Revista Noize #40 - Dezembro de 2010

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“Se fosse pra fazer algo que a pessoa ouvisse e não achasse nada de estranho, eu não faria.” Carlo Pianta

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[+4] Participaram da compilação cinco bandas, como a Little Quail & The Mad Birds, de Brasília, que mais tarde se tornaria a Autoramas.

bobagens que nós nos mijávamos de rir, e às vezes, disso saía uma frase que geraria letra”, conta Frank, que possui visão deveras lúdica sobre o início. Ex-De Falla, Carlo Pianta se une à parceria de Frank e irmãos Birck. “A forma como o Pianta tocava era incrível, única”, garante Frank. “O Marcelo tinha formação com pé forte na música acadêmica do século 20. Quando convidado, eu vinha trabalhando com solos e abordagens que ele também estava ligado”, esclarece Pianta, que pode ser comparado a uma cruza do dodecafonismo do compositor Arrigo Barnabé e da atonalidade de Robert Fripp (líder do King Crimson, com quem estuda até hoje). Ou, como define Alexandre Birck, em linguajar próprio, “ele cacareja a guitarra, com toda a força de sua alma galinácea”. Poucos shows, entre 1986 e 1990, marcam a primeira fase da Graforréia, em que é gravada a fita demo +3, antes de interromperem as atividades. A fitinha, editada pela Vórtex, foi das mais vendidas do selo, junto de Cascavelletes. “Nessa época, tocamos apenas em Porto Alegre, digo tranquilamente que não tinha pretensão de estourar com a Graforréia, pois já estava inserido profissionalmente em outra banda”, explica Frank. “Estourar? E quem ia fazer isso pela gente? Não tínhamos produtor, nada”, exclama Pianta. A volta acontece dois anos depois, quando Pianta e Alexandre se instalam no litoral gaúcho e por lá passeava também Frank Jorge. Entre uma garrafa e outra de cachaça, decidem o retorno e realizam show na mesma noite. “Depois, o Frank vomitou por toda a praia!”, recordam. Marcelo Birck não demonstra interesse em continuar. Seguem em power trio, com apresentações esporádicas. “Foi inusitado e gerou os primeiros shows da Graforréia fora do RS, em Chapecó e Curitiba”, lembra Frank. “Foram importantes na história da banda, pois até então não havia noção nítida do alcance, já que era um período pré-internet total, e vimos que tínhamos muito público, começou a acontecer coisa bacana no

decorrer”, continua. “Tavam rolando cenas bem a ver entre si, no perfil alternativo, independente.” O vai-e-vem da demo entre fãs atrai olhares de plagas distantes. Morando em São Paulo e labutando com membros dos Titãs no recém-criado selo Banguela Records, filiado à major Warner, o jornalista e produtor Miranda recebe com empolgação a notícia da reunião xilarmônica e passa a antiga fitinha do grupo para todos ouvirem. Junto de Raimundos e Mundo Livre S.A., a Graforréia entra para o cast inicial da gravadora – um marco dos anos noventa. Antes, ainda no selo Eldorado, gravam a coletânea A vez do Brasil, com bandas de outras regiões+4. “Curioso que fomos uma das primeiras bandas do Brasil a ter CD”, diz Frank. “A coletânea foi gravada em São Paulo, a gente circulou por lá, gravamos na MTV, conhecemos bandas e começamos a ter uma realidade mais profissional, o que foi ponte para o convite de Miranda.” O lance era misturar música regional com rock e, numa visão cartográfica, a Graforréia acabou representando o sul. “O Miranda foi quem alavancou isso.” O tiro certeiro Em 150 horas, seguindo o padrão proposto pela Banguela Records, pariu-se Coisa de Louco II. “O objetivo era fazer uma coisa ‘profí’, mas sem viajar na maionese”, observam. Foram gravadas as bases e, em seguida, os overdubs. “O repertório tava bem afiado, ficou muita coisa de fora”, diz Frank. “Isso era o que caracterizava a Graforréia, a facilidade de compor material, rapidez em estúdio, mesmo com poucos discos lançados.” Da produção de Miranda, destacam: “Ele escolheu o estúdio, organizou tudo, já que se relacionava há tempos conosco. No grupo, cada um tinha sua visão. E ele era um cara que todos curtiam, o disco ficou afinadinho, com um sonzão.” Miranda havia representado papel importante na década anterior, quando criou a Urubu Rei e incentivou a cena local. “Ele costurou contatos e expandiu a coisa, emprestando discos, lembro


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