XXV Simpósio Nacional de História

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69 no processo histórico. Para tanto, prioriza-se a documentação recolhida nos Arquivos Históricos de Rio Pardo, de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. A problemática que orienta o projeto é apresentar uma leitura de fontes que possibilite vislumbrar os motivos que levaram São Nicolau a permanecer enquanto um aldeamento indígena, e que razões possibilitaram sua sobrevivência por este considerável período de tempo. A relevância desta pesquisa reside no fato de que há lacunas historiográficas que tornam estes indígenas invisíveis no século XIX, ao mesmo tempo em que os afasta das relações estabelecidas durante um longo processo histórico. Nome: Libertad Borges Bittencourt E-mail: libertadborges@yahoo.com.br Instituição: Universidade Federal de Goiás Título: O índio e a ordem: organizações indígenas na América Latina O presente trabalho reflete sobre como as organizações indígenas vem atuando nos cenários nacionais e internacionais com base na identificação étnica. A partir da década de 1920, as Conferências Interamericanas ampliaram as discussões sobre as comunidades indígenas, impulsionando a articulação dos diferentes movimentos, no sentido de traçar diretrizes para os governos latino-americanos. Esse processo fortaleceu a mobilização indígena, ampliando seus contatos e fazendo com que se conscientizem de que a luta é comum a diversos povos indígenas em todo o continente e a outras minorias em todo o mundo. Nome: Marcos José Veroneze Soares E-mail: marcosveroneze@yahoo.com.br Instituição: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina Título: Descendentes de nativos da Zona da Mata Mineira: lembranças, trajetórias e memórias Este trabalho consiste num projeto de identificação de descendentes de nativos da Zona da Mata Mineira, bem como de suas memórias e do significado atribuído por eles à sua ancestralidade. A pesquisa se fundamenta, inicialmente, em fontes orais, para, em seguida, analisar fontes outras como documentos pessoais, fotografias e fontes cartoriais, visando reconstituir as trajetórias de algumas famílias. Os objetivos iniciais são de identificar um contingente -já significativo até o atual estágio de nossos trabalhos- de descendentes de nativos na região, tentando demonstrar que, se a miscigenação foi uma estratégia de dominação, através de um processo de deculturação/ aculturação, utilizada pelos colonizadores, parece ter sido também, por outro lado, uma forma de sobrevivência para a população nativa. A partir de interessantes resultados já colhidos até o momento, a pesquisa poderá também servir de base para futuros projetos de formação, organização e mobilização de grupos de descendentes de nativos da região, visando ao reconhecimento de direitos específicos relativos à sua ancestralidade. Nome: Niminon Suzel Pinheiro E-mail: niminon@unirp.edu.br Instituição: Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP Co-autoria: Sonia da Silva Rodrigues E-mail: soniadalavia@yahoo.com.br Instituição: INCRA/MG Título: Terras Indígenas Guarani - Barão de Antonina e Itaporanga (SP) Em 2006, indígenas Guarani deslocaram-se para os municípios de Barão de Antonina e Itaporanga (SP) em um processo de retomada de seus territórios imemoriais. As terras em questão foram local de residência, em aldeias, e de passagem, caminhos que trilharam por vários séculos. No século XIX, foi estabelecido o aldeamento de São João Baptista do Rio Verde, sistema utilizado pelos latifundiários e políticos, naquele período, para converter indígenas em mão-de-obra para lavouras e pecuária, bem como, em “civilizá-los” para não obstruir o avanço da sociedade capitalista. Os Guarani atuaram de diferentes maneiras em relação com o não-indígena. Dentre elas destacamos: se aliaram em face de inimigos em comum, como os Kaingang; em outros momentos abandonaram o aldeamento para viver em aldeias na mata longe de não-índio; participaram de magotes para conseguir alimentos e ferramentas de não-indígenas. No século XX, o aldeamento foi desativado e os índios, convencidos pelo SPI, mudaram para o Posto Indígena Araribá (Avaí/ SP), junto com outros Guarani. Alguns indígenas permaneceram nas terras do antigo aldeamento, mas foram pressionados e expulsos por posseiros e fazendeiros. O antigo território permaneceu na memória indígena, sendo freqüentemente lembrado na fala dos anciãos. Nome: Oséias de Oliveira E-mail: oseias@oseias.org

Instituição: UNICENTRO Título: De Maria a Dandara: a questão da identidade entre remanescentes de áreas quilombolas Herdeiros de uma propriedade conhecida como Fundão, os remanescentes quilombolas do Paiol de Telha foram assentados pelo Incra, em 1985 sob o regime de comunidade tradicional, em uma área que se limita com uma colônia de descendentes de alemães (Colônia Socorro), no distrito de EntreRios, município de Guarapuava (Paraná). Como esta colônia apresenta os serviços básicos, como comércio local, educação, etc, os remanescentes quilombolas a freqüentam de forma assídua, não sem dificuldades de relacionamento. A partir do incentivo reconhecimento e credenciamento como uma comunidade quilombola pela Fundação Palmares, estes remanescentes assentados na área delimitada pelo Incra iniciaram um processo de afirmação e valorização cultural extremamente intrigante, o qual consiste na recuperação de aspectos culturais, como música, dança, brincadeiras, demais atividades coletivas e, principalmente, uma nomeação cultural que inclui palavras de dialetos africanos. A proposta deste trabalho, então, é refletir sobre o processo de reelaboração identitária de uma comunidade tradicional que se vê em fase afirmação cultural quilombola, em uma região marcada por um discurso de enaltecimento dos imigrantes europeus. Nome: Palloma Cavalcanti Rezende Braga E-mail: pallomabr@bol.com.br Instituição: Universidade Federal de Pernambuco Título: A Dinâmica da Reprodução -História e singularidades nos diferentes espaços indígenas O entendimento cultural indígena sobre a reprodução humana vem sendo interpretada no campo da Antropologia desde as Etnografias clássica (Malinowski: 1986; Turner: 1974: Firth: 1998) e hoje essa temática é abordada sobre a perspectiva de gênero e corporalidade (Belaunde: 2004: Overing: 1999; Martins: 2003; Viveiros de Castro: 1974). Tais perspectivas de abordagem em diferentes regiões indígenas da América do Sul deflagraram na análise versões indígenas particulares sobre a concepção, gestação e parto, demonstrando que tais processos reprodutivos entre os ameríndios são também dependentes de fatores externos ao corpo, como a religião e parentesco. Tal dinâmica de entendimento cultural sobre a reprodução demonstrados nesses estudos viabilizaram o reconhecimento da participação do pai diretamente no processo de gestação e interpretaram as diferentes roupagens culturais que figuram as sociedades indígenas. Essas Etnografias pretendem ser aqui retomadas de modo a revelar a história da produção desse conhecimento na Antropologia nos mais variados espaços indígenas da América do Sul (região amazônica, Brasil Central e Nordeste do Brasil), no intuito de trazer esse material para o campo da História, já que são muitas as singularidades apresentadas sobre tal análise nos diferentes espaços. Nome: Patrícia Raiol Castro de Melo E-mail: paty-raiol@hotmail.com Instituição: Universidade Federal do Pará Título: Mão-de-obra indígena em corpos de trabalhadores (1838-1859) Em 1838 o General Soares de Andréa cria os Corpos de trabalhadores, justificados pela necessidade de conter indivíduos ociosos na província do GrãoPará, transformando-os, segundo o discurso do General, úteis no processo de reconstrução da mesma, arrasada pelos motins cabanos. Dessa instituição de trabalho almeja-se compreender o sistema de seu funcionamento atentando especificamente àquela que basicamente a compunha: a mão-de-obra indígena, suas atitudes, conflitos e formas de resistência mediante aos recrutamentos forçados. Neste viés enseja-se dar maior visibilidade ao elemento indígena, personagem marginalizado durante certo tempo, mas que no trabalho ora aqui proposto será compreendido e observado segundo princípios de um ramo mais recente dos estudos históricos: a História indígena e do indigenismo. Apontar a relevância das populações indígenas e buscar entre elas atores sobremaneira relevantes contribuindo desse modo, ao processo de construção do saber histórico no que tange á sociedade amazônida, ainda mais por se tratar de um espaço que no referido período apresentava-se constituído pela expressiva presença deste contingente populacional. Nome: Renata de Almeida Oliveira E-mail: renatinhaunirio@gmail.com Instituição: UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Título: Poder local guarani: conflitos e negociações Neste trabalho pretendo abordar a tensão entre duas esferas de poder na aldeia guarani de Paraty-Mirim: o poder tradicional do cacique e um novo poder que surge com a formação dos professores indígenas. Sendo assim,

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relatarei o”caso”do conflito entre o cacique da aldeia e o professor Darci tomando-o como um sintoma de uma mudança importante na esfera das decisões locais. É importante analisar este conflito não apenas em termos da esfera do individual, mas apontar para o significado das transformações nas formas de organização guarani do ponto de vista coletivo, de como o surgimento da escola guarani e do curso de professores indígenas está interferindo nas formas de organização social da aldeia ao introduzir um novo poder que não existia anteriormente, de como esta interferência termina por sublinhar o papel da família na aldeia e enfraquece a noção de um “coletivo guarani”.O novo poder-o professor-a meaça o poder tradicional - o cacique - e a solução encontrada foi afastar o novo poder e sua família, expulsando-os da aldeia. Esta por sua vez, procura para encontrar novas formas de sobrevivência, reforçar o pertencimento ao grupo familiar.Trata-se de uma conjugação sutil entre indivíduo,família e grupo étnico,onde dependendo da situação um dos pólos é evidenciado em detrimento do outro. Nome: Sandra Nancy Ramos Freire Bezerra E-mail: sandranfb@hotmail.com Instituição: Universidade Federal do Ceará Título: Assombrações do Cariri: o imaginário popular como elemento de reflexão histórica O presente artigo é decorrente de uma pesquisa de iniciação vinculada ao Instituto Ecológico Cultural Martins Filho IEC, ligado a Universidade Regional do Cariri URCA, realizada em 2006. O estudo objetiva compreender o universo cultural das crenças em torno das assombrações, sua difusão e a relação com a religiosidade popular, a partir do referencial teórico centrado no campo da História cultural. A problemática analisada no estudo utilizará como fonte a abordagem da história oral a xilogravura e o cordel. Aponta para um conjunto de indagações pouco exploradas na produção historiográfica local e para a necessidade de apropriação desse objeto na compreensão histórica cultural no âmbito do Cariri. Nome: Simone Pereira da Silva E-mail: symonepsilva@bol.com.br Instituição: UFPB/PPGH Título: Do folclórico ao popular: representações e apropriações do Reisado de Congo no município de Barbalha (1970 - 1980) A partir da década de 1970, os participantes do Reisado de Congo – por incentivo da municipalidade barbalhense – modificaram intensamente suas práticas ao mesmo tempo em que tentavam tirar “proveito” frente a atual conjuntura socioeconômica. Isso nos leva a tentar compreender a construção de representações sociais dos brincantes sobre a manifestação e as (re) significações simbólicas operadas a partir da interferência pública da municipalidade barbalhense nas décadas de 1970 a 1980, momento de início e consolidação de mudanças na expressão. Nesse contexto, buscamos mediante Michel de Certeau e de Roger Chartier, entender os mecanismos de inversão e reapropriação por parte das classes populares, que buscavam extrair das circunstanciais melhores condições econômicas para si ou para seu grupo. Dessa forma, pretendemos perceber – a partir, especialmente de fontes orais – os resultados das relações sociais no desenvolvimento da referida manifestação, refletindo em mudanças simbólicas e costumeiras da prática do reisado, bem como, a construção de novas representações, condizentes com os interesses em jogo.

rações diversificadas inerente ao protagonismo destas populações, que até o presente momento vinha sendo negado pela história regional, que enfatizava apenas as ações dos imigrantes. Nome: Suzete Camurça Nobre E-mail: suzetecamurca@hotmail.com Instituição: Universidade Federal do Amazonas Co-autoria: Therezinha de Jesus Pinto Fraxe E-mail: tecafraxe@uol.com.br Instituição: Universidade Federal do Amazonas Título: Memória, história oral e ethos: comunidades ribeirinhas do Médio Solimões/Amazonas Este artigo apresenta algumas peculiaridades da história e do ethos de nove comunidades situadas ao longo do Médio Solimões: Santa Luzia do Baixio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré, Bom Jesus, Santo Antônio, Matrinxã, Lauro Sodré, Esperança II e Santa Luzia do Buiçuzinho. As histórias da ocupação dos espaços, as especializações das atividades produtivas, as organizações sócio-políticas nos levam a questionar a imagem das comunidades amazônicas como paisagens indistintas caracterizadas por uma vida estática e um empecilho ao desenvolvimento econômico da região. As histórias das comunidades apresentam sobre outra perspectiva a história do estado do Amazonas, tal como a queda do período áureo da borracha e as decorrentes migrações internas que se imbrica com a formação histórica da comunidade Nossa Senhora das Graças. Ou ainda, a recente construção do gasoduto Coari-Manaus que tem provocado mudanças na paisagem da comunidade Esperança II bem como na vida de seus moradores, que tem encontrado neste grande projeto uma alternativa de emprego em substituição ou complemento das atividades baseadas no complexo mata-rio-quintal. Diante destes contextos, procura-se compreender a relação entre os “locais” e os “globais”, num mundo onde estes fazem as regras do jogo. Nome: Tereza Cristina Ribeiro E-mail: cristapuia@yahoo.com.br Instituição: UFBa Título: O facão e o copo d’água: aspectos da visibilidade indígena diante da mídia nacional O trabalho se propõe a discutir de que forma vem sendo construída a participação política dos povos indígenas brasileiros através de suas entidades e organizações na sociedade não indígena do tempo presente e de como a mídia se posiciona diante disso, ora favorecendo, ora criminalizando os povos e organizações indígenas do Brasil.

Nome: Soraia Sales Dornelles E-mail: soraiazuca@gmail.com Instituição: UFRGS Título: A experiência vivida por imigrantes italianos e índios Kaingang na Serra gaúcha (1875- 1925): pioneiros em terras incultas e devolutas Esta pesquisa objetiva esclarecer a experiência vivida por índios Kaingang e imigrantes italianos no sul do Brasil, entre os anos 1875 e 1925, na região da Serra gaúcha. Esta investigação pretende resgatar a presença e resistência indígena em meio às suas relações com o elemento envolvente, ‘civilizador’, marcadas pela diversidade de respostas por ambos os grupos. A questão envolve o mito do vazio demográfico sugerido em obras de referência que tratam da ocupação italiana na região tradicional Kaingang, bem como sua efetividade histórica. A metodologia deste projeto busca estabelecer um diálogo entre antropologia e história através do cruzamento de documentos escritos e fontes materiais. Podemos considerar, no estágio em que se encontra esta pesquisa, que o padrão colonial do século XIX, no contexto em questão, impôs aos Kaingang a necessidade de optar por formas alternativas a da violência física como forma de resistência. Observa-se a complexidade da relação estabelecida entre os Kaingang e os imigrantes italianos. Para além da falsa hipótese do vazio demográfico encontramos um universo de inte-

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