A ECONOMIA COMO FOCO DE UM EDUCADOR.

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CÁTEDRA UNISUL PARTICIPAÇÃO E SOLIDARIEDADE

LIVRO

PARTICIPAÇÃO E SOLIDARIEDADE ANÁLISE CRÍTICA

4. A ECONOMIA COMO FOCO DE UM EDUCADOR. Prof. José Müller










2.2 Sugestão

Face ao exposto sobre a obra do educador Osvaldo Della Giustina, sobre os conceitos de desenvolvimento segundo o Novíssimo Dicionário de Economia e de Beltrão,


consideramos que o processo de mudanças sociais em questão - humanização da civilização depende de ações endógenas consistentes com os conceitos/concepções de Educação, Cultura, Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento das Organizações e Universidade. Educação é o processo de identificação e de desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas. Cultura é o modo de relacionamento do ser humano consigo mesmo, com os outros seres humanos, com a natureza e com o sobrenatural. Desenvolvimento Sustentável é o processo de construção da justiça social com viabilidade econômica e em harmonia com o ambiente natural, visando à vida digna das gerações atuais e futuras. Desenvolvimento das Organizações é o processo evolutivo no seu ciclo de vida como ente, por estágios (de valores, qualitativos), em que o estágio atual aprende com os estágios anteriores e fertiliza os seguintes, aprendizagem de autorrenovação contínua e com vistas à perenidade em plenitude. Universidade é uma instituição educativa, cujo propósito é contribuir na construção de uma civilização humanizada, a partir do “aqui e agora”. Portanto, sua missão é contribuir para a construção do desenvolvimento sustentável, a partir do “aqui e agora”. Tem por objeto de trabalho o processo do “saber fazer o saber”. E sua estratégia de ações deve ser coerente com os conceitos/concepções acima. Concluímos que o protagonista essencial deverá ser a Universidade, o núcleo motor e vertebrador estratégico para a humanização da civilização. Esta humanização (planetária) será uma esperança operacionalizável se, no “aqui e agora”, a Universidade buscar o propósito (humanização) e a missão (desenvolvimento sustentável), praticando o “saber fazer o saber” numa estratégia consistente de ações, que contribua na viabilização do processo de desenvolvimento sustentável do território/população em que se insere, local/regional, estadual, nacional e mundialmente. Admitido o discurso (propósito, missão e “saber fazer o saber” como objeto do seu trabalho), a Universidade deverá ter uma prática coerente (estratégia de ações), ressaltando-se que como instituição educativa precisa identificar e desenvolver as potencialidades individuais e coletivas. É um processo educativo envolvendo uma pluralidade de individualidades pessoais (estudantes sobretudo) e de individualidades de coletivas (a sociedade constituída de instituições público-estatais, privadas e sóciocomunitárias). São diversificadas potencialidades a identificar e a desenvolver. A estratégia de ações da Universidade deverá compreender o que segue. A - A Universidade com Capacidade Teleológica A capacidade teleológica da instituição educativa é a premissa do protagonismo essencial da Universidade, como o núcleo motor, vertebrador e integrador da humanização da


civilização. E Teleologia é muito mais do que ter eficiência na obtenção de resultados, por exemplo, da quantidade de profissionais formados. Teleologia significa consciência individual e compartilhada, interpessoal e coletivamente, quanto à finalidade, à razão de ser, ao propósito. O mesmo, quanto à missão, ao objeto de trabalho do “saber fazer o saber” e da consistente estratégia de ações. E o componente animador (Alma) da Teleologia é constituído por concepções filosóficas, vale dizer, de valores, crenças e outras. Deduz-se, como fato crítico, a existência e disponibilização de Memória Institucional e a vivência da Cultura Institucional. Assim, o próprio Clima Organizacional será de entusiasmo, de participação e solidariedade, as pessoas trabalhando na sinergia em espiral, em permanente autorrenovação das Pessoas e da consequente autorrenovação contínua da Instituição. Afinal, “os comportamento decorrem das percepções e estas, das concepções - valores, crenças, preconceitos, conhecimento, experiência, necessidades afetivas” (Sergio Foguel e Carlos César Souza. Desenvolvimento e deterioração organizacional. São Paulo. Atlas, 1980, páginas 94 e 140).

B - A Universidade Empreendedora e Inovadora na Economia A operacionalização consciente e planejada da sua capacidade teleológica implica atuar como agente empreendedor e inovador. B1 - Empreendedorismo na Graduação e Inovação da Instituição O

empreendedorismo

na

Graduação

consiste

na

identificação

e

no

desenvolvimento das potencialidades individuais dos estudantes propensos a empreender seu negócio produtivo, tendo no trabalho-conhecimento o binômio realizador. Significa, concomitantemente, a identificação e o desenvolvimento das potencialidades coletivas, do meio geográfico regional e da procedência dos estudantes. Este empreendedorismo visa contribuir para a justa distribuição da renda através da sua geração desconcentrada, processo no qual o ser humano é o sujeito, o fundamento e o objetivo. E, resulta na ampliação e diversificação da base econômica de trabalho, produção e renda. Na prática, cabe harmonizar conteúdos didático-científicos com atividades técnico-pragmáticas: produção, na Graduação, de perfis de negócio e de apoio específico aos estudantes candidatos a empreendedores. Admite-se que, universalmente, em torno de 10% dos estudantes universitários tem propensão empreendedora, ao “negócio” próprio. Pela experiência da FESSC/UNISUL, este percentual é de, no mínimo, 20% - No período de 1976 a 1983, a partir da sala de aula, nasceram e foram implementadas 3 empresas por turma/ano do Curso de Ciências


Econômicas (15% por turma de 20 estudantes). Em 1997, a Comissão de Avaliação Institucional da UNISUL concluiu que o interesse em abrir negócios produtivos era de 40% dos recém-graduados de Jornalismo, e de 38%, 33% e 30%, respectivamente, nos Cursos de Administração, Computação e Engenharia Civil - Estes indicadores se elevariam, sem dúvida, com uma política de estímulo e fomento praticada pela Universidade e o Poder Público nos três níveis. Considerando que 20% dos estudantes de Graduação construam seu próprio empreendimento produtivo, com 5 empregos diretos e 2 indiretos para cada emprego direto 1, chega-se ao que segue. ESPECIFICAÇÃO Total de estudantes (2014-agosto) 20% dos Estudantes: empreendimentos Número de empregos diretos Número de empregos indiretos Número total de empregos Número de empregos/ano (Graduação em 4 anos)

UNISUL 23.594 4.719 23.594 47.188 70.782 17.696

SC 210.000 42.000 210.000 420.000 630.000 157.500

BRASIL 7.306.000 1.461.200 7.306.000 14.612.000 21.918.000 5.479.500

São 5.479.500empregos/ano gerados desconcentradamente por 1.461.200 empregados-patrões. Reduzindo esta estimativa pela metade, isto é, a 10% de estudantes empreendedores, e admitindo a geração de apenas 3 empregos diretos, tem-se, ainda, assim uma verdadeira transformação desconcentradora da renda: 2.739.700 empregos no Brasil, gerados por 730.600 empreendimentos produtivos anualmente. O pré-investimento anual em apoio e fomento, isto é, seleção de idéias dentre os perfis de negócio produzidos pelos graduandos, orientação dos planos de negócio, identificação e treinamento de candidatos a empreendedores e assessoria em diferentes áreas, ao custo médio de R$ 10.000.00 caso a caso, seria de R$11,8 milhões, R$ 115 milhões e R$3,6 bilhões, respectivamente, UNISUL, SC e BRASIL - ou, a 10% de estudantes empreendedores, respectivamente, R$ 5,9 milhões, R$ 57,5 milhões e R$ 1,8 bilhões. Com a implementação desses empreendimentos criados a partir da Graduação, o processo de distribuição da renda através da sua geração desconcentrada estaria instaurado com sustentabilidade, seja pela origem geográfica e socioeconômica diversificada dos estudantes, seja pela predominância de empreendimentos produtivos com lucro e resultados 1

2 empregos indiretos para cada emprego direto é um multiplicador/encadeador típico da empresa industrial tradicional. Esta relação é até 5 em empreendimentos turísticos e nos intensivos do conhecimento, predominância possível na Graduação, num processo produtivo otimizador dos fatores Trabalho e Tecnologia inclusivos.


positivos social e ambientalmente, pois, sua origem será familiar - comunitária e endógena, com prevalência do fator trabalho-conhecimento - e não do capital financeiro sem alma e sem pátria. A Universidade é, assim, inovadora da própria Instituição. Ultrapassa sua visão limitada de “túnel”, caracterizada por iniciativas pontuais de incubadoras e/ou de parques e/ou centros de inovação igualmente setoriais, tendência a perpetuar a competitividade global, concentrando e excluindo. Praticando o empreendedorismo na Graduação, a Universidade desconcentra e inclui. Otimiza sua capacidade instalada, do conhecimento sobretudo. Faz-se inovada, núcleo motor, vertebrador e integrador do processo de humanização da civilização. B 2 - Empreendedorismo Inovador com Instituições da Sociedade Como núcleo motor, vertebrador e integrador estratégico para a humanização da civilização, a Universidade deverá contribuir na qualidade e no ritmo do desenvolvimento das Instituições da Sociedade. Contribuindo com as Instituições dos setores Estatal, Privado e Sociocomunitário, do local ao nacional e mundial. Seguem contribuições que considero fundamentais. a) Viabilização de Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável (PDDS), prospectivo (no horizonte de 30 anos por exemplo), do Amanhã que queremos construir, municipal, regional, estadual e nacional - sua definição participativa com os três setores da Sociedade. b) Viabilização de uma “Política Educacional para o Desenvolvimento Sustentável da Nação”, capaz de atender aos três princípios da ONU para o ensino até o final do Ensino Médio (livre escolha pela família, gratuidade e obrigatoriedade), e que comprometa os recursos públicos “de forma a garantir e equalização de oportunidades educacionais” (Art. 211, parágrafo 1º da Constituição Federal) a todos os cidadãos, ao invés do antidemocrático dispositivo constitucional que determina a gratuidade (financiada pela Sociedade) nas instituições públicas oficiais. O “celebrado” reconhecimento legal (em 2014) da “natureza” das Universidades Comunitárias apenas “permite” condições de sobrevida dessas iniciativas de Educação Universitária. Fortalece o privilégio das instituições segundo sua “natureza” administrativa. O foco deve ser o direito dos cidadãos em todos os níveis de educação formal. A solução - Até o final do Ensino Médio, gratuidade: o Estado emite cheque-educação aos pais, que escolhem a escola. O ensino superior, pago: o Estado financia, com amortizações em, por exemplo, 25 anos, em parcelas proporcionais à renda do financiado. É investimento no cidadão, sem acarretar passivo familiar, o Orçamento cobriria apenas “lucros e perdas”, ao invés de cobrir a gratuidade generalizada, paga pelos cidadãos contribuintes. E, caso todos os


atuais estudantes universitários do País recebam a gratuidade ou a exijam, os atuais gastos do Estado serão multiplicados, no mínimo, por quatro, tornando-o financeiramente ingovernável. A “Política Educacional para o Desenvolvimento Sustentável da Nação” compreende igualmente o empreendedorismo na Graduação (tópico B 1). A par do benefício social - distribuição da renda através da sua geração desconcentrada - o estudante tem o direito de ser tratado com justiça. O atual sistema acadêmico, que produz graduados “natimortos” para o “mercado”, exige alteração. Num mundo de globalização, de inovações tecnológicas “semanais”, de mortalidade de ocupações/ofícios, do “desenho” previsível de novas ocupações, de financiamento irracional do custo do ensino, as universidades diplomam futuros desempregados, a par de imporem decisões aos vestibulandos jovens (imaturos cronológica, biológica, intelectual, cultural, psicologicamente) que são incapazes dessas escolhas. O ingresso deve ser na Universidade, não no Curso, e a formação deve começar no convívio inicial da Academia: muito conhecimento geral comum, escolha do campo de conhecimento, da área específica de conhecimentos e opção de terminalidades profissionais, com ênfase no empreendedorismo, como opção conhecida desde o ingresso, com estímulo e fomento continuado.

C - Reforçando a Estratégia de Ações da Universidade Protagonista estratégico para a humanização da civilização planetária, a Universidade é núcleo motor, vertebrador e integrador. Porque animadas pela Teleologia Institucional compartilhada, as Pessoas autorrenovam-se, assegurando um processo contínuo de aprendizagem recíproca. É a sinergia de desenvolvimento em espiral sempre encadeada por Pessoas. Estas são frutos da concepção (cultura) das Instituição e são sementes da evolução, consciente e planejada, do organismo que necessita de mudanças, adaptar-se para sobreviver, para ser sempre ele mesmo na busca de sua perenidade em plenitude. É decisivo que as “mudanças” se façam no “aqui e agora” de cada Universidade. O fato de que há decisões a serem tomadas pelo Executivo e/ou pelo Legislativo Federal não impede “criar fatos” por conta própria, pois há espaços entre o estabelecido pela Lei e o não proibido pela Lei - como Della Giustina já nos alertava na FESSC/UNISUL dos anos 1960/1970. O pedagogismo burocrático não pode tolher a educação empreendedora e inovadora. Estou reafirmando e reforçando: a estratégia de ações proposta é a operacionalização da esperança (humanização da civilização). A questão da situação negativa do Mundo não é essencial. O essencial é ter consciência do “Quem sou eu?” e “O que eu


faço?” para intervir nesta situação do Mundo. E, encerro com o parágrafo da “Introdução” do livro “A Unisul e o Desenvolvimento Sustentável do Sul de Santa Catarina - Uma Análise Crítico Propositiva” (José Müller. Editora Unisul. 2011, p. 21): “Este livro existe, porque seu autor não aceita o mundo como ele está, porque deseja um mundo mais humanizado e porque tem - como o leitor - a obrigação ética de participar na operacionalização desta esperança”.


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