Notícias de Alverca

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Até que a sorte lhes sorria Mário Caritas Rita Sota MC

I

gor Suvorov, de 36 anos, nascido no Cazaquistão mas de nacionalidade ucraniana, veio viver para o nosso país há nove anos. Conseguiu, com muito sacrifício, construir uma vida e trazer para Portugal os familiares que deixara na Ucrânia, na longínqua cidade chamada Novaig Kakhovka. “Lá onde vivia não tinha trabalho, vim para cá por questões económicas pois conheci uma pessoa que me disse que aqui se ganhava bem. Vim sozinho, sem a família, apenas com um amigo que me ajudou a arranjar um quarto.” Os primeiros tempos foram

(muito) difíceis. “De manhã cedo, eu e outros estrangeiros ficávamos à beira da estrada, na zona do Poço do Bispo, em Lisboa, à espera que uma carrinha das obras parasse e escolhesse alguém para ir trabalhar nesse dia. Foi assim que consegui os meus primeiros trabalhos. Tive vários patrões, ganhava 25 euros ao dia e as horas extra eram pagas a dobrar.” Depois continuou a laborar nas obras, mas através de empresas de trabalho temporário, e mais tarde empregou-se como operador de supermercado. A vida começava então a sorrir-lhe. “Fiquei legal passado cerca de quatro meses de ter chegado, quando consegui ter um contrato de trabalho. Entretanto fui tirar um curso de Português porque, como gostei logo do país, achei

que tinha mesmo que saber falar a língua. Mas ao início a língua foi um grande problema, pensava que nunca iria conseguir aprender…” Ano e meio depois de ter emigrado, foi à Ucrânia buscar a esposa, Iryna; e passado outro ano e meio, trouxe para Portugal a filha, Anastaciya, a cunhada, Nataliia, e o filho desta e seu sobrinho, Illia. Juntos formam uma família harmoniosa e gostam de cá estar. “As pessoas aqui são muito simpáticas, no meu país não é assim. Já conheço alguns sítios de Portugal, é um país muito bonito”, afirma Igor, actualmente condutor da Carris em Lisboa. “Gosto do meu trabalho mas não é isto que quero fazer o resto da vida”, acrescenta. Iryna, de 33 anos, trabalha actualmente numa loja que vende

produtos alimentares do Leste europeu. Quando chegou começou por trabalhar num hotel como empregada de limpeza, durante dois anos, onde “havia muitas ucranianas que me ensinaram a falar português.” Aos poucos adaptou-se. “Eu não gostava de estar aqui, não era a minha língua, mas só quando fui passar férias à Ucrânia é que percebi que o que queria mesmo era morar em Portugal.” De todos, Nataliia Butenko, de 38 anos, também empregada numa loja de bens alimentares típicos do Leste da Europa, é aquela que está menos adaptada ao nosso país. Quanto aos mais novos, a adaptação é total. Anastacyia, de 14 anos, estuda no 8.º ano de escolaridade. É uma fã incondicional da leitura e agora lê

sobretudo em português. Apesar das saudades que sente da terra natal, já se habituou a esta nova vida. “Ao início senti alguma discriminação dos colegas mas já passou.” Também (bem) adaptado está o primo, Illia, de 11 anos, estudante do 6.º ano, que gostava de ser tenista profissional. Por isso, os seus dias dividem-se entre a escola e os treinos de ténis, lutando para ser um ucraniano de sucesso num país distante.

Vidas cruzadas num país distante Noutro lar, outras tantas histórias de vida. Neste caso, histórias de brasileiros que se cruzaram em Portugal. Para trás ficaram as saudades da família e o desejo de

regressar. “Disseram-me que aqui era bom para se ganhar dinheiro e eu vim. No Brasil trabalhei primeiro no campo e depois fui trabalhar para a cidade numa firma de carpintaria. Gostava do trabalho do campo que consistia em fazer negócio com gado”, conta-nos Cornélio de Jesus, de 39 anos, a viver no nosso país desde 2002. Ele e um irmão vieram juntos para Portugal. Foi uma autêntica aventura. “Quando cheguei estive sem trabalho uns três dias, mas depois comecei logo a trabalhar nas obras, a fazer trabalhos de pintura. Nessa altura tivemos a ajuda de um rapaz que conhecíamos que nos ajudou a arranjar trabalho e uma casa para ficarmos.” Cornélio conta, no entanto, que foi muito difícil emi-

“ Havia muitas ucranianas que me ensinaram a falar português

Iryna (mulher de Igor)

SEF de Alverca serve 8.000 cidadãos estrangeiros 02 | Notícias de Alverca

A família ucraniana: Igor, Natalia, Anastacya e Illia

A

delegação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Alverca, inaugurada em Julho, situada na Praceta Estanislau Raimundo Nogueira, tem como objectivo principal agilizar todo o

processo relativo às renovações de autorização de residência dos imigrantes que vivem neste concelho e em municípios vizinhos. Por outras palavras, neste posto atendem-se apenas os imigrantes que já estão legalizados.

“Actualmente fazemos cerca de 85 atendimentos por dia, sendo que este número tem tendência para aumentar. Fazemos essencialmente renovações de autorizações de residência e, ainda este ano, vamos iniciar também

a valência de reagrupamento familiar – por exemplo, se o cabeça de casal está legalizado, o cônjuge já não precisa de ir ao país de origem buscar o visto”, explica José Dias, responsável máximo pelo serviço.

DESTAQUE. A delegação do SEF de Alverca está a atender 85 imigrantes por dia. Neste serviço renovam-se autorizações de residência e em breve haverá a valência de reagrupamento familiar. Setembro 2010


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