A Bíblia de Álef a Ômega - Rodrigo Silva

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A BÍBLIA DE ÁLEF A ÔMEGA Rodrigo Silva

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SÃO PAULO, 2020

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A BÍBLIA DE ÁLEF A ÔMEGA Copyright © 2020 by Rodrigo Silva Todos os direitos desta publicação reservados para Ágape Editora e Distribuidora Ltda.

DIREÇÃO GERAL: Luiz Vasconcelos EDITOR RESPONSÁVEL: Omar Souza PREPARAÇÃO DE TEXTO: Luiz Werneck, Omar Souza REVISÃO DE TEXTO: Pedro Nagem REVISÃO TÉCNICA: Clodoaldo Tavares dos Santos e Evandro L. Cunha CAPA: Rafael Brum PROJETO GRÁFICO: Sonia Peticov DIAGRAMAÇÃO: Bruna Casaroti Imagens reproduzidas sob licença de Shutterstock.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Silva, Rodrigo A Bíblia de álef a ômega : um guia para entender como a Bíblia chegou até nós / Rodrigo Silva. -- São Paulo : Ágape, 2020. 352 p. Bibliografia 1. Bíblia - História 2. Bíblia - Miscelânea 3. Bíblia - Antiguidades 4. Arqueologia I. Título

20-1885

CDD 220.09

Índice para catálogo sistemático: 1. Bíblia - História ISBN versão impressa: 978-65-5724-007-6 ISBN versão ebook: 978-65-5724-008-3

EDITORA ÁGAPE LTDA. Alameda Araguaia, 2190 — Bloco A — 11o andar — Conjunto 1112 CEP 06455-000 — Alphaville Industrial, Barueri — SP — Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.editoraagape.com.br | atendimento@agape.com.br

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“O dr. Rodrigo Silva conseguiu uma proeza da alquimia literária: fundir elementos tão distintos e divergentes numa solução elegante e honesta. A magia desta obra consiste em nos guiar passo a passo ao mundo descrito nos textos bíblicos. O autor abrange desde noções de crítica textual, passando pelos delicados e complexos temas da canonização, até nos convidar a confiar na veracidade das Sagradas Escrituras. Um texto singular por dizer tanto em tão poucas páginas. Mais que um texto, um convite à teologia bíblica.” Evandro L. Cunha, Ph.D., professor de Teologia, Religião e Filosofia no Uninta, doutor em Línguas e Culturas Antigas pela Universidade de Barcelona

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“Compreender as nuances da construção do texto bíblico sempre se demonstrou um grande desafio para todos os que buscaram empreender essa nobre tarefa. Neste livro, o dr. Rodrigo Silva apresenta um estudo detalhado sobre elementos imprescindíveis e basilares da constituição do livro sagrado para os cristãos, a Bíblia. O livro trata da Bíblia como obra divino-humana e suas nuances históricas, literárias e teológicas. E para todos os que desejam ampliar seu conhecimento e tentar mudar a realidade temerária da desculturalização bíblica emergente brasileira, o estudo desta literatura é uma ótima opção.” Pr. Clodoaldo Tavares dos Santos, professor de Grego e Novo Testamento na Faama, mestre em Teologia — EST, doutorando em Novo Testamento na UAP

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SUMÁRIO Introdução 11 1 A Bíblia como literatura

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2 Como surgiu a Bíblia

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3 Seleção dos livros

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4 Livros perdidos, banidos, adotados

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5 Organização dos livros

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6 A História da escrita

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7 Escrevendo a Palavra de Deus

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8 A transmissão do texto bíblico

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9 Do pergaminho à internet

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10 Crítica textual do Novo Testamento

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11 Crítica textual do Antigo Testamento

148

12 Compreendendo as Escrituras

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13 A Bíblia hoje

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14 Conhecimento que liberta

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15 Como ler e entender a Bíblia?

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16 Que tradução devo usar?

226

17 Uma coletânea de histórias

240

18 Fatos e curiosidades bíblicas

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19 Considerações finais

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Referências 348

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INTRODUÇÃO

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A Bíblia, um livro fascinante Ainda me lembro com nostalgia quando, aos sete anos, pedi a meus pais uma Bíblia Ilustrada de presente. Era uma manhã de domingo e um vendedor chegou à minha casa oferecendo o precioso livro, já que meu pai não comprara dele a enciclopédia que tentou lhe vender. Com muita insistência, acabei ganhando aquele exemplar sob a forte advertência de que aquele seria meu presente de Natal e que não adiantava pedir outra coisa. Eu nem liguei. Já tinha o que queria. Apesar de crescer num ambiente não religioso ― meus pais eram “católicos não praticantes” ―, minha devoção pelo Santo Livro começara desde cedo. Era uma Bíblia grande, capa preta e dourada, ilustrada a quatro cores, repleta de quadros renascentistas, alguns Caravaggio e outros tipos que ilustravam as histórias do Antigo e do Novo Testamentos. Eu decorei cada desenho e ficava me exibindo para as visitas, passando uma por uma as páginas ilustradas e dizendo do que se tratava. Coisa de criança. Depois vieram os estudos teológicos, o tempo passado em Israel e outros estudos mais. Porém, nunca me desliguei desse livro. Eu sempre soube que alguma coisa dentro dele daria um rumo especial à minha vida. Não deu noutra: aqui estou eu publicando pela Editora Ágape mais um título, visando tornar conhecido o conteúdo do maior livro de todos os tempos. A emoção é tanta que tomei a liberdade de escrever esta introdução num tom autobiográfico. Como dizia Karl Barth, “tenho lido muitos livros, mas a Bíblia é o único livro que me lê”. Verdade! Nas páginas do Gênesis, sinto-me objeto do desejo do Deus que a si mesmo bastava, mas resolveu contar com a humanidade. Quando vou para Êxodo, é como se estivesse fugindo a pé do Egito na companhia dos hebreus. O livro de Jó parece falar das minhas tragédias e o de Eclesiastes, de minhas

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inquietudes. Os evangelhos falam do meu herói (Jesus) e o Apocalipse, da minha esperança. Dizem que um casal resolveu, certa vez e por conta própria, estudar junto uma velha Bíblia que tinha em sua casa. Depois de uma semana lendo todos os dias vários capítulos, o marido virou para a esposa e falou: ― Se esse livro estiver certo, nós estamos errados. Uma semana depois, foi a vez de a esposa falar para o marido: ― Se esse livro estiver certo, nós estamos é perdidos! Na terceira semana, o marido concluiu, maravilhado: ― Se esse livro estiver certo, acho que nós podemos ser salvos! E eu posso garantir para você: o livro está certo! São anos de investigação acadêmica confirmando isso. Contudo, a convicção com a qual escrevo agora ultrapassa em muito as ideias expressas nesta pesquisa. Trata-se de uma certeza que advém da experiência com o Autor do livro, Deus. Aquele que nos criou e inspirou os profetas a traduzir verdades celestes num “sotaque” humano. Homilético demais? Talvez. Então venha comigo conhecer a história da Bíblia Sagrada. Aprenda como seus livros foram escolhidos, como podemos saber que se trata de um livro divino, quem o dividiu em capítulos e versículos, como podemos confiar na transmissão de seu conteúdo… essas e outras temáticas, tenho certeza, falarão à sua alma e fascinarão sua mente. Se você permitir, o mesmo Deus que tocou em minha vida tocará hoje na sua. A Bíblia ainda continua fascinando pessoas. Seja mais um a se deixar ler pelo Sagrado Livro.

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CAPÍTULO UM

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A BÍBLIA COMO

LITERATURA O que é a Bíblia? A Bíblia Sagrada é, sem dúvida, um dos maiores livros da História. Para aqueles que possuem a fé judaica ou cristã, ela é muito mais que um livro antigo e interessante. É a voz de Deus expressa em linguagem humana. Um compêndio por meio do qual o Espírito Santo usou homens para se dirigir com amor à humanidade e revelar os propósitos divinos para ela. Victor Hugo declarou: “A Inglaterra tem dois livros principais, Shakespeare e a Bíblia. A Inglaterra fez Shakespeare, mas a Bíblia fez a Inglaterra.” Poderia ter dito mais. A Bíblia quase fez o mundo inteiro. Praticamente todo o Ocidente e boa parte do mundo oriental. Em que pesem as críticas feitas ao Livro Sagrado, há de se admitir que muitas vidas foram transformadas pela Bíblia, e pessoas dotadas de grandiosíssima envergadura intelectual creram piamente no que ela diz. Logo, não se trata de um livro qualquer. Ninguém nega que seu texto foi produzido por homens. A Bíblia não caiu pronta do céu nem foi ditada por anjos. Contudo, seus autores não falaram sozinhos, eles foram inspirados e movidos pelo Espírito de Deus. Noutras palavras, emprestaram sua voz e estilo para que Deus pudesse falar com “sotaque” humano. E o que o Todo-Poderoso tinha de tão importante para nos dizer? Que ele nos ama e que, aconteça o que acontecer,

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ainda temos um Pai celestial que em breve intervirá uma última vez na História para trazer a justiça e inaugurar a eternidade. Essa mesma visão da inspiração bíblica como um todo pode ser vista em 2Timóteo 3:16: “Toda Escritura é divinamente inspirada por Deus” (theópneustos, lit. “soprada pelo Espírito de Deus”; em hebraico, beruach há-kodesh). Logo, pode-se dizer que a Bíblia foi um presente dado pelo céu a cada um de nós. Nenhuma obra literária enfrentou maior questionamento crítico-científico do que o texto da Bíblia Sagrada. Muitos a acusaram de ter sido modificada ao longo dos anos para satisfazer os interesses políticos da Igreja. Mas isso não é verdade. Graças a diferentes critérios acadêmicos e laboratoriais, podemos dizer que temos em mãos praticamente o mesmo conteúdo dos livros canônicos originais, da forma como saíram das mãos dos autores inspirados. Ainda que um texto ou outro seja tema de disputas hermenêuticas e tenhamos reconhecidos problemas de crítica textual (como algumas discrepâncias entre os diferentes manuscritos), aquilo que era importante para a salvação dos homens foi maravilhosamente preservado. Tanto a origem como a preservação do texto bíblico são fortes argumentos para a existência do Deus que inspirou essas páginas. Afinal de contas, sempre que alguém precisa confirmar algo a seu favor, apela-se para uma testemunha superior (ainda que circunstancialmente) que possa apresentar um depoimento em sua defesa. É assim que funcionam os procedimentos jurídicos em geral, e também algumas questões corriqueiras do dia a dia. Um pai que confirma para o diretor que o filho de fato esteve doente pode ajudar tremendamente na reposição de uma prova. Por isso, pode-se dizer que a testemunha tem autoridade singular, pois confere certeza ao depoimento de uma pessoa. Deus, no entanto, por ser incomparavelmente maior, não precisaria de outro (circunstancialmente superior) que desse testemunho a seu respeito. Ele em si mesmo se basta. Contudo, por sua infinita bondade, Deus preferiu contar conosco. É neste sentido que sua Palavra é, ao mesmo tempo, um testemunho que ele dá de si usando seres humanos para reproduzi-la. A Bíblia é, em síntese, um grande testemunho da existência de Deus.

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O livro mais famoso do mundo A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais impresso e divulgado no mundo inteiro. Seria também o mais estudado? Difícil dizer. Mas o fato é que uma pesquisa das Sociedades Bíblicas Unidas (UBS, a sigla em inglês) concluiu que cerca de 2,5 bilhões de cópias tinham sido impressas e distribuídas entre 1815 e 1975. Porém, mais recentemente, o livro Guiness de recordes publicou que esse número superaria 5 bilhões de exemplares distribuídos em 349 idiomas (algumas fontes falam em 6 bilhões).1 Se considerarmos ainda aqueles que têm pelo menos partes da Bíblia em seu vernáculo, esse número saltaria para mais de 2,4 mil línguas e dialetos ao redor do mundo que possuem a Bíblia traduzida no todo ou em parte.2 Somente os Gideões Internacionais distribuem por dia mais de 170 mil exemplares da Bíblia em todo o mundo. Isso significa que, a cada minuto — ou o tempo em que você levar para ler toda essa página —, 120 novas bíblias foram entregues em diferentes cantos do planeta. O segundo livro no ranking dos mais publicados e distribuídos do mundo seria o famoso Livro Vermelho, do líder comunista Mao Tsé-Tung, que trazia citações do ditador chinês compiladas por Lin Piao, seu ministro da Defesa. Diferentemente da Bíblia, a distribuição e a leitura eram obrigatórias, impostas pelo governo. Mesmo assim, o que se tem aqui é um distante segundo lugar, pois, de acordo com as fontes oficiais, o Livro Vermelho estaria disponível em menos de quarenta idiomas, com uma tiragem de pouco mais de 1 bilhão de cópias distribuídas pela China e restante do mundo. Que contraste, não é mesmo? E as diferenças não param por aí. O conteúdo de ambos os livros é assombrosamente diferente. De acordo com o Livro Vermelho de Mao, “devemos apoiar tudo o que o inimigo combate e combater tudo o que o inimigo apoia”. E mais: “A revolução é uma insurreição, um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra.” Já na contramão dessa cultura, temos os ensinos de Cristo, que diz: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho

1 Disponível em http://www.statisticbrain.com/bibles-printed/. Acesso em 9/6/2015. 2 Disponível em http://www.guinnessworldrecords.com/world-records/best-selling-book-of-non-fiction. Acesso em 2/6/2015.

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também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12). Além disso, temos o conselho de Paulo: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12:21). O Livro Vermelho tornou-se uma espécie de bíblia para a juventude chinesa dos anos 1960 e 1970, e foi peça-chave do maior fervor ou fanatismo revolucionário do século 20, a chamada Revolução Cultural, que ceifou a vida de muitas pessoas e tornou a China um dos países mais isolados do mundo inteiro.

Alguns podem argumentar que a Bíblia também provocou muitas mortes nos tempos da Inquisição, mas isso não é verdade. Foi a autoridade eclesiástica de então que mandou matar em nome da fé. A leitura da Bíblia, além de proibida para a população em geral, era um dos motivos da pena capital, pois muitos foram mortos apenas por ter em casa um exemplar do Livro Sagrado ou tentar lê-lo por conta própria sem autorização da Igreja. Autoridade eclesiástica e ensinamentos bíblicos não são, necessariamente, sinônimos perfeitos. A história, portanto, das Escrituras Sagradas está bem distante daquela relacionada ao Livro Vermelho da China comunista.

Nomes para a Palavra de Deus

▶▶ Bíblia Não encontramos nas Escrituras o nome “Bíblia”. Esse título foi usado pela primeira vez, em relação à Palavra de Deus, por João Crisóstomo, patriarca e reformador de Constantinopla (354-407 d.C.). O nome Bíblia deriva de Byblos, que é o nome de uma importante cidade portuária da região dos fenícios que hoje fica no Líbano. Foram os gregos que deram esse nome ao lugar devido à sua importância no comércio de papiro, um tipo de papel importado do Egito. Aliás, Byblos também era

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o nome que os gregos davam ao papel que os egípcios preferiam chamar de “wadj” (ou ). Com a diferença de apenas uma letra, Byblos virou Biblos e passou a significar “livro”. O diminutivo de livro em grego é biblion, que quer dizer “livrinho”, e o plural é bíblia, que quer dizer “livrinhos”. Foi justamente por ser uma coleção de pequenos livros que a Escritura Sagrada passou a ser chamada de Bíblia, nome este que ficou até os dias de hoje.

Tudo indica que foi Crisóstomo, um autor cristão do século 4, que usou pela primeira vez o nome Bíblia para se referir ao Antigo e Novo Testamentos. Contudo, há indícios de que já em 223 d.C. o título era vez ou outra usado por seguidores do cristianismo para referirem-se aos escritos dos apóstolos e, antes deles, judeus helenistas que viviam em Alexandria valiam-se da expressão “ta bíblia” (os livrinhos) para indicar uma tradução grega do Antigo Testamento normalmente conhecida como Septuaginta. Mais à frente você conhecerá a história dessa tradução.

▶ Escritura Sagrada No contexto do judaísmo, a expressão Escritura Sagrada é preferível à palavra Bíblia, tida pelos judeus como um apelido cristão. No próprio contexto neotestamentário também sempre se faz uso de termos como “Escritura”, “Oráculos Sagrados”, mas nunca de Antigo ou Novo Testamentos. Essa divisão surge com a perspectiva teológica de antiga e nova alianças. Eles também se valem muito do termo Tanak, que seria uma abreviatura de três palavras hebraicas, a saber: Torá (lei), Neviim (profetas) e Ketuvim (escritos). Estas, por sua vez, representam as três maiores divisões da Escritura, embora também seja comum referirem-se a ela como apenas a Torá, ou a Lei e os Profetas. Essa divisão, aliás, já era conhecida nos tempos do Novo Testamento, pelo que Jesus fez uso dela em diversos momentos de seu ministério (cf. por ex. Mateus 7:12; 11:13; 22:40; Lucas 10:26; 16:16, 17; 24:44; João 1:45; 10:34).

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Hoje em dia, os cristãos costumam dividir a Bíblia em Antigo e Novo Testamentos. Essa é uma nomenclatura que não pode ser confundida, pois, com o advento de uma cultura tecnológica repleta de updates e novas versões, a palavra “Antigo” ou “Velho” Testamento pode indicar algo obsoleto, sem valor para atualidade, fora de moda. Contudo, não é nada disso. Toda a Palavra de Deus, do primeiro ao último livro, será sempre atual para aquele que crê.

▶▶ Antigo e Novo Testamento O nome Antigo Testamento foi criado por Melito de Sardes em cerca de 170 d.C. para referir-se aos livros sagrados escritos antes da vinda de Jesus Cristo a este mundo. Ele não menciona a expressão Novo Testamento, mas o conceito parece implícito em seu comentário, pois seria a sequência natural de escritos, tanto que um documento antimontanista da mesma ocasião referiu-se ao cânon cristão como sendo a palavra do “Novo Concerto (Testamento) do Evangelho”. A expressão Novo Testamento, neste caso, tornou-se o título da coleção de livros canônicos que foram escritos depois do nascimento de Cristo. A primeira parte, portanto, seria uma espécie de prenúncio do Messias que haveria de vir, e a segunda, um anúncio do Messias que veio e que voltará. A primeira conta a história da criação do mundo e da queda da humanidade, mas se concentra na história de Israel. Já a segunda concentra-se no ministério de Jesus e na história da igreja cristã primitiva. E por que Antigo e Novo Testamento, e não Antiga e Nova Escritura? A bem da verdade, algumas antigas versões gregas preferiam chamar essas porções de Antiga e Nova Alianças (palaia diathéke e kainé diathéke). Mas, ao que tudo indica, os teólogos consideraram que, sendo a aliança ou o acordo de Deus com a humanidade algo que demanda muito mais a ação divina que a ação humana, seria preferível traduzir o termo por testamentum, que quer dizer justamente isso, um testamento que Deus, em pessoa, deixou para nós. Uma herança em forma de livro, daí o uso dos nomes latinos Vetus Testamentum (Antigo Testamento) e Novum Testamentum (Novo Testamento).

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Peculiaridades de um livro Além da grande tiragem mencionada anteriormente, há muitos outros detalhes que fazem da Bíblia um livro incomum, ou, mais propriamente, um livro sem igual. • A Bíblia foi o primeiro livro impresso no Ocidente por Johannes Gutenberg, entre 1450 e 1455. Ela também foi o primeiro livro impresso em português, no ano de 1487, na região do Algarve, Portugal. • Foi também o livro mais proibido, perseguido e que sofreu tentativas de destruição em toda a História. Só à guisa de ilustração, em 303 d.C. Diocleciano decretou que toda cópia da Bíblia cristã fosse queimada. Presume-se que centenas, se não milhares de cópias tenham se perdido. Por pouco não teríamos o Novo Testamento. Muitos foram mortos apenas por ter uma cópia parcial da Bíblia em seus lares. • Até mesmo a igreja foi contrária à divulgação bíblica. Em 1199, o papa Inocêncio III proibiu a tradução da Bíblia para o vernáculo francês e decretou que seria um perigo se ela fosse lida por pessoas simples do povo. Quem fosse apanhado lendo-a ou ensinando-a na França seria morto. Várias bíblias foram queimadas a mando da igreja. • Apesar de tantas destruições textuais, a Bíblia é o livro da Antiguidade com a maior quantidade de cópias manuscritas de que se tem notícia. Enquanto a Ilíada de Homero (o clássico com maior número de cópias preservadas) conta com apenas 1.757 manuscritos, a Bíblia tem mais de 40 mil cópias, se incluirmos os textos em grego e hebraico, as traduções antigas e porções preservadas antes da invenção da imprensa. • A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais controverso da História. Nomes de peso, como Immanuel Kant (1724-1804), Abraham Lincoln (1809-1865) e Isaac Newton (1643-1727) o amaram e o recomendaram sem qualquer hesitação. Por outro lado, nomes igualmente de peso rejeitam e desprezam sua leitura — Voltaire (1694-1778), Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) são alguns deles. Seja como for, percebe-se que não é um livro necessariamente dos menos intelectuais, pois, embora haja mentes brilhantes que o rejeitem, há outras que o amam profundamente.

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• Curiosamente, o texto bíblico não se setoriza em apenas um grupo de pessoas. Ele desperta o interesse e atende as necessidades de jovens, adultos, crianças, cultos, iletrados, ricos e pobres. É a obra mais ecleticamente social de toda a História tanto do Ocidente como do Oriente. • Embora existam muitos livros de autoajuda ou reflexivos que tenham mudado a mente de várias pessoas, nenhuma produção literária da História modificou tantas vidas como a Bíblia Sagrada. Bêbados, traficantes, prisioneiros, depressivos, suicidas potenciais e assassinos são apenas alguns dos milhões e milhões que tiveram a vida transformada pelo contato com esse livro em particular.

Certa vez, ouvi que a Bíblia poderia ser comparada a uma piscina cheia de água. Uma piscina com uma parte tão rasa que as crianças poderiam ficar de pé e outra tão profunda que um elefante poderia nadar nela sem qualquer dificuldade. Pois bem, a Bíblia é um maravilhoso compêndio que contém passagens, em alguns casos, bem densas e profundas, mas, de maneira geral, se apresenta como um conteúdo simples o bastante para que qualquer um possa, por conta própria, ler e entender os desígnios de Deus para cada pessoa. (Bruce Metzger, especialista em crítica textual do Novo Testamento)3

Livro perigoso? A Bíblia foi escrita por homens como nós, escolhidos pela providência divina para colocar em linguagem humana aquilo que Deus queria revelar a seus filhos. Mas o que quer dizer esse “como nós”? Não seriam homens especiais? Claro que sim, porém não no sentido que muitos interpretam. As calejadas mãos que escreveram a Bíblia não eram de super-heróis, mas de pessoas errantes, sujeitas às mesmas paixões de qualquer ser humano. A diferença, portanto, não estava em que fossem perfeitos ou jamais errassem, mas no fato de que amavam a Deus e não recusaram o chamado recebido do céu. Dentre esses autores, temos nomes como Moisés, Davi,

3 Disponível em https://www.visionvideo.com/files/DTB_ColorBookLR.pdf.

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Edição: 1ª edição junho 2020 Tiragem: 3000 exemplares Fonte: Literata Book

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TODA ESCRITURA É DIVINAMENTE INSPIRADA E PROVEITOSA... 2 TIMÓTEO 3:16

Em seus 2 mil anos de História, os cristãos passaram a ser conhecidos como “o povo do Livro”, dada sua reverência às Escrituras. Acontece que a Bíblia não chegou pronta, como se caísse do céu de uma só vez. O cânon (conjunto dos textos considerados sagrados) é uma construção histórica e espiritual que envolveu não apenas a revelação divina gradual, mas também a participação de pessoas divinamente inspiradas, cada uma a seu tempo e dentro de um contexto específico. Em A Bíblia de álef a ômega, o pastor, teólogo e escritor Rodrigo Silva, uma das maiores autoridades brasileiras sobre o tema, mostra como a Palavra de Deus chegou aos nossos dias e por que ela é digna de credibilidade. O autor aborda todos os aspectos envolvidos nesse processo: os redatores do Antigo e do Novo Testamento, os idiomas utilizados, os originais usados como fontes e os critérios de autenticidade, a diferença entre a Bíblia usada pelos evangélicos e as demais, entre muitas outras informações. A Bíblia de álef a ômega (título que alude à primeira letra do alfabeto hebraico e à última do alfabeto grego) é uma obra fundamental e definitiva para estudiosos, líderes de igrejas, teólogos, seminaristas e leigos interessados em entender a trajetória das Sagradas Escrituras.

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