Desconstruções

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DESCONS-

TRUÇÕES # # # #

Diogo Duda ########## Erica Storer ######## Gabriele Gomes ###### Washington Silvera ##



O Sesc Paço da Liberdade apresenta a exposição:




Gabriele Gomes, Surpresa - 2015. Tinta acrílica sobre pote de requeijão e forminha de doce sobre display de madeira, dimensões variáveis Créditos imagem: Fábio Noronha


Esta exposição foi construída a partir de uma observação: há, na vida cotidiana, poesia. Às vezes, intangível, não a notamos; mas ela está lá, quando, de alguma forma, rearranjamos uma determinada ordem e expomos pequenos fragmentos de inconsistências, de dissimulações de sentidos, de narrativas frágeis. Nesse exercício de ressignificação, vários outros sentidos surgem. O filósofo franco-argelino Jacques Derrida, ao refutar o conceito de estrutura concreta da palavra, segundo o qual uma forma refere-se diretamente a um conteúdo, chamou a sua teoria de “desconstrução”1 e, firmados neste termo, determinamos o ato de “desconstruir”, arte.

1 “Desconstrução” é um conceito elaborado por Jacques Derrida, no qual ele sustenta que o significante (a forma) e o significado (o conteúdo) de um discurso, ou seja, as palavras, não tem necessariamente uma relação direta, pois através de um termo (forma) várias possibilidades de significados (conteúdo) podem surgir.

Washington Silvera, 2012/17: Moldura/Mar, Vídeo instalação. Tv, arquivo, moldura e cadeiras de praia, Dimensões variáveis. Créditos imagem:Acervo do artista.


“(...) viajantes transitam entre vidas e indas entre passo e despasso”2 é um verso de Haroldo de Campos que desconstrói a estrutura das palavras para ampliar os significados e fazer imaginar outras ideias. Da mesma forma, a arte acontece quando uma dada relação de coisas é reconfigurada, subvertendo sentidos para criar novos contextos, oferecendo outras maneiras de perceber. Ao reinterpretar o que é aparência e o que é realidade, o visível se refaz, o que era comum, passa a ser singular e a frase de Derrida, “a linguagem se cria e cria mundos”3 , materializa-se.

2

CAMPOS, Haroldo de. Galáxias. São Paulo: Ex-Libris, 1984.

3

FREITAS, Judite. Ser historiador e cidadão hoje. UP - Coimbra, 2008.

Erica Storer. Prometo Falhar - 2018. Instalação - Galeria Boiler Créditos imagem:Fernando Moleta.


Ao praticar essas desconstruções, os artistas aqui reunidos redefinem o cotidiano e colocam o real e o imaginado no mesmo lugar, estipulando que “toda fronteira é ilusão, traçada [apenas] para nos assegurar”4 , seja de uma ideia, seja de uma forma, seja do outro, seja de nós mesmos. Nessa coexistência de percepções, há um indicativo de transposição de nossos próprios limites, que propõem uma relação entre o sujeito e a arte que tanto pode ampliar horizontes de forma consentida e convidativa, quanto pode derrubar barreiras violentamente. Neste último caso, gera-se uma tensão que provoca uma ruptura, um novo ponto de vista.

4 Anselm Kiefer, Louvre-Paris, 2007 apud MORAES, Fabiana de. Das Fronteiras do eu às fronteiras da arte. Revista Trópico, 2007.

Diogo Duda. SOMETHING AROUND ELEVEN EUROS AND THIRTY-NINE CENTS - 2013. Moedas de Real, aço e cerâmica vitrificada. Edição 3/3 + 2 P/A. 13 x 13 x 13cm. Créditos imagem:Diogo Duda.


Diogo Duda, Erica Storer, Gabriele Gomes e Washington Silvera trabalham neste limite das coisas. Em Duda, o entrelaçamento de questões sociais, econômicas, políticas e culturais sinalizam para a complexa realidade do Brasil, mas também podem ser facilmente transportados para outros lugares. Objetos ordinários, tornados escultóricos, transformam o comum em um debate crítico, artístico, temas que para Erica são colocados em forma de ação. Suas performances exploram gestos e fazeres do dia-a-dia, atitudes habituais, automáticas, reforçadas por uma norma social, mas que quando olhadas com mais cuidado, criticamente, tornamse estranhas, passam a ser questionadas. Já para Washington Silvera, essas desconstruções estão associadas à fisicidade das coisas, à manipulação das essências. Ele estabelece correlações que colocam seus objetos em um lugar entre o real e o imaginado, mas que sempre trazem um vestígio do conhecido, assim como Gabriele Gomes através de sua arqueologia da arte. A artista coleta objetos do cotidiano interferindo sobre eles, reconfigurando-os. No trajeto, outras narrativas surgem: o feminino, o tempo, as memórias, o acaso, porém, a invenção fantástica ainda é a protagonista da cena. Em todos os casos, os artistas redefinem o status daquelas estruturas: não são mais apenas objetos, ações automáticas; tornaram-se arte.




Diogo Duda, EQUÂNIME - 2014. Copos e água, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart

Gabriele Gomes, PRATA DESEJO INTENSO - 2018. Massa e tinta acrílica sobre tela, 17 x 25 cm. Créditos imagem: Acervo da artista







Erica Storer, Prometo Falhar - 2019. Instalação de calhas, metal galvanizado. Dimensões variáveis Desdobramento da pesquisa relacionada a exposição Prometo Falhar - 2018, em parceria com a Galeria Boiler Créditos imagem: Erica Storer



Gabriele Gomes, 2019: Eu hesito, pois sinto este duplo pensar em mim. Tinta acrílica sobre envelopes, dimensões variáveis. Créditos imagem: Fábio Noronha


Diogo Duda,144 LACUNAS - 2018. Paralelepípedos, cantoneiras metálicas e feltro, Aprox. 250 x 250 x 8 cm. Desenvolvido durante o programa de residência artística monstro_res Créditos imagem: Fabiana Caldart





Créditos imagem: Erica Storer

Erica Storer, Prometo Falhar - 2018. Esfregadeira, Planta artificial, Perfex Alta Performance. Dimensões variáveis. Desenvolvido em parceria com a Galeria Boiler, exposição Prometo Falhar - 2018


Washington Silvera, Magritte Land - 2013. Fotografia impressa em papel algodão (Edição 5/5 + 1 P/A), 105 x 70cm.




Gabriele Gomes, AMARELO OURO - 2018. Massa e tinta acrílica sobre tela, 15 x 25 cm. Créditos imagem: acervo da artista

Diogo Duda, SOMETHING AROUND ELEVEN EUROS AND THIRTY-NINE CENTS - 2017. Moedas de Real, aço e cerâmica vitrificada, 13 x 13 x 13 cm Créditos imagem: Fabiana Caldart




Erica Storer, Prometo Falhar - 2018. Esfregadeira, Planta artificial, Perfex Alta Performance. Dimensões variáveis. Desenvolvido em parceria com a Galeria Boiler, exposição Prometo Falhar - 2018

Créditos imagem: Erica Storer


Diogo Duda, LIBERAIS CONSERVADORES ou CONSERVADORES LIBERAIS - 2018 Açucar refinado, pasta de soja e grãos de milho provenientes de monoculturas associadas ao uso intensivo de agrotóxicos; filme plástico e espelho 20 x 20 x 1 cm Créditos imagem: Fabiana Caldart




Washington Silvera, 2012/17: Moldura/Mar, Vídeo instalação. Tv, arquivo, moldura e cadeiras de praia, Dimensões variáveis. Créditos imagem:Acervo do artista.



Gabriele Gomes, Maisena com cerveja - 2015. Tinta acrílica sobre caixa de maisena e garrafa de cerveja sobre display de madeira, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fábio Noronha


Gabriele Gomes, Tentativa de alcançar céus. Areia do deserto do Saara - 2015. Conchas, pedras, glitter e confetes sobre display de madeira, Dimensões variáveis Créditos imagem: Fábio Noronha


Gabriele Gomes, Fanta Laranja, Fanta Verde, Fanta Rosa e Fanta Azul - 2015. Tinta acrílica em garrafas de Fanta sobre display de madeira, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fábio Noronha



Gabriele Gomes, Mundo Físico - 2015. tinta acrílica sobre Atlas, 40 x 60 cm. Créditos imagem: Fábio Noronha


Gabriele Gomes, AMARELO PELE QUE COBRE OS OSSOS - 2018. Massa e tinta acrílica sobre tela, 15 x 25 cm Créditos imagem:Acervo da artista.


Washington Silvera. 5 eixos - 2015. MDF, marchetaria e máquinas de relógio, dimenções variáveis. Créditos imagem:Acervo do artista.







Erica Storer, Avesso - 2019. A ação, de longa duração, inicia-se a partir da destruição de uma cadeira.Com os seus destroços, ela é reedificada. demolir - reconstruir - tornar avesso









Diogo Duda, EMPATE - 2018. Estilingues, pedra e parafusos, Dimensões variáveis. Créditos imagem: Fabiana Caldart


Washington Silvera, Objeto para performance - 2012. Objeto Madeira, marchetaria e peças de xadrez, 40 x 220 x 76cm CrÊditos imagem:Acervo do artista.



Espaço das Artes Sesc Paço da Liberdade Horários >>> terça a sexta

10h às 21h /// sábado 10h às

18h /// domingo

e feriados 1h às 17h

Praça Generoso Marques, 189 - Centro Curitiba | Paraná sac.pacodaliberdade@sescpr.com.br

(41) 3234.4200


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