Primavera em Tchernóbil

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26 de abril de 1986. O núcleo do reator da usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, começa a derreter, desencadeando o maior desastre nuclear da História. Enquanto o mundo dormia, uma nuvem carregada de radiação viajou por milhares de quilômetros em todas as direções, contaminando cinco milhões de inocentes. À época, Emmanuel Lepage tinha apenas 19 anos. Mais de 20 anos depois, em abril de 2008, um grupo de ativistas e artistas visita Tchernóbil a fim de documentar a vida dos sobreviventes da tragédia, que vivem nas terras contaminadas. Enviado para representar paisagens brutais de desastre e a loucura do homem, Emmanuel Lepage se surpreende com a inesperada beleza que encontra naquele inóspito lugar. Primavera em Tchernóbil é o resultado do que ele testemunhou. “Tive a oportunidade, pela primeira vez, de fazer uma reportagem em desenhos. Eu não vou ser apenas uma testemunha neste mundo, vou me envolver! Vou ser ativo! Um militante! Nesta profissão, trabalhando sozinho nas minhas pranchas, muitas vezes eu tenho a impressão de estar observando o mundo através de um vidro. De estar ‘à parte’. Desta vez, eu vou sentir o mundo na pele! É um risco, eu sei... Mas tão empolgante! Eu ia descobrir as terras proibidas por onde rondava a morte.” Emmanuel Lepage

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Emmanuel Lepage PRIMAVERA EM TCHERNÓBIL

O MUNDO SEGUIU SEU CURSO, MAS MUITAS PESSOAS FICARAM PARA TRÁS. DESCUBRA O QUE ACONTECEU COM ELAS NESTE DOCUMENTÁRIO EM QUADRINHOS SOBRE TRAGÉDIA E MORTE, PESSOAS E TERRA. E SOBRE O QUE RESTA DEPOIS DE UM DESASTRE.

Emmanuel Lepage

PRIMAVERA EM

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Emmanuel Lepage nasceu em 1966 em Saint-Brieuc, na França. Começou sua carreira em 1983, quando o jornal Ouest-France passou a publicar algumas de suas ilustrações. Lepage é dono de um traço elegante e um notável talento como colorista. Recebeu merecido reconhecimento ao se juntar à prestigiada coleção “Aire Libre”, em colaboração com a escritora Anne Sibran na obra La Terre sans mal, que reconstrói a vida dos índios na Amazônia, e na impressionante série Muchacho, sobre a Revolução Sandinista. Antes de Primavera em Tchernóbil, Emmanuel Lepage publicou outro documentário em quadrinhos intitulado Voyage aux îles de la Désolation, em 2011.

Fernando Paz é tradutor formado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Desde o ano 2000, traduziu mais de trinta textos para o teatro, dos quais dezessete foram encenados. Em HQ, traduziu 19 álbuns das série Spirou, de Franquin, entre muitos outros. Em romance, traduziu A bela adormecida, de C. S. Evans, que recebeu o Selo FLNIJ 2016 de Tradução/Adaptação, os romances infanto-juvenis Os muitos mundos de Albie Bright e A equação de Jamie Drake, de Christopher Edge, e o livro infantil As descobertas fantásticas de Danny Dingle – O Metalmóvel, de Angie Lake.

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Emmanuel Lepage nasceu em 1966 em Saint-Brieuc, na França. Começou sua carreira em 1983, quando o jornal Ouest-France passou a publicar algumas de suas ilustrações. Lepage é dono de um traço elegante e um notável talento como colorista. Recebeu merecido reconhecimento ao se juntar à prestigiada coleção “Aire Libre”, em colaboração com a escritora Anne Sibran na obra La Terre sans mal, que reconstrói a vida dos índios na Amazônia, e na impressionante série Muchacho, sobre a Revolução Sandinista. Antes de Primavera em Tchernóbil, Emmanuel Lepage publicou outro documentário em quadrinhos intitulado Voyage aux îles de la Désolation, em 2011.

Fernando Paz é tradutor formado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Desde o ano 2000, traduziu mais de trinta textos para o teatro, dos quais dezessete foram encenados. Em HQ, traduziu 19 álbuns das série Spirou, de Franquin, entre muitos outros. Em romance, traduziu A bela adormecida, de C. S. Evans, que recebeu o Selo FLNIJ 2016 de Tradução/Adaptação, os romances infanto-juvenis Os muitos mundos de Albie Bright e A equação de Jamie Drake, de Christopher Edge, e o livro infantil As descobertas fantásticas de Danny Dingle – O Metalmóvel, de Angie Lake.

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TCHERNÓBIL Tradução de Fernando Paz São Paulo, 2020

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Pois o belo nada mais é do que o início do Terrível que ainda suportamos, e se o admiramos é porque, sereno, desdenha destruir-nos. Todo anjo é terrível. R. M. Rilke, Elegias de Duíno

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“Feche as janelas… Há um incêndio na central. Não demoro, eu já volto.”

“Os soldados gritavam: os carRos estão radioativos… não se aproximem!”

“Muitos médicos, enfermeiras e, sobretudo, auxiliares daquele hospital iriam adoecer… morRer… mas na época ninguém sabia…”

“Eu estava grávida. Mas como eu poderia deixá-lo? Ele suplicava: ‘saia daqui, salve o bebê!’”

“As estradas foram fechadas… os trens pararam de circular.”

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“Onde eles estavam deitados, até as paredes faziam disparar os medidores de radiação.”

“As mucosas escorRiam em camadas… em películas brancas…”

“Eu o amava!”

“Minhas roupas, minha bolsa, minha carteira, meus sapatos, tudo ‘ardia’.”

“Meu amor!… Você não pode me abraçar! Não pode me beijar!”

“A pele dos braços, das pernas, rachava… o corpo todo se cobria de bolhas…”

“O que está aí na sua frente não é mais o seu marido, mas um objeto radioativo…”

Onde estamos? Na fronteira, eu acho. Estão trocando os eixos.

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“Ele não pasSava de uma enorme ferida… Ergui seu braço e o osSo se deslocou, porque a carne tinha descolado…”

Ouça, Gildas:

“Pedaços de pulmão, de fígado, saíam pela sua boca… ele engasgava com as próprias vísceras…”

“Em uniforme de gala, puseram ele dentro de um saco plástico e deram um nó… e esSe saco foi posto dentro de um caixão de madeira… EsSe caixão foi coberto com outro saco transparente, mas grosSo como uma lona… e tudo isSo foi posto dentro de um caixão de zinco…”

“Dei à luz duas semanas antes do previsto… ela estava com cirRose…”

“Quatro horas depois, me disSeram que minha filha tinha morRido.”

O que é que vamos fazer lá?

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Posto da fronteira Polônia-Ucrânia. Noite de 28 para 29 de abril de 2008.

“Minha horta ficou radioativa. toda branca, como que salpicada por alguma coisa, como migalhas…”

“Os pasSarinhos se chocavam contra o para-brisa feito cegos, feito loucos… como se cometesSem suicídio.”

<Controle de pasSaporte!>* <O que estão fazendo aqui?>

PasSaporte!

<Ahn, somos artistas, ahn… ilustradores.> Trechos entre <> foram traduzidos do alemão.

<Estamos indo para Tchernóbil.>

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“Os robôs não funcionavam mais, os aparelhos e as máquinas estavam ficando loucos, mas nós trabalhávamos. E estávamos orgulhosos!”

“Voltamos para casa, tirei toda a roupa que estava usando e joguei no lixo.”

“Mas dei meu quepe para o meu filho. Ele me pediu tanto. E usava o tempo todo.”

“Dois anos depois, descobriram que ele estava com um tumor no cérebro…”

“Aquela chuva morna de abril… as gotas caíam como mercúrio. Dizem que a radiação não tem cor, mas as poças eram verdes ou amarelas, fluorescentes.”

“Na hora de partir, pus numa sacola um pouco da terRa do túmulo da minha mãe e me ajoelhei: ‘Me perdoe por te deixar’. As pesSoas escreviam o próprio nome nas paredes de casa. Nas vigas. Nas cercas. No asfalto.”

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Terça, 29 de abril de 1986. Jornal AntenNe 2.

“Foi um acidente, um acidente, oficialmente o primeiro desSa natureza, um acidente com vítimas.”

“EsSas foram as únicas informações fornecidas pela agência oficial TasS de Moscou sobre o que aconteceu na noite de sábado para domingo na central elétrica nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, a cem quilômetros da cidade de Kíev.”

“A agência de informação americana UPI, citando testemunhas, membros das equipes de socorRo, estima que haveria mais de 2.000 mortos.”

“Uma central nuclear, orgulho da tecnologia soviética, 4.000 megawatTs, inaugurada há apenas dois anos e apresentada como um modelo de segurança…”

30 de abril.

“Esta é a primeira foto divulgada pela televisão soviética. A cobertura do edifício foi pulverizada pela liberação do vapor.”

“Uma série de fotos feitas pelo satélite americano civil Landsat prova que um segundo reator derReteu esta noite na União Soviética.”

“Sábado, o núcleo do reator começou a derReter. O sistema de refrigeração se espalhou todo na atmosfera, levando a contaminação até centenas de quilômetros dali.”

“Enquanto especialistas ocidentais falam em centenas, talvez milhares de vítimas, até este momento Moscou reconhece apenas dois mortos.”

A batalha dos números está apenas começando.

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Abril, 1986. Tenho 19 anos.

Dois blocos se enfrentam.

É a GuerRa Fria.

Uma certeza apenas: algo infinitamente grave aconteceu lá, do outro lado da cortina de ferRo.

Os suecos descobrem a catástrofe ao observar uma taxa anormal de radioatividade sobre seu terRitório.

Uma nuvem já percorReu milhares de quilômetros sem que ninguém soubesSe… nem se protegesSe.

Uma nuvem invisível e inodora, levando ao sabor dos ventos sua poeira radioativa, vai fazer a Europa e depois o mundo mergulharem num mar de angústia, durante algumas semanas.

Depois dos países escandinavos, ela avança sobre a Alemanha Oriental, a Checoslováquia…

Moscou não pode mais negar… … e pede ajuda à Suécia.

O acidente de Tchernóbil começa a dividir o bloco soviético.

EsSa é minha primeira lembrança de Tchernóbil.

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A República Federal da Alemanha, a Bélgica, os Países Baixos, a Áustria e a Itália proíbem o consumo de produtos frescos. As vacas ficam fechadas nos estábulos.

Os veículos que vêm do Leste são controlados nas fronteiras da Alemanha Ocidental e da Áustria, lavados, se necesSário, e os produtos frescos são examinados.

Na França, nada.

Com o auxílio insistente de fotos de satélites e entrevistas com especialistas, explicam que a nuvem radioativa não atravesSou o terRitório francês.

Alguns políticos – talvez mal informados – tranquilizam a todos, apaixonada e energicamente.

Levará semanas até que as autoridades francesas admitam que a nuvem tinha atravesSado a França, cobrindo um terço do seu terRitório com Césio 137. “Não há nenhum problema de segurança na França.”

“Não temos nada a esconder, não há nenhum risco para a saúde, nenhum motivo para inquietação.”

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Primavera em Tchernóbil Un printemps a Tchernobyl Copyright © 2012 Futuropolis. All rights reserved Copyright © 2020 by Novo Século Editora Ltda. Todos os direitos reservados

EDITOR Luiz Vasconcelos AQUISIÇÃO Vitor Donofrio COoRDENAÇÃO EDITORIAL Bruna Casaroti TRADUÇÃO FERNANDO PAZ REVISÃO Jacob Paes/vitor donofrio EDIÇÃO DE ARTE Joel Lobo

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Lepage, EmManuel Primavera em Tchernóbil/EmManuel Lepage ; tradução de Fernando Paz. Barueri, SP : Novo Século Editora, 2020 ISBN: 978-85-428-1728-7 Título original: Un printemps à Tchernobyl 1. Histórias em quadrinhos 2. Usina Nuclear de Chernobyl 3. Reatores nucleares - Acidentes - 1986 - União Soviética I. Título II. Paz, Fernando 20-2033

CDd-741.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5

Novo século Editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 - Bloco A - 11O andar - Conjunto 1111 CEP 06455-000 - AlphavilLe Industrial, Barueri - SP - Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 wWw.gruponovoseculo.com.br | atendimento@gruponovoseculo.com.br

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Compartilhando propósitos e conectando pessoas Visite nosso site e fique por dentro dos nossos lançamentos: www.novoseculo.com.br

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Edição: 1a, jun/2020 Fonte: Sequentialist BB

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26 de abril de 1986. O núcleo do reator da usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, começa a derreter, desencadeando o maior desastre nuclear da História. Enquanto o mundo dormia, uma nuvem carregada de radiação viajou por milhares de quilômetros em todas as direções, contaminando cinco milhões de inocentes. À época, Emmanuel Lepage tinha apenas 19 anos. Mais de 20 anos depois, em abril de 2008, um grupo de ativistas e artistas visita Tchernóbil a fim de documentar a vida dos sobreviventes da tragédia, que vivem nas terras contaminadas. Enviado para representar paisagens brutais de desastre e a loucura do homem, Emmanuel Lepage se surpreende com a inesperada beleza que encontra naquele inóspito lugar. Primavera em Tchernóbil é o resultado do que ele testemunhou. “Tive a oportunidade, pela primeira vez, de fazer uma reportagem em desenhos. Eu não vou ser apenas uma testemunha neste mundo, vou me envolver! Vou ser ativo! Um militante! Nesta profissão, trabalhando sozinho nas minhas pranchas, muitas vezes eu tenho a impressão de estar observando o mundo através de um vidro. De estar ‘à parte’. Desta vez, eu vou sentir o mundo na pele! É um risco, eu sei... Mas tão empolgante! Eu ia descobrir as terras proibidas por onde rondava a morte.” Emmanuel Lepage

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Emmanuel Lepage PRIMAVERA EM TCHERNÓBIL

O MUNDO SEGUIU SEU CURSO, MAS MUITAS PESSOAS FICARAM PARA TRÁS. DESCUBRA O QUE ACONTECEU COM ELAS NESTE DOCUMENTÁRIO EM QUADRINHOS SOBRE TRAGÉDIA E MORTE, PESSOAS E TERRA. E SOBRE O QUE RESTA DEPOIS DE UM DESASTRE.

Emmanuel Lepage

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