Revista NOIZE #11 - Março de 2008

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NOIZE

#11 // ANO 2 // MARÇO ‘08

ÍNDICE 4. News // 10. Road Trippin’ // 12. Tim Maia // 16. Jack Johnson // 18. Júpiter Maçã // 22. Yoñlu // 26. Na Fita // 27. Agenda // 30. EstiloMúsica:Berlin Times // 34. Reviews // 42. Colunistas // 44. Fotos // 46. Jammin’

Foto da Capa: César Ovalle


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Se Você Não Gostou da Noize Passe Adiante

EDITORIAL Chegamos ao nosso segundo ano muito otimistas. Passo a passo, acreditamos que a revista avança, e o ano de 2008 promete. Se em 2007 o objetivo era familiarizar o público e os anunciantes de Porto Alegre com uma proposta inédita e ousada, a de uma publicação gratuita especializada em música, agora a missão é ainda mais destemida, pois a NOIZE será distribuída também no interior do estado. O aprendizado que tivemos, no entanto, nos enche de confiança. A crença de que conseguiremos nos incorporar definitivamente à rotina mensal de leitura de todo o nosso público é muito grande. Para atingir esse objetivo, garantimos que a revista que você tem em mãos está excelente e só tende a melhorar. O projeto gráfico está mais bonito e acessível, foram criadas novas seções, e o conteúdo editorial está ainda mais eclético e enriquecedor. Porém, a nossa evolução não será plena sem a sua participação. Entre em contato, sugira, elogie e reclame, pois só assim saberemos se estamos sendo bem-sucedidos em nossa missão. Um ótimo 2008 para todos nós. Equipe Noize.

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MC CRÉU - O FUNK DO VERÃO!

O MC Créu já era um produtor reconhecido nos bailes funk cariocas quando gravou “Dança do Créu”. A música já existe há dois anos e o envolvimento do autor com o gênero teve início em 1994, aos 13 anos de idade, quando ganhou duas pick-ups no programa “Porta da Esperança”, de Sílvio Santos. A partir daí, não largou mais o funk e consagrou-se como produtor, trabalhando com nomes como Tati Quebra-Barraco, MC Serginho e MC Catra. O “Créu” não foi aceito por artistas para os quais propôs o desafio de lançar a música, tanto que foi apenas quando decidiu gravar ele mesmo que o hit pode seguir o seu curso. Trata-se de um funk cujo principal ingrediente é a dança frenética dividida em cinco velocidades. O movimento vai acelerando no decorrer da música, incentivado pelos berros ensandecidos de MC Créu. Assistindo a qualquer uma das versões disponíveis no YouTube fica fácil entender o porquê da empatia do autor com o público. E preparem-se, porque, para bem ou para mal, vem aí “Ilariol”, “Dança do Michael Jackson” e “Passinho da Academia do Créu”, novas candidatas a hit do MC Créu. -

> ASSISTA AO CRÉU Nunca viu a Dança do Créu? Você pode conferir no youtube.com a versão oficial e também diversas “adaptações”. Tags: MC créu dança tsunami > CANTE JUNTO COM O MC CRÉU

SAIBA MAIS

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Não conseguiu decorar os complexos versos do Créu?! Sente uma vontade incessante de saber a poética letra?! O google está repleto de sites que têm a solução para o seu dilema.

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SEX KIT DOS RAMONES Quando o público acha que não tem mais como lançar produtos para fazer marketing de bandas que acabaram há muito tempo, descobrimos que tem pessoas muito criativas neste mundo. Marky Ramone, o ex-baterista do Ramones, é o garoto-propaganda de um kit para sexo seguro com a marca da banda. O kit se trata de uma latinha com o escudo ramônico. Dentro, se encontram duas camisinhas, um sachê de lubrificante e um cartão com informações sobre doenças sexualmente transmissíveis. Irônico, no mínimo. Não encontrado no Brasil, o kit é vendido nos EUA por US$ 4,95, e cada milésimo comprador ganha de brinde um par de baquetas assinadas por Marky. Dez por cento de todo o lucro será repassado para uma instituição que tenta reverter os problemas de saúde dos usuários de drogas de Nova York.

ZOMBIES FESTEJA 40 ANOS DE ODESSEY & ORACLE Para marcar o quadragésimo aniversário do clássico Odessey & Oracle, a banda inglesa The Zombies irá realizar uma série de shows em março. O álbum está entre os 100 em diversas listas dos melhores discos feitos até hoje e pegou carona nas influências de outros clássicos do período, como Pet Sounds (1966), do Beach Boys e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles. As apresentações serão realizadas no Sheperd’s Bush, em Londres. Rod Argent (piano e teclado) e Colin Blunstone (vocal) vão executar todas as canções do álbum. O guitarrista Keith Airey completará a formação. Os músicos também vão apresentar uma seleção de outras músicas da banda e material solo. -

> COLINBLUNSTONE.CO.UK Saiba mais sobre Odessey & Oracle e os Zombies acessando o site oficial do vocalista da banda.

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SCARLET CANTA WAITS

A outra banda de Jack White está gravando seu segundo disco, em Nashville. Por enquanto, não foram divulgados muitos detalhes, mas sabe-se que eles estão terminando as gravações e querem lançá-lo o mais rápido possível. A banda The Raconteurs vai tocar no famoso festival Coachella, nos Estados Unidos. Já o White Stripes acabou de levar dois prêmios no Grammy—Melhor Performance de Rock e Melhor Disco Alternativo, com Icky Thump.

A atriz americana Scarlet Johansson resolveu se aventurar na música, e finalizou as gravações de seu primeiro álbum, Anywhere I Lay My Head. O disco terá 10 versões para músicas originalmente lançadas pelo cantor Tom Waits e uma inédita, “Song for Jo”. Scarlet dividirá os vocais em duas faixas com o cantor David Bowie. O disco também terá a participação de Nick Zinner, da banda Yeah Yeah Yeahs, e a produção de David Sitek, do TV on the Radio.

US$72 milhões

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NOVO DISCO DO RACONTEURS

As Ricaças da Música 1) Madonna 2) Barbra Streisand US$60 milhões

3) Celine Dion US$45 milhões

4) Shakira US$38 milhões

5) Beyoncé :: US$27 milhões 6) Gwen Stefani :: US$26 milhões 7) Christina Aguilera :: US$20 milhões 8) Faith Hill :: US$19 milhões 9) Dixie Chicks :: US$18 milhões 10) Mariah Carey :: US$13 milhões

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>>“Quem tem razão”, música da Guli-

vers cujo videoclipe teve mais de três mil exibições no YouTube, faz parte da programação musical da rádio Atlântida e pode ser solicitada pelo fone da rádio. >>A Damn Laser Vampires prepara-se

para lançar em abril Gotham Beggars Syndicate, álbum de estréia com 13 faixas. Inicialmente, o disco chega aos EUA. >>Simplesmente, novo álbum dos The

Darma Lóvers, está previsto para a metade do ano e será produzido por Kassin e Thomas Dreher. >>A banda Fruet e Os Cozinheiros está

de malas prontas para alguns shows nos Estados Unidos. A Cozinheiros US TOUR 08 vai ocorrer no mês de março e passará pelo Texas e pela Georgia.

Estão confirmadas para o dia 2 de abril duas ótimas atrações para fãs do postrock e do hardcore melódico. O palco do Bar Opinião irá receber os ingleses do Funeral For a Friend e os norteamericanos do Rufio. A primeira delas virá pela primeira vez a Porto Alegre, enquanto a segunda fará sua terceira passagem por aqui. Funeral for a Friend adquiriu certa notoriedade entre os fãs de vertentes do emo e do rock, sendo distinguidos por muitos como uma das melhores representantes do screamo junto a nomes como The Used e Finch. Uma das peculiaridades da banda é o fato de, apesar de serem galeses, conseguirem montar uma base fiel de fãs nos Estados Unidos. O Rufio, cuja última apresentação em Porto Alegre supostamente integrava a turnê de despedida da banda, desistiu da decisão de abandonar os palcos. Os nor-

Onde Encontrar: VULGO

Rua Padre Chagas, 318 - Moinhos de Vento

Triste, porém verdadeiro: sem dúvida uma das melhores bandas gaúchas de todos os tempos, a Ultramen vai parar por tempo indeterminado. A decisão foi tomada pelos sete integrantes depois de 16 anos de estrada. Segundo nota divulgada pela produção do grupo, os músicos vão cuidar de projetos pessoais e não prometem data para retorno das atividades da banda, algo na linha do que o Los Hermanos fez no ano passado. Ainda nos moldes do recesso dos cariocas, a Ultramen dá chance aos fãs de curtirem o show da banda por mais algumas vezes antes da parada. Os gaúchos registram dia 6 de março, na reabertura do Bar Opinião, sua história nos palcos gravando seu primeiro DVD. A produção artística e musical será feita pela própria Ultramen, com coprodução da Cápsula Cinematográfica e Start Video. Depois disso, seguem fazendo shows nas quintas-feiras do Bar Ocidente até o fim do mês. Talvez

te-americanos serão a banda suporte na passagem do Funeral pelo Brasil. Também se apresentarão no dia 2 Esphera (PR), Ideal Stereo e Hipercubo. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos nas Lojas Multisom (Andradas – esq. Democrática, Shopping Total, Iguatemi e Bourbon Assis Brasil) aos seguintes valores: R$50 para os 300 primeiros, R$60 após e R$70 no dia e local do show. Kento Kojima

O FIM DA ULTRAMEN

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FUNERAL FOR A FRIEND E RUFIO EM PORTO ALEGRE

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as últimas oportunidades que você terá em um bom tempo de ver a mistura fina que, ao vivo, ganha peso e sacode o público num groove de responsa, bem registrado nos 6 discos da banda. Quem quiser ter uma idéia da grande festa que é um show da Ultramen pode conferir os vídeos do Projeto Ultramanos que rolou no ano passado. Tá tudo documentado e disponibilizado no site da banda (ultramen.com.br). Confere lá!


Foto: Gustavo Guedes

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Gustavo Telles

Baterista da Pata de Elefante

EDU TATTOO E COCA ZERO O Edu Tattoo está participando da promoção “Coca Cola Zero patrocina a sua língua”. A ação ocorre nas principais lojas de piercing de quatro capitais do país. Em Porto Alegre, caso você tenha interesse em ganhar um piercing da Coca Cola Zero de graça, deve ir até o Edu Tattoo e tirar uma foto com a jóia. As peças patrocinadas podem ser conferidas no site www.cocacolazero.com.br/ linguapatrocinada. A promoção –que continuará valendo enquanto não esgotar o estoque de piercings de titânio Coca Cola Zero– foi uma iniciativa da Espalhe, agência paulista de marketing de guerrilha. A loja do Edu Tattoo está localizada na rua Ramiro Barcelos, 1407, bairro Independência.Vá lá, afinal, não é sempre que se ganha um piercing sem pagar absolutamente nada. Aproveite e confira as tattoos. IN RAINBOWS / IN RAP A versão remixada do novo álbum do Radiohead, In Rainbows, superou problemas legais e já pode ser baixada de graça em site da internet. O disco Rainydayz Remixes foi feito a partir da reunião de MC Del Tha Funky Homosapien, Chali2na, Too Short e Zion. A iniciativa remete ao Grey Album, lançado por Danger Mouse em 2004. -

> ONESEVENSIX.COM/AMPLIVE Baixe Rainydayz Remixes e ouça o Radiohead de um jeito que você nunca ouviu antes.

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NOIZE diz: e aí, Gustavo, tudo tranqüilo? Gustavo Telles diz: Tudo ótimo. E aí? NOIZE diz: maravilha. cara, vocês lançaram Um olho no fósforo, outro na fagulha recentemente. queria que tu falasse um pouco sobre esse trabalho. Gustavo Telles diz: Esse é um disco heterogêneo, mas que tem coesão. Acho que essa unidade é inerente à concepção musical que temos. E é daí que vem a autenticidade do que fazemos. NOIZE diz: por que esse nome? Gustavo Telles diz: Essa expressão foi criada por Pedro Hahn, que é um mestre dos trocadilhos. Saca aquela “Um olho no peixe, outro no gato”’? Pois bem, foi a partir daí que o Pedro veio com “Um olho no fósforo, outro na fagulha” (risos). E também tem a ver com estar esperto, estar atento ao que está acontecendo. É um excelente nome, NOIZE diz: Em relação ao álbum autointitulado de 2004, quais as principais mudanças nas músicas? Gustavo Telles diz: Este é um disco com muitas baladas. Pode-se dizer que é um disco mais calmo. Nele, há vários elementos, como naipe de sopros, piano, bandolim, pedal steel, cítara e instrumentos de percussão. É um disco de “canções instrumentais”, com belas melodias. NOIZE diz: de 2004 para cá, quais novas influências o grupo adquiriu? Gustavo Telles diz: Não sei se adquirimos novas influências. O que de fato ocorreu é que neste CD foram evidenciadas referências que antes não tinham vindo à tona, como blues, o soul e o country. NOIZE diz: qual é a tua canção preferida do disco novo? por quê? Gustavo Telles diz: É difícil escolher apenas uma, porque vejo o disco como uma obra, e gosto da forma como as músicas estão costuradas. NOIZE diz: Particularmente, a minha pre-

ferida do novo disco é “Gigante”. de onde surgem as idéias para os nomes das músicas? Facilita ou dificulta não ter letra? Gustavo Telles diz: Os nomes podem surgir das formas mais inusitadas, pois como não há letra, não há um tema específico a se seguir. Talvez por isso seja até mais fácil batizá-las, pode ser qualquer coisa (risos). Mas há o que a música sugere, há a idéia por trás dela, e isso ajuda bastante na hora de se escolher um nome. NOIZE diz: quantas vezes vocês foram ao Goiânia Noise Festival? qual é a importância deste festival para a banda? Gustavo Telles diz: Já participamos de alguns festivais pelo Brasil, mas com certeza, o Goiânia Noise foi o mais importante até então, por ter nos colocado em evidência no que diz respeito à nova música produzida no brasil. Tocamos nas edições de 2004, 2006 e 2007 e vimos o quanto o festival cresceu neste período. Atualmente, esse é um dos principais eventos da música independente no Brasil, e o mérito é da Monstro Discos, produtora do evento. O público de Goiânia também é surpreendente, pois tem o desejo de conhecer coisas novas, se interessa por boa música. NOIZE diz: Você acha que os festivais independentes podem ser lucrativos para as bandas? Gustavo Telles diz: Quem já tem um nome consolidado ganha cachê. Quem ainda não tem, ganha a possibilidade de mostrar sua música, o que não deixa de ser lucrativo NOIZE diz: A banda foi selecionada para integrar uma coletânea chamada O Novo Rock do Brasil da revista Francesa “Brazuca”. os últimos meses têm sido muito movimentados para vocês. O que mais está rolando? Gustavo Telles diz: Tem o programa Rumos Itaú Cultural e o Petrobrás Cultural. Muita coisa tem acontecido ultimamente. NOIZE diz: Cara, queria te agradecer pela entrevista e desejar boa sorte com o novo disco e nos próximos passos da banda. Gustavo Telles diz: Obrigado! Qualquer coisa, estou à disposição. Um abraço.

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BRIT AWARDS CONSAGRA ARCTIC MONKEYS Os ingleses do Arctic Monkeys são os queridinhos britânicos do momento. O Brit Awards, evento anual que premia os melhores da música, deu duas estatuetas aos modestos garotos. “Somos os mais fantásticos”, agradeceram. O grupo inglês foi eleito o melhor do ano, assim como seu último álbum, Favourite Worst Nightmare. Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, aproveita o sucesso para realizar aventuras paralelas. O projeto mais recente é a The Last Shadow Puppets, que conta também com Miles Kane, do The Rascals. O álbum de estréia, intitulado The Age of Understatement, será lançado em 21 de abril. Voltando às premiações do Brit Awards, Kylie Minogue provou ser amada no Reino Unido. Assim como Kanye West. Ambos ganharam o troféu de Melhor Artista Internacional, ele no masculino

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e ela no feminino. Contou com shows de Mika, que cantou com Beth Ditto, do Gossip, e Rihanna, que apresentou “Umbrella” com a banda Kaiser Chiefs. Kate Nash ficou como melhor cantora, e os Foo Fighters levaram pra casa o prêmio de melhor álbum internacional e de melhor banda internacional. > BRITS.CO.UK - Site oficial do Brit Awards. Descu-

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bra se os artistas que você gosta já se deram bem no prêmio alguma vez.

Depois do grande sucesso do último álbum do Radiohead, vendido na internet ao preço do freguês, outras bandas estão se ligando do quanto podem se aproveitar da rede mundial de computadores para se promover. O Pennywise, filho legítimo do punk rock e do hardcore da Califórnia, disponibiliza “Something to Live For”, o single de seu novo álbum para download em sua página do Myspace (myspace.com/pennywise). A faixa segue a velha fórmula que consagrou a banda, com letras engajadas e guitarras rápidas, bem acompanhadas por uma cozinha experiente. Reason to Believe, o nono álbum de estúdio dos caras, vai ser lançado no final de março. Todas as faixas estarão disponíveis gratuitamente e em alta qualidade para download numa parceria com a Myspace Records. Em abril, Jim Lindberg (vocal), Fletcher Dragge (guitarra), Randy Bradburry (baixo) e Byron McMackin (bateria)

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NOVO SINGLE DO PENNYWISE

partem rumo a uma turnê pelo Japão e pela Austrália para divulgar o novo trabalho. Este ano a banda completa 20 anos de existência, e conta com a formação quase original. Depois de várias trocas de vocalistas, Lindberg assumiu o microfone em 92 e Bradburry substituiu Jason Thirsk em 96. O antigo baixista cometeu suicídio e virou tema de “Bro Hymn”, um dos maiores hinos da banda.



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AUSTRÁLIA :: Sidney Nome: Gustavo Alves Idade: 26 O que faz: Jornalista Destino: Porto Alegre/Sydney Motivo da viagem: Aventura e Estudos Trilha Sonora: The Killers Uma das grandes cidades do mundo, rota de negócios internacionais com o mercado asiático, território extenso com economia e população em crescimento, Sydney apresenta uma multiplicidade de culturas muito interessante. É possível não conseguir identificar a nacionalidade das pessoas que param ao seu lado ou que cruzam o seu caminho pelas ruas.
 A população da Austrália gira em torno de 20 milhões de pessoas—o que é relativamente pouco, lembrando que só São Paulo beira este valor. Para solucionar o problema, duas medidas foram adotadas: a fácil imigração e obtenção de residência para os estrangeiros, e o incentivo e suporte ($) para os australianos se reproduzirem. O efeito do baby boom são mulheres passeando com carrinhos de nenês duplos ou triplos. Sim, a terceira criança fica embaixo das outras.
 O intercâmbio cultural rendeu a Sydney uma “divisão” étnica. Estações de trem percorrem bairros inteiramente de libaneses, portugueses, árabes, chineses, indianos e outros tantos. Nestes lugares o inglês não é a língua oficial, e tradições e produtos típicos de cada dominam as ruas e o comércio. Ainda não existe um bairro brasileiro por essas bandas, mas praias (é claro) como Dee Why, Bondi e Manly têm essa imagem e já possuem seus restaurantes brazucas, onde podemos comprar Guaraná Antarctica, erva-mate e até churrasqueira de ferro, além de saborear aquele feijão com arroz ou um açaí. A diversidade atinge também a parte musical da cidade. Como explicar a aparição de Marisa Monte em 2007 no Opera House, o símbolo da Austrália? Outro exemplo é a apresentação do grupo Olodum agora em março no Luna Park, que promete sacolejar os brasileiros saudosos de seu país e os gringos que cada vez mais descobrem e amam o Brasil. Para todo tipo de gosto, um show é feito: só em 2008, Jack Johnson, Iron Maiden, Cypress Hill, Spice Girls, Maroon 5, Rod Stewart, Chemical Brothers, Offspring, Duran Duran, Tiesto, Queens Of The Stone Age, Kanye West, Foo Fighters, Arcade Fire, Björk, Simple Plan e vários outros tocaram em solo australiano ou têm apresentação marcada.

 Muito além de cangurus e belas praias, Sydney oferece uma infinidade de pubs e clubs aos seus moradores. A noite começa cedo e todo mundo se diverte dançando e bebendo ao som de baladas eletrônicas. Se para os gaúchos o chimarrão faz parte da cultura, para os aussies beber umas cervejas após a jornada de trabalho também é sagrado.

 Quando meu agente de viagem comentou que “os australianos querem é curtir a vida”, confesso que fiquei curioso. Hoje, depois de mais de ano morando nesta Sydney inteiramente remodelada para as Olimpíadas de 2000, energizada por “baterias” de todo o mundo, uma natureza iluminada, pessoas amistosas, alegres e bonitas, posso afirmar: eles curtem e sabem curtir a vida!

O Melhor de sIdney: Rádio – Nova FM Casa de Shows – Opera House Revista – National Geographic Comida – Tailandesa Lugar – North Heads, Manly


NOVA ZELÂNDIA Nome: Mateus Ely Idade: 21 O que faz: Corretor de Imóveis Destino: Porto Alegre/Nova Zelândia Motivo da viagem: Abrir a cabeça Trilha Sonora: Katchafire Mantendo contato e admirando as novidades que me contavam amigos que lá estavam, vontade já não me faltava para visitar a New Zealand. Foi questão de dias… alguns preparativos quanto ao visto e organização pessoal no Brasil e eu já me deparei aterrissando em Auckland. Pronto, cheguei! Dividida em duas ilhas (Norte e Sul), a Nova Zelândia é um país pequeno, mas com uma geografia riquíssima em seu relevo. Queenstown, na Ilha Sul, foi meu primeiro lar. Que cidade linda. Fui passar apenas 3 meses lá e fui seduzido pelas atrações, atmosfera e oportunidades da região. Acabei aceitando o convite de uma empresa e assim prolonguei minha estada. A estação que mais atrai turistas ao sul é o inverno.A neve proporciona a diversão da galera que curte um snowboard ou ski e até mesmo nas guerrinhas de rua. Com várias opções como Triple Cone, Coronet Peak e Remarkables (famosa por lá terem sido filmadas cenas do filme O Senhor dos Anéis), a dica é aproveitar o dia na montanha e no final de tarde descer para os pubs na cidade. Buffalo, Altitude, Revolver e Winnie’s são nightclubs que valem a pena ser conferidos por quem procura uma balada forte. Festas temáticas e shows bombam estas casas, e o mix de pessoas que vão a essas baladas torna tudo mais interessante. O surf na NZ é garantido. Invercagil, Cathlins, Dunedin e Kaikoura são os expoentes da Ilha Sul, mas vale lembrar que a friaca é INSAANA!!! Sharks são freqüentes, portanto fique atento quando surfar picos desertos e desconhecidos. Dunedin é uma cidade universitária que oferece festas todos os finais de semana. O maior potencial está na Ilha Norte: Raglan e Península de Mahia… ondas alucinantes que não devem fugir do seu roteiro por nada. A dica que dou para quem quer realmente conhecer a Nova Zelândia é o “Campervan Lifestyle”. Tive a oportunidade de comprar uma van com um amigo para a trip. Dediquei 80 dias para viajar ao redor das duas ilhas, morando na van: colchão de casal, minigeladeira e um fogãozinho quebram o galho, pois há campings por todo o lado. A sensação de liberdade e as aventuras que tivemos são impagáveis. Passamos por geleiras (Fox e San Josef Glaciers), festivais, vinícolas e praias impressionantes, sempre conhecendo gente interessante. É fácil viajar assim pelo país, pois as distâncias são pequenas e tudo é bem sinalizado. Os Kiwis (locais) são muito receptivos e prestativos com os turistas, e os Maoris (nativos) têm uma cultura muito expressiva. Quem curte tattoos vai se interessar pelos traços fortes e rústicos dos Maoris, que mostram sua arte na pele. A minha experiência na New Zealand foi ótima. Aconselho a todos que estiverem na dúvida: Pega o mochilão e vai!!! Kia Ora

O Melhor da nz: Rádio – The Studio/96.8 FM Casa de Shows – Buffalo Bar Revista – Kiwi Surf Comida – Fish’n’Chips Lugar – Dunedin

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Texto Fernando CorrĂŞa

tim maia 12


Era uma madrugada carioca como muitas outras: as prostitutas, os michês e travestis no final da avenida Nossa Senhora de Copacabana, o movimento gay em frente à Galeria Alaska, a orla logo ali… e a 13ª Delegacia de Polícia recebendo de portas abertas o cidadão Sebastião Rodrigues Maia, detido por porte de drogas. A década de 80 ia a todo o vapor, mas a abertura política ainda engatinhava. A lei e a razão determinam que um sujeito pego com entorpecentes preste depoimento e, dependendo de seus antecedentes, passe a noite preso. Quando era conduzido pelas escadas da DP, Sebastião, cantor famoso conhecido como Tim Maia, puxou do fundo da alma o vozeirão que era só seu: “Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir…”. Os comerciantes do corpo, que àquela altura da noite também deveriam estar um tanto alterados, bateram palmas e cantaram juntos, exaltados. A comoção atingiu o delegado em cheio, e Tim Maia foi mandado pra casa. Não havia razão que justificasse nem o ato criminoso, nem o ato oficial. Mas o que tinha Tim Maia a ver com a razão? Tim Maia Emocional São poucas as vezes na história em que é preciso suprimir-se a noção do politicamente incorreto em nome de dons maiores. Tim Maia é um exemplo de peso. Seu jeitão esculhambador e seu vozeirão cheio de graves, médios, agudos e suingue caminharam lado a lado para construir uma carreira que ultrapassou barreiras musicais e introduziu a negritude do soul na música brasileira. Mas mesmo toda a gratidão cultural que devemos ter não derruba uma verdade: “Tim Maia Racional”, mesmo, só nos dois cultuados LPs da década de 70, que o gordinho lançou quando estava sóbrio e tratou de eliminar do mapa ao se dar conta que sua tentativa de mudar de time e entrar nos trilhos tinha sido, na verdade, um grande engano. Tim era um doidão de mão e boca cheias. Ia aos extremos em tudo que fazia. A impressão que fica ao saber das desventuras do rei do soul brasileiro é de que ele era como uma criança sem limites.Ainda assim, vem fazendo sucesso sob a imagem de um doidão convertido.

Lançado no início do ano, o livro de Nelson Motta, “Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia” (Objetiva, R$ 40) é uma boa fonte de histórias cabeludas que rondam o nome de Tim, em tempos de redescoberta da sua música. Recentemente, a internet tratou de reacender o culto em torno dos volumes do Racional, lançados por Tim através de sua gravadora, a Seroma Discos, em 1975. Na época, Tim largara bebidas, drogas e sexo casual (não que ele obtivesse muito deste último) e tinha começado a pregar a palavra do psicógrafo Manoel Jacintho. O sucesso de Racional no século XXI mostra o quão atual e poderosa é a música de Tim Maia. Evidencia também um traço do ouvinte de música brasileiro: pouco importa o que está sendo dito, o que vale é a melodia. Afinal, ao que tudo indica, o único resultado prático da “racionalidade temporária” de Tim foram letras de louvor a um ser superior que, para ele, deixou de existir. Os arranjos fantásticos já estavam prontos para o disco duplo que Tim vinha idealizando há meses. Ritmo e melodia compunham Sebastião Rodrigues Maia bem antes de ele enlouquecer e desenlouquecer tantas e tantas vezes. Não há como negar a beleza dos dois volumes do “Racional”. Com a voz limpa, Tim sustentava os agudos de “GuinéBissau, Moçambique e Angola Racional” como talvez não tivesse conseguido meses antes de se envolver com a seita de Belford Roxo, cidade no interior do Rio de Janeiro onde conheceu Manoel e sua equipe. Lá, trocou os excessos por um novo exagero: o envolvimento com o Universo em Desencanto deixou

Tim bitolado e paranóico. Vigiava os integrantes da banda e punia quem fosse visto bebendo ou usando roupas diferentes do traje branco oficial. A seita pregava o bom senso, o equilíbrio, mas com Sebastião Rodrigues Maia nunca houve meio-termo. Desencanto mesmo teve ele ao perceber que o que havia idealizado não era o que acontecia, e que o líder Manoel, “o maior homem do mundo”, era humano, um empresário com seu negócios—um deles a seita. Abandonou as idéias do Racional, mas não o groove. Pouco conhecido pelo público em geral e pelos DJs das casas da Cidade Baixa, o disco Tim Maia de 1976 surfa na mesma onda funk do ano anterior, e com uma pegada que agrada a qualquer fã dos discos cult, mas com a diferença de revelar nas letras o velho Tim Maia malandro, revoltado com as idéias que cantara um ano antes. Como na obrigatória “Rodésia”, na qual Tim fala que “em Guiné-Bissau não está legal”, mostrando que mais cego estava quando tentou alcançar alguma luz divina. “Márcio Leonardo e Telmo” segue os moldes de “Guiné-Bissau, Moçambique…”, um groove dançante de letra ingênua sobre o enteado e o filho de Tim, respectivamente. O riff de “Batata Frita, o Ladrão de Bicicleta” é quase um revival de “O Caminho do Bem”, mas a levada é mais lenta e “o vizinho é careta e se deu mal” (só escutando para entender). Só tem coisa boa. Quando se aproximava o fim dos anos 70 e a disco music ainda bombava, Tim saiu na frente: gravou Disco Club, repleto de funks megadançantes, 13 >> noize.com.br


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clássicos como “Sossego”,“Acenda o Farol” e “A fim de voltar”, que fracassou devido a desentendimentos da gravadora com um Tim Maia um pouco mais detonado.Tinha aderido à droga que faltava para ofuscar seu brilho: a cocaína, ironicamente chamada por ele de “brilho”. Não que ele tenha se tornado menos talentoso. Mas somado à sua predileção por (muito) uísque, o abuso da coca não só detonava a voz de Tim como o deixava ainda mais instável no quesito presença aos shows. Quando comparecia, caso fizesse um grande show—o que acontecia em muitas das vezes—, comemorava com um triátlon mais reforçado ainda. “Triátlon” era a combinação tim-maiesca de álcool, maconha e cocaína, mistura que em última instância viria a converter o gordinho Tim em um corpo doente, com infecções e um coração que logo se revelaria uma bomba-relógio estourada. Acabavam os anos 70, os melhores da carreira musical de Tim. Dali pra frente, ele investiria pesado em outras “carreiras”. Se a maconha tinha o inconveniente do cheiro, o que só permitia que fosse fumada sem dar bandeira, nos “rasgatazus” (como Tim chamava os pontos estratégicos em que podia fumar, fosse em casas de show, fosse em gravadoras), o pó não tinha cheiro. A década de 80 e o início da de 90 foram marcadas por uma presença (eventual e) sempre alterada de Tim no palco. Escancarava a prática do seu triátlon, largando indiretas e diretas sobre os “bauretes” e “brilhos” que consumia (e lhe consumiam) antes e depois das apresentações. Ir ao banheiro durante um show em locais pequenos como o People (casa de shows da elite carioca) era pedir pra que o gordinho largasse pérolas como “a madame vai entrar no toalete caminhando e sair pulando”. Ninguém esperaria que Tim Maia fosse discreto, nem que a imprensa fosse fazer vista grossa para tanta presunção—durante as entrevistas, ele tirava um baseado do bolso e acendia como se fosse a coisa mais natural do mundo. Talvez tu não soubesses, mas teus pais sempre souberam (pergunta pra eles) que Sebastião Rodrigues Maia abusava de coisas ruins na mesma medida do seu talento. O DISCO PERDIDO: RACIONAL VOL. 3 O pouco tempo que Tim esteve envolvido com o Universo em Desencanto foi suficiente para produzir dois discos da mais pura lavagem racional, um banho de doutrinação (ainda que não seja “doutrina nem religião”) e funks dançantes. Eis que, por uma ironia do destino, surge um terceiro disco esquecido, ou melhor, abandonado por Tião no estúdio em que gravava esta que parece ser uma tentativa de continuação aos dois volumes do Racional. O filho do dono de estúdio, em uma conversa informal, percebeu que possuía fitas originais com gravações de Tim entoando frases sobre um ser superior. Agora, as fitas viraram bits e estão navegando os sete mares da internet. Os boatos são de que as faixas estão nas mãos de Kassin (que produziu de Los Hermanos a Wanessa da Matta, passan-

do por Wander Wildner). São cinco faixas com nomes escolhidos pelo próprio divulgador do material. Duas são takes alternativos para uma mesma música, que recebeu o nome de “Escrituração Racional”. Segue a linha de boa parte dos dois primeiros volumes, com Tim cantando em falsete sobre uma base negra até a alma. Na funkeira “You gotta be rational”, os metais acompanham a voz de Tim cantando que é racional e não precisa de drogas. A pregação pega pesado em “Brasil Racional”, a mais chatinha das quatro músicas. O mais interessante é a onda disco pegando Tim de jeito em “Universo em Desencanto Disco”, no melhor estilo “Não Quero Dinheiro” com a maravilhosa voz limpinha que logo daria adeus. Será que tem mais? Dizem que sim; resta esperar.



Texto Frederico Vittola

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Você acorda cedo, toma um chimarrão e se manda para a praia. Ou não, pois a balada foi muito forte. O melhor a fazer é acordar depois das 14h, almoçar, descansar mais um pouco e encarar o sol amenizado da metade para o fim da tarde. As duas situações são válidas. Para aqueles que já estão com saudades do verão e de noites embaladas por uma roda de viola sob a luz do luar, chega às lojas o novo trabalho de Jack Johnson, Sleep Through the Static. Não é por acaso que as canções de Jack Johnson têm tudo a ver com o clima de sol, praia e surfe. Natural da ilustre Sunset Beach, costa norte de O’Ahu no Havaí, Johnson cresceu no playground que todo surfista sonha em ter. Com um visual paradisíaco nos fundos do quintal de casa, entre um caldo e outro já trocava umas idéias com Kelly Slater.Aos 17 anos contava com patrocínio forte da Quiksilver e tinha um futuro bem promissor no circuito profissional de surfe, mas não era exatamente isso que ele queria. Temia que o profissionalismo exacerbado corrompesse sua relação passional com o mar. Para não ficar longe das praias e da busca pela onda perfeita, pensou em produzir filmes de surfe. Johnson partiu para Santa Bárbara, na Califórnia, para estudar cinema na UCSB. Com o colega Chris Malloy filmou Thicker than Water, um documentário de surfe, com a participação do amigo e multicampeão Slater desbravando ondas ao redor do mundo. Depois vieram A Broken down Melody e September Sessions. Premiados pela crítica especializada, os filmes acabaram servindo para lançar sua carreira no mundo do showbiz— não como diretor, e sim como músico. A trilha sonora de Sessions tornou-se um sucesso e foi a base do material para seu disco de estréia, Brushfire Fairytales, em 2001. Nesse processo de transição, influência fundamental foi o amigo e músico Ben Harper. Além de produzir seu primeiro disco e participar em algumas faixas, Harper levou JJ para abrir sua turnê pelos EUA. “Eu sempre era o cara que levava o violão e puxava as músicas em volta da fogueira, na praia—isso desde garoto,

em Sunset. Músicas de Bob Marley, de Van Morrison, músicas boas de cantar junto.” Os primeiros acordes vieram graças ao mar, ou melhor, à falta dele. Ainda nos tempos de Havaí, JJ sofreu um grave acidente em Pipeline. O resultado foram três dentes quebrados, 150 pontos e um bom tempo de molho. Foi nesse break que aprendeu a tocar algumas músicas de Bob Marley e Metallica e escreveu suas primeiras composições. Depois de cair na estrada com Ben Harper, JJ montou seu selo, a Brushfire Records, voltada para produções de discos e filmes no segmento surfer. Seu segundo disco, On and On, lançado em maio de 2003, é uma continuação natural do espírito e do estilo de Brushfire Fairytales: música folk moderna, temperada com blues, reggae e hip-hop. Com On and On Jack Johnson consolidou-se como um dos principais artistas da surf music contemporânea. O disco seguinte, In Between Dreams, teve um toque brasileiro. O produtor paulista Mario Caldato, que já assinou álbuns de Marisa Monte e Beastie Boys, se encarregou da produção. Segundo o próprio JJ, foi Caldato quem lhe apresentou bossa nova e João Gilberto. O disco também trouxe Johnson até o Brasil, onde fez apresentações no Rio e em São Paulo. As músicas “Sitting, Waiting, Wishing”, “Breakdown”, “Good People” e “Upside Down”, da trilha sonora que JJ fez para o desenho Curious George, ficaram entre as mais tocadas do ano e viraram repertório obrigatório nas rodas de violão. No início desse ano veio o lançamento de seu último disco, Sleep Through The Static. Ele repete a infalível fórmula dos álbuns anteriores que con-

quistaram o público com a simplicidade de seus arranjos e a sinceridade das letras embaladas por uma voz suave. Com uma musicalidade levemente mais forte, arriscando guitarra plugada em algumas faixas, Sleep Through the Static não é nenhuma novidade para quem já conhece o seu trabalho. Pai de dois filhos e mais maduro, algumas letras simbolizam um upgrade na composição de Jack Johnson, abrindo espaço para uma certa melancolia causada pela morte de um primo do artista pouco antes da finalização do CD. Mas nada que estrague um belo dia de praia. Depois da faixa “All at Once” (que fala sobre o ocorrido), surge uma seqüência de baladas. “Tive um par de filhos e, algumas das canções deste álbum são sobre fazer bebês. Outras são sobre como cuidar deles. Outras ainda são sobre o mundo em que estas crianças vão crescer, um mundo de guerra e de amor e de ódio, de tempo e de espaço. Algumas canções são sobre dizer adeus a pessoas que amo e das quais vou sentir saudade.” Para aqueles que quiserem um punhado de canções para embalar a galera em volta da fogueira é mais um prato cheio. Das 14 faixas, os destaques ficam por conta das simpáticas “Sleep Through the Static”, “Hope”, “Same Girl” e a música de trabalho “If I Had Eyes”. Só não estranhe se você achar que já ouviu uma delas antes: as canções de Jack Johnson são como as ondas do mar que tanto lhe inspiram. Parecem todas iguais.

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> JACKJOHNSONMUSIC.COM Site de Jack Johnson, para ver vídeos, notícias, datas e locais de shows e obter informações sobre ativismo ambiental.

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Texto Fernando Corrêa Foto Rafael Rocha

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Sentado no saguão de um hotel no centro de Porto Alegre, cada minuto aumenta minha ansiedade. Explico: estou prestes a entrevistar Flávio Basso. Ou Júpiter Maçã—não sei qual dos dois esperar nesse horário matutino. Me dizem que devo subir até o quarto do homem e levar três refrigerantes, e é o que faço. De repente, estou cara a cara com um dos personagens mais importantes da música brasileira, talentoso o bastante para enfileirar o maior disco do rock gaúcho, a ousadia de misturar psicodelia com bossa nova e a sintonia retrô-futurista de Hisscivilization num período de 6 anos. Isto depois de ter fundado o TNT e os Cascavelletes, autodeclarados “a maior banda de rock’n’roll do mundo”. É sem dúvida alguma um artista “pra frente”—e está na minha frente. Peço desculpas por chegar naquela hora da manhã, mas tenho pressa para concluir a matéria. Ele diz que “tudo bem” e fala pra eu sentar onde quiser. Escolho a cama e começo a conversa.

palavras minhas, mas faz bem pro ego (risos). Quer dizer, de uma forma ou de outra eu atingi o novo através desse processo”.

Uma tarde na fruteira A última maçã do pomar Jupiteriano não poderia tem um nome mais apropriado. Muitas das idéias para Uma tarde na fruteira surgiram com Júpiter ora sentado numa fruteira de São Paulo, ora morando em uma república habitada por outras pessoas ligadas às artes em Porto Alegre. Três anos depois, o disco foi finalmente lançado em solo brasileiro através de uma parceria da Monstro Discos com o selo porto-alegrense Marquise 51 Records. Apesar da demora, o conteúdo é fresco como frutas colhidas e vendidas no mesmo dia. Não há previsibilidade quando se fala de Flávio Basso. Aliás, minto: há um pouco de cada coisa, a psicodelia mod do cult Sétima Efervescência (1996), o samba-jazz de Plastic Soda (1999) e o experimentalismo lowtech do Hisscivilization (2002), que reaparece em faixas como “Base Primitiva Revisitada”.

A crítica dos europeus não surgiu por uma eventualidade. O disco foi lançado pela Elefant Records, um selo espanhol, antes de chegar por aqui. Lá, com faixas bônus dos trabalhos anteriores, o disco saiu com capa inspirada nos discos da Elenco (gravadora que lançou grandes nomes da bossa nova e do jazz nos anos 60 e que possuia uma identidade visual marcada pelo preto e pelo branco nas capas de seus discos). O lançamento europeu rendeu uma minitour por Londres, de resultado lisonjeiro. “Volta e meia tenho que dar um pulo na Europa a trabalho. Quando atravesso o Oceano, vou pelas artes mesmo. Dessa última vez, fiquei cinco meses lá. Eu saí de um show no Buffalo Bar, onde já tocaram nomes como Oasis e Blur, e esses inglesinhos chegaram dizendo ‘man, you’re God’. Foi uma coisa muito interessante. Acabou que meu Garagem Hermética em Londres é o Buffalo Bar. É como o Cavern Club pro Paul, o palco-útero”.

“É porque esse som é da safra do His”, explica. Aliando ao futurismo de Hisscivilization com a brasilidade do samba-rock, a faixa é, junto a outras geniais, como “Sorvete com vocês” e “Carvão sobre tela”, uma amostra do que os espanhóis falam do disco. “Eles dizem que eu revisito a sistemática da tropicália e do rock’n’roll, mas jogando isso pra frente, resultando em algo novo, ‘fresh’. Não são

Aproveito o gancho para falar do idioma das composições. Porque no Fruteira Júpiter volta a cantar em português, depois de dois discos onde o inglês dominou sob a alcunha de Jupiter Apple. “Nas minhas letras, tu detecta o poema, seja em português ou inglês. O inglês é belíssimo, mas o português também é maravilhoso”. Letras essas que ficaram de fora do encarte do disco nacional. Isso porque

o livreto é recheado por um ensaio fotográfico, assinado por Bibiana Morena, ex-parceira com quem no ano passado Júpiter gravou o roqueiro Bitter, repleto de canções de bater o pé, mas com repercussão mais tímida em meio à expectativa pelo Fruteira nacional. “O que tu achou do encarte? Ficou maravilhoso, né?”, me pergunta orgulhoso. As participações femininas seguem nas músicas, com Cuca Medina, que divide os backing vocals com Talitha, ex-companheira de Jupiter na música e no amor. “As gurias fizeram um trabalho fantástico. A Cida é como uma ‘maestra’, e eu e ela juntos fizemos os arranjos”. É nas vozes das gurias, no início de Plataforma 6, que as influências de João Gilberto e Tom Jobim, já bem assinaladas pela bossa de Plastic Soda, batem ponto no melhor estilo Banda Nova (conjunto que acompanhou Tom Jobim durante boa parte de sua carreira). “Legal, é isso mesmo. É mais o Jobim, o Gilberto foi no Plastic. E tem toda aquela turma, Caetano, Gal, Gil. E aquela americana, a Nina Simone, adoro aquela mulher… e The Monkees, acredite se quiser (canta um trecho do tema do seriado homônimo dos anos 60).” E vieram de onde as influências tropicais? “Meus pais tinham um bom gosto musical. Sempre gostei de mùsica brasileira. Quando eles escutavam, era muito Chico, eventualmente Tom. Não tinha muita coisa suingada, como Gil. Não era, definitivamente, uma familia suingada, tá me entendendo? E tinha um único disco do The Beatles, porém superelegante, uma coletânea da19 >> noize.com.br


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quelas ‘Oldies but Goodies’, da Capitol mesmo.” É claro que, para um garoto, o rock dos Fab Four teve mais impacto—e parece continuar tendo. “Só existe uma banda com diversos discos na mesma fórmula e que fez isso muito bem: The Beatles. Ah, e os Ramones”. O verdadeiro camaleão O quarto de hotel já viu dias melhores. Mas faz parte do universo beat em que Júpiter imergiu desde que começou a compor Uma tarde na fruteira, há mais de três anos, e em que segue cultivando novos frutos. “Não que eu seja viciado em Kerouac ou Ginsberg. Eu fui sendo lapidado para me tornar o que me tornei. Hoje sou um homem com sua mala, pulando de galho em galho. Isso é muito mais instintivo que racional, e musicalmente é extremamente positivo. A melhor fase do Bob Dylan foi toda gravada em hotéis. Esse hotel é Dylan total. Nos anos 40 ele deve ter sido o chique, agora é o existencialista. E eu estou numa fase existencialista. Me hospedei nesse quarto pra compor meu próximo álbum. O estúdio é o banheiro, e um radinho e uma caixa pequena, mas muito boa.” E o metodo tem dado certo? “Tá saindo uma canção atrás da outra, e todas fantásticas. Vê que injustiça, dizem que músico não trabalha. Eu nunca sequer liguei essa TV. Não quero isso, quero exteriorizar, exorcizar.” Poderia parecer presunçoso, mas quem tem a palavra é uma das forças motrizes do rock gaúcho. Não falta gente de calibre pra corroborar as adjetivações positivas—ou para colaborar com o homem. “Dessa vez, optei por chamar meus parceiros favoritos. Ontem, eu tava com Marcelo Gross, com quem tenho uma amizade de dez anos (Gross é guitarrista da Cachorro Grande e tocou bateria na tour do Sétima). O Plastic Soda, por exemplo, meu álbum mais intimista, era muito ‘eu, eu, eu’. No Fruteira, que é ultra-arranjado, já contei com o esforço e o talento de outras pessoas. Eu posso pegar a guitarra e tocar, mas eu não quis isso”, explica.

psicodelia, e o núcleo do movimento mod dessa época era o Garagem Hermética. Sempre gostei de Syd Barrett. Quando guri eu ia pras lojas da Galeria Chaves ouvir o Piper (at the Gates of Dawn, primeiro disco do Floyd) com fones de ouvido. Mas o que aconteceu pro Sétima foi que eu entrei com tudo na psicodelia. Eu tava numas de querer ser o Dylan, viajar com minha gaitinha, e isso foi interessante pro amadurecimento das minhas letras; ficou tudo muito mais expansivo. Mas o clique aconteceu por volta de 1995, quando então eu conheci pessoas aqui em Porto Alegre que me conduziram a uma lisergia séria, não um “brincar de psicodélico”. Nesse período, tinha duas coisas interessantes acontecendo: o movimento neo-mod, que na Europa era protagonizado por Oasis e Blur, o pessoal “cabelinho” de roupa Adidas. Aqui em Porto Alegre, uma coisa mais lisérgica. O pessoal se vestia com roupa de brechó, calça de veludo, camisa de cetim, como é até hoje. Eu era um mod guiado pra psicodelia, e daí saiu a Sétima. Tive certeza de que o álbum ia ser quente quando, num luau na Guarda do Embaú, comecei a tocar músicas do disco na roda de violão. A moral da roda é tocar uma e ir passando, mas o violão não parava de voltar pra mim, o pessoal pirou com as canções.” Era um dos primeiros contatos do público com a obra de Júpiter Maçã— ou Apple—um dos artistas com maior capacidade de se reinventar sem nunca perder o fio da meada. “Chamam o David Bowie de camaleão do rock, mas ele tem três discos por período. Eu sou mais camaleão que ele, é um álbum por fase, assusta mais ainda. Não que eu queira ser um camaleão, na verdade andam dizendo que eu sou a rã do amor”. Rio sem entender o apelido. “O que eu tô fazendo agora tem a ver com volta às raízes, mas não como o Bitter, que é mais um retrato de um relacionamento. É um álbum como o Let it be, um Get Back. Fiz a bossa, fiz o electro e tava com saudades do meu rock’n’roll.” Mais que a capacidade de visitar diferentes estilos musicais, o “camaleão” Flávio Basso deixa sua marca por buscar - e atingir de maneira surpreendente - a sintonia que existe nas partículas elementares de cada e toda influência incorporada no seu “mosaico de imagens mil”.

Ele me mostra algumas faixas recém compostas, ainda no “primeiro esboço”, ensaiadas e gravadas em apenas um encontro de Júpiter com seus comparsas. “Meu processo começa meio repentista. A primeira parte surge assim, a gente dá uma ensaiada e grava. A poesia sai na hora. Depois, para um segundo esboço, já em estúdio, eu pego toda poesia e transformo numa letra só”. Talvez estejam, como ele diz, menos intimistas. Mas pelo menos uma das três boas canções que saem do pequeno gravador é de uma beleza melancólica. Outra, não menos interessante, remete ao folk de Dylan e traz à tona o assunto de Woody Apple, pseudônimo adotado por Flávio Basso entre o fim dos Cascavelletes e o estouro de Sétima Efervescência.

Encontro cósmico A próxima possibilidade de contato dos porto-alegrenses com a música de Júpiter acontece no dia 7 de abril, no Bar Opinião. O show é de lançamento do Uma Tarde na Fruteira (como o disco, demorou mas vai rolar). Porém não devem faltar números dos outros discos, bem como revivals de um que outro clássico do TNT e dos Cascavelletes. “Esses dias a gente tocou `Entra nessa`. Interessante como fica uma coisa fresh pra mim.” Se repetir a dose do último show na casa da José do Patrocínio, a viagem interespacial deve ser inesquecível.

“O Júpiter Maçã nasceu quando o cantor folk enfiou a cara na

> MYSPACE.COM/JUPITERAPPLE Para ouvir boa parte das músicas de Uma Tarde na Fruteira, conferir fotos, vídeos e agenda completa e atualizada.

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Texto Gustavo Corrêa Arte Yoñlu

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O quarto de Vinícius Gageiro Marques é idêntico ao de muitos jovens de 16 anos. Uma breve olhada torna explícito o principal interesse do garoto. Presos à parede estão um pôster de Thom Yorke, vocalista do Radiohead, e um quadro da banda escocesa Mogwai. Um móvel tomado por CDs e uma estante repleta de livros e revistas especializadas eliminam qualquer dúvida: Vinícius era um apaixonado por música. A devoção do jovem à arte poderia passar despercebida não fossem dois fatos. O primeiro é trágico e requer todo tipo de cautela ao ser abordado. No inverno de 2006, Vinícius tirou a própria vida. O suicídio foi amplamente abordado pelos veículos de comunicação, pois teve envolvimento decisivo da internet em seu planejamento e execução. O adolescente obteve dicas sobre a maneira que desejava morrer em um grupo de discussão na rede. Junto à carta de despedida,Yoñlu—nome artístico adotado por Vinícius—deixou um CD com algumas de suas canções. A qualidade deste material e de outras músicas encontradas no computador do adolescente (algumas disponibilizadas em sites antes de sua morte) despertou o interesse da Allegro Discos. A gravadora independente decidiu lançar no final de fevereiro um álbum com 21 canções próprias de Yoñlu e dois covers (“Little kids” do Kings of Convenience, e “Ricky”, de Joe Frusciante). O desafio de vender um CD póstumo não seria aceito se não fosse uma obra efetivamente bem construída. A variedade dos álbuns encontrados em um móvel no quarto do garoto impressiona.A discografia de Yoñlu inclui, sinteticamente, CDs de Tom Waits, Beach Boys, Miles Davis, The Strokes, R.E.M, The Clash, Caetano Veloso, The Flaming Lips, Kiss, Mogwai e Radiohead. O ecletismo é inegável. Com 13 anos, Vinícius fez uma coletânea intitulada “A História do Rock”. Estão presentes artistas indispensáveis como The Beatles, Bob Dylan e o único conjunto brasileiro da lista, Mutantes. Chamam a atenção, no entanto, nomes que raramente alguém com tão pouca idade poderia conhecer e idolatrar. Estão ali Jeff Buckley, apontado

pelo garoto como o maior compositor norte-americano contemporâneo, e o Super Furry Animals. Favoreceu o precoce conhecimento musical e lingüístico de Yoñlu (fluente em francês e inglês) a temporada que os pais o levaram para a Europa. O pai, Luiz Marques, é professor universitário, e a mãe, psicanalista. O refúgio de Vinícius sempre foi a internet. Lá que ele estabeleceu os contatos e pôde disseminar seu trabalho, fazendo-se passar por um adulto de 26 anos. As músicas foram gravadas no computador, e a família nunca teve acesso às composições de Yoñlu. De acordo com o pai, quando criança ele costumava cantar clássicos da bossa nova com a mãe. O trabalho pesado de criação, contudo, era realizado no próprio quarto, individualmente, sem interferências. O álbum lançado pela Allegro obedece a uma ordem quase cronológica, embora tenha como regra a reunião das músicas por estilo. Ligado precocemente à arte,Yoñlu transita por gêneros distintos com sensibilidade e inteligência. Aos 16 anos, ele foi capaz de capturar referências do experimentalismo, do rock industrial, do indie, da bossa nova e da tropicália, entre tantas outras, e reproduzi-las em algumas dezenas de canções gravadas em seu computador. Todos os vocais e instrumentos foram executados por ele. As letras, predominantemente em inglês, estão anotadas em um caderno no qual o garoto também rabiscava desenhos como o que ilustra a matéria. O álbum começa flertando com o rock industrial e atinge um de seus grandes momentos na terceira e na quarta canções—“The Albatross” e “Q-tip”, respectivamente. Juntas, propõem uma viagem por gêneros distintos e formam uma unidade

soturna que tem um término tomado por angústia. O experimentalismo fundamenta a primeira parte do álbum. “As músicas procuram aprofundar algumas tendências. Elas são experimentais por irem além da obtenção de uma sonoridade”, afirma o pai. Destoando um pouco do modelo que preza canções lentas—ao menos na batida—, “Deskjet remix” é um drum & bass criado a partir de uma canção do adolescente por um DJ escocês, amigo de Yoñlu pela internet. Em “Tiger”, fica evidente a influência de Tom Waits, mas a canção evolui para uma viagem sonora e termina com um discurso furioso de Caetano Veloso. As canções mais bonitas e melancólicas do álbum estão em seu final. Os covers “Little Kids” e Ricky”, mas principalmente “Humiliation”, “I know what’s like”, “Suicide Song” e “Waterfall” evidenciam a riqueza melódica de Yoñlu em seu auge. As letras captam um período em que ele escrevia sobre a tristeza de uma forma mais direta. Versos como “Why does it always have to end with humiliation for me” demonstram a tristeza que sentia. Em “Suicide Song”, ele finaliza a canção com a seguinte estrofe: “Now my suicide is lit by the sunset / It’s pretty sad if you ask me / I don’t think I will be / Around to see your face again”. Além do lançamento nacional, a Luaka Bop, gravadora chefiada por David Byrne, vai lançar internacionalmente um álbum de Yoñlu. A versão deverá conter 14 faixas, das quais pelo menos duas não estão presentes no disco brasileiro. Infelizmente, o autor, tal como gênios de diversos tipos de manifestação artística, não terá a oportunidade de assistir ao reconhecimento do próprio trabalho. 23 x noize.com.br




O Na Fita é o espaço destinado às bandas de colégio. As escolhidas têm direito a gravar uma música por conta da revista e ainda ganham uma matéria. Envie o material da sua banda para nafita@noize.com.br e participe.

Texto Luna Pizzato Foto Felipe Kruse

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Será possível uma única banda misturar estilos que vão de Claudinho e Buchecha a Blink 182? Pois a banda desse mês, a Budd, está ai para mostrar justamente isso. Mesmo classificada como uma banda de hardcore, influenciada por nomes como NOFX e Sublime, os guris têm o estilo próprio de misturar os mais variados tipos musicais. Considerada inicialmente uma brincadeira pelos amigos Rodrigo, Gabriel, Fernando, Marcelo e Mathias a banda passou a ser levada mais a sério ao vencer, logo em sua primeira apresentação, o FICA—Festival Interno do Colégio Anchieta. Junto com o prêmio de três horas de gravação em estúdio, eles encontraram motivação e incentivo para continuar atrás do sonho de boa parte dos integrantes, que é viver da música.

Com apenas uma música gravada mas muitas outras no papel, eles pretendem gravar ainda este ano a primeira demo. Já quando o assunto é a cena musical de Porto Alegre, os guris estão certos ao reclamar da falta de lugares para tocar: “A maioria consegue mostrar o seu som apenas antes de shows de bandas mais conhecidas”, dizem. A banda não chegou a completar um ano de estrada e, segundo o baterista Fernando, eles não podem ser considerados exemplos de disciplina e dedicação. No entanto, pretendem se esforçar mais este ano, e assim aproveitar as chances que o FICA proporcionou e, quem sabe assim, começar a traçar mais uma história de sucesso.


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Agenda IRON MAIDEN :: 05 DE MARÇO Gigantinho A Donzela de Ferro promete incendiar o Gigantinho na primeira quarta-feira (05) do mês. Dave Murray, Janick Gers, Bruce Dickinson, Steve Harris, Nicko McBrain e Adrian Smith formam o Iron Maiden, a banda de heavy metal mais influente do mundo. A turnê Somewhere Back in Time está baseada nos anos 80, período que abriga a maior parte de seus hits, e também divulga o lançamento em dvd do vídeo “Live after Death”, de 1985. As entradas para pista e arquibancada desapareceram rapidamente das bilheterias. Gigantinho lotado, portanto. Mais informações em www. opiniao.com.br.





estilo:música Há 15 anos, Eduardo Normann e Mariana Kircher dividem instrumentos musicais dentro e fora dos palcos. Uma parceria que rendeu, além de uma família, inúmeros projetos de bandas, festas e até um prêmio de melhor trilha sonora no cinema.




NOIZE: Quantas bandas vocês têm juntos hoje? Eduardo: Tem a Space Rave, a Planondas, e um projeto novo, intitulado Major Tom, com a artista plástica Joice Giacomoni, onde ela faz as letras e a gente compõe e grava as músicas. NOIZE: O que se pode esperar pra 2008 desses projetos? Eduardo: Com a Space a gente tá finalizando agora em março o CD com a nova formação da banda: o Marcos Rubenich na batera, Murilo Biff na guitarra, eu na guitarra e voz e a Mariana no baixo e voz. Em abril já tem shows marcados em São Paulo pra divulgar esse trabalho, dia 3 no Milo Garage e dia 4 no Clube Praga. Agora com a Planondas também estamos em estúdio, mas esse trabalho só deverá ficar pronto mais pro meio do ano.

Fotos: Marco Chaparro Texto: Helga Kern Produção: Mely Paredes Assistência de Produção: Bianca Montiel Make up & Hair: Gabriela Guimarães Figurino: Acervo Antônio Rabadán e Vovó Usava Locação: Porão do Beco Agradecimentos: Vitor Lucas e em especial Matu

NOIZE: E quanto à Major Tom? Eduardo: É a nossa primeira experiência com bateria eletrônica, teclados e sintetizadores, e tá sendo ótima, bem diferente! Temos ensaiado no Estúdio7, com o Eduardo Suwa produzindo as gravações e compondo as baterias eletrônicas. Esse trabalho com a Joice a gente não sabe se vai ser um projeto pra fazer

show, mas é um trabalho muito bom de compor e gravar, e daí botar bateria eletrônica, uns barulhos e a guitarra e o baixo. NOIZE: Qual a diferença entre a Space Rave e Planondas? Mariana: Na Space Rave eu toco baixo e o Edu guitarra, e as composições partem mais dele, tanto as letras quanto a música. Já na Planondas trocamos de instrumentos e as composições são de ambos, daí a influência fica mais punk rock, enquanto na Space é total guitar band, meio Sonic Youth, Pixies, Jesus and Mary Chain… Em 2007, a Planondas participou do longa-metragem Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca.Além de fazer um show na cena que foi filmada no antigo Beco 203, a banda faz parte da trilha do filme, e acabou faturando o prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Cinema Brasileiro de Goiânia. Fora isso, o casal também produz festas, como a Lust for Life, que acontece na segunda sexta-feira de cada mês no Cabaret do Beco, e a Laika Teen Spirit, que une shows e discotecagem na primeira sexta de cada mês no Laika. 35 x noize.com.br


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PATA DE ELEFANTE

Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha

Para aqueles que compartilham comigo a opinião de que Pata de Elefante é, no mínimo, a melhor banda do Rio Grande Sul, boas novas: já está na lojas o novo álbum da banda, Um olho no fósforo, outro na fagulha. O trio lança um discão com 18 faixas só com rock instrumental de primeira, que cativa qualquer um que tenha ouvidos e um pouquinho de sensibilidade. O repertório apresenta um som mais amadurecido, com menos experimentalismo, mas nunca menos surpresas. Lute para não chacoalhar o esqueleto ouvindo “Hey” ou tente não soltar pelo menos um suspiro ouvindo as baladas “Solitário” e “Presente para Mary Ooo”. Um olho no fósforo, outro na fagulha confirma o talento de três músicos que ainda vão dar muito que falar. Gabriela Lorenzon

LENNY KRAVITZ

It is Time For a Love Revolution

Lenny Kravitz, para alguns, é o “cara” de “Fly Away” e “American Woman”, músicas cujos refrães foram repetidos à exaustão no fim da década passada e começo desta. Mas o que de mais positivo há em It is time for a love revolution, álbum recém lançado pelo músico norteamericano, não é o refrão pegajoso e dançante de uma canção específica. Nesse disco, Kravitz conseguiu compor pelo menos cinco canções acima da média. Logicamente, elas não traçam um desvio na cartilha pop obedecida por ele desde os primeiros álbuns, mas oferecem belos momentos que merecem ser destacados. “Long and Sad Goodbye” será uma das mais belas canções de 2008. Em “Love Love Love”, Lenny despreza o descartável e define o mais importante. Ouça também “Good Morning” e “I Love the Rain”.Vale. Gustavo Corrêa

CAVALERA CONSPIRACY

Inflikted

Obviamente, a junção dos irmãos Cavalera após dez anos, por si só, já vale o interesse. A expectativa em torno do que os dois poderiam fazer era enorme, principalmente entre os fãs do Sepultura que esperavam uma reunião da banda (o que não aconteceu). Dizer que Inflikted é uma continuação do trabalho que eles faziam na sua ex banda é uma mentira. Claro, tem muito do Sepultura ali, mas tem muito também do Soulfly. Sons carregados, uma atmosfera intensa, muitos efeitos e experimentações, Iggor destruindo sua bateria e Max rasgando a voz e dando muito peso aos riffs. Destaque para “Sanctuary”, que foi a escolhida para o single, e “Heart of Darkness” e “Must Kill”, duas últimas faixas do CD. Coloque no volume máximo e prepare-se pra quebrar tudo. Não ouça pensando em Sepultura; assim, a diversão é garantida. Ricardo Finocchiaro

NADA SURF Lucky

O Nada Surf não perde a graça mesmo quando boa parte da crítica insiste em menosprezá-los. O hit “popular” teve o papel paradoxal de manter a banda sob os holofotes e queimá-la com o excesso de luz. Doze anos mais tarde e salva da nódoa de one-hit wonder (depois de dezenas de músicas que, embora não tenham emplacado no mainstream, deliciaram ouvidos mais alternativos e/ou sedentos por belas melodias), os nova-iorquinos oferecem mais um excelente álbum. Lucky agrega a concisão de The Weight is a Gift (2005) à beleza de Let go (2002). “The Fox” e “See these Bones” são canções longas adornadas com uma perfeição melódica cada vez mais rara no cenário de bandas alternativas norte-americanas. Dica: ouça “Ice on the Wing” e “I like what you say”. É possível emocionar com simplicidade. Gustavo Corrêa

HOT CHIP

Made In The Dark

Parece impossível que Hot Chip tenha encontrado tempo para gravar um novo álbum. Pois eles conseguiram. Em estúdios aqui e ali, em meio à correria do sucesso de 2006, gravaram Made in the Dark (DFA/ EMI, 2008), uma mistureba salpicada de disco, paqueras de soul e um quê a mais de rock do que o álbum anterior. O disco começa bem com “Out at the pictures” e segue contagiante com “Shake a Fist” e suas requebradas funkeiras. Outra forte candidata a hit é o single “Ready for the Floor”. O que surpreende são as baladas, ou o excesso delas. Sim, eles também sabem fazer baladas gostosas—mas nem sempre convencem. Made in the Dark perde um pouco do brilho por tentar apostar demais no meloso, nas faixas finais. Carol De Marchi 37 noize.com.br


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cds :::

reviews

The Bedlam In Goliath

Nos álbums anteriores, o rock progressivo de The Mars Volta lembrou bandas como Led Zeppelin, RHCP, At the Drive-In, King Crimson, Pink Floyd, e até mesmo introduziu elementos de música latina (de alguma maneira eles fizeram funcionar). Já em The Bedlam In Goliath, o som da banda lembra… The Mars Volta. Mesmo que em alguns momentos isso ocasione uma repetição excessiva de recursos musicais que eles já utilizaram anteriormente (embora nunca tão bem como aqui), The Mars Volta parece ter atingido uma maturidade autoral própria. O álbum é excelente. Destaque para as faixas “Ilyena” e “Agadez”. Frederico Cabral

Bluefinger

É o melhor álbum solo de Black Francis. O ex-vocalista do Pixies abandonou o nome artístico Frank Black e retomou o pseudônimo dos velhos tempos. Ainda que o álbum seja mais “Frank” do que “Pixies”, a música ganhou com isso. Bluefinger é seu 14º lançamento desde 1993 e certamente está entre os melhores. “Captain Pasty” flui com uma palhetada rápida e evolui para um refrão direto e melódico, daqueles que você pode cantarolar sem se sentir envergonhado. “Threshold Apprehension” integraria qualquer coletânea das melhores canções de 2007. Francis ainda é um compositor para nunca deixar de ouvir. Gustavo Corrêa

DiscografiaBásica Iron Maiden

O álbum lançado em 1980 foi o primeiro long play do grupo inglês, que já se apresentava em bares e pubs ingleses desde 1977. Trazendo nove faixas poderosas, logo alcançou a quarta colocação no top britânico. Músicas como “Running Free”, “Phantom of the Opera” e a homônima “Iron Maiden” soavam furiosas, com um pouco da rebeldia e punch punk, riffs e refrães marcantes, além de vocais rasgados que tocavam a juventude inglesa da época. O grupo tinha em sua formação Steve Harris no baixo, Paul Di’Anno nos vocais, Clive Burr na bateria, Dave Murray e Dennis Stratton nas guitarras. Já trazia na capa Eddie, que seria em seguida—e sem querer—adotado como mascote da banda e que figuraria na capa de todos os outros álbuns. Foi o registro que jogou o Iron Maiden aos holofotes do show business europeu, dando oportunidade de se apresentar com bandas como Kiss e Ozzy Osbourne.

TERMINAL GUADALUPE

BLACK FRANCIS

THE MARS VOLTA

A Marcha dos Invisíveis

Os curitibanos da Terminal Guadalupe optaram por permitir que seu último álbum seja baixado gratuitamente no Trama Virtual, e quem o fizer com certeza não se arrependerá. A Marcha dos Invisíveis é um pop de garagem maduro e muito bem arranjado. São 10 canções que se destacam pelas letras e pelas melodias, aliando o rock brasileiro dos anos 80 a riffs de bandas gringas atuais. Impossível não lembrar de Strokes ao ouvir as primeiras palhetadas de “Pernambuco chorou”. Outra dica é ouvir “Terminal Guadalupe”, música que abre o álbum. Gustavo Corrêa

por Ricardo Finocchiaro

IRON MAIDEN

The Number Of The Beast

Se o primeiro álbum abriu as portas européias à Donzela de Ferro, e o seu segundo álbum—Killers—proporcionou à banda sua primeira tour mundial, foi com The Number of the Beast que eles foram definitivamente incluídos na história da música. Lançado em 1982, já chegou encabeçando o topo das paradas britânicas. Com músicas que figuram até hoje no repertório da banda, como “Run to the Hills”, “Hallowed be thy Name”, e a que leva o nome do disco, “The Number of the Beast”. a banda foi—e até hoje é—taxada como satânica, devido à utilização de passagens bíblicas na faixa-título. Este álbum representa o grande boom do grupo, com a entrada do vocalista Bruce Dickinson em substituição a Paul Di’Anno. Bruce é considerado por muitos como um dos maiores vocalistas da história do rock pesado mundial. Brave New World

Álbum que marcou o retorno do vocalista Bruce Dickinson, após sua troca por Blaze Bayley em 1993, apresenta a banda com uma formação inusitada dentro dos padrões tradicionais do rock: três guitarristas. Junto com Dickinson, também voltou Adrian Smith, que havia saído da banda no início da gravação do álbum No Prayer for the Dying, sendo substituído por Genick Gers. Lançado em 2000, mostra composições, melodias e letras maravilhosas. Destaque para “Ghost of the Navigator”, “Blood Brothers” e o homônimo “Brave New World”. O ápice da turnê desse disco foi o seu encerramento, se apresentando para 150 mil pessoas na terceira edição do Rock in Rio. A formação deste álbum se mantém até hoje com Bruce nos vocais, Harris no baixo, Nicko McBrain na bateria e Murray, Smith e Gers nas guitarras.


Rock In Rio 1985

É importante mencionar que Os Paralamas do Sucesso – Rock in Rio 1985 é, pelo menos, historicamente relevante. Traz como prato principal o show da banda na primeira edição do Rock in Rio, em 16 de janeiro de 1985. Integram o repertório da apresentação canções como “Ska”, “Meu erro”, “Óculos” e “Vital e sua moto”, além dos covers de Legião Urbana (“Química”) e Ultraje a Rigor (“Inútil”). Houve uma preocupação com as imagens, que receberam tratamento especial. A banda se apresenta com sua formação clássica, com Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Impulsionados pelo show no Rock in Rio, tornaram-se um dos principais nomes do pop rock nacional. Ricardo Jagard

OASIS

Lord Don’t Slow Me Down

Lord don’t slow me down foi gravado pelo Oasis durante a turnê Don’t believe the truth, realizada nos anos de 2005 e 2006. Ele é composto por dois discos. Um deles contém um documentário sobre a tour, oferecendo também uma versão com comentários dos integrantes. Há ainda uma sessão de perguntas e respostas entre os fãs e Noel Gallagher. O segundo disco é um dos shows realizados pelo Oasis na turnê. A apresentação escolhida foi a realizada no Manchester Stadium, em 2 de julho de 2005. O documentário foi dirigido por Baillie Walsh, que já trabalhou em vídeos de Kylie Minogue e Massive Attack, mas tem nesse trabalho um de seus momentos de maior visibilidade—e ele aproveita bem, pois Lord don’t slow me down é, antes de tudo, um material bem construído. Mostra uma banda mais focada e menos conflituosa (ao menos em frente às câmeras). Registra momentos que antecedem e sucedem shows e entrevistas coletivas e individuais, entre outros episódios proporcionados por um grupo em turnê mundial. Gustavo Corrêa

RAMONES

It’s Alive: 1974 - 1996

It’s Alive 1974 – 1996 é a coleção definitiva de gravações ao vivo dos Ramones. O DVD duplo traz 118 músicas de 33 performances em oito países. A maioria dos registros são provenientes de shows, embora haja alguns em programas de TV. Há também entrevistas, galerias de fotos, vídeos raros e outros bônus apurados na extensa trajetória da banda de punk rock mais importante da história. Em 15 de setembro de 1974, os ainda jovens Joey, Dee Dee, Johnny e Tommy faziam uma de suas primeiras apresentações no CBGB, em Nova York, que viria a ser a casa da banda por algum tempo. Esse é o registro mais antigo do DVD. Nele, os Ramones tocam “Now I Wanna Sniff Some Glue”, “I Don’t Wanna Go Down to the Basement” e “Judy is a Punk” em um período em que a platéia era formada basicamente por amigos e mais alguns perdidos. O “one, two, three, four” de Dee Dee, cuja utilidade era evitar que os limitados instrumentistas da banda se perdessem, mais tarde se tornaria um símbolo do punk rock. Mesmo assim, na segunda apresentação mais antiga registrada, no ano de 1976, os Ramones são obrigados a recomeçar “I Wanna Be Your Boyfriend”. São os primeiros anos de uma das bandas mais importantes do mundo registrados em preto e branco. O áudio não é lá essas coisas, mas o valor histórico é inegável. Em 31 de dezembro de 1977, a banda se apresenta em Londres para um público muito mais significativo. Os espectadores estão enlouquecidos e não conseguem parar de pular. Nesse show foi gravado It’s Alive, um dos álbuns ao vivo mais importantes da história do rock. O ano agora é 1982, e a banda se apresenta em San Bernardino, na Califórnia. Esta é uma fase de conflitos internos entre os integrantes. Impossível percebê-los na vibrante apresentação. Dee Dee deixou o grupo em 1989. O desempenho de C.J, seu substituto, pode ser conferido em um show de 1992, na Itália. O último registro proporcionado pelo segundo disco do DVD duplo é no River Plate Stadium, na Argentina. Depois dele, a banda faria sua despedida em Los Angeles, e assim terminava a carreira dos Ramones. Uma história, porém, que nunca será esquecida. Gustavo Corrêa

::: dvds

PARALAMAS DO SUCESSO

BRODERAGE Aqui ou em Qualquer Lugar

A Broderage faz um CD de altos e baixos. A banda demonstra potencial quando cria boas melodias vocais e apresenta instrumentistas competentes, com ótimos riffs e linhas de baixo. O tropeço de Aqui ou em qualquer lugar é eventualmente perder a originalidade, uma vez que algumas músicas parecem demais com as de bandas que a influenciam (Charlie Brown Jr., principalmente). De qualquer forma, a Broderage apresenta em faixas como “Não importa mais” e “Quase me importei” credenciais para chegar a um bom nível no mainstream brasileiro. O desafio agora é construir um álbum mais autônomo.

ROBÔ GIGANTE As Novas Aventuras do Robô Gigante

O EP de estréia da Robô Gigante pega carona com a onda de bandas que misturam samba e rock. Letras descontraídas, boas melodias e muito suingue fazem desse um promissor registro de estréia.As faixas são bem-humoradas e é impossível não se imaginar em um bar ao ouvi-las. É música para curtir à beira-mar bebendo uma caipa ou uma ceva gelada. Ouça “Sem ter medo”, “Hoje eu resolvi beber” e “Seis da manhã” no myspace.com/robogigante e, mesmo na manhã de uma segunda-feira, sinta-se praticamente em uma mesa de bar.

39 noize.com.br


Divulgação

SWEENEY TODD:

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O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET

cinema :::

reviews

de Tim Burton (2007)

JUNO

de Jason Reitman (2007)

outro é o filme de Tim Burton, com sua habitual estética expressionista e humor negro. Na mistura dos dois, o resultado é um filme visualmente impressionante, com ótimas atuações (em especial as de Depp e Bonham-Carter), pequenas surpresas (Sacha Baron Cohen, o eterno Borat, interpretando o afetado rival italiano de Sweeney Todd) e um clímax intenso e sangrento que remete a outro filme de Burton, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça. Mas tudo isso engessado na cantoria incessante que, além de atrasar o ritmo e o fluir da história, tem o problema de quase todas as músicas parecerem iguais. Samir Machado

AIR GUITAR NATION

Divulgação

O longa independente Juno, dirigido pelo canadense Jason Reitman, simboliza o frescor, a ousadia e despretensão do cinema de baixo orçamento. Acerta na dose de humor e carga dramática e vem superfaturando nas bilheterias, bem como recebendo indicações—só para o Oscar foram quatro. Também, pudera: Reitman uniu o talento de Ellen Page (Juno) ao roteiro bem articulado da sensação indie do momento, Diablo Cody— tudo isso somado a uma trilha sonora que agrega os elementos e conduz magistralmente a história da garota adolescente que engravida de forma prematura e vê-se diante do dilema de enfrentar a situação. Pois a música que presta charme a essa sinopse mundana reflete o universo da protagonista, garota articulada de um gosto musical invejável. É o chamado anti-folk, a contestação idealista do punk baseado na música folk americana dos anos 60 que dita o caráter da sonoridade de Juno. Destaque entre os artistas, Kimya Dawson assina várias das faixas, com o clima melodioso e angelical da sua voz agregado a um violão arrastado. Ao seu lado, formando uma mescla de estilos, espaço para a bossa de Tom Jobim em “One Note Samba”; a recriação de “Superstar” dos soft-rockers do Carpenters, por Sonic Youth; Belle & Sebastian com duas lindas canções; além de Buddy Holly e sua “Dearest”, soando imbatível como um eterno clássico dos anos 50 e a interpretação de Ellen Page e Michael Cera para “Anyone Else But You”, também presente na versão original do Moldy Peaches. Marcela Gonçalves

Lenda urbana tão popular na Inglaterra vitoriana quanto Jack, o Estripador, o barbeiro assassino Sweeney Todd mata seus clientes em sua barbearia, enquanto sua amiga (ou amante) Sra. Lovett cozinha deliciosas tortas com os cadáveres. Motivado por vingança contra o juiz que o condenou injustamente, aprisionou sua filha e deixou sua esposa cair em desgraça, Todd (interpretado furiosamente por Johnny Depp, indicado ao Oscar) alimenta seu desejo de vingança, enquanto a Sra. Lovett (Helena BonhamCarter) alimenta o sonho de um colorido “felizes para sempre” entre ela e o barbeiro. Adaptado para a Broadway nos anos 70 por Stephen Sondheim, é o material perfeito para um diretor como Tim Burton, que consegue como poucos equilibrar um senso de humor cruel com horror legítimo.
Há dois filmes distintos em Sweeney Todd – O barbeiro demoníaco da Rua Fleet: um é o musical do qual foi adaptado, e que segue as convenções do gênero—músicas quase ininterruptas e personagens que falam cantando. O

de Alexandra Lipsitz (2006)

O documentário acompanha, em 2004, o primeiro Campeonato Americano de Air Guitar e o Campeonato Mundial, na Finlândia. Tocar air guitar significa fingir tocar guitarra sem o instrumento em si, através apenas dos movimentos dos braços no ar. As regras dos campeonatos são semelhantes às da Patinação Artística, com a pontuação variando entre 4.0 e 6.0, e os jurados utilizam critérios como técnica e presença de palco. Seguimos dois “músicos”, participantes das competições: David “C Diddy” Jung (cujo figurino inclui uma mochila da Hello Kitty em seu peito) e Dan “Björn Türoque (lê-se Born to Rock)” Crane. Assistindo ao filme, aos poucos passamos a deixar de lado a estranheza do espetáculo, e a

admirar o talento empregado nas performances dos guitarristas. Como diz um dos organizadores do evento, ao começo do filme: “É como aquelas piadas, que depois que você conta umas cem vezes, você esquece que é uma piada e passa a acreditar”. Frederico Cabral


Foto Games: Reprodução

CÉSAR OVALLE cesarovalle.com

GORILLAZ

César Ovalle é o autor das imagens utilizadas na capa desta edição da NOIZE. O fotógrafo é conhecido nacionalmente e já clicou para o site do Los Hermanos e para encartes de bandas como o Sugar Kane. Ele também colabora para revistas e outros veículos impressos. Além de fotos de bandas em shows e estúdios, o site do fotógrafo inclui imagens separadas nas seções “Cotidiano”, “Abstratas”, “Books” e “Outros”. Ele também oferece um blog no qual escreve sobre fotos publicadas e aquelas que usuários pedem explicações. Nos segmentos das bandas e shows, Ovalle disponibiliza para observação fotos tiradas em shows nacionais e internacionais. Destaque para artistas estrangeiros como o Bad Religion e nacionais como o Dead Fish. Como o autor diz em seu perfil, “o olhar sempre foi—e ainda é—a minha principal ‘arma’”. Basta ver as fotos para comprovar.

O site da banda virtual Gorillaz, que recentemente lançou D-Sides, álbum que traz raridades, lados B e faixas-bônus do predecessor Demon Days (2005), como não poderia deixar de ser, se diferencia pela interatividade proposta àqueles que o acessam. O menu está diluído em um desenho pelo qual você pode trafegar e escolher os atalhos desejados. Na cena inicial há o ícone para a loja da banda, para um jogo chamado “Digathon” e para o “Kong Studios”. Neste último, você passa para outra cena, na qual há mais recursos a serem explorados. É possível ouvir as músicas do último CD, jogar, participar de fóruns de discussão, desenhar a própria abóbora, entre outras idéias criativas. Navegar pelo site, na verdade, é estar em um universo extremamente interativo e lúdico. Mesmo que você não goste da banda, vale pela diversão.

gorillaz.com

Games TWISTED METAL HEAD ON EXTRA TWISTED EDITION

Assumindo o posto de principal lançamento de PS2 no ano de 2008 até aqui, Twisted Metal: Head On – Extra Twisted Edition foi lançado para acalmar os ânimos dos fãs da série, sedentos por uma seqüência desde 2001. Em geral, ele segue os passos de seu antecessor, o Twisted Metal: Head On, lançado para o PSP (Playstation Portable) em março de 2005. Trata-se de um grande combate entre carros armados com mísseis e bombas, que travam suas batalhas em localidades ao redor do mundo. Cada carro possui armas especiais, e a maioria dos personagens já são velhos conhecidos dos fãs. Mas o jogo peca na parte gráfica, o que, por um lado, compensa na agilidade com que carrega as fases. Apesar disso, o game ainda mantém a diversão e a jogabilidade já conhecidas anteriormente como pontos fortes e marcantes dessa nova versão. Eduardo Dias

internet ::: games

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musicas do mes

>> Comunidade Nin-Jitsu Sem Vacilar O deputado Mano Changes e sua tchurma dão as caras novamente. >> No Use For a Name The Biggest Lie Primeiro single de The Feel Good Record of the Year, novo álbum do No Use previsto para abril. >> Supergrass Bad Blood Novo single que será lançado em 17 de março, mas que já pode ser ouvido na rede.
 
 >> Gallows Just Because You Sleep Next

to me Doesn’t Mean You’re Safe Novo single dos hardcorers galeses. 41 noize.com.br


reviews shows :::

FESTIVAL PSICODÁLIA

Recanto da Natureza, de 02 a 05 de fevereiro

Natália Utz

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O cartaz de divulgação anuncia a proposta do Movimento Psicodália: “Por um mundo mais rock’n’roll”. Com o intuito de fazer folia sem Ivete e “só alegria”, milhares de pessoas se dirigiram para a chácara Recanto da Natureza, em São Martinho (SC), rumo à terceira edição do Festival Psicodália de Carnaval. De fora, podem parecer apenas quatro dias com 23 shows de rock e psicodelia no meio do mato, “ripongagem”, um mundo à parte. Não é só isso. É um evento criado para mostrar bandas independentes a um público que quer músicas boas de seu tempo e que cresce a cada edição. A parte do à parte que completa o todo. Ô, glória! A intenção parecia ser mesmo a de se construir uma espécie de mundo paralelo. A proposta se tornava real a cada instante, através de pequenos detalhes, dos 2.447 psicodálicos num pasto de 65 hectares e dos shows performáticos de cada dia. Tem coisas que só se vê no Psicodália. Uma placa onde se lê “placa” ou “favor não alimentar o tatu”. PF não era prato feito, e sim feliz. Nem reais, centavos ou cartões corporativos para pagar as despesas—lá eram dálias e psicocentes. Um homem com bóia de pato na cintura, vestido com uma lycra vermelha, nariz de palhaço (a esta altura dispensável) e um guarda-chuva de cabeça. Tudo para descer num toboágua improvisado de lona e sabão. Antes desta infra-estrutura, outros já desciam o morro escorregando na palha. Difícil ter estado lá e não ter dado gargalhadas, soltado gritos homéricos e presenciado cenas cômicas a todo instante. Ir da piscina de água natural para a cachoeira, da ressaca para uma oficina ou palestra que trariam novos conhecimentos. Os shows eram verdadeiras amostras de talento e criatividade. Vinte e três bandas afinadas com a proposta de rock’n’roll, psicodelia e “só alegria” durante todo o Carnaval. Caso o alienista visse o show da Casa de Orates (SC), eles seriam internados pelas fantasias, pirofagias e poesias na certa. Na linha mais psicodélica também Tântalus Cantantes e Gato Preto (PR). Electric Trip (blueszera do RS), Variantes (SC) e Fantomáticos (RS) na direção mais rock. Mas o favorito, o Psicodália em pessoa—a banda de um homem só e agregados, o mais “velho” e o que mais fez shows, o Plá—é o que teve a apresentação mais popular e aclamada. Suas performances eram responsáveis pela alegria local. Foi durante uma delas que surgiu a idéia de prolongar os quatro dias de mundo paralelo. Por que não “comprar o sítio, fazer uma morada, assim a gente compartilha”? Não é só isso Ano passado, a organização levou ao festival o mutante Sérgio Dias. Agora, fizeram a Casa das Máquinas, banda de rock progressivo dos anos 70, renascer. Desta vez, foram 747 psicodá-

licos a mais que em 2007. O Movimento Psicodália surgiu em 2001, de forma independente e continua assim até hoje. Sem um centavo de patrocinadores, ele funciona à base de cheques pré-datados. Segundo Manuela Santana, uma das organizadoras do festival, é tudo calculado “na tampa, sem lucros ou prejuízos significativos. Não nos preocupamos em enriquecer, só queremos ver a magia do festival acontecer”. Fato comprovado no preço acessível, desde o ingresso até os comes e bebes. Esse já é o 11º evento promovido pelo grupo. A prioridade do festival é a divulgação da música independente. No último dia, ocorreu uma reunião das bandas para tratar sobre interesses afins. Enquanto um perdido (Wagner?) ficava a par da morte de Beto Carreiro, ocorrida dias atrás, discutia-se o intercâmbio de bandas. Um grupo local tenta ajudar o que vem de fora no contato com os bares, por exemplo. Junior, da Casa de Orates, falou sobre o projeto da banda que conseguiu fundos da Lei de Incentivo. A grana serviu para lançar CD, DVD e fazer turnê por Santa Catarina. Para Klauss Pereira, um dos organizadores, “perde o sentido morrer a coisa depois do festival”. Desde o primeiro Psicodália os shows são inteiramente gravados e o material é disponibilizado gratuitamente para os grupos. O Movimento já lançou três coletâneas. Elas estavam à venda no bazar Psicodália, junto ao trabalho das bandas. Aproveitar os shows para vender. Aproveitar o festival para comprar. Simplesmente oportuno, e mais que isso. Tudo acertado com os alemães, donos da chácara. O Psicodália de Carnaval 2009 será no Recanto da Natureza. O mundo das pequenas-coisas-que-fazem-toda-diferença estará de volta com mais pessoas-que-protagonizam-cenas-hilárias-com-totaldesprendimento. Que as latas de cerveja e bitucas caiam mais dentro do cesto do que no chão (porque tava porca a coisa), que a Julieta se recupere, que novas bandas compareçam e que seja tão divertido quanto. Piegas, de coração, “por um mundo mais rock’n’roll”. Natália Utz


Marta Reichel

::: shows

Kento Kojima

GRITO DO ROCK Manara, 01 e 02 de fevereiro

PLANETA ATLÂNTIDA

Sede Campestre da SABA, 15 e 16 de fevereiro

O Planeta Atlântida é um evento previsível. A começar pelas bandas, que são praticamente as mesmas e revezam-se ano a ano. Algumas saem de cena por merecimento, já que não dá para viver sempre do passado. Outras, efêmeras ou não, vão aos poucos sendo acrescentadas às figuras de carteirinha e completam a escalação planetária. Outro fenômeno corriqueiro é a chuva. Sempre chove no Planeta Atlântida. Se pelo menos na sexta-feira São Pedro decidiu ficar na dele, acabou compensando no sábado. A mesma água, as mesmas bandas e os mesmos repertórios—mas será que alguém se importa? Provavelmente não. Ninguém vai até ali para ouvir as músicas novas dos artistas. O que a maioria quer são as canções conhecidas e os hits presentes nas rádios. Skank e Ivete Sangalo, por exemplo, responsáveis por dois dos shows mais animados do Planeta, tocaram hits e podem ser considerados destaques em seus respectivos dias. Os mineiros foram prejudicados por um dos únicos problemas de som no palco principal, mas Samuel Rosa teve a presença de espírito para contornar o embaraço e cantar a cappella “Acima do Sol”. Já a baiana proporcionou no sábado um momento em que a quantidade de pessoas pulando dava a impressão de que o chão cederia.Vi muito roqueiro de preto mais agitado que galinha segurada pelo rabo. A honra de abrir o Planeta coube a duas novatas. NX Zero e Fresno representam a nova geração e, ainda que para um público em formação, fizeram shows empolgadíssimos. A Natiruts, que andava meio sumida, teve uma apresentação razoável. O Rappa também não chegou a surpreender, apesar da participação de BNegão e o choro do vocalista Falcão no final. Outro bom momento da sexta-feira foi o cover de “Rebel Rebel”, de David Bowie, nas vozes de Pitty e Beto Bruno (Cachorro Grande). O Nenhum de Nós—completando 20 anos—voltou ao Planeta e fez uma bonita homenagem ao rock daqui. Subiram ao palco figuras como Rafael Malenotti, Duda Calvin e Mano Changes. A segunda noite reservou mais um punhado de shows recorrentes no Planeta. CPM 22 e Charlie Brown Jr. estiveram lá. O primeiro apostou em canções conhecidas, enquanto o segundo mesclou antigas a outras de seu mais recente trabalho, Ritmo, Ritual e Responsa. Jorge Ben Jor ofereceu uma apresentação contida e empolgou bem menos do que poderia. O Capital Inicial repetiu o repertório de sempre. Os destaques da segunda noite estiveram no palco Kzuka, onde as bandas alternativas porto-alegrenses foram responsáveis por ótimos shows. Mancadas da organização e mesmices à parte, o Planeta conseguiu divertir a maioria do público. Duvido que a organização quisesse mais. Gustavo Corrêa

Sexta-feira de verão. Numa Avenida Goethe pouco movimentada, os ânimos eram inabaláveis. Com o festival confirmado, bem divulgado, e os custos pagos, só faltava o público comparecer. A galera começou a chegar, acanhada, porém animada. Em meio aos imprevistos típicos de premiéres (o caos nas estradas causaria alguns atrasos e um cancelamento) o rock teve início. Abrindo o Grito Rock Porto Alegre 2008, a trupe de Cléber Coração Voador atraiu o povo com muito folk rock gaudério. Lautmusik seguiu em inglês com ares pós-punk. As bandas de fora do Estado chegaram da estrada pro palco: Reverberia com um rock cru, garageiro. Vilania com pegada veloz e presença impecável. Peso e psicodelismo se cruzaram nas performances de Suco Eléctrico e Andina, e Os Flutuantes finalizaram com rock n’ roll até que cortassem o som. No sábado, os comentários positivos e a aglomeração na frente do Manara eram animadores. Taxi Free fez um baita show, já com mais público que na sexta. Seguiu a visceral Cabala, o rock melancólico curitibano da Xmáquina (que esfriou o público um pouco). Em seguida os competentes, animadores e ecléticos shows dos Subtropicais e da Pedrada Afú, e pra encerrar a primeira edição do Grito Rock, a Tapete Persa, com direito a uma versão sessentista de “Polícia”, dos Titãs. Uma noite de encerramento que chegou aos 200 pagantes e provou com profissionalismo que é possível, sim, integrar Porto Alegre à rede dos festivais independentes. Que nos próximos carnavais os apreciadores do rock troquem o litoral de outrora pelo rock do presente e do futuro! Leonardo Brawl Márquez 43 noize.com.br


A DONZELA É DE FERRO

Saudações, amigos headbangers!!! É o fim das férias dos que trabalham, dos que estudam e, claro, de nós aqui na revista, afinal ninguém é de ferro. Opa, perdão: a Donzela é! Qual Donzela? A mais poderosa de todas, IRON MAIDEN! Na boa, pense rápido e me diga qual banda de heavy metal que sempre fez um som original, que nunca fugiu às suas raízes e que, mesmo não tocando nas rádios, mesmo não aparecendo na televisão, consegue provocar um alvoroço tão grande quanto eles em Porto Alegre? Ingressos esgotados mais de três meses antes do show. Isso é histórico aqui na província; nenhum outro show proporcionou isso, nenhum! Podemos então dizer que é o maior evento de rock

acontecido na capital? Sim! Um evento que praticamente não precisou de divulgação, apenas algumas notas nos jornais, sites anunciando e o boca a boca já fizeram com que 12 mil ingressos desaparecessem da noite para o dia. Fenômeno! Estaremos lá e vamos dizer aqui, com detalhes, o que rolou. Além deste megaespetáculo, os bangers locais podem ir se preparando para o Metal Battle 2008, que vai rolar dia 11 de abril no Manara Bar. O evento aponta uma banda gaúcha para a finalíssima em São Paulo, e a vencedora vai com tudo pago se apresentar no Wacken Open Air Metal Battle na Alemanha. E era isso. Horns up!!!

REIVENTAR-SE PARA REINVENTAR

Mais um ano começa, e a grande questão é: o que eu fiz para mudar o meu mundo? Se partirmos do princípio de que cada um de nós faz parte de uma sociedade em que os nossos atos são significativos em um todo, começar pelo “mundinho particular” já ajuda muito. 
 Acredito que o objetivo no hiphop em 2008 deva partir disso: passa o bem adiante! O bem feito, bem organizado, bem realizado, bem criativo, bem profissional, bem expressado para ser bem entendido. Tudo isso em busca de um bem: o bem comum! Porque se um ganha, todos ganham—e não me refiro a cifras…
 Um amigo escreveu uma letra ruim? Ajuda, mostra o que pode

NOMES DE PESO

Oi! Primeira NOIZE de 2008! Começamos as reflexões, os desejos e o pensamento sobre o que vai acontecer no decorrer deste ano. Alguns shows internacionais estão quase certos em Porto Alegre, tais como Steel Pulse e Gladiators. Lugares para se tocar reggae estão cada vez mais escassos, e o público está se distanciando aos poucos por não ter muitas novidades. Vejo uma luz no fim do túnel quando percebo projetos como a Rádio Reggae (www.radioreggae. com.br), que vem crescendo a cada dia e mostrando música do Brasil todo, tocando “pedras” e fazendo a galera conhecer, aos poucos, a imensidão de artistas espalhados nos quatro cantos do mundo. A internet, é claro, tam-

bém é a saída para o reggae. Acho que cabe falar também daqueles que são grandes mas pouco conhecidos pelo público em geral. Na maioria das vezes, quando falamos em reggae, vem à cabeça o rei Bob Marley, de quem não podemos tirar o mérito de ser o “nome” do ritmo. Quero apresentar, a quem tem interesse de conhecer um pouco mais sobre o roots reggae, nomes como Max Romeo, Hugh Mundell, Lacksley Castell, Barrington Levy, Dennis Brown, Dom Carlos, Twinkle Brothers, Linval Thompson, Burning Spear e Michael Prophet. Paro por aqui, tendo vários outros nomes para citar, mas já dá pra se divertir procurando sons e informações sobre esta galera de peso.

ser melhor. Teu som não toca na rádio? Pergunta o que falta e te aprimora, não culpes o “sistema” ou a própria rádio. Não consegues gravadora? Busca a independência ou informação com quem já é independente.
 Buscar o bem para nós mesmos e ajudar a quem não consegue é o primeiro passo para um novo ano com a vitória deste segmento que já tem muitas barreiras externas para vencer; quem faz parte dele não precisa criar outras mais. 
 Então desejo a todos que fazem parte do hip-hop, sem exceções, um novo ano com muitos talentos reconhecidos! Que cada um de nós consiga reinventar-se para reinventar o hip-hop. 
 Muito obrigada!

ARRABALERO

Fui assistir ao Arrabalero em novembro de 2005, na temporada de estréia do espetáculo, lá no Museu do Trabalho. Mais que uma apresentação musical, a concepção do show englobava o ambiente e a cena, das almofadas que acomodavam o público na arquibancada à movimentação dos músicos no palco. Mas não que isso fosse usado para obscurecer má qualidade musical; pelo contrário. É o que prova o lançamento do Arrabalero em disco. A experiência reduzida unicamente à audição não perde a riqueza. Arranjos e repertório explicitam o diálogo musical entre o Brasil e seus vizinhos de língua espanhola. Com instrumentação adaptada à formação de voz (Dudu Sperb), violão (Toneco da

Costa), contrabaixo (Clóvis Boca Freire), gaita ponto (Renato Muller) e percussão (Giovani Berti e Fernando do Ó), músicas consagradas e outras pouco conhecidas ganham cara nova e, muitas vezes, inusitada. O samba-canção “Castigo”, de Lupicínio, vira tango, e “Vuelvo al Sur”, de Piazzolla, tem versão aboleirada. Produzido por Arthur de Faria, o CD revela que, antes da cenografia, a essência do Arrabalero está no roteiro das músicas, que rastreia confluências entre tangos, sambas, valsas, boleros e marchinhas, conduzindo o ouvinte em uma perspectiva musical marcada por curiosa mescla de diversidades e proximidades.


RÁDIO FLUMINENSE

A Rádio Fluminense FM, vulgo “Maldita”, foi inaugurada em 1972, em Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Na primeira década, transmitiu corridas de cavalo e tinha profissionais vindos da Fluminense Difusora AM. Em seus primeiros três anos de ousadia (seguidos de outros quatro não tão geniais—mas ainda assim fartos de cultura alternativa), a rádio niteroiense, que marcou seu sinal nos 94,9 MHz, fez sua fama e glória sem ter dinheiro para fazer publicidade nem para criar a rede sonhada por seu idealizador, Luiz Antônio Mello, e por milhares de alternativos. Ainda assim, todo rock brasileiro dos anos 80 (e início dos anos 90) deve sua trajetória à Flumi-

nense FM, que além de divulgar as novas bandas, informava sobre o que havia de novo e de antigo no rock nacional e internacional, sem medo de fugir das paradas de sucesso—mesmo aquelas “roqueiras”—e sem qualquer constrangimento de colocar na programação normal grupos que estão longe de serem lançados no mercado brasileiro. Agradecimentos a Marcos Iser de Brito (Grande Irmão Carioca)

SANTA CATARINA SANTA TERRA

Não parece, mas ao pegar a BR-101 rumo a Santa Catarina, você estará indo para Ibiza, no continente europeu. Sim. Floripa é a nossa Ibiza. Itajaí é o complemento. Enfim, a partir da dúvida entre curtir o mito Sasha ou o atual “mocinho do trance” (eleito melhor DJ do mundo) Tiesto, você comprova a diferença entre Santa e qualquer outro estado na época de Carnaval. Sempre tem algo acontecendo. 
 Vale ressaltar o Café De La Musique durante a tarde à beira-mar, Kiwi durante todo o dia com vários nomes da e-music tocando ou os badaladíssimos Warung e El Divino (que veio atender aos amantes da e-music que ficam por Floripa).
 Por estes lugares, passaram os

DJs David Guetha (incrível— certamente estará entre os cinco do mundo em 2008), Deep Dish, Sasha, Tiesto, Eddie Thoneick (o nome da house music em 2008), Sultan (produtor underground do progressive, homenageia Itajaí com a música Itajaí Vibes, lançada mundialmente no dia 9 de fevereiro), Gui Boratto, Dave Seaman, Loco Dice (rei do underground em Ibiza), Smokin Jo, Bushwacka, Audiofly, Phonique, Roger Sanchez, Desyn Masiello, Nick Warren e o aclamado projeto nacional Life is a Loop.
 Nada contra o Rio e o Carnaval (até porque é genuinamente brazuca) ou contra os trios elétricos da Bahia, mas eu prefiro a minha praia. A minha música eletrônica.

WELCOME

Energia renovada, esgotada. Muita paciência, nenhuma.
 Férias, trabalho, retorno, o novo, o mesmo.
 Aulas, cursos, risos, carros, gozos, café, egos, gastos, dívidas, amargo, doce, investimento, cigarro.
 Toda semana é igual, todo dia é igual ao outro. Que dia da semana é hoje?
 Indo e levando, cegamente remando. Pára, arruma, tudo de novo.
Chegamos, olhamos e consertamos. E agora?
 O ano é realmente novo? Ou o mesmo de antes reinventado, enfeitado por novos desafios?
 Nos preparamos para o frio, primavera… as estações continuam direcionando, natureza.
 Em junho vai ser diferente? Pode

ser. Com clareza desempenhamos a difícil tarefa de acertar, assim sim.
 Quando começa o calor, encerramos e comemoramos; assim começa o mesmo novo ano.
 O que tá feito, tá feito. Energia renovada, tanque cheio.
 O que foi errado, usamos como um mapa, uma guia, uma promessa.
 Grades, festas, shopping, discos, amores, roupas, pé e mão, paixões, cabelo, vizinhos.
 Família, novos amigos, perdão, alegres encontros. 
 Quem sabe tirar a barba, querer ser o Bial.
Desejo que o melhor aconteça, com bons olhos, com certeza.
 E que a renovação aconteça. Chat de deltoro e dedé.

FOALS

Oi, sou o João Augusto, novo colunista da NOIZE, e prometo que essa foi a frase mais óbvia da coluna. Pra quase todo mundo, eu sou tipo o Foals, um desconhecido - até agora. What the fuck is Foals? A maior aposta desse começo de ano. O mínimo que tens a fazer é escutar os caras pra ver se todo esse hype tem motivo (e reconhecer aquela BAITA música que toca no Beco). Com 5 singles lançados, sai em março o álbum intitulado Antidotes, já encontrado na internet. Há quem diga que nesse álbum está a música do ano (adoro isso, e o ano mal começou). Como sou simpático, falo pra ir atrás de 3 músicas deles: “Ballons”, “Red Socks Pugie” e “Hummer”, que ficou fora do CD porque, segun-

do o vocalista Yannis Philippakis, “hoje em dia não tem porque ter a mesma música em um álbum se ela já foi lançada antes”. Concordo com ele. Yannis ficou em 45º lugar na cool list feita pela NME no ano passado sem sequer ter lançado um álbum. Ser cool é tão importante quanto a música, no caso do Foals e de 2/3 das bandas indie. Um exemplo disso é o clipe de “Ballons”, onde aparecem vestidos como modelos de propaganda da Levi’s (figurino aprovado). Dá ao Foals 20 minutos da tua atenção, mesmo que seja pra falar depois “isso é coisa de indie fresco”. O myspace dos “tão” falados é: myspace.com/foals. De nada pelo seu tempo.

45 x noize.com.br



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Ilustra Felipe Hansen flickr.com/felipehansen

jammin’ 48




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