectos legales y técnicos. Nuestra idea es generar, a partir de esta base de datos, una red de contactos y actividad que, sin necesidad de sistematizarse o institucionalizarse como tal, pueda generar herramientas y conocimiento común. Una red que pueda ser activada a partir de proyectos concretos que partan de unos y otros, y en los que cada cual pueda implicarse libremente, según sus circunstancias, posibilidades e intereses. Para ello hemos creado una herramienta digital colaborativa que sirve de soporte a esta y otras redes, proporcionando información, facilitando los intercambios y las conexiones, y ofreciendo, como no, nuevas recetas. Nuestro horizonte inmediato es la cooperación transnacional.

HORIZONTE Camiones, contenedores, colectivos ha servido realmente como una oportunidad de experimentar en diferentes situaciones que,

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INTELIGENCIA COLECTIVA

Inteligencias Colectivas Plataforma colaborativa latino-americana de registros de tecnologias informais www.inteligenciascolectivas.org

Cada lugar del mundo posee su propio abanico de técnicas constructivas. La coexistencia de diversos calados de industrialización y desarrollo económico permiten que las viejas técnicas artesanales que subsisten se mezclen con productos semiindustriales y mantengan su vigencia en entornos poco estandarizados. De este modo, las soluciones constructivas sin planificación arquitectónica trascienden, generando una gran variedad de procedimientos sobre los que existe una sabiduría popular heredada, pero corregida y combinada con un alto grado de improvisación en términos de materiales y técnicas de nuevo cuño. Inteligenciascolectivas.org se inspira en este fenómeno para crear un lugar de encuentro, una base de datos libre y un registro de detalles constructivos colectivos a partir de ejemplos reales de construcciones no estandarizadas e inteligentes. De esta manera se intenta promocionar este tipo de conocimiento tecnológico, dándole la difusión que se merece y construyendo una red de personas y colectivos en torno a él. Inteligencias colectivas es también la excusa para evolucionar este conocimiento a través de prototipos materiales gestionados mediante sistemas horizontales de aprendizaje. En distintos lugares de todo el mundo aun encontramos un particular panorama de técnicas constructivas que, aunque presentan características innovadoras, una baja intensidad energética, una elevada adaptabilidad a diferentes situaciones y han sido creadas y perfeccionadas colectivamente, no se encuentran debidamente consideradas ni documentadas. Resultan, por tanto, de difícil acceso, haciendo más complicado su conocimiento, utilización, implementación y evolución. Hablamos de procesos constructivos, arquitectónicos y urbanísticos que combinan técnicas tradicionales con técnicas y necesidades contemporáneas, incorporando materiales/construcciones reutilizado/as, semiindustrializado/as, artesanales y elaborados, en la mayor parte de las ocasiones, por autoconstructores “outsiders”. En los países menos estandarizados los distintos niveles de industrialización, unidos a un desarrollo económico variable, han permitido la convivencia de viejas técnicas artesanales con productos semindustriales. Sus resultados se mantienen vigentes

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en entornos débilmente estandarizados, aunque estos métodos constructivos son a menudo denostados y suelen desaparecer en caso de actuaciones de “mejora” a mayor escala. PLATAFORMA DE DIFUSIÓN PARTICIPATIVA Inteligencia colectivas, trabaja con el conocimiento tecnológico no estandarizado, que tiene muy difícil su difusión y legitimación en los círculos de “poder”. Una de las tareas principales de la plataforma es legitimar este conocimiento para que se pueda convertir en referente de desarrollos tecnológicos e industriales futuros, para que se reconozcan sus capacidades, sus estéticas, sus valores. Pero a la vez, pensamos en repensar críticamente el marco de difusión de estos procesos, intensificando para ello las propias propiedades que tiene este tipo de conocimiento. El reto consiste en construir un soporte digital de difusión y crítica, que permita crear una red de conocimiento descentralizado. Para ello publicamos “www.inteligenciascolectivas.org”, un portal de internet de libre acceso y registro, donde cualquier usuario puede involucrarse en cualquier fase del proceso de inteligencias colectivas. Cualquier usuario tiene acceso al conocimiento actualizado, y a la vez cualquier usuario se puede convertir en distribuidor y creador de ese conocimiento. Un portal que participa de las ventajas de las redes sociales como elemento de difusión que genera contenidos a la vez que lo muestra, y donde se diluyen los roles habituales de editor y lector. A la vez, establecemos la construcción de una taxonomía entre las inteligencias que permita catalogar y clasificar los hallazgos, desarrollar el trabajo digital descargable, o presentar los prototipos constructivos realizados. RED ACTIVA DE PERSONAS Y COLECTIVOS Inteligencia colectivas es una herramienta que no solo busca la difusión de los sistemas construidos, sino también busca la construcción de una red de personas y colectivos, que trabajen o tengan interés en el desarrollo de estos sistemas. Construir la red de conocimiento a partir de involucrar personas y agentes en cada uno de los lugares donde se trabaja, expertos locales, proveedores, arquitectos, técnicos, vecinos, artesanos, constructores, etc. A través de la construcción de la red humana, se consigue llegar a espacios específicos inaccesibles a agentes que no

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sean locales, se intercambian metodologías de trabajo, y se consiguen aliados para los desarrollos constructivos. A la vez que inteligencias colectivas trata de difundir el conocimiento tecnológico encontrado, también trata de difundir la red de agentes locales asociada, para facilitar la construcción de enlaces en nuevas materias o proyectos. PEDAGOGÍA HORIZONTAL Una de las actividades desarrolladas con la herramienta “inteligencias colectivas” es la configuración de talleres docentes, con institutos de investigación, universidades, entidades varias o simplemente socios locales. Los formatos pedagógicos, permiten involucrar a muchos agentes en el conocimiento de la herramienta e implementarla con enfoques muy diferentes. Para el diseño de los talleres, siempre se ha trabajado desde inteligencias colectivas, asumiendo la responsabilidad total de cada uno de los agentes participantes. No se trabaja estableciendo jerarquías de profesores y alumnos, sino que se intenta posibilitar la conexión de distintos agentes que trabajan

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coordinadamente durante el tiempo que dura el taller. Por un lado esto permite que cada integrante aporte al grupo lo que mejor sabe hacer y de la misma manera que cada uno pueda aprender aquello de lo que tenga más ganas. La experiencia nos demuestra que de esta manera, el compromiso global del taller se pone más rápidamente de manifiesto, posibilita mejores relaciones entre agentes locales, “alumnos” y profesionales de fuera y obtiene resultados más comprometidos y que tocan muchos intereses distintos de la realidad. PLANTEAMIENTOS CRÍTICOS DE PROBLEMÁTICAS LOCALES Inteligencias colectivas intenta ser una herramienta crítica de análisis de la realidad, extendiendo sus intereses no solo a detalles constructivos, sino buscando comprender porque se dan esos detalles y en que contextos se producen. Es una herramienta que trabaja de manera aescalar, en procesos muy concretos y en situaciones muy extensas. Las reflexiones que surgen de la investigación tecnológica, mezclan intereses de disciplinas múltiples y permiten que a través


de un sistema sencillo, como es la herramienta inteligencias colectivas, podamos descifrar situaciones complejas, que son las que imperan en los contextos donde trabajamos. El trabajo de campo es imprescindible para esto, y se desarrolla a partir de provocar el análisis de situaciones, la búsqueda de sistemas inteligentes, el contacto con comunidades o la investigación del detalle. En nuestra experiencia, contrastamos que el análisis de una situación constructiva compleja, siempre viene precedida de la localización de un interés de escala mayor, de alguna manera es pretender armar un proceso de reflexión sobre un urbanismo de inteligencias colectivas. Estos sistemas nos permiten también detectar problemáticas y a partir de ello, plantear estrategias para trabajar con ellas, utilizando siempre como nexo común la propia herramienta de reflexión. DESARROLLOS CONSTRUCTIVOS Por último, inteligencias colectivas también es una herramienta propositiva. Consideramos que la mejor manera de poner en valor una técnica o investigar procesos constructivos, es a partir de una reflexión creativa, donde no solo se acopia un material o un conocimiento determinado, sino que se testea, se prueba, se piensa, se modifica, se evoluciona, etc. Es importante para desarrollar la herramienta, que se pruebe como catalizador capaz de detectar enunciados necesarios en los distintos contextos donde se trabaja. De esta manera localizar situaciones donde sea posible y deseable intervenir, y plantear las intervenciones desde una evolución de lo aprendido en las inteligencias locales. Creemos necesario plantear la fabricación de prototipos que lleven al límite el conocimiento tecnológico adquirido, desarrollándolo, evolucionándolo, mezclándolo con otros contextos constructivos, transformando sus condiciones programáticas o ambientales, etc. Investigar y analizar proponiendo, nos adentra mucho más en las redes de proveedores, en el conocimiento local constructivo y en las condiciones de contorno, lleva directamente al límite las condiciones de trabajo y permite que el análisis del contexto pueda llegar a capas de mucha más profundidad.

METODOLOGIA La actividad principal de los trabajos de inteligencias colectivas siempre ha sido la búsqueda y detección de las propias inteligencias. Desarrollar ese catálogo de conocimiento tecnológico alternativo. Para ello serán precisos el rastreo y la mirada crítica, y estar completamente dispuesto a documentar y procesar el proceso u objeto. Es necesario recoger el mayor número de información posible, desde fotografías, hasta comentarios de las personas que fabrican o utilizan. Para el procesado de esta información y su posterior edición, será muy importante haber rellenado el máximo número de expedientes de información de cada inteligencia y permitir así una correcta y completa difusión de la misma. La busqueda se produce en cualquier ámbito, en cualquier lugar, ante cualquier realidad, aunque si es cierto que existen emplazamientos donde la tecnología no estándar sale a flote por si sola e inunda todo, en otros lugares hay que mirar con lupa hasta descubrirlas. Cuanto más industrializado este un contexto, más difícil es de encontrar las soluciones características inteligentes, aunque no es cierto que solo se encuentren en lugares sin industrializar con bajos recursos económicos, de hecho, hemos descubierto muchos ejemplos de espacios públicos o infraestructuras gestionados por administraciones y que podrían catalogarse perfectamente como inteligencias colectivas. La búsqueda de inteligencias genera cartografías ficticias de derivas y paseos por la ciudad, genera contextos investigados que permiten construir análisis críticos de cada uno de los contextos donde nos encontramos. A la vez, este proceso analítico evidencia la aparición enunciados de actuaciones posibles. La búsqueda de inteligencias que trata el detalle más específico se convierte en la herramienta con la que analizar una gran extensión urbana. Es muy importante, en el desarrollo de la herramienta, considerar cada elemento catalogado como una pieza a la que realizar una investigación posterior, que por una lado permita descifrar nuevas claves que se habían pasado por alto y por el otro permitan la construcción de una documentación exportable en distintos tipos

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de formatos. Cualquier persona puede, buceando en los catálogos de la plataforma, aprender desde el funcionamiento hasta la lógica constructiva de cualquier inteligencia. Del mismo modo, siempre hemos creído en inteligencias colectivas como una base de conocimiento libre, donde cualquier persona puede aportar, pero también alimentarse de ella. De este modo, los usuarios de la plataforma, pueden utilizar los detalles extraídos de la edición y el desarrollo de las inteligencias encontradas, para los proyectos personales de cada uno. Se busca y se recomienda, la actualización de cada detalle a los nuevos contextos y si es posible, compartir también la información relativa a esa actualización en la propia plataforma. De este modo, la página se convertirá en un objeto crítico, que podrá leerse también con un desarrollo en el tiempo, en la que descubrir las distintas evoluciones y adaptaciones que se irán practicando a cada uno de los hallazgos tecnológicos, la investigación de inteligencias colectivas, una vez más, deja de ser analítica y podrá ser propositiva. El método de inteligencias colectivas, como ya hemos explicado, no solo parte del análisis crítico de la realidad y la creación de una base de conocimiento. Consideramos fundamental, interactuar, evolucionar e investigar constructivamente con los detalles que vayamos encontrando, para así comprender su globalidad y conocer sus posibilidades. Las inteligencias colectivas que localicemos, no valen de nada si están muertas o estáticas. Proponemos crear estrategias de investigación, a través de talleres con universidades o entidades culturales, o bien a través del propio interés y la organización de los integrantes de la plataforma, que desarrollen tipológica y constructivamente, algunas de las inteligencias encontradas. Que la búsqueda de enunciados, que permite el análisis crítico urbanístico de la herramienta, se pueda combinar con la gestación colectiva de prototipos, para de esta manera dar respuestas trabajadas a esos enunciados. Los prototipos construidos, pretenden ser objetos críticos, partes de procesos en el tiempo mucho más largos que la mera construcción,

probetas tecnológicas. Esto quiere decir que siempre que se pueda se deberán establecer criterios para aprender si se quiere repetir o mejorar el prototipo, pero sobre todo sobre su capacidad para evolucionar a partir de los distintos usos que pueda llegar a tener en sus diferentes vidas. Es mucho más enriquecedor para inteligencias conseguir acompañar a estos prototipos, durante las posibles evoluciones que sufran, incluso proponerlas y registrarlas. CONTINUACIÓN... Como ya hemos comentado previamente durante el desarrollo del informe sobre inteligencia colectiva, este proyecto no ha sido, sino que está siendo. Nunca se concibió como un proyecto puntual en el tiempo, sino como un proyecto con potencial para trabajar según un esquema evolutivo. Un proyecto continuo, donde habrá fases en las que se intensificará la actividad reflexiva, teórica, y prácticoconstructiva. En estas fases se seguirá, se diseñará y se acompañará a los proyectos por parte de inteligencias colectivas o por parte de nuevos socios. Los formatos de trabajo en estás fases, también pueden evolucionar, y podrán seguir siendo talleres horizontales universitarios, o convertirse en proyectos de ejecución colectiva. Para todo ello, tanto continuar con el desarrollo de los proyectos empezados, como para conseguir proponer nuevas vías de trabajo, continuaremos trabajando en colaboración con entidades locales y nacionales, que nos permitan subvencionar estos proyectos. Proyectos dentro de un proyecto, abierto y libre de legitimar una base de conocimiento, la inteligencia colectiva.

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O QUE O POVÃO USA Douglas Carlos Designer de moda, criador do blog “O que o povão usa” e colunista do iG Moda colunistas.ig.com.br/oqueopovaousa Gravatá, PE

O blog “O que o povão usa” foi a forma que o pernambucano Douglas Carlos encontrou para divulgar a moda em sua forma mais autêntica e espontânea: aquela encontrada nas ruas. Ao perambular diariamente pelas cidade de Pernambuco, Douglas percebeu que as roupas usadas pelo “povão” muitas vezes continham referências despretensiosas às produções atuais da alta costura e até mesmo a tendências anteriores. O blog, criado em agosto de 2010, foi a melhor maneira de compartilhar com o mundo sua percepção investigativa acerca da moda popular brasileira. Mesmo com a intenção de valorizar as referências de moda vistas nas ruas, alguns leitores viam em sua proposta certo teor humorístico: “apesar de ficar bem claro nas minhas postagens com textos breves e interpretações simplificadas, tive que explicar detalhadamente que não se tratava de um blog de humor”, relata Douglas. Seu trabalho vem ganhando cada vez mais reconhecimento. Hoje, o blog faz parte do iG Moda, que exige que suas postagens sejam mais aprofundadas, apresentando paralelos diretos entre aquilo que o colunista encontra nas ruas e a alta costura. Nesta edição, trazemos uma breve seleção das imagens captadas por Douglas.

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ATLAS DA DIVERSIDADE

Antonio Yemail Universidad Javeriana de Bogotá, Colômbia Francisca Caporali JA.CA Centro de Arte e Tecnologia Juliana Torres Escola de Arquitetura UFMG Natacha Rena Escola de Arquitetura UFMG e JA.CA Belo Horizonte, MG

Apresenta-se aqui parte do processo de construção de mapeamentos realizados em maio de 2011, durante as atividades da Mostra de Design (que incluem Seminário Internacional de Design e Política e também workshops realizados durante cinco dias). Estas ações fazem parte originalmente de um Programa Extensionista do Grupo de Pesquisa Práxis da EAUFMG, o DESEJA.CA - Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo Social no Bairro Jardim Canadá, que possui o objetivo geral de desenvolver propostas de empoderamento social através de atividades de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo áreas complementares: arte, arquitetura, urbanismo e design. Os mapeamentos foram produzidos durante workshop realizado no Centro de Arte e Tecnologia JA.CA sob coordenação do arquiteto e designer colombiano Antonio Yemail (Oficina Informal). Como o objetivo geral deste Programa de Extensão Universitária é realizar inclusão produtiva através de processos envolvendo economia criativa e desenvolvendo a criação e a produção de artefatos manufaturados com resíduos coletados no próprio bairro, o intuito do workshop Atlas da Diversidade, foi explorar metodologias de trabalho coletivo entre estudantes, professores, profissionais e público beneficiário, no sentido de promover o intercâmbio de idéias e levantamento de informações, estimulando o debate e o compartilhamento de

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experiências e a construção de um atlas contendo uma multiplicidade de informações importantes para o entendimento das lógicas ordinárias do lugar. Para isto, houve um trabalho de imersão durante uma semana, no qual os participantes do workshop experimentaram novos processos de diagnóstico local com o intuito de possibilitar a criação de redes emocionais e subjetivas em um percurso composto por diferentes atuações, que não se reconhecem através de uma escala homogênea ou de um formato pré-determinado, mas sim, pelo interesse em trabalhar com a energia disponível e trazer vínculos entre diversas formas de vida. TERRITÓRIO E DESIGN: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EMPODERAMENTO SOCIAL Existe uma enorme necessidade de desenvolvimento de parâmetros teóricos que possam nortear ações extensionistas no sentido de valorizar, para além do empoderamento econômico da comunidade

por si só, a identidade cultural de grupos locais, promovendo a melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas e potencializando a construção de uma identidade cultural compatível com o território em que vivem. Estas potencialidades de ações solidárias, em territórios determinados, fazem parte das diretrizes para atuação criativa dos planos de capacitação e projetos de empreendedorismo social através do artesanato e do design mais contemporâneos. Entender o território como lugar de troca e configuração de rede e, ao mesmo tempo, agregar valor aos produtos desenvolvidos coletivamente através da coleta de informações que possam potencializar uma estética que incorpora aos produtos a localidade e a cultura de comunidades específicas. Além da utilização dos resíduos abandonados nos lotes vagos do bairro, faz parte do eixo metodológico adotado compreender a lógica construtiva das inteligências coletivas adotada pelos moradores ao construírem suas habitações e intervenções urbanas despregadas do controle do poder público. Adota-se um processo criativo de objetos aliando o

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movimento estético ao contexto ético: valorização de uma identidade híbrida, mas específica, da comunidade local ao produto desenvolvido para ser comercializado, o que faz com que os beneficiários possam ter uma relação de pertinência com os objetos produzidos. Gerar aproximações com o lugar, seja por meio de associações do bairro, seja através de levantamentos cuidadosos e atentos à realidade local, são ações fundamentais para o início destes projetos de empreendedorismos solidários através do design. Desta forma, o Atlas da Diversidade foi um fator de agenciamento inicial das atividades extensionistas e de pesquisa, atrelando-se o design e a arquitetura (micropolíticas) a um pensamento urbanístico (macropolíticas) voltado para geração de futuras políticas públicas de desenvolvimento regional. ATLAS DA DIVERSIDADE A grande questão lançada foi: como a emergência das novas crises planetárias de ordem climática, energética e política, ou de valores pós-materialistas como a igualdade de gênero, a preservação do meio ambiente e o respeito à diversidade étnica, sexual e social como um todo, estão impactando a prática da arquitetura, da arte, do urbanismo e do design a nível continental? Como forma alternativa de se observar e se aproximar dos eventos urbanos contemporâneos, Stefano BOERI (2010: 183) levanta a possibilidade da realização de ‘atlas ecléticos’, que seriam modos de representação do espaço e do cotidiano da cidade atual, não somente como uma estratificação de níveis de realidade, mas também como um modo coletivo de se pensar o espaço. Seriam representações com múltiplos pontos de vista e que fazem um contraponto ao paradigma dominante, atacando-o lateralmente. Seriam formas de observação dos territórios habitados em busca de códigos individuais, locais e múltiplos que aproximam o observador do observado. Segundo o pensador, os atlas ecléticos:

“(...) propõem novas maneiras de examinar as correspondências entre o espaço e a sociedade. São textos heterogêneos – informes, estudos fotográficos, descrições geográficas e literárias, classificações, informes de investigação, investigações qualitativas, ensaios e artigos, antologias e monografias, memórias de planejamentos e projetos, etc. – porém similares em sua aproximação visual. Tendem a assumir a forma de um ‘atlas’ porque buscam novas correspondências lógicas entre os objetos que ocupam o espaço, as palavras que utilizamos para nominá-los e as imagens mentais que projetamos sobre eles; e tendem a ser ecléticos porque os critérios nos quais se baseiam estas correspondências são multidimensionais, espúrios e experimentais.” (BOERI, 2010, p.183) Seguindo a lógica dos atlas ecléticos citados por Boeri, a proposta do Oficina Informal para o Workshop da Mostra de Design 2011 adotou quatro eixos conceituais norteadores: 1) cartografia de coleta (reconhecimento do bairro para a gestão de material local); 2) baixa resolução e imperfeição (trabalhar em um marco de restrições e limitações assumindo-as como um dado a mais de trabalho); 3) inteligência coletiva (reaplicação e evolução de técnicas de soluções construtivas populares); 4) urbanismo dos acontecimentos (ações reversíveis no espaço público com um tempo de duração determinado). Os mapeamentos realizados no Atlas da Diversidade seguiram as diretrizes da construção coletiva de um modelo analítico para a visualização da complexidade, da mestiçagem e da energia social, das quais extraíram-se as oportunidades de desenho, entendendose mapemanto como layers, resultantes sintéticos de uma realidade extremamente heterogênea. Alguns dos mapas que foram realizados durante o workshop foram:

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx diversidade produtiva/ DIVERSIDAD / DIVERSIDAD PRODUCTIVA xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx diversidade produtiva PRODUCTIVA 1

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1

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3

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xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

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texto cortosobre el tema conclusion texto cortosobre el tema de los mapeado de ¡¡¡¡¡¡ los mapeado ¡¡¡¡¡¡ Diversidade Diversidade Diversidade cromática

Salão masculino

Salãomasculino masculino Salão 7

cromática

cromática

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7

9

8

Mercearia

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Depósito Depósito de de15 desmontes desmontes

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Salões geminados e Marketing Salões geminados e Salão informal divididos por gênero Marketing Salão decorado Marketing Salões geminados informal Salão informal Salão decorado decorado Salão Salão informal divididos por gênero informal

informal10

Loja “vende de tudo”

Supermercado local Biscoiteria local

Biscoiteria 21 Supermercado Supermercado local Biscoiteria local local 19

Floricultura

Padaria 25

Padaria Padaria 25

Padaria Padaria

Peças de bicicleta

Lan house house Lan 31

33

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Peças de demolição

Peçasde de Peças bicicleta bicicleta 32

Comida caseira atendimento

Centros de distribuição 34

Consultório Consultório Odontológico odontológico 33

Peças automotivas

Pet Shop

34

Livraria e café evangélico

Estudo do espaço Estudo do espacao interno de um salao de beleza interno de um salão

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Pet Pet Shop Shop 29

Centrosde de Centros distribuição distribuição

Estudo do espacao interno de um salao de beleza

Telefonia Celular

de beleza

Telefonia Celular Telefonia Celular 30

Lavanderia e locadora 35

Bar Bar

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Consultório Odontológico

Bar

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Borracharia Borracharia

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31

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Floricultura Floricultura

Lan house

Sacolão Sacolão

Borracharia

Padaria

Açougue

24 Bar informal na casa Bar informal na casa do proprietário do proprietário

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Açougue

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Bar informal na casa do proprietário 23

Vestuário Vestuário 21

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Açougue

Mercearia

18 Marcenaria

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Sacolão 22

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Marcenaria

Vestuário 17 Vestuário 16

Vestuário

20

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Vestuário

Loja“vende “vende Loja 16 de detudo” tudo”

divididos por gêneros

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11

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Depósito de desmontes

Mercearia

Mercearia 13

Bar informal na calçada 36

Lavanderia ee BarBar Lavanderia informal informal Predominância: locadora calçada videolocadora nana calçada

35 Diversidade comercial em uma36 edificação: lanchonete, papelaria e loja “vende de tudo”

Atividade residencial

Comércio local/ Microeconomia Comércio regional

Predominância: Peças de Peças de demolição demolição

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TARIFAS

TARIFAS

corte de cabelo $ corte xxx de cabelo $ xxx mANICURE $ xxxx mANICURE $ xxxx conclusion

Diversidade comercial em Peças Livraria e café Comida Diversidade comercial em uma Comida caseira automobilísticas Livraria e café Peças uma edificação: lanchonete, evangélico edificação: lanchonete, papelaria e caseira atendimento evangélico automotivas papelaria loja “vende de tudo” loja e“vende de tudo”

Atividade residencial Atividade residencial

Atividade Industrial

Atividade Comércio local/ Atividade Comércio local/ Microeconomia Comércio regional Comércio regional Industrial

microeconomia

industrial


Mapeamento da Diversidade Ecológica - Inventário botânico de espécies medicinais, de frutas ou aromáticas. Presença da fauna como aves, animais, árvores nativas (e suas relações com o uso), zonas verdes, ciclos climáticos, chuvas, ameaças ambientais; Mapeamento da Diversidade Étnica e Micropolítica - Origens da população, interesses, grupos étnicos, localização espacial por gênero e idade, lideranças, redes de vizinhança, fronteiras e conflitos internos; Mapeamento da Diversidade Material e das Inteligências Coletivas - Sistemas construtivos, porcentagens dos materiais utilizados, procedências, tipos de revestimento, tecnologias comunitárias para a gestão da água ou da energia, técnicas artesanais, materiais não convencionais, soluções construtivas para o manejo da sombra e da chuva, crescimento das habitações com o tempo, tipologias espaciais singulares; Mapeamento da Diversidade Produtiva e dos Ofícios Emergentes - Pequenas economias locais, negócios tradicionais, habitações mistas, comércio formal e informal, sistemas de marketing local, artefatos móveis, produtos temporários, mercados e abastecimento local, fábricas e negócios em grande escala, cooperativas produtivas, informalidade, mercado negro e contrabando, escritorios de ofícios tradicionais, depósitos de materiais de construção; Mapeamento da Diversidade Cultural e dos Acontecimentos Cotidianos - Gastronomia local, pratos típicos, festas, grupos e bandas musicais típicas, tribos urbanas, mecanismos de sociabilização, formas de celebração, festividades importantes, santos e ícones religiosos relevantes, feiras, mestiçagens e transculturalização, uso cotidiano da rua, paisagens sonoras, esportes populares, manifestações artísticas; Mapeamento da Diversidade Gráfica e das Redes de Comunicação - Tipografias, cores das fachadas, letreiros, grafiti e stencil, formas e estilos de senalização, presenta do bairro na Internet (Google, Facebook, Flickr, Youtube, Wikipedia), lanhouses e correiros eletrônicos, redes wifi, rádios comunitárias, páginas da web; Mapeamento da Diversidade Urbana e dos Espaços Públicos - Tipos e intensidade de fluxos, manejo de lixos, pontos de reciclagem, inventário do mobiliário público oficial e espontâneo, usos programados e não programados do espaço público, zonas de

permanência e segurança, relação do bairro com o município e a região metropolitana; dentre outros. “Estes atlas utilizam uma variedade de ângulos de visão simultaneamente: desde o alto, porém também através dos olhos de quem habita o espaço, ou experimentando novas e despretensiosas perspectivas imparciais. Em particular, se preocupam por manter uma clara distinção entre a subjetividade do observador real (de quem olhamos a paisagem e observamos suas representações) e os simulacros de subjetividade que incorporam as tecnologias da representação, convencidos de que nossa identidade se configura no ato fundante da visão, dentro do ato de observar (...)” (BOERI, 2010, p.184).

AGRADECIMENTOS Agradecimentos: à Universidade Federal de Minas Gerais pelas bolsas de extensão e logística de apoio à pesquisa; à Bruna Di Gioia e ao Marcelo XY, que auxiliaram na coordenação do workshop; aos alunos que realizaram os mapeamentos que compõe o Atlas da Diversidade: Ana Infante (UFMG), Bianca Ribeiro (UFMG), Cecília Reis (UFMG), Danilo Caporalli (UFMG), Felipe Carnevalli (UFMG), Fernando Borges (UEMG), Luiza Magalhães (UFMG), Luiz Gustavo Pataro (UFMG), Karine Marçal (UFMG), Marcela Figueiredo (UFMG), Mateus da Matta Machado (UFMG), Natália Freitas (UFMG), Paulinisia Braga (UFMG), Pedro Henrique Silva (UFMG), Ulisses Machado (UFMG), Vítor Lagoeiro (UFMG). REFERÊNCIAS: BOERI, S. Atlas eclécticos. In: WALKER, E. (ed.). Lo ordinario. Barcelona: Gustavo Gili, 2010. P.177-204. OLIVEIRA, B.; RENA, N. S. A. Territórios aglomerados: design e extensão universitária. In: Natacha Rena. (Org.). Territórios aglomerados. 1 ed. Belo Horizonte: Universidade FUMEC, 2010, v. 1000, p. 12-23.

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ESCUELA NUEVA ESPERANZA

Al Borde David Barragán, Pascual Gangotena www.albordearq.com Quito, Equador

“Para todos los que hacemos la comunidad de Puerto Cabuyal ha sido un motivo de orgullo tener nuestra nueva escuela. La comunidad se halla ubicada en la playa, en el campo, en un sitio apartado de los pueblos, siendo la pesca y la agricultura la base del sustento diario. Hasta hace 4 años en la comunidad no existía ninguna escuela, por lo que la mayoría de sus habitantes son analfabetos. Creamos nuestra escuelita, funcionando durante este tiempo en una pequeña cabaña, este espacio se fue volviendo pequeño para la cantidad de niños, por lo que emprendimos la construcción un nuevo local.” El Profe La mayoría de las escuelas del sector son hechas de hormigón, de forma rectangular, con rejas en las ventanas que más tienen el aspecto de cárceles, el nivel de deserción escolar es sumamente alto. Es por esto que el proyecto busca no solo resolver problemas inmediatos, sino generar soluciones a largo plazo. Era necesario diseñar un espacio acorde a los principios de una escuela activa, íntimamente relacionada con el ambiente natural que le rodea, un espacio donde los niños despierten su imaginación, su creatividad, su deseo de aprender nuevas cosas, y no un espacio donde los niños se sientan reprimidos. El proyecto usa los mismos materiales y lógica constructiva con las que la comunidad ha venido construyendo por años sus casas. Una base de madera sobre pilotes, paredes de caña, estructura de madera y el techo tejido con paja toquilla o cade. La diferencia radica en la concepción y conceptualización del espacio, un lugar para una educación que fomenta el aprendizaje por medio de la acción.

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“En el aprendizaje de los niños ha habido un gran cambio, desde el abrir la puerta y entrar a la escuela es un motivo de descubrimiento para ellos, una lección de física. El espacio es amplio en todo sentido, por lo que los niños se sienten más libres encontrando cada cual un lugar en donde desarrollar su actividad. El modelo y la estructura trasmiten un ambiente de frescura e imaginación que han favorecido para el desarrollo de actividades artísticas y académicas en el campo, a través de las enseñanzas que da el mejor profesor para un ser vivo, la naturaleza.” El Profe


Despues de la construcción en 2009, niños y padres son orgullosos de su escuela, del cambio que ella ha significado, siendo un motivo de unión y autoestima para toda la comunidad, y al ver como toda la gente de afuera que la conoce se admira de ella.

“En nuestra comunidad de pescadores, es lo más lindo poder tener una escuela en forma de barco, en donde todos los días los niños se suben a ella para navegar y descubrir nuevos mundos, desde su misterioso mundo interno, lleno de habilidades y potencialidades, hasta el gran mundo externo que nos rodea. En donde los niños aprenden de la ciencia y la tecnología, partiendo primero desde el valor de la vida en el campo, a través de las enseñanzas que da el mejor profesor para un ser vivo, la naturaleza.” El Profe

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fachada oeste

fachada sur

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DESPRENDER SÓLO EN CASO DE EMERGENCIA

DESPRENDER SÓLO EN CASO DE EMERGENCIA


Entierra dos tenedores en la tierra para que deje de llover.

DESPRENDER SÓLO EN CASO DE EMERGENCIA

San Isidro Labrador, quita el agua y pon el sol.

Para que deje de llover regala docenas de huevos a ancianatos.

DESPRENDER SÓLO EN CASO DE EMERGENCIA

San Antonio bendito, haz que llueva, así sea un poquito.


bate-papo com OFICINA INFORMAL Desde 2007, o Oficina Informal vem trabalhando como um escritório independente de arquitetura localizado em Bogotá, Colômbia. Tendo a diversidade biológica, cultural, política e material como fio condutor para suas investigações e proposições, o Oficina Informal busca intervir no cotidiano de modo a preservar e potencializar a complexidade já existente no terreno de atuação, sem simplificações ou hegemonias. Muitas vezes, esse olhar atento à escala microlocal permite ao Oficina Informal assumir o papel de próprio construtor de seus projetos, levando seus envolvidos não somente a se manterem mais Parahyba: Na sua opinião, qual é o papel político do arquiteto, design e urbanista latino-americano no contexto atual de emergência de países tradicionalmente periféricos e crise nos países tradicionalmente centrais? Antônio Yemail: La afirmación de que el espacio es político y que la arquitectura puede ser una practica política ya no sorprende a nadie. En las ultimas décadas hemos visto intensificar el uso de la arquitectura como un medio para legitimizar las fuerzas del mercado, los discursos del poder o, por otro lado, como proceso para movilizar inteligencias y grupos sociales. Pero a pesar de que en Latinoamérica estamos ante una generación de arquitectos que se apoya en algunos de estos discursos, tengo la impresión de que en su trasfondo y andamiaje ideológico, esta es una generación muy apolítica. De esa forma, las convicciones que podrían considerarse más cercanas a una ideología individual, es decir, a la de los principios en los que cada individuo cree y con los que se representa, como podrían ser la búsqueda de una sociedad más igualitaria o cualquier otra cosa , han sido sustituidas por la

otimistas em relação ao mercado, mas também a experimentarem as tecnologias locais descobertas em seus lugares de atuação. Nesta edição, a Parahyba tem uma breve conversa com Antonio Yemail, professor da Universidade Javeriana de Bogotá e arquiteto e designer na Oficina Informal, que nos conta um pouco sobre as possibilidades de converter formas críticas de pensar em práticas contemporâneas de arquitetura e design na América Latina atual. www.oficinainformal.com idea de una arquitectura libre de valores y significaciones, en la que todo tipo de justificaciones sociales, políticas, culturales o estéticas tienden a convertirse en retórica. Dicho de otro modo, considero que al minimizar el rol del pensamiento político en los arquitectos, no se puede producir una arquitectura que involucre las cuestiones sociales de una manera significativa. Diría que el verdadero rol de los arquitectos Latino-Americanos en este momento es reconciliar su forma de pensamiento con la practica, sin importar cual sea la ideología. Creo que nuevamente vivimos un momento en el que la fluidez ideológica va de la mano de la fluidez arquitectónica. Puedo entender que para muchos esta idea represente una vuelta a la idea de inicios del movimiento moderno y a la creencia de una arquitectura mucho mas heroica y universal, pero no se trata de esto. Vivimos una época muy diferente a la de los maestros del movimiento moderno. Una época en la que la política se ejerce de forma individual, con menos dogmas, y en la que las grandes ideologías ya enseñaron su lado más nefasto. Contamos además con nuevos sistemas de comunicación, con un mundo más pequeño en el

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Gracias Por su Visita Matadero. Madrid, España 2011 Comisario Iván López Munuera

que los problemas son más que nunca universales. Todo este marco de referencia sumado a toda esta idea de inestabilidad que ha producido la crisis del sistema económico mundial, ha configurado un momento propicio para que cada quien se reconecte con sus valores éticos como ciudadano, y una oportunidad de conectarlos de manera coherente y fluida con sus formas de hacer. Em quais dos seus trabalhos você vê maior presença desse potencial político? Por qual motivo? Como arquitectos tratamos de actuar de la forma más coherente que podemos en relación a nuestra convicción de que en Latinoamérica

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podemos vivir en una sociedad del bienestar, más igualitaria, y en la que la base de ese bienestar sea el entendimiento de nuestra diversidad cultural, social y ecológica. De esta forma hemos entendido que nuestro gran proyecto es la vida misma, y que todos los proyectos que hacemos están interconectados con esa idea de alguna manera, sin importar el programa, el tamaño, el formato, o si es un ámbito publico o privado. La presencia de ese pensamiento político es una cuestión difícil de rastrear porque el marco de relación y los contextos en que se produce cada uno de los proyectos es muy diverso, incluso a veces contradictorio desde el punto de vista de ese ideal político. Pero la aceptación de esa contradicción y la existencia simultanea de diferentes identidades dentro de nuestro trabajo, es justamente lo que lo podría identificarlo como una practica contemporánea.


Casa Barn

Michel Pineda + Antonio Yemail Sisga, Colombia 2007 Foto: Mateo Perez

Como você avalia a produção atual de arquitetura no Brasil? Ese es un tema muy particular, porque en Colombia no existe mucha difusión de la cultura arquitectónica del Brasil de estos días. Y digo que es particular porque, en cambio, la producción de los maestros de la modernidad Brasileros fue ampliamente difundida en cuanto a sus experimentos urbanísticos, los edificios singulares, la experticia técnica o la radicalidad constructiva. Desde entonces ha existido una especie de vacío, sobre cual ha sido la evolución del pensamiento moderno, y de que forma las nuevas generaciones lo han sintonizado con la complejidad del mundo actual. Siendo un poco suspicaz, este aparente silencio tal vez pueda interpretarse como un síntoma de que esta evolución en su arquitectura avanza más lenta que en otras latitudes.

Cuando veo la producción brasileira contemporánea – al menos la que aquí se difunde-, me quedo con la impresión de que hay cierta tendencia a la homogenización, poca disposición al riesgo y a la experimentación; lo que no sería un problema si no lo fuera, porque estamos hablando de un país mega diverso que seguro tiene más que mostrar además de edificios caros en São Paulo y Rio de Janeiro. Entonces creo que es natural que alguien como yo – desde mi visión externa y general- se pregunte qué pasa en cuanto a la arquitectura en tantas otras ciudades importantes del país. Acaso en Brasil solo existe un modelo de enseñar y entender la arquitectura? o por qué pareciera que la artes plásticas han resultado mejor libradas en el proceso de apertura y relevo generacional?

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Em seu trabalho, você realiza mapeamentos subjetivos dos lugares onde atua. De que maneira esse método de diagnóstico do campo influencia o seu processo de produção? De muchas formas. Hemos entendido que la descripción exhaustiva de lo existente es el mejor proceso para descubrir lo que podría existir. Utilizamos las cartografías como instrumentos de mediación y reconocimiento de la complejidad de la vida, como nuestra forma de convertirla en un material de diseño. Entendemos la arquitectura como un término que engloba la existencia de varias realidades y situaciones de orden social, político, ecológico o material que coexisten en un marco de relación mas o menos conflictivo. Al intervenir un contexto determinado, sin importar cual sea la escala, primero intentamos reconocer esa densidad de acontecimientos y las condiciones a través de las cuales se relacionan. Las cartografías y los diagramas nos permiten sintetizar los hechos concretos que rodean la práctica en una dimensión no sólamente espacial, es decir, no sólo referida a las cualidades materiales y físicas de los espacios, sino por ejemplo, a los actores sociales que están presentes, a sus intereses o sus formas de vida, y de esta forma establecer marcos de acción mucho mas complejos y diversos en el que podamos atender de una forma más cuidadosa todas esas diferencias. Por que é importante considerar as inventividades populares e informais na produção de arquitetura e design? Debo empezar por decir que la arquitectura informal es una fuente de reflexión e información muy relevante en nuestro trabajo, aunque no se trata de que hayamos asumido la informalidad como una especie de posición ideológica, ni que busquemos jugar explícitamente con arquetipos populares. Simplemente no negamos que cosas que tienen mala reputación y que parecen perversas para la profesión, como

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la informalidad, pueden tener gran interés: modelos de convivencia, sistemas constructivos o lógicas asociativas que desde otro punto de vista ofrecen respuestas muy eficaces a situaciones concretas. Situaciones marginales que en mi opinión, deberían alcanzar representatividad o, al menos, mayor visibilidad en todos los entornos sociales. Entendemos arquitectura informal y las inventivas populares como una práctica donde no hay espacio para cosas innecesarias, sino para protocolos de trabajo espontáneo y pragmático en situaciones adversas. Sin embargo, lo que nos interesa especialmente es el aspecto vital de lo informal. Aquello que se manifiesta como una enorme energía de interacción social, a pesar de su inestabilidad funcional, producto de reiteradas carencias y faltas de políticas públicas para encauzar los acontecimientos. En la informalidad, situaciones de altísimo mestizaje y gran diversidad que son búsquedas fundamentales de nuestro trabajo, adquieren lugar de manera natural.


La estructura pesquera en Japón

La cancha de futbol flotante del Pynee FC en Tailandia

Una Isla flotante construida con Totoras de la Comunidad de los Uros en Perú

Las viviendas palafíticas en La Guajira

El narco-submarino ecuatoriano

Los pescadores zancudos de Sri Lanka

Una estructura de pesca tradicional japonesa


MALHAS GLOBAIS, INVENTOS LOCAIS INTRODUÇÃO Luíza Magalhães e Pedro Henrique Silva Graduandos em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG Bolsistas do programa extensionista DESEJA.CA www.programadesejaca.wordpress.com Belo Horizonte, MG

Esse artigo é baseado na experiência de mapeamento e reconhecimento do Bairro Jardim Canadá pertencente ao município de Nova Lima/MG, situado às margens da BR 040 na região metropolitana de Belo Horizonte. Esta iniciativa partiu do programa extensionista da Escola de Arquitetura da UFMG, DESEJA. CA – Desenvolvimento Sustentável e empreendedorismo social no Jardim Canadá – em conjunto com a disciplina Projetos Sócio-ambientais II, do segundo semestre de 2011, ministrada pela professora Natacha Rena, também coordenadora do programa junto à professora Juliana Torres. MALHAS GLOBAIS, INVENTOS LOCAIS No eixo de expansão sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o bairro Jardim Canadá foi constituído originalmente por um tecido urbano ortogonal e bem definido que ainda permanece forte como limite dos quarteirões e são ocupados por: comércios destinados à população dos condomínios de luxo do entorno (nas margens da BR 040), inúmeros galpões destinados a diversos tipos de uso (de casas de festa de luxo a empresas de venda de jet-ski), habitações de classes altas, assim como comunidades em estado de vulnerabilidade social ocupando a malha urbana de maneira informal (subdividindo os terrenos entre comércio local e moradia multifamiliar) e curiosamente respeitando o desenho cartesiano regular. Um dos mapeamentos realizados nas atividades da disciplina optativa, denominado Inventos Jardim Canadá , teve como objetivo identificar e registrar por todo o bairro soluções criativas realizadas pela população expressas, principalmente, ao longo das ocupações informais que lá se situam . Observou-se a recorrência de adaptações criativas de materiais, objetos e ambientes de acordo com as necessidades da população local. Observou-se que os moradores não se deixam levar passivamente pelo espaço encontrado, mas o transformam em lugar, atribuindo-lhe um valor nos âmbitos individual e coletivo.

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O loteamento do bairro Jardim Canadá, aprovado em 1956, tem um traçado totalmente baseado na ortogonalidade. Localizado em uma área distante, tanto da sede de Nova Lima quanto do centro de Belo Horizonte, o bairro permaneceu durante muitos anos com ocupação esparsa, apesar da venda de lotes ter se iniciado ainda na década de cinquenta. As construções no bairro surgiram na forma de pequenos comércios locais e ocupações informais, ambos levados a suprir necessidades geradas pelos condomínios de luxo no entorno. O loteamento ofereceu uma base ortogonal que foi respeitada no que se refere ao desenho determinado pelo espaço que é essencialmente público (as vias) e foi deturpada nas áreas destinadas às iniciativas privadas, no interior dos lotes. Os desenhos dos lotes dentro de cada quadra foram respeitados em sua maioria, mas, em muitos casos, em vez de serem destinados à ocupação unifamiliar ou de um único estabelecimento comercial, como sugere o loteamento, viraram ocupações de uso múltiplo em número e diversidade de usos dentro do retângulo de 15x30m. Essas soluções encontradas pelos moradores para se adaptarem ao meio no qual estão inseridos revelaram, em nosso estudo, a capacidade de apropriação do lugar que o indivíduo e a comunidade têm quando, de alguma forma, escapam dos regulamentos em forma de legislação ou especulação que controlam a cidade. Segundo Certeau “Essas ‘maneiras de fazer’ constituem as mil práticas pelas quais usuários se reapropriam do espaço organizado pelas técnicas da produção sóciocultural.” (p. 41) , ou seja, são táticas que vão se alastrando caso-a-caso em escala micro-local, possibilitando a adaptação da ocupação do sítio, seja este um resíduo de espaço liso presente na malha urbana ou uma malha urbana em si, estriada e desocupada. Vê-se então a especificidade das táticas em oposição à generalização das estratégias aplicadas desmedidamente em escala global.

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Estratégias essas que, segundo Certeau, são as medidas determinadas por um agente externo dotado de poder a partir da observação das relações de força do ambiente. O próprio âmbito predominante na lógica do desenvolvimento de estratégias, ou seja, as relações de força e de poder do estado ou do mercado imobiliário, põe em evidência o fato de que a generalização e a reaplicabilidade indefinida de um método fazem parte do seu objetivo maior, afinal é mais fácil exercer controle sobre uma regra do que sobre várias exceções. E o que levou o Jardim Canadá a se tornar um antro de exceções? Lembrando dos agentes que controlavam as cidades pós-liberais e ainda controlam as contemporâneas, o poder público e os interesses privados de uma classe dominante, é razoável pressupor que pelo menos um falhou em cumprir seu “papel”. Levando-se em consideração que o loteamento foi aprovado na prefeitura de Nova Lima, e realizado nos moldes legislativos da época, provavelmente houve um desinteresse de interesses privados, afinal, no início da década de 60 o bairro se encontrava proporcionalmente muito distante do centro de Belo Horizonte, que ainda não se expandia na velocidade atual para o eixo sul. Logo, não havia demanda para os terrenos que ficaram desvalorizados. Mas o que importa é que assim, as táticas tiveram mais lugar para agir do que se poderia esperar. Observando-se apenas o plano de loteamento aprovado em 1956, percebe-se que foi gerado um lugar múltiplo e heterogêneo, baseado em soluções específicas para as características físicas e contextuais do sítio que ocupa.

subjetivas do que é imposto, quebrando discretamente a regra do jogo capitalista. A maneira de empregar o produto torna-se muito mais importante do que a funcionalidade a ele imposta por seus vendedores. Complementarmente, em um fenômeno conhecido como obsolescência programada, os produtos são vendidos com qualidade inferior à prometida, de modo a estragarem depois de um tempo para que o usuário tenha que adquirir uma peça nova. Isso garante que sempre haverá demanda para o que é produzido em larga escala . Levando em conta a baixa qualidade dos produtos industrializados e a omissão do poder público no bairro, dentre os 312 inventos mapeados, os mais recorrentes são as lixeiras. Encontramos adaptações que se apropriam de materiais e artefatos diferentes, sendo o objetivo final comum: proteger o lixo dos cachorros, uma vez que há um número elevado de cães de rua no bairro. Pode-se dizer que o caso mais simples encontrado, mas não menos inteligente e funcional, foi uma ferragem retorcida de modo a conformar um gancho o qual pendura os sacos de lixo no muro a uma altura segura. Mais comumente, estruturas de madeira suspendem um recipiente que abriga o lixo, sendo interessante observar que há uma variedade de recipientes, destacando-se caixas de madeira com acabamentos variados, cesto plástico, entre outros. Dois casos chamam maior atenção: em um, uma lixeira metálica convencional é atrelada a uma tora de madeira para elevar-se mais em relação ao nível do chão; em outro, uma peça de madeira que apoia uma caixa é amarrada em um poste, sendo que, mesmo torta em relação ao poste e a rua, cumpre sua função.

Referindo-se à onda de protestos que varreu o mundo, Saskia Sassen afirma em entrevista para o jornal Estado de São Paulo de 13 de agosto de 2011 que a rua é o espaço político para aqueles que não conseguem acessar instrumentos formais. Pode-se dizer que não apenas as manifestações intencionais que ocorrem em espaços públicos são protestos contra o capital global e a tecnologia por ele imposta. Nesse contexto estão também os inventos do cotidiano, apropriações

É comum encontrar no bairro lotes divididos em duas, três ou mais residências, casos facilmente identificados pelo número de medidores da Cemig, nos muros dos lotes, ou da Copasa, na frente das casas. Mescla-se também em um único lote as residências e os estabelecimentos comerciais. Alguns desses estabelecimentos tomam lugar nas próprias calçadas fazendo uso de alguns recursos das construções vizinhas como apoio no muro e ponto de luz. Outra forma

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de ocupação das calçadas são os jardins e hortas que tomam espaço em frente aos terrenos, e diluem o limite entre os espaços público e privado, principalmente levando-se em consideração o fato de que as ruas são, em sua maioria, super dimensionadas para o tráfego automotivo local, dando a possibilidade ao pedestre de ocupá-las. Vale lembrar que todas as classes sociais interferem na paisagem urbana ao adequar o espaço às suas necessidades. Cada um com seu recurso, todos os agentes intervêm de alguma maneira inventiva na cidade que ocupam. Nesse sentido, pode-se citar a réplica da Torre Eiffel como um símbolo reconhecível no bairro. Além de chamar atenção, essa imagem gera, intencionalmente ou não, uma relação entre o Canadá (onde se fala francês), a França (onde está o monumento original e a cidade que empresta o nome ao motel) e o próprio Jardim Canadá (onde está o Motel Paris). Resíduos provenientes de outras localidades estão presentes no Jardim Canadá, como os restos de embalagens de madeira e pallets, comumente vindos de outro país. Esses materiais são muitas vezes reinterpretados, sendo a eles atribuídos usos novos, havendo uma significação local do que é global. Um engradado de refrigerante usado como suporte para horta representa muito bem esses casos. Nele, os dizeres “Coca-Cola” apenas deixam clara a função para a qual o objeto foi concebido, que é armazenar e transportar garrafas de vidro do refrigerante. Para o uso atual, não faz diferença alguma o que está escrito. Outro caso similar é o do carrinho de supermercado que foi apropriado como lixeira. Mais uma vez um objeto com tipologia global ganhou uso de acordo com as necessidades locais. Essas simples inteligências coletivas são prova maior de que a globalização não garante uma homogeneidade no mundo, tendo espaços distintos culturas únicas. Por mais forte que o pensamento hegemônico vinculado ao capital e ao racionalismo seja, jamais conseguirá subjugar totalmente a população. Sempre haverá

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questionamento e reações por parte de pessoas em estado de vulnerabilidade social, pensadores e críticos. Parafraseando a física, toda ação gera uma reação proporcional. Assim, consegue-se manipular a massa até certo ponto e de maneira discreta e delicada, sendo que são dadas respostas igualmente discretas e delicadas.

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