Revista OTTO

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NYG

BARBA, CABELO & BIGODE

POINTS MAIS BADALADOS DE NOVA YORK

TENDÊNCIA DOS PELOS FACIAIS GANHA FORÇA NA DIVERSIDADE

EXCLUSIVO!

VALESCA POPOZUDA FALA SOBRE CARREIRA E PRECONCEITO

TO GO

MOONY RESTAURANTE PROVA QUE GOIÂNIA É COSMOPOLITA

SEXO DICAS PODEM AJUDAR NA HORA H

MAKE DE

MACHO

MAQUIAGEM É COISA DE HOMEM SIM

Ahhh, o verão COM ROUPAGEM OUSADA, O FLORAL VEM COMO IT DA ESTAÇÃO

QUEM TEM MEDO DOS GAYS? O QUE A PSICANALISE NOS DIZ SOBRE HOMOFOBIA


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SUMÁRIO

TEM MEDO DOS GAYS? 18 QUEM A violência homofóbica é uma prática que perdura e assusta.

CABELO E BIGODE 22 BARBA, Tendência dos pelos faciais derruba tabus e ganha força na diversidade.

TRANS 34 CLOSET Já não faz mais sentido definir peças de roupa em femininas ou masculinas.

46 VALESCA Cantora conta como se tornou

embaixadora do feminismo e diva gay.

QUEER 50 MUNDO Movimento Queercore levanta a bandeira da diversidade sexual.

DA RODA 54 REINVENÇÃO Canal de humor gay Põe na Roda

se tornou a nova mania da galera.

CONCEITO MOONY 60 Restaurante se destaca por gastronomia de ponta e união de várias tribos.

62 NYUmGguia pelos points gays mais

badalados da cidade que nunca dorme.

CH DA QUESTÃO 67 ODesvendamos os mitos e as verdades por trás da tão polêmica chuca.



CARTA DOS EDITORES

Revista

“MAS QUE ISSO?! PARECE UMA PORNÔ!” Muito pelo contrário, leitor amigo. Mas a célebre frase da icônica Inês Brasil, durante uma entrevista na TV, serve muito bem para contextualizar o nascimento da OTTO. A publicação surge como um sopro de liberdade e inovação. Ao contrário do que qualquer ideia pejorativa e estereotipada possa sugerir, o mundo gay vai muito além do sexo e da pornografia. E é aí que nós entramos! Nossas páginas estão recheadas de temas como beleza, moda, saúde, turismo, entrevistas e sexo, inclusive. Não há razão para tabus ou exageros, o sexo faz parte da vida de todo e qualquer ser humano, independentemente de sua condição sexual. Esta publicação não tem a intenção de fazer nenhum ativismo, nem chocar, nosso compromisso é com um retrato daquilo que está em voga, sempre com muito bom gosto. Vivemos um momento de transformação, de inquietude, o mundo caminha para se tornar mais tolerante. Nesse sentido, viemos para provocar e despertar a curiosidade, para instigar e esclarecer. A OTTO representa a certeza de uma sociedade mais consciente e respeitosa. O público gay goiano é bastante numeroso e merece uma publicação que o represente. Uma primeira edição é cheia de simbolismos. Para marcar esse início, promovemos uma viagem informativa, colorida e muito divertida pela contemporaneidade. O que é assunto e o que virou notícia está nas páginas da OTTO. Para começar, o que a psicanálise nos diz sobre a homofobia? Com barba ou sem barba? Caprichamos em um editorial sobre a tendência dos pelos faciais. Em moda, conheça uma marca goiana que arrasa nas estampas. E tem também Dudu Bertholini falando sobre redemocratização fashion e possibilidades de gênero. No editorial Look at the flowers, a nova roupagem do floral para o verão 2015 em uma produção de tirar o fôlego. Falando em fôlego, a musa Valesca Popozuda, espontânea como só ela, fala em entrevista exclusiva sobre carreira e preconceito. Tem também os meninos do Põe na Roda falando sobre seu sucesso na rede e da sua parceria com a ONU. Quer conhecer um pedacinho de Montreal e Nova York em Goiânia? O Moony Restaurante é o lugar certo. Nossa correspondente Patrícia Faolli nos traz os points gays mais badalados de NY e Francisco Uchoa nos conta sobre sua experiência na Parada Gay de Toronto, no Canadá. E Last but not least, você tem alguma dúvida sobre a tão polêmica chuca? Nós desvendamos mitos e verdades sobre a prática. E quanto ao sexo oral, algumas dicas podem ajudar na hora H. Está bom para você? Pois ainda tem política, bem estar, música, cinema e muito mais! A OTTO é feita para você e por você, leitor. Embarque nessa com a gente!

BRUNO DIAS

LUCAS PEREIRA

EXPEDIENTE EDIÇÃO GERAL Bruno Dias Lucas Pereira ORIENTAÇÃO Salvio Juliano Farias PROJETO GRÁFICO Fabianne Salazar COLABORADORES Alex Almeida, Braz Simplicio, Carlos Brandão, Francisco Uchoa, Guilherme Ataíde, Lidiana Reis, Marcela Freitas, Narelly Batista, Osmar Régis, Patrícia Faolli

NOSSA CAPA:

Honorato Babinski foi fotografado por Rafael Manson, com produção de Marcela Freitas.


Rua 52 Nº 219 - Jardim Goiás - Goiânia Telefone: (62) 3281-4308


TEAMOTTO

OSMAR RÉGIS

ALEX ALMEIDA

GUILHERME ATAÍDE

BRAZ SIMPLICIO

LIDIANA REIS

CARLOS BRANDÃO

PATRÍCIA FAOLLI

MARCELA FREITAS FRANCISCO UCHOA

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ARTIGO

UMA HISTÓRIA EM PEDAÇOS CARLOS BRANDÃO

B

em, não sou nenhum estudioso ou especialista no tema, mas instigado pelos responsáveis por essa publicação, vou tentar falar um pouco sobre a trajetória do movimento gay na cidade de Goiânia. Repare que não uso a sigla GLS, qualquer coisa assim, porque já li que existem letras que eu não sei quais são e, sendo assim, posso passar por mais burro do que já tenho certeza que sou. Vou escrever o que ouvi de pessoas que faziam arte nos primórdios desse movimento. Em mais de 25 anos em redações de jornais e revistas, pude entrevistar pessoas que, essas sim, deveriam estar aqui escrevendo e falando do que conhecem. O ator Marques, conhecido como Margosa, é uma dessas memórias vivas. O diretor de teatro Luiz Pinheiro, idem. Entre vários outros que ouvi e entrevistei. Segundo essas pessoas, o grande começo se deu na década de 80, com o surgimento de algumas casas na cidade, voltadas para o público gay. Uma curiosidade: existe até hoje, na Rua 3, centro, um bar chamado Bate Papo. Foi aberto para ser mais um bar comum. Segundo Margosa, uma boate GLS foi aberta na rua 20, Centro, próxima ao bar. “Como as bichas chegavam muito cedo na boate, antes de abrir, elas acabavam fazendo um esquenta no bar. Com isso, o Bate Papo passou a ser um espaço gay”, revela o ator. Até hoje, passados 30 anos ou mais, o bar continua lá e o público maior que vai até ele, é o GLS. Outro corte na cena gay de Goiânia, se deu através de Regina Perri. Ela me contou que morava nos Estados Unidos, e veio a Goiânia, para visitar seus pais, que moravam em Gyn. “Vi aqui, muitos bares com nomes em inglês e quis montar um bar para mim, nesses moldes”, revela. Ela criou então o End Up. “Para a noite de abertura do bar, contratei dois produtores. Os dois eram gays. O público que apareceu na casa, na primeira noite, foi 100% gay”. Era a senha que faltava para o

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público GLS criar mais um point. Luiz Pinheiro conta que em bares da cidade, surgiu o maior nome do movimento GLS, quando o assunto era apresentação de esquetes. Júlio Vilela, segundo Pinheiro, fazia produção de uma artista. Quando essa artista entrou de férias, ele assumiu seu lugar. O sucesso foi tão grande que Júlio criou o espetáculo Jú, Onze e 24, que ficou em cartaz por mais de 15 anos. Outra vez, Regina Perri entra em cena. “Algumas famílias tradicionais acharam ruim seus filhos frequentarem o End Up e acabaram conseguindo fechar o bar”, avisa. Ela criou então um espaço na Avenida República do Líbano, que acabaria por ser a casa que mais auxiliou na revolução comportamental que viria acontecer na cidade. Muitos indecisos se decidiram na Jump. Muitos héteros viraram casaca nessa boate. Quando a Jump fechou, parte do acervo fotográfico, cerca de dez mil fotos, foi entregue ao Museu da Imagem e do Som. Isso quer dizer que, no futuro, quando algum historiador quiser escrever sobre o tema, terá um farto material à sua disposição. Outras fontes de pesquisa que devem ser consultadas são as pessoas que vivenciaram essa história e ajudaram a construí-la. Além de Pinheiro e Margosa, existem muitas outras fontes. Não segui uma ordem cronológica e deixei de citar dezenas de bares, boates e espaços gays que colaboraram para abrir caminho para esse público. Mas avisei no começo desse papo, que eu não sou expert no tema, não tenho pesquisa nessa área e estou aqui de atrevido, a convite do pessoal da revista. E estou mais como cronista que conta uma história fragmentada, do que como alguém que entende do assunto sobre o qual escreve. É isso!

CARLOS BRANDÃO é jornalista, compositor e produtor cultural


FORA DO ARMÁRIO

Shorts Ralph Lauren

Boné LRG

PEGADA TROPICAL

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Estampas florais já não são clichês de Primavera/Verão desde que a tendência ganhou uma nova roupagem. O Verão 2015 vem com um novo floral, as peças masculinas trazem um perfume moderno, mais abstrato. A delicadeza está ali, mas as estampas estão maiores e as cores mais democráticas, as flores brincam com fundos claros e escuros, e contrastes estão mais demarcados. Os materiais vão desde a fluidez do tecido até a rigidez do couro. Charme à parte, os acessórios florais também vêm com tudo. A dica é adequar a estampa ao seu tipo físico. Ainda dá tempo de aderir às flores!

Desfile Amapô SPFW - Verão 2015 Camisa Floral Green Zara

Blazer Topshop

Alpar gata Floral Perky Jabou r

Mochila

Calça Trousers Zara

Vans

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OTTODROPS OSMAR RÉGIS

MAÇÃ COLORIDA

GELO NA HOMOFOBIA O Comitê Olímpico Internacional tomou uma posição firme sobre a aceitação. O presidente do comitê Thomas Bach, resolveu tomar medidas para garantir que todos se sintam à vontade nos futuros jogos. As cidades terão de assinar um documento legal se comprometendo a aderir ao sexto princípio fundamental do olimpismo, que afirma: “Qualquer forma de discriminação com relação a um país ou uma pessoa por motivos de raça, religião, política, sexo ou de outra forma, é incompatível com Movimento Olímpico”. As cidades cotadas para os Jogos de Inverno de 2022 são Oslo, Pequim, ou Almaty. Apenas Oslo tem leis progressistas que protegem o público LGBT.

Um dos homens mais promissores do mundo dos negócios acaba de sair do armário. Tim Cook, presidente-executivo da Apple, revelou ser gay em artigo publicado no site da revista Bloomberg Businessweek. “Ao longo da minha vida profissional, eu tentei manter um nível básico de privacidade”, escreveu. “Apple já é uma das companhias mais observadas de perto do mundo, e eu gostaria de manter o foco nos nossos produtos e nas incríveis coisas que nossos consumidores pretendem com eles.” Cook ainda ressalta que muitas pessoas já sabiam de sua orientação sexual dentro e fora da empresa que administra. Tim afirma que ser gay lhe deu uma compreensão mais profunda do que significa estar em minoria e que consegue enxergar com o que as pessoas de outros grupos minoritários lidam todos os dias. “Então deixe-me ser claro: eu tenho orgulho de ser gay, e eu considero ser gay entre os maiores dons que Deus me deu”, finaliza.

CAPTURANDO O ORGASMO Uma série de doze imagens, criadas pelo fotógrafo inglês Stuart Sandford está tirando o fôlego dos críticos de arte. A polêmica deve-se ao fato de que as fotos mostram os rostos de rapazes na cama no exato momento do orgasmo. Embora sejam apresentadas como “selfies”, as imagens foram feitas pelo próprio fotógrafo. A curiosidade em torno desse ensaio fica por conta das feições que esses modelos esboçam. Há quem defina as imagens como engraçadas, outras sensuais, mas todas envolventes.


FESTA CONSCIENTE Teste de HIV é um momento que deixa muita gente tensa. Para resolver isto, e estimular os jovens a se cuidarem, foi criado em Bangkok o “TestBKK”, primeiro evento tailandês para promover o teste de HIV em massa para gays, uma mistura de festa e ação de saúde. Enquanto a música eletrônica ecoa, profissionais da saúde recolhem o sangue dos jovens que se dispõe a fazer o teste. Tudo é feito de forma rápida e segura. A comunidade gay da Tailândia, que oficialmente tem 560 mil pessoas, ou 3% dos homens entre 15 e 49 anos, é vista como vulnerável ao HIV.

PREPARE AS MALAS! Receber e atender de maneira adequada o público gay é um diferencial que tem rendido muito dinheiro pelo mundo. Segundo dados do World Travel & Tourism Council e a Organização Mundial do Turismo, o turismo gay cresce mais que o dobro que o turismo geral, com um ritmo anual de 10,3%, em frente ao 3,8% que o faz o segundo. Pensando nesse mercado, o guia de viagens Lonely Planet listou as cidades que devem receber o maior fluxo de turistas LGBT em 2015. Entre elas: Copenhague, Toronto, Skiathos e Mykonos e Montevideo.

SEM LEVANTAR BANDEIRAS Mauricio de Souza recentemente foi indagado por pela atriz Tammy Miranda porque não há um personagem gay na história em quadrinhos. “Eu já vi que você tem um personagem negro, outro deficiente físico. Você nunca pensou em criar um personagem homossexual?”, questionou Tammy. “Tudo tem o seu tempo. E, logicamente, quando acabarmos com a homofobia, podemos pensar. Tem que ter cuidado para que os temas sejam aceitos pela maioria dos leitores. Tem muita gente agressiva (...). Portanto, a Turma da Mônica não deve levantar bandeiras nunca, mas mostrar uma ação”, respondeu Maurício de Souza.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

DESCONSTRUINDO TABUS Se você não gosta de ver cenas quentes, é bom ficar longe

da nova série criada por Shonda Rhimes (Greys Anatomy). Com o sugestivo título de How to Get Away With Murder (Como escapar impunimente, em uma tradução livre), a história é centrada no universo de uma professora de direito e seus alunos aspirantes que não medem esforços para conseguir o que desejam. O que chama atenção na série são os inúmeros envolvimentos sexuais entre os personagens, com foco especial e explícito sobre as relações homossexuais. A série tem o dedo de Pete Norwalk, roteirista homossexual assumido, que admite sua intenção de usar a série para normalizar o sexo gay em rede televisiva. DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 15


OTTOPOLÍTICA

A REVOLUÇÃO DOS PAETÊS

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esde junho de 2013 uma nova análise sobre o que é política e cidadania apareceu. O sentimento em relação à política parece ter mudado e passado a ser, de uma hora para outra, um tema presente demais para não darmos atenção. Pessoas que não se interessavam em discutir política passaram a tratar do tema com exaustão possibilitando uma alteração no perfil dos parlamentares que temos até aqui. O homem branco, casado, heterossexual e cristão deixou de ser o representante máximo do poder de transformação e manutenção do sistema político, deixando o parlamento mais cheio de cor e sonoridade. Conquistamos aqui e no mundo uma política menos enfadonha, mais colorida e, com toda certeza, muito mais próxima a nós do que os livros cansativos de teorias sobre direita e esquerda. Em um processo de desmistificação da política, nossos ídolos pops, juvenis e que nada pareciam ter a ver com causas sociais, nos últimos anos resolveram abandonar o padrão Disney (freado e obediente) de qualidade comportamental e estão por aí gritando seus ideais. Em uma performance grandiosa de universo, estes atores políticos liberaram a Gaga que há neles e resolveram expressar o seu ‘little monster’ interior. Emma Watson, Miley Cyrus Jean Willys e Beyoncé mitaram nos últimos anos. Emma Watson, de forma institucional, como representante da ONU Mulheres, deixou os livros de magia do sucesso Harry Potter de lado para aplicar uma magia diferente. A magia da luta política. Usando um único comando a sua varinha: Igualdade. 16

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Miley Cyrus, com seu visível desprendimento, reúne análises negativas e até pejorativas sobre sua transformação de moça ingênua e comportada para um ser sensual, humano, real e livre que ela e todos nós somos ou pelo menos deveríamos ser. Jean Willys, um ex-BBB e talvez o único do qual o Brasil devia se orgulhar, como deputado fala sobre igualdade, inclusão além de enfrentar os velhos senhores da política brasileira que consideram nojenta e abusiva a presença de um homossexual dentro daquela casa. Ele definitivamente fala a minha língua. Por último e não menos importante, a rainha do universo pop, Beyoncé, que não teme temas polêmicas como a legalização do aborto, a igualdade de oportunidades e o casamento igualitário é, sem dúvidas, a maior demonstração da evolução social que temos. Um ator político comprometido com a disputa de um projeto de progresso mundial baseado no direito de ter direitos. Com todas essas demonstrações de agentes políticos interessantes e deslocados da política tradicional, podemos ver que coisas boas emanam, e nesse sentido, um aroma doce de possibilidades, liberdade e nuttela deixam o mundo mais tragável. Não seria necessariamente uma nova política, é na verdade uma nova concepção de cidadania. Parafraseando uma cantora evangélica que gritou de forma histérica, depois de uma oração e de informarem a decisão da criação de um partido político de certa denominação evangélica, “estamos indo para a políticaaaaaaaaaaaaaa”, e pasme querida, é com muito pop, plumas e paetês.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

NARELLY BATISTA


FORA DO ARMÁRIO

Bolsa Be

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Bolsa Lanvin

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BOLSAS DE VALOR

sa Bol

Zara

Bag Calvin Klein

Elas invadiram o guarda-roupa masculino e tomaram conta das ruas. Desde a bolsa de mão, passando pela bolsa carteiro, até chegar à clássica duas alças, de couro ou de lona, elas se tornaram uma necessidade. Se lá atrás as mochilas tinham o poder de derrubar qualquer look, as bolsas hoje são o it da vez. Seja no inverno ou no verão, para carregar papéis ou o notebook, lisas ou estampadas, as bolsas masculinas conquistaram o posto de tendência atemporal. E o legal é que não precisa combinar, a sua bolsa tem a única missão de empregar estilo. Se há o risco de extravagâncias parecerem femininas? Sim, mas o que seria da moda sem ousadia, não é mesmo? FOTOS: DIVULGAÇÃO

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DISCRIMINAÇÃO

ALEX ALMEIDA

QUEM TEM MEDO DOS

GAYS?

A HOMOFOBIA ASSUSTA A COMUNIDADE LGBT. MESMO INFERIORIZADOS, OS HOMOSSEXUAIS PARECEM DESPERTAR ALGUM TEMOR EM SEUS ALGOZES

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LUCAS PEREIRA

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homofobia é uma realidade. Os dados nacionais de violência por preconceito homofóbico são alarmantes. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, no ano de 2013 foram registrado 312 assassinatos, levando-se em conta processos de subnotificação, de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. O Disque Direitos Humanos da Presidência da República recebeu pelo módulo LGBT um total de 1695 denúncias de violência em 2013. Já em 2014, esse número ultrapassa 6.532 denúncias. Diante de tantos casos, próximos e distantes, o que se torna nítido é a condição de objeto manipulado por outro indivíduo. Os atos de violência homofóbica não são só aqueles com agressões e assassinatos, um olhar torto e um comentário são tão humilhantes quanto atos extremos. “Expressões como ‘sapata caminhoneira’ ou ‘veado tem que morrer’, não são expressões desinteressadas ou jocosas. Elas destinam e reduzem o outro a um lugar inferiorizado”, enfatiza o psicanalista e doutorando em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Vinicius Andrade. O profissional ainda comenta da importância dos estudos do filósofo Didier Eribon, em seu livro “Reflexões Sobre a Questão Gay”, no qual aborda justamente os casos de injúrias promovidos contra homossexuais. Como enfatiza Andrade, Didier trabalha a injúria como uma condenação, forma de insultar, de estabelecer em uma relação assimétrica de poder quem é melhor e quem é pior. A própria procura pelo entendimento das origens da homossexualidade, em contraponto do mínimo interesse no estudo da heterossexualidade nos diz muito. Poderíamos dizer que, afinal, sendo a segunda considerada como ‘correta’ e natural, caberia à primeira a condição de desviante, e aí estaria a necessidade de ser estudada? A partir desse conceito, da chamada heteronormatividade, todo aquele não-heterossexual está fora da norma. “É um dos conceitos fundamentais para se discutir a homofobia”, diz Vinicius Andrade. Quem também discute questões sobre

identidade e sexualidades é a filósofa e feminista Judith Butler. Ela lança mão do conceito “abjeto” no sentido dessas questões, tidas como dissidentes, na entrevista “Como os Corpos se Tornam Matéria”. Segundo ela, o abjeto seria aquele ser humano que não tem voz, o que não importa, o que não está na norma heterossexual, o que não é esperado, o que não está para a inteligibilidade dos outros. Nesse sentido, as homossexualidades, as travestilidades e transexualidades estariam encerradas na figura do abjeto, do desprezível, do “monstro”. “Deve-se buscar compreender as sexualidades, gêneros e homofobia, a partir de concepções que não sejam explicativas, patologizantes, universalizantes, totalizantes, naturalizantes, mas sim, contextualizadas à realidade social”, enfatiza Andrade. Ou seja, não cabe discutir a prática homofóbica em uma perspectiva individual, mas sim em uma perspectiva de direitos. É o que também defende o antropólogo e historiador Luiz Mott, um dos mais conhecidos ativistas da causa LGBT. Para ele, é preciso promover ações mais efetivas de combate aos crimes de homofobia. Outro ponto que vale ser observado e que faz total diferença, diz respeito às intersecções de categorias analíticas envolvidas na violência homofóbica como classe social e raça, como ressalta Vinícius Andrade. “A experiência de um gay, mais masculino, branco e de classe alta é vivida de forma bastante antagônica a de gays negros, mais femininos e de camadas mais populares”, diz. Ou seja, quando o tema é a homofobia, é preciso fazer contextualizações muito específicas. Desse modo, se a abordagem e os estudos referentes ao tema possuem inúmeras vertentes, a luta conta a prática da homofobia ganha voz e sinaliza boas intenções. Não há porque insistir na tecla de que o homofóbico tem alguma inclinação homossexual mal resolvida, como muitas pesquisas realizadas já divulgaram. Apesar de podermos dizer que existe um medo por parte do algoz, o interesse está no fim da prática e não em sua causa. Se a mensagem ainda não ficou clara, aí vai um reforço: os gays não querem dominar o mundo, converter crianças indefesas ou garantir algum tipo de privilégio, a luta contra a homofobia nada mais é do que uma batalha por igualdade de direitos.

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BIGODE, CAVANHAQUE OU BARBA CHEIA, OS PELOS FACIAIS ADQUIRIRAM O STATUS DE ACESSÓRIO DE MODA. E NA DEMOCRACIA DA BELEZA, ESSA TENDÊNCIA DERRUBA TABUS E GANHA FORÇA NA DIVERSIDADE

FOTOS: Alex Almeida MAKE: Léo Capeletti


O tempo e a frequência para aparar a barba variam conforme o tamanho que se quer atingir. A barba curta deve ser aparada a cada duas semanas, já as longas pedem um período mais espaçado, de três semanas a um mês. Uma ferramenta indispensável para se ter em casa é a máquina de aparar cabelos, ela ajudará em uma manutenção rápida e precisa.

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Para quem tem barba falhada a sugestão é usar sombra marrom. Nesse caso, a sombra deve ficar imperceptível. Esse é o mesmo truque usado pelas mulheres nas sobrancelhas.


Considerado cafona no final dos anos 70, o bigode voltou como referĂŞncia de masculinidade e estilo para os homens.

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O desenho da barba Ê super importante. Ele, necessariamente, deve estar de acordo com o formato do rosto e valorizar os traços.

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MODELOS: LUCAS OLIVEIRA, FERNANDO HUSTHEND, ALEXANDRE PARRODE, JONATHAN NEPOMUCENO E IGOR MARIANO

Assim como os cabelos, a barba também acaba acumulando sujeira e oleosidade, principalmente para os adeptos do bigode. A pele do rosto é muito diferente do couro cabeludo, então para higienizar a barba a dica é procurar produtos específicos ou optar por um xampu neutro ou sabonete sem sal.


OTTOFITNESS

BRAZ SIMPLICIO

#BUMBUM NA NUCA

AGACHAMENTO O agachamento é o carro chefe dos bumbuns durinhos e não poderia ficar fora da lista. De pé, com as pernas na largura do ombro, contraia o abdômen, mantenha a coluna reta e agache até formar um ângulo de ate 90º. AVANÇO NO CAIXOTE Esse exercício possui vários nomes diferentes, mas possui um efeito único. Junte um caixote, ou um step maior e resistente, a uma barra de apoio e suba nele. Permaneça uma perna no caixote e a outra leve para trás. Com o abdômen contraído, desça a segunda perna ate formar um ângulo de 90º. Repita o exercício com a outra perna para finalizar uma série.

Treino de glúteos com caneleria 28

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CANELEIRA É um dos exercícios mais comuns na academia e queridinho de quem gosta de malhar bumbum. Com o corpo apoiado nos quatro membros (braços e joelhos), eleve uma das pernas até a coxa se alinhar com o tronco. Repita o exercício com a outra perna para formar uma série. O peso nas caneleiras varia de acordo com sua condição física. STIFF Outro exercício tradicional, o stiff é tão forte que faz sentir toda a parte traseira dos membros inferiores. Com uma barra menor que a do agachamento, desça ela com os braços estendidos, mantendo a coluna reta, conforme mostra a imagem. É importante manter a cabeça erguida e olhando para frente, para que a coluna mantenha-se reta durante o exercício, evitando assim lesões na coluna. ELEVAÇÃO PÉLVICA É o mais complicado da lista, mas além de garantir um ótimo resultado, não é tão difícil de aprender. Deitado em um colchonete, coloque os dois pés em cima de um step e um peso na região da pélvis. Faça uma elevação da pélvis até a coxa se alinhar com o tronco. É sempre bom colocar algo entre a pélvis e o peso para não causar lesões.

ANTÔNIO HENRIQUE

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á passou da hora dos homens deixarem o velho estigma de que homem não malha glúteos e passar a exercitar essa parte do corpo que é preferência nacional. Pensando nas pessoas que querem um bumbum durinho nesse verão, selecionei os cinco melhores exercícios para o músculo, confiram abaixo:


FORA DO ARMÁRIO

A linha For Men, de cosméticos do estilista Tom Ford traz oito produtos, incluindo um gel bonzeador, um corretivo e até uma máscara de lama.

A marca francesa de produtos masculinos Nickel, criada em 1996, tem duas opções de maquiagem: um corretivo e um autobronzeador. Os dois estão disponíveis para compra no Brasil no Men’s Market..

MAKE DE MACHO

Maquiagem masculina é diferente da feminina, não adianta lutarmos contra isso. No entanto, isso não quer dizer que não pertença a ambos. A batalha aqui é contra o cansaço, olheiras, oleosidade, as imperfeições e para dar aquele up no visual. O carregador do celular não mais é o único item indispensável na bolsa, o nosso amigo corretivo também. E é claro que a lista não para por aí, um pó e uma base não fazem mal. Na hora da produção menos é mais, a pele ganha um aspecto melhor sem perder a naturalidade. Já faz tempo que retocar o make virou coisa de homem sim, senhor! Mineralize Skinfinish Natural da M.A.C é um pó facial luxuoso rico em minerais, levemente assados para oferecer um acabamento dimensional, opaco e natural. Oferece uma perfeita e leve cobertura. Utilize-o para definir e fixar a base um como um retoque durante o dia.

O creme pré-maquiagem The POREfessional, da Benefit, minimiza a aparência dos poros. Bálsamo leve e sedoso para uma cobertura translúcida e uma pele ultra macia.

Enriquecido com pigmentos minerais, o BB Cream de L’Oréal Paris minimiza a aparência dos poros de forma eficaz, corrigindo imediatamente as imperfeições da pele. Sua textura de rápida absorção e leve toque de cor, deixam a pele uniforme e com acabamento natural. Ele contém filtro FPS20 que protege a pele contra raios UV. FOTOS: DIVULGAÇÃO DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 29


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ARTE+MODA

A HORA DA

ESTAMPA MODA, ARTE E CONFORTO UNIDOS EM UMA MARCA TÃO SIMPLES E SOFISTICADA QUANTO O NOME JOAQUIM

BRUNO DIAS

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Arara de peças QUIM no lançamento da marca no Shopping Bougainville

Quim pra Homem, dedicada ao público masculino, é uma grife goiana que nasceu em julho de 2013 originada de uma ideia dos tempos de faculdade. Criada e dirigida por Lara Vaz, mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi (SP), a marca aposta em estampas digitais com ilustrações exclusivas. O nome da marca vem de Joaquim, um nome português fortemente encontrado no Brasil e que, para Lara, lembra a figura de um pai ou um avô. “Um nome que carrega em si a tradicionalidade e que, ao ser abreviado, demonstra versatilidade e despojamento para se adaptar de forma agradável e divertida a qualquer tempo”. Buscando adaptação ao clima regional e aos variados contextos que os clientes da marca se submetem, a Quim traz camisas cujo compromisso é com a versatilidade. Baseado em um tripé de conforto e singularidade, ela segue a dinamicidade da vida do homem moderno. Busca agregar valores conceituais diversos em seus produtos, como arte contemporânea, música e esportes. Suas estampas chamam a atenção pela mescla de cores. A última coleção da marca é intitulada Pássaros, e segundo a estilista, a ideia é mexer com os sentimentos mais íntimos, aqueles pensamentos que não verbalizamos, mas sem perder o colorido da vida. Em uma crescente, a aceitação e o interesse pela 32

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DIVULGAÇÃO

grife ultrapassou os limites do estado. “Começamos vendendo em algumas multimarcas em Goiânia, mas por causa das redes sociais começamos a ter demanda de lugares como Rio de Janeiro e São Paulo”, afirma Lara. A marca já conta com camisas, shorts e cuecas e, segundo a estilista, os planos de expansão para outras peças do vestuário irão acontecer em um futuro bem próximo. Se as estampas ainda não caíram no gosto dos homens, no que depender da Quim logo cairão.


ESTILO

A MODA É

DELE

DE PASSAGEM POR GOIÂNIA, O ESTILISTA DUDU BERTHOLINI DEFENDE A DEMOCRATIZAÇÃO DA MODA E AS POSSIBILIDADES DE GÊNERO LUCAS PEREIRA

FOTO: IGOR LEONARDO-HEKTAPHOTO’S

E

le é um ícone. O estilista Dudu Bertholini está atrelado em essência ao transgressor e, claro, ao fashion. Figura alta, falante, com gestos rápidos e olhar atento, ele pode até parecer um personagem, uma caricatura, mas não é. Bertholini tem uma trajetória invejável e é dono de pontos de vista que o fazem presença carimbada em eventos de moda por todo o país. A OTTO aproveitou para bater um papo com o estilista durante sua passagem por Goiânia no Vogue Fashion’s Night Out (foto), realizado no início de novembro no Flamboyant Shopping Center. Dudu não passa despercebido, muito pelo contrário. Sua forma de se vestir é mais do que um convite, é uma afirmação de que a democratização da moda é um fato consumado. “Eu acredito que estou nessa vitrine da moda para conseguir legitimar e levar uma mensagem de aceitação”, garante ele. Seu estilo tropical, em que a mistura fala por si só, sem pretensões de definir ou explicar, tratou de firmar sua imagem. “Precisamos acreditar em maneiras únicas de ser. Podemos transgredir sim”, completa o artista. O destaque no mundo da moda se deu cedo, ainda durante a faculdade, que Dudu nem chegou a terminar porque na semana em que se formaria ele apresentou seu primeiro desfile na São Paulo Fashion Week. Em anos de carreira, a consagração veio enquanto es-

teve à frente da Neon, marca que ele comandava junto da amiga Rita Comparato. Ao longo de uma década de trabalho, as estampas se tornaram a marca registrada da Neon. Após fechar as portas da sua confecção no ano passado, a grife se tornou uma espécie de fábrica de ideias. Dudu seguiu em carreira solo e assinou sua coleção para a fast fashion online Lets no final de 2013. A linha trazia peças com referências dos anos 80 e misturava estampas de zebra com pegadas psicodélicas, entre outras. “A maior questão que o fast fashion e a democratização da moda têm que enfrentar é conseguir trabalhar com valores sustentáveis”, alega Bertholini. Ele ainda garante essa chamada ‘democratização da moda’ que vigora nos dias de hoje não se trata de uma fase. “Se a gente primar pela qualidade e pela consciência sustentável, não será uma fase passageira”, completa. Dudu Bertholini é um dos defensores mais ferrenhos da transgressão na moda, do seu valor contestador e conceitual. “Hoje em dia nós podemos inventar o nosso próprio gênero. Você pode ser homem e usar batom, ser mulher e vestir cueca”, afirma. O estilista, inclusive, participou recentemente de um documentário que foca nas questões de gênero e na escolha da sexualidade. Da diretora Miriam Chnaiderman, o De gravata e Unha Vermelha traz Bertholini entrevistando personas como Rogéria, Ney Matogrosso, Laerte e vários outros. “É um projeto lindo e muito humano”, diz o estilista sobre a produção. DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 33


TENDÊNCIA

CLOSET

TRANS

UNIDADE ENTRE O MASCULINO E O FEMININO NO MUNDO FASHION CELEBRA A ACEITAÇÃO DOS INDIVÍDUOS INDEPENDENTEMENTE DE CONDIÇÃO SEXUAL

LUCAS PEREIRA

O

fim da distinção entre os gêneros está próximo. Definir peças de roupa em femininas ou masculinas não tem feito mais tanto sentido. Se pensarmos que a moda funciona como um radar que, de certa forma, pressente e acompanha mudanças sociais e culturais ao longo dos anos, podemos acreditar em uma maior aceitação das diferenças. Hoje homens usam camisas femininas tranquilamente, e as calças de alfaiataria, assim como ternos e oxfords, invadiram definitivamente o armário das mulheres. Androginia é o termo usado para definir a mistura de características femininas e masculinas ou a falta delas. Mas engana-se quem pensa que o tema não tinha seus representantes e referências, não só no mundo da moda, décadas atrás. Impossível falar a respeito sem citar os vanguardistas natos Ney Matogrosso e Annie Lennox há alguns anos, assim como Andrej Pejic, Lea T., Laverne Cox e vários outros nomes representando a atualidade. Erroneamente, a androginia é associada à sexualidade, mas o termo nunca foi responsável por definir ninguém como homo ou heterossexual. No mundo da moda, a androginia representa uma ficha na qual os estilistas não se cansam de apostar. A pioneira nesse caso foi Coco Chanel, responsável por inserir as calças no vestuário feminino ainda nos anos 20. Para a stylist Izabelle Capuzzo, do Plie Design, Chanel quebrou os padrões da época devido a 34

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sua personalidade forte. “A moda enquanto produto roupa é muito mais que diferenciar as pessoas por gênero. Ela deve servir para nos apresentarmos ao mundo”, garante. “O legado de Coco consiste em fazer as pessoas auto se afirmarem, não se importarem com os pré-conceitos e reconhecerem que a roupa não define a sexualidade ou orientação sexual de quem a usa”, ressalta o blogueiro Reberth Fiorezzo. É preciso lembrar que fatores culturais, políticos, econômicos, sociais e religiosos interferem diretamente nos conceitos e padrões que são aceitos. Podemos dizer então que ver o cantor Kanye West vestindo uma camisa feminina durante um show mostra que os tempos mudaram? E a atriz transexual Laverne Cox estrelando um dos programas de maior repercussão dos últimos tempos, Orange Is The New Black, e estampando capas de revistas representa uma ruptura? Ao lado de Cox, a cantora barbada Conchita Wurst, austríaca que venceu o concurso de talentos europeu Eurovision, é uma forte representante dessa era sem preconceito. A drag queen inclusive encerrou o desfile de alta-costura de Jean Paul Gaultier como musa do estilista na Semana de Moda de Paris. “O individualismo vive um grande momento. A liberdade de ser o que se quer está em alta”, garante a estilista paulistana Fábia Bercsek, que tem como marca de sua trajetória trabalhos com forte pegada conceitual e personalidade. Ela ainda defende que o que as pessoas amam na moda é a mistura, o ineditismo e o pioneirismo. “Certa peça ou certo look pode cau-


FOTOS: DIVULGAÇÃO

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

Desfile Givenchy Verão 2015 na Semana de Moda de Paris

Desfile Rick Owens Verão 2014 em Milão

Desfile Raf Simons Verão 2014 em Milão

sar estranheza, mas aos poucos é digerida. Tem moda para todo mundo”, completa. A sociedade demonstra que há preocupações maiores do que a peça de roupa ou orientação sexual de cada um. Se o Verão 2015 da Givenchy trouxe rapazes vestindo saias, assim como Raf Simons fez no Verão 2014, vale lembrar que na Idade Média a calça legging era a mais usada pelos homens. Elas inclusive voltaram às passarelas com o nome de megging e ganharam adeptos nas ruas. E se você está pensando que estamos muito longe de tudo isso, está enganado. Andar por Goiânia é ver representantes, mesmo que ainda discretos, da chama36

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da “tendência andrógina”. Izabelle Capuzzo alerta que para quem quer se arriscar nessa pegada, o ideal começar elegendo apenas uma peça do look que seja mais masculina ou feminina. “Há como investir na androginia de forma básica e também bastante irreverência. O importante para moda é ser você mesmo, expor o que você é com o que veste, e estar confortável consigo mesmo”, completa Fiorezzo. Assim como houve a luta pelos direitos das mulheres, as campanhas raciais e a batalha contra a homofobia, essa revolução surge vestindo uma camiseta estampada com os dizeres “vamos brincar com os gêneros”.


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FLORAL GANHA NOVA ROUPAGEM, UNE DELICADEZA, OUSADIA E MODERNIDADE PARA DAR BOAS VINDAS AO VERÃO

FOTOS: Rafael Manson PRODUÇÃO: Marcela Freitas MODELO: Honorato Babinski


Calรงa estampada: 4You Lenรงo: Riachuelo Sapato: Zara

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Camisa: Blue Man CINTO: H&M Sapato: Brechó Tailândia Calça: Calvin Klein


Chapeu: Richards Camisa: Brech贸 Tail芒ndia Bermuda: Hering DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 41


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Paletó: Zara Sunga: Alto Verão Sapato: Berchó Tailândia Lenço: Riachuelo


Palet贸: Zara Sunga: Lucas Silveira


Calça Estampada: C&A Sapato: Zara Boné: H&M

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ENTREVISTA

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EM ENTREVISTA A OTTO, A CANTORA QUE SE TORNOU UM ÍCONE POP E UMA ESPÉCIE DE EMBAIXADORA DO FEMINISMO E DA LUTA CONTRA O PRECONCEITO, FALA SOBRE CARREIRA, SUCESSO, ACEITAÇÃO E MUITO MAIS


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VUL GAÇ S: D I FOTO

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É forte você ouvir ‘a porra da buceta é minha’, mas eu tô falando mentira?!


BRUNO DIAS

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ascida Valesca dos Santos, carioca do bairro do Irajá, ela nunca imaginou que seria citada em uma prova de filosofia como “grande pensadora contemporânea”, menos ainda que reinaria no Brasil de 2014. A menina magra e morena que trabalhava como frentista em um posto de gasolina foi descoberta por acaso, pelo seu atual empresário Leandro Gomes, o Pardal, pai do seu filho Pablo. Como cantora e dançarina do grupo Gaiola das Popozudas, Valesca fez sucesso com os chamados “funks proibidões”, e versos como “Agora eu to solteira e ninguém vai me segurar” a fizeram conhecida do grande público. Hoje, Valesca Popozuda, loira, sarada e em carreira solo, ela conquista cada vez mais espaço entre todas as classes sociais, além de liderar uma verdadeira legião de seguidores, os seus “Popofãs”. Ser studada em teses de mestrado, ter questões de prova com suas letras e pequenos ativismos por meio de redes sociais, só reafirmam que a menina do Irajá se tornou um fenômeno cultural, um ícone popular, a diva de toda uma geração. Dizer que a cantora conseguiu tirar o ‘sub’ de sua ‘celebridade’ não é exagero. Você sempre quis ser cantora? Como surgiu a Gaiola das Popozudas? Nunca me imaginei cantando. O convite surgiu quando meu empresário passou no posto e me viu. E eu logo aceitei. O Gaiola das Popozudas também foi criação dele, no inicio éramos apenas dançarinas e não tinha vocal. Você vem de uma origem muito humilde, teve variados tipos de empregos. Em algum momento você se deixou esmorecer? Não, nunca cheguei e pensei ‘não aguento mais’, sempre pedi forças para continuar e saúde para me manter. Quando achava que não ia conseguir eu lembrava que precisava e não podia desistir. Por ser mulher e cantar ‘funk proibidão’ você foi alvo de muito preconceito? Sofri muito! Logo no começo as pessoas não aceitavam que mulher cantasse funk, e eu que já era julgada por ser de favela, quando resolvi cantar funk piorou. Com o tempo isso foi ficando menor. Você acha que suas letras inspiram e encorajam aqueles que têm vontade de falar as mesmas coisas que você canta?

Sim! É forte você ouvir ‘A porra da buceta é minha’, mas eu tô falando mentira?! Somos donos do nosso corpo, quem manda somos nós. A liberdade sexual era muito mal vista, ninguém tinha coragem de debater o tema abertamente. Hoje em dia isso já mudou. Esse ano você se engajou em uma campanha contra o estupro. Você se considera feminista? Sou mulher, então eu sempre defendo a classe feminina. Queria ser mais ativista, porém não consigo. Uso a minha figura pública para poder levantar uma bandeira feminista mesmo que pequena. Você também defende a causa gay. Qual a sua relação com esse público? Eu sou totalmente a favor dos gays terem direitos a coisas que ainda não têm. Não consigo entender, até hoje, o porquê de a sociedade colocar religião à frente de tudo. Sou amiga de muitos gays e convivo com eles, sempre vejo como são discriminados e isso me dói muito. Tenho um carinho único por esse público! O que você faria se seu filho fosse gay? Eu adoraria! Seria meu filho e meu amigo da mesma forma. Não consigo entender em que parte ele deixaria de ser meu filho, aquele que carreguei por nove meses na barriga, pelo simples fato de ser gay, de amar alguém do mesmo sexo. Depois do hit que foi ‘Beijinho no Ombro’ seu sucesso e o status de diva, dado pelo seu público, só aumentaram. Você se considera uma diva? Então, eu gosto desse titulo [risos]! Claro que não estou me achando e nem sendo soberba, mas acho o máximo. Meu público me chama assim e eu acho carinhoso, gosto. Então procuro fazer o melhor de mim para honrar o título [risos]. Agora em carreira solo seu estilo de funk mudou? Saiu daquele ‘funk proibidão’ da Gaiola para uma versão mais light? Não mudou! Quem vai ao meu show ouve os proibidões da mesma forma. O Gaiola tinha um apelo sensual e sexual, quando resolvi fazer carreira solo eu precisava ter meu estilo e não usar o estilo já criado senão não teria motivo para sair do grupo, entende?! E como eu atingi um público infantil e adolescente muito grande depois que participei d’A Fazenda, chegamos à conclusão de que para rádio e TV eu seria mais ‘leve’. Como eles não podem entrar nos shows, pela classificação da idade, lá eu continuo com os proibidões. DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 49


SOM

Banda Teu Pai Já Sabe? em noite de show em Brasília, durante o Cerrado Tour; à dir. Sex Pistols

MOVIMENTO QUEERCORE LEVANTA A BANDEIRA DA LIBERDADE SEXUAL E QUESTIONA OS PADRÕES SOCIAIS. BANDA CURITIBANA TEU PAI JÁ SABE? É UMA FORTE REPRESENTANTE DO GÊNERO

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MUNDO

QUEER

LUCAS PEREIRA

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Brasil ainda engatinha para ter uma cena mais expressiva do Queercore, mas tem bandas e defensores de peso. Surgido nos anos 80, o movimento é uma ramificação do punk e tem como luta principal a visibilidade de gêneros e a discussão de temas relacionados à identidade sexual. É claro que a liberdade é a alma do negócio, mas a abordagem vai desde o protesto ao humor, sempre exaltando a crítica. A bandeira maior do Queercore é o descontentamento aos padrões da sociedade, até mesmo dentro da comunidade gay. O movimento teve início oficialmente com o zine J.D.s, de G.B. Jones e Bruce LaBruce. A publicação, de 1985, oriunda da cena anarquista, usava o termo “homocore”, só depois substituiu o “homo” por “queer” para melhor representar a diversidade das pessoas e a dissociação total da chamada “ortodoxia gay”. “Eu procuro tentar não definir o que é queer, até porque acho que o significado é para não ser definido mesmo”, diz Carlos Alberto Tostes, o Mamá, vocalista da banda Teu Pai Já


FOTOS: ALVARO SASAKI

Sabe? e principal nome do Queercore no Brasil. “É difícil dizer que eu sou o pioneiro aqui. Imagino que antes de mim teve muita gente queer, mesmo não usando esse termo”, garante o músico curitibano. A primeira banda de Mamá, nos idos de 1989 em Maringá, já tratava de assuntos relacionados à homofobia, mas foi com a Teu Pai Já Sabe? que os horizontes foram dominados. Ele define o som da banda como “um punk rock simples, direto e sem frescuras”. As letras são diretas, com tiradas engraçadas e refrãos fortes, daqueles que fazem a gente perder qualquer pudor e querer cantar junto. A banda surgiu despretensiosamente, Mamá conversou com Hugo Goss, o baterista, depois foi a vez de Felipe Arruda, o baixista, gostar da ideia, em um pulo veio Carlos Rosa, o guitarrista, e logo a formação completa estava fechada. “Somos uma banda de amigos. Acho que o diferencial é que todos os integrantes serem queers, punks, gays”, comenta o vocalista. Por mais que esteja inserida neste universo, o Queercore é vítima de preconceito pelo próprio público gay. “O gay punk, o queer, tudo isso é muito novo e estranho para quem não conhece mesmo. Mas a ideia é essa mesmo, causar estranheza, se fazer questionar”, enfatiza Mamá. No mundo do rock, David Bowie até é considerado queer, mas a banda americana de The Dicks foi uma das primeiras a trabalhar canções com temática homossexual. As bandas Limp Wrist e Pansy Division talvez sejam as principais referências internacionais do movimento. No Brasil, as mais fortes representantes do Queercore são a Nerds Attack!, de Brasília, a Dominatrix e, claro, a Teu Pai Já Sabe?. Uma associação que pode ajudar a definir o Queercore está na junção do punk ao homoerotismo. Um nome que contribuiu com a propagação do movimento foi o da estilista Vivienne Westwood, que estampou imagens homoeróticas de Tom of Finland, ilustrador considerado o mais influente criador de imagens pornográficas gays, ao vestir a banda Sex Pistols. Como lembra Mamá, é bom que se esclareça: uma banda gay não é obrigatoriamente queer, e uma banda queer não precisa ser necessariamente gay. “O Queercore vai bem além do punk rock, ou hardcore, é atitude, postura na sua vida, na forma como encara o mundo e como luta para que as coisas mudem, não só para um respeito pelos gays em geral, mas pelo respeito a todos”, completa. DIVULGAÇÃO

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OTTOMÚSICA FOTOS: DIVULGAÇÃO

GUILHERME ATAÍDE

A NOVA CARA DA MÚSICA INTERNACIONAL LORDE Ella Yelich-O’Connor’s, a Lorde, viu sua vida mudar da noite para o dia quando seu single de estreia Royals começou a ser tocada nos quatro cantos do mundo. Precedido por Team, o álbum de estreia da neozelandesa PureHeroin lhe rendeu prêmios e apresentações em festivais como Lollapalooza e Coachella.

BECKY G Rebbeca Marie Gomez ganhou grande impulso desde que seu single de estreia Shower apareceu no top 20 das principais listas norte-americanas. Cantora, rapper, atriz e modelo da CoverGirl, Becky G ganhou o mundo em suas aparições no último Video Music Awards da MTV. A cantora planeja lançar seu álbum de estreia ainda este ano. 52

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que há de comum com Lorde, MeghanTrainor, Becky G e TroyeSivan? Se você chutou fama, acertou, mas tem um detalhe a mais: todos possuem menos de 21 anos! Como será que é a vida de um artista que já possui milhões de fãs mas ainda não é legalmente livre para comemorar suas conquistas com um drink? Fácil não deve ser, mas glamuroso e até divertido, ah isso sim! Saiba mais sobre eles abaixo!

MEGHAN TRAINOR Um verdadeiro hit de sucesso, All About That Bass trouxe MeghanTrainor aos holofotes mundiais, mas esse é apenas o começo para a cantora e compositora de Massachusetts. Meghan recentemente lançou o EP Title, que chegou à 15ª posição da Billboard 200. Megahn se diz feliz por representar aqueles que não seguem o padrão magro da beleza e passa a mensagem de que as pessoas devem se amar mais.

TROYESIVAN Depois de anos cantando covers em seu canal do YouTube, Troye Sivan lançou seu EP TRXYE, que chegou a número 5 da Billboard 200. O cantor australiano se aventura pelo pop experimental, num ambiente que soa mais indie do que comercialmente pop. Troye diz que está preparando um material mais extenso. Se levarmos em consideração o single de estreia Happy Little Pill, podemos esperar por um material bem intimista e cheio de alma.


OTTOCINEMA

FOTOS: DIVULGAÇÃO

LIDIANA REIS

UM GIGANTE DO CINEMA NACIONAL

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oje Eu Quero Voltar Sozinho é um filme brasileiro, dirigido pelo paulista Daniel Ribeiro, que conta a história de Leo (Guilherme Lobo), um adolescente cego, que se apaixona pela primeira vez, pelo colega de classe Gabriel (Fabio Audi). Em abril de 2014, o filme estreou, em apenas 38 salas de cinema do Brasil. O caminho para um filme encontrar seu público é tão ou mais difícil que o próprio trabalho de se fazer um filme. O Brasil, em todo seu gigantesco território, tem apenas 2.200 salas de cinema, sendo que quando há grandes lançamentos internacionais quase todas as salas replicam o mesmo filme. O Espetacular Homem Aranha 2 (2014), por exemplo, estreou em 1.186 salas de cinema no Brasil, quase 50% das nossas salas. Apesar de todos os aparentes e mesmo os naturais impedimentos para uma estreia de sucesso, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, superou todas as expectativas e atingiu 200 mil espectadores. E foi, sem dúvida, o grande sucesso do cinema brasileiro em 2014. Talvez você esteja se perguntando o porquê. Eu posso afirmar que é porque ele tem público, e um público muito fiel, que antes mesmo do filme ficar pronto já era fã da história. Para quem ainda não assistiu, assista o curta antecessor ao longa, que está disponível na internet: Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho. Foi esse curta, que tem mais de 3 milhões de acessos no Youtube, que possibilitou a trajetória de sucesso do filme. O público da produção são aqueles jovens gays, que nunca antes tinham visto no cinema brasileiro um filme que falava sobre o seu universo. O primeiro amor, as inseguranças, o conflituoso universo da escola, as tardes de estudo ao som de uma banda indie. Sim, tudo isso em uma mesma história, que além de tudo pode ser mostrada para a avó, para a mãe, até mesmo para o pai que ainda é resistente a sua orientação sexual. Esse é o grande trunfo do filme, desde o curta, e que Daniel, soube manter e potencializar. Fazendo com que o filme seja antes de tudo uma história de amor juvenil, que sem se esconder, quebra pela sutileza da sua realidade a barreira do preconceito.

SOBRE O DIRETOR Daniel Ribeiro, 30, é formado em Cinema pela ECA-USP. Em 2007, estreia como diretor, com o filme Café com Leite, que já enunciava o universo que mais tarde ele trabalharia em Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010), seu segundo curta e que ele aprofundaria no seu primeiro longa, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Daniel garante que manterá em seus próximos filmes, personagens principais ou coadjuvantes gays.

DADOS DO FILME 1. O filme fez 201.918 espectadores. 2. R$ 2.372.744,19 milhões de arrecadação com bilheteria. 3. Foi distribuído com apenas 38 cópias. 4. 8º lugar entre os filmes brasileiros mais vistos em 2014. 5. É o indicado do Brasil para concorrer ao Oscar 2014, na categoria Melhor Filme Estrangeiro. 6. Já foi distribuído em mais 15 países.

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HUMOR

REINVENÇÃO DA

RODA

COM ATIVISMO POR MEIO DO HUMOR, CANAL GAY PÕE NA RODA CONQUISTOU ESPAÇO E FEZ ATÉ PARCERIA COM A ONU BRUNO DIAS

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çúcar, tempero e tudo que há de bom, assim nasceram as menin... Não! Também com esses ingredientes e uma pitada de humor, nasceu o canal de vídeos Põe na Roda. Abordando assuntos do universo LGBT, o canal veio trazer essas discussões para o grande público. Com vídeos novos toda terça-feira às 11h24, esquetes, entrevistas, reportagens e até mesmo documentários abordam temas intrigantes sempre com bom humor. O canal surgiu da insatisfação pessoal de Pedro HMC, criador e porta voz do Põe na Roda, com o trabalho. Ele precisava de algo novo e criativo que o fizesse ter prazer no processo de criação. A ideia então surgiu: criar um canal de humor. Mas o que o diferenciaria dos já existentes? Isso mesmo, ser um canal gay. “Como gay,

Felipe Abe, Pedro HMC e Nelson Sheep em campanha com DE a 2014 ONU 54 OTTO | DEZEMBRO

me sentia pouco representado nesse segmento, e pensei em um canal light, para ser visto em família, sem tanta militância e ativismo”, conta. Não existia nenhum canal com conteúdo de qualidade para o público gay, e que falasse sobre os gays. Logo, a lâmpada se acendeu na cabeça de HMC e ele viu que era realmente esse território que devia ser explorado. O primeiro a saber do projeto foi Nelson Sheep, radialista e criador do portal gay Super Pride, e que hoje é um dos três componentes do elenco fixo do canal. Como precisava de um estúdio para gravar e utilizar os equipamentos, Pedro ligou para Felipe Abe, fotógrafo de moda, e, na cara de pau, pediu o espaço emprestado. Felipe cedeu o espaço, mas de cara não quis participar do vídeo. “O convidei para participar, mas ele não quis” afirma HMC. Mas, segun-


do ele, na hora da gravação foi tudo tão engraçado que Abe mudou de ideia e entrou no vídeo de ultima hora. O canal já chegou causando com o seu primeiro vídeo, “Água: Usando Gay, ninguém fica sem!”. O vídeo abordava de maneira engraçada as campanhas de conscientização incentivando os gays a economizarem água de diversas formas, como por exemplo, diminuindo a quantidade de chucas. Mas a ideia que veio a se tornar realidade e é o vídeo mais assistido do canal, com mais de 1 milhão de visualizações, é o “Não é por ser gay que eu...”. Esse vídeo desconstrói vários estereótipos com relação aos gays e mostra a grande variedade de tipos existente dentro desse universo. Pautas diferenciadas e formatos irreverentes de vídeos são o que se pode esperar a cada nova produção. “Não existe um formato idealizado, qualquer coisa gay engraçada tem a possibilidade de pautar um dos vídeos”, garante Pedro. Mas nem só de humor se faz o Põe na Roda. Os vídeos são informativos e não só diversionais. Assuntos polêmicos e sérios são tratados com a seriedade devida e com naturalidade pelos integrantes. Pedro explica que a princípio essa não era a intenção, mas que depois do vídeo do dia das mães, onde mães falam de suas relações com seus filhos gays, ele viu a necessidade de se debater os temas de uma forma mais séria. Com toda essa visibilidade, os meninos do canal já estão conscientes do potencial do Põe na Roda e que estão se tornando porta-vozes do públi-

co gay. “Eu acreditei muito nessa ideia, mostrar o mundo gay, desmistificá-lo pra quem não é. Tenho recebido e-mails de gente de todos os lugares, do interior do interior do Brasil, lugares que eu nem sabia que existia. Você percebe que muda alguma coisa na vida das pessoas e se sente útil por isso”, explica HMC. Tanto já se tornaram porta-vozes dos gays, que esse ano foram convidados para serem parceiros da campanha Livres e Iguais, da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa campanha, que tem como embaixadores Ricky Martin e Daniela Mercury, têm como objetivo a inclusão do gay no mercado de trabalho, o combate ao preconceito e mostrar que não há nada de errado em ser gay. A participação do canal na campanha é justamente na criação de vídeos que abordem esses temas. O modelo de trabalho dos meninos não muda muito, mas agora eles contam com o apoio da ONU e seus vídeos serão usados em convenções e eventos que debatem o assunto. “Um próximo planejado será sobre a mudança de nome civil de travestis e transexuais”, garante. Inevitável dizer que o canal já é um sucesso. Com seu humor inteligente e quebra de alguns estereótipos gays, o Põe na Roda vem mostrar a diversidade dentro do universo gay. E eles garantem que para cada inscrito no canal uma lantejoula será doada para o novo casaco do Elton John. FOTOS: DIVULGAÇÃO

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IRREVERÊNCIA

O ASSOVIO QUE VIROU

MANIA O BREGA DIFERENTE DA FIU-FIU GANHOU ESPAÇO NO MERCADO E VEIO PARA MOSTRAR QUE GOIÁS VAI MUITO ALÉM DO PEQUI

BRUNO DIAS

“T

em vaga pra estacionar aí?” assim começou minha entrevista com os jovens empresários Diego Brotherhood e Pedro Lelis, da Fiu-Fiu. A vaga tinha que ser grande, porque assim como a irreverente bebida, o carro que eles dirigem também é um tanto quanto fora do comum, uma Kombi vermelha estilizada que definitivamente chama as atenções. Essa bebida made in Goiás vem explorar a cultura de rua, a cultura brega. “A bebida é totalmente brasileira”, como coloca Pedro Lelis, um dos criadores e diretor da empresa. E que melhor jeito de traduzir toda essa breguice deliciosa do brasileiro do que no nome do produto? Fiu-Fiu é exatamente isso! Aquela cantada universal, o sonoro assovio que representa toda a atmosfera popular explorado pela marca. A Fiu-Fiu, produzida em Pirenópolis, é feita com 58

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álcool de cana hidratado e aromatizada naturalmente, e não é considerada cachaça por ter um teor alcoólico menor. Seus sabores refrescantes também ressaltam a regionalização e a tropicalidade. Cajazinha e Abacaxi-Cortelã são os dois sabores que a empresa apresentou ao mercado. Depois de um intercâmbio na Espanha, Pedro voltou para fazer um curso de Produção de Cachaça e Aguardente na Universidade Federal de Goiás (UFG) e logo de cara se apaixonou pelo curso. Jogou a ideia para Diego, já seu amigo de longa data, que na hora embarcou na ideia e começaram a elaborar o projeto. A bebida, segundo Lelis, parte de três premissas: ser um produto para o público jovem, ser leve e refrescante e ter um preço justo. Tendo como grande inspiração a cachaça Busca Vida, a Fiu-Fiu quebra vários paradigmas. Por ser um produto inovador seu processo de criação levou tempo. Foram dois anos estudando sabores,


combinações e achando fornecedores com os melhores produtos para que essa novidade do cerrado ficasse pronta. O intuito é impressionar o consumidor desde a gôndola do supermercado, começando pela sua embalagem que já chama atenção pelas cores vibrantes e seus lacres com dizeres populares e divertidos. O produto vem para quebrar o preconceito em relação à bebida nacional e à cachaça. Democrática e sem distinção de público, a Fiu-Fiu é para se beber com a galera. “Ela tem essa característica de você trazer as pessoas para beber junto”, fixa Diego. Essa é uma característica tão forte da marca que seus shots, Tirulirus, são vendidos somente em dobro para que se tome sempre com um amigo ao lado. Com toda sua brasilidade ela também é muito versátil e se mistura com outras bebidas conforme o momento e ocasião de consumo. Lelis explica que são quatro categorias de drinks com Fiu-Fiu, desde

rápidos até os gourmets. Fugir do lugar comum e dar uma imagem positiva à bebida brasileira são quase como lemas do produto. Com sua cara jovem, foi lançado ano passado no carnaval da cidade de Aruanã, e por lá fez o maior sucesso até chegar à capital. Assim como os divertidos empresários, a marca traz em si essa irreverência. A intenção é criar uma intimidade com o consumidor e proporcionar uma experiência de consumo. Diego garante que quem toma apenas Fiu-Fiu a noite inteira não tem ressaca no outro dia. Depois de nove meses, a bebida já viu o resultado e pode falar que o saldo é positivo. Com previsão de lançar um novo sabor no carnaval do próximo ano e depois expandir para outros estados a marca tem planos ambiciosos. Assim como sua garrafa, a Fiu-Fiu começou pequena, e hoje, já está enchendo os copos da galera. FOTOS: ALEX ALMEIDA

Empresários Pedro Lélis e Diego Brotherhood

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POINT

FOTOS: ALEX ALMEIDA

JOÃO CARLOS

CONCEITO

MOONY

RESTAURANTE UNE REFERÊNCIAS MUNDIAIS DA GASTRONOMIA, INVESTE NO ESTILO INDUSTRIAL CHIC E SE DESTACA PELO RESPEITO À DIVERSIDADE

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JOÃO CARLOS

LUCAS PEREIRA

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azer a diferença, essa era a proposta do empresário Fernando Pacheco (de branco na foto) ao abrir as portas do Moony Restaurante em Goiânia. A partir do conceito Industrial Chic, o estabelecimento prova que a combinação entre ousadia e respeito à diversidade pode dar certo. Na tradução literal, Moony significa sonhador, mas tanto o nome quanto a concepção geral do restaurante partem da junção de duas referências mundiais da gastronomia: Montreal e Nova York. Afinal, quem disse que a capital goiana não pode ser cosmopolita? “Eu percebi que havia um público carente de novos hábitos, como tomar drinks coletivos, sentar em um bar de ilha”, explica Pacheco. A preocupação com o conceito está em cada detalhe do Moony, desde a mistura do verde das árvores com os tijolos à vista nas paredes, até a logo que muda de cor para representar toda a diversidade do lugar. “Nós somos ecléticos, para todos os públicos e gostos. Nós respeitamos e por isso conseguimos misturar tipos e pessoas diferentes”, garante. O diferencial talvez esteja na ideia de ir além de atender a necessidade física das pessoas por alimento e bebida, mas proporcionar estilo, conforto e diversão. “Nós não inventamos nem incluímos nada de forma gratuita, tudo tem um estudo e uma preocupação com a tipologia do restaurante”, explica o empresário. O projeto do Moony, assinado pelo arquiteto César Neto (na foto, de verde), cria ambientes menores dentro de um maior. “A proposta sempre foi criar um restaurante que chamasse a atenção”, afirma o profissional. Houve uma dúvida inicial sobre o impacto que o

espaço causaria. O fato da música não ser tão alta é um atrativo que permite a boa conversa, a luz discreta causa aconchego e as cores das poltronas e nos quadros saltam aos olhos. “Nó nos preocupamos em deixar o ambiente com a iluminação mais baixa, para as pessoas se sentirem à vontade. E as luzes do bar, da logo e das árvores mudam de cor a cada dia. É um diferencial”, analisa César. Show à parte, a carta de drinks da casa faz sucesso com todos os públicos. Como brinca Fernando, não é difícil sentar no bar do restaurante e se sentir em uma cena de Sex and the City. “O bar exerce essa relação de fascínio sobre as pessoas. Não é como boate, as pessoas não vêm pegar o drink e voltar para a pista, vêm degustar”, comenta. A cor é um dos elementos fortes do Moony, elas dão ponto de luz aos tons sóbrios da decoração industrial e estão zanzando pelo salão nos pratos e nos copos servidos pelos garçons. “A gente conseguiu promover esse balanço, deixar a coisa clean, mas misturar as cores de forma divertida, com identidade”, analisa. O cardápio do restaurante homenageia a região, insere frutas típicas tanto nos pratos quanto nas bebidas, mas não se esquece das novidades. “Eu queria trabalhar com ingredientes simples pela logística e também pela acessibilidade. Criar um lugar diferente, com comida e bebida bacanas e preço justo” diz Fernando, que estudou cozinha e tem MBA em gastronomia. Ele conta que ouviu de muitas pessoas que o goiano não gosta de novidades, mas não concorda, e uma de suas formas de dinamizar é inserir experimentações no cardápio. A palavra de ordem do lugar é experimentação. A aposta alta em um local de pegada internacional em uma cidade tida por muitos como pequena, resultou na celebração da diversidade. “Você vê casais gays sentados ao lado de pessoas da terceira idade, rodeados por turmas de amigos, casais comemorando, reuniões de aniversário, etc. Nossa preocupação não é com um ou outro, é com a hospitalidade”, pontua Fernando. O Moony tornou-se um restaurante onde o bom gosto e o respeito ao próximo imperam, um lugar de portas abertas a toda e qualquer forma de expressão. DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 61


TURISMO

NY N

G

UM GUIA COM OS POINTS QUE SÃO A CARA DO CENÁRIO GAY NA CIDADE QUE NUNCA DORME

ova York tem uma das comunidades gays mais ativas de todo o mundo. A cidade tem muito mais do que ótimos bares e baladas, começando por points históricos como o Stonewall Inn, bar que na década de 60 iniciou uma onda de protestos nos quais centenas de gays, lésbicas, transexuais e simpatizantes se rebelaram contra a violência descabida da polícia. A Big Apple tem pedaços dos mais variados tipos, cores e sabores, para todos que desejarem prová-la. Alguns dos bairros mais originais e fascinantes dos Estados Unidos estão lá, cada um com suas lojas, gale-

rias, restaurantes e tradições. Na capital do planeta, homens e mulheres são integrados socialmente e, verdade seja dita, sua sexualidade é característica menos significante. Paradas obrigatórias incluem Greenwich Village, UpMarket Chelsea e East Village. E é claro que não podemos esquecer o Brooklyn, novo lar de muitos gays do mundo das artes e famílias de lésbicas. Assim como Carrie Bradshaw, a gente quis saber quais são os points gays mais legais da cidade que eternizou o Cosmopolitan. Nossa correspondente Patrícia Faolli tratou de explorar Nova York e nos trouxe um roteiro com os endereços mais quentes de NYC. FOTOS: DIVULGAÇÃO

METROPOLITAN BAR 559 Lorimer St

Brooklyn, NY 11211 Aberto todos os dias das 16:00-04:00. Barzinho descolado, mas bem tranquilo, com mesa de sinuca e área aberta no fundo. DJs as sextas e sábados. 62

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HENRIETTA438HUDSON Hudson (MortonSt).

Sab-ter 17:00–04:00, qua-sex 16:00–04:00. Henrietta é possivelmente o único bar para lésbicas que não é decorado pretensiosamente com muito vermelho. Seu interior é mais cru e brusco. Lugar ideal para garotas mais roqueiras. O bar é tranquilo para eber sem fazer pose.

THE STONEWALL INN 53 Christopher Street. Aberto todos os dias das 16:00-04:00. Bar legendário no Village foi local da rebelião de 1969. Hoje em dia, o Stonewall continua um dos points preferidos para drinks e festas.

THE RITZ BAR & LOUNGE 369 W 46th St. New York. THE DUPLEX 61 Christopher Street.

Aberto todos os dias 16:00-04:00. No bairro de Hell’s Kitchen, conta com uma pista de hip hop e uma atmosfera mais tranquila no bar no segundo andar.

Aberto todos os dias das 16:0004:00. Como o próprio nome diz, é um bar de dois andares. No primeiro, um karaokê com musicas da Broadway. No de cima, um bar com shows de cabaré off-Broadway.

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DIÁRIO DE VIAGEM MARK BLINCH/REUTERS

Ativistas segurando faixa durante a Parada Gay em Toronto

ALÉM DAS

A PARADA GAY DE TORONTO PELOS OLHOS DE UM GOIANO

FRONTEIRAS FRANCISCO UCHOA

S

air de Goiânia, lugar onde nasci e cresci, que não é uma cidade pequena, mas ainda assim considerada como tal, e me mudar para a quarta maior cidade da América do Norte foi um grande passo. Tenho 21 anos, e moro em Toronto, Canadá, há 14 meses e cada dia aqui tem sido uma experiência memorável. O Canadá é um país em que as políticas sociais são

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tratadas com bastante cuidado e respeito, e isso inclui a proteção aos direitos da comunidade LGBT. Erroneamente, pessoas pessimistas e cheias de preconceitos acreditam que por esse motivo conviver em sociedade por aqui seja difícil, considerando que o estado garante às minorias direitos historicamente não concedidos anteriormente. Esse cenário equivocado é enxergado por grande parte dos brasileiros. Por ser brasileiro e conhecer as realidades que o nosso país enfrenta quando se trata dessas questões, um país em que os gays precisam


ACERVO PERSSOAL

Ruas de Toronto lotadas durante os eventos da Parada Gay

Francisco Uchôa na Parada

ficar o tempo todo na defensiva, eu vim para o Canadá e fui pego de surpresa ao encontrar uma sociedade tão tolerante, compreensiva e plural. O casamento civil entre pessoas do mesmo sexo garantido por lei aqui, é um bom exemplo de contraste entre o Canadá e o Brasil. Mais contrastante ainda é a maneira como a sociedade o enxerga. O casamento gay em Toronto rapidamente está perdendo esse rótulo (o rótulo gay), porque as pessoas aqui já entenderam que não há diferenças entre ele e o casamento entre heterossexuais. Tanto um como o outro, são simplesmente casamentos e não precisam ser categorizados. Visto que as liberdades individuais são tão respeitadas em Toronto, não é difícil imaginar o quanto foi marcante para mim participar da parada do orgulho gay que aconteceu na cidade em 2014. A parada gay em Toronto não se resume a uma passeata de um único dia em que as pessoas vão às ruas para expressar o seu orgulho por serem como são. Durante todo o mês que antecedeu o evento, estabelecimentos, instituições de ensino, empresas, shoppings e residências hastearam a bandeira LGBT e declararam apoio ao movimento. A World Pride Toronto, é um evento de dez dias, que neste ano ocorreu entre 20 e 29 de junho, e contou com uma programação cultural rica, muita organização e foi acessível à todas as pessoas. No dia do grande desfile pelas ruas, foi possível ver famílias, pessoas de variadas origens culturais e de todas as idades nas ruas. A cidade se mobilizou e o evento foi tão inesquecível para aqueles, como eu, que estavam participando dele pela primeira vez, quanto para quem era veterano. A parada aqui não é conhecida por atrair baderneiros, pessoas que querem se embebedar ou procurar sexo fácil. O consumo de bebidas alcoólicas não é permitido e a segurança é garantida, fatores que contribuem para que as pessoas que participam do evento estejam lá com o objetivo primordial de apoiar a causa e participar da festa, que é um verdadeiro show. Também em Toronto existe um bairro gay, conhecido como The Gay Village, em que as noites são bastante agitadas, apesar de a noitada torontoniana acabar às 2h da manhã. As ruas são explícita e orgulhosamente cheias de representações da cultura gay, que é preservada e admirada por quem passa. Mas o mais importante a ser dito aqui é que os gays não são prisioneiros deste lugar. No Brasil, os gays são socialmente proibidos de serem gays fora das boates e bares voltados ao público LGBT. Logo o nosso país que é considerado tão acolhedor e liberal. Em Toronto, e possivelmente na maior parte do Canadá, os gays podem ser gays em todo e qualquer lugar. E é bom saber disso e almejarmos isso também para o Brasil, porque nós não devemos viver uma vida fragmentada. Nós somos gays, nós somos humanos e, individualmente, somos inteiros. DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 65


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SAÚDE

O CH DA

QUESTÃO CHUCA É UMA PRÁTICA QUE AINDA CAUSA POLÊMICA NO UNIVERSO GAY. A OTTO CONVERSOU COM UM PROCTOLOGISTA PARA TIRAR SUAS DÚVIDAS SOBRE O ASSUNTO

N

a hora do sexo, a pressão no passivo existe de muitas e diferentes maneiras. Toda uma preparação anterior é necessária para que na hora H tudo corra bem e não se passe o famoso cheque, quando sai aquilo que não deveria durante o ato sexual. Com esse medo, muitos se excedem na hora de realizar a prática lavagem do reto, e acabam exagerando na limpeza do intestino, fato que, com o tempo, pode acarretar em outras complicações. Mas o que é fazer a chuca? Também chamada de enema, clister ou enteronema, em termos técnicos, é a lavagem do reto para que durante a prática do sexo anal essa região fique livre de restos fecais. “O que interessa, no caso do sexo, é só a região do reto. Você não precisa se preocupar com uma limpeza mais profunda”, afirma o proctologista Eduardo Felga. Essa lavagem da região pode ser feita com pequenos volumes de água que deve ser injetada sob pequena pressão. Os produtos encontrados em farmácias são ideais para fazer esse tipo de limpeza. Muitos, porém, não são adeptos dessas soluções de farmácia e acabam fazendo a chuca com o chuveirinho de casa mesmo, o que tem suas desvantagens. Com a utilização do chuveirinho a pressão da água é maior, fazendo com que ela suba para regiões intestinais que não necessitam de limpeza. Felga não recomenda fazer essa limpeza todos os dias, porque a colocação de líquido no intestino pode atrapalhar o seu reflexo natural, fazendo com que a pessoa só consiga evacuar com a utilização desse método. Com relação à alimentação existe uma crença

popular de alimentos que não devem ser ingeridos de jeito nenhum e aqueles para se comer a vontade, prometendo atrapalhar ou ajudar na hora da chuca. Tudo não passa de crença. “O que a gente orienta é sempre se alimentar com fibras para poder ter o intestino regular”, friza o médico. Com uma dieta rica em fibras o intestino funcionará regularmente, evitando possíveis complicações na hora do sexo. Fazer a chuca um pouco antes de sair de casa para um encontro garante um reto limpo para não fazer feio na hora H. “Uma vez que se limpou a região do reto, vai levar algumas horas para as fezes armazenadas no intestino mais alto chegarem”, finaliza Felga.

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BRUNO DIAS

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FORA DO ARMÁRIO

NO CALOR DE ZANZIBAR

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Jack Mallard é um agente enviado em uma complicada missão para Zanzibar, país em que a homossexualidade é rigorosamente proibida. Isso não o impede de ter encontros ardentes durante suas aventuras, até conhecer o policial Konoko Fassal, um negro belíssimo que o surpreende com o melhor sexo de sua agitada vida. Aventura à la James Bond gay, com muito sexo em cada página.

COMO O MUNDO VIROU GAY? Este livro traz uma luz para os héteros que ainda não sabem o que fazer nesse mundo cada dia mais gay e para aqueles que precisam apenas de um empurrão para se encontrar. Para quem já é gay, serve para saber um pouco mais sobre paquera, namoro, casamento. O que interessa está contemplado nas páginas do livro, de remédios contra o preconceito a um glossário para entender gírias e expressões.

NA ESTANTE Ler é sempre uma boa atividade. Por que não aproveitar para apimentar a vida sexual com a literatura? Um livro erótico bem escrito certamente pode inspirar e agitar a vida amorosa. Além de apresentarem boas histórias, as partes mais excitantes fornecem várias ideias. Sem protocolos, sem amarras e sem vergonha, livros que vão mexer com sua cabeça.

THE BIG PENIS BOOK AS AVENTURAS DE UM GAROTO DE PROGRAMA Escritas por um professor de literatura após uma vida de atividades variadas, estas histórias contam os encontros sexuais amorosos de Phil, um homem inteligente e bonito que faz uso de sua sensualidade mediterrânea para ganhar a vida. 68

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Dian Hanson retrata neste livro, em cerca de 400 fotos históricas e explícitas, homens com órgãos sexuais de porte avantajado, capazes de fazer inveja na maioria dos homens. Ilustram este volume único registros históricos feitos, em sua maioria, durante a década de 70, incluindo o lendário John Holmes. Além disso, ao contrário de ombros largos ou cabelos compridos, um pênis grande nunca sai de moda!


SEXO

BOCA, PRA QUE

TE QUERO?

TABUS À PARTE, O SEXO ORAL NÃO TEM PORQUE SER TRATADO COMO UM BICHO DE SETE CABEÇAS. A ENTREGA AO MOMENTO É IMPORTANTE, MAS ALGUMAS DICAS SÃO VÁLIDAS ALEX ALMEIDA

LUCAS PEREIRA

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ão adianta, não existem tantas diferenças entre mundo gay ou hétero quando o assunto é sexo oral. Ainda hoje o tema é tabu. Se não é o seu caso, você conhece alguém que sempre se faz aquela pergunta “pagar boquete no primeiro encontro ajuda ou assusta?”. Sofrer com a questão não é nada novo, mas já deveria ter caído em desuso. É bom deixar claro que a prática não tem que ser necessariamente associada à promiscuidade ou algo do tipo. Preconceito bobo, preconceito velho. Assim como o beijo é, de certa forma, o cartão de visita de uma pessoa, porque não olhar o sexo oral com menos julgamento? Não há razão para falar abertamente sobre o assunto com os amigos, compartilhar memes no Whatsapp, e não conversar a respeito com o parceiro. Reclamar que fulano chupa ou não chupa bem é uma questão complicada. Nascer sabendo ninguém nasce. Se ajoelhou tem que rezar, nem sempre o indivíduo sabe de cor a oração. Existe um (con) senso comum que prega que os gays são profissionais do boquete. Mas calma lá, minha gente. Que atire a primeira pedra quem nunca titubeou com um pinto na mão. Aliás, colocar a mão ou não? Lamber, chupar ou fazer sucção? Agilidade do começo ao fim ou devagarinho no início? Na falta de jeito, o diálogo tem a função de desfazer qualquer incerteza ou insegurança. Se as coisas legais são muitas e podem variar de acordo com a preferência de cada um, o que não é legal a gente sabe e pode listar. Encostar os dentes nunca, de forma alguma. Há quem reclame quando os mais afoitos empurram nossa cabeça em direção ao pinto. Outro ponto polêmico é a falta de sinalização na hora de gozar. Falta de educação? Difícil dizer, afinal, gosto é gosto. Cuspir ou engolir? Se tem uma coisa que nenhum de nós é, é obrigado. Então para evitar qualquer constrangimento, não custa dizer do que você gosta e o que curte menos. Quando a relação é recente tudo é novidade, o friozinho na barriga é maior, mas o sabor da descoberta também.

Seguir o instinto é válido, mas insistência pode não ser uma boa ideia. Insistir para que se deixe um pinto murcho e inanimado no ponto com o boquete não é nada excitante. Aqui vai a dica: um homem pelado é excitante sim, mas um pinto é bonito quando está duro, reluzente e bem disposto. Todos nós, ou pelo menos a grande maioria de nós, gostamos de uma brincadeira, mas nada que envolva um membro tímido e cabisbaixo. Intimidade nenhuma é desculpa para esse tipo de ideia, no mínimo, desestimulante. Se você vai receber, não custa dizer que está gostoso. E para quem vai cair de boca, não basta uma bocarra, a língua também tem que participar. Atenção, a OTTO adverte: sexo oral envolve algum risco à sua saúde, mesmo que pequeno. Mantenha a higiene em dia, procure seu médico ao primeiro sinal de irritação, ardência ou coceiras. Evite escovar os dentes antes de praticá-lo, para que pequenos ferimentos não sejam porta de entrada de bactérias, fungos ou vírus. Sexo oral só com camisinha! DEZEMBRO DE 2014 | OTTO 69


FORA DO ARMÁRIO

MAIS VIBRADOR, POR FAVOR! Esqueça o velho vibrador! Os estimuladores agora têm várias texturas, materiais e formatos inovadores que prometem aumentar tanto o prazer solo quanto a dois. Para os solteiros se divertirem e os casais apimentarem a relação.

LUBRIFICANTE OOPS FOTOS: DIVULGAÇÃO

A Hot que como o próprio nome já diz foi desenvolvida para pessoas que gostam de esquentar o clima e o corpo. O Oops!Lub também foi pensado para quem gosta de brincar sozinho. Sua prática embalagem em formato de vibrador pode proporcionar a você muitos momentos de prazer.

BOMBA PENIANA A bomba de sucção tem formato de pêra, possui um botão que quando apertado elimina a pressão e libera a saída do ar. É indicado para facilitar a irrigação sanguínea do pênis, através da pressão do vácuo, propiciando sua ereção.

PLUG ANAL ALIEN Plug anal feito com um material flexível e consistente. Possui relevos em suas extremidades e aumento gradativo de circunferência, o que torna a penetração mais estimulante e desafiadora.

MINI PLUG ANAL METALIZADO

MASTURBADOR EM FORMA DE OVO É um masturbador masculino diferenciado, que se adapta a qualquer tamanho de pênis, com maciez e suavidade impressionantes ao toque. Vem ainda com texturas internas variadas, cada cor é uma textura diferente.

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Ideal para iniciantes no mundo da estimulação anal. Por ser pequeno e ter a ponta em formato cônico, sua penetração torna-se fácil e agradável. O corpo afinado permite uma boa fixação após a introdução.




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