QROZZENE MAGAZINE

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Nesta Edição | REALIDADE | Arte ou Vandalismo?

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| MEMÓRIA | Dois séculos de Tipografia ----------------

| ALUCINAÇÃO | Dos Ilusionismos Visuais

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Seções:

Musica Literatura Opinião



EDITORIAL

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A arte de solucionar

Criatividade pode ser descrita como sendo um abandono de todas as certezas. O psicólogo Abraham Maslow observou que geralmente as pessoas não têm coragem de enfrentar o papel em branco, e tem medo da incerteza, do não saber o que vai acontecer. Diz ele que as pessoas criativas são exatamente aquelas que enfrentam essa incerteza. Ingmar Bergman deu um perfeito exemplo desse processo que acontece quando ele está sentado e aparentemente não fazendo nada: “Eu tomo minhas decisões baseado em minha intuição. Eu jogo um dardo na escuridão – isso é intuição. Depois, eu mando um exercito recuperar o dardo – isso é intelecto”. Mozart, em carta a um amigo, disse que não sabia como uma idéia chegava a ele – mas sabia que se dormisse, a idéia não chegaria – assim, não dormia, passando as noites em claro á espera de que baixasse a idéia. E desses fios de musica que surgiam no meio da noite, ele tecia suas sinfonias, agradecendo ao criador, não pelas idéias, mas pela capacidade de não esquecer os sons que tinha ouvido durante a vida. Já Tchaikovsky dizia que devemos ser muito pacientes, que devemos esperar pela inspiração. Mas o que ele colocava como muito importante, era vencer a desinclinação, a paralisia, o deixar para amanhã, posto que essa desinclinação era simplesmente o medo do papel em branco. E para completar, o depoimento de um cientista, Albert Einstein, em What I Belive: “A coisa mais bonita que podemos experimentar é o mistério. Ele é fonte de toda a arte e ciência verdadeiras. Aquele para quem essa emoção é estranha, incapaz de soltar a imaginação e quedar-se extasiado é como se fosse um morto; seus olhos estão fechados...” Sim, o abandonar as certezas é aceitar o risco do mistério, é entrarmos em zonas do nosso ser onde tudo é incerto, é enfrentarmos o medo de não sabermos o que fazer com a matéria-fluida, com a matéria-vida que nos habita. Por isso, talvez, Nelson Rodrigues tenha comparado o ato de se tornar dramaturgo a um salto mortal. Finalizando: Ezra Pound disse que o artista é 10% de talento e 90% de trabalho duro. E já que estamos falando de design, essa é a mais profunda verdade. Acordamos e, com ou sem inspiração temos que sentar e desenhar, porque há uma produção em andamento.


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Arte ou Vandalismo?

Em uma surpreendente ação, um coletivo intitulado “Don Quijote” ataca com adesivos a sinalização publica da capital paulista. Em meados de outubro de 2005, em uma manhã como qualquer outra na capital paulista, alguns motoristas perceberam algo estranho na sinalização da zona sul da cidade. No lugar dos habituais símbolos de proibido estacionar ou proibido conversão

à direita, figuravam carrinhos de compra, moscas, armas, macacos, relógios e tanques de guerra. Na manhã seguinte e nas próximas semanas que se seguiram o grupo atuou sistematicamente cobrindo a sinalização das mais impor-

tantes avenidas da cidade. Ganharam notoriedade ao serem sucessivas vezes matéria dos principais jornais da cidade, tornando-se alvo de criticas do próprio prefeito e e das autoridades de transito que contabilizavam os prejuizos em mais de R$6.000.


‘“Vandalismo é a conseqüência da surdez, cegueira e perda da sensibilidade” beija-flor, integrante do “Don Quijote”

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Em uma exclusiva entrevista para Qrozzene Magazine os integrantes expõe os motivos e ideologias por traz de suas ações. QrozznE:Por que Don Quijote? Cavaleiro Negro: Don Quijote é um Cavaleiro andante, que anda pelas vastas planícies do território ao encontro da injustiça e na luta pelo seu ideal real. As pessoas o vêem como um utopista, mas isso seria excluir a possibilidade de uma outra realidade possível. Como Saramago disse em sua palestra no Fórum Social Mundial: “Eu não acredito no Utopismo, se pudesse tiraria essa palavra dos dicionários. Ela só afasta nosso comprometimento com a transformação de nossa realidade”. Muitos vêem Don Quijote como um louco, um velho alucinado. Mas não. Os moinhos de vento apontam para o início da mecanização do homem, são monstros de exclusão do horizonte humano. As mega 03 cidades como São Paulo hoje 01. “O buda crucifi- nem sequer possui horizontes, são quarteirões e quarteirões cado” placa em frente a de infinitos moinhos de vento. catedral metroplitana. A mesmice da normalização 02 “O cristo meditando” provoca um olhar saturado de placa na primeira mes- aceitações. Somos obrigados a quita do Brasil. nos guiar por setas e direções 03. “Miquitorio de alheias. Tudo MUITO claro, tudo MUITO reto, tudo MUITO Duschamps” em frente certo. Assim a aceitação e a a Pinacoteca do Estado. normalização contemporânea matam o Quijote que temos. E sua morte é a morte do nosso

sonho transformador, poético e artístico. A menção de seu nome “Andante” remete ao nomadismo e a solidão na caminhada. Quijote é um guerreiro solitário, indiferente à aprovação ou reprovação dos que olham. É um guerreiro impecável, e como tal tem de fazer o que acredita. QrozznE: O que vocês fazem está num limiar entre arte de intervenção urbana e “vandalismo”, como vocês mesmos discutem no blog. É uma fronteira corajosa, essa de poder estar tanto na seara do “artístico” como do ilegal, do ilícito, principalmente em relação à comportada arte brasileira atual, mesmo a street art. Dá para falar um pouco disso? Beija-Flor: Vandalismo é a conseqüência da surdez, cegueira e perda da sensibilidade, não procuramos no primeiro momento ser ilícito, ilegal. Cativador de Búfalos: Não fazemos as coisas para ser intervenção urbana, arte ou vandalismo. O processo não é de fora para dentro, mas trata-se da manifestação de nossas subjetividades. Não quere


mos nos classificar, não partimos desse princípio. Acho que esse é o ponto que atordoa um pouco, já que as pessoas querem que tomemos partido, que façamos parte de algum grupo ou discurso. Claro que queremos interagir com as pessoas, mas acreditamos que a maneira mais sincera para isso é que nossos símbolos venham de nosso processo particular, fazemos para nós mesmos! Fazer para os outros é fazer para ser aceito, pelo prisma de um olhar que vigia e não com a naturalidade de seu próprio olhar. Fazer para si é indiretamente ser mais rico e autêntico com o coletivo. A arte ou as intervenções urbanas geralmente estão muito movidas pelo olhar externo ou pelo mercado. As coisas são feitas para provocar, protestar, impor um olhar sobre o outro ou para atender a uma necessidade comercial. O movimento acontece de forma invertida, como resposta e não como pergunta. QrozznE: Don Quijote ainda nos prepara muitas surpresas? Cavaleiro Negro: Imagino que sim. Mas isso só o tempo dirá. R_Zion: A vida de um cavaleiro andante é caminhar. E quais surpresas nos aguarda em nossa caminhada? para maiores informações sobre este coletivo, você pode encontrá-los na web: permitidopermitir.blogspot.com permitidopermitir@gmail.com

“A marginalidade na arte hoje já está institucionalizada. O melhor exemplo disso é o que ocorreu com o Grafitti, no início era um movimento contestador, tanto no suporte como nos temas. Era questionador no deslocamento do local da arte, no não-consumo e na força não compreendida. Aos poucos o graffitti foi fagocitado pelo consumo, publicidade e pela oficialidade. Virou uma moda, uma infinidade de jovens grafitando muros legalizados na Vila Madalena, exposições de street-art, venda de telas de grafitteiros, publicidades que usam a estética do Graf para vender celulares, tênis da Nike feito pelos Gêmeos, lojas com faixadas grafitadas, camisetas, bottons e infinitos trabalhos acadêmicos de pesquisa do Grafitti. A linguagem se institucionalizou. Foi “aceita” e aceitaram sua compra. Talvez seja essa a arquitetura social da arte que estejamos inserido: a mediocridade do pop, a oficialidade apadrinhada, as conexões alternativas, e a ação vanguardista do porvir.”

cavaleiro negro, fundador do “Don Quijote”


Dois séculos de Tipográfia

A tipografia consiste em notação e arranjo mecânicos de uma linguagem, utilizada para obter múltiplas cópias, tanto por meio impresso como eletrônico. A sua historia no Ocidente data da Bíblia de 42 linhas de Gutenberg, de 1455, embora a escrita e o alfabeto sejam muito mais antigos

Retrospecto e panorama Voltando no tempo, muitos tipógrafos dos últimos dois séculos foram influenciados pelos movimentos que ocorriam a sua volta, enquanto aprendiam, ensinavam e planejavam. O movimento Arts and Crafts, de 1870 até o inicio de 1900, foi a principal influência para os movimentos posteriores. Ele foi voltado a escritores, artistas plásticos, arquitetos, designers e artesãos, e ao desenvolvimento e entendimento de suas habilidades. O cubismo, concentrado na descoberta de objetos multidimensionais, e posteriormente o futurismo, no inicio de 1900, incentivaram o designer tipográfico a se aventurar pela pagina impressa e optar pela mudança em vez da previsibilidade. O dadaísmo foi desenvolvido na Suíça e tentou desafiar valores e crenças estabelecidos. A necessidade de chocar exigiu novas formas de comunicação visual, e a tipografia em negrito e a fotomontagem surgiram durante este período.

O movimento russo do construtivismo começou a influenciar o design tipográfico. A utilização de fontes sem serifa proporcionou a revolução uma identidade, a qual influenciou a escola Bauhaus, que se tornou incrivelmente influente em certo período. Ela foi fundada em 1919 na Alemanha, sob direção de Walter Gropius, cuja habilidade para atrair talentos para a escola teve grande influencia no design gráfico da época. O movimento incentivou o desenvolvimento de novas idéias desenvolvidas pelo De Stijl e pelo construtivismo. O estilo Bauhaus, baseado em sistemas de grades, fontes sem serifa e a racionalidade dentro do design, proporcionou uma transição direta para a Nova Tipografia e posteriormente, para o Estilo Tipográfico Internacional, também conhecido como Estilo Suíço. Esse período presenciou o surgimento de designers como Herbert Bayer, Eric Gill (designer das fontes Gill, Joanna e Áries), Jan Tschichold e Piet Zwart, que posterior-


Um exemplo de fonte em estilo antigo - esta é a Garamond, baseada no design do século XVI de Claude Garamond.

mente influenciariam diversos outros designers do século. A Nova Tipografia desenvolveu-se na Europa nos anos 20 e 30 e reuniu muitas características e movimentos anteriores, como o De Stijl e o construtivismo. Tschichold, designer da fonte Sabon, primeira fonte a ser desenvolvida para a Monotype, foi uma figura-chave neste movimento. A fonte sem serifa e os layouts assimétricos com influencias geométricas foram a marca deste período. Em 1928, Tschichold escreveu Die Neue Typographie. Esse livro provou ser altamente influente e, após a Segunda Guerra Mundial, aproximadamente 20 anos depois de ser escrito, seus princípios foram explorados na América e na Suíça, resultando na evolução do Estilo Tipográfico Internacional. O Estilo Tipográfico Internacional continuou com a utilização de grades e como era de se esperar, a fonte sem serifa. Contudo, começou a usar a fotografia em vez de ilustrações. A pouca largura, as colunas da esquerda extensas e a adoção de fontes como a Helvetica foram as marcas deste estilo. O movimento se estendeu pelas décadas de 60 e 70. No final dos anos 70, o estilo foi se tornado previsível, sendo desafiado por novos designers como Wolfgang Weingart e April Greiman.

As experiências de Weingart com divisões em camadas e contraste de elementos, que foram possíveis por causa do avanço tecnológico e da fotolitografia, incentivaram as idéias de colagem. Seu trabalho foi extremamente respeitado e demonstrou ser uma ajuda bemvinda, contrastando com a previsibilidade dos anos anteriores. Weingart lecionou para estudantes como April Greiman, uma influente designer americana. Ela explorou o uso de efeitos de imagem e a divisão em camadas, sendo uma figura-chave na era do design gráfico New Wave, emergente nos anos 70. Ela atuou como designer para a Benetton, a Xerox e a Espirit e muitos a vêem como uma das primeiras a adotar a tecnologia emergente, utilizando a tipografia em conjunto com a manipulação de fotos. E agora? Diante do desenvolvimento de novas tecnologias e da declinante importância da habilidade e dos movimentos de arte, onde estão as influencias atuais? Agora que a tecnologia permite que qualquer um participe do processo criativo, o treinamento formal não é mais obrigatório. Entretanto a falta de uma formação tipográfica básica significa que muitos tipógrafos de hoje estão trabalhando sem qualquer base teórica própria. Os artistas estão sendo muitas vezes motivados por uma simples necessidade de ser visualmente diferentes deles e nada mais. O mercado está mais aberto do que nunca, e as técnicas estão se misturando. Talvez isso forme um movimento de arte, sobre o qual as pessoas refletirão daqui a 30 anos.








Peles negras, perucas brancas, coroas de penas, mantos de seda e pedras preciosas: no carnaval do Rio de Janeiro, os mortos de fome sonham juntos e são reis para um rato. Durante quatro dias, o povo mais musical do mundo vive seu delírio coletivo. E na quarta-feira de cinzas, ao meio-dia, acaba-se a festa. A policia leva preso a quem continue fantasiado. Os pobres se desplumam, se despintam, arrancam as máscaras visíveis, máscaras que desmascaram, máscaras da liberdade fugaz e colocam as outras máscaras, invisíveis, negadoras da cara: as máscaras da rotina, da obediência e da miséria. Até que chegue o próximo carnaval, as rainhas voltam a lavar pratos e os príncipes a varrer ruas. Eles vendem jornais que não sabem ler, cozem roupas que não podem vestir, enceram carros que nunca serão seus e levantam edifícios que jamais habitarão. Com seus braços baratos, eles brindam o mercado mundial com produtos baratos. Eles, construíram Brasília e de Brasília foram expulsos. A cada dia eles constroem o Brasil e para eles o Brasil é sua terra de exílio. Eles não podem construir a historia. Estão condenados a aceitá-la.

Fim da historia? Para nós, não é novidade nenhuma. Faz cinco séculos, a Europa decretou que eram crimes a memória e a dignidade na América. Os novos donos destas terras proibiram recordar a historia e proibiram construí-la. Desde então, só podemos aceitá-la.

A teoria do fim da Historia: O desprezo como destino.


Pablo T. Sola

23 anos, Brasileiro, Solteiro RG: 30.476.973-3 CPF: 319.536.808-01 Tel: 4094 3882 Cel: 9680 3002 e-mail: ethandj@gmail.com

Formação

Ensino Fundamental Completo em 1997 Ensino Médio Completo em 2001

Empresas

Digerati Comunicação e Tecnologia Ltda. (Multimídia) Mandala Arte & Tecnologia (Assistente de Dir. de Arte) IDCH (WebDesigner)

Softwares

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