Éros: a guerra pelo trono

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Ralph Willians

ÉROS

A guerra pelo trono Livro um

talentos da literatura brasileira

São Paulo, 2014

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Copyright © 2014 by Ralph Willians Coordenação Editorial Letícia Teófilo Diagramação Luiz Fernando Chicaroni Capa Monalisa Morato Preparação Fabrícia Romaniv Revisão Fernanda Guerriero Patricia Almeida Texto adequado às normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Willians, Ralph Éros : a guerra pelo trono, livro um / Ralph Willians. -- 1. ed. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- (Talentos da literatura brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título II. Série. 14 - 07049

CDD - 869.93

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA - Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 - 11° andar Bloco A - Conjunto 1111 CEP 06455-000 - Alphaville Industrial - SP Tel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pela saúde, fé e perseverança que tem me dado; à minha família, fiel companheira na hora da tribulação; aos meus amigos, pelo incentivo à busca de novos conhecimentos; e a meu pai, do qual, mesmo estando ausente em toda a minha vida, jamais me esqueci — e acho que viverei sempre com a esperança de, um dia, encontrá-lo. Ralph Willians

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Caro leitor, Quando resolvi escrever um livro, nunca imaginei que me custaria noites em claro e muita dedicação. No entanto, nada tenho a reclamar, pois tive o prazer de mergulhar nos meus próprios sonhos e descobrir coisas que nunca imaginei possuir. Confesso que, em certos momentos, minha dedicação a esta obra foi tamanha que tive a impressão de vivenciar todos os acontecimentos narrados. Este livro me permitiu vivenciar cada personagem e fez que eu me entregasse de paixão na grande guerra entre o bem e o mal e na deliciosa aventura vivida em Éros, planeta paralelo ao nosso. Acredito que você achará a trama enigmática, com histórias secretas, suspenses e reviravoltas inesperadas, repleta de seres que serão um deleite aos olhos. Espero que se divirta ao ler essa fantástica aventura do mesmo modo que me diverti ao escrevê-la. Ralph Willians

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Prólogo Esta é a história de um jovem que, depois de conseguir uma pedra indígena na feira de sua escola, ligou-se mentalmente a outro mundo e começou a ver vultos e a ouvir sussurros. Sua mente, então, passou a confundi-lo com visões ou alucinações de um índio pedindo sua ajuda. Depois de todo o esforço feito para fugir, o garoto se deu conta de que seu pesadelo só teria fim quando ele aceitasse ir a um submundo desconhecido. Ao chegar a esse mundo, aparentemente encantador, por ironia ou consequência, ele deu início a uma antiga profecia e libertou um grande mal e todo o seu exército sombrio. Agora, o planeta está ameaçado e uma guerra já é inevitável, pois esse mal destruirá qualquer um para se sentar no grande trono de Éros. Outros guerreiros se juntam para se aliar nessa batalha e começa, então, uma jornada para salvar o planeta. No meio dessa guerra, cidades serão destruídas, pactos serão quebrados e segredos, revelados.

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I O pedido de ajuda Sempre acreditamos ser o centro do universo. Nascemos, crescemos e aprendemos que a Terra é o único planeta habitado, mas será que tudo o que sabemos é verdade? Será a Terra o único planeta capaz de conter vida? Muitos dariam tudo para obter essas respostas, porém apenas um saberá da verdade.

E

m uma pacata cidade no interior do Rio de Janeiro vivia um jovem rapaz que, como qualquer outro adolescente, tinha uma vida normal, mas ele nem desconfiava que ela mudaria radicalmente. Seu nome era Alex, um jovem muito observador e calado na maioria das vezes. Na escola sentia-se em casa, tinha muitos amigos, mas algo sempre o incomodava. Ele mesmo não entendia por que e por muitas vezes acreditava estar no planeta errado, como se a Terra fosse sua mãe adotiva. Em casa, sua mãe sempre dava o apoio de que ele precisava, mas nada poderia substituir seu pai, que, mesmo presente, não supria suas necessidades.

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Em uma tarde, ao chegar da escola, Alex seguiu direto à cozinha, onde pegou seu prato de nuggets com refrigerante; de lá foi para a sala, ligou a TV e sentou-se em frente a ela. Sua mãe, ao perceber o silêncio do filho, foi ao seu lado no sofá e perguntou: — Tudo bem com você, meu querido? — Tudo em ordem, mãe. — Alex, eu o conheço e sei que algo o perturba. Vamos, diga-me. — Não sei como explicar, mãe. Sinto-me vazio. Meu pai não me dá atenção e isso me deixa desorientado. Na escola, meus amigos sempre contam sobre os fins de semana que passaram com seus pais, e eu tenho de inventar sempre. — Filho, seu pai ama você, mas ele trabalha muito. Não é fácil manter o padrão de vida que temos, e isso requer muito sacrifício; muitas vezes, a família perde por um lado. — Não é justo. Como posso ter um pai e, ao mesmo tempo, não ter? — perguntou Alex, com os olhos lacrimejando. — Seu pai lhe ama muito. Ele pode não saber como se expressar, mas ele lhe ama! — Sinto algo errado também comigo. Às vezes, penso que estou louco. Parece que não estou em meu planeta natal e me pego imaginando lugares e paisagens que não existem aqui — disse Alex. — Você é igual ao seu pai quando era mais jovem. Um verdadeiro sonhador. Por muitas vezes, quando namorávamos, eu o ouvi contar a mesma história e ainda a ouço. Ele sempre me dizia que era um intruso neste mundo. 12

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No início me assustei, mas, depois, acostumei-me e cheguei até a entrar nessa imaginação com ele — falou sua mãe com um grande sorriso. — Então é verdade? Posso não ser deste mundo? — Querido, é normal garotos da sua idade imaginarem coisas, mas sinto ter de dizer que você é deste mundo. Os dois conversaram durante um bom tempo até o pai chegar apressado do trabalho e atrasado para a faculdade. Ele passou pela sala, disse olá para Alex e subiu rapidamente a escada, indo para o quarto tomar banho e se arrumar. Ao sair, deu um beijo na cabeça de Alex, passou sua mão pelo seu rosto e disse: — Filho, papai sente muito em não lhe dar a atenção merecida, mas prometo que, quando esta confusão toda passar, ficaremos mais tempo juntos. Alex observou o pai entrar no carro e seguir seu caminho para a faculdade. Sua mãe o chamou e ele entrou. Ao amanhecer, Alex preparou-se para mais uma maratona de escola. No entanto, era uma data especial: por ser o Dia do Índio, o colégio em que estudava promoveria uma feira com artesanatos indígenas. Quando lá chegou, seus amigos já o esperavam, e todos observaram que as barracas da feirinha já estavam montadas. Alex não se conteve e perambulou com seus amigos pelos corredores da feira. Ao passar por uma das barracas, algo lhe chamou a atenção. Ele viu uma pequena pedra de um vermelho tão vivo que parecia pegar fogo, e que cabia na palma da mão. O garoto permaneceu por uns minutos parado, sem acreditar no que estava vendo, já que, uma vez, ele mesmo havia sonhado com uma pedra 13

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assim. Um de seus amigos, espantado ao ver Alex parado, perguntou: — O que foi? Está tudo bem? — Olha aquela pedra — comentou Alex. — Estou olhando, e daí? — Cara, não se lembra do sonho que lhe contei na semana passada? — Alex estava eufórico. — Ah, tá, o sonho da pedra que caiu do céu e você, ao pegá-la, viajou para outro mundo — disse seu amigo, rindo. — É aquela pedra! Eu sonhei com ela, e isso mostra que não estou louco! — Que é isso, cara? É só uma coincidência! Agora, vai querer colecionar pedras? — Preciso ter esta pedra! — disse Alex, entusiasmado, aproximando-se da barraca. — Que pedra é esta? — perguntou ao índio que ali estava. — Esta é a pedra lunar, ela é a única em todo o mundo. Minha tribo a achou há muitos anos. Eu mesmo nem era nascido, e olhe que já tenho mais de 40 anos. Esta pedra faz parte do folclore de minha tribo. Dizem que ela é mística, capaz de interagir com outros mundos. — E isso é real? — questionou Alex — Na verdade, meu rapaz, nunca presenciei nada disso; é só lenda, e lendas são apenas fábulas. — Quanto custa a pedra? — Para você é de graça — falou o índio, com um leve sorriso. 14

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— De graça? — perguntou Alex, desconfiado. — Nem sei por que esta pedra está à venda. Meus irmãos colocaram-na aqui por engano, já que, para mim, não tem valor nenhum. Eu já ia jogá-la fora mesmo, mas, como você se interessou, eu a dou de presente. — Obrigado, nem sei o que dizer — agradeceu Alex, com um sorriso e meio encabulado. O índio entregou a pedra ao garoto, que a segurou em sua mão direita. Seus amigos queriam segurá-la, mas Alex tratava-a como algo valioso e logo cuidou de guardá-la em segurança em sua mochila. A feira não o motivava mais. Ele queria ir logo embora para chegar em sua casa e desvendar o segredo da pedra mística. Sua ansiedade teve de ser contida, já que ele tinha um horário a ser cumprido na escola. Por mais que desejasse correr e matar aula, Alex sabia que seria penalizado, pois sua participação, hoje, valeria pontos importantes na média escolar. Quando o sinal tocou, Alex levantou-se da cadeira de uma vez só, ignorando os amigos e qualquer outro que o chamasse. Passou pelo professor com uma pressa que nem teve tempo de ouvir sua nota participativa do dia. Andou a passos largos, apressado. Sua mente estava embaralhada. Seu objetivo era chegar o mais rápido possível. Sua casa ficava a uns vinte minutos da escola e, naquele dia, ele bateu o recorde: levou apenas nove minutos. Quando entrou em casa, sua blusa já estava molhada de suor. Sua mãe, ao vê-lo com tamanha pressa, perguntou: — Para que tanta pressa?

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— Nada, mãe! Apenas quero me deitar, estou cansado — respondeu, subindo, a correr, as escadas. Alex entrou em seu quarto, fechou a porta e se sentou na cama. Lentamente, abriu a mochila e retirou sua tão valiosa pedra de fogo. Ao segurá-la nas mãos, aproximou-a dos olhos e observou que havia algo escrito em volta dela, mas não entendia o que queria dizer. Então, ao procurar no Google o significado daquelas palavras, descobriu que queriam dizer “A chave abre o portal”, em latim e em grego. Mais uma vez sentou-se na cama e ficou admirando a pedra nas mãos. Repetiu a frase e notou que a pedra começou a esquentar, e sua cor ficava mais viva conforme a intensidade do aquecimento. De repente, Alex teve uma ligação estranha: passou a ver cenas e a ouvir vozes de alguém pedindo ajuda. A visão ficou tão real que chegou a ver uma tribo vazia. Quando sua concentração estava chegando a um grau bem profundo, sua mãe bateu na porta do quarto. Alex desconcentrou-se e deixou cair a pedra, que foi parar embaixo de sua cama. — Filho, está tudo bem? — Está, mãe. — Venha jantar, filho, você já está trancado há mais de três horas nesse quarto. — Três horas? Acabei de chegar! — respondeu ele, confuso. Alex percebeu que cada minuto que ele passou segurando a pedra representou horas em seu mundo real. Ele se levantou da cama e foi jantar com os pais, esquecendo, temporariamente, a pedra que estava embaixo de sua cama. 16

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Logo chegou a hora de o garoto se deitar. Antes de dormir, ele se abaixou, estendeu a mão para debaixo da cama e segurou a pedra. Quando a retirou, colocou-a na cabeceira da cama e adormeceu olhando fixamente para ela. Quando Alex caiu no sono, a pedra começou a brilhar na cabeceira de sua cama, fazendo-o ter um sonho estranho. Não sabia os motivos, mas a pedra parecia ter uma ligação com ele. No sonho, ele caminhava em um vale, onde encontrou um senhor sentado em uma pedra e segurando um cajado. Ele se aproximou e perguntou: — Está tudo bem? — Estava à sua espera havia muito tempo — respondeu o senhor. — À minha espera? — Sim, meu jovem. Você tem um dom muito especial e, na hora certa, terá de fazer uma escolha. — Dom? Não sei que dom é esse. — Você é bem-vindo aos dois mundos, porém em um deles terá de assumir seu destino — Alex ouviu como resposta. De repente, um barulho vindo de longe atordoou seus ouvidos, quebrando o pacato silêncio, e despertou-o do sonho, trazendo à sua mente uma sensação de realismo. Ao sentar-se na cama, ainda sem entender o sonho que havia tido, percebeu que a pedra em sua cabeceira estava quente e chegou a queimar, deixando sua marca na madeira. Quando olhou as horas, percebeu como estava atrasado para a aula e, rapidamente, aprontou-se. Ao descer as escadas, sentiu um vento frio passar ao seu 17

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lado. Sua pele gelou, parecendo que o inverno tinha chegado sem avisar. Na cozinha, sentou-se à mesa e, ao começar seu desjejum, percebeu um vulto passar por trás de suas costas. Ao olhar, porém, não viu nada. Sem dar muita importância, continuou seu café. O vulto tornou a passar, mas, mais uma vez, Alex procurou e não encontrou nada. De repente, alguém sussurrou em seu ouvido: — Precisamos de você! Assustado e sem acreditar no que tinha ouvido, Alex entrou em pânico. Seu coração acelerou de tal maneira que ele sentia cada batimento. O medo era tanto que suas pernas tremiam. Aos poucos, foi se acalmando, mas quando pensou que o pesadelo tinha terminado, aquele vulto tornou a passar ao seu lado. O desespero começou a tomar conta de seu ser e, com voz trêmula, perguntou: — O que está acontecendo? O que quer de mim? Alex pensou que aquele sussurro fora uma insensatez de sua cabeça, algo que não acontecera e que sua mente estava lhe pregando uma peça, mas, infelizmente, seus pensamentos estavam errados. Então, mais uma vez, ele ouviu o sussurro que causava calafrios na espinha: — Não se assuste. Vim à sua procura, pois você é o único capaz de me ajudar! Aterrorizado e sem entender a razão dessas alucinações, seguiu em direção à escola. Na aula, os amigos perguntavam sobre a tal pedra. Alex começou a contar tudo o que tinha lhe acontecido e os garotos caíram no riso, deixando-o sem graça. No entanto, ele não se importou com o sarro que estavam tirando de sua cara. Seu único 18

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pensamento era saber de onde vinha aquele sussurro e se a pedra tinha algo a ver com todos esses acontecimentos. Ao término da aula, mais uma vez, Alex saiu às pressas da escola sem falar com ninguém, nem mesmo com seus grandes amigos. Definitivamente, seu pensamento o perturbava. Aquele ocorrido incomodava-o de tal maneira que sua vida passou a girar em torno desse vulto; poderia ser, realmente, um pedido de ajuda ou algo doentio de sua própria imaginação. De repente, um vento misterioso surgiu no meio de seu caminho, e, daquele vendaval, um rapaz de cabeça baixa, trajando roupa de índio, com os cabelos negros, os olhos castanhos e um olhar de profunda tristeza. Alex comoveu-se e, mesmo assustado e sem entender o que estava acontecendo, não se conteve em perguntar: — Qual é a razão de tanta tristeza? — A razão de minha tristeza é que não sei como resgatar a vida e a felicidade do meu povo! — respondeu o rapaz, levantando a cabeça e com um tom de profunda agonia. — Você pertence a alguma tribo indígena? — perguntou Alex. — Sim, mas minha tribo vive longe das fronteiras deste mundo. — Você não é deste mundo? — Não! — E de onde você veio? — Vim de um mundo paralelo ao seu, um lugar encantador, onde todos vivem em paz e harmonia. Mas algo 19

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aconteceu e a paz foi silenciada — respondeu o índio com seus olhos cheios de lágrimas. — Não chore. Posso fazer alguma coisa para ajudá-lo? — Pode, é só vir comigo ao meu mundo. — Como faço para ir ao seu mundo? — Para chegar até o meu mundo, basta você usar a chave e acreditar que tudo pode se tornar possível, erguendo o véu que tampa sua visão. Só assim a chave liberará o poder necessário para abrir o portal. — Que chave é essa? Está falando da pedra? — Sim, a pedra é a chave. — Mas como posso fazer isso? — A pedra escolhe quem pode abrir o portal, e ela o escolheu. Quando você a ativou, nossos mundos se uniram — respondeu o índio. — Então, eu sou o escolhido? — perguntou Alex, com os olhos arregalados. — Sim, e só você pode me ajudar. — E como faço isso? — questionou Alex. — Antes, você deve desejar ir ao meu mundo por livre e espontânea vontade e seguir em direção ao portal da luz. De modo repentino, o índio sumiu e Alex, assustado, correu para casa. O medo tomava conta dele. Não era todo dia que um ser de outro mundo aparecia para pedir ajuda. Todo esse acontecido estava perturbando o jovem, que lutava para não deixar o medo dominá-lo. Ao entrar em casa, percebeu que algo estava errado. Tudo parecia

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silencioso. Chamou pelos seus pais e não obteve resposta. Nesse momento, uma ideia muito louca passou pela sua cabeça. Ele saiu, fechou a porta, contou até três e, ao retornar, para sua maior surpresa, todos estavam lá. Parecia loucura, pois coisas estranhas estavam acontecendo desde quando ele havia ganhado a pedra indígena: Alex tinha a impressão de que aquela pedra, que o fascinava tanto, tinha aberto uma passagem entre os sonhos e a realidade, mas ele não sabia como fechá-la. Sua única preocupação era descobrir o que estava acontecendo. Ao chegar ao seu quarto, o garoto pressentiu que algo estava prestes a acontecer e que isso mudaria sua vida para sempre. Então, sentou-se na cama, retirou a pedra da gaveta do criado-mudo e a colocou sobre o leito. Ao olhá-la, sentiu uma vontade devastadora que o consumia de conhecer esse mundo descrito pelo índio, mas seu medo era tanto que o impedia de chegar lá. Por mais que sua boca desejasse dizer as palavras, sua mente o prendia. Assim, nesse estado, passou-se a noite toda. Era manhã de sábado, e, como de costume, seus pais o levariam para passar o fim de semana na casa de sua avó materna, que contava histórias incríveis. Alex sentia muito a falta do pai, que, por conta dos compromissos, não se dedicava muito a ele. No entanto, o garoto ainda mantinha a esperança de que o pai cumpriria a promessa que lhe fizera. Quando arrumou suas roupas, não deixou de colocar na mochila a valiosa pedra mística. No caminho para a casa de sua avó, seu pai contou que teve novamente outro pesadelo. Era o mesmo de

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sempre: sonhava com uma mulher de outro planeta. Ele também se queixou dos sussurros que às vezes ouvia. A mãe de Alex riu e disse: — Tá vendo, filho? Melhor se cuidar ou ficará doidinho igual ao seu pai. — O senhor ouve sussurros, pai? — perguntou Alex. — Não, filho, papai só está brincando com sua mãe — respondeu, tentando esconder o acontecido para não assustar o garoto. Ao chegar, Alex despediu-se com um enorme abraço nos pais e entrou na casa de sua avó, que o recebeu de braços abertos. Seu dia foi normal, nenhum sussurro foi ouvido e tampouco apareceu qualquer vulto, mas sua mente o embaraçava; seu coração desejava essa aventura. Alex queria sentir-se importante. Ansiava poder vivenciar uma aventura, mas ele sabia que isso não era brincadeira, que responsabilidades viriam e as consequências poderiam ser ruins. Logo escureceu e, como sempre, Alex improvisou uma fogueira no quintal e assou batatas-doces. Ele estava sozinho, sentado à beira da fogueira, e esperava por sua batata (que parecia estar suculenta), quando se sentou ao seu lado o jovem índio que tirara seu sossego no dia anterior. Alex ficou pálido, a fala cessou, o corpo todo estremeceu, como se estivesse a zero grau de temperatura. O jovem índio, com um leve sorriso nos lábios, o congratulou: — Saudações, meu amigo! Não fique assustado. Minha vinda para cá não é para feri-lo e tampouco assustá-lo.

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— Como chegou até aqui? — perguntou Alex, com sua voz trêmula e quase falhando. — Não é difícil encontrá-lo, já que, ao possuir a chave e usá-la, você pode ser visto em meu mundo. — Não pedi para ter essa pedra, muito menos para ser o escolhido. — Eu sei, mas, misteriosamente, você tem uma ligação muito forte com a chave e com o meu mundo, e isso ainda não sei explicar, já que a chave só obedece àquele em que nela confia. Preciso muito de você, seu dom é especial. Estive à procura de alguém como você por muito tempo. Minha tribo está morrendo de um mal que desconheço, não consigo ajudá-la e preciso muito que me ajude — implorou o índio. — Como posso ajudá-lo? Não passo de um simples rapaz — respondeu Alex, tentando encontrar o índio que mais uma vez esvaeceu sem avisar, deixando sua mente mais confusa. Toda vez que essas aparições aconteciam, Alex ficava sem rumo. Seu desejo era ir embora para bem longe, pegar um avião e desaparecer, mas ele sabia que não importava aonde fosse, mesmo que se escondesse do outro lado do mundo, esse índio continuaria a aparecer até Alex aceitar sua proposta. Parecia uma ideia louca. Você, da noite para o dia, torna-se a única esperança de uma tribo. Mais louco e confuso ainda era sempre ver e ouvir um índio que Alex não sabia se era alucinação ou realidade. Logo sua avó o chamou para que fosse dormir, pois já passava das onze da noite e o cansaço pesava nos olhos.

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Ao abraçar a avó, ele sentiu as delicadas e trêmulas mãos dela acariciarem seus cabelos. Como de costume, ela beijou sua testa e lhe disse logo em seguida: — Boa noite, meu amado neto! Alex ficou parado, em frente a ela, como se quisesse dizer algo, mas sua boca se negava a pronunciar qualquer palavra que viesse de sua mente. A avó, ao perceber o comportamento estranho do garoto, tocou-o com as mãos e, com seu olhar de profundo e aconchegante amor, perguntou: — Quer me dizer ou perguntar algo, meu querido? — Vó, o que a senhora faria se, de repente, fosse a única capaz de salvar uma tribo de índios? O coração do garoto batia a toda força; Alex tinha medo da resposta dela. — Bem, meu querido, em primeiro lugar, só de saber que sou capaz de salvar a vida de alguém já ficaria muito feliz. No mundo de hoje, cada vida é importante, e se você puder salvar alguma, estará fazendo um grande bem não só para quem será salvo, mas para você mesmo — respondeu a avó com um belo sorriso e passando a mão pelo seu rosto. Era tudo que Alex precisava ouvir. Por maior que fosse o medo do desconhecido, sua decisão já estava tomada. Ao entrar no quarto, ficou de frente à cama e, sem titubear, retirou a pedra da mochila. Ao segurá-la, sentiu que ela começou a esquentar e, sem pensar, fez seu pedido: — Eu acredito e aceito ir por livre e espontânea vontade ao seu mundo. Desejo retirar o véu que tampa minha 24

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visão e ajudá-lo a salvar sua tribo! Eu tenho a chave e quero abrir o portal. De repente a pedra esquentou tanto a ponto de queimar as suas mãos. Alex não aguentou segurá-la e a soltou. Ao cair no chão, ela começou a pegar fogo e o quarto todo tremeu. Suas chamas subiram pelas paredes, as quais se abriram tal qual a uma porta. Daquela porta enorme em forma de fogo saía uma luz brilhante igual à luz do sol. À sua frente, Alex viu um portal de fogo com uma luz profunda e clara, e logo se lembrou das palavras do índio: deveria ir em direção ao portal da luz. E assim ele fez. Após atravessar o portal, sentiu um perfume indescritível. Quando sua visão ficou nítida, ele percebeu que estava no meio de um campo repleto de flores. Eram tantas espécies diferentes que, juntas, proporcionavam um aroma inesquecível. No meio de tanta beleza, surgiu aquele jovem índio que, com um sorriso, o recebeu: — Seja bem-vindo ao planeta Éros. — Qual o seu nome? — perguntou Alex. — Zúli. — Como é possível existir dois mundos? — O universo guarda segredos que desconhecemos. Na hora certa, toda a verdade lhe será dita. — Este lugar é fascinante — comentou Alex. Os dois seguiram em direção à tribo, e, no trajeto, Alex contemplou tudo o que encontrava. Seu desejo era explorar cada lugar; afinal, era um mundo totalmente novo e desconhecido, mas, ao mesmo tempo, sedutor aos olhos. À primeira vista, a tribo parecia um lugar vazio, como na visão que tivera ao segurar a pedra. Quando chegaram, 25

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todos estavam assustados, com medo, dando a impressão de que viviam consumidos por uma profunda depressão. Agora ele entendia o que Zúli queria dizer. Ao entardecer, Alex sentou ao lado do jovem índio e perguntou: — Como era seu povo? — Éramos alegres e fazíamos festa todos os dias. Respeitávamos o próximo, éramos sinceros e colocávamos o amor e a amizade acima de tudo. — Nunca houve sentimento de ódio? — A palavra ódio não existe em nosso vocabulário — respondeu Zúli. Logo Alex chegou à conclusão de que estava diante de pessoas boas, mas se perguntava o que estava acontecendo para existir tanta tristeza. Nem o próprio Zúli sabia o que tinha ocorrido. Assim, sem saber por onde começar, ficava difícil solucionar o problema. Ao tentar dialogar com os habitantes da tribo, Alex foi recebido com medo e desconfiança. Parecia que ele era algum animal selvagem que estava querendo devorá-los. O que ele não entendia, porém, era por que Zúli não estava igual ao seu povo. Será que ele, por alguma razão, era diferente de sua tribo? Como ele se comunicava e não lembrava o que aconteceu? Era difícil entender como um povo, que morava rodeado de coisas belas e lindas paisagens, podia viver no meio de tanta tristeza. Era como se vivessem no paraíso, ao lado de Deus, e não se dessem conta. Era impressionante o estado daquela gente. Eles viviam isolados, mergulhados em um profundo vazio. Não se locomoviam, deixavam o medo dominá-los e não lutavam para dar qualquer sinal 26

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de vida. Alex percebeu a tristeza de seu amigo e tentou confortá-lo: — Não fique assim, ainda existe uma esperança! — Se meu povo sofre, eu sofro com ele — respondeu Zúli, de cabeça baixa. — Não, meu amigo. Você deve ser forte, eles precisam de você! — Foi minha culpa, jamais deveria ter deixado minha tribo! — Não foi sua culpa! Você jamais poderia imaginar o que iria acontecer. — Eu percebi algo de errado, fui avisado, mas, mesmo assim, parti. — O que você percebeu? — Percebi algo de estranho no ar. O vento soprava no sentido contrário, não se ouvia mais o canto dos pássaros, o silêncio era predominante e tive um sonho ruim. — Que sonho foi esse? — Sonhei que o sol havia desaparecido, que as plantas tinham secado, o mar ficara vermelho, um enorme terremoto dividia meu mundo em dois e uma peste devorava tudo que se colocava em seu caminho. — Zúli, foi apenas um pesadelo! Como você poderia imaginar que isso seria um aviso? — Logo após o sonho, a protetora de Éros apareceu para mim como um anjo. Disse que minha missão estava começando e que eu traria a cura e a doença ao meu mundo — respondeu Zúli, com os olhos cheios de lágrimas. — Como você traria a cura e a doença ao mesmo tempo? E que protetora é essa? 27

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— Essa protetora é a guardiã deste mundo e se chama Safira, mas, até hoje, não consegui compreender o que ela quis dizer. Percebi que, sozinho, nada podia fazer; então, com a ajuda dela, fui ao seu encontro. — Por que a mim? Com tantas pessoas mundo afora, você foi escolher justamente a mim? — Porque você foi o único humano a ser escolhido pela pedra lunar e a ultrapassar as fronteiras da realidade — respondeu Zúli. — Saiba que sozinho você não está, pois juntos vamos achar a cura e trazer de volta a felicidade de seu povo. — Às vezes, penso que a cura não existe e começo a desanimar. — Nunca repita isso, Zúli. Se não fosse por você, eu não estaria aqui. Cadê suas origens? Seja forte, ainda existe uma missão a ser cumprida. Lembra? — Tem razão. Foi-me dada essa missão e não será um desânimo que me fará desistir. Sei que a caminhada é longa, mas não perderei a esperança — afirmou Zúli. Alex tentou achar alguma resposta para solucionar esse problema e encontrar a tal cura. A doença viria junto com a cura? Como seria sua força destruidora? Será que todos estavam preparados para enfrentá-la? Ainda existiam muitas perguntas sem respostas e a mente de Alex estava obscura. Eram muitas coisas sem explicações, parecia que estava diante de um jogo de xadrez e que, a qualquer momento, poderia levar um xeque-mate.

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