Revista NOIZE #26 - Agosto de 2009

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DIREÇÃO: 
 Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha 
COMERCIAL:

 Pablo Rocha pablo@noize.com.br Leandro Pinheiro leandro@noize.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Rafael Rocha rafarocha@noize.com.br DESIGN: 
Douglas Gomes doug@noize.com.br ASSIST. DE CRIAÇÃO: Cristiano Teixeira cris@noize.com.br
 EDIÇÃO:
 Fernando Corrêa nando@noize.com.br

CONTEÚDO_ Life Is Music // Leia Isto // News // Bandas Que Você Não Conhece // Online // Move That Jukebox // Dub Echoes // Neo-Psicodelia // All Points West // VizuPreza // FFW & REW // Superguidis // Reviews // Cinema // Shows // Fotos // Jammin’

REDAÇÃO: Carolina De Marchi carol@noize.com.br Maria Joana Avellar joana@noize.com.br Brunna Radaelli brunna@noize.com.br REVISÃO: 
João Fedele de Azeredo jp@noize.com.br

Fernanda Grabauska

fernanda@noize.com.br

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Mell Helade mell@noize.com.br PLANEJAMENTO: Jade Cunha jade@noize.com.br DISTRIBUIÇÃO: Francisco Chaves chico@noize.com.br FOTOGRAFIA: 
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 COLABORADORES: Samir Machado Marcela Jung Lucca Rossi Stéphanie Concistré Gustavo Corrêa Bruno Felin

Tatá Aeroplano Antônio Xerxenesky Mely Paredes Thaís Cristina Luiz Silveira Carlos Eduardo Leite Lucas Tergolina Felipe Guimarães Eduardo Guspe Carla Barth MOVE THAT JUKEBOX: Alex Correa Marçal Righi Neto Rodrigues www.movethatjukebox.com 
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EXPEDIENTE #26 // ANO 3 // AGOSTO ‘09_

PONTOS: Faculdades Colégios Cursinhos 
Estúdios
 Lojas de Instrumentos 
Lojas de CDs 
Lojas de Roupas 
Lojas Alternativas 
Agências de Viagens
 Escolas de Música

ARTE DE CAPA_ BICICLETA SEM FREIO

EDITORIAL | O Vírus Eterno da Música.

O

cada um no seu canto, dando um jeito de tramar a comunicação sempre tão necessária para que uma nova edição

Bicicleta Sem Freio está junto desde 2005. Apoia-se no universo rock ‘n’ roll, como referência, e na mesa de luz para desenhar, sempre a mão. Ilustradores prolíficos na cena rock brasileira, coletivo goiano

só usam o computador para mandar sua arte mais longe, como para a capa desta edição.

Confira

mais sobre o

Bicicleta Sem Freio

coletânea de imagens e depoimentos no site da

NOIZE.COM.BR

em uma

NOIZE:

Parou

de chover depois de uma semana torrencial, e a

Gripe A se

multiplica enquanto fechamos a

NOIZE #26,

ganhe o mundo.

A gripe apavorou e derrubou muita gente, mas a música é ainda mais forte. Foi por isso que jovens Woodstock, 40 anos atrás. Pela música. E foi por isso que seus filhos e netos se jogaram na lama no festival All Points West 2009, que substitui o seminal Woodstock no tempo e no espaço e coloca bandas que, se não carregam a mesma bandeira de quatro décadas antes, ainda cumprem o papel de eternizar a música. Aliás, é a música imortal, de 1969 e de sempre, a responsável pela existência da matéria de capa desta NOIZE – A Neo-Psicodelia, tão nova quanto sessentista. E o psicodelismo é tão inglês e yankee quanto jamaicano. Por isso também pegamos carona no belíssimo documentário Dub Echoes, de Bruno Natal, para falar do psicodélico gênero musical jamaicano, pai de mais da metade dessa meninada que brinca com pick ups hoje em dia. Para equilibrar tanto saudosismo e resgate, nosso coração brasileiro nos conecta aos singulares Superguidis, que se encarregam de colocar ainda mais “noise” na parada. amantes do rock suportaram o lamaçal de

Enquanto isso, 2009 vai passando, passam as bandas, as edições da NOIZE, os estilos e as modas. A música fica.



_foto: felipe neves

_dir. arte: raafel rocha

life is music


NOME_ Tara McPherson PROFISSÃO_ Artista Gráfica UM DISCO_ Stoner Witch | The Melvins

“Eu toco baixo desde os meus 15 anos de idade, então eu sempre estive ligada à música. Quando eu me formei no colégio, eu tive tempo de formar uma banda e, quando começamos a fazer shows, eles me deram a função de fazer os flyers, geralmente impressos em preto e branco e xerox. Sempre tive muitos pôsteres de rock espalhados pela minha casa, e só muito tempo depois, quando eu saí da faculdade, é que tive o estalo que estes pôsteres de shows eram o que eu gostaria de fazer. A música dá a batida do meu trabalho, se eu coloco uma música mais lenta, eu desenho traços bem devagar, mas se coloco uma música mais rápida é completamente diferente. Geralmente faço isso quando estou com o prazo mais apertado (risos).” [+] Assista o making of desta foto em noize.com.br


Ang Lee | Diretor de Taking Woodstock

LEIA ISTO “a maioria dos músicos reclamava que a situação era caótica e desorganizada. Eles não tiveram boas performances no Woodstock. As únicas pessoas que assistiram mesmo aos shows foram os realizadores daquele documentário.”

leia isto_

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“Embora Bob Dylan tenha recusado prontamente o convite para tocar em Woodstock, muita gente achava que ele podia dar uma de Bob Dylan e aparecer.” Pete Fornatale | Jornalista, autor do livro “Woodstock”

“O segredo esquecido de Woodstock é que o festival meio que fracassou.” Douglas Wolk | do site Pitchfork

“Era um contraponto entre trauma e celebração, e acho que ninguém saberá a resposta para o mistério de Woodstock não ter mergulhado no caos e na violência – porque todos os elementos estavam presentes, mas em vez disso foi um evento muito pacífico.”

Grace Slick | Jefferson Airplane

Ellen Sander | Groupie

“Foi tipo uma declaração de “Olhem para a gente, temos 25 anos, estamos todos juntos e as coisas têm que mudar”

“Quando estávamos a caminho da cantina nos disseram que o chá, o café e até a água tinham ácido dentro. Fiquei um pouco no palco, mas estavam todos muito doidos. Eu achei um lugar tranquilo para ouvir, sei lá, Jefferson Airplane, e apareceu um maluco como Abbie Hoffman gritando.” Pete Townshend | The Who


_JOE COCKER, PETE TOWNSHEND, GRAHAM NASH,, ANG LEE

Foi como um sentido maravilhoso de comunicação. Era o último número do show, mas senti que finalmente tínhamos nos comunicado com alguém.”

Joe Cocker | sobre With a Little Help From My Friends

“Lembro de um momento em que chingaram o Jefferson Airplane por derramar alguma coisa psicodélica na poncheira.”

quando a tocamos em Woodstock.

Joan Auperlee

“Tivemos uma reação emocionante

“À medida que avançamos no futuro, a lenda e o mito de Woodstock se tornam maiores do que a sua realidade.”

Pete Fornatale

“A versão de Jimi Hendrix para Star-Spangled Banner foi e continua sendo até hoje um dos eventos mais comentados da história de Woodstock, da história da música e da história americana.”

Graham Nash | Crosby, Stills & Nash

“Se você olhar Star-Spangled Banner , a maneira com que ele prolonga cada nota, o feedback, ele voltando no meio e fazendo tudo aquilo. E a concentração, os movimentos da boca, do corpo inteiro... como você sabe, aquilo não foi um improviso. Ele me disse que ensaiou muito aquilo.” Michael Wadleigh | Diretor do documentário Woodstock

9 noize.com.br


NEWS

_woodstock, red hot chilli peppers, planeta terra re:board

Hannah Webster

piscou, tem novidade.

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woodstock quarentão Foi no quintal de uma fazenda com cerca de 600 acres, localizada na cidade rural de Bethel, em Nova York, que aconteceu aquele que se tornaria o maior festival de música de todos os tempos. Há 40 anos, o Woodstock surgiu para eternizar a era hippie e evidenciar todo o poder da contracultura do final dos anos 1960 e começo dos 1970. Lendário, o festival reuniu mais de 30 músicos, que durante três dias chuvosos mantiveram unidas 500 mil pessoas – todas lá, pela música. Woodstock marcou definitivamente a história, e até hoje, o que foi realizado naquela fazenda ecoa na música e no comportamento de gerações posteriores. A psicodelia, a ideia de uma música mais livre e independente, isso se perpetuou. Para completar a onda saudosista que chega junto ao aniversário de 40 anos do festival, uma nova e mais abrangente antologia de músicas gravadas em 1969 foi lançada. A caixa com seis CDs se chama Woodstock 40 Years On: Back to Yasgur’s Farm. No conteúdo, uma recriação cronológica de todos os 33 shows realizados – começando por Richie Havens e terminando com o grande Jimi Hendrix. Ainda relembrando os grandes momentos, o filme Taking Woodstock conta a história do festival com uma veia cômica. O diretor Ang Lee (responsável por sucessos como Brokeback Mountain), baseou-se no livro Taking Woodstock, a True Story of a Riot, a Concert, and a Life, de Elliot Tiber. Com lançamento previsto para este ano, a comédia conta a história de um homem que, ao trabalhar no motel dos pais em Catskills, hospeda os organizadores e as estrelas do festival. Filmes, CDs, tributos, vale tudo para manter acesa a chama psicodélica de Woodstock em nossos corações - para sempre.


_Dirty Projectors - Bite Orca :: Black Drawing Chalks - Life is a big holiday for us :: Smashing Pumpkins - Siamese Dream :: Curtis Mayfield - Roots :: Yellow Moon Band - Travels Into Several...

_ouca agora ´

__RHCP VIVE | Há dois anos em hiato, o Red Hot Chili Peppers deu o primeiro sinal de um retorno aos estúdios e, quem sabe, até aos palcos. De acordo com o baterista da banda, Chad Smith, os californianos devem voltar a trabalhar juntos em outubro. Eles pretendem entrar em estúdio para gravar o sucessor de Stadium Arcadium. Em declaração ao site da Billboard, o baterista

também justificou a demora para o retorno acontecer: “Agora nós estamos prontos. Você não pode forçar as pessoas a tocarem quando elas não querem tocar ou não estão preparadas para tocar - não em nossa banda”. Chad também disse que a banda pretende imprimir uma sonoridade mais improvisada nas jam sessions que darão origem às faixas do novo disco.

Arte

Divulgação

Reprodução

__ROCK NO PARQUE | O Planeta Terra está de mudança para o... Playcenter. Sim, o festival que caiu nas graças dos fãs do indie rock pode ser realizado no parque de diversões. Em nota divulgada no portal do Terra, a organização informou que os brinquedos estariam disponíveis para eventuais momentos de distração. Imagine só você vendo o show do Green Day (uma das possíveis atrações) descendo em uma montanha russa monstruosa? A nota saiu do ar, mas a mudança pode ser verdadeira. Por contar com uma infraestrutura própria e uma boa localização, o Playcenter, que fica na Marginal Tietê, seria uma boa escolha para sediar o festival deste ano.

__SHAPE ART | RE:BOARD é o nome da exposição irada que tem rodado o Brasil mostrando os shapes mais clássicos da história do skate no país. Mas é também o título do documentário que o diretor e criador do projeto, Alexandre “Sesper” Cruz lançou no último dia 22, em São Paulo. “O foco do filme é o estilo de vida e visões atuais de artistas envolvidos com a criação de artes para shapes de skate e que, por consequência, criaram a identidade das marcas por onde passaram, com uma visão mais analítica da geração”, contou Sesper. Por enquanto os 75 minutos da produção podem ser conferidos apenas em Sampa.

Camila Mazzini

ON THE ROAD | nando reis _Melhor e pior coisa de sair em turnê Melhor coisa: os shows. Pior coisa: aeroportos _Melhor comida de turnê Pizza. _Melhor bebida de turnê Whisky.

5 Discos Para Se Ouvir Na Estrada: _Rolling Stones - Exile on Main St. _Ryan Adams - Heartbreaker _David Crosby - If I could only remember my name _Dennis Wilson - Pacific Ocean Blue _Curtis Mayfield - Curtis Live 11 noize.com.br


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NEWS Reprodução

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__A NOVA CARA DO ÁLBUM DIGITAL | Quando setembro chegar, o mundo deve conhecer um novo formato de música digital. O CMX foi criado em parceria pelas quatro principais grandes gravadoras – Sony, Warner, EMI e Universal – com o objetivo de aumentar a venda de discos digitais inteiros. Para tanto, o CMX incluirá recursos como uma versão turbinada do encarte do disco, com letras e vídeos. Além de acabar com as desvantagens do disco virtual em relação ao físico, a iniciativa visava à Apple, principal vendedora digital de música por meio de sua iTunes Store. Porém a fabricante dos iPods e Macintoshes já tem seu próprio formato para álbuns virtuais, o Cocktail, que deve ser lançado em dois meses.

Divulgação

__CRAZY MONKEY | O viajandão Humbug, disco novo do Arctic Monkeys, foi parcialmente gravado em um recinto sobrenatural, em Joshua Tree, localidade californiana em que também está situado o sítio de Josh Homme. O produtor e líder do Queens of The Stone Age levou os Monkeys para

__VIDEON LENNON| A cinematografia para beatlemaníacos teve um ganho considerável.Além de curtas sobre os discos dos fab four no www.beatles. com, o longa Nowhere boy, que retrata Lennon aos 15 anos, explora sua vida em Liverpool e aborda o relacionamento problemático do músico com a mãe, Julia, e a tia Mimi, irá encerrar o Festival de Cannes, em outubro Divulgação

__F1 ROCKS | Uma parceria entre uma gravadora e os chefões da Fórmula 1 deu início ao festival itinerante F1 Rocks. O evento acompanhará os GPs de automobilismo ao redor do mundo e terá a participação de estrelas como Beyoncé, Black Eyed Peas, ZZ Top e Simple Plan na inauguração que ocorre em setembro em Cingapura. O Brasil recebe o F1 Rocks, no GP de 18 de outubro.

uma estrutura chamada Integração, onde eles teriam registrado partes de “Secret Door”. “O lugar foi erguido por George Van Tassel depois de ele receber a visita noturna de uma entidade. Acreditase que a função fosse rejuvenescer as células humanas”, contou o macaco líder Alex Turner. Uau...



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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Divulgação

apolônio Origem: São Paulo, BRA Som: Sexteto paulista de um indie bem dosado que mistura bases eletrônicas e sanfona a vocais por vezes sussurrados. Levemente soturno mas não menos agradável. Escute: You Can Do Everything,There’s a Fire, Bitter Escape myspace.com/apoloniomusic

horse’s ha Origem: Chicago, EUA Som: Folk de melancolia transbordante, cantado em dueto homem-mulher, com ambientação tão psicodélica quanto bucólica. Ecos e violinos. Escute: Liberation, Asleep in a waterfall, Rising Moon myspace.com/horsesha

HOT RATS Origem: Reino Unido Som: Gaz e Dan do Supergrass se juntaram com o produtor Nigel Godrich para gravar suas músicas favoritas com competência e frescor. Ficou bom! Escute: Damaged Goods, Big Sky, EMI myspace.com/thehotrats

the bird and the bee Você pode achar que nunca ouviu falar de The Bird and the Bee, mas você os conhece – acredite. Nos últimos tempos, deve ter ouvido ao menos uma das canções dessa dupla tocar na rádio, na festa ou no alto falante da sua vizinha indie. Se nós esperássemos mais um pouco para escrever sobre esses californianos aqui, seria tarde de mais. Banda indie pop de Los Angeles, o Bird and the Bee faz um tipo de som na medida exata entre o dançante e o intimista. Quem escuta “A Love Letter To Japan” não consegue ficar parado no lugar. Uma perna vai bater, a cabeça balançar, mas tudo sem exageros - The Bird and the Bee empolga sem dar vontade de sair correndo por aí. Com o primeiro disco lançado em 2007, Inara George (vocalista) e Greg Kurstin (todo o resto) conquistaram fãs para as suas canções. Por vezes, flertam com o jazz

com um toque tropicalista (como em “Diamond Dave”), tudo muito leve, sem forçar a barra. No próprio myspace da banda eles definem o som como “um filme americano futurista dos anos 60 filmado no Brasil”. Com o novo disco, Ray Guns Are Not Just The Future, a banda consolida uma sonoridade que poderia ser comprada a um dia ensolarado, de tão leve – mas dizer isso seria muitíssimo brega. Escute: “My Love”, que junto com “A Love Letter To Japan” apresenta um som mais pop e animado - são as duas músicas do Bird And The Bee perfeitas pra rádio. “Cover Your Mouth” já é mais tranquila, quase hipinótica. “Ray Gun” é a pedida para completar a viagem ao som da dupla de LA. E para quem quiser mais, o single antigo, mas excelente, “Again and Again”.



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bandas que voce nao conhece mas deveria conhecer_ Divulgação

MAJOR LAZER Origem: EUA Som: “O dancehall jamaicano é como o fim da linha da mistura de ritmos e gêneros”, disse Diplo. E é também o coração oculto da nova empreitada do produtor com o DJ Switch. Escute: Hold the Line, Maryjane, Can’t stop now myspace.com/majorlazer

LAZARUS Origem: Louisiana, EUA Som: Rapper alterofilista (?) de Lake Charles que se destacou pela variedade refrescante de seu rap e chegou a participar da trilha do longa Alpha Dog, de Nick Cassavetes. Escute: Enemy and I, Heart of a hustler, I stand for the world myspace.com/lazraps

BANG BANG BABIES Origem: Goiânia, BRA Som: O rock garageiro arrebatador que Goiânia produz em série, sempre com um algo a mais – nesse caso, passagens instrumentais de surf music e guitarras e baixos pungentes. Escute: My pins in your voodoo doll, Mademoiselle. myspace.com/bangbangbabies

os haxixins Quem assiste a um clipe ou escuta uma das canções do Haxixins com certeza se pergunta: “Como eu ainda não tinha ouvido falar dessa velharia?”. Velharia não no sentido ruim da palavra, veja bem, mas sim como sinônimo de preciosidade musical. O visual totalmente retrô já entrega: os Haxixins pertencem aos anos 1960, são da psicodelia - e não importa se eles nasceram bem depois disso. Poderiam muito bem ser uma das estrelas da matéria de capa desta edição. A garageira e o fuzz correm nas veias dessa banda da zona leste de São Paulo, e estão presentes em todas as composições do quarteto. Na estrada desde 2003, os Haxixins começaram com a reunião do baterista Sir Uly e do guitarrista Fábio, que resolveram montar um repertório “só com o pedal Fuzz e a coragem”, como eles mesmos contam

no MySpace. Foi justamente toda essa vontade que motivou a banda a lançar seu álbum de estréia em 2007. Intitulado Os Haxixins, o debut da banda saiu em vinil de 12 polegadas, pelo selo português Groovie Records, como a boa psicodelia de seus ídolos. Em seguida veio a turnê europeia. Incrivelmente internacionais para uma banda brasileira, os Haxixins seguem fazendo seu rock 60’s, com muito garage punk e psicodelia, seja na Europa, seja na Zona Leste. Escute: as letras lisérgicas de “Depois de um LSD” e “Espelho Invisível”, ambas composições próprias. E para sacar de onde vem a inspiração, os covers “Dirty Old Man” e “In The Deep End” estão no primeiro disco e mostram todo o poder do fuzz dos garotos paulistas.



entrevistas por messenger sem maquiagem

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online _wearehunted.com Acompanhe o trend da música, quem está estourando, estourou e vai estourar no mainstream da atual conformação da indústria fonográfica. _lostateminor.com Conhece o The Coolhunter? O Lost at E minor segue a mesma linha, e você pode comprar coisas cool que pintam por lá na loja do próprio site.

major lazer - HOLD THE LINE _Lembra quando você acordava sábado de manhã e ficava na cama vendo desenho animado? É esse o clima que predomina enquanto o dancehall jamaicano luta contra vampiros zumbis na trama de “Hold the Line”, que conta com a participação de Santigold e Mr. Lexx.

Tags: major lazer hold line

mp3 Mrs. Cold | Kings of Convenience Depois de muita espera, o primeiro single de Declaration of Dependence, novo do Kings of Convenience, já acaricia ouvidos pela rede. Celebration | Madonna A rainha eterna das pistas de dança preparou mais um hino para a coletânea de hits que ela lança em breve. D.O.A. | Jay-Z No primeiro single de Blueprint 3, Jay-z declara o fim da praga que dominou o rap norteamericano: o autotune.

tiny urls tinyurl.com/woodvideos O NewYork Times colheu depoimentos em vídeo de gente que estava lá embarrado e embasbacado, no Woodstock, em 1969. tinyurl.com/nickdoc Alexandre Matias resgata A Skin Too Few, documentário sobre o mestre folk Nick Drake.

strawberry swing

ecos falsos - spam do amor _O sucesso do novo clipe da Ecos Falsos depende de você, espectador. Seu dedo é o encarregado de orquestrar cada instrumento, uma brincadeira interativa que entretém e leva o video-clipe a outro nível de comunicação. E a música, para quem não conhece, é bem legalzinha. www.ecosfalsos.com.br/spamdoamor/play/

modest mouse - king rat _Em forma de animação, o clipe de “King Rat” foi dirigido por Heath Ledger. Com a morte do ator no início de 2008, o vídeo ficou parado e foi finalizado recentemente, in memoriam. Vale a pena pelo lado sentimental, e pela animação em si, com peixes e baleias pescadoras.

Tags: modest mouse king rat

2 year old michael jackson friendly fires kiss of life noia suina q&a julian casablancas

crooked vultures tim maia arquivo trama hecuba suffering friendly fires kiss of life apes and androids movable hype

o rockz to planejando them

white stripes under lights anti-tabagismo macaco bong musicadebolso



movethatjukebox.com

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move that jukebox

__Entre os shows internacionais confirmados ou especulados até agora, quais você pretende assistir? _Paul McCartney, Beirut, The Ting Tings, Lily Allen, Faith no More, Friendly Fires, The Killers, Green Day, Arctic Monkeys, Prodigy, Empire of the Sun, Little Joy, The Dead Trees vote em movethatjukebox.com __Com a morte de Jacko, quem fica com a coroa do pop? _Madonna 31% _Stefhany 27% Nenhuma das opções 18% Justin Timberlake 15% Lady Gaga 7% Britney Spears 3%

__JACK WHITE SOLITÁRIO | Jack White, que sempre aparece por aqui (seja com os White Stripes, Raconteurs ou Dead Weather), vai, finalmente, lançar uma música solo. A canção se chama “Fly Farm Blues” e deve ser lançada até o fim de agosto. Os assessores do músico contam que a gravação da faixa foi sugerida por David Guggenheim, diretor do documentário It Might Get Loud, que também tem The Edge e Jimmy Page como protagonistas. O curta será lançado em DVD ainda em agosto com o intuito de relatar a história da guitarra através dos anos. Não consigo pensar em participações de músicos (vivos) melhores que esses.

__Kate Nash em novo disco | A inglesinha ruivinha bonitinha Kate Nash está em estúdio gravando seu segundo álbum, mas várias das novas músicas já estão rolando no YouTube em versões ao vivo. O produtor do trabalho é Bernard Butler, fundador do Suede. Kate também tem um projeto paralelo pendente com o grupo de electro Metronomy.

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enquete

__The 11th Arrondissement | Começou a correr na web uma música inédita e instrumental do Beirut, gravada por Zach Condon e Perrin Cloutier para a comédia romântica Paper Heart, que conta com Michael Cera no elenco (fazendo o papel dele mesmo!). O filme, assim como sua trilha sonora, será lançado nos Estados Unidos ainda no mês de agosto.

Divulgacão

_Who the heck is Jennifer Lo-Fi? O quinteto paulistano Jennifer Lo-Fi é uma das boas promessas na cena indie brasileira atual. Com EP recém-lançado, a banda mostra muita personalidade ao fazer um som que se baseia no indierock, mas que tem belíssimos flertes com o experimentalismo e até tímidas pitadas de post-rock. As guitarras criativas de Caio Freitas e Filipe “Miu” e a bateria nervosa de Luccas Villela se encaixam perfeitamente com a versátil voz de Sabine Holler, que ora soa calma e delicada, ora carrega consigo intensidade e peso invejáveis. Os fãs de Death Cab for Cutie devem gostar da excelente “Telematic From XPT7”, enquanto guitarras a la Los Hermanos tomam conta de “Até o joelho cair”. No MySpace da banda (myspace.com/jenniferlofi) estão disponíveis várias faixas do grupo. Já o EP, intitulado J Lo-Fi, pode ser baixado gratuitamente pelo site sinewave.com.br.

Divulgação

moving

_BEIRUT, KATE NASH, JENINIFER LO-FI, JACK WHITE



_texto bruno felin dub echoes

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Grande parte do que se ouve na rádio hoje é reflexo de inovações que surgiram na ilha caribenha durante os anos 70. Difícil de acreditar?

Quando o bumbo junta-se ao baixo e o som sai da Jamaica, os passos de dança ganham peso de elefante, o peito treme. É uma música que tem essa qualidade: responde no peito. Mas além dessa característica - e de Bob Marley - a ilha caribenha exportou o dub, e, com ele, os conceitos para o surgimento da música eletrônica, do hip hop, dos DJ’s, dos MC’s e dos produtores. Basicamente tudo que mais movimenta dinheiro no atual mercado da música. Ironicamente, hoje o dub é passado em sua terra mãe. “Muitos jovens jamaicanos nem sabem o que é”, conta o jornalista Bruno Natal, que, junto do amigo Chicodub (pesquisador e entusiasta das três letras finais do codinome) teve a idéia de filmar Dub Echoes+1, documentário sobre o dub e suas influências na música contemporânea. A oportunidade surgiu quando os dois foram fazer um trabalho na Jamaica e, ao estender a viagem, reuniram algumas entrevistas - o suficiente para buscar apoio para o projeto. “Sabíamos que não existia nenhum material nesse tema específico, e juntar isso era uma idéia antiga nossa que voltou com a viagem”, explica Natal. Após conseguirem o apoio para as passagens, eles passaram por Los Angeles, Nova York e Londres, reunindo as cabeças pensantes (ainda vivas) do gênero e artistas que foram influenciados por eles, para contar como um país do terceiro mundo conseguiu ser tão inovador mesmo sem recursos tecnológicos e financeiros. O resultado é o relato histórico em vídeo mais abrangente desta revolução que surgiu nos anos 70 e que segue até hoje. Por mais que pouca gente conheça sua história, uma vez que o baixo e a bateria pulsam no coração, é difícil parar de ouvir. Como Bob Marley resumiu, “o bom da música é que quando ela bate não se sente dor”. As rádios ambulantes O documentário é separado em capítulos, passan-

do por cada momento chave da história. Para entender o dub foi preciso começar com os Sound Systems. Esses imensos e poderosos sistemas de som, que funcionavam como discotecas ambulantes, foram o começo da história da música local. Situados principalmente no bairro de Spanish Town, em Kingston, existiam desde os anos 40, quando tocavam discos americanos de RnB, o sucesso da época. A partir da decadência do estilo, a música local foi nascendo com o calipso, seguido do ska, do rocksteady e mais tarde com o reggae. Foram os donos de sound systems que criaram e, consequentemente, dominaram o mercado musical jamaicano na época. Eram as rádios do país, pois os acetatos que recém tinham saído do forno, ao passarem por seus toca-discos, iam direto ao topo das paradas. Caras como Duke Reid com o Trojan, Sir Coxsone Dodd com o Downbeat, Count Nick The Champ e outros, foram peças chave na explosão da música jamaicana na década de 60. Com o crescimento (de renda) dos sound systems, eles compraram estúdios e passaram a lançar material próprio e exclusivo, atraindo ainda mais gente para suas festas. E exclusividade era algo importantíssimo. Fazia com que o público fosse muito fiel, a fim de conhecer os lançamentos de seu Disc Jockey preferido. Raspar as etiquetas dos discos para que ninguém soubesse o nome da música ou da banda que estava tocando era algo comum. E foi assim que todo o comércio de discos surgiu na ilha. Com o sucesso dos SS, as vendas de discos disparavam, todos queriam ter os mais novos lançamentos. A estratégia era simples: tocar o som recém gravado e aguardar a reação do público. Mas uma noite foi diferente das outras em Spanish Town. Em 1968, o DJ Rudy Redwood, operador do Supreme Ruler of Sound, foi buscar alguma novidade no Treasure Isle, estúdio de Duke Reid. Em um “erro” (talvez o mais genial da história da música),

[+1] O documentário ainda não tem previsão de lançamento no Brasil. Por ter sido feito de maneira independente, ainda aguarda uma parceria para a distribuição aqui.


dub echoes

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[+2] A música “Police and Thieves”, do disco de estréia do Clash foi escrita por Lee Perry numa parceria com Junior Murvin. Perry mais tarde produziria para a banda. [+3] Kool Herc viveu a infância na Jamaica até os 12 anos e teve contato com sound systems e toasters antes de se mudar para o Bronx em Nova York.

o engenheiro de som, Byron Smith, gravou o acetato sem os vocais, e Rudy tocou “On The Beach”, do Paragons seguido daquela versão instrumental única, sob os olhos e ouvidos de King Tubby e Bunny Lee – que conta essa e outras histórias no filme. Surgiam, naquele momento, dois conceitos que seriam base para toda a música eletrônica feita hoje em dia. A cultura dos Dubplates – vinis com faixas exclusivas distribuídos para DJ’s, produtores e engenheiros de som – e o dub, o primeiro estilo musical onde o produtor/engenheiro de som era o artista. Foram aparecendo diversas versões de uma mesma gravação, o remix como conhecemos hoje. Paralelo a isso, havia a figura dos toasters, encabeçados por Machuki e U-Roy, que foram os primeiros Mestres de Cerimônia (MC’s) da história, usando o espaço deixado pela falta de vocal nas músicas para improvisar e animar a festa. As prensas de vinil não tinham descanso. A música estava aberta. O dub fora criado para quem quisesse usá-lo. Os magos da mesa De 1968 até 1973, era feito apenas o “riddim”, como chamam os jamaicanos. Como não havia leis de direito autoral específicas para gravações, eles simplesmente usavam as bases prontas e tomavam para si. Até que surgiu a figura de King Tubby, produtor e engenheiro eletrônico que já trabalhava com Duke Reid. Ele começou a brincar com as bases, adicionando ecos, phasers e reverbs, a partir de equipamentos criados em seu estúdio caseiro. Foi quando o conceito realmente tomou forma. Tubby estava criando um novo som - totalmente diferente do original - remixando a música para fazer outra. O baixo e a bateria seriam a verdadeira base de tudo, cortados por nuances sonoras que passavam como uma viagem ao espaço. As baixíssimas freqüências do baixo e da cozinha em geral eram o que reverberava na caixa toráxica. Tendo U-Roy como DJ, o seu Sound System, Hometown Hi-Fi, já era um dos mais conhecidos, principalmente pela qualidade técnica do som.Tubby sabia – como exímio eletrônico que era – de que forma seu sistema de som deveria soar. “Ele é insubstituível. Deixou o seu legado e todos o seguiram”, profetiza Bunny Lee em Dub Echoes. Bunny era um de seus maiores contribuintes com novas bases. E foi juntando este engenheiro de som pioneiro com Lee “Scratch” Perry, o produtor mais experimentalista, criativo e peculiar da Jamaica, que surgiu a primeira

pedra fundida em baixo e bateria. “Blackboard Jungle”, de 1973, disputa o troféu de primeiro disco exclusivamente do estilo com Java Java Dub (mixado por Errol Thompson, na estréia do mestre dos sopros Augustus Pablo) e Aquarius Dub, de Herman Chin-Loy. Ouvindo a faixa de abertura, transbordando experimentalismo em “Black Panta” se percebe o portal mágico de possibilidades do dub. A participação de Dillinger, um pré-MC do dub, emplaca mais uma novidade no disco. A febre foi intensa na Jamaica. Praticamente todos os discos passaram a ter um Lado B exclusivo de dub. No documentário de Bruno Natal, Lee Perry filosofa sobre a verdadeira origem da mistura que fazia: “O baixo é o cérebro que dá o ritmo e a bateria é a batida do coração, assim a música torna-se um ser vivo. Que faz você querer dançar”. A capacidade inventiva do dub não tinha limites, a falta de equipamentos era suprida com genialidade. Grande parte dos dubs foram gravados em duas mesas de quatro canais conectadas. Ao vivo! A personalidade dos produtores aflorava na criação de sons nunca antes gravados. King Tubby e Lee Perry pareciam tirar da música o que Hunter Thompson tirava das palavras. O dub foi gonzo, foi espiritual, foi resultado de uma magia que atinge certos lugares em períodos da história e assim a escreve, sem regras, sendo apenas fruto de um ambiente, de um momento. Os ecos do dub hoje O delay da cultura dub ecoa hoje principalmente na Europa. Foi na Inglaterra que a música jamaicana aterrissou primeiro e, a partir dali, espalhou-se pelo mundo de forma consistente. Incorporando a cultura do baixo e da bateria, foi lá que surgiu o Jungle, e, mais tarde, o drum n’ bass, abrindo espaço para o dubstep, o downtempo e muitos outros rótulos que se fixam na cultura da cozinha e tem sua origem explicada em Dub Echoes. Os punks adoravam-no. Johnny Rotten e The Clash+2 foram declaradamente influenciados. Os americanos também sentiram o impacto. O surgimento dos breakbeats, um dos embriões do rap, foi representado por mais um jamaicano, o DJ Kool Herc+3, considerado um dos pais da cultura ao lado de Afrika Bambataa e Grand Master Flash. A verdade é que o dub é muito mais que um ritmo ou um estilo de música. É um conceito. Representa uma maneira diferente de olhar para a produção e a composição do som. Muito mais que uma batida infinita, é uma atitude.



_texto carol de marchi e fernando correa

_foto estĂşdio fx neo-psicodelia

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Em junho de 1985, o New York Times soltou: “Você acha que consegue encontrar sua velha camisa indiana, jaqueta Nehru, óculos retrô e colares do amor em algum lugar no fundo do armário? Se conseguir, resgate-os, você vai precisar deles. O rock psicodélico está de volta”. O conselho nunca deixou de valer.

O cenário mudou um pouco desde que a psicodelia roubou a cena da música. O mundo no fim dos anos 1960 não era mais caótico que hoje, mas vivia-se o cume de uma sequência de guerras que desencadeou e fomentou diversos tipos de manifestações sociais, culturais e artísticas. Os jovens roqueiros, que encontravam nas artes o gargalo pelo qual escorriam suas angústias e transbordava sua esperança, eram apresentados a um parceiro sintético, o LSD, que tornaria o processo criativo mais divertido e perigoso. Bandas de todo o mundo foram hipnotizadas e lançaram discos nos embalos dos alucinógenos – ou na trilha de bandas que os utilizavam+1. Até um bombardeio podia virar música delirante quando banda e público estivessem devidamente “remediados”. Foi assim que Jimi Hendrix deixou todos pasmos, quando mesclou o hino nacional americano ao som de jatos e mísseis (extraídos por ele da guitarra) no festival Woodstock, em 1969. O som dos tradicionais baixo e guitarra era alterado por efeitos como fuzz e delay+2, instrumentos orientais, como

a cítara, produziam atmosferas embriagantes, solos eram repetidos ao contrário. O tipo de música que a palavra “psicodelia” denota foi a base do rock progressivo e do Krautrock, estendeu-se para o funk, o jazz e o soul, permeou a new wave e acabou por tornar-se um recurso da música pop. No contexto atual, a psicodelia é menos parte de um engajamento político e mais esse recurso lúdico. A brincadeira com os sentidos é facilmente identificável, por exemplo, nos lançamentos recentes de duas bandas em evidência: o Animal Collective e seu Merriweather post pavilion+3, cuja capa, em lisérgica ilusão de ótica, nos diz a verdade sobe o encantador e hipnótico conteúdo musical; e o Arctic Monkeys de Humbug, aventura doidona dos monkeys pelo stoner rock viajandão que ganhou destaque na seção de reviews, na página 39. Há uma diferença clara de propósitos entre as duas bandas: o Arctic Monkeys é expoente de uma cena inglesa roqueira que fez as pazes entre o punk e o dancefloor, o Animal Collective tem uma proposta eminentemente psicodélica.

[+1] Por exemplo, até o Bee Gees teve seu período psicodélico, representado por discos como First e Odessa. [+2] O fuzz é um tipo de distorção utilizada na guitarra e, sobretudo por bandas psicodélicas, no baixo. O delay é um efeito que mistura eco e atraso, produzindo um efeito estonteante para os padrões da época. [+3]

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neo-psicodelia

42 Quer dizer, como 40 anos atrás, existem os grupos que vivem a psicodelia e aqueles que se inspiram nela para expirar música mais lúdica e experimental.

[+4]

Psicodélico super pop A psicodelia pop recobrou a atenção merecida com o lançamento de Oracular Spectacular+4, dos novaiorquinos do MGMT. O álbum, um dos hypes de 2008, deu o start para o reconhecimento de uma série de bandas cujo rock, facilmente embalável para vender como electro, fazia na verdade um resgate da psicodelia, muitas vezes com ares discothèque. No caso do MGMT, há ainda uma aura primitiva-hippie escancarada no encarte do disco+4 e no clipe do hit “Time to Pretend”, em que o duo encarna Os Flinstones, vestidos como homens ancestrais ao redor de uma fogueira. A julgar pela capa de seu debut Walking on a dream+5, o australiano Empire of the Sun parece uma paródia sci-fi do primitivismo do MGMT. Fazem seu synthpop menos atrelado à música de The Byrds e The Zombies, mais ligado a sintetizadores que criam ambientações futuristas. Daí para o Passion Pit, uma das revelações de 2009 com o saboroso e antecipado debut Manners, mantém-se o synthpop e adiciona-se mais soul, em uma espécia de Bee Gees dos anos 2000. Nessas duas bandas, a psicodelia deixa de estar no centro, como em Oracular Spectacular, mas se faz presente nas camadas eletrônicas e nos reverbs. Para o vocalista do Passion Pit, Michael Angelakos, eles apenas tocam música pop. “É só o que é. Usamos elementos eletrônicos e vários elementos de rock. Um bocado de teclados, mas que não soam elétricos. Soa como se usássemos teclados como guitarristas os usariam. É natural que tentem nos rotular. Normalmente nós discordamos.” ˆ

[+5]

[+6] Disco do virtuoso violonista folk, ídolo de 8 entre 10 neo-folqueiros. [+7] O cultuado disco do Love Forever Changes, de 1967, foi o álbum da Redescoberta na NOIZE 25.

Uma história recente A matiz do psychedelic-pop esbarra em outro resgate da psicodelia, certamente o que tem mais força e é mais arraigado ao passado: o folk. Ainda ecoa a beleza do disco homônimo do Fleet Foxes, barroco e lindamente harmonizado, como um Beach Boys pastoril. Fleet Foxes, o LP, poderia ter sido gravado na época em que o inglês Nick Drake registrou seu Pink Moon, em 1974+6, diferentemente de boa parte da neo-psicodelia pop, quase sempre atualizada pelos recursos eletrônicos. Há bastante gente no meio do caminho, como o grupo brooklyneano Yeasayer, que ora toca folk com

influências orientais nos riffs cíclicos, ora faz electro; sempre com boas harmonias vocais. Incontáveis outras bandas empunham violões de aço mais ou menos psicodélicos, nas duas costas norte-americanas, no Brasil, na Europa, no mundo. O disco de folk do momento também vem do Brooklyn. Veckatimest, do Grizzly Bear, dividiu a crítica, mas manteve a linha do freak folk (filho doidão e pós-moderno do pai folk). Embora distante, à primeira audição, da turma electropop do MGMT, ambos compartilham o gosto pela lisergia de gênios como Arthur Lee, do Love+7. Dividem também a mesma cidade, Nova York, a gigante que absorve rapidamenta as vanguardas e passa a alimentar o hype. Obviamente foi assim com o psych folk do fim da década, rapidamente deslocado da Costa Oeste, onde reinou nos anos 1960, para a megalópole. Na verdade, desde a década de 1990, a cena psicodélica nos Estados Unidos tem se organizado em lugares improváveis. Se existe um movimento lisérgico neste milênio, o coletivo Elephant 6 é um referencial importante. Ele fez de Athens, na Geórgia, uma espécie de Seattle da nova psicodelia. Além do conhecido Of Montreal, integraram o coletivo o Apples in Stereo, o Olivia Tremor Control, o Chocolate USA, o Marshmallow Coast e o Neutral Milk Hotel, bandas ativas no fim do último milênio e importantes influências para a cena de hoje – pelo folk-rock onírico e esquisito, pelos álbuns com conceitos surreais e títulos gigantescos e pela união que fazia sua força. Sim, ao rock psicodélico de hoje é fácil atribuir essa aura comunitária. Não por acaso, o MGMT tocou as canções de seu Oracular Spectacular como abre-alas para o Of Montreal na turnê de 2007 dos caras, e os líderes das duas bandas acabaram por formar o Bikk Fang, cujo primeiro disco é aguardado para a primavera. Claro que a trip sensorial do MGMT é de facílima digestão comparada à vertigem das trocas de tom incessantes que reinam nas composições de Kevin Barnes, líder do Of Montreal. E o mesmo ar esquizo que paira sobre as bandas do Elephant 6 nos leva de novo ao coração da psicodelia americana, a Califórnia, onde outro grupo de pessoas empenhou-se em realizar a mesma antropofagia musical que os piscodélicos brasileiros da Tropicália fizeram à sua época. Capitaneados pelo cabeludo Devendra Banhart e batizados pela revista Wire de New Weird America, têm expandido seus domínios de forma magnética: o Animal Collective e o Grizzly Bear foram associados pela imprensa ao clube, ainda que o próprio “clube” não reconheça sua existência.


Nova Estranha América
 O New Weird America é um gênero sem receita pronta. O folk e o rock constituem uma base, às vezes, invisível. Alguma coisa de free jazz, noise ou eletrônica é salpicada por cima. Apesar de ter sido criado há quase uma década, somente nos últimos anos o rótulo tem sido mais usado. Não é à toa: artistas como Devendra Banhart e sua best friend Joanna Newsom, Animal Collective, Iron & Wine e Coco Rosie estiveram sob os holofotes da mídia especializada graças a lançamentos, shows performáticos, projetos polêmicos e algumas turnês estratégicas pela Europa e Estados Unidos. Mais do que uma simples etiqueta, o New Weird - que também é chamado psych folk - pode ser considerado um movimento. Ainda que não seja unificado, é evidente que existe a tendência entre muitos músicos de apostar nessa espécie de revival sessentista que resgata não só o folk em sua versão mais acid, mas também a psicodelia. Tais artistas formam mais de um grupo, criam coletivos pelos quais se movem de maneira fluída, uma alegoria do próprio estilo de música que tocam. Os discos são feitos de maneira completamente independente. Às vezes são distrubuídos em CD-Rs caseiros e via edições limitadas em vinil, como foi o caso de 500mg, Six Organs of Admittance e Jack Rose alguns anos atrás. Hoje em dia, a maioria conta com sua distribuidora indie além de sua indefectível página no MySpace. Mesmo assim, nada de difusão massiva. Devendra Banhart seria o sol dessa galáxia musical, ainda que considere Six Organs of Admittance os verdadeiros “gênios” do que a mídia chama também de freak folk. Como astro-rei, Banhart tem o poder de convergir diversos artistas-amigos à sua volta. Seu lema é colaboração. “This is supposed to be the sixties”, disse à MTV em 2007, quando juntou amigos em um casarão em Topanga Canyon, perto de Los Angeles. Lá foi gravado Smokey Rolls Down Thunder Canyon, com participações de Noah Georgeson, Megapuss Greg Rogove, Luckey Remington e do nosso conhecido Rodrigo Amarante. Antes disso, já tinha se instalado perto de Woodstock com outro bando de gente. Banhart repetiu a formula para graver seu novo CD que sera lançado em outubro e recebe o nome de What We Will Be. Dessa vez, o músico chamou a galera para uma casa em Bolinas, Califórnia, onde montou uma espécie de estúdio que mais parecia uma comunidade hippie. Apesar de seu jeito esquisito de ser, Banhart não

gosta que classifiquem sua música de freak. “Por que não Naturalismo ou Saturnalia?”+8, questiona. Por mais riponga que seja, o esoterismo e a ingenuidade do cabeludo estão carregados de ironia, o que lhe confere uma ambiguidade digna de comentários contrastantes. Há quem o considere o máximo, há quem diga que é puro clichê. Freak out folk! Clichê por clichê, não deixa de ser especial bandas resgatarem a fantasia ingênua, muitas vezes perdida no cinismo que a música, e sobretudo o indie rock assumiu. Em um lugar como o Brooklyn, ir a um show de rock ou de electro (qual a linha que separa eles hoje, mesmo?) pode revelar uma ótima surpresa. Como as tradicionais projeções coloridas feitas com tinta, eternizadas na Swinging London e sempre resgatadas por grupos como o Oneida e sua mescla atordoante de psicodelia freak com a eletrônica lo-fi do krautrock. “Nós somos a contradição de se passar do amor livre para o livre comércio para o ‘livretardado’”+9, define o tecladista Bobby Matador. O Velho Mundo também tem baralhos na manga. Basta um festival relativamente voltado para o psych e para o folk, como o galês The Green Man, para mostrar uma mão cheia de boas cartas. Claro, obviedades yankes como Gang Gang Dance e Animal Collective estão no line up de 2009, junto a ninguém menos que o texano Roky Erickson+10. Foi o Green Man que apresentou ao mundo a weird californiana Joanna Newsom, em 2004. Mas a psicodelia britânica também é fortemente representada por gente folk underground, caso do novato The Fuzz Birds, e pelos próprios curadores do festival, integrantes da Yellow Moon Band. A banda emergente encabeça uma maratona de 11 horas de psicodelia e projeções junto a veteranos do space rock como o Hawhkwind, e foi headliner de outro festival britânico, o Lewes Psychedelic Festival. Por toda a Europa, o verão é palco de vários eventos com a lisergia e a natureza no centro da celebração musical. Na Espanha, em especial, o Castell de Guadalest, o Territorio Lunar e o SINSAL são festivais relativamente pequenos, mas com lineups povoados por gente como José Gonzalez, Six Organs of Admitance e Coco Rosie. A viagem pelo mundo da psicodelia não tem destino certo, mas é oportuno aterrissar no Brasil. Para a benção tupiniquim, escolhemos os Haxixins, sobre quem você lê na página 16. Os novos ventos, que trazem desse comportamento?[+]

[+8] naturalismo. wordpress.com [+9] Free love, free trade, free-tarded, este último em provável referência à “cultura do grátis” [+10] Fundador do 13th Floor Elevators, primeira banda a se dizer psicodélica no disco The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators, de 1966. [+] Boa parte das bandas tendência têm algo de psicodélico. Eis uma lista de myspaces do que promete ser psycho-hype no próximo semestre: _Apes and Androids /apesandandroids _Lost Valentinos /lostvalentinos _Emily and Friends /emilandfriends _Iran /iranband _Fenech-Soler /fenechsoler _Jonathan Boulet /jonathanboulet _The Sound of Arrows /thesoundofarrows _The Temper Trap /thetempertrap _Instamatic /instamaticband _Ariel Pink /arielpink _Edward Sharpe and The Magnetic Zeros /edwardsharpe

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_texto e fotos luiz silveira

all points west

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All points west 2009. new jersey, eua.

Três dias de paz e música. Ops, acho que já ouvimos isso antes.

Completando o segundo ano de existência, o recente All Points West Festival coloca no mapa um novo ponto de encontro de bandas clássicas e emergentes na já enorme lista de festivais que rolam todo ano nos Estados Unidos. Durante três longos dias, o famoso Liberty State Park de Nova Jersey (estado vizinho de Nova York) com uma vista maravilhosa diretamente para a Estátua da Liberdade, torna-se sede para a maior variedade de música e arte do verão americano. O temporal da sexta-feira de abertura e os constantes avisos de possíveis tornados no caminho não foram suficientes para parar o enorme público presente no evento. Cada espetáculo movia milhares numa jornada em meio a um campo repleto de lama. A situação era tão caótica que no domingo, último dia do festival, houve um atraso de mais de 4 horas, resultando em cancelamentos e adiamentos de shows. A local The Gaslight Them, uma das grandes expectativas do festival, foi um dos exemplos.

A banda ficou tão sentida que mandou um pedido aos fãs para levar o ingresso do APW valendo um drink grátis para o próximo show deles em Nova York, previsto pra outubro. Todos tinham uma ampla variedade de passatempos. Shows de stand-ups comedy, três palcos com música constante e até lounges e amostras de obras de arte para os especialmente entediados. Estranho era o beer garden, assim como a nossa área de fumantes, só que para cervejas, com copos da mais vagabunda no valor de US$ 7. Isso mesmo, lugar um específico para beber cerveja (ruim), e só para maiores de 21 anos! O festival fica como uma grande promessa para longos anos de vida. É o maior espetáculo da Costa Leste e poupa nova-iorquinos de grandes jornadas como o Coachella (Califórnia) e Lollapalooza (Chicago) para poder ver 3 dias muito variados e as melhores novidades do mundo musical.

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all points west

36 Festival da variedade Com um lineup incluindo MGMT, Coldplay, Tool, The Ting Tings, Vampire Weekend e Jay-Z, a música foi suficiente para agradar a todos os tipos de ouvidos. Três palcos suportam a grande quantidade de bandas, todos batizados com nomes dos principais trens que passavam por Nova Jersey durante o século XIX: The Blue Comet o principal, Bullet o secundário e Queen Of The Valley voltado para música eletrônica. Com Jay-Z em ação, entre outros vários grupos de hip-hop como Pharcyde, The Knux, Q-Tip e o fantástico duo The Cool Kids, o festival toma um rumo muito maior do que o alternativo. O engraçado foram os rappers mal acostumados com uma platéia predo“Nós temos um respeito minante de hipsinfinito por vocês depois que ters, o novo cult descolado daqui, tivemos que atravessar por marca registrada do Brooklyn dos anos toda essa merda (apontan- 2000. A desconfiando para a lama). Queríamos ça passa assim que Pharcyde pergunta ter passes de backstage “Quem aqui ama para todos”. hip hop?”, aclamado por mais de um Chris Martin, do Coldplay minuto. Festival das homenagens O trio nova-iorquino Beastie Boys era definitivamente a banda mais esperada para o primeiro dia do festival, mas a repentina notícia do diagnóstico de câncer em Adam “MCA” Yauch abalou a todos. Aqui que entra em cena o filho mais famoso do Brooklyn. No telão do palco principal, uma contagem regressiva de dez minutos leva a galera ao delírio. É o tempo que falta para Jay-Z subir ao palco. Depois de algumas vaias pelo atraso de 15 minutos (sim, aqui os artistas começam os shows no horário), dá os primeiros passos no palco ao som de “No Sleep Till Brooklyn”, dos Beastie Boys. Imagens de ruas do bairro surgem no imenso telão, e Jay-Z, nativo do Brooklyn assim como MCA, termina sua homenagem e segue com a própria “Brooklyn (Go Hard)”. O marido de Beyoncé ainda homenageou Michael Jackson com sua própria versão de “I Want You Back”, do Jackson 5. “Nós não focamos a morte, nós celebramos a vida. Não espere as pessoas irem embora para poder-

mos apreciá-las”, finaliza Jay-Z, sob a sombra de Michael Jackson que cobria todos os telões do palco Blue Comet. Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeah’s, completou seu visual, sempre psicodélico, com uma faixa “Get well MCA” no braço direito. A banda também foi a substituição dos Beastie Boys devido ao cancelamento do show para outro festival, o Lollapalooza. Karen O, numa performance dopadamente fantástica, mandava mensagens de amor para a platéia e para os Beastie Boys, intercaladas em meio a suas próprias risadas. O show foi finalizado com “Maps” e o sentimentalíssimo refrão “Wait, they don’t love you like I love you” (“Espere, eles não te amam como eu te amo”) cantado em exaustão por toda a platéia. Coldplay também não ficou para trás com a sua versão lentíssima e quase romântica em piano para “Fight For Your Right” dos Beastie Boys, alem de uma versão acústica para “Billie Jean”, de Michael Jackson. Ambas levaram o público a uma mistura de comoção e risadas. Domingo de lama e nostalgia O último dia trouxe um grande dilema para os fãs, graças à desorganizada proximidade de shows entre Coldplay e MGMT em palcos distintos. Mas esse não foi um problema para Andrew VanWyngarden, vocalista do MGMT. A banda cumpriu tabela no festival ignorando o pedido de bis da plateia e Andrew correu direto para o palco principal para tirar uma lasca da meia hora final do show do Coldplay. A chuva foi com certeza a grande protagonista do evento. Mandou e desmandou em quem ia tocar, deixou o Vampire Weekend no maior medo para começar o show e nos presenteou com guerras de lama memoráveis. O festival terminou sendo mais conhecido como All Points Wet (trocando o West pela palavra “wet”, de molhado) ou Mudstock 2009 (“mud” de lama). Com performances de primeira num cenário quase de guerra, os espectadores puderam ter um gosto do que foi o Woodstock, exatos 40 anos atrás, e presenciar shows memoráveis. O vocalista Chris Martin do Coldplay, após cruzar um caminho lamacento para outro palco, finalizou o festival com a declaração: “Nós temos um respeito infinito por vocês depois que precisamos atravessar por toda essa merda (apontando para a lama). Queríamos ter passes de acesso ao bacsktage para todos”. Certamente a festa aconteceu de frente para o palco. Embarrada, mas com a alma lavada, a multidão rumou para casa.


37 noize.com.br


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>> ROUPA NOVA NA HORA

Você sabe o que são vending machines? Aqui no Brasil, as mais conhecidas são aquelas de refrigerantes e de salgadinhos. Você coloca o dinheiro, aperta um botão, e o seu desejo é realizado. Quer dizer, se o seu desejo for uma latinha de refrigerante ou um pacote de bolachas recheadas, ele se realiza, tudo beleza. Ao redor do mundo, as máquinas possuem as mais variadas utilidades e suprem os mais diferentes desejos: cachorro quente, batata frita, camisinha, pizza, DVD, sorvete, café, até prostitutas. Pois agora as vending machines vão ganhar mais uma utilidade. A marca Quiksilver fechou uma parceria com uma rede de hotéis e passou a disponibilizar a venda de bermudas em vending machines. As máquinas foram colocadas em hotéis de Los Angeles, Hollywood, Miami e Nova York. Com peças exclusivas, cada máquina possui modelos personalizados para cada cidade, e junto com as bermudas dá dicas de coisas interessantes para se fazer nos lugares em que se encontram.

FFW

>> TAXONOMIA DO GRAFFITI

O graffiti que felizmente deprava a brancura das paredes está diretamente associado à cultura da megalópole e é a principal forma de expressão de muitos jovens. As letras espalhadas pelas paredes podem não significar nada para a maioria das pessoas, mas na comunidade do graffiti, cada “tag” - como são chamadas as assinaturas espalhadas pela cidade - possui uma identidade. Foi pensando nessa diversidade estilística que o fotógrafo Evan Roth catalogou mais de 2.400 tags na cidade de Paris, e os organizou por estilos de letra. O projeto recebeu o nome de “Graffiti Taxonomy: Paris” e filtrou as 10 letras mais usadas pelos grafiteiros (A, E, I, K, N, O, R, S, T e U). Uma a uma, separou 18 tags que representam a diversidade de cada caractere. A coleção inteira está disponível no site da Fondation Cartier, apoiadora do projeto como parte integrante da exposição “Born In The Streets - Graffiti” em Paris, que fica em cartaz até 29 de novembro.

rewind << TOCA RAUL! Esse talvez seja um dos gritos mais entoados nos shows deste País. Não importa o tipo de música, se houver um show (do rock ao sertanejo), haverá alguém para clamar pelo eterno Maluco Beleza. Ao completar 20 anos de sua morte, dizer que Raulzito está em voga nos últimos tempos seria uma mentira – ele nunca realmente se foi. Uma das estrelas maiores da contracultura brasileira, foi ele o roqueiro que deu uma guinada musical na história das terras abaixo do Equador, por meio de suas letras ácidas e contundentes e sua sonoridade inovadora. Libertário, poeta, hippie e metamórfico, Raul foi a mosca que pousou em nossas sopas. Construiu sua sociedade alternativa em nossas mentes e fez com que gerações posteriores ainda tomassem suas canções como manifestos. Toca Raul! Porque o cara nasceu há dez mil anos atrás, e desde então nada foi igual.


minha colecao Arlise Cardoso

Divulgação

qualquer coisa

TATÁ AEROPLANO DO CÉREBRO ELETRÔNICO FALA SOBRE...

um sonho com os mutantes

.: MARCELO CAMELO_

_Sonho registrado dia 30 de Abril de 2007 - 4h30 da manhã. Estou numa casa de campo estilo fazenda. Entro na sala e encontro o Sérgio Dias dos Mutantes, ele me diz que está preparando umas canções e precisa definir uns arranjos. Nisso aparece a Rita Lee, ela está com um óculos de aro branco o mesmo que o Frito Sampler, meu personagem do Jumbo Elektro usa. Ela chega numa boa e começa a cantar uma melodia bem bonita pro Sérgio. O Sérgio diz para eu pensar num vocal e começo a cantar usando meu pedal de delay, sai um lance bem legal e o Sérgio começa a escrever a melodia na partitura. O Arnaldo Batista chega e começa a tocar algo. Eles curtiram o que eu fiz e me empolguei na piração. Fico intrigado com a presença da Rita ali porque ela não está mais com os Mutantes. Só então me dou conta que estou na casa da Tita Lima, minha amiga, filha do Liminha. Pergunto pra Rita onde está a Tita e ela me diz que ela chegará logo mais. Nisso o Sérgio se irrita porque quer terminar os arranjos, o Arnaldo começa dar muitas idéias ao mesmo tempo e o Sérgio não dá conta de colocar no papel. Eu saio da sala para procurar a Tita. O Sérgio pede para eu voltar e cantar de novo aquela melodia bacana ... mas eu já tinha esquecido, canto uma outra que ele também curte, a Rita também curte. Percebo que agora a Rita está irritada com o Arnaldo, ela diz que ele está cansado e já pode ir embora que eles terminam os arranjos, o Sérgio diz qu se ele quiser pode ficar. Eu estou com vontade de ir ao banheiro, preciso mijar, vou ao banheiro mas tem gente, estou muito apertado e vou procurar um outro cômodo que tenha uma privada. Chego no quarto da Tita, o banheiro dela é aberto, fico com vergonha de mijar e ela chegar de supetão.Volto pela cozinha e encontro o Sérgio digitando a partitura no computador. Ele pergunta pela Tita e eu digo que não chegou. Fico de pé ao lado dele observando ele trabalhar, uma caixa azul começa a se esfregar na minha perna, como um gato, eu acho engraçado, a caixa faz isso uma três vezes, parece um pequeno bicho, mas é uma caixa. Nisso uma voz feminina chega e me sopra no ouvido direito: - Cuidado que são dois fantasmas. Eu começo a acordar. Acordo... eu estou paralisado, tento me mexer e não consigo, abro os olhos e depois de um bom tempo me dou conta que estou no meu quarto. Uma fumaça branca sai do meu corpo, sobe em direção ao teto e se dispersa, ainda estou imóvel quando uma outra fumaça, preta, tipo um espectro sai do meu corpo em direção ao teto, fico mais uns instantes imóvel e volto ao normal. Estou exausto, levanto, vou ao banheiro e depois para a cozinha beber um gole de coca cola.

Não tem nenhum disco que tenha permanecido querido pra mim por mais de dez anos. Pra mim o melhor disco atual é o último gravado pela Guiomar Novaes. O único gravado no Brasil e o único com repertório todo brasileiro. É o disco mais querido que tenho (possuo três iguais).

redescoberta

.: RAUL SEIXAS_

A PANELA DO DIABO (1989)

Há mais de um aniversário envolvendo Raul Seixas neste mês de agosto. Lançado dois dias antes de Raul morrer,A Panela do Diabo registra a amizade e parceria com Marcelo Nova, mas também a derrocada de um mito. Então relegado à sarjeta da indústria fonográfica, Raul juntou-se ao líder do Camisa de Vênus para gravar 11 canções que são o triste testamento de uma vida que terminou solitária.Ainda assim, não obstante serem músicas tristes, estão ali pérolas como Banquete de lixo, em que o astro lamenta o momento por que passava, “apenas um furo no futuro, por onde o passado começa a jorrar”. É na tristeza que o homem mais pedido em shows de todos os estilos escreveu seus mais belos versos. Mesmo a abertura, com o “standard” do rock “Be-bop-a-lula”, não livra A Panela do Diabo de ser um disco triste. Mas atesta: Raul morreu no ostracismo não por culpa sua.Até o fim, reafirmou a qualidade e a atemporalidade de sua música. 41 noize.com.br



CANGURU King 55; JEANS King 55; CASACO Acervo Superguidis; TÊNIS Acervo Superguidis

SUPERGUIDIS Ainda que sem nome, tempo e espaço definidos para o lançamento, o terceiro álbum da Superguidis está pronto. Gravado em Brasília, no estúdio de Phelipe Seabra, o disco foi e voltou de Nova York, onde passou pelas mãos do produtor Kyle Kelso, responsável pela mixagem final. Segundo Lucas Pocamacha (guitarra) e Andrio Maquenzi (vocal/guitarra), pode-se esperar músicas mais tensas e pesadas, bem como uma banda que, achando em si mesma sua maior influência, sente-se à vontade para experimentar. Confira a entrevista.

Fotos: Marco Chaparro Assistente de Fotografia: Lucas Tergolina Direção de Arte: Rafael Rocha Texto e Entrevista: Gustavo Corrêa Produção de Moda: Mely Paredes Agradecimentos: King 55, Amauri Caliman,Vítor Lucas.

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CAMISA King 55; JEANS King 55; T-SHIRT King 55 TÊNIS Acervo Superguidis

Vocês estão com o disco pronto. O que falta para lançá-lo? Lucas: Essa é a dúvida. O cara que está mixando atrasou a coisa. Era para ter saído em julho, mas um somatório de enrolações fez com que o disco só terminasse de ser mixado agora. Tem muita coisa para acertar, então não sei quando sai. O disco vai se chamar Tolos mudam? Lucas: Não. Na verdade, a gente tinha que pensar mais sobre isso, né? Andrio: É. Talvez a gente lance sem nome, assim como o disco do cachorro de três patas do Alice in Chains, tá ligado? É um disco mais conhecido pela capa. Há uma faixa em que foram gravadas cordas antes? Lucas: Sim, vai rolar. Isso é o que talvez atrase mais a saída do disco, pois está meio complicado de acertar as cordas, fazê-las soar do jeito que a gente quer. Algumas canções já vêm sendo tocadas, não? Andrio: “Não fosse o bom humor”, “Quando se é vidraça”, “Visão alem do alcance”, “Fã-clube adolescente” e, de vez em quando, a gente toca “Aos meus amigos”... Lucas: ...Que é uma música mais complicada de tocar. Depende muito do lugar. Rola em teatro, mas no Garagem[NOTA], por exemplo, é mais difícil. Como tem sido a recepção a essas músicas? Lucas: A gente está até surpreso. Esperávamos que fosse demorar mais para a galera entender, mas a primeira vez que tocamos “Não fosse o bom humor” já teve uma resposta boa, e com outras também foi assim. As músicas dos outros discos demoraram mais para a galera entender. Precisamos tocar uma quatro ou cinco vezes. Vocês acham que, em comparação aos dois primeiros discos, este é um álbum mais inteligível? Lucas: Acho que é menos. Ele é mais difícil de entender. Ele é




T-SHIRT King 55; JEANS King 55; TÊNIS Acervo Superguidis

inteli...ah, essa palavra aí (risos). As coisas estão um pouco mais escondidas. Cada vez que o cara ouve vai achar algo diferente. A gente só gosta de disco assim. Andrio: O cara ouve uma, duas, três vezes e, a cada audição, descobre um negócio diferente. Em relação a Amarga Sinfonia do Superstar, lembro que vocês mencionaram uma preocupação com as guitarras. Citaram My Bloody Valentine como uma influência para aquele álbum... Lucas: Nesse, a maior influência somos nós mesmos. A gente se soltou e perdeu o medo de experimentar. Andrio: A intenção não era gravar outro disco linear, só de batera, baixo e guitarra. Experimentamos muito com timbres diferentes. Lucas: O que fez uma diferença bem grande desse disco pro outro é que fizemos uma pré-produção um pouco mais gorda. Gravamos uma demo inteira no decorrer de dois, três meses, em casa, experimentando timbres, descobrindo o que buscávamos. Quando chegamos para gravar, a gente já sabia o que queria. Ouvindo a Amarga sinfonia... fica claro que se trata de um álbum mais linear, limpo. Talvez até um pouco mais do que se espera de vocês, em função da identidade com o grunge. Acham que nesse disco resgataram um pouco daquele peso? Andrio: Sim. Mesmo uma guitarra mais limpa, nesse disco, soa mais pesada. Lucas: As músicas estão mais tensas. Andrio: Esse lance de gravar uma demo também serviu como experiência para o Lucas, porque agora ele está nessa vida aí de... Lucas: ...Essa vidinha de gravar banda. (rs) Andrio: Quanto mais concentrar nas tuas mãos o esquema, é bem melhor. Nesse disco, até o conceito da capa a gente meio que desenhou. Teve toda essa história da gravação da demo, que o Lucas gravou, masterizou.


T-SHIRT King 55; JAQUETA Acervo Superguidis; JEANS King 55; TÊNIS Acervo Superguidis

Como foi a gravação com o Phelipe Seabra? Lucas: Bom que a gente já conhecia o cara, né? Não precisamos nos acostumar. Já chegamos meio que dando ordem lá (risos). Como é o estúdio? Lucas: Ele tem uma casa bem grande. O estúdio é no 2° andar, e dormíamos em um quartinho nos fundos. Levantava de manhã, gravava, almoçava e depois dormia de noite. O lugar é isolado, como tudo em Brasília. O máximo que fazíamos era caminhar cinco quadras até o supermercado e voltar. Vocês passaram para o cara que mixou o link de um clipe do Dinosaur Jr. como referência? Lucas: Sim, porque a primeira mix tava muito bundona. Era batera na frente de todo mundo, guitarra lá embaixo e vocal estourando, tipo NX Zero. Daí nós mandamos o Dinosaur Jr. e voltou do caralho. Andrio: Uma coisa que o Fernando Rosa falou foi que esses caras da gringa ainda têm essa visão de mixar a música para ela soar bem no FM. Aqui não se pode contar com o rádio. Lucas: A gente quer que o disco soe o menos FM possível. Só estamos ouvindo podreira e dá cada vez mais vontade de fazer podreira. O que esperam atingir a mais com esse disco? Andrio: Talvez uma consolidação do que fizemos até agora. A gente nota que poucas bandas novas têm. Os caras vêm e vão. A coisa vai e volta e não temos uma banda que tenha três, quatro discos e consolide uma base de fãs, de carreira. Lucas: A gente não vai chegar ao tamanho de um Titãs. O tamanho que temos hoje é provavelmente o máximo que vamos chegar. Não vamos ganhar rios de dinheiro nem, provavelmente, pagar nossas contas com isso, mas é o que gostamos de fazer. Não tenho mais o sonho de viver da banda. Andrio: É uma coisa meio ingênua, até. Lucas: Acho difícil a gente comprar um helicóptero... (risos)



reviews

_ARCTIC MONKEYS, WADO, FLORENCE AND THE MACHINE, super stereo surf, modest mouse


FLORENCE & THE MACHINE Lungs

O que ela tem em comum com Kate Nash? A influência de Kate Bush e uma vagina. Florence tem um espírito mais juvenil, roqueiro, que leva um pouco do blue-eyed soul a algo que soa (um pouco) como White Stripes. ‘Dog Days Are Over’, por exemplo, abre o disco com a promoção de um encontro do folk de cordas com uma percussão quase explosiva. A sincronia da cantora ‘solo’ com sua banda é impecável. ‘Kiss With a Fist’ tem uma pegada diferente de suas colegas, com um pop-rock mais agressivo, principalmente nas letras: “I hit you back, you gave a kick, I gave a slap, you smashed a plate over my head”. A cantora, no entanto, é bem mais meiga do que isso. Duvida? Então tente ouvir ‘Rabbit Heart’, ‘Between To Lungs’ e ‘Hurricane Drunk’. Alex Correa

NOAH & THE WHALE The First Days of Spring

Quando ouvi “Blue Skies” de The First Days of Spring, minha reação foi a mesma de quando ouvi Quatro, dos Los Hermanos. Estranhei tanta lentidão. Cadê a alegria do álbum anterior? Mas, assim como los brasileños, esses inglesinhos sabem o que fazem. Não demorou para perceber que a suposta tristeza é na verdade melancolia esperançosa – aquela saudade doce, linda. The First Days of Spring é diferente, sim. E forte. A trilogia formada por “Instrumental#1”, “Love Of An Orchestra” e “Instrumental II” é, no mínimo, comovente. O disco fala de alguém tentando superar um coração partido (Charlie Fink separou-se de Laura Marling, sabia?), está na cara do folk-blues “My Broken Heart”. O trailer do filme (sim, tem um) já pode ser visto no website oficial do grupo. Carol De Marchi

ARCTIC MONKEYS Humbug

Ser interrompido por Humbug na fila do iTunes foi impactante. Não pelo clima stoner das já conhecidas “My Propeller” e “Crying Lightning”, embora elas resumam o espírito e o potencial do disco. É que a surpresa se mantém no mecânico e lânguido verso de “Dangerous Animals”, duelo entre o som de Alex Turner e cia. e a produção de Josh Homme, com solos filhos de Black Sabbath. Poucos momentos interrompem a densidade um tanto sombria do disco – o folk de “Secret Door” é um deles, “Pretty Visitors”, que chega perto dos álbuns anteriores, é outro. “Fire and the thud” funciona, com uma harmonização que os Klaxons esqueceram de criar, sobre um andamento letárgico. Humbug não resbala. Um Last Shadow Puppets e um Josh Homme depois, é evidente que o Arctic Monkeys está em um momento diferente, mesmo quando a psicodelia folk apenas veste o clima raver de outrora. Fernando Corrêa

YO LA TENGO Popular Songs

O trio americano retoma o caminho de melodias pop de álbuns anteriores, interrompido pelo hardcore do CD de covers Fuckbook, lançado em março. Na primeira faixa de Popular Songs, “Here to Fall”, violinos e órgãos acrescentam algo de enigmático à voz do guitarrista Ira Kaplan, enquanto “Periodically Double or Triple” e o duo do casal Ira e Georgia na romântica “If It’s True” trazem um toque de anos 60. A segunda metade do álbum, mais calma, inicia em “I’m On My Way” e segue com “When It’s Dark” e “All Your Secrets”, formando a melhor sequência das 12 faixas. Ao final, outra trinca: um belo encerramento instrumental com músicas que duram de nove a 15 minutos. Popular Songs prova o quão múltiplo o Yo La Tengo consegue ser desde 1984. Ricardo Romanoff

WADO

Atlântico Negro

Ao lado do paulistano Curumin, o catarinense radicado em Alagoas Wado faz um dos trabalhos mais interessantes da nova safra de compositores brasileiros. Misturando não por modismo e sim por convicção, o músico chega ao quinto álbum em sua melhor forma. Atlântico Negro traz 11 faixas com bases que vão do samba ao funk, da bossa nova ao afoxé, e letras sempre originais. Destaque para “Estrada”, que abre o disco com a narração do trecho de um texto do escritor moçambicano Mia Couto, forte influência de Wado e que também contribui em “Hercílio Luz” - nome da ponte de ferro desativada em Florianópolis. As belas e líricas “Pavão Macaco” e “Frágil” dão esperança aos que ainda acreditam na força de boas composições. Lucca Rossi 39 noize.com.br


THE USED

SUPER STEREO SURF

Artwork

NO AGE

Losing Feeling

Antes do Baile

Artwork começou com um desejo de soar diferente. Queriam trabalhar com Rivers Cuomo, queriam o som de Pinkerton. Não rolou. O produtor aqui é Matt Squire, o mesmo do Panic At The Disco, fazendo deste o primeiro álbum não produzido por John Feldman. O The Used queria ser mais pesado do que nunca, mais cru. Bem, mais pesado não significa melhor. No caso deles, parece justamente o contrário. Riffs que você já ouviu milhões de vezes, melodias medíocres, letras preguiçosas e um excesso de baladas broken-hearted – “Kissing Goodbye” é de doer, talvez uma das piores músicas já gravadas pela banda. Tomás Bello

A Monstro Discos não é chegada em bandas medianas e reafirma o costume ao lançar a Super Stereo Surf. O quarteto brasiliense, tarado por surf music, apresenta 11 faixas instrumentais com nomes de filmes consagrados, que revelam a cinefilia e evidenciam talento na composição de potenciais trilhas sonoras (como “Os Imperdoáveis”, que faz jus ao western imortal de Clint Eastwood). No mesmo time da ótima Pata de Elefante, ainda mais voltada para a música dos pegadores de onda, a Super Stereo Surf espalha qualidade da primeira à última faixa de Antes do baile, que foge do clichê sem fugir do gênero. Fernando Corrêa

Escute também: A GHOST IS BORN, A.M., KICKING TELEVISION, BEING THERE.

DiscografiaBásica

por Fernanda Grabauska

O No Age tem uma forma muito peculiar de fazer música, na fórmula guitarra + bateria + voz. Camadas e mais camadas de guitarras remetem ao shoegaze e ao indie americano dos anos 1980. Explosões de detalhes são feitas especialmente para prender o ouvinte (e funciona). Losing Feeling, que traz um No Age um pouco mais calmo que de costume, sintetiza muito bem a banda. Começando pela faixa que dá nome ao EP, séria candidata a melhor do disco, seguida pelo folk shoegazer “Genie” e “Aim The Airport”. Por fim, “You’re the target” é uma legitima faixa No Age. Tá aí um ótimo cartão de visitas! João Augusto

WILCO

Yankee Hotel Foxtrot

Yankee Hotel Foxtrot foi o álbum que transformou Wilco em uma “grande banda” aos olhos da mídia. Foi o maior sucesso da carreira do grupo, com venda superior a 600 mil cópias. A controvérsia durante a finalização do álbum também é célebre: a Reprise Records rejeitou o álbum e demitiu a banda após sua finalização. Com os direitos do trabalho, Wilco vendeu o álbum para a Nonesuch Records, também subsidiária da Warner. Foi a polêmica que levou um crítico a dizer que isso mostrava “o quão acabado estava o mercado musical no século 21”. A mistura de country e indie que celebrizou a banda vê-se em faixas como “Kamera” e “Ashes of American Flags”, sem deixar de lado uma faceta divertida em “Heavy Metal Drummer”. Sky Blue Sky

Sky Blue Sky é um afastamento do experimentalismo da banda. Longe de ser um álbum ruim, é apenas menos extremo na experimentação. As influências, segundo a banda, são The Byrds e Fairport Convention, mas também é possível sentir uma vibe Travis na faixa que dá nome ao álbum. Diferente dos outros álbuns, todas as músicas foram criadas em colaboração. É um álbum mais maduro, confia menos na tecnologia e mais no talento e no feeling da banda. Foi como disse Jeff Tweedy: “fiquei nervoso com a tecnologia em Yankee Hotel Foxtrot. Se você precisa de certo amplificador ou pedal para fazer uma música funcionar ao vivo, então não é uma música”. Ouça “On and on”, “What Light” e “Sky Blue Sky”, mais belas letras no álbum. Wilco (The Album)

Wilco (The Album) é uma combinação da intimidade de Sky Blue Sky, seu predecessor, e a experimentação em A Ghost is Born, de 2004. O disco abre com a incrível “Wilco (The Song)”, em que Tweedy e cia. oferecem aos fãs um “ombro sônico para chorar”, e a promessa de que “Wilco will love you, baby”. O baterista Glenn Kotche define-a como uma declaração de amor aos fãs. É tudo bastante conciso na forma, à exceção de “Bull Black Nova” e seus arranjos duelantes. O dueto com a cantora canadense Feist na meiga “You and I” é um dos pontos altos do disco, seguido por “You never know”, melhor escolha impossível para o primeiro single do álbum, que sintetiza o todo de letras fascinantes e verdadeiras de que é feito o álbum e o grupo.


MODEST MOUSE

No One’s First and You’re Next

Eles gostam muito de cordas, algumas canções somam quatro guitarras. Também gostam de flautas e de inversões psicodélicas. Ainda gostam de vozes, gemidos e berros, loops e sobreposições. Modest Mouse é uma banda que gosta de se expressar, mas não soa exagerada em momento algum. “Satellite Skin”, “The Whale Song” e a excelente “Guilty Cocker Spaniels” relembram os tempos de Sad Sappy Sucker, mas sem a aura doentia e imatura. A deliciosa “Autumn Beds” tem a voz mais limpa que Isaac Brock já soltou. E canções como “Perpetual Motion Machine”, com seu ar burlesco, aproximam-se da energia do álbum anterior. No One’s First and You’re the Next é uma seleção de músicas inspiradas, criativas e genuínas. Maria Joana Avellar

LA ROUX La Roux

Um dos mais esperados discos de synthpop do ano era o debut do duo britânico La Roux. O álbum, homônimo, é cheio de hits em potencial, começando pelos três singles já lançados: “In for the kill“, que abre o disco de forma promissora, tem eficientes sintetizadores e teclados se revezando pela atenção do ouvinte com a doce voz da vocalista Elly Jackson; “Quicksand” e “Bulletproof” seguem na mesma linha de electropop divertido para dançar. O mérito do disco, porém, não é ser bom apenas nos singles, mas em praticamente todas as 11 faixas que figuram no álbum, entre elas, “Colourless colour” e “Cover my eyes”. Pra quem gosta de Little Boots e Lily Allen, La Roux é sugestão garantida. Neto Rodrigues

DISCOVERY LP

Lembra do Postal Service? Então, bem-vindo a mais um mergulho indie no mundo das experimentações eletrônicas: o Discovery, projeto de Rostam Batmaglij e Wes Miles, dos badalados Vampire Weekend e Ra Ra Riot, respectivamente. O detalhe aqui é que o duo se joga num R&B moderno, colocando todos os clichés do gênero ao lado de pitadas de dancehall Jamaicano, sintetizadores, vocoder e até mesmo doses de hip hop dos 00’s. Pra sentir o clima de LP, basta ouvir faixas como “I Wanna Be Your Boyfriend” e “Can You Discover”. Soa como dois caras num quarto criando alguns sons no PC com tudo que você não não esperaria deles. Soa tão brega que chega a ser engraçado e divertido. E sobra até pro Jackson 5, que ganha aqui uma reconstrução de “I Want You Back”. Tomás Bello

ta por vir .: Outubro_ Devendra Banhart | What We Will Be What We Will Be será o primeiro trabalho de Banhart pela Warner/Reprise. O álbum terá cerca de 50 minutos de canções inéditas, produzidas pelo próprio artista e por Paul Butler. Rodrigo Amarante participa na guitarra e no gogó de apoio.

confira Julian Plenti is Skycraper ___Faz alguns meses que Paul Banks, vocalista do Interpol, anunciou o lançamento de um disco sob o pseudônimo Julian Plenti. O disco saiu e, o clima é menos soturno. Entre músicas que iriam bem em Our love to admire, traz outras mais suaves, como “Skycraper”, em outras mais cruas.

Björk Voltaic ___Voltaic busca um resultado diferente dos discos ao vivo convencionais, registrando o mesmo setlist tocado no Glastonbury de 2007, porém em estúdio, três dias após o festival. O objetivo é transmitir a energia do show precedente e o detalhe que só é captado em estúdio.

As tall as lions You Can’t Take It Without You ___Demonstração de que vale a pena conhecer o As tall as lions além da trilha sonora de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. “Is this tomorrow?” e “Sixes and Sevens” são a mistura perfeita da melancolia do Radiohead com a adolescência do Placebo.

DVDS THE FLAMING LIPS The Fearless Freaks

Para assistir à primeira meia hora de Fearless Freaks, uma pergunta: você conhecia o Flaming Lips no início da década de 1980? É surpreendente acompanhar a evolução musical da banda que tocava na cena punk de Oklahoma City, trilhou a psicodelia rumo ao rock alternativo que a consagrou, passou por trocas de membros, tornou-se um totem do rock experimental. Para acompanhar a excentricidade da trajetória dos caras, o diretor Bradley Beesley mostra o papel por vezes de protagonista exercido pelas drogas na vida dos integrantes, com direito a cena de Steven Drozd aplicanto heroína. A intimidade de Beesley com Wayne Coyne e cia. faz de Fearless Freaks registro indispensável para fãs e enfadonho (de tão íntimo) para aqueles que querem conhecer o Flaming Lips. F. Corrêa

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cinema INIMIGOS PúBLICOS

Diretor_ Michael Mann Elenco_ Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotilllard Lançamento_ 2009 Documentário_ Nota_ 3 de 5

Inimigos Públicos serve para o diretor Michael Mann (Colateral, Miami Vice), em uma homenagem aos filmes de gângster da Era de Ouro do cinema, explorar seus temas recorrentes: a ética profissional, os personagens disciplinados e seus planejamentos meticulosos e, claro, os tiroteios que sempre parecem mais ferozes, impactantes e bonitos (além de barulhentos, num excelente trabalho de edição de som) num filme de Mann do que em qualquer outro filme de ação. Johnny Depp como John Dillinger, e Christian Bale como o agente federal que o caçou, são pouco mais do que personagens com uma única motivação, fria como os ambientes que atravessam—imponentes bancos cheios de mármore, prisões, hotéis vazios—, realçados pelo fantástico trabalho do diretor de fotografia Dante Spinotti. Na

maioria das vezes, os personagens são apenas objetos cruzando a tela, ainda que o façam em enquadramentos meticulosos como se estivessem tão destinados a ir do ponto A ao ponto B, que parecem se resignar com a inevitabilidade de suas trajetórias, assim como a amante de Dillinger, Billy Frechette (Marion Cotillard, de Piaf), se resigna com o papel que cumpre na vida do namorado. Quando ela lhe pergunta o que faz da vida, ele responde: “eu roubo bancos”. Quando pergunta do que gosta, ele diz “eu gosto de carros velozes, restaurantes caros e de você. O que mais há pra se saber?”. Para o bem ou para o mal, o pragmatismo metódico do filme e seu rigor técnico são seu maior mérito, e ao mesmo tempo, o que mais prejudica os personagens. Samir Machado

EASY RIDER - SEM DESTINO

Diretor_ Dennis Hopper Elenco_Dennis Hopper, Peter Fonda, Jack Nicholson Lançamento_ 1969 Nota_ 5 de 5

Há exatos 40 anos, mais precisamente a 13 de maio de 1969, Easy Rider, um dos filmes cult mais celebrados de todos os tempos, era ovacionado em ocasião do Festival de Cannes daquele mesmo ano. Não era para menos. O road movie dirigido pelo estreante diretor Dennis Hopper e encabeçado pela dupla Hopper-Peter Fonda - que formavam ainda uma tríade com o genial (estreante) Jack Nicholson -, quebrava paradigmas. Ao som de uma trilha sonora primorosa e que reúne emblemáticos nomes do rock´n´roll, Easy Rider conquistou o grande público pela temática despretensiosa que contou a história de dois jovens motoqueiros que desbravaram as estradas americanas sem destino e à procura de liberdade. A produção retratou com maestria o

contexto da liberação sexual, ideológica e lisérgica de meados das décadas de 1960 e 70. Não à toa, o filme é tido como cinebiografia obrigatória até os nossos dias. Easy Rider simbolizou o imaginário jovem nacional, consolidando-se como marco para toda uma geração. O sucesso absoluto veio por meio de honras creditadas pela indicação de Jack Nicholson ao Oscar, ao BAFTA e Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante, no ano de 1970, do qual saiu vitorioso, além de ter arrebatado o prêmio de melhor filme de diretor estreante no Festival de Cannes. E quanto a sua elogiada trilha sonora, vale lembrar que ocupou o sexto lugar no ranking da Billboard no ano de seu lançamento. Marcela Jung


cinema

livros

HARRY POTTER 6 de David Yates (2009)

DETROIT ROCK CITY

RETALHOS

Chegando ao seu sexto filme (e antepenúltimo, já que o último livro será dividido em duas partes), a saga do menino-bruxo começa a partir deste filme a entrar na sua reta final. À parte o que já se sabe – é o filme mais sombrio e adulto da série –, o que mais se destaca é a dicotomia entre dois filmes distintos: a trama que se estende desde o primeiro episódio da série, de luta do Bem contra o Mal, e momentos de namoros e intrigas de high school que são tão ou mais interessantes do que a história principal, graças ao carisma (ou familiaridade) de personagens que se acompanha a quase dez anos. Ainda que se perca um pouco aquele clima de descoberta e maravilhamento com elementos mágicos dos primeiros filmes, em troca de um clima de crescente angústia, expectativa e ambiguidades (fazendo da série uma perfeita transição de infância para adolescência), Hogwarts nunca esteve mais interessante. Samir Machado

Striptease bêbado em uma boate cheia de coroas; assalto desarmado a uma loja de conveniências; invasão e perseguição no backstage; enfrentamento com uma mãe psicopata, líder da Liga Das Mães Contra a Música do Kiss. Por qual situação você preferia passar para assistir ao show de sua banda favorita? Quatro garotos entram em apuros para conseguir ir a um show do Kiss e acabam tendo experiências incríveis, ótimo argumento para um filme high school perfeito. Detroit Rock City sobressai no gênero, porque tratase de um filme sobre adolescentes e uma banda de rock, o que garante uma carga de nostalgia tremenda que pulsa a cada música da trilha sonora; e, principalmente, porque quando estamos velhos e esquecemos do sentimento de transgressão que faz do rock a música da juventude, são produções como Detroit Rock City que vêm para nos relembrar. Fernando Corrêa

Parte dos primeiros lançamentos da Quadrinhos na Companhia, novo selo da Cia. das Letras voltado para quadrinhos, Retalhos (no original, Blankets, “cobertores”) é a autobiografia do desenhista Craig Thompson, vencedora do Eisner e listada pela Time entre as 10 melhores graphic novels de todos os tempos. Nascido numa comunidade religiosa e isolada, ele se foca em duas experiências distintas: a relação com o irmão mais novo, com quem precisa dividir a mesma cama na infância, e a descoberta do primeiro amor na adolescência—e a partir daí, explorando a premissa do livro: a sensação de se dormir próximo de alguém que se ama pela primeira vez, as descobertas sexuais e a cumplicidade que surgem nos momentos compartilhados debaixo de lençóis no rigoroso inverno de Wisconsin, que o autor explora em desenhos que assumem padronagens complexas como uma colcha de retalhos. Seu amadurecimento o leva não apenas a questionar sua espiritualidade, como a própria relação que mantém com sua comunidade e sua família. Samir Machado

de Adam Rifkin (1999)

de Craig Thompson (2009)

games CALL OF JUAREZ 2: BOUND IN BLOOD Disponível para PC, Xbox 360 e PS3, essa continuação de Call of Juarez volta a trabalhar os principais motifs do gênero western, mas com gráficos bastante aperfeiçoados e uma abordagem bem menos truncada que o antecessor. O jogador, nesse game de tiro em primeira pessoa, escolhe entre dois irmãos—um bom para atacar à distância, o outro um maníaco do tiroteio. Com clara influência de Call of Duty 4, o jogo peca por ser explosivo demais: cada momento parece uma guerra, e falta a tensão que havia nas outras, melhores adaptações do gênero faroeste para os games. Além disso, a campanha em single player é bastante curta.Vale uma conferida só se você é fã do gênero. Antônio Xerxenesky 43 noize.com.br


fotos: 1 | Pedro Cupertino

2 | Camila Mazzini 3 | Guilherme Santos 4 | Fernanda A単ez

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shows

_cat power, nando reis, marcelo camelo, cachorro grande, blubell


CAT POWER São Paulo,Via Funchal, 18 de Julho

Chan Marshall já foi uma artista tímida, que dedilhava seu piano em arranjos minimalistas, escondendo o rosto atrás dos cabelos. Não mais. Em recente passagem pelo Brasil, a cantora, que se apresentou no Via Funchal para entortar os corações de uma platéia lotada, foi uma outra Chan. Desenvolta, confiante e muito simpática, Cat Power, como é mais conhecida, dominou todos os espaços da casa, durante duas horas de show, preenchendo tudo com o eco inebriante de sua voz. Junto com a banda Dirty Delta Blues, a cantora interpretou músicas presentes em seu disco Jukebox, no qual trabalha releituras de outros artistas. No disco, Chan já se mostra bastante abusada para imprimir seu estilo a cada uma das faixas. Mas é no palco que ela encontra total liberdade para brincar com as canções do jeito que quiser. E ela não se impõe limites. Em “Silver Stallion”, por exemplo, o clima acústico presente no disco cede lugar a uma nova roupagem, com um refrão acelerado e toda a banda acompanhando. A ousadia de Cat Power aparece até nas releituras de suas próprias canções. “I Don’t Blame You” surge quase irreconhecível e a renovada “Metal Heart”, muito superior à versão antiga, prova a maturidade alcançada pela artista. Já em “Song to Bobby”, uma dedicatória ao homem cuja sombra parece pairar sobre o palco durante toda a apresentação. Pois, dentre todos os grandes nomes da música aludidos ali, nenhum foi tão presente e inspirador quanto Bob Dylan. Desde o modo despreocupado com que Chan ousa desconstruir cada canção até os momentos bluseiros do show ou os arranjos do Dirty Delta Blues, que lembram o clima melancólico das baladas mais recentes do velho Zimmerman. A banda, por sinal, é uma atração à parte, levando o som de Cat Power para além de seu usual minimalismo. Absurdamente entrosados, os

músicos recebem aplausos até da própria Chan. Após o término, a cantora ainda permanece no palco por um bom tempo, atraindo uma pequena multidão a seus pés. Paciente, ela distribuiu flores, autógrafos e contínuos gestos de agradecimento e reverência a todos aqueles fãs. Como se precisasse. Como se, de alguma forma, ela pudesse ser mais grata por aquela noite do que eles ou do que qualquer outra pessoa presente ali. Eduardo Hiraoka (Resenha originalmente publicada no Untuned – http://untuned.wordpress.com)

MARCELO CAMELO Porto Alegre,Teatro do Bourbon Country, 19 de julho

Nas primeiras estrofes de “Dois Barcos”, do Los Hermanos, os quase sussurros trêmulos de um Camelo tímido e sozinho no palco poderiam passar por nervosismo. Foi apenas depois de consolidar seu território, com a companhia da banda e três músicas do álbum Sou, “Téo e a Gaivota”, “Tudo Passa” e “Menina Bordada”, que ele agradeceu, primeiro pelo silêncio, depois pelo carinho. Difícil separar os dois, já que a ausência quase absoluta de som que se fez no Teatro do Bourbon Country antes dos primeiros acordes parecia inseparável do carinho nela contida, que contrastou com os aplausos ao final de cada música e perdurou no quase onipresente, mas oportuno, coral afinado da platéia. Seguiu, mútua, quando Camelo se emocionou ao assobiar em “Doce Solidão”, que foi cantada única e exclusivamente por um público cativado. “Janta”, eleita melhor música do ano passado pela revista Rolling Stone, foi marcada por suspiros e vozes em uníssono afinado para substituir a presença de Mallu Magalhães. Uma noite de domingo parece o momento ideal para se conectar com a melancolia de Camelo. Uma presença ilustre no palco foi Bubu, velho conhecido trompetista do Los Hermanos. A banda de apoio, composta pelos paulistas da Hurtmold, mostrou-se, como Camelo, mais confortável com as canções do álbum Sou, e deslizou segura

por novos arranjos. Até mesmo arriscaram uma versão inédita e mais pesada de “Teus Olhos”, parceria bem sucedida com Ivete Sangalo. “Esta foi pouco ensaiada, mas vocês são tão legais...” O show seguiu com “Morena”, “Vida Doce” e “Despedida”, na qual a banda deliciou o público em um momento sozinho no palco. O espetáculo visual contou com os músicos em formato de meia-lua e muito bem iluminados, ao contrário do show anterior. Camelo voltou para tocar mais Los Hermanos, “A Outra”, do terceiro álbum, e seguiu com “Santa Chuva” e a animada “Copacabana”. A apresentação também contou com uma interpretação belíssima de Dorival Caymmi em “É doce morrer no mar”.Talvez a fama de antipático cultivada por Marcelo tenha ajudado a platéia a acreditar em sua sinceridade ao ser tão grato e afetuoso. “Quem dera toda a noite fosse como essa noite” poderia até ser trecho de alguma canção. Para o bis, mais do Hermano: “Além do que se vê”, cantada como um hino. Marcelo deixou o palco e os músicos foram se despedindo, um por vez, em um final delicado e bruto, com a leveza insustentável da noite. Se os bons shows são aqueles em que há uma troca e interação real, como se a linha que divide o palco do público fosse uma espécie de espelho psicodélico, a apresentação de Marcelo foi como um flerte, recíproco e delicadamente apaixonado. Maria Joana Avellar

NANDO REIS

Porto Alegre,Teatro do Bourbon Country, 23 de Julho

O frio que fazia em Porto Alegre na noite de 23 de julho – uns 5 ° C, com alguma boa vontade – só era atenuado quando se entrava em algum lugar cheio de gente. Os corpos trêmulos dos porto-alegrenses então relaxavam, o sangue voltava a pulsar nas extremidades, e as pontas dos dedos deixavam de ser estalactites. No entanto as gargantas presentes no Teatro Bourbon Country nessa quinta-feira – inclusive a do artista da ocasião, Nando Reis – não sairiam 45 noize.com.br


intactas de um dia oscilante entre gelo e sufocante abrigo. E, por mais que o eterno titã aparente facilidade em alcançar os tons agudos das linhas vocais de suas músicas, entre um e outro empenho, entregava: cantar não estava mole. No entanto, não deve-se interpretar que o “déficit” do fôlego tenha comprometido o show. Drês, o álbum da turnê, é um conjunto harmônico de rock guitarreiro e baladas acústicas, sempre guiado pela competência de Nando também como cantor, e foram as músicas desse disco as que, na média, mais preencheram o ambiente, empolgando o público pouco menos do que hits como “Os cegos do castelo” e “O Segundo Sol”, ou mesmo a homenagem a Michael Jackson, com “Wanna be startin’ smothing”. Seria de se esperar o contrário, Nando e seus Infernais ainda se habituam com o repertório recente. Mas a abertura, com o riff pungente de “Mosaico Abstrato”, seguramente uma das faixas mais fortes do álbum, mostrou que a fase atual, em que o músico afirmou estar “redimindo-se de excessos no passado”, é a mais roqueira por que passou desde os tempos de Titãs. Contrapesam canções como esta e a faixa-título os momentos mais intimistas, como ao anunciar a execução de “Conta”: “Essa música eu fiz porque eu sinto muito a falta da minha mãe”; e esforços com recompensa garantida, como “O mundo é bão, Sebastião” e outros mal-sucedidos, como “No Recreio”. Quando alguma coisa não dava certo, ou era porque Nando tinha que fazer malabarismos com a voz para compensar a falta dela, ou porque os Infernais, ainda que bons músicos, sejam qualquer coisa, menos infernais, e mais parecem uma banda de apoio, sem qualquer identificação visual com o showman. A única pessoa que, além de Nando, consegue empolgar sem ser forçosa é a backing vocal, simpática enquanto dança balançando seu black power respeitável, convincente quando canta inclusive a “trilha principal” (e olha que ela precisou cantar bastante). O público, encar-

regado de corresponder à felicidade de Nando Reis e Os Infernais em debutar ao vivo seu novo disco, era muito heterogêneo para conseguir chegar perto da empolgação unânime – não fez, de maneira alguma, o clichês de um “show à parte”. Relevando as consequências atibuíveis ao frio, o show de Drês ganhou em emoção e poder roqueiro o que perdeu em coesão e perfeição, sinal de que o disco é bom, um bom sinal. Fernando Corrêa

CACHORRO GRANDE São Paulo, SESC Pompéia, 7 de Agosto

A noite de sexta-feira, 07, prometia na capital paulista ou a “Terra do Rock”, como disse o vocalista Beto Bruno. Começava o primeiro fim de semana sem cigarros, era a primeira noite quente depois de dias seguidos de frio e o Cachorro Grande lançava seu álbum novo, Cinema, no Sesc Pompeia. O show começou com pontualidade quase britânica, às 9h03min, com a nova “Dance agora”. A plateia, que misturava conhecedores com fãs apenas dos singles, não podia estar mais animada. A banda se mostrou de um carisma incrível, que eu não tinha enxergado na longínqua apresentação do “Claro que é Rock” em 2005. Mesmo quando Beto Bruno abandonava subitamente o palco e voltava minutos depois com uma lata de cerveja na mão, a banda segurava bem a atenção do público. Em uma dessas saídas, o grupo seguiu com “Dia Perfeito” - com Marcelo Gross no vocal - e Rodolfo Krieger cantando “Deixa Fuder”, e ganhou até aqueles que estavam entortando a boca para apresentação. Para os fãs mais antigos e para os que conheciam pouco da banda, não faltaram músicas dos outros álbuns como “Sinceramente”, “As Próximas Horas Serão Muito Boas”, “Que Loucura”, “Bom Brasileiro” entre outras. Para aqueles que foram ouvir o disco novo, o Cachorro Grande mostrou as excelentes “O Tempo Parou”, “Luz”, “Amanhã” e “Ninguém Mais Lembra de Você”. Para mim faltou a experimental – e quase

mutante - “Eileen”. No ano em que a banda completa 10 anos de estrada, eles mostraram que sabem se reinventar sem deixar de ser Cachorro Grande. Esse último álbum tem influências dos anos 1970, mais psicodélicas. O lado negativo de tantos anos é a escolha do repertório: para todos fica faltando uma ou outra música. A desta apresentação foi “Você Não Sabe o que Perdeu”, que os meninos, nem tão meninos assim, voltaram para tocar quando os cabos já estavam sendo recolhidos. E se depender de shows assim, São Paulo, agora sem cigarros, continuará sendo a “Terra do Rock”. Stéphanie Concistré

BLUBELL

São Paulo, Studio SP, 29 de Julho

Apesar do nome, Blubell é uma cantora brasileira, com uma das vozes mais doces que já ouvi. Fui ao Studio SP ver o trabalho da moça mais de perto. O show teve um clima meio jazz, meio anos 20, com direito a mini-cocar na cabeça dela, e chapéu-coco na cabeça dos rapazes da banda.A cantora tem um charme impressionante: um misto de timidez sexy com piadinhas inocentes e uma presença de palco tão natural, que parece meio involuntária. É impossível não ficar encantado. Bluebell tem apenas um álbum lançado, o Slow Motion Ballet, de 2005, repleto de um tom íntimo e pessoal, com músicas que vão do rock ao folk melancólico, passando pelo jazz e o eletrônico. As letras são cantadas em português, inglês e francês, simples e sinceras, de autoria da própria Bel e tratam basicamente de experiências cotidianas e amor. Sabe quando a música parece feita pra você e seu coraçãozinho sofrido? Durante o show, ela cantou uma música chamada “Sha la la”, que ainda não está na internet, mas que será o tema de abertura da nova série da Globo, “Aline”. Então, pra quem tiver o velho problema da Síndrome do Underground, eu não recomendo. Aos demais, recomendo mui-to. Thaís Cristina











_ilustra federico stunz

flickr.com/photos/stoonz

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