O Alvoradense #61

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ANO 04 •• Nº 61 •• ALVORADA, 27 DE JULHO DE 2015 •• WWW.OALVORADENSE.COM.BR E D I Ç Ã O

E S P E C I A L

TRAGÉDIA HISTÓRICA NO ANO DO CINQUENTENÁRIO

JONATHAS COSTA

O ALVORADENSE


Segunda-feira 27 de julho de 2015 www.oalvoradense.com.br

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A EMERGÊNCIA CHUVAS. Por mais que todos os anos os alagamentos sejam rotina na zona Norte de Alvorada e ainda que os metereologistas tenham emitido alertas sobre os efeitos do El Niño, ninguém arriscava prever um

JONATHAS COSTA

JONATHAS COSTA

cenário tão caótico como o que se desenhou ao longo desta semana na cidade. Foram quase 200 milímetros de chuva em áreas que já estavam alagadas, elevando o número de atingidos para 12 mil pessoas.

Moradores começaram a deixar casas no domingo

Já na segunda os alagamentos superaram o nível histórico de 2013

Drama começou bem cedo

Segunda-feira foi caótica

A instabilidade iniciou há quinze dias. Na terça-feira, dia 14, a água já começava a dar sinais que avançaria pelas ruas do bairro Americana. A chuva, contudo, ganhou intensidade no último final de semana. Na sexta, dia 17, começaram a chegar as primeiras famílias ao Ginásio Municipal Tancredo Neves, onde tradicionalmente são alojados os atingidos pelas cheias em Alvorada. A situação piorou com a forte chuva que chegou na madrugada de domingo, dia 19. Na Americana a água estava próxima de atingir a rua André Puente, se igualando ao nível histórico da enchente

A situação da cidade já era dramática quando a segunda-feira, dia 20, começou. O pior, no entanto, estava por vir. Fortes pancadas de chuva com rajadas de vento marcaram aquela manhã, com queda de granizo em algumas regiões. O quadro aumentou o número de pontos de alagamentos e a quantidade de desabrigados. Houve desmoronamento de terra no Jardim Alvorada e dois terrenos foram atingidos. Ruas dos bairros Tijuca, Tupã, Umbu e Onze de Abril ficaram inundadas. Próximo da ponte da Americana, as águas do Feijó invadiam as ruas com forte

de 2013, considerada uma das piores da história do município. Infelizmente, o pior se confirmou. Na região era grande o movimento de moradores retirando móveis e pertences pessoais de dentro das casas. Na esperança de que a água não fosse subir tanto, as pessoas postergaram ao máximo essa retirada e muitos apenas levantaram os móveis em tijolos, cadeiras, mesas ou paletes. Ainda existia esperança e bom humor. Um morador da última quadra da Marquês do Pombal chegou a colocar uma rede de pesca na área de casa e garantiu o almoço do domingo.

correnteza. Moradores, voluntários e equipes de resgate tentavam retirar famílias e pertences de dentro das casas e faltou mão de obra. Pessoas desesperadas à espera de barcos e caminhões de mudanças completavam o cenário de caos. A chuvarada também gerou colapso no trânsito. As pontes da Americana e da Gleba foram bloqueadas. Na zona Sul, um desmoronamento de encosta no Caminho do Meio interditou a estrada. A ligação com Porto Alegre se deu apenas pela avenida Presidente Getúlio Vargas, o que afetou as linhas de ônibus.

Alvorada não foi exceção. Devido às enchentes, o Rio Grande do Sul decretou na terça-feira, dia 21, situação de emergência coletiva para 26 cidades. Até o final de semana o número subiu para 66. De acordo com o boletim da Defesa Civil do Estado, na sexta, dia 24, eram 1.267 pessoas em abrigos, a maioria na região Metropolitana, e os afetados chegaram a quase 54 mil. Entre os municípios mais

afetados estiveram Cachoeirinha, Gravataí e Esteio, que registrou a pior cheia da história. Foram mais de 3 mil atingidos na cidade. A avenida Assis Brasil, entre Cachoeirinha e a Capital, chegou a ser bloqueada durante toda a semana devido à cheia do rio Gravataí, em uma cena inédita. Também foram registrados danos em cidades da Fronteira. O governador José Ivo Sartori sobrevoou as áreas mais atingidas. Diretor e Fundador Jonathas Costa

jonathascosta@oalvoradense.com.br

Reportagem Mariú Delanhese

mdelanhese@oalvoradense.com.br Fundado em 12 de março de 2012

Estagiário Caio Silveira

caiosilveira@oalvoradense.com.br

LUIS CHAVES / PALÁCIO PIRATINI / OA

Cheias foram registradas em 66 municípios gaúchos

Governador sobrevoou áreas alegadas antes de decretar emergência Empresa Jornalística Soares da Costa Ltda. CNPJ: 15.077.362/0001-58 Alvorada, RS Rua Icaraí, 106, Bairro Sumaré. CEP 94824-030 Site: www.oalvoradense.com.br Jornal publicado aos sábados e domingos. .

Classificados/Anúncio comercial@oalvoradense.com.br (51) 4116.0506 .

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O casal Jenifer e Paulo Sérgio Oliveira, de 22 e 23 anos, morava na rua até três anos atrás, quando um pastor conseguiu a casinha emprestada, na beira do Arroio Feijó. Desde que a nova vida começou, a água insiste em atrapalhar os planos. Possuem dois filhos, Rodrigo de 4 anos e Ezequiel de um. O mais velho chegou a morar na rua, já o pequeno só teve que enfrentar a cheia e o alojamento uma vez, até agora. Jenifer é uma jovem pequena, com responsabilidades de mulher grande, e conta que está preocupada com a casa, que ameaça cair de tão frágil. “Quando fomos embora, ela estava inclinando com a força da água.” Diariamente vão com as

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crianças à área alagada, para verificar se a casa ainda está lá. Eles não chegaram a perder muita coisa, não porque a água os tenha poupado, mas sim por pouco possuírem. Se a casa não resistir, o destino está traçado: voltam a morar na rua. A família Oliveira

A água não entra na casa de Vanda, de 41 anos, mulher de sorriso fácil e fascinada por livros, muitos deles resgatados na reciclagem. Contudo, se assusta com os animais que surgem, principalmente as lacraias. Ela ficou viúva ano passado, logo após Vanda e seus tesouros

a cheia, e acredita que foram eles que causaram a morte do companheiro. Por isso Vanda e a família, três filhos de 20, 11 e seis anos, chegaram ao ginásio na sexta-feira, dia 17. Entre os tesouros que leva consigo estão dois livros e um isopor com guloseimas, sua maneira de combater a abstinência, resultado do tratamento de desintoxicação a que se submeteu há um ano e meio. Quando lhe perguntam há quanto tempo sofre com as cheias, se diverte respondendo que a filha mais nova nasceu praticamente dentro de um abrigo, em agosto de 2008. Ficou satisfeita quando instalaram uma área de lazer, com televisão, no ginásio. “É uma maneira da gente se distrair.”

FACES DA TRAGÉDIA Mãe e filha, Leila e Pâmela Pesente, de 40 e 20 anos, passaram a primeira noite que deixaram a casa, na sexta-feira, dia 17, dentro do carro estacionado em uma esquina junto à viatura da BM. Não vão para junto de amigos porque estão todos lotados e também não querem abandonar os dois cachorros que ficaram na casa. O terceiro e menor deles está no carro com elas. Os planos, no entanto foram frustrados com a saída da viatura para realizar rondas no bairro. Elas então seguiram para o estacionamento do Ginásio Municipal, onde passaram a noite, retornando pela manhã. Leila conta que a cada inverno a situação piora e que este ano elas se adiantaram à água e ergueram os móveis

Leila, Pâmela e os cachorros

com antecedência, sem correria. Não foi o suficiente. A chuva de segunda fez a inundação avançar rapidamente e a casa foi completamente atingida. Elas perderam quase tudo. O imóvel está para vender, mas não há interessados, o que adia cada vez mais a mudança.

O alojamento de Daiane

Daiane Goulart, de 29 anos, assim como praticamente todos os moradores da região, tem longa história com as enchentes. Desta vez, imaginando que conseguiria fugir da triste rotina, alugou uma casa na parte mais alta do bairro, próximo à

ponte na rua Beira Rio. Não era o que buscava, mas foi o que o dinheiro permitiu conquistar. Na sexta, dia 17, eram seis adultos e 10 crianças abrigadas na casa de dois cômodos. No domingo esperavam chegar mais cinco crianças. Todos dormiam como dava, se ajeitando no único sofá e nos colchões que conseguiram juntar. Apesar do improviso, Daiane e a mãe, Aldemira Dutra, de 44 anos, que mora na parte mais baixa da rua Americana e tem em sua casa cocota, patos, galinhas, coelhos e cavalos, estavam felizes em poder acolher os amigos e familiares. Mas, na segunda, dia 20, a água subiu rapidamente e atingiu a casa de Daiane. Todos tiveram que deixar o local.


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A CALAMIDADE ÁGUA. Com o transbordamento do Arroio Feijó e a cheia histórica que atingiu a cidade, nada parecia ser capaz de agravar ainda mais a situação. Parecia. O Rio Gravataí ficou seis metros acima do nível normal e a casa

de bombas da Corsan acabou inundada. Os motores responsáveis por abastecer Alvorada e Viamão foram desligados e mais de 410 mil moradores ficaram sem água por seis intermináveis dias.

O rápido avanço das águas e a cheia do Rio Gravataí e dos arroios que o abastecem, chegando a patamares inéditos, levaram ao desligamento, na tarde de segunda-feira, dia 20, dos motores da Estação de Bombeamento de Água Bruta (Ebab) da Corsan frente à inundação e ao perigo eminente de queima dos equipamento. Começava ali o segundo capítulo de uma crise sem precedentes. Mais de 410 mil moradores de Alvorada, Viamão, Gravataí e Cachoeirinha foram atingidos. A princípio a Corsan afirmou que o religamento dos equipamentos dependia da baixa do nível do rio. Na terça, dia 21, a empresa começou a

abastecer alguns pontos da cidade, considerados estratégicos, com caminhões-pipa. Enquanto isso, se iniciou a construção de uma barreira provisória para conter a ação das águas ao redor dos motores-bomba. O processo se estendeu até a quinta-feira pela manhã. Quando foi possível começar a secagem dos equipamento, foi constatado a fuga de energia do local, o que impedia o religamento dos motores e gerava perigo para os funcionários envolvidos na operação. Uma empresa terceirizada foi contratada emergencialmente e resolveu a situação somente na sexta pela tarde. À esta altura, bombeiros, homens do Exército e servidores da Corsan

REPRODUÇÃO / CORSAN / OA

Com estação inundada, cidade ficou sem água

Com estação inundada, 75 mil pontos da cidade ficaram sem água

e da prefeitura trabalhavam quase que ininterruptamente para tentar restabelecer o abastecimento. Eram 20h20min de sexta, dia 24, quando o primeiro motor foi religado. Minutos depois, o segundo. O terceiro permaneceu desligado até o completo enchimento dos

reservatórios da Corsan, a fim de se evitar uma perda do trabalho caso houvesse algum equipamento queimado. Quase 110 horas depois do início da crise, as primeiras casas começaram a receber água, em um processo que se estendeu até a tarde de domingo.

Enquanto a água não voltava a correr pelas torneiras, o prefeito, Professor Serginho, secretários municipais e vereadores tentavam encontrar alguma forma de pressionar a Corsan a acelerar a operação de volta do abastecimento. “A situação não está sendo encarada com seriedade”, avalisou Serginho na quarta, dia 22, em entrevista ao jornal O Alvoradense. Naquela tarde o prefeito visitou a casa de bombas às margens do Rio Gravataí e verificou que nenhum equipamento havia sido instalado para tentar retirar a água dos motores. “Não é admissível que uma cidade com 210 mil habitantes não tenha uma solução rápida para restabelecer o fornecimento de água.” Durante a vistoria o grupo de autoridades municipais encontrou apenas um pequeno barco, cedido pela própria prefeitura, realizando o transporte de sacos de areia. Por meio de um termo de notificação extrajudicial, a Prefeitura solicitou a insta-

CHARLES SCHOLL / CCS / OA

Em meio à crise, Prefeitura e Corsan trocam farpas

Prefeitura acusou Corsan de negligência durante operação

lação de bombas no Arroio Feijó, próximo à Fiergs, em Porto Alegre, para ajudar a diminuir o volume de água nos bairros da zona Norte, assim como uma força-tarefa da empresa, por meio

A situação não está sendo encarada com seriedade pela Corsan

Professor Serginho Prefeito

de equipamentos e pessoal, para resolver problema da água o mais breve possível. Por proposta do vereador Juliano Marinho, a Câmara de Vereadores convocou na noite de quinta, dia 23, au-

Precisa ser entendido que fomos atingidos pela mesma enchente Corsan Em nota

diência pública. Representaram a Corsan no encontro o gerente de Alvorada, Carlos Leite, o diretor de Operações, Eduardo Carvalho Barbosa, e o superintendente da região Metropolitana, André Gutierrez. O plenário estava lotado de moradores, líderes comunitários, empresários e funcionários da companhia. Barbosa tentou argumentar sobre a gravidade e o ineditismo da situação, mas foi fortemente cobrado com discursos inflamados dos vereadores. Houve princípio de tumulto quando um funcionário da Corsan pediu a palavra e tentou defender a empresa, denunciando que a ocasião estava servindo de palanque para alguns políticos. Mesmo com a volta do abastecimento, o episódio deve se entender na esfera Judicial, onde a prefeitura vai buscar o direito à multa contra a Corsan. O Ministério Público também ingressou com ação para tentar garantir ressarcimento dos prejuízos.


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Preço da bombona sobe e Procon é acionado Com o acréscimo em até 80% na procura de água nos mercados de Alvorada, o estoque acabou já na terça-feira, dia 21, um dia após o corte no abastecimento feito pela Corsan. Conforme os comerciantes, a expectativa era de que chegasse uma nova remessa de garrafas e galões de água naquele mesmo dia. Contudo, o que se registrou na noite de terça foram preços abusivos em vários locais. O aumento chegou a 140% no valor das bombonas. Em algumas telentregas, o galão de 20 litros que era vendido a R$ 10, passou para R$ 24. E os mercados remarcaram para R$ 40 o preço do produto. Na sexta-feira, dia 24, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico acionou o Procon para uma ação de fiscalização. O órgão apontou que o comércio

regular da cidade não está praticando abusos, contudo notificou nove estabelecimentos por aumentar o preço da água. Um número de telefone chegou a ser disponibilizado para a população denunciar abusos. Pelo site do jornal O Alvoradense, leitores começaram a fiscalizar o comércio e a divulgar os preços praticados. Em alguns locais, apesar do preço não subir, os moradores eram obrigados a comprar a bombona de 20 litros com um novo galão, cujo preço era mais alto. Em contato direto com os fornecedores, as empresas informaram que aceitam os galões vazios para reposição, ficando cada comércio livre para implementar a regra que preferir. Os números para denúncias são o (51) 3289-1710 ou o (51) 8933-8412.

Um dia após o corte d’água, mercados da cidade registraram alta de 80% na procura pelo produto e houve falta de estoque

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JONATHAS COSTA

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Apesar de criação de roteiro pela Corsan, caminhõespipa não conseguiram atender toda a cidade

Já na terça-feira, um dia após a interrupção do abastecimento, a Corsan iniciou o abastecimento de pontos estratégicos com um caminhão-pipa. Os primeiros locais beneficiados foram o Hospital de Alvorada e o Ginásio Municipal Tancredo Neves, para onde estavam sendo encaminhadas as famílias atingidas pelas cheias. Também as creches conveniadas à Secretaria Municipal de Educação foram atendidas, na tentativa de garantir a normalidade do atendimento às crianças. Os veículos só começaram a circular nos bairros na quarta, dia 22. Inicialmente um itinerário chegou a ser divulgado, mas não havia previsão de horário. Achar um caminhão-pipa pela cidade virou loteria. Na sexta, com a pressão da prefeitura, vereadores e até mesmo do Procon e do Ministério Público, a empresa

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caminhões-pipa percorreram os bairros, na tentativa de minimizar o problema

por cento foi o quanto subiu o preço da bombona d’água em alguns estabelecimentos

JONATHAS COSTA

Trânsito ficou ainda pior

Entrada da cidade pela avenida Baltazar de Oliveira Garcia exigiu ainda mais paciência dos motoristas JONATHAS COSTA

Com a interdição das ponte da Americana e da Gleba desde a segunda-feira, dia 20, o acesso a Alvorada no final do dia, ou saída nas primeiras horas da manhã, se tornou uma caótica maratona. A água tomou conta do bairro Americana e chegou à altura da ponte, sendo possível passar apenas de barco por ali. Já o acesso pela Gleba, por onde normalmente trafega um carro por vez, para os dois sentidos, foi considerado perigoso pelas autoridades municipais. Contudo a comunidade assumiu o risco e tirou a contenção na quarta, dia 24. Assim, para quem vinha de Porto Alegre restaram os acessos pela estrada Caminho do Meio ou pela avenida Baltazar de Oliveira Garcia, que registrou engarrafamentos por quilômetros, inclusive em vias de acessos laterais da região. Apesar dos problemas, a EPTC não apareceu ao longo de toda a semana para auxiliar os motoristas.

Caminhões-pipa não foram suficientes ampliou o número de veículos de sete para 20. O roteiro foi seguido com um pouco mais de fidelidade, mas ainda assim bairros seguiam sem atendimento. No Pró-Morar, por exemplo, nenhum caminhão passou durante toda a semana. Os prédios públicos, como prefeitura, Câmara de Vereadores e as secretarias municipais, foram atendidos por uma empresa contratada pelo governo municipal. Por toda a cidade a cena era a mesma: pessoas caminhando com bacias e baldes em busca de poços artesianos e bicas. Pela central de atendimento, a Corsan recebeu milhares de reclamações e pedidos quase que desesperados por água. Com o clima de tensão se elevando, protestos já estavam marcados para a noite de sexta-feira, caso a promessa do retorno de água não se cumprisse.

Creches e Alvorada em postos afetados rede nacional A falta de água durante a semana agravou ainda mais a situação da cidade, que viveu uma das maiores cheias dos últimos 50 anos. Quem também sofreu grande baque foi o comércio alimentício, que não podia higienizar seus produtos, assim como as escolas e creches particulares, que fecharam as portas por não terem como atender as crianças. Nas Unidades Básicas de Saúde de vários bairros apenas alguns procedimentos eram prestados.

A escalada dos acontecimentos e a ampliação da crise acabou ganhando destaque não só na mídia regional, como também na nacional. Os telejornais das principais emissoras de televisão passaram a cobrir a situação dos alagamentos e da crise no abastecimento de Alvorada a partir de quarta-feira, dia 24. Imagens das ruas alagadas produzidas pelo jornal O Alvoradense foram utilizadas pela TV Brasil em rede nacional.

PUBLICIDADE LEGAL PREFEITURA MUNICIPAL DE

A LV O R A DA

Rio Grande do Sul – Brasil

ABANDONO DE EMPREGO Srª. Maria Luiza Brum - Matricula Funcional 1999101015. Esgotamos nossos recursos de localização e tendo em vista encontrar-se em local não sabido, convidamos a comparecer no DP da Prefeitura, a fim de retornar ao seu cargo ou justificar as faltas desde 01/11/2014, dentro do prazo de 48hrs a partir desta publicação, sob pena da exoneração do cargo, nos termos do Art. 146 da Lei Municipal 730/1994. João Batista Barbosa Dorneles Presidente da Comissão Processante

Vários cruzamentos da zona Norte da Capital ficaram trancados

Alvorada, RS, 18 de julho de 2015


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A SOLIDARIEDADE CORRENTE DO BEM. Em meio a tantas histórias tristes, exemplos de união e ajuda não faltaram. Cidade se mobilizou para oferecer apoio aos mais de 200 desabrigados e 3 mil desalojados.

Durante a crise no abastecimento, que atingiu toda a população, também não faltaram exemplos de ajuda ao próximo, demonstrando que o título de ‘Capital da Solidariedade’, enfim, saiu do papel

A todo o momento chegavam doações no ginásio municipal

caminhões vindos de Esteio trouxeram roupas e calçados. O Batalhão do Exército de Montenegro enviou centenas de colchões. Também chegaram à cidade doações da Defesa Civil do Estado,

assim como repasses do Governo Federal. No momento a maior necessidade ainda é por roupas de cama e banho, produtos de limpeza e higiene pessoal, fraldas de todos os tama-

nhos, alimentos e água potável. Alimentos prontos não são recebidos, por orientação da Vigilância Sanitária. As doações devem ser entregues no ginásio, pois devido ao serviço de atendimento aos moradores das áreas alagadas, não há equipes disponíveis para realizar a busca. Em uma situação inédita, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Gabinete da Primeira Dama solicitam que sejam suspensos, por hora, a doação de roupas e calçados, pois não há mais lugar para depositar o que já foi encaminhado.

São alvoradenses que, solidarizados com a situação que a cidade vive, dispõe de tempo para ajudar os que perderam tudo e pouca esperança tem de breve retorno ao lar. Os voluntários são importantes para o dia a dia dos abrigados, auxiliando os funcionários da prefeitura que também passam os dias estão no ginásio.

Dezenas de servidores e moradores anônimos auxiliaram no ginásio MARIU DELANHESE

As mais de 200 pessoas abrigadas pela prefeitura contam com um reforço extra para sua manutenção. Além de um local seco para passar os dias até que as águas baixem, dezenas de de voluntários trabalham na organização, com limpeza, distribuição de donativos, seleção das doações e recreação com as crianças.

JONATHAS COSTA

Voluntários ‘invadiram’ ginásio

Dodô e Querido, um exemplo de vida •• O casal Dolores e Milton

José Teixeira já têm como costume às visitas ao ginásio em época de enchente. O objetivo é doar e se aproximar dos desabrigados. Dodô e Querido, como são conhecidos, moram longe da área de enchente. A cada ano procuram ajudar e quem recebe doações do casal, ganha também um sorriso.

JONATHAS COSTA

Em frente à casas com poços, filas eram comuns ao longo da semana

Donos de poços abriram casas A bica da Maringá já não existe. Lá há somente um poço, de onde poucas pessoas se abastecem. O local foi considerado contaminado há alguns anos e o cano de acesso foi retirado. Ainda assim, a população foi atrás de outros locais como na rua São Francisco, onde a instalação feita por um morador

Jovens do Onda doaram seu tempo •• Um grupo de nove jovens

do Movimento Onda, da Igreja São Francisco, trabalharam na seleção de roupas doadas às vítimas do alagamento durante a semana. São alvoradenses de 15 a 18 anos que, além do seu trabalho, também doaram cobertores, produtos de higiene e ração para cães que igualmente ficaram sem lar.

dá acesso à água potável de uma vertente. Mas, o que mais se viu pela cidade foi a solidariedade de proprietários de casas com poços artesianos que colocaram a água à disposição dos vizinhos. Alguns providenciaram até mesmo pequenas placas indicando a disponibilidade de água. MARIU DELANHESE

A todo momento chegavam carros com doações para os desabrigados pelas enchentes em Alvorada. A prefeitura chegou a montar um plano para facilitar as entregas, que envolveu agentes de trânsito, Defesa Civil e Brigada Militar posicionados na rua Wenceslau Fontoura, ao lado do ginásio municipal. A entrega de roupas acontece no Centro Integrado da Criança e Adolescente (Cica). A comida segue para um prédio próximo, assim como também ração para os cães que estão abrigados nas imediações. Durante a semana, dois

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Montanhas de doações se espalharam pela cidade


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Grupo de 15 jipeiros de outras cidades do RS vieram para Alvorada auxiliar no socorro às vítimas

SAVE / DIVULGAÇÃO / OA

DIVULGAÇÃO / OA

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Membros do Save ficaram ao longo da semana apoiando a operação de atendimento na Americana

Ajuda sobre quatro rodas

Socorristas se voluntariaram

O grupo de jipeiros Galera do Tuia se organizou pelas redes sociais e esteve em Alvorada durante a semana auxiliando na remoção dos moradores das áreas alagadas e entregando doações, inclusive de móveis e eletrodomésticos. Na segunda e terça-feira, dias 20 e 21, foram 15 veículos vindos de vários municípios, utilizados principalmente no bairro Americana, sendo que ainda contaram com o reforço de jet-skis e barcos para os locais mais atingidos. É a segunda vez que o grupo atua em Alvorada. A primeira foi em 2013,

Os membros do Serviço de Atendimento Voluntário de Emergência (Save), que atua há anos em Alvorada, também prestou apoio no atendimento às vítimas da enchente. Eles, contudo, precisaram suspender os trabalhos na sexta-feira, por falta de doações. Os custos com barcos, profissionais e uma estrutura mínima utilizada são altos. Faltou diesel, gasolina e óleo, além de ajuda como materiais para continuar junto aos moradores atingidos pelas cheias. Os barcos, principalmente, tem um alto custo de uso. Além do resgate dos moradores e também de

quando também estiveram auxiliando no bairro Sarandi, em Porto Alegre, atingido devido ao rompimento de uma barragem. A Galera do Tuia é formada por jipeiros de todo o Estado e alguns de Santa Catarina que ajudam em situações de calamidade. Outro grupo que está mobilizado é o Fusca Clube de Alvorada, cujos membros organizaram a busca de doações de produtos de higiene pessoal e fraldas em vários pontos da cidade a serem encaminhadas ao ginásio. Os participantes do encontro ocorrido no domingo, dia 26, também contribuíram.

Seu José e seu ônibus de resgate

exposição lhe rendeu montanhas de doações de ração, assim como a garantia da castração dos animais. Houve quem enviasse dinheiro e apoio até mesmo de fora do país. “Pessoas da Alemanha, Inglaterra e Canadá”,

enumera. Em três dias conseguiu doar 40 cachorros. Ainda assim, o número de animais a sua volta não diminuiu. Seu José seguiu indo diariamente no bairro Americana em busca de outros cães desabrigados. A ideia, agora, é conseguir juntar dinheiro para comprar um sítio, onde deve ser instalado um canil. A enchente levou praticamente tudo da casa e da vida de Seu José, mas, ironicamente, lhe trouxe uma novo recomeço, que deve ser trilhado ao lado dos filhos, da mulher e de algumas dezenas de cachorros. Para ajudar, entre em contato pelo telefone (51) 9333-9068. JONATHAS COSTA

A história de José Damião Santos, 48 anos, seu ônibus e os mais de 100 cães resgatados em meio à enchente ganharam repercussão nacional durante a semana. Mesmo com a casa alagada na rua Americana, ele teve disposição para resgatar os animais que acabaram deixados para trás. Alguns deles pela falta de condições para buscá-los, outros porque seus donos estão em abrigos. Após ter passado uma noite dormindo dentro do veículo estacionado em meio ao alagamento, ele foi levado para o pátio de uma associação de moradores na avenida Pátria, no bairro Formoza. Durante o período em que esteve na enchente, chegou a ser mordido por um dos cachorros e precisou utilizar água da chuva para limpar o interior do veículo que, com as dezenas de animais precariamente instalados, ficou imundo. Na terça-feira, dia 23, com a ajuda do grupo de jipeiros, retirou o veículo do local. A história foi noticiada no site do jornal O Alvoradense e no mesmo dia ganhou destaque nos jornais regionais. Na quarta-feira o exemplo de seu José foi parar em rede nacional. A

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Resgate de cachorros comove o país

muitos animais de estimação, os voluntários também realizaram rondas noturnas para evitar os saques. Na quarta-feira, dia 22, em parceria com os bombeiros voluntários, conseguiram um barco com capacidade para 20 pessoas, e equipamentos como foco de luz e materiais específicos. A intenção era ficar a disposição 24 horas para fazer o transporte dos moradores e de água potável e alimentos aos ilhados. O grupo segue em busca de apoio e quem quiser ajudar pode entrar em contado com o presidente da Save, Fabrício Casales, pelo número (51) 9300-7717.

NOTA À POPULAÇÃO DE ALVORADA O Poder Legislativo esteve atuante na tentativa de agilizar que as providências para a volta do abastecimento de água em todos os bairros de Alvorada fossem tomadas com mais rapidez pela Corsan. Com isso, após audiência pública, os vereadores propuseram a criação de uma comissão especial para fiscalizar as ações de melhorias realizadas pela empresa não somente nesse período, como também no decorrer dos próximos anos. Durante o verão, por exemplo, também ocorrem vários problemas na distribuição da água e na qualidade da mesma. Essa comissão é presidida pelo vereador Reginaldo Rocha (PSB) e composta pelos vereadores Leandro Tur, Julio Bala, Neto Girelli, Gerson Luis, Preto e Miro Eletricista. A comissão deve acompanhar e fiscalizar o plano de investimento. Sabemos do momento difícil que a cidade e todos os moradores enfrentam. Tudo o que podemos fazer é pouco para amenizar o sofrimento daqueles que perderam tudo o que adquiriram. Essa situação que atinge a todos nós moradores da cidade tem que ser tratada com prioridade e seriedade pela Corsan. Trabalharemos forte com a comissão para que todos juntos possamos ter um resultado positivo o mais breve possível.

Vereador Reginaldo Rocha Envie seu relato, reclamação ou denúncia sobre os problemas enfrentados durante à crise de abastecimento pelo site www.reginaldorochapsb.blogspot.com.br ou pelo facebook.com/RochaReginaldoPSB. Mesmo depois de deixar o bairro, ele volta para buscar mais cães


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O RECOMEÇO BOLA PRA FRENTE. Após a volta do abastecimento, drama das cheias ainda levará tempo para acabar. Estima-se que até a última casa ficar seca, lá se vão mais quinze dias. Após o completo recuo das

águas, muito ainda terá que ser feito, como a limpeza das áreas, reconstrução das casas e prevenção de doenças. O tão esperado dique segue tramitando, mas não deve evitar a repetição da tragédia em curto prazo.

O dique do Arroio Feijó, que promete colocar no passado o drama das cheias em Alvorada, ainda levará tempo para ser concluído. O projeto faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Além de Alvorada, outros três municípios gaúchos aguardam a retirada do projeto do papel. Alvorada, contudo, é a cidade que está mais avançada no processo – ainda que isso indique, no mínimo, mais quatro anos para a conclusão da obra. No início do mês de

DIVULGAÇÃO / OA

Construção do dique ainda vai levar tempo julho uma audiência pública foi realizada pela prefeitura para apresentar o andamento do projeto. Ele está em fase de estudo de impacto ambiental, etapa que levará mais quatro meses para ser concluída. Após isso, mais seis meses serão precisos para realizar a elaboração do projeto para somente depois da etapa concluída iniciar a licitação da empresa que fará a obra. O dique está orçado em R$ 228 milhões, dinheiro já garantido pelo governo federal.

•• As ruas sofreram com as

Projeto está em fase de estudo

Prefeitura acerta liberação do FGTS Os trabalhadores que moram nas áreas em Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública têm direito a sacar o saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) até o limite de R$ 6,2 mil. Para tanto, a Prefeitura está em tratativas diretamente com o superintendente Nacional de Veículos e Financiamento ao Consumo da Caixa Econômica Federal, Jorge Pedro Lima Filho. Como resultado desta parceria, em breve será montada estrutura junto à prefeitura para os funcionários da Caixa atenderem a comunidade no

ALVORADA

preenchimento dos quesitos necessários para o acesso ao recurso. A intenção é agilizar o tempo de espera pela liberação e o horário de funcionamento será diferente do bancário. Os procedimentos serão comunicados oficialmente à população, informando local e hora e os documentos necessários para acessar o recurso. O prefeito Professor Serginho pediu celeridade na liberação dos recursos aos atingidos pelas cheias e o coordenador da Defesa Civil da cidade, Fernando Ramalho, confia no sucesso da estratégia.

URGENTE

O QUE ESTAMOS PRECISANDO COM GRANDE URGÊNCIA NESTE MOMENTO?

AS PRIORIDADES PARA DOAÇÃO NESTE MOMENTO SÃO: Á G U A P O T Á V E L , A L I M E N T O S N Ã O - P E R E C Í V E I S FRALDAS DESCARTÁVEIS, LENÇOS UMEDECIDOS, ROUPAS DE CAMA, COLCHÕES, TOALHAS DE ROSTO , TOALHAS DE BANHO , PANOS DE PRATO E COPOS DESCARTÁVEIS!. AS DOAÇÕES DEVEM SER FEITAS NO GINÁSIO MUNICIPAL (AV. GETÚLIO VARGAS, 3.290 -NOVA AMERICANA)

Agilizada a limpeza e recuperação de ruas

Documentos necessários • Documento de identificação pessoal. • Carteira de Trabalho. • Cópia autenticada das atas das assembleias que comprovem a eleição, eventuais reconduções e término do mandato, quando se tratar de diretor não empregado. • Número de inscrição PIS/ PASEP/NIS. • Comprovante de residência (conta de luz, água, telefone, entre outros) emitido nos últimos 120 dias anteriores à decretação da emergência ou calamidade havida em decorrência do desastre natural.

chuvas, surgindo vários buracos. Durante a semana a Smov iniciou a Operação Tapa-Buracos com três equipes: uma com asfalto quente e duas com asfalto frio. Os trabalhos a quente iniciaram na avenida Getúlio Vargas e se estendem à Frederico Dihl. As equipes com asfalto frio, estiveram nas ruas Maringá e Itararé, chegando à rua Tiradentes, e as principais ruas do Jardim Algarve. Foi solicitado ao governo do estado o envio de equipamentos para o rescaldo ou limpeza das áreas atingidas.

Secretaria de Saúde na prevenção às doenças •• Um mutirão é organizado

pela Secretaria Municipal de Saúde, que já está atuando junto às comunidades atendidas pelas cheias. Acontece vacinação contra gripe e tétano, assim como também orientação e acompanhamento aos desabrigados. As equipes iniciaram a vacinação no domingo, dia 12, incluindo as pessoas do ginásio, do Centro de Educação Profissional Anísio Teixeira, na Nova Americana, e da Unidade Móvel localizada no Posto Avançado de Atendimento, no bairro Americana.

VENHA SER VOLUNTÁRIO NESSA CORRENTE DE SOLIDARIEDADE PARA SER VOLUNTÁRIO BASTA IR ATÉ O GINÁSIO MUNICIPAL TANCREDO NEVES (AV. GETÚLIO VARG AS, 3.290), CHEGANDO LÁ O VOLUNTÁRIO SERÁ DIRECIONADO AO TRABALHO QUE IRÁ DESENVOLVER NO LOCAL, COMO A PREPARAÇÃO DOS ALIMENTOS, E ORGANIZAÇÃO DAS DOAÇÕES. FAÇA CONTATO COM A DEFESA CIVIL, ATRAVÉS DO TELEFONE

3044.8686

PREFEITURA MUNICIPAL DE

A LV O R A DA

Rio Grande do Sul – Brasil


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