Olaria das letras número 1

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jornal literário Número 1 - ano I - dezembro de 2013

henrique vale laisa felíssimo marco llobus

leonel ferreira jair barbosa thiago aquino

lederson nascimento vinicíus fernandes cardoso


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olaria das letras

Editorial

A

fumaça de letras busca a saída pela chaminé. As nuvens ficam manchadas pela tinta das palavras. Um poema se precipita na chuva. Uma letra ou outra se agarra no papel de seda da pipa que enfrenta o vento. O menino corre na lama levando uma palavra grudada na sola do sapato, sem querer... Nossos fornos assam letras como tijolos. Colados uma às outras com tinta formam palavras nas folhas vazias. Com as páginas recheadas delas sai o primeiro número do forno. Boa leitura. Henrique Vale

©fotolia.com

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edição: Henrique de Almeida Barbosa Vale (Henrique Vale) projeto gráfico: Leonel Ferreira textos: Henrique Vale, Reginaldo Albuquerque, Rômulo Ferreira, Elias Antunes,Solange Firmino,Albertina Laufer,Fernanda Resende,José Eugênio Borges Almeida,Felipe Costa,Thamise Rocha,Thais Ribeiro,Samuel Malentacchi Marques ilustrações: Orion e Riba Tavares


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Janta indigesta Descongelo As lágrimas No micro-ondas O coração malpassado Com batatas Fica remoendo um discurso

muralhas

Surrado Sobre o que é o amor Mas se cala na última ©henriquevale

garfada Meio desapontado Com meus caninos Jogo fora os restos Secos e mudos De átrios e ventrículos Não gosto de sentimentos Mexidos Henrique Vale


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Pre Na cip b ício Do eira As meu da d Mi lágri cora e um nha ma ção ab s sa s le , ou ism Mi uda vand ço o pr n des o m caír ofun h Do a v , m inh em do i m d inh as Fo eu a. Q r as l Na ça se cora uan esp embr pró es ção do a e ran ança pri vair , sin cab ças s Co a am , sint to m am, , Os ntem a i o n rgu qu nha a s p e l c o ecu Ro ra. e m mp os da o fun ra inh em d a aa An o s ngús o do l ma ilên tia pre Pro évoa def c c i io. inh píc É s duz m que a io, ae epu e lta sufo scur da no ca. M idão abi inh sm a a o d lm as af oli ria dão .


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Meu amor cresce como um broto de feijão mas tem caule de arame farpado e faz sangrar o coração.

Henrique Vale

©henriquevale


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V

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alentina Gaivota espiava a planície dentro da boca do vento. Seu rosto estava tão bravo que afugentou o branco das nuvens.

O Urso Pele de Sapo tinha roubado seu ovo e corria em direção a montanha onde terminava a praia de repente. Da altura viu sua silhueta obesa se espremer em uma abertura estreita na rocha. Mergulhou no mar. Eriçou as penas e se deixou trazer a praia pelas ondas. Os pés decididos marcharam. Sentiu a escuridão agarrando suas penas. Entrou na casa da caverna sem tocar a campainha. Passou pela sala. A televisão ligada à toa. Andou no corredor. Os quartos desarrumados. “Que urso porco”, pensou. Parou na porta da cozinha e espiou. O ovo na mesa. O fogão aceso com uma panela com água esquentando. O Urso procurava orégano no armário, cantarolando feliz da vida que ia jantar algo diferente de limo. Valentina andou até metade da cozinha. Escondeu debaixo de sua sombra. Abriu as asas e se chacoalhou espirrando água salgada em sua pele fina. Ele se virou coçando e soluçando. Ia desidratando e diminuindo até que ficou do tamanho de um cachorrinho com peladeira. Valentina deu duas bicadas no cocuruto e o espantou para o quarto de entulho. Pegou o ovo e voltou para casa. Henrique Vale


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Desafio Literário

1º Lugar -Poesia

Meu poema é quase nada e quase tudo anda no meio, pelo meio criando meios de criar solidão Meu poema nem é meu ele faz parte de um povo que caminha as mínguas pelas ruas daqui, de onde manifesto desejos meu poema que dou é uma pedra uma gota d'agua um copo cheio de ignorância é uma farpa afiada que te cortará ... e nunca mais encontrarás a palavra cicatrizante Rômulo Ferreira

1ºLugar -Miniconto Striptease Tardinha de sábado, ele estagnado no sofá. O volume alto da tevê ligada no futebol não o deixa perceber a mulher que penetra furtiva e para no meio da sala em penumbra. Depois, solta e agita os longos cabelos num movimento charmoso e sem pressa. Um passo à frente e joga a blusa embolada em sua direção, acertando as pernas estiradas sobre a mesa de centro. Indiferente ele a põe de lado na almofada e se concentra no lance de ataque do clube favorito. Ela então cantarola uma canção suave e o bordado da minissaia vai cobrir a mão do controle remoto. Meia-calça preta se enrosca macio no pescoço e ele curte o cheirinho adocicado do pezinho dela. A outra o faz entrar no clima e desliga o aparelho. Beberica a latinha de cerveja e balança o corpo ao ritmo da melodia. A tela escura da tevê agora estampa um sutiã médio pendente. Ele o pega, estica e bamboleia com o dedo indicador. Ela se aproxima e sopra provocativa: – Amor!... – Sim, querida... – A última peça...

– Uau!... Ainda de costas para ela, ergue os braços com gestos sensuais e os olhos quase em brasas. Ela ofega um sussurra erótico bem juntinho ao ouvido: – Três... doois... uuumm... eeee... Ele limpa o suor da testa, fecha os olhos e sente satisfeito o começo da excitação: – Vai!... Vai!... E atira a calcinha, que desliza a trama da renda pela cabeça e rosto dele. Quando se volta e a encara entusiasmado, ela lhe entrega o cesto da roupa suja e arremata com firmeza: – Divisão de tarefas, meu amor, é a sua vez de ir para o tanque! Toma o controle e aperta o canal da novela das seis.

Reginaldo Albuquerque


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olaria das letras 2º lugar O CAÇADOR Elias Antunes O outro é o irmão amparado na cruz; o outro é a bagagem de amor e de sonho contra a canção do abismo; o outro é o tempo líquido na mão direita, o sol na pele da verdade; o outro é o espelho, os cães caçando, o coração do pássaro azul voando pela janela;

3ºlugar

o outro é a ponte

Legado Solange Firmino

sobre o desfiladeiro; a lâmpada acesa

Pouco importam todos os versos que escrevi. na casa escura;

o campo de trigo sob a chuva;

Importam as estrofes grudadas na língua

o quintal cheio de pássaros e frutos;

e as rimas que ficaram na carne.

uma rua sem nome, quando os caminhos foram Importa o que eu não disse desfeitos; e me deixou essa mudez interna. o outro é você mesmo, seu sonho e Importam todas as palavras sua história, sua vocação para a eternidade. sopradas sem fôlego. E todas as efêmeras palavras e as paixões que calei importam.

Todas as vezes em que engoli as lágrimas e silenciei os gritos importam. Comigo levarei os ecos de todos os meus silêncios.


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olaria das letras 4º lugar Fragmento de paz Albertina Laufer Alguém vai ler você, No meu poema de hoje. Nas páginas de um livro, Ou em algum jornal, Circulando pela cidade. Alguém vai ler você, A caminho da escola, Ou, na volta, Já muito cansado Após um dia de trabalho. Alguém vai ler você, No meu sorriso, Ainda que, engarrafado, No caótico trânsito, De uma cidade qualquer. Alguém vai lê-lo, Em algum caminho disperso. E oxalá encontre, Um sinal de alegria, Ou um fragmento de paz,

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5º lugar Medo Fernanda Resende Ele está em mim. Às vezes tira os sentidos, gera incerteza, vazio e uma culpa que sufoca. Bane sonhos, dilacera corações, corta olhares e reveste de lágrimas a alma. Faz o dia virar noite, os verões serem frios, as flores não florirem e a vida esquecer da esperança. Ele faz parte de mim. Fui educada para ele. Revestida por ele. Amaldiçoada com ele. Seu nome, é medo. Medo com “M” maiúsculo. Medo que vem da gente. Medo que paralisa a gente. Medo Medo Medo Medo Medo

que faz o certo virar errado. que faz o feliz não ser “feliz para sempre”. que faz medo. de acordar e sentir ainda mais medo. de ser simplesmente EU.

Nestes pequenos versos.

7º lugar A arte de poetar Felipe Costa 6º lugar Perfumes... José Eugênio Borges Almeida Empresto-te um pouco de mim assim lascas da superfície. O interior ficará incólume quem sabe um dia queiras mergulhar nele, conhecer o meu profundo. Depois percorrer-me, misturar-te em mim. Formar uma massa, indivisível, assim compacta. Como será o nosso cheiro misturado?

É É É É

ter o mundo infinito no finito das mãos ver o que ninguém consegue ver ser voz da alma sonhar o impossível

É dançar ao ritmo da melancolia É descrever o imaginário de um cenário Do passado que bem reflete Portinari É viver alegrando os enamorados É dizer o absurdo metafórico em sílabas É fugir das regras É o inconcebível das palavras num papel É libertar um ser aprisionado De um sonho encantado É se prender na prisão da solidão.


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8º lugar encontro marcado Thamise Rocha todo dia eu encontro o gato ele me olha abobado (© reitory - Fotolia.com)

enquanto passo a passo no mesmo lugar ao seu lado nos encontramos no mesmo horário 12h15min, cronometrado ele de pêlo a...lon...ga...do eu de cabelo arrumado fazemos de conta que é por acaso e é falado em miado um muito obrigado.

9ºlugar Serarte Thais Ribeiro ainda que sabendo sem dúvida qualquer que quando acabar o amarelo cor que dá o seu grito hepático pregada as bordas de aço da lata terei outro tom de amarelo que também dá o seu grito meio hepático meio dourado como o sol das oito pregado as bordas de aço de outra lata temerei pela beleza de minha arte vou titubear pois temo e vou deixar partir pelas bordas gelatinosas dos meus olhos castanhos foscos lágrimas dadas ao temor pela minha arte e depois de pensar pela minha arte pelo abandono de seus contornos pela falta de tinta em seu miolo sacro pela a sua cara empoeirada de tempo pela a sua ossatura sepultada em um cômodo túmulo o pincel vou afogar no amarelo meio dourado meio hepático e estando salva a minha arte me sentirei artista na palavra e nos seios.


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10ºlugar Verão Assistido Samuel Malentacchi Marques

Estas paredes envelhecidas testemunharam tantos dissabores, camadas e camadas de cores que não apagaram minhas feridas,

hoje sei de tantas dores, dores antes escondidas, dores tantas [bem] escolhidas em um passado de tremores.

O ocaso é o malfazejo para a extinção que almejo vociferando horizontes na janela.

Esta vinheta é traiçoeira, pois transforma a poeira das paredes em sentinela.

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