Caderno TCC

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Trabalho Final de Graduação Escola da Cidade/2013

Lab: Vivência do espaço

Aluno: Paolo Salvetti Orientador: Cesar Shundi Co-orientador: Maria Gomez-Guillamon



AGRADEÇO A TODOS QUE FIZERAM PARTE DO PROCESSO,AO AO SHUNDI E A MARIA PELA ORIENTAÇão DESDE AS PRIMEIRAS IDÉIAS E CONCEITOS CONFUSOS E A EQUIPE DE CONTRUÇão DO pa vilhão, MEU SINCERO AGRADESCIMENTO.


PESQUISA 6


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No primeiro semestre a investigação do espaço e como este nos afeta foi o principal tema de pesquisa, o espaço é sentido por nós como uma bolha ao nosso redor, imagine uma bolha de espaço que nos circunda, uma bola esférica de força que chamaremos de bolha espacial, que atua em todas as dimensões e nos sentidos, nos dando consciência das dimensões espaciais. Pode ser influenciada por luz, calor, cheiro, etc... Porém nossa noção espacial não vem apenas desta bolha, o modo como vivenciamos o espaço passa por três fazes, a primeira sendo a criação e expectativa, a segunda a vivência efetiva e por último a memória. Desta forma criam-se os três espaços temporais. Espaço esperado Espaço presente Espaço memorial Quando, por exemplo, vemos uma grande porta já criamos, através de experiências vividas, a expectativa de como será o ambiente dentro desta porta, estamos assim no momento do espaço esperado, vivenciando-o antes mesmo de entrarmos nele. Quando entrarmos, se este segue as nossas expectativas, a surpresa é menor porem ainda acontece, assim vivenciamos o espaço e suas formas para depois sairmos e nos lembrarmos deste ou criar novas expectativas para recintos similares. Quando a expectativa criada por nós no “espaço esperado” é diversa da experiência vivida pode8

mos então ter emoções como surpresa, claustrofobia e exaltação dentre outras, logo o espaço esperado é um fator atuante na vivencia. o espaço: pode mudar pode ter forca pode causar ansiedade ou tranquilidade pode se sentir em outro lugar pode se sentir pesado o leve pode surpreender pode unir elementos Estes espaços também podem alterar nossa bolha espacial, por exemplo: uma cadeira, ou a bolha espacial de outra pessoa altera a nossa vivencia do espaço. Nossa própria bolha espacial pode alterar-se de acordo com o que sentimos, o lugar escolhido para sentar-se em um restaurante, por exemplo pode ser determinado pela relação de nossa bolha com o espaço. Dois objetos dispostos com certa distância entre eles tem uma bolha própria, à medida que aproximamos estes objetos eles formam bolhas espaciais diversas dentro da nossa percepção, se aproximarmos os objetos mais ainda eles passam a compartilhar a mesma bolha no espaço, isso seria o espaço entre objetos.

Nossa bolha espacial é alterada devido aos nossos movimentos, a nossa bolha não é a mesma quando estamos dirigindo um carro, andando de bicicleta ou andando pelas ruas, as noções espaciais de cada um são alteradas conforme a velocidade e atenção em que nos locomovemos através dos espaços.


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cesso. A proposta consiste em um pavilhão linear, - onde diferentes experiências acontecem através do percurso que culmina com a transposição da bolha espacial para fora do pavilhão. É algo que lida com a pré-percepção do ambiente, a vivência e a O trabalho consiste na execução de memória do espaço, como trata Arne Branzell em um pavilhão que, através da arquitetura, da seu livro “The 0 Space”. Com o desenvolvimenluz, do ambiente e percepção espacial cause al- to desta proposta são proporcionadas três vivengum impacto no espectador, um pavilhão dos cias distintas durante o percurso, mas que se persentidos. Uma forma da arquitetura para to- dem numa maior e mais poderosa noção do todo. car o individuo através de suas percepções. Estas três vivencias são Após um primeiro semestre de pesquisas quanto ao tema iniciou-se o trabalho de ex- 1. A atmosfera ecução do que seria este pavilhão. A pesquisa que 2. O equilíbrio abrange desde os sentidos físicos e modo de fun- 3. O ambiente cionamento do corpo até compreensões anímicas do ser. Durante o processo de pesquisa o intuído A atmosfera é a transformação do ambiente. do projeto era de certa forma encontrar/produzir À medida que se enxerga o pavilhão de fora criamos um espaço que tocasse o individuo nos cernes do de algo cheio, repleto, com todos os bambus pendursentir, mas as possibilidades do primeiro seme- ados e balançando ao vento, conforme adentramos stre se restringiam ao teórico com experiências esta noção se intensifica, pois o espaço é realmente relacionadas com maquetes de diferentes escalas. cheio e confuso devido aos elementos dispostos de Com a maturação da ideia o que era teórico forma rítmica e estática. Porem quando chegamos começou a tornasse factível, e o modo de testar es- a uma superfície plana, apos a rampa, há uma clatas ideias antes no papel e em pequenas maquetes se reira, os bambus, que vinham neste ritmo do chão transformou em realidade com a construção deste param e cria-se um vão com elementos verticais que é uma espécie de laboratório dos sentidos, não pendurados que procuram dar a impressão de um é em si um trabalho concluído é uma indagação espaço acolhedor, arredondado, ali tem-se a surpresobre o espaço, um laboratório em escala real. sa, o inesperado, no clarão e na noção de cúpula. -

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Após os primeiros seis meses de estudos, que foram percorridos na Dinamarca, o intuído era produzir os desenhos do pavilhão, depois de dois meses foi escolhida uma proposta exequível e que ainda seria desenvolvida no decorrer do pro14

O equilíbrio se dá inicialmente através da percepção de um ritmo criado pelos pilares do pavilhão, que tem uma pausa de metro em metro e estão sempre apontando para cima, verticalmente

para o céu. De forma gradativa, este ângulo passa a ser cada vez mais acentuado, seguindo o grau de inclinação da rampa, esta superfície força o movimento para frente que passa a ser acentuando por seu entorno “reto”, podendo criar uma maior impulsão, alterando o equilíbrio. O ambiente são alguns espaços mesclados no interior do pavilhão com bambus que foram repletos de gelo, estes emanam a temperatura mais fresca criando pequenos bolsões de temperatura dentro do pavilhão, mas principalmente influenciam o espectador quanto ao toque. À medida que se caminha pelo pavilhão é necessário que se toque em diferentes bambus e é neste momento que ocorre esta surpresa por sentimos este micro clima. À medida que o clima externo muda, as sensações se intensificam fazendo com que seja uma experiência sempre diferente. Apesar de terem sido consideradas as três vivencias de forma separada no espaço elas funcionam juntas, a força do todo passa a do único, a medida que entramos no pavilhão nos perdemos diante de tantos bambus, como uma floresta tropical que filtra a luz de cima e cria inúmeros elementos verticais que ocupam nossa visão. Quando o vento bate nestes bambus, que por muitas vezes chegam a quase tocar o chão, estes podem desenhar no solo de terra além de gerar um som quando se chocam. Por serem muitos e pela proximidade nos fazem perder a leitura estrutural da construção passando a impressão de que está flutuando, perdemos também a referencia dos pilares que se


mesclam aos bambus que balançam ao vento, com isso apesar de ser um objeto com tanta informação e num primeiro momento ate mesmo cheio, resulta numa construção leve que flutua sobre a terra e torna visíveis elementos da natureza que antes passavam despercebidos como o vento e a própria luz do sol que a medida que anda pelo céu traz movimento ao pavilhão com reflexos de luz e sombra.

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Corte e tratamento do bambu

Execução dos encaixes metalicos

Preparação do terreno

Construção

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TERRENO 22


Quando surgiu a oportunidade de consolidar a construção do pavilhão a decisão do lugar da implantação foi uma das primeiras escolhas reais do projeto, o que o alterou em alguns pequenos aspectos. Por situar-se numa saída da Castelo Branco, próximo a Barueri, com grandes galpões e uma pedreira em operação nas proximidade, com fluxo de caminhões, alarme das explosões somado ao trafico da Castelo permearam a zona do pavilhão. As áreas de possíveis implantações eram aquelas que durante algum tempo não seriam alteradas para a construção de mais galpões e que se afastasse do caos e do entorno movimentado e barulhento, com isso a escolha da área em uma terraplanagem ainda não terminada com movimentação de terra ao redor hoje abriga a construção delicada de bambu. Uma pequena inclinação na terra, que ainda não tinha sido plainada, dava a localidade ideal para a construção, que se encontra em um vale entre estas pequenas colinas de um lado, na fachada leste, um talude ao lado oeste, a algumas centenas de metros de distância encontram-se muitas pedras, uma delas enorme ao lado do pavilhão, que marca paisagem e faz um contra ponto ao objeto tão leve construído em bambu. Um pinheiro no alto da rampa marca o inicio desta e gera uma pequena ilha de sombra no meio de uma área muito seca de um platô já terminado. À frente mais pedras e a vista de uma mata densa, o que nos da à ideia do que um dia fora aquele lugar onde hoje é uma área de vegetação escassa de terra batida ou barro das chuvas.

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MATERIAIS 31


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A escolha do material foi um dos norteadores do projeto, com uma ideia de como seria desenvolvido o pavilhão a possibilidade de utilizar o bambu como principal material se encaixou perfeitamente. O bambu pode ser utilizado desde material para decoração à construção civil, ele é abundante e de rápido crescimento, o que facilita a sua utilização e o deixa a um preço acessível. A idade madura para a poda é de três anos, mas encontrasse em seu tamanho total até após 6 meses. Ele deve ser cortado na lua minguante e de preferencia em meses com poucas chuvas, aqui no Brasil os meses sem “R”, estes são os menos chuvosos. Após o preparo, ele pode ser utilizado como material para construção, este processo pode levar em torno de dois meses e existem varias técnicas para prepará-lo, ou seca-lo. A que foi feita nestes bambus foi à imersão na agua e secagem. O bambu foi imerso em agua com sal e químicos, para proteção contra pragas, depois foi deixado na vertical para secar. Alguns foram colocados em um “forno” especialmente construído para seca-lo. O forno consiste em cinco tambores metálicos, geralmente utilizados como containers de óleo de 80 cm de altura por 60 de diâmetro, retirou-se o fundo dos tambores e estes foram soldados entre si. Com a linha de tambores pronta foi inserido uma resistência dentro para gerar calor. Os bambus extraídos variam de idade, podem-se notar pela sua espessura interna, os mais grossos foram utilizados na estrutura enquanto os mais jovens e finos foram pendurados internamente. No total foram utilizados entorno de 1000 varas de bambu com um comprimento que varia de

6 a 3 metros. O processo da poda e preparo do bambo está documentado no trabalho. O Metal utilizado para os pontos de maior tensão estrutural, feitos de restos de cano que eram utilizados nas construções dos galpões, para os corrimãos ou escadas marinheiros além de sobras de canos de bombeiros de galpões que haviam sido desmontados, estes materiais seriam vendidos para o ferro-velho com isso foi proposta uma sobrevida para estes materiais. Este depósito de matérias, um pequeno ferro-velho que se localiza ao lado da empresa construtora de armazéns foi visto como possibilidade para as definições do projeto. Primeiramente foi feito um levantamento do material que poderia ser utilizado e depois a combinação deste com o projeto, os matérias residuais que determinaram seu primeiro desenho, depois com a possibilidade do uso do bambu este se modificou, porem algumas diretrizes da utilização dos materiais continuaram, como os encaixes metálicos os cabos de aço e a fundação. A elaboração dos encaixes funcionou muito bem com o resto da estrutura e com os bambus, os tubos metálicos foram cortados e soldados para resultar no encaixe final, a maioria dos tubos tem a espessura de 2 mm e não são galvanizados, pois a solda no tubo galvanizado é mais difícil além de exalar uma fumaça toxica. Ha ainda a adesão de cabos metálicos para reforço da estrutura, estes cabos antes usados como parapeito na instalação ou na manutenção dos telhados dos armazéns também foram utilizados no projeto.

A corda de amarração de sisal foi o único material que não estava à disposição e precisou ser comprado, foram um total de 940 m de corda entre fina e grossa, a fina utilizada nos bambus que ficam pendurados e a grossa nas junções dos bambus da cobertura. A escolha do material se deu por este ser forte para fazer as amarrações e ao mesmo tempo maleável para deixa-los pendurados à deriva do vento. Durante o processo questões estruturais fizeram com que novas soluções fossem desenvolvidas, como os tirantes para o contraventamento, os cabos de aço para aumentar a dimensão da viga e o baldrame para a fundação.

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