XXV Simpósio Nacional de História

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11 como elemento identificador não só do próprio gênero, mas também de competências auditivas de seus admiradores. Conhecer um gênero musical é conhecer seu repertório, seus elementos formais, sonoros, seus autores e obras consagradas. Assim, um gênero musical se constitui de uma memória musical compartilhada, que se materializa no repertório e através dele se amplifica e assume um sentido de historicidade e de permanência. Neste trabalho, serão analisados os casos do samba carioca e do forró nordestino, que em suas vertentes “raiz” e “pé de serra” – respectivamente – marcam uma determinada herança cultural legítima que se manifesta em sons, melodias, temáticas e modos de fazer música. Seus repertórios consagrados estabelecem maneiras de relacionar passado e presente que funcionam como eixos de consagração e aferição de qualidade, delimitando arenas e critérios de intensas disputas por legitimidade. Nome: Francisco de Assis Santana Mestrinel E-mail: santanachico@gmail.com Instituição: Universidade Estadual de Campinas Título: A Bateria da Nenê de Vila Matilde: criação, transformação e importância de uma bateria no âmbito de uma escola de samba paulistana Este trabalho pesquisa a criação e transformações ocorridas na bateria do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, buscando uma compreensão da evolução das baterias de escola de samba de São Paulo através do estudo dos padrões rítmicos, técnicas utilizadas, breques, chamadas e ritmos tocados pela bateria da Nenê, bem como de sua trajetória ao longo dos carnavais. O trabalho busca compreender a relação entre a música e os fatores sócio-culturais presentes nesse universo e realizar um estudo das influências passadas, heranças remanescentes e características específicas do samba tocado por uma das principais escolas de samba paulistana. O autor vem realizando pesquisa de campo através da observação participante, atuando como membro da bateria da Nenê de Vila Matilde há 4 anos, além de pesquisa em acervo bibliográfico e audiovisual. Nome: Gabriel Ferrão Moreira E-mail: bilico97@gmail.com Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina Título: A influência de Villa-Lobos na construção do nacionalismo no Estado Novo Nesse artigo pretendo trazer à tona a discussão do papel do compositor Heitor Villa-Lobos - como presidente e fundador da Superintendência de Educação Musical e Artística do governo getulista de 1930 - na construção de um nacionalismo conveniente às propostas populistas de Getúlio Vargas e estéticas de Mário de Andrade. Tal discussão será feita através de um olhar histórico-contextual e musicológico onde a inserção política de Villa-Lobos nesse governo e suas opções estéticas se somam na construção de uma ideologia que justifica a visão dele como o grande agregador das músicas regionais na construção de uma música genuinamente brasileira, e o valor dessa música na construção da nação brasileira proposta por Getúlio Vargas. Nome: Gabriel Sampaio Souza Lima Rezende E-mail: gabriel_baixo@yahoo.com.br Instituição: Universidade Estadual de Campinas/ Grupo de Estudos sobre Cultura Popular do CMU Título: O choro: caminhos e sentidos da tradição Propomos um estudo sobre a transcendência das ações de Pixinguinha e, em especial, de Jacob do Bandolim para o processo de definição da “tradição” musical do choro. Acompanharemos as profundas transformações pelas quais o choro, enquanto fruto de determinadas formas de sociabilidade, passou nos aproximados cem anos que separam o momento de popularização das danças de origem européia no Rio de Janeiro e a ascensão de um incipiente mercado musical, e a consolidação de um discurso que visa à construção de uma determinada tradição musical e que encontra em Jacob do Bandolim um de seus principais representantes. A almejada continuidade com o passado, artificial em muitos aspectos, é alcançada através de um processo de formalização e ritualização da experiência musical. Esse processo incide sobre uma situação musical pertencente a um passado idealizado que se busca recuperar e conservar. Entre o arcaico e o moderno, entre a boemia e a disciplina, o choro entra no rádio e encontra em músicos como Jacob do Bandolim uma nova forma de expressão. Define-se enquanto sonoridade, enquanto forma de sociabilidade e enquanto produto cultural: se transforma em tradição. Nome: José Roberto Zan E-mail: zan@iar.unicamp.br Instituição: Universidade Estadual de Campinas

Título: Dialogia e transgressão nas canções de Jards Macalé O objetivo deste trabalho é analisar a produção do compositor popular e intérprete Jards Macalé, no período compreendido entre 1969 e 1974. Reconhecido pela crítica por práticas criativas, ousadas e transgressoras, Macalé atuou junto aos tropicalistas e ganhou o rótulo de cancionista maldito, especialmente após sua participação, com a música “Gotham City”, no IV Festival Internacional da Canção realizado pela TV Globo, em 1969. A produção de Macalé, durante esses cinco anos, se deu num contexto marcado pelo enrijecimento do regime ditatorial militar no Brasil, culminando na forte repressão política; pela intensificação da censura sobre as produções artísticas e culturais; pelo rápido desenvolvimento e racionalização das indústrias culturais; e pelo esgotamento das vanguardas artísticas, que durante a década de 1960 fizeram incursões importantes especialmente nas áreas de teatro, cinema, artes plásticas e música. Através de uma abordagem multidisciplinar que permita a análise das canções nas suas dimensões poética, musical e performática, pretende-se verificar até que ponto a obra de Macalé, concebida nesses anos, foi capaz de tencionar e até mesmo transgredir determinados padrões estéticos que se institucionalizavam no âmbito da música popular brasileira. Nome: Luisa Quarti Lamarão E-mail: luisaql@hotmail.com Instituição: Universidade Federal Fluminense Título: MPB no mercado: mediadores culturais, música e indústria (1968-1982) A pesquisa visa a compreender a consolidação da “Música Popular Brasileira”, a MPB, a partir da atuação dos empresários e produtores culturais do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Pretendo recuperar as estratégias destes mediadores culturais na construção deste que não se configurou apenas como um estilo musical, mas também um porta-voz dos anseios de uma geração que vivenciou as transformações políticas e culturais no Brasil das décadas de 1960 e 1970. O projeto é delimitado temporalmente entre 1968 e 1982, acompanhando a periodização da “longa década de 1970 da MPB” proposta por Marcos Napolitano, que “começa sob o signo do Ato Institucional nº 5, um marco do ‘fim do sonho’ no Brasil, e termina com a consolidação do processo de abertura do regime militar, que, por coincidência ou não, marca o fim de um tipo de audiência musical e cultural e o começo de outra, mais jovem e ligada ao rock e ao pop brasileiros”. A relevância do projeto reside no fato de modificar o enfoque de estudo sobre a construção da MPB. Há muito a MPB é estudada a partir da trajetória dos movimentos musicais ou de seus principais artistas; porém, acredito que sua inserção no mercado deve-se também à ação dos empresários que proporcionaram o lançamento dos discos, as aparições na televisão, jornal e rádio. Nome: Luiz Felipe Sousa Tavares E-mail: lipesz@yahoo.com.br Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Título: As orchestras invadem as salas de estar: difusão da fonografia e a redefinição dos espaços para a escuta musical no Rio de Janeiro (19271931) A inauguração do sistema elétrico de gravações nos Estados Unidos, em 1925, representou uma mudança significativa para a indústria fonográfica. Através desse processo, a qualidade da captação e registro de sons mudou consideravelmente, além de os custos de fabricação de discos terem sido reduzidos em grande escala, o que ocasionou um imediato aumento na produção desses discos e dos aparelhos destinados a sua execução. Com a chegada do novo sistema no Brasil, em 1926, pôde-se observar um crescimento vertiginoso do comércio relativo à fonografia, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. Essa nova dinâmica comercial em torno do disco pode ser melhor constatada, se atentarmos para o surgimento, na cidade do Rio, de colunas de jornais e revistas de grande circulação, bem como de periódicos específicos, criados com o intuito de divulgar essa forma de entretenimento que ganhava cada vez mais adeptos. Uma análise dos textos desses periódicos e colunas, bem como dos anúncios publicitários neles contidos, revela o fato interessante de estar sendo criada uma determinada espacialização para a experiência da escuta musical, que privilegiava, em um primeiro momento, as residências – em especial as salas de estar – como espaços privilegiados para a apreciação de música através do disco. Nome: Mara Rita Oriolo de Almeida E-mail: mara.oriolo@gmail.com Instituição: Universidade Estadual de Campinas - Centro de Memória Título: A roda e as manifestações culturais populares: encontro na diferença e possibilidade de transformação

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Este trabalho discute o significado da roda nas manifestações culturais populares como samba de roda, jongo, capoeira, samba de umbigada, de batuque enquanto possibilidade de transmissão de saberes, encontro de gerações e culturas, rememoração da história de comunidades e grupos culturais. A roda é dialética, sua forma circular pressupõe celebração e ritualidade, proporcionando a idéia de igualdade na diferença. Não há ponta, primeiro e último lugar, o que permite que todos olhem para o centro e cruzem olhares, estabelecendo contatos de estranhamento, alteridade, equidade e sentimento de pertencimento. As manifestações culturais populares no Brasil sofreram processos de desmemorização e reificação, tornando-se mercadorias e, seus participantes, meros consumidores. Originadas predominantemente nas camadas populares que sofrem constantes processos de exclusão, vêm perdendo o sentido de coletividade. Neste sentido a experiência em roda contribui para o exercício do diálogo, da reflexão e da consciência coletiva, permitindo que os sujeitos retomem seu papel de protagonistas e busquem a transformação social. Roda é momento de reflexão e encontro na diferença; em que me reconheço no outro e na relação de convívio, transmissão da memória, oralidade, constrói-se a consciência histórica. Nome: Marcelo Crisafuli Nascimento Almeida E-mail: crisafuli@hotmail.com Instituição: Universidade Federal de São João del Rei Título: A música e suas manifestações populares em São João del Rei O presente trabalho pretende problematizar as disputas em torno da cultura em São João del Rei entre 1877 e 1930, período este de afirmação e gênese de certos gêneros da música popular brasileira. Desta forma, pretendemos demonstrar como o lundu e o maxixe, por exemplo, tidos como gêneros populares, grosseiros e marginalizados pela imprensa daquela sociedade em questão, passam a encontrar respaldo, no caso, nos palcos do teatro sanjoanense, frequentado então pela ‘boa e seleta sociedade’ daquela época. Almejamos também situar um pretenso processo de “circularidade” dos músicos e maestros sanjoanenses entre os mundos da música erudita e popular, onde estes iam adquirindo um papel de ‘intermediário cultural’ fundamental para o caráter de síntese que a música brasileira ia contraindo. Sendo assim, pretendemos discutir um termo de difícil problematização e conceitualização no meio historiográfico como a cultura e seus desdobramentos como a bipolaridade erudito/popular, principalmente no que tange a música na sociedade sanjoanense em fins do século XIX e início do século XX. Nome: Marcelo Nogueira Diana E-mail: mdiana@iuperj.br Instituição: Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro Título: Discotecas de Copacabana: modernização, disco dance e estilo de vida no Brasil pós-ditadura Apresentar as relações entre disco music e estilos de vida controversos que surgiram com a modernização conservadora que se deu no Brasil constitui o foco central desta comunicação. Parto primeiro do entendimento de que estilo de vida e estilo musical são conceitos importantes para a análise da história da música moderna. Deixando de lado a idéia de influência – palavra que por sua banalidade não faz páreo ao conceito de encontro cultural – sugiro com o estilo musical disco e os intérpretes e produtores de música de baile no Brasil a percepção de que a prática antropofágica do modernismo, atualizada pelos experimentos tropicalistas durante a ditadura militar, em fins dos anos 1970 terá também o seu lugar na temática musical da disco. Os importes culturais (gestuais, sonoros, visuais) estrangeiros presentes no Brasil e a indústria fonográfica das décadas de 1970 e 1980 são elementos que em alguma medida explicam a emergência da disco music. A despeito disso, as coletâneas disco produzidas neste período apresentam abundantes referências à Copacabana e ao universo carioca – um universo já anteriormente cantado pela Bossa Nova e pelos tropicalistas e recuperado, na era disco, de maneira a atrair o olhar estrangeiro, bem como a excitar a música e indústria de baile – dance – no Brasil. Nome: Márcia Ramos de Oliveira E-mail: marciaramos@cpovo.net Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina Título: O nacionalismo brasileiro como tema no repertório musical das primeiras décadas do século XX Tendo como ponto de partida o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa “Impressões sobre os ‘nacionalismos’ no Brasil do Século XX: o repertório musical das emissoras de rádio nas décadas de 20 a 30”, propõe-se abordar nesta comunicação a questão do surgimento do nacionalismo no país, através da percepção sobre o tema nas manifestações musicais veiculadas pelo rádio nas primeiras décadas da República. O enfoque a ser desenvolvido

contempla o campo de aproximação entre a história e a música do século XX, enfatizado pelas discussões e formulações teóricas presentes na chamada “indústria cultural”, contraposta à crítica desenvolvida por Mário de Andrade, quanto a identificação dos elementos que dariam origem a uma “música brasileira”. Especialmente no que se refere a sua interpretação acerca das manifestações “popularescas”, atualmente identificadas por outras vias de abordagem como “música popular urbana”. Neste sentido, procura-se associar estas manifestações à história do fonograma e da radiodifusão no país, quando revela-se a importância deste veículo associado à história política e cultural do Brasil, redimensionando a formação da opinião pública a partir do universo da oralidade mediatizada e da performance. Nome: Maria Amélia Garcia de Alencar E-mail: ameliaalencar@cultura.com.br Instituição: Universidade Federal de Goiás Título: Bandas ou “furiosas”: tradição, memória e a formação do músico popular em Goiânia - GO A comunicação busca pensar a importância das bandas musicais no panorama musical de Goiânia, Goiás. À época da construção da cidade, na década de 1930, um coreto – espaço destinado à apresentação de bandas e de importância na sociabilidade das pequenas cidades do interior – foi construído em local de destaque na nova capital. No entanto, depoimentos registrados de pioneiros não mencionam o uso deste equipamento urbano. Hoje, em Goiânia, as bandas estão restritas às escolas e instituições militares, com apresentação pública em datas cívicas ou solenidades oficiais. Estas bandas participam de concursos em níveis local, regional e nacional. Pode-se pensar que sua importância na educação geral e seu caráter disciplinador tenham substituído a função de lazer que exerciam anteriormente. Por outro lado, constituem-se em importante instância de iniciação musical para parcela da juventude goianiense, desprovida de condições de acesso a outras formas de conhecimento musical. Nome: Mariana Oliveira Arantes E-mail: mel.unesp@gmail.com Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Título: O neofolclore chileno e sua relação com a cultura jovem Pretendemos analisar o fenômeno musical chileno do Neofolclore relacionando-o com as inovações estéticas e sociais dos anos de 1960, tendo em vista o posicionamento dos autores e consumidores deste repertório musical, que se constituía basicamente por grupos de jovens chilenos. Estamos nos referindo a uma parcela jovem da sociedade chilena que pretendia modificar o que se produzia no país em relação à canção baseada no folclore, renovando tal repertório, mas sem deixar que a referência à “tradição musical nacional”, representada pelo fenômeno da Música Típica, se perdesse. Tal referência à tradição situava os neofolclóricos em contraposição a outros grupos de jovens chilenos que se alinhavam a posturas contestadoras, combativas, irreverentes e transgressoras, como os representantes dos fenômenos musicais da Nova Canção ou da Nova Onda chilena. Entretanto, mesmo existindo grandes diferenças entre o Neofolclore e os demais fenômenos musicais da década de 60, analisaremos em que medida os aspectos “jovem” e “novo” podem ser um fator de interação entre tais fenômenos. Nome: Marlon de Souza Silva E-mail: marllonssilva@yahoo.com.br Instituição: Universidade Federal de São del-Rei Título: Saravá, Bethânia! – a valorização das religiões afro-brasileiras na obra da cantora Maria Bethânia (1965-1978) As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por uma busca de valorização do popular na cultura brasileira e por um processo de legitimação do candomblé. Algumas intérpretes procuraram orientar suas carreiras nesse sentido de valorização, na tentativa de consolidar um repertório popular. Tal repertório passava, também, pela religião. Podemos citar Nara Leão, Elis Regina e Elizeth Cardoso. Nos anos 1970 Maria Bethânia assume papel de destaque na valorização das religiões afro-brasileiras ao lado de Clara Nunes que, diferentemente das demais intérpretes, tiveram contato mais direto com tais religiões. Ambas foram iniciadas no candomblé e na umbanda, respectivamente. O repertório de Maria Bethânia, gravado no período de 1965-1978, está em “sintonia” com o discurso da época em torno do popular e contribui de forma significativa para a legitimação do candomblé e também, da umbanda. Nome: Mary Aparecida de Alencar Durães E-mail: mary.minas@yahoo.com.br Instituição: Universidade Estadual de Montes Claros Título: Representações do sertão norte mineiro nas canções regionais

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