XXV Simpósio Nacional de História

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26 qualquer tipo de hagiografia ou monumentalização, é preciso discernir quais ações e pensamentos estes intelectuais foram capazes de produzir e reverberar. Os “ecos e murmúrios” que nos chegam postumamente falam de uma tradição construída e perpetuada. O legado de Sergio Arouca relaciona-se com movimento pelos direitos à saúde iniciado nos anos de 1970, que gerou e fortaleceu instituições como o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e a FIOCRUZ, consolidando-se na Constituição de 1988 e institucionalizando-se com o Sistema Único de Saúde. Nome: Robson Mendonça Pereira E-mail: robsonper@terra.com.br Instituição: Universidade Estadual de Goiás Título:Escrita íntima e retratos do poder: o diário de governo de Altino Arantes. (1916-1924) A análise crítica da escrita auto-referente vem apresentando enormes possibilidades no âmbito da história política, pois permiti desvendar a natureza das atitudes e das ações dos atores políticos, nos seus aspectos mais recônditos. Neste sentido, pretendo discutir o diário íntimo de Altino Arantes como registro íntimo e projeto autobiográfico. O autor inicia sua feitura quando da posse como presidente paulista em maio de 1916, registrando o cotidiano do círculo restrito do poder, produzindo apreciações interessantes sobre seus pares e momentos de reavaliação de seus atos diante de eventos críticos para oligarquia cafeeira como a greve anarquista de 1917 e a pandemia gripal de 1918, no qual revela hesitação e incerteza. Entre outros assuntos tratados, reflete sobre seus sonhos, aspirações, os filhos órfãos de mãe, a saudade da falecida esposa. No âmbito dos relacionamentos pessoais e íntimos, destaca-se a tensa amizade com seu conterrâneo Washington Luís e os acordos de bastidores tramados com seu principal mentor o conselheiro Rodrigues Alves. O diário adquiri ainda uma dimensão intelectual, pois seu autor discute idéias e projetos político-institucionais que aparecerão mais tarde em seus livros. Nome: Tatyana de Amaral Maia E-mail: tatyanamaia@yahoo.com.br Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro Título: A cultura como guardiã do espírito cívico nacional: a ação dos intelectuais do Conselho Federal de Cultura na ditadura civil-militar (1966-1975) O Conselho Federal de Cultura foi criado em 1966 para organizar as ações culturais do Ministério da Educação e Cultura, tornando-se responsável pela institucionalização do setor nos governos militares. Nesta comunicação, buscamos compreender as políticas culturais promovidas pelo CFC a partir do ideal de civismo, constitutivo da relação entre o Estado e a sociedade civil nos anos autoritários. Os conselheiros, experientes e reconhecidos “homens de pensamento e ação”, buscaram forjar os pilares sustentatórios da cultura nacional através da valorização do regionalismo e da preservação da memória. A defesa da cultura foi considerada fundamental para a formação de cidadãos conscientes tanto de seu papel de devoção à pátria quanto da necessidade de solidariedade social. No civismo, os direitos políticos, civis e sociais dos cidadãos podem ser restringidos em favor da harmonia social e da segurança nacional. O conceito foi habilmente utilizado para redefinir a relação entre o Estado e o cidadão, num período marcado por Atos Institucionais que feriam os princípios da cidadania, mas estavam perfeitamente ajustados aos princípios do civismo. Nome: Tereza Maria Spyer Dulci E-mail: terezaspyer@hotmail.com Instituição: FFLCH - USP Título: Discursos de política externa e projetos de integração da América Latina na Revista Brasileira de Política Internacional O objetivo deste trabalho é estudar a constituição dos discursos de política externa presentes na Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI). Essa revista foi fundada no Rio de Janeiro em 1958 – pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) órgão subordinado ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil – sendo a mais antiga publicação especializada em relações internacionais em circulação no país. De modo especial, a RBPI tratou, ao longo de seus 50 anos, da realidade política, econômica, social e especialmente, intelectual do Brasil e da América Latina. Pretendemos analisar as diferentes doutrinas e premissas teóricas acerca dos projetos de integração dos países latino-americanos formuladas, principalmente, por acadêmicos, diplomatas e militares brasileiros entre os anos de 1958-1988.

26. Interlocuções entre História, ética e linguagens artísticas - Aspectos estéticos e políticos do diálogo arte e sociedade Rosangela Patriota Ramos – Universidade Federal de Uberlândia (patriota-ramos@uol.com.br) O diálogo multidisciplinar, de maneira sistemática, tem se ampliado no âmbito da pesquisa histórica, particularmente pela atuação de pesquisadores que se deslocam, dadas as suas inquietações teóricas, para outras áreas de conhecimento. Estes, para além do interesse em objetos específicos, visam também refletir sobre a ampliação do território, propriamente dito, de atuação do historiador.

Resumos das comunicações Nome: Alcides Freire Ramos E-mail: patriota.ramos@gmail.com Instituição: Universidade Federal de Uberlândia Título: João Batista de Andrade e Eduardo Coutinho: aspectos estéticos, políticos e éticos na luta contra a ditadura militar Os cineastas João Batista de Andrade e Eduardo Coutinho, durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), tiveram grande atuação política por meio de seus filmes. Nesta comunicação, abordaremos a trajetória de ambos salientando os aspectos estéticos e éticos desse embate contra a ditadura militar, com especial atenção para o trabalho que ambos tiveram na televisão brasileira (TV Cultura e Rede Globo) e o impacto disso para suas obras cinematográficas. Nome: Alexandre Pacheco E-mail: nelsonfonseca4@hotmail.com Instituição: Universidade Federal de Rondônia Título: Como governei o Amazonas: a ética do literato e historiador Arthur Cezar Reis diante do poder (1964-1967) Neste trabalho, temos o intuito de analisar as relações entre o capital literário acumulado pelo historiador Arthur Cezar Reis e sua ascensão ao poder do Estado do Amazonas durante os anos de 1964 a 1967. Neste sentido, pretendemos demonstrar como sua obra intitulada Como governei o Amazonas (1967) contém a representação, a partir de um discurso apolítico, da postura tecnocrática adotada pelo historiador quando esteve à frente dos negócios de seu Estado. Postura que apesar de relacionar-se historicamente aos habitus de outros intelectuais que estiveram à frente do poder na época, revela-nos paralelamente a configuração da ética ao qual Arthur Cezar Reis se pautou para governar e que incorporou disposições advindas de sua visão histórica sobre os problemas da região Amazônica. Visão histórica, enfim, que se materializou em um grande capital literário, que não só abriu os caminhos do poder para Arthur Cezar Reis, como também legitimou muitas de suas ações nos órgãos estatais que esteve à frente nas décadas de 1950 e 1960. Nome: Amanda Maíra Steinbach E-mail: amanda_steimbach@yahoo.com.br Instituição: UFS Título: Resistência política na Medeia de Vianinha Oduvaldo Vianna Filho nasceu em 1936 e, vítima de câncer, faleceu precocemente em 1974. Durante os 38 anos de sua vida Vianinha atuou em muitas frentes. Foi um dos líderes do principal movimento de renovação do teatro brasileiro, o Arena, e, posteriormente, liderou o primeiro Centro de Cultura Popular (CPC) do Brasil, o da UNE do Rio de Janeiro. Seu teatro sempre foi político e engajado. Sem perder de vista a questão estética da arte, sempre buscou um teatro que falasse do povo e para o povo. Contrário à luta armada posicionou-se a favor da resistência contra o regime militar. Por essa relação tão íntima de sua obra com um projeto político silenciado pelo regime militar instaurado em 1964 no Brasil ele, nas páginas de sua obra, pareceu-nos rica fonte documental de um momento da história de nosso país. Sua Medéia é de uma beleza ímpar e muitas vezes não damos a ela o devido valor, escrita em 1972 e veiculada pela Rede Globo de Televisão, ela possui passagens que possibilitam interpretá-la como uma obra de resistência democrática e de crítica social. Assim, tentaremos mostrar por excertos do referido texto, metáforas que são exemplos de resistência ao regime e luta pela redemocratização, no período em que a censura e a perseguição atuaram de forma mais significativa, os anos do AI. Nome: Ana Amelia de Moura Cavalcante de Melo E-mail: anameliademelo@gmail.com

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Instituição: Universidade Federal do Ceará Título: 1945. Os escritores e a questão da democracia Em janeiro de 1945 seria realizado em São Paulo o I Congresso Brasileiro de Escritores, organizado pela Associação Brasileira de Escritores, fundada em 1942. A reunião teria um caráter político inegável. Os temas discutidos no Congresso eram a luta contra o fascismo, a democratização da cultura e a liberdade criativa. A postura de engajamento de certa literatura já se vislumbra na geração de 30 como marcas essenciais de escritores como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, etc. A prisão de alguns deles durante o Estado Novo e as vinculações com o Partido Comunista revelam um comprometimento com as causas da democracia. A realização em 1945 do I Congresso de escritores brasileiros e a elaboração de um manifesto contra a falta de liberdades coloca explicitamente o tema do ativismo político. Neste trabalho buscar-se-á refletir sobre a tensão entre o ideário estético destes escritores e sua atuação política, a partir dos debates surgidos no âmbito da Associação Brasileira de Escritores e da realização do Congresso de 1945. Nome: Ana Carolina Verani E-mail: anacarolv@ig.com.br Instituição: Colégio Estadual Mário Tamborindeguy Título: Lima Barreto: loucura e literatura como crítica social O trabalho tem como objetivo analisar a obra do escritor Lima Barreto, privilegiando dentro desta obra o tema relativo à loucura e a instituição psiquiátrica, e relacionando-a ao contexto específico da época. Ao investigar a obra do escritor, e mais especificamente os seus escritos relativos a questão da loucura, é possível interpretar a obra analisada como um questionamento do novo cenário urbano que se desenvolvia no período, assim como os valores dominantes no contexto de modernização. O trabalho busca, enfim, verificar a hipótese de que Lima Barreto usa a temática da loucura como uma estratégia de reflexão e crítica sobre questões mais amplas da sociedade. Partindo deste pressuposto, é possível tentar perceber como o escritor questiona, a partir de sua produção literária, o processo de modernização brasileiro. Os personagens de sua obra que são considerados loucos são aqueles que, na verdade, são incumbidos de transmitir os valores considerados verdadeiros pelo escritor, em oposição aos valores predominantes na época. Nome: André Luis Bertelli Duarte E-mail: andrebduarte@gmail.com Instituição: Universidade Federal de Uberlândia - UFU Título: A Companhia Estável de Repertório de Capa, Espada e Nariz: aspectos da encenação de Cyrano de Bergerac no Brasil em 1985 O processo de restabelecimento do estado de direito no Brasil ocorrido na década de 1980 marcou de forma determinante a produção teatral do período. À luz da nova configuração política, a cena brasileira viu-se às voltas com a necessidade de estabelecer novos paradigmas de atuação, tanto estéticos quanto políticos. Nesse sentido, o presente trabalho propõe um enfrentamento estreito com alguns dos caminhos trilhados pelo teatro no período a partir da análise da encenação de Cyrano de Bergerac pela Companhia Estável de Repertório no ano de 1985, com direção de Flávio Rangel e Antonio Fagundes no personagem-título. Com efeito, busca problematizar, na senda das relações História/Estética, as novas configurações do diálogo Arte/ Sociedade; Teatro/Política, propondo, assim, um alargamento da compreensão sobre determinadas práticas culturais no Brasil em meados da década de 1980. Nome: Diogo Cesar Nunes da Silva E-mail: diogodcns@gmail.com Instituição: UERJ Título: História cultural, literatura e subjetividade: a realidade como construção dos sentidos

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