Jornal Página3 - edição 1138

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Colunista

Balneário Camboriú, 4 de maio de 2013

Enéas Athanázio A chave do mistério Dimas Macedo(foto), doublé de jurista e escritor, escreve como poucos e sabe prender o leitor. Tenho lido com prazer muitos de seus textos e acabo de me deliciar com “A Face do Enigma” (Imprece – Fortaleza – 2012), segunda edição da biografia e análise da obra de José Alcides Pinto (1923/2008), uma das figuras mais inteligentes e pitorescas do mundo literário. Sei de experiência própria o quanto é difícil o gênero biográfico, dificuldade que se agrava quando se trata de uma personalidade tão complexa como a do biografado, ainda por cima autor de uma obra vasta e diversificada que se espraia pela poesia, o romance, o conto, a novela, o teatro, o ensaio, a crítica literária e os textos variados a que denominou miscelânea. Parece não haver gênero que permaneceu alheio à curiosidade e à inquietação intelectual de José Alcides Pinto, cuja vida, por sinal, já constitui autêntica peça literária. Mas Dimas Macedo enfrentou e superou todos esses entraves, penetrou no mar de letras produzidas pelo seu biografado e compôs um texto delicioso, leve e repleto de informações. Nascido nas brenhas do interior cearense, José Alcides Pinto teve a infância típica dos meninos do sertão. Perambulava pelos campos e pelas estradas, sonhava, inventava maneiras de enganar a monotonia. Já deveria estar inoculado pelo carnegão literário, eis que as letras parecem ter predileção pelos garotos das pequenas vilas. Graças a um protetor, andou por outros rincões e acabou em Fortaleza, a capital, onde já escrevia para a imprensa. Depois, tomado pelo ímpeto ambulatório, viajou para o Rio de Janeiro, fazendo uma prolongada escala no Recife. Ali se envolveu em manifestações socialistas e provou a cadeia, iniciando uma série de detenções por razões ideológicas. Naquele meio efervescente, lançou-se à campanha de Yedo Fiúza, candidato das esquer-

das à presidência e, por outro lado, fez contato com escritores importantes, como Gilberto Freyre e Mauro Mota. A paixão pelo jornalismo e pela literatura, no entanto, o salvou da política e o período recifense foi significativo para sua formação intelectual. Já no Rio de Janeiro, entregou-se a mil atividades e teve toda sorte de experiências. Uma vida de gangorra, ora abrigado sob um teto seguro, ora dormindo ao relento em bancos de praças públicas. Mesmo assim estudou, ingressou no serviço público e retornou a Fortaleza como funcionário público federal. Mais tarde abandonaria o cargo para se tornar fazendeiro, entregando-se à administração da Fazenda “Terras do Dragão”, em Santana do Acaraú. Mais curioso ainda é que o socialista ardoroso da juventude se tornou um místico e passou a envergar, do dia para a noite e até o fim da vida, o hábito religioso dos franciscanos. “Com ele desfilou pelos espaços públicos de Fortaleza e Santana do Acaraú, aprofundando-se também na mística de Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz, e adotando a oração e a renúncia como norma de vida” – escreveu o autor (p. 35). Quanto à obra, parece inexistir caminho por onde sua inquietação não o tenha levado. Foi pioneiro e

c o l u n i s t a

Enéas Athanázio

e.atha@terra.com.br Reprodução

mentor do concretismo, mas também produziu poemas nos moldes tradicionais. Incursionou pelo fantástico, pelo surreal e pelo maravilhoso. Foi vanguardista e experimental. Praticou variados gêneros com criatividade incomum e produziu em quantidade sem jamais perder a qualidade. “Seria muito difícil ao crítico acompanhar a trajetória desse escritor multifacetado, cuja escritura abrange quase todos os gêneros literários”, mesmo porque “a literatura é o pano de fundo de sua própria existência, isto é, a arte literária em estado de realização humana e de mistério” (pp. 52 e 49). Como escreveu o grande Gilberto Amado, “concretismo, pós-surrealismo, qualquer que seja o rótulo, seus poemas rápidos, intensos, são poesia ressonante, reveladora de seu talento admirável” (p. 52). Em síntese, José Alcides Pinto viveu com intensidade a vida do escritor e legou uma obra vasta e admirável. Com imenso trabalho e dedicação invulgar, Dimas Macedo realizou um excelente serviço para divulgar e preservar sua memória e forneceu a chave para desvendar o mistério de sua obra. __________________________ Contatos com o autor comentado: Rua Fonseca Lobo, 1 3 5 5 / 8 0 1 A – CEP 69175-020 – Fortaleza – CE.

a r t i g o

Livro para sempre Luiz Carlos Amorim

Comemoramos, recentemente, o dia Mundial do Livro. Nestes tempos de revolução no ato de ler, há que trabalhemos ainda mais para incutir o hábito da leitura. O livro digital, ou e-book, chegou há já algum tempo, prometeu substituir o livro tradicional de papel impresso, mas não foi bem assim que as coisas aconteceram. O final da primeira década deste século e o começo da segunda marcaram o começo de uma mudança nos hábitos de ler, pois as novas tecnologias de publicação e leitura de livros chegaram para revolucionar. O Kindle, primeiro leitor eletrônico chegou e se consagrou, mas logo chegaram os tablets e ele acabou deixando de ser só e-reader para se equiparar aos outros que, diga-se de passagem, também têm a função de leitores, apesar de muito usuário nem saber disso. Com tantos tablets sendo vendidos, finalmente, os livros digitais também começaram a ter maior acervo em oferta. Até as editoras dos livros tradicionais, algumas delas, já estão oferecendo livros também em formato digital. Comprovadamente, o livro como o conhecemos, de papel impresso, continua forte e vendendo cada vez mais. O e-book pode crescer – e está cres-

cendo – mas o livro tradicional vai continuar no mercado. O que vai acontecer é que os dois conviverão em harmonia. Com a informática a serviço da leitura, a tendência é que o hábito de ler se intensifique, até porque além do livro tradicional e do livro digital, temos também o áudiolivro, que possibilita que deficientes visuais sejam também consumidores de literatura. O áudiolivro facilita, também, àqueles que não têm tempo para ler, a oportunidade de ouvir bons textos enquanto fazem outra coisa. Então talvez devamos comemorar tanta tecnologia a serviço da leitura, mesmo considerando que o livro físico, aquele que podemos folhear, rabiscar e ler sem dependência de nenhuma fonte de energia, a não ser a nossa visão e a vontade de ler. Por isso, ele continuará firme, mesmo com todas as outras formas de leitura que existem ou que porventura poderão vir a existir. A verdade é que devemos comemorar o livro todos os dias, essa fonte de conhecimento, de aventura e de pesquisa da trajetória do ser humano neste Planeta Terra. Luiz Carlos Amorim é escritor Http://luizcarlosamorim.blogspot. com


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