XXV Simpósio Nacional de História

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08 mativos, denominados pela autora de heteronormatividade. Desse modo, Orlando e os outros corpos que escapam, em especial transexuais e travestis, podem ser tomados como corpos que resistem aos sistemas normativos, corpos que produzem outras formas mais livres e libertárias e que nos trazem outras possibilidades de entendimento do corpo, sexo e gênero. Nome: Marilda Ionta E-mail: marilda@ufv.br Instituição: Universidade Federal de Viçosa Título: Mulheres em cena nos Weblogs: reconfigurações das (inter) subjetividades Esta comunicação busca problematizar as relações (inter) subjetivas construídas nos denominados weblogs escritos por mulheres. A escritura de blogs pode ser considerada um dos fenômenos mais recentes da escrita na cultura digital e tem provocado deslocamentos significativos na comunicação entre as pessoas, sobretudo, nos laços de amizade. A amizade nem sempre se constituiu numa relação privada e íntima sem ressonância política como a que conhecemos atualmente. Contemporaneamente, ela é concebida como um ornamento afetivo compensatório as promessas frustradas do amor romântico, a crise da instituição familiar e a solidão vivenciada na “modernidade líquida”. Nesse contexto, as relações amizade merecem ser questionadas, especialmente para repensarmos seu potencial político e transgressivo. Assim, pergunta-se nesta comunicação: o que temos a dizer hoje sobre amizade tecida no ciberespaço? Quais são as políticas de relação com o outro, empreendidas nas sociedades de informação, onde o blog, com sua especificidade, é apenas um entre outros dispositivos técnicos que possibilitam interatividade? Quais são as possibilidades e os limites das relações intersubjetivas criadas pelas mulheres no interior da cultura digital? Nome: Nelson de Azevedo Paes Barreto E-mail: napbarreto@hotmail.com Instituição: Universidade Católica de Goiás Título: Tortura e ética médica Este trabalho tem como tema principal a tortura e Ética médica. Busca contribuir para diminuir o fenômeno da violência, sua relação com o Estado, e alguns dispositivos que nos permitem enfrentar a crescente produção. Evoca o papel do médico no exercício de sua profissão e suas alternativas diante do golpe militar de 64. Será ele médico? Ou soldado? Ou médico-soldado? Deve obediência aos princípios da Ética Médica ou a rigidez da hierarquia militar? Há outros conflitos no campo de batalha a serem resolvidos. A Ética começa e termina na relação médico paciente. Violações dos Direitos Humanos nunca podem ser justificadas. Nome: Nildo Avelino E-mail: nildoavelino@gmail.com Instituição: Centro de Cultura Social de São Paulo Título: Errico Malatesta e o agonismo da política Michel Foucault afirmou que as relações de poder são constituídas por um agonismo cujo limiar de intensidade está na ordem do poder político. As relações de poder tornam-se politizáveis quando esse limiar é ultrapassado, fazendo os riscos da luta recaírem sobre matérias de vida e morte. Afirmou também como traço fundamental das nossas sociedades o fato das relações de poder, por muito tempo configuradas sob a forma da guerra, terem se investido na ordem do governo. Este artigo propõe explorar a formulação da anarquia de Errico Malatesta por meio da qual o governo foi percebido como agravamento das relações de força, como operador estratégico que aperfeiçoa, corrige e perpetua estados de dominação. Se a tarefa do governo é conjurar o limiar de intensidade agônica da política, para Malatesta o ethos anarquista consiste em ultrapassar esse limiar, dando à luta contra o governo um valor proeminente. Em que medida a luta anarquista poderia funcionar hoje para desbloquear devires revolucionários nas pessoas? Malatesta a descreve liberando uma ética da inquietação de si mesmo. Mas, seria suscetível de provocar individuações sem sujeito, hecceidades, como diriam Deleuze e Guattari, nas quais está em jogo o devir como abertura para o indeterminado? Nome: Paula Souza da Cunha E-mail: paula_piratinha1@hotmail.com Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso Título: Jorge Cristiano: jogos das verdades na constituição do sujeito estuprador na cidade de Cuiabá (1940-2005) O presente resumo faz parte do trabalho de pesquisa que começou a ser desenvolvido ainda na graduação, tendo por objetivo no mestrado investigar a partir de um acontecimento - crime de estupro - os discursos médico/

legal, problematizando essas produções discursivas, partindo do presente. A proposta não é fazer defesas ou acusações, deixo claro que quero refletir acerca das construções discursivas que enredam os sujeitos em que discursos constituem o real. Evidentemente que trataremos como um acontecimento que nos permite pensar, questionar e problematizar os discursos que produzem sujeitos, por meio dos jogos de verdades que as noções médicas e jurídicas constroem. Além de pensar o corpo e as noções de gênero que estão embutidas. O que interessa, são exatamente as constituições discursivas e as construções da subjetividade dos discursos e não as explicações deles. O recorte temporal dado por mim nesse texto compreende a década de 90 do século XX, ora alongando-se a alguns acontecimentos recentes ora retrocedendo no tempo, sem qualquer linearidade, trabalhando numa perspectiva genealógica. Nome: Priscila Piazentini Vieira E-mail: priscilav@gmail.com Instituição: UNICAMP Título: A parrhesía e a problematização do papel do intelectual em Michel Foucault Este projeto parte do interesse de Michel Foucault pela questão da parrhesía na cultura antiga, para articulá-la com as suas reflexões sobre a construção ética do indivíduo. A técnica do “falar francamente” obedecia a princípios bem definidos, como a coragem, o risco e a liberdade de dizer ao discípulo, ao amigo, ao soberano, a verdade, sem quaisquer rodeios ou ornamentos discursivos. Essa problematização integra os últimos estudos do filósofo, entre os anos de 1982-1984, dedicados a trabalhar a ética, as estéticas da existência e o cuidado de si no mundo greco-romano. Ela também se insere nas suas reflexões sobre uma “ontologia histórica de nós mesmos”, a partir de uma crítica histórica que tem por objetivo libertar e ultrapassar as condições existentes da atualidade. Dentro dessa problemática, a volta à Antiguidade, pelo estudo da parrhesía, possibilita a Foucault questionar a figura do “intelectual universal” dominante nos séculos XIX e XX e propor, através da figura do “intelectual específico”, uma nova relação entre a verdade, a política e a produção do conhecimento. Nome: Rachel Tegon de Pinho E-mail: racheltegon@gmail.com Instituição: UNEMAT Título: Dispositivos biopolíticos e a construção da nação A identificação dos loucos da cidade de Cuiabá em 1890 foi o primeiro passo dado pelo Estado, para civilizar a cidade e inserir a capital matogrossense no projeto de construção da nação, em curso no País em fins do século XIX. Para empreender tal projeto, o Estado não se furtou em lançar mão de tecnologias de poder diversas. Passando pelo cuidado com o indivíduo, pela disciplinarização e normatização dos cidadãos, a cidade pouco a pouco vai revelando seus estriamentos e os perigos que a rondam. É nesse contexto que vemos o recolhimento dos alienados de Cuiabá pelas mãos da polícia, tanto à Cadeia Pública da capital como à Santa Casa de Misericórdia. Entretanto, será com a instituição de uma outra tecnologia de poder — o biopoder —, por meio de práticas de higienização e saneamento, que veremos a intensificação do projeto civilizatório. Nesse quadro, a loucura passará a ser considerada como perigo social iminente, e ao louco se atribuirá um novo status, o de doente mental, e um novo endereço, o do hospício. Nome: Rosamaria Carneiro E-mail: rosagiatti@yahoo.com.br Instituição: IFCH Unicamp Título: Parto domiciliar: ressignificação do doméstico e cronotopias da intimidade Partindo da idéia de cronotopias da intimidade de Arfuch (2005), pretendo discutir a ressignificação do doméstico e de intimidade percebida durante meu trabalho etnográfico com mulheres que se dispõem, influenciadas pelo ideário do parto humanizado, a parir em casa, ou seja, experimentar um parto domiciliar. Para isso, explorarei a relação espaço-tempo-afetos, própria da idéia de cronotopia, no doméstico por ela significado e valorado, explorando para isso a interconectividade entre privado e público e a uma noção de intimidade pública, pública porque no entre-tempo da casa e da rua, da autobiografia, da política e da ética. Ou seja, demonstrar esse outro doméstico, sua relação com a intimidade e com a política será aqui o meu propósito, para, a partir disso, aventar ser essa ressignificação um dizer sim a experiência, de acordo com Benjamin, Scott e Braidotti, e por consequência, um sim à existência, segundo Rago. Para, por fim, sinalizar a configuração também de novas subjetividades femininas a partir dessa

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outra domesticidade, bastante diferente da difundida na modernidade. Nome: Rosane Azevedo Neves da Silva E-mail: rosane.neves@ufrgs.br Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Título: As patologias nos modos de ser criança e adolescente: análise das internações no Hospital Psiquiátrico São Pedro entre 1945 e 1965 Esta comunicação tem como objetivo traçar um panorama histórico das redes discursivas que caracterizam o que a sociedade considera como desviante em um determinado momento, assim como apresentar as mudanças paradigmáticas que ocorrem no próprio diagnóstico do que é patológico nos modos de ser criança e adolescente ao longo do tempo. O referencial teórico e metodológico fundamenta-se na perspectiva genealógica proposta por Michel Foucault, assim como em suas análises sobre os anormais e o poder psiquiátrico. No presente trabalho apresentaremos a análise dos motivos de internação de crianças e adolescentes no Hospital Psiquiátrico São Pedro no período de 1945 a 1965. Constata-se que as redes discursivas sobre as patologias nos territórios da infância e da adolescência permitem identificar algumas descontinuidades e continuidades: descontinuidade do ponto de vista dos diagnósticos encontrados, mas continuidade no que se refere às estratégias de exclusão social. Nome: Roselane Neckel E-mail: neckel@cfh.ufsc.br Instituição: UFSC Título: Subjetividade e sexualidade nas revistas femininas e masculinas na década de 1970 Os estudos sobre as formas de produção da subjetividade nas experiências vivenciadas na contemporaneidade têm suscitado questões importantes no debate sobre as identidades sociais, particularmente sobre as relações necessárias entre identidades hegemônicas e periféricas. A subjetividade está aqui sendo entendida dentro da perspectiva de Félix Guatarri: “a subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares” (GUATARRI & ROLNIK, 1996, p. 31). Propomos levantar algumas reflexões frente a divulgação de debates, em torno dos relacionamentos entre homens e mulheres e a sexualidade, através das revistas de comportamento nos anos de 1970. Observa-se um mundo cheio de “novos modelos”, para homens e mulheres, sobre como agir na esfera da sexualidade e dos relacionamentos. Neste contexto, antigos modelos e padrões estavam perdendo a força, e novos padrões estavam produzindo movimentos de desterritorialização. Nesse sentido, fomos pontuando os enunciados que definiram as sexualidades masculinas e femininas e outros que apresentavam mudanças mais “radicais”, contribuindo para a instauração da incerteza face à pretensa objetividade da ciência sexual.

conhecida como Danda Prado, que desde seu exílio na França, no final da década de sessenta, passou a fazer parte do movimento feminista, inventando possíveis éticos e tecendo para si “movimentos intensos de afirmação da vida”, ao problematizar constantemente a atualidade: além do auxílio aos perseguidos políticos da ditadura militar brasileira, Danda, durante os anos de exílio, fundou o “Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris”, responsável pela edição do periódico ‘Nosotras’. Ao retornar ao Brasil, envolveu-se na luta pela descriminalização do aborto. Nessa época narrou e publicou a história de “Cícera”, uma operária nordestina que morava no Rio de Janeiro e lutou pelo aborto de sua filha de 13 anos (estuprada e grávida do padrasto). Muitas outras reflexões seguiram-se a essa, entrelaçando discussões feministas e publicações como “Esposa, a mais antiga profissão”, “Nossas adoráveis famílias”, “O que é aborto”, “O que é família”, etc. Atualmente, temas como transexualidade e a luta das mulheres em vários países da América Latina têm inquietado Danda, mantendo-a em devir constante, devir feminista que propicia a invenção de novas possibilidades de vida. Nome: Vânia Nara Pereira Vasconcelos E-mail: vania_clio@yahoo.com.br Instituição: UNEB Título: “Mulher séria” e “cabra-macho”... por outras representações de gênero no sertão baiano Nessa comunicação pretendo refletir sobre as representações de masculinidades e feminilidades presentes no sertão baiano. Historicamente as representações de gênero ligadas ao sertão foram perpassadas por estereótipos que associam o masculino à virilidade, força e violência, representado na figura do “cabra macho” e o feminino à submissão e seriedade, embora também haja uma associação da sertaneja com a “mulher macho”, vista como forte. Considerando essas representações pretendo trazer à tona outras possibilidades de leitura sobre o sertão a partir de histórias de vida de personagens femininos e masculinos cujas práticas vão de encontro ao modelo estabelecido.

Nome: Soraia Carolina de Mello E-mail: soraiaa.mello@gmail.com Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina Título: Feminismos de Segunda Onda e o emprego doméstico: Brasil e Argentina A relação entre mulheres e trabalho doméstico, ainda que afirmada pelos feminismos e pelos estudos de gênero como culturalmente construída, tem seu principal aporte na idéia da naturalização das funções domésticas. A família e em especial a maternidade se mostram como as principais legitimadoras de tal relação, que traz em si o peso de séculos de reafirmação de que “ser mulher” é ter cuidado, reclusão, dedicação, paciência; é se voltar para a esfera privada, é ser esposa e ser mãe. Muito antes das lutas mais amplas de feministas pela ocupação do espaço público e do mercado de trabalho, um grande número de mulheres já trabalhava. Mulheres de classes desfavorecidas sempre precisaram trabalhar. E qual tipo de emprego seria mais “feminino” que o emprego doméstico? Proponho-me aqui a escrever uma breve história da discussão em torno do emprego doméstico nos feminismos chamados de Segunda Onda do Brasil e da Argentina, utilizando como fonte quatro periódicos feministas: os argentinos Brujas e Persona, e os brasileiros Brasil Mulher e Nós Mulheres. Discutirei com bibliografia de referência, tanto atual quanto contemporânea aos periódicos, e meu recorte temporal é dado pelas fontes (1974-86). Nome: Susel Oliveira da Rosa E-mail: susel.oliveira@gmail.com Instituição: Unicamp Título: Danda Prado e o devir feminista Neste trabalho abordarei a trajetória de Yolanda Cerquinho Prado, mais

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