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02 Dezembro 2010 | O MIRANTE

Feira Anual de Pernes envolve associações da freguesia Junta de freguesia quer renovar a tradição dando novos atractivos ao evento

“A perspectiva para a feira é fazê-la crescer”, referiu Afonso Silveira, tesoureiro da junta de freguesia. “No ano passado, em início de mandato, só se trabalhou na área da segurança. Este ano envolvemos as associações e já temos mais novidades. A feira não vai ser pura venda de banca, mas um espectáculo para todas as pessoas”, referiu. NÃO FALTA A ANIMAÇÃO Para impulsionar a feira, as tasquinhas começam a funcionar na noite de dia 7. Neste dia haverá o Baile da Feira, com Madeira Show e DJ Element G. No dia 8 está prevista animação de rua e a presença do Rancho Folclórico de Verdelho. “O aluguer dos sanitários é uma questão que nos pesa no orçamento”,

FESTA. Evento realiza-se entre 8 e 10 de Dezembro

A

Junta de Freguesia de Pernes, Santarém, está a revitalizar a sua Feira Anual, que vai decorrer entre 8 e 10 de Dezembro. Este ano, a aposta da organização é na segurança e na ordenação dos feirantes pelo espaço da feira. A zona junto à Estrada Nacional 3 vai ser reforçada com mais grades, em relação ao ano passado. As bancas terão de estar a uma distância mínima de três metros em relação à estrada. “As dificuldades de que temos vindo a aperceber-nos é que os feirantes tendem a aglomerar-se”, referiu Afonso

foto O MIRANTE

Silveira, da organização. “Procurámos que se organizassem melhor e afastálos da Estrada Nacional 3”. Até ao momento estão confirmados cerca de 70 feirantes, mas aguarda-se que este seja um ano de forte afluência. A Junta de Freguesia de Pernes adquiriu ainda uma tenda onde vão estar presentes, a vender alguns produtos, como doces ou petiscos, três associações da freguesia. “Vamos ainda acender as fogueiras tradicionais a estas feiras, uma junto ao restaurante dos escuteiros e outra junto à tenda das associações”.

referiu ainda Afonso Silveira. “Tentamos que a feira se pague a si mesma e há equilíbrio nas contas”. A presidente da Junta de Freguesia de Pernes, Salomé Vieira, destacou que se tem procurado revitalizar uma Feira que tem vindo a decair ao longo dos anos. “A tradição já não é o que era. Queríamos manter a tradição, dar-lhe mais vida”

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O MIRANTE | 02 Dezembro 2010

A crise preocupa mas não assusta e Pernes é boa terra mas sem empregos para oferecer Manuel Duarte, “Manuel Joaquim Isidro Duarte”, Pernes

“O importante em momentos de crise é não baixar os braços” Trabalhando no sector das madeiras, Manuel Duarte reconhece que os tempos estão difíceis e que a crise se sente no negócio. “Vamos esperando até que venham melhores dias”, comenta. O importante

Na véspera de mais uma edição da tradicional feira de Pernes, freguesia do concelho de Santarém, O MIRANTE foi falar com alguns habitantes sobre a crise, o que os faz morar naquela terra e o que sabem do grupo de teatro local. Num dos temas a unanimidade é total. Não há quem não conheça o trabalho do Grupo de Teatro local e o seu trabalho. O bairrismo não esmorece quando defendem a terra como um local tranquilo para viver com o senão de não haver empregos. Quanto à crise a perspectiva é ditada pelo bom-senso. Preocupação sim, mas nada de pânico. Como diria um antigo primeiro-ministro (Pinheiro de Azevedo) noutras circunstâncias: “O povo é sereno!”

é “não desistir. Não baixar os braços”. Questionado sobre o que diria a alguém que quisesse morar em Pernes, comenta que não há muito a aconselhar. “Há falta de trabalho e as pessoas não vêm morar para Pernes por causa disso”, afirma. Vive ao lado do espaço do Grupo de Teatro de Pernes e tem assistido por isso a todos os seus trabalhos. “Não me lembro de um em particular, eles têm

feito muitos e todos bons. É um grupo extraordinário”.

Joaquim Silva, 62 anos, Talho Mimo

“Estou tranquilo mas nota-se que as pessoas compram menos de cada vez” Nota que os efeitos da crise vão, a pouco e pouco alterando os hábitos de consumo das pessoas que agora compram pouco de cada vez, provavelmente por não terem tanto dinheiro como tinham antes ou

Emílio Rodrigues, 77 anos

Mário Faustino, 60 anos, Agronimal

“Com esta idade já nem penso muito na crise”

“As crises são cíclicas e eu “O que falta em Pernes já passei por várias” é emprego porque qualidade de vida existe”

Aos 77 anos, Emílio Rodrigues afirma que está tranquilo com os tempos de crise que se avizinham. E justifica. “Com esta idade nem penso nisso”. Mas não pode deixar de sentir o que se passa que, segundo ele, começou há muito tempo. “Há 15 anos para cá isto anda a andar para trás”, comenta. “Já vi vários ciclos, bons e maus. Este é mais um”. “Pernes, enquanto local para viver não é dos piores mas depende dos gostos de cada um. Uns preferem a cidade, outros a aldeia”, sentencia. Costuma assistir a quase todos os trabalhos do Grupo de Teatro de Pernes. “O último a que assisti foi “A Promessa”. A actuação surpreendeu-o. “São amadores e a maior parte deles estavam ali pela primeira vez”. “É um bom grupo”, refere.

A crise não trouxe para Mário Faustino grandes alterações na sua vida. “É próprio da evolução”, afirma, comentando que não se encontra assustado com as dificuldades que o próximo ano possa trazer.”Acho normal. Já passámos por várias crises idênticas, eu já passei por várias. É cíclico”. “Pernes é um local agradável, mas não é muito aconselhável para vir viver. Está estagnado, não há grande inovação no comércio ou na indústria”, refere. É admirador do Grupo de Teatro de Pernes e já assistiu a várias das suas peças. A última foi “A promessa”, da qual veio bastante impressionado. “Foi bastante bom”, comenta, com boas actuações e um trabalho “bastante válido”.

Maia Frazão - Pernes

Esperança, empenho e profissionalismo são os antídotos para a crise, defende. As dificuldades são muitas mas as pessoas devem preparar-se para tempos ainda mais difíceis, vaticina Maia Frazão. Quanto a Pernes diz que tem qualidade de vida e que isso é uma grande vantagem. “ É uma terra interessante, com gente interessante e com infra-estruturas e equipamentos. A única coisa que falta são empregos”, explica. Conhece o Grupo de Teatro de Pernes e costuma ir assistir às suas peças. “Um trabalho que me marcou foi um sobre o mar. Gostei do desempenho. O grupo tem qualidade para subir a outros palcos, independentemente dos actores serem amadores”.

por mera precaução. Diz que, por enquanto está tranquilo e que assim vai continuar se as coisas não piorarem mas tem consciência que o tempo das vacas gordas já lá vai…se é que alguma vez existiu. Se conhecesse alguma pessoa com vontade de ir viver para Pernes incentivá-la-ia a fazê-lo porque a terra precisa de mais gente. E dir-lhe-ia que iria viver para “uma terra boa e sossegada”. Confessa que gosta do Grupo de Teatro de Pernes e que já assistiu a vários dos seus trabalhos, como “O Duelo”, “O Mar” ou “A Promessa”. “Como amadores trabalham muito bem, quase melhor que profissionais”, destaca. E deixa uma nota positiva para o encenador, dizendo que “é muito bom”.

“Maria Ermelinda Martins, “Florista Mimi”, Pernes”

“Sou mãe de uma das actrizes e conheço bem o trabalho do Grupo de Teatro” Para Maria Ermelinda Martins a expectativa é muita em relação aos tempos que se avizinham. “Não há indústria ou alternativas em Pernes. As pessoas saem e não querem voltar”, afirma. A crise “está-se a sentir bastante, principalmente no comércio”. Pernes, enquanto terra, “é boa para morar, uma vez que é um local sossegado. Mas é quase um dormitório. Os jovens saem para trabalhar e só regressam para dormir”. Maria Ermelinda Martins é mãe de uma das actrizes do Grupo de Teatro de Pernes,

pelo que conhece os seus trabalhos. “O Mar” ou “A Promessa” foram obras que marcaram o grupo. “Para amadores são muito bons. Onde vão marcam, toda a gente gosta”.


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Salomé Vieira sente-se à vontade nos palcos do teatro e da política A presidente da Junta de Freguesia diz que a poluição do Alviela vai durar mais alguns anos Adora o que faz e a terra onde nasceu. Salomé Vieira, 42 anos, Presidente da Junta de Freguesia de Pernes, eleita pela CDU, é a mulher autarca mais nova do concelho de Santarém. Alguns colegas chamam-lhe “mascote” mas ela não liga. Autarca, técnica de contas e actriz amadora, afirma não ter medo de se impor num mundo de homens. Em Portugal há meses que só se ouve falar em cortes. A Junta de Freguesia também teve que cortar? Pernes não é excepção. Também afectada, como é óbvio. Sobrecarregam-nos com novas competências sem nos darem os correspondentes meios financeiros e não temos opção. Para fazermos certas coisas, não fazemos outras que, quanto a nós, eram bem necessárias. Vamos levando isto com calma. Neste mandato se conseguirmos alguma proximidade com os nossos “clientes, como costumo chamar aos nossos moradores, já é bom. Não aspiro a grandes obras porque vejo que as condições económicas são péssimas. Mas só que eu consiga essa gestão da proximidade, fazer o máximo que eu puder pela limpeza; pela sociabilidade cultural… penso que já é muito bom. O que é possível fazer nestas circunstâncias para melhorar a vida de quem vive em Pernes? Para melhorar a vida das pessoas é preciso, essencialmente, ouvi-las. Queremos manter o posto dos CTT aberto e com esta reorganização dos serviços querem fechálo, por exemplo. Vamos tentar manter todos os serviços que temos. Resolver caso a caso quando nos é pedido. Vamos estar junto da população e resolver pequenas coisas que fazem a diferença. Qual o impacto deste seu primeiro ano enquanto presidente da Junta de Freguesia? Eu já contava com muitas dificuldades mas isto ultrapassa tudo. Estando de fora é fácil julgar mas a situação é extremamente difícil. Ainda se criam empregos em Pernes? Estamos à espera que a zona industrial seja uma realidade. É uma vergonha que existindo industrias interessadas o projecto não avance! Tenho andado de volta do vereador João Leite à procura de soluções. Se não estou em erro, são cinco indústrias interessadas em instalar-se em Pernes. Se existem empresas é uma vergonha que não se avance. Como se encontram os serviços como a Saúde, Educação ou a Seguran-

ça Social? Temos o nosso posto de saúde aberto, a Unidade de Saúde do Alviela até recebeu um prémio pela boa gestão no ano passado. Já temos um sistema de senhas e o atendimento está bem organizado, melhorou. A Segurança Social fechou e faz falta. Tentámos que abrisse à sextafeira, no dia do mercado, mas não deu. Propuseram-nos ficar com essa responsabilidade, mas não havia possibilidade de mantermos um funcionário. Na Educação põe-se a questão dos mega-agrupamentos. É preocupante se os nossos alunos do 5º ao 9º ano vão para Santarém. O transporte do 1º ciclo é feito pela Junta de Freguesia, que é um encargo significativo mas que eu acho importante. Que consequências trará a transferência dos alunos para Santarém? Se as crianças vão para Santarém, fecha-se o Jardim-de-Infância na Chã e o 1º ciclo. Perdem-se as crianças cá, os edifícios ficam devolutos. Tivemos uma reunião com a Associação de Pais, em que se fez um abaixo-assinado que vai ser enviado à Ministra da Educação, à Câmara Municipal de Santarém e às Juntas de Freguesia. Da minha parte, também vou escrever à Ministra da Educação. Que obra gostaria de ver realizada em Pernes? Pernes vai tentando evoluir, acompanhando os tempos. Gostaríamos de ver o nosso Mouchão com movimento como há uns anos. Pedimos à Câmara Municipal um projecto para uma sala de chá para reabilitar o espaço. A sensação que se tem é que os pobres das cidades têm mais dificuldades que os do interior. É verdade ou é mito? Há realmente pobreza em Pernes mas vai sendo colmatada com actividades como a entrega de alimentos. Aqui sente-se o interior mas é um meio rural citadino. A Junta de Freguesia está a fazer recolha de candidaturas para apoios alimentares mas o que fazemos sobretudo é relatar a quem de direito, nós pouco podemos fazer. Há um aumento dos pedidos de apoio? Há um acréscimo de pessoas a pedirem, sim. Há situações de pobreza. Mas também julgo que devia haver mais fiscalização dos subsídios de inserção. É possível falar de uma política ambiental do país enquanto se mantiver o problema da poluição do Alviela? Há que motivar as pessoas para a questão ambiental porque é fundamental para o futuro. Vamos receber mais EcoPontos, as pessoas fazem reciclagem. Penso que vale a pena investir. Na questão do Alviela sinto uma tristeza profunda, porque desde que me lembro que oiço falar na poluição. Há algumas medidas em curso,

mas penso que não servirão para resolver o problema de vez. Vamos ter poluição por mais alguns anos. Que memórias tem da Feira de Pernes da altura em que era criança? Nesse tempo, a Feira de Pernes era onde nos divertíamos, onde comprávamos os sapatos, os casacos. Lembro-me das fogueiras, com a carne a assar e o movimento, que era bastante grande, com muita animação que hoje já não há. Era na Feira que nos divertíamos. Havia os aviões, a barraca dos tiros. Julgo que nunca será mais a mesma coisa porque hoje as pessoas compram quando têm necessidade. Mas penso que podemos fazer um esforço para animar. Como se iniciou enquanto actriz no Grupo de Teatro de Pernes? Primeiro fiz figuração. É muito engraçado a camaradagem que se cria. Não tenho medo de enfrentar o público, gosto de ver a casa cheia. Nos primeiros tempos ia muito nervosa, mas em palco acabava por relaxar. Estreei-me como actriz na peça “Mar”, de Miguel Torga, por volta de 2002 ou 2003. Fiz duma mulher do mar que praticamente só fazia renda e dizia um poema. Na família havia ligações ao teatro? O meu pai tinha feito teatro em tempos, mas nunca o vi representar. Os meus irmãos, em pequenos, também fizeram figuração. Não é fácil. É preciso disponibilidade e tempo. Temos que fazer muitos sacrifícios e as condições nem sempre são as melhores. Aqui é a prata de casa que faz tudo, o cenário, os vestuários… “ACHO QuE SOu umA mulHEr COm COrAGEm” Salomé Vieira nasceu em Pernes a 26 de Agosto de1968. Fez a escolaridade em Pernes e Santarém, tendo-se licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA) em Lisboa. Mãe de um rapaz de 15 anos, confessa que muitas vezes a família vai ficando para trás num quotidiano bastante atarefado. O gosto pela política surgiu de pais e irmãos, que eram opositores ao regime político anterior ao 25 de Abril e que chegaram a ser presos pela PIDE (Polícia Política). Técnica de contas, o seu gabinete

fica mesmo ao lado da Junta de Freguesia de Pernes. Não se considera ambiciosa, preferindo levar “um dia de cada vez”. “O meu pai esteve sempre ligado à política e foi daí que veio o meu interesse”, explica. “O meu irmão mais velho fazia parte dos sindicatos”. Quando entrou para a vida pública começou enquanto tesoureira do então presidente da freguesia, Vicente Batalha. Passou pela Assembleia de Freguesia, não tendo acabado o mandato por questões de saúde. Em 2009 concorreu à Junta de Freguesia e venceu. O seu dia começa pelas 9h, muitas vezes passando pela Junta de Freguesia antes de ir para o emprego. “Às vezes chamam-me a meio da manhã para ir à Junta, mas como o Vicente Batalha (Secretário da Junta de Freguesia) tem alguma disponibilidade, passa muito tempo na Junta, comunicamos via telefone ou pelo gmail, para o caso de ser preciso decidir alguma coisa”. É para a autarquia que se dirige ao fim do dia, pelas 18h30, e onde se mantém muitas vezes até depois da meia-noite. Confessa que já teve alguns dissabores em política por ser mulher, mas afirma não ter medo. “Ainda vivemos num mundo muito machista”, refere. “Não tenho medo de enfrentar os homens. Temos as nossas fraquezas, mas eles também têm as deles. Acho que sou uma mulher com alguma coragem”. Gosta de ler qualquer tipo de livro. Não gosta de filmes de terror e prefere o cinema mais realista. O inglês aperfeiçoou-o a ouvir música. Mas o seu fascínio é pelo teatro, onde entrou pela mão de Vicente Batalha, no Grupo de Teatro de Pernes. “Eu já tinha o bichinho de ver. Gosto de representar. Não me considero uma actriz, de maneira nenhuma, mas até dizem que tenho algum jeito”, comenta rindo. “Temos feito peças que têm sido muito aplaudidas e isso é gratificante”, comenta. “O Vicente ralha muito connosco, mas é com esses ralhetes que vamos atingindo um certo nível”. Nos tempos livres gosta de se refugiar no Baleal ou num moinho de vento, que pertence ao avô, para onde se dirige em dias menos bons. “É um cantinho entre Pernes e Vaqueiros. É o meu refúgio”.


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