Revista Noize #63 Outubro | Novembro | Dezembro 2013

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• REVISTA NOIZE

• NOIZE COMUNICAÇÃO

Publisher Noize Comunicação

Direção Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

Direção de Criação Rafael Rocha Editor Tomás Bello Colunistas Dani Arrais Gaía Passarelli Lalai e Ola Persson Renata Simões Tony Aiex Design Guilherme Borges Diretor Comercial Pablo Rocha Publicidade São Paulo Letramídia publicidade@letramidia.com.br (11) 3062.5405 (11) 3853.0606 • NOIZE ONLINE www.noize.com.br Editor Paulo Finatto Jr. Redatora Paula Moizes Junte-se a nós no Facebook facebook.com/revistanoize • MAKE SOME NOIZE @ RÁDIO IPANEMA FM Quinta-feira, às 23h, em ipanema.com.br ou sintonize no 94.9 do seu rádio (POA) Apresentação Marília Feix

Gerente de Projetos Leandro Pinheiro Editora-Chefe Lidy Araújo Planejamento Bruno Nerva Martim Fogaça Administrativo Pedro Pares Produção Patrícia Garcia Jurídico Zago e Martins Advogados • NOIZE FUZZ Coordenação Andréia Sabino Frances Danckwardt Patrick Souza Planejamento Débora Quirino Dionísio Urbim Jerônimo Azambuja Juliano Mosena Lucas Kafruni Yago Roese Redação Ariel Fagundes Elisa Rabelo Ingrid Flores Isadora Gasparin Leonardo Baldessarelli Leonardo Serafini Matheus Piovesan Renata Krás Audiovisual Vicente Lang

• COLABORADORES 1. Ariel Martini_ Ainda insiste em fazer fotos de show. 2. Eduardo Magalhães_ Fotógrafo do ihateflash.net/. 3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia. 4. Renata Simões_Renata Simões, 34, é jornalista. Já produziu documentários, apresentou os programas Urbano e Video Show e colabora com revistas e sites. 5. Tony Aiex_ É editor e fundador do TenhoMaisDiscosQueAmigos.com. 6. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. 7. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói. Não morre sem ver um show do Neil Young. flickr.com/fernandohalal 8. Gaía Passarelli_ É jornalista musical e VJ da MTV Brasil, onde apresenta o programa MTV1. mtv.uol.com.br/programas/mtv1/gaia 9. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com/ há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo. 10. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema. Edita o freakiumemeio. wordpress.com. 11. Nícolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 12. Marília Pozzobom_ É jornalista e trabalha com redes sociais. Come xis frango com bacon e tem Lulu Santos no iPod. Faz bico numa plantação de beterraba e ainda procura o seu negão de tirar o chapéu. 13. Leandro Vignoli_ Jornalista, colorado, meio que vive como se estivesse entre as microfonias dos anos 90. 14. Samuel Esteves_ É nóis que tá. samuelesteves.com. 15. Cassiano Rosário_ Piá curitibano, leite quente com orgulho, fotógrafo e artista gráfico. Também DJ nas horas vagas. cassijones.com.

• FOTO DE CAPA_ Fernando Rosário

• CONTRACAPA_ Samuel Esteves

Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados.

• EXPEDIENTE #63// ANO 7 // Out/Nov/dez ‘13_


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REVISTA NOIZE. TUMBLR. COM 10

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_foto: RAFAEL ROCHA

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NOME_ Liniers O QUE FAZ_ Quadrinista UM DISCO_ XO, do Elliott Smith “Todo quadrinista, se você perguntar a ele, vai dizer que é muito consumidor de música. Nosso trabalho é antisocial, é solitário e é em silêncio. Se não tivermos música, a coisa se torna muito deprimente. Em linhas gerais, somos todos melômanos. Como fã de música que sou, quando comecei a criar histórias me dei conta que se colocasse músicos nelas eles me convidariam para assistir aos seus shows de graça. E assim comecei a inserir músicos em meus quadrinhos (risos).”


“Não é mais a música que importa, mas sim quem faz a música.” Herbie Hancock


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“O Elton John é nosso fã. O que é uma frase maluca de se dizer.” Patrick Stump, vocalista do Fall Out Boy

“Escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura.” Elvis Costello

“Como alguém pode odiar a Beyoncé? Ela está mudando o mundo.” Grimes

“Se eu fosse homem, seria o Bowie.” Leona Lewis

“O Phoenix tem o dom – eles têm aquela ‘coisa Beatles’ rolando. É difícil explicar.” R. Kelly

“Eu não serei um astro do rock, serei uma lenda.” Freddie Mercury

“Quanto melhor é a voz de um cantor, mais difícil é acreditar no que ele canta.” David Byrne, ex-líder do Talking Heads

“In Utero é um testemunho da visão artística do Kurt Cobain.” Krist Novoselic, ex-baixista do Nirvana

“Se o orgasmo do rock’n’roll pudesse ser vendido em saquinhos, drogas como a maconha e a heroína não valeriam um centavo.” Ozzy Osbourne


__nowhere music | Música popular

brasileira? House francês? Britpop? Em tempos de sul-coreano no topo das paradas europeias, inglesa fazendo funk carioca e brasileiro, música eletrônica, será que isso tudo ainda faz sentido? Em um mundo virtualmente sem fronteiras, conversamos com gente que acredita que é ok botar swing no rock, fazer rap com pitadas de samba ou música eletrônica com essência de thrash metal. Josh Homme, Emicida, Mixhell e as irmãs Haim. Gente que bebe nos acordes da esquina mas canta o dia a dia de ouvintes a milhas e milhas de qualquer lugar. Gente que acredita que música é música. Que guitarras, baixos e baterias são universais. Não cabem em tags. Em um mundo em que você pode gravar uma canção no porão de sua casa em Jequitinhonha e acordar no dia seguinte com fãs no Japão, talvez a música não pertença mais a esse ou aquele lugar. Ela é de lugar nenhum. Have a good one, Tomás Bello. @eusoutomasbello


Foto: Kevin Dooley


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Cinco perguntas para o TRIO HAIM _ por Paulo Finatto Jr.

Alana, Danielle e Este são irmãs. Cresceram fazendo música ao lado dos pais em uma banda de classic rock chamada Rockinhaim. Hoje, aos 20 e poucos anos, elas atendem por Haim. São a grande aposta da temporada, como já prevíamos na NOIZE #60. Days Are Gone, o álbum de estreia das sisters, está na prateleira mais próxima de você. Qual foi o momento em que vocês decidiram abandonar os pais e montar a própria banda? Tudo realmente começou quando a gente resolveu tentar escrever música juntas. Certo dia, nós escrevemos uma música, em cerca de uma hora, e não era uma música muito boa. Mas era uma música. Depois disso, decidimos continuar tentando. E nos divertimos tanto fazendo que formamos o Haim.

nossas roupas (risos).

Três irmãs juntas em um estúdio gravando um disco. Como é? Muito divertido! Durante a gravação de Days Are Gone, nós tivemos liberdade para experimentar com diversos instrumentos e sons, e era tudo o que a gente queria. Nossa vontade era fazer tudo no nosso tempo, gravar um disco que a gente amasse e pudesse se orgulhar. É o resumo de toda a nossa vida, basicamente.

Days Are Gone está sendo lançado também em vinil. Vocês são fãs dos bolachões? Não há nada como o som do vinil. Nós todas adoramos o formato. Em casa, temos uma coleção de discos que era dos nossos pais, de quando eles eram mais novos, e eu espero que ela continue crescendo. A gente adora ir à lojas e comprar discos, só é um tanto difícil levar todos eles com a gente na estrada.

Qual a melhor e a pior parte de trabalhar e viajar em família? A melhor parte é que a gente pode compartilhar nossas roupas. A pior parte também é o fato de a gente ter que dividir

Shows pelos maiores festivais do mundo, álbum nas prateleiras... Qual o próximo sonho? Tudo o que a gente quer é fazer o maior número de shows e tocar para o maior número de pessoas possível.



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_Por Gaía Passarelli //019

The Wytches thewytches.bandcamp.com Quem é: Kristian Bell (vocal, guitarra, órgão), Mark Breed (guitarra), Dan Rumsey (baixo) e Gianni Honey (bateria). Ingleses. A banda começou no fim de 2011 em Peterborough e atualmente vive em Brighton. Se descrevem como: “Nosso som é dark e tem humor nos riffs. Está em desenvolvimento. Eu chamaria de doom surf: tem pegada surf rock meio depressiva,” definiu o vocalista Kristian em entrevista à Beat Magazine. Eles também usam “grunge” e “trash” e, às vezes, fazem covers do Marilyn Manson nos shows – totalmente adequado. Comece com: A ótima “Beehive Queen”, cujo vocal lembra Jack White num momento de total entrega e histeria. A faixa foi gravada no estúdio Toe Rag pelo produtor Liam Watson – mesma combinação que deu ao mundo o álbum Elephant, dos White Stripes. Pra ouvir quando: Para relaxar após a cerimônia pagã do solstício de inverno. Ou no carro, dirigindo por uma estrada vicinal numa noite sem lua. Bêbado.

Qual o look: Camiseta preta pra usar por baixo de jaqueta jeans suja. Dizem por aí: O Guardian já disse que “o vocalista Kristian Bell tortura suas pobres cordas vocais soando como o Alex Turner tendo uma viagem errada de ácido”. O álbum de estreia: A banda diz que tem um primeiro disco pronto “e até material para um segundo”, só que ainda quer melhorar as canções tocando-as ao vivo. Já existem dois EPs: um com as faixas “Digsaw” e “House of Mirros” no bandcamp e outro com “Beehive Queen” e “Crying Clown”, lançado por um selo apropriadamente chamado Hate Hate Hate. Feito pra quem: Gosta de Nirvana, The Horrors, Pixies e Bauhaus. Não necessariamente nessa ordem. Toca onde? Só nesse ano abriram shows de uma tour do METZ e tocaram no Leeds/Reading Festival.


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_Por Gaía Passarelli //021

Nylo soundcloud.com/hatenylo Quem é: Ex-designer gráfica e atual cantora de RnB pop/suave, 23 anos, criada em Chicago. Mas poderia vir de qualquer lugar: sua interpretação moderna e sensível do pop atual cabe tanto em Londres e Tóquio quanto em Los Angeles, cidade onde vive. Se descreve como: No Twitter ela diz que “faz música que soa como a neve”. Seu nome é uma palavra que significa “eu amo mais do que tudo”, que ela aprendeu numa conversa com um estranho. Nylo diz que “música é a mais sincera forma de amor”. Comece com: “Fool me Once”, produzida por Soundz, que já trabalhou com Rihanna e Ciara. Mas há poucas parcerias, já que Nylo é do tipo autoral: escreve, produz e assina a embalagem gráfica de tudo o que faz. Pra ouvir quando: Sentado no computador com fones de ouvido ligados no Souncloud, onde ela lançou o EP Memories Speak, no fim do ano passado. Por lá você também acha Indigo Summer, mais novo lançamento.

Qual o look: Camiseta do Chicago Bulls amarradinha na cintura, batom matte vermelho e cabelão escovado. Dizem por aí: “Seu segundo single corre o risco de parecer o trabalho de alguém com talento musical substancial e um ar para detalhes estéticos, mas sem muito a dizer.” Deu no Pitchfork. O álbum de estreia: Os dois EPs que Nylo lançou de forma independente na internet eram, originalmente, material para um disco. Mas o debut não deve demorar, uma vez que as canções chamaram a atenção da gravadora Epic, que já assinou com a moça. Feito pra quem: Gosta de Aaliyah, James Blake, The Weeknd e Nas – que, aliás, andou elogiando a cantora. Toca onde? Na internet. Sem ter um disco lançado, Nylo tem mais links do que gigs. As revistas de moda se apaixonaram pela jovem de apenas 23 anos, bonita, talentosa e cheia de estilo. Pode ser a próxima Lana Del Rey – porém menos maluca.


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Renata Simões

Marrakech _SAIBA MAIS

Um dia em Marrakech é pouco. A cidade merece bem

mais que 24h. Mas, se é esse o tempo que você dispõe, Jardim então vamos nessa. Majorelle: jardinmajorelle.com Souk: souk-cherifia.com Museu de Marrakech: museedemarrakech.ma

Marrakech é inteira dos mais variados tons de terracota, tijolo, ocre, ferrugem. Em grande parte, é o que explica a quantidade de jardins espalhados pela cidade. O clima é hospitaleiro, mas não se deixe enganar: país islâmico não é lugar para você, mulher, vacilar – a vida fica muito mais fácil se você tem um homem ao lado. Não arrisque andar sozinha, e lembre-se sempre de negociar o valor da corrida antes de entrar no taxi – taxímetro nem existe. Aliás,

negocie sempre. O hábito faz parte da cultura local e eles vivem preparados para quarenta minutos de negociação. Jardim Majorelle Em 1919 o pintor francês Jacques Majorelle foi morar em Marrakech. Criou o jardim em 1924, abrindo ele ao público 23 anos depois. O lugar é forte, tem plantas de todos os continentes e cactos que eu nem imaginava existir. Depois da morte do pintor,Yves Saint Laurent e seu parceiro Pierre Bergé compraram e restauraram o local, que ainda hoje está aos cuidados da fundação Pierre Bérge_Yves Saint Laurent. É aqui que foram espalhadas as cinzas do estilista francês. Souk O Souk são os mercados e ficam na Medina, a cidade antiga localizada dentro dos muros. Aquelas mil barra-


_Por Renata Simões //023

quinhas vendendo roupas, bijuterias, tapetes, temperos, sapatos, lamparinas, objetos, lenços... é coisa para caramba.Tem horas que bate a sensação 25 de março, mas a verdade é que você tem que olhar e olhar, já que só uma investigação apurada faz você perceber qual peça que vale e qual é uma genérica. Aqui vale a máxima: são tantas ruas e tantas vielas e tantas barraquinhas que, se você gostar de algo, leve. Dificilmente você volta ao mesmo lugar para buscar. Suco de laranja Pausa para a melhor coisa que existe em Marrakech: suco de laranja. A praça onde a noite é montado o mercado de comidas e doces tem também diversas barracas de suco. É o melhor suco de laranja do mundo – fresco, barato, na rua. Se você relaxa, ainda passa alguém ao lado com um macaco ou uma cobra ou oferecendo tatuagem de henna. Se fotografar ou se empolgar, tem que pagar.

Hamam Hamam é o banho turco versão local – uma sala com água quente e vapor, um sabão especial, uma bucha de outro mundo e você vai ser esfregado e esfoliado como nunca. Os marroquinos fazem isso nas suas casas ou nos banhos públicos, onde os turistas também podem ir. Depois da esfoliação, nova fase de óleos e produtos incríveis.Tira a pele morta e lava a alma ao mesmo tempo. Palácio do Rei Dentro da Medina também fica o Museu de Marrakech, um dos antigos palácios do rei, e a primeira escola local. O museu é lindo, e, embora as coleções não sejam exibidas como deveriam, o lugar é tão bonito que você se encanta. Mas a joia escondida é a escola: quando entrei no pátio caí em lágrimas pela beleza e pela inspiração que sei lá de onde vem. Especiarias Depois de andar pelos mercados e ruas da Medina, volte a praça central. Ao anoitecer o mercado de comida começa a se montar.Vale provar as especiarias e sentar no café com vista para a praça, ficar acompanhando o louco movimento das pessoas. A noite em Marrakech é quente e a praça fica cheia até a uma da manhã.


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Samuel Esteves


álbum, Muito Mais Que o Amor, na loja – virtual ou não – mais próxima de você

Eu sou aficcionado por instrumentos. Se tivesse dinheiro, teria uma casa só pra decorar com todos os instrumentos possíveis. Costumo pular de instrumento em instrumento pra compor. É curioso, mas quando tinha 15 anos eu achava que já não conseguia mais compor usando só um violão, então comprei um capo-traste e um novo mundo se abriu. Seguiu-se assim com o piano, o trompete, o acordeon, o bandolim. Como eu sempre viajo, algumas coisas ficam no escritório da Brain Productions, que produz o Vanguart. Quando não estou em turnê, trago tudo pra casa e procuro deixar muito perto de mim, pra aquela coisa de estar passando, ver o instrumento, pegar e tocar um pouco. Eu diria que essa é uma casa de discos e livros. E alguma biritinha. Recebo amigos pra fazer um som com certa frequência –­ jam quase nunca, porque vira uma coisa meio bagunça. Mas tenho gravações muito bonitas de gente que eu admiro aqui em casa, como o Diogo Soares (Los Porongas), Jair Naves, Tatá Aeroplano, Thiago Pethit, Cida Moreira... Amigos que vieram e saímos fazendo algum som. Algumas dessa coisas que já saíram em disco são “Forasteiro” e “Devil In Me”, com o Pethit. Ele trouxe as canções e pediu ajuda – acho muito mágico essa coisa de dupla de compositores, quando um fica no piano e outro no violão, ou apenas cantando. A maioria das canções do novo álbum do Vanguart fiz assim com o Reginaldo. Agora, o momento que obrigatoriamente pede um som é a faxina, né? Lavar a louça, varrer a casa... A música faz o tempo passar mais rápido. Vou analisando, cantando junto. O vinil é bom porque você precisa ir mudar de lado, trocar o disco, então aproveitamos pra dar uma respirada (risos).

Divulgação

_Helio Flanders, vocalista do Vanguart, grupo de Cuiabá que tem seu terceiro

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Cassiano Rosário

Um vídeo de sua banda para a Internet Com o videoclipe de “Oração” A Banda Mais Bonita da Cidade arrebatou o YouTube, ultrapassando a casa dos 10 milhões de views. Dois anos mais tarde, embalado pelo lançamento de seu segundo e mais novo disco, o conceitual O Mais Feliz da Vida, o tecladista Vinicius Nisi diz como conquistar corações internéticos através das câmeras.

1. Escolha uma música boa. Não a que ache mais comercial, mas aquela preferida de 9 entre 10 amigos que gostam da sua banda. O público vai ignorar um trabalho plastificado,“feito para funcionar”. 2. Elabore um roteiro para o vídeo. Se preocupe em relacionar ao máximo com a música, com a letra, com os climas que ela sugere. 3. Monte sua equipe: convide amigos que trabalhem com vídeo para participar. No entanto, dependendo de quanto você puder desembolsar, você ouvirá alguns “não”. 4. Chega o momento da gravação: arrumem os detalhes. Não permita que seja muito cansativo.

Não ignore o câmera se ele reclamar da luz. Principalmente, não se esqueça de passar a mensagem que deveria ser passada. 5. Edite seu vídeo. Se nunca tiver feito, aprenda ou peça ajuda. Se preocupe com a música trabalhar junto com o clipe, não ser só trilha sonora. 6. Reúna a equipe e faça uma janta. Aproveite para combinar como e quando será o lançamento do filho, para todos divulgarem juntos e criarem um buzz ainda maior. 7. Coloque sua obra-prima na rede. Se não tiver muita repercussão, não se preocupe: vocês sabem que foi um trabalho honesto. Essa pérola ficará para a posteridade.



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1.

Família

2.

Korg MS20

“É nossa primeira inspiração.Temos um home-studio e sempre compomos com nossos filhos palpitando ou gongando nossas ideias.”

“Os synths analógicos são sempre uma inspiração para começar uma música nova. Esse é a nossa weapon of choice.”

3.

Meats

“Nosso esquenta favorito: o hamburguer do Meats, em São Paulo.”

4.

Jeffrey Dahmer Diaries

“Se tiver que escolher um filme, é esse.”

1. Oficialmente casados desde 2009, Iggor e Laima têm quatro filhos: Joanna, Raissa, Iccaro e Antonio. 2. Lançado em 1978, o MS-20 foi um dos primeiros sintetizadores portáteis da Korg a conquistar o mundo. De Daft Punk à Friendly Fires e Depeche Mode, coleciona usuários notáveis. 3. Comandado pelo chef Paulo Yoller, o Meats está entre as hamburguerias gourmet mais badaladas de Sampa. Fica na Rua dos Pinheiros, 320.


A dupla Iggor Cavalera e Laima Leyton, que junto do produtor Max Blum assina como Mixhell, é brasileiríssima – mas está de mudança para Londres para se dedicar mais às muitas gigs pelo Velho Mundo. Pioneiros do crossover entre percussão e batidas eletrônicas, eles acabam de lançar seu primeiro álbum: Spaces.

5.

6.

Despacio

Corrida

“Para dar um refresh nas ideias: uma boa corrida no Parque do Ibirapuera.”

“Amigos fazendo coisas legais é motivação para novos projetos.”

7.

Trânsito

“Em São Paulo, muito tempo parado com boa música.”

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Divulgação

Mixhell

8.

Aperol Spritz e Kalpis Sour

“O nectar dos deuses para a Laima, e a prova de que deus existe para mim.”

4. Dirigido por Chris James Thompson, o filme conta história de Jeffrey Dahmer, norte-americano sentenciado a 957 anos de prisão por ter matado e dilacerado o corpo de 17 pessoas. 6. Stephan e David Dewaelle são do 2ManyDJs/Soulwax, James Murphy era o cara por trás do LCD Soundsystem. Juntos, eles comandam um soundsystem de 50.000 watts, feito exclusivamente pra rodar vinis. Saca só: http://migre.me/fSkRv


_TEXTO Tomás Bello

_Fotos Divulgação 030\\


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Morte, liberdade e borboletas. O líder do Queens of the Stone Age revela os ingredientes que fazem dele o maior ícone atual do rock.

Sentado no escritório da Matador Records no West Village, região borbulhante de Nova York, Josh Homme joga os seus 1,93m para trás e abre um sorriso largo. “Não, cara. Não existe ninguém, não. Você não deve focar nas merdas que não gosta. Por que gastar seu tempo?” Josh está respondendo sobre o uso de sua expressão preferida. Em outros tempos, não deixaria de aproveitar a oportunidade de compartilhar um fuck off com um desafeto qualquer. Nesta tarde de quinta-feira, no entanto, Homme está se sentindo meio hippie. Não é que o cara, que já montou uma banda com um Nirvana e um Led Zeppelin+1, produziu disco do Arctic Monkeys e é popularmente conhecido pelos petardos sonoros do Queens of the Stone Age perdeu a pau durecência de seus riffs. Mas após duas décadas de rock nas costas, uma coleção de 24 álbuns e dois filhos pra criar o coração deu uma leve esmorecida. Aos 40 anos, casado com a também rocker Brody Dalle+2 e pai do casal Camille e Orrin, Josh encara – literalmente – uma nova vida. Acha um tanto piegas esse papo de que a sensação de quase morrer dá as pessoas uma nova forma de se relacionar com o universo ao seu redor (em 2010, ele quase se foi devido a complicações em uma cirurgia no joelho). Não nega, porém, que a partir dali vê o mundo com outros olhos. “Tudo muda quando acontece algo assim. Eu sempre acho que não há tempo suficiente no mundo”, reflete. E se não há tempo, realmente: melhor gastá-lo com assuntos mais interessantes. Música, por exemplo.

Um álbum do QOTSA alcançando o número 1 da Billboard+3? O Queens é a banda que o cara deveria ouvir pra irritar os pais, não pra chegar ao topo das paradas. É a primeira vez que chegamos lá. E é demais! Mas também é tudo muito estranho, acho mesmo que é bastante esquisito. Creio que tem muito a ver com o timing do disco. E com a sorte, de alguma maneira. Mas eu não quero... Quanto mais a gente se preocupar em apenas tocar, manter a cabeça baixa e fazer algo legal, sem se preocupar com coisas como essa, melhor vai ser. O que você quer da música? Ela é, e sempre foi, parte da minha vida. Se algo é excessivamente lindo ou excessivamente doloroso eu me tranco no quarto e toco. E todo o resto tem sido parte dessa esquisita jornada. Então, não tenho expectativa alguma. Eu apenas quero continuar fazendo música. Sei que se eu me trancar num quarto e me comunicar da melhor forma que puder, é o que eu sempre fiz é aqui que isso me trouxe até o momento. Eu sinto que preciso continuar entrando naquele quarto, continuar trancando a porta e seguir mandando ver, saca? Mas você faz música há mais de 20 anos. Ainda rola aquele mesmo sentimento de quando você começou? Eu acho que é um pouco como rodar no topo do espiral. Essa é a razão pela qual as coisas viram e giram e

[+1] Them Crooked Vultures. É esse o supergrupo criado por Josh Homme, Dave Grohl e o ex-baixista do Led John Paul Jones. Eles lançaram álbum em 2009, saíram em turnê mundial no ano seguinte e ainda faturaram o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock. [+2] Ela é a frontwoman do Spinnerette. Mas você deve mesmo lembrar da australiana Brody Dalle como vocalista e guitarrista do The Distillers, grupo bacana de punk rock que deixou os palcos em 2006. http://migre. me/gfhTo [+3] Com capa inspirada no pôster de Dracula – o clássico, de 1931, com Bela Lugosi –, ...Like Clockwork tem Dave Grohl na bateria e participações de Mark Lanegan, Trent Reznor e Sir Elton John. Sexto disco da banda, é o primeiro a bater no ponto mais alto da Billboard 200, a parada pop dos EUA.


mudam com o passar dos anos. Hoje tudo tem um significado tão diferente de anos atrás, o que não quer dizer que é pior ou melhor, mas apenas parte das mudanças que ocorrem com o passar do tempo. Atualmente, eu sinto que música é algo necessário pra mim. Mesmo. É a forma de uma pessoa documentar sua passagem por essa vida maluca. Enquanto que antes... Quando você está fazendo seus primeiros álbuns parece que você está apenas correndo atrás de suas inspirações. Parece mais como uma aula de arte, em que você aprende todas essas ideias novas e fica obcecado em correr atrás delas. Hoje eu sinto que a música é mais como manter um diário.

[+4] Eles costumavam dirigir por horas até pontos isolados no meio do deserto, plugar seus instrumentos a geradores e promover as “generator parties”, festas que viraram lenda urbana entre os roqueiros da região. [+5] “I’ve survived, I speak, I breathe, I’m incomplete”, canta ele na balada “The Vampyre Of Time And Memory”, a terceira faixa de ...Like Clockwork. http://bit. ly/1hRP3GX

Josh Homme deu seu primeiro passo no mundo rocker com o Kyuss. Era 1987, ele tinha apenas 14 anos, e com os amigos de escola John Garcia e Brant Bjork formou o grupo que iria moldar o chamado Stoner Rock – o segundo álbum da banda, Blues for the Red Sun, lançado em junho de 92, é considerado o disco pioneiro do gênero que combina psicodelia com heavy metal e blues, sempre com guitarras afinadas em alguns bons tons abaixo+4. Ah, detalhe: Homme era “apenas” o guitarrista do grupo. Foi arriscar mesmo compor e cantar só mais tarde, quando o Kyuss deu bye bye e ele, não muito a fim de encarar a faculdade, resolveu dar vida ao Queens of the Stone Age. Você depende da música pra viver? Eu vejo a música como um balão. Em cada disco, você enche aquele balão e deixa ele voar. Música é quase

“Se você me perguntar o que o rock ‘n’ roll significa e eu disser ‘liberdade’ vai soar cafona, careta pra caramba, tipo comercial de desodorante.”

como a expressão de medir a extensão do que está subindo. Então o balão pode estar tanto subindo carregado de riffs assassinos ou estar se movendo graciosamente no ar como dançarinas em um strip club? Você tende a tocar da maneira que você vive. Muitas vezes a vida é bruta, há sangue verdadeiro na água, e você não pode simplesmente virar as costas. Em outros momentos você tem essa sensação de que algo é estranho, bizarro, faz os pelos do seu braço ficarem em pé. E ainda há aqueles momentos em que você sente que não pode mais aguentar, que você vai desabar. E você tem que saber tocar tudo isso, saber transformar em música a sua forma de viver. Logo após os seus problemas de saúde você chegou a dizer que teve muita dificuldade em encontrar uma razão para continuar fazendo música. Encontrou? O que eu acho é que descobri que é tudo uma questão do seu estado de espírito. Eu não quero soar como um hippie ou algo assim, mas há um certo momento em que você pode se sentir abençoado por ter a chance de alcançar esse estado de espírito ou você pode se tornar um cara amargo. É uma coisa maravilhosa poder fazer música, e eu sinto que se você tem essa chance você deve perseguí-la com o maior desejo possível.Você deve se deixar levar pela música. Em 2010, Josh baixou em um hospital de Los Angeles para o que seria uma cirurgia de rotina. O objetivo era corrigir um problema no joelho, mas o que acabou acontecendo foi que “eu morri por um certo tempo”, como ele mesmo diz. Homme teve uma inesperada reação a anestesia, teve de ser trazido de volta pelos médicos com um desfibrilador. Foi então sentenciado a passar três meses de cama até recuperar a saúde, e a ter de encarar a aventura de descobrir um motivo para empunhar a guitarra novamente+5. Você já cansou de afirmar que o Queens of the Stone Age sempre foi uma fuga, mas


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...Like Clockwork soa bem próximo da realidade. O que mudou? A música sempre foi parte da minha realidade. Eu apenas acho que, quando você faz alguma coisa durante algum tempo, algo grandioso vai eventualmente acontecer em sua vida. E quando acontece, talvez a reação musical seja tão dramática quanto esse grandioso evento. Mais uma vez eu pareço um hippie falando (risos), mas tudo é uma só jornada. É tudo um grande passeio em uma montanha russa: você passa por alguns loops, por algumas subidas e descidas, e passa também por alguns momentos de calmaria. O que não quer dizer que você perdeu aquela paixão e talento para provocar, pra deixar as pessoas desconfortáveis, tipo dar

um cutucão pra ver o que acontece. Há tantas e tantas provocações justamente porque essa é uma maneira de cutucar um ao outro. Eu acredito que essa é a forma que deveria ser a relação entre uma banda e as pessoas que gostam dessa banda.Todos nós deveríamos estar sempre cutucando uns aos outros, como se perguntassemos, “você ainda está comigo?” É quase como sair juntos em uma road trip, e ter que cutucar o cara do lado pra ter a certeza de que estamos os dois acordados. E o mundo precisa mesmo ser cutucado, não acha? Eu acredito que um bom cutucão é o que você dá quando você está aí pra coisa. É assim que eu julgo. Não importa qual o tipo de relação. No fim do dia, se você


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“Se algo é excessivamente lindo ou excessivamente doloroso eu me tranco no quarto e toco.”


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está entre um grupo de pessoas, sem dúvida alguma é um grupo de pessoas que começou porque um se importava com o outro. E nessa relação você tem que gentilmente cutucar o cara do lado pra manter o interesse vivo, pra um seguir consciente da existência do outro, escutar e prestar atenção. Cada pessoa tem uma medida diferente do que uma relação precisa. Da maneira que eu vivo, da maneira que eu penso, um cutucão leva até o fim. Não só o cara tem em fuck off sua expressão predileta como coleciona bons causos intimamente ligados a ela. Certa vez, Homme achou que o The Dwarves havia difamado o QOTSA em uma de suas músicas. O que ele fez? Foi a um show da banda, em um club fedorento de L.A., e deu uma garrada na cabeça do vocalista Blag Dahlia – o que o fez ter de prestar três anos de serviços comunitários e realizar tratamento em uma clínica de reabilitação durante 60 dias. Já em Oslo, Noruega, Josh mandou um “piralho de merda &@F*#P!^” para um rapaz que arremessou uma garrafa em sua direção durante a música “3’s & 7’s”. E vale lembrar da já lendária entrevista do músico a norte-americana CBC Radio, quando não poupou elogios a Jay Z. E logo após deixar o palco do Made In America Festival, que pertence ao rapper. “Ele tinha seguranças revistando as bandas. Você não deveria revistar meus camaradas, você deveria se foder”, soltou em pleno FM. Josh Homme é o cara mais cool do rock. O que você acha quando as pessoas soltam frases como essa? Vou ser honesto: eu tenho muito medo de prestar atenção nesse tipo de coisa. Eu não estou no Facebook, por exemplo. Revistas de rock são muito legais, escrever sobre música é do caralho, eu só sinto que ler sobre mim mesmo não é uma ideia muito interessante. Se você por acaso fosse ler, a melhor coisa que poderia acontecer é você perceber que todo mundo te odeia. Porque aí, talvez, você iria pensar: “hey, eu tenho algo a provar, e eu vou enlouquecer e vou fazer o melhor disco que eu posso”.Talvez se todo mundo te odiasse até poderia ser uma coisa legal (risos). Mas se as pessoas gostam de você, não vejo como ler qualquer coisa nesse sentido possa ser bom. O semanário britânico NME já cravou Josh Homme como o “Golias do Rock”, a revista Esquire afirma que ele é o cara mais bem relacionado do rock+6. Patrick Carney, baterista do Black Keys, tuitou que Homme é o cara mais legal da música, enquanto Alex Turner, líder do Arctic Monkeys, veio com essa: “se eu pudesse tocar guitarra como o Josh, eu tocaria. Mas eu não sei como ele chega onde ele chega”. Rola até uma

[+6] Ele já colaborou com The Strokes, Primal Scream, Foo Fighters, Trent Reznor, Scissor Sisters, Prodigy e até mesmo Elton John. Já foi personagem de clipe de Jack White e namorou a cantora inglesa PJ Harvey. Que tal?


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página no Facebook chamada Josh Homme Is the Best Ginger Ever (ou, “Josh Homme é o Melhor Ruivo de Todos os Tempos”). O que o rock ‘n’ roll realmente significa pra você? Alguém outro dia me perguntou sobre o Ween+7, quando eles acabaram. Porque eu era amigo dos caras, já saí em turnê com eles, eu realmente amava pra cacete aquela banda. E eu amava os caras porque eles – literalmente – tocavam o que bem entendiam. Não importa o que era, desde que eles quisserem tocar aquilo. E sempre soava como Ween. Eu lembro de ouvir a banda, assistir a eles tocarem, viajar com os caras e pensar, “cara, essa banda é absolutamente a encarnação de ser livre”. E se você me perguntar o que o rock ‘n’ roll significa e eu disser “liberdade” vai soar cafona, careta pra caramba, tipo comercial de desodorante. Mas esse é o meu lado meio amargo de ser, porque a verdade é que poder entrar em um quarto e tocar qualquer merda que estiver dentro de você sem se preocupar com nada, isso é ser livre. E é isso que eu gosto no rock ‘n’ roll. E na música em geral, na verdade. Esqueça o rock ‘n’ roll, isso é música. É a única coisa que não vai estar errada. Você pode me mostrar a pior banda do mundo e eu te apresento 300 pessoas dispostas a morrer por essa banda. Isso é o que me faz gostar de rock ‘n’ roll. Ele tem essa magia, esse mistério, essa coisa maluca dentro dele.

[+7] Cultuado grupo indie criado em 1984 na Pennsylvania, EUA, pelo duo Gene e Dean Ween. Se separaram em 2012, deixando mais de 20 discos e pérolas sonoras como “Voodoo Lady”: http:// migre.me/gfBv4 [+8] Dizem que entre suas preferidas estão uma calibre doze, uma Beretta 9mm e um rifle Winchester 44 – a clássica espingarda do Velho Oeste.

Você usa a palavra “mistério” com muita frequência quando descreve a música que faz. Por que? Eu sempre gostei de romantizar as coisas que a gente não sabe. Acredito que acrescenta uma certa empolgação. Durante anos, toda vez que eu deixo meus filhos para trás, a cada vez que fecho a porta, eu digo: “pouco vocês sabem o que está prestes a acontecer”. Desperta a curiosidade. O rock é uma espécie de língua universal? Essa é a sua maior magia: o rock ‘n’ roll meio que te atin-

ge como um soco no estômago, depois chega no seu coração e na sua cabeça e entra através do seu ouvido e te cutuca nos olhos sem que você precise usar a sua boca.Você é atingido nos sentidos que não agem, mas que apenas aceitam. Acho que não há foco suficiente em coisas que causem esse tipo de reação em seu corpo. Eu ouço e ouço música e ela manda você para o céu. Como quando você beija aquela garota no primeiro encontro e te dá borboletas no estômago. Quer dizer, você pode ouvir uma música que te dá a mesma sensação. E isso é até meio assustador. É meio assustador que uma coisa assim possa acontecer com você. Mas isso é parte da linguagem do rock: se a borboleta é boa, então as palavras não significam quase nada (risos). Yankee and proud, do tipo colecionador de armas+8, um cara que vive e canta o sol e a terra do deserto californiano – não por acaso deu ao seu projeto colaborativo o nome de Desert Sessions –, Josh Homme rompeu os limites territoriais da América do Norte para se tornar sinônimo de bom rock de norte a sul do planeta. Os discos do Queens, por exemplo, já bateram no top 10 de países como Austrália, Bélgica, Itália e Suécia. No Brasil, ele se apresentou em duas ocasiões – nos festivais SWU e Lollapalooza, levando a insanidade mais de 100 mil pessoas. E nós somos tupiniquins, não temos nada em comum com os cactus ou as montanhas rochosas do Coachella Valley, onde cresceu e ainda mora Mr. Homme. Em outras palavras, é o tal soco no estômago, a universalidade do rock (ou da música, vá lá, como prefere Josh). Você tem o objetivo ou sonho de se tornar a banda preferida de alguém? Eu adoraria trabalhar duro o suficiente pra chegar a esse ponto, de me tornar a banda favorita de alguém. Mas a verdade é que eu não espero me tornar a banda favorita de ninguém. Eu só quero tocar o que realmente amo. E acredito que se eu amo, existe uma chance grande de que alguém mais vai amar.


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PS: Josh, o Queens of the Stone Age ĂŠ trilha sonora pra qual momento? Olha, eu acho que se vocĂŞ estiver dirigindo, transando ou bebendo pode ser uma boa trilha sonora.


_TEXTO Marilia Pozzobom


O lugar de origem sempre refletiu na identidade da música. Mas e agora que o mundo ultrapassa barreiras geográficas e humanas, pode um gênero musical pertencer a uma só região?


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Já parou pra pensar que o senso comum sempre deu à música um nome e endereço? A Bossa Nova mora no Rio, o grunge em Seattle e o reggae na Jamaica. O local de origem sempre refletiu na identidade do gênero musical – o que estigmatizou alguns artistas e consagrou vários outros. Cada vez mais, no entanto, o mundo rompe barreiras geográficas e humanas. Além daquele papo do qual você já está cansado – a internet transformou o mundo, as redes sociais mudaram o comportamento humano e comercial –, já parou pra pensar em como a música deixou de pertencer a um local e passou a abraçar o mundo inteiro?

[+1] Tonico & Tinoco foi uma dupla caipira brasileira que gravou mais de 80 discos. [+2] Who, Who, Who, Who, Who? Escrita originalmente por Anslem Douglas para o carnaval de 98 de Trinidad and Tobago, a track ganhou o Grammy de Melhor Gravação Dance em 2001. [+3] Escrita logo após o assassinato de John F. Kennedy, em 1963, a música foi o primeiro grande sucesso da dupla, ficando conhecida como “o lançamento quintessencial do folk rock”. Aqui: goo.gl/3HcY0k [+4] A Rolling Stone norte-americana classificou o disco como “um álbum sobre o isolamento e redenção que transcendeu ‘world music’ para se tornar trilha sonora de todo o mundo”.

Pra gringo ver Lá nos idos anos 1990 o Angra estourou no Japão com um EP chamado Angels Cry. Como se deu o sucesso em outro país? Estratégia, meu bem.“O nosso produtor alemão que formatou pra esse lado [do metal europeu]”, diz Kiko Loureiro, guitarrista da banda.“As nossas ideias não eram exatamente daquele jeito, e só depois que pudemos arriscar mais, quando já tínhamos o disco de ouro no Japão”, afirma. No Brasil, os artistas que têm o primeiro lugar na lista de discos mais vendidos são Tonico & Tinoco+1, com 150 milhões de unidades estimadas. Já o Sepultura, banda fundada pelos irmãos Cavalera e outro nome do metal brasileiro que fez muito sucesso não só no Japão, mas principalmente nos EUA e Europa, está na 15ª posição com 15 milhões. A ironia? Eles estão exatamente entre a Rainha do Bumbum, Gretchen, e a duplinha de irmãos Sandy & Júnior. Na primeira dezena de junho de 2001, Bebel Gilberto reinava no segundo lugar da parada da Billboard de álbuns mais vendidos no mundo.Tanto Tempo, disco de 12 faixas – das quais quatro possuem nome em inglês –, perdia apenas para Who Let The Dogs Out+2, do Baha Men. Já por aqui, o single “So Nice (Summer Samba)” alcançou apenas o número 78 na lista das 100 canções mais executadas nas Rádios FM. Mas é importante lembrar que o artista ter seu trabalho mais ostensivamente reconhecido em outro país não é um

fenômeno que acontece apenas com artistas brasileiros. Andrew Hoepfner, baixista da banda norte-americana Darwin Deez, diz que o sucesso em um país fora do seu revela contrastes incríveis na vida de turnê. “Um exemplo disso foi a experiência de um show que fizemos no meio dos Estados Unidos, em Memphis, no Tennessee, para cerca de 35 pessoas. Aí, duas semanas depois, tocamos em um show sold out para 1.600 em Londres.” Uma questão de identidade Ninguém faz sucesso em países estrangeiros simplesmente baixando a cabeça e acatando o discurso do produtor.“A gente foi aprendendo isso ao longo da carreira. No Japão foi uma surpresa – eles adoram esse estilo, que mistura música erudita, sampler de orquestra, etc. Eles dão muito valor à técnica. E o Angra tinha esses lados – do metal progressivo, agudo –, e era exótico porque era do Brasil”, afirma Kiko. Lovefoxxx, vocalista do CSS, concorda que ser brazuca é um grande diferencial em terras estrangeiras.“É só você dizer que é brasileiro que isso meio que abre portas. Ser brasileiro é ter uma condição artística mais aberta”, opina. O seu país sempre vai ser a sua identidade. Uma banda brasileira sempre será uma banda brasileira – e isso não significa uma coisa ruim.Ticiano Paludo, professor da PUCRS e pesquisador da área, lembra que o lugar de origem de um artista sempre vai definir o som que ele faz.“Existe uma coisa que eu chamo de ‘Influência Propulsora do Meio’. Significa que a sua geografia influencia no som. E sempre que uma banda sai do comum, do que é esperado dessa determinada região, ela vai se destacar. Mas eu lembro sempre: banda ruim não faz sucesso, e quem não gera identificação não funciona”, finaliza. A fórmula “som que você ouve em casa + som que você roubou do vizinho” não é nada nova. Em 1986, Paul Simon saiu de um casulo feito de cabelos de seu companheiro Garfunkel onde ecoava “The Sound of Silence”+3 para entrar na lista dos discos definitivos do rock com Graceland+4. Como?


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“A música é universal. Você vai sempre se identificar com alguma coisa.” Lovefoxxx, vocalista do CSS Simplesmente misturando sua música à do grupo sul-africano Ladysmith Black Mambazo. Mais recentemente, Gogol Bordello, Little Joy,Vampire Weekend,Tune Yards e outros tantos podem ser citados como artistas que carregam uma imensa cartela de sons em sua sacola de referências. Para a banda brasileira Selton, é nessa mistura que a música derruba fronteiras.“Nós nos identificamos muito com esse tipo de banda, que leva dentro de si uma forte bagagem cultural do lugar de onde veio, mas que faz questão de combinar isso com outros gêneros”, afirma o quarteto. Para confirmar o seu credo, a banda se apoia na própria história: sua origem é o Rio Grande do Sul, mas o sucesso de verdade só veio na Itália, com um disco de músicas milanesas dos anos 60 cantadas em português. Deu pra entender agora? Por que esse disco fez sucesso aqui, e não lá? Em 21 de outubro de 1965, os Beatles entravam em estúdio para gravar aquela que seria a sua primeira música não relacionada ao amor ou qualquer forma de romance: “Nowhere Man”. A letra, profunda, refletia um cara de lugar nenhum, um tanto frustrado e sem lá muita confiança no futuro: “Doesn’t have a point of view, knows not where he’s going to” (“não tem um ponto de vista, não sabe pra onde está

indo”, em tradução literal). A canção foi mais tarde usada para o personagem Jeremy Boob, do filme Yellow Submarine. Ao final da história, a grande moral é a de que ninguém pode vir a ser alguém+5. Ou seja, você pode não ser reconhecido no local onde vive, mas isso não quer dizer que não há antenas prontas para captar o seu trabalho em algum lugar not so far away. Se a música de hoje pode, afinal, pertencer a um lugar, a um pedaço de terra? Música não é uma arte exata, não há um Sheldon Cooper resolvendo equações em um quadro negro para responder se você está certo ou errado. Dizer que ela é de algum lugar é sim necessário em termos de categorização e organização. Mas será que generalizar não significa massificar os ouvintes? Não é o sentido da música justamente unificar crenças e referências? Estar em um show é ter a certeza que naquele momento, você e as outras 10 (ou 10 mil) pessoas que estão ali naquele cubículo suado e fedido se sentem compreendidas por pelo menos uma pessoa: aquela que escreveu a canção. E que, veja bem, quase nunca nasceu na mesma cidade que você. “A música é universal.Você vai sempre se identificar com alguma coisa”, lembra Lovefoxxx. Aqui ou na China.

[+5] Uma relação similar com esse trocadilho pode ser encontrada em Alice no País das Maravilhas, livro de Lewis Carrol que já ganhou inúmeras versões para o cinema – a mais recente é do diretor Tim Burton, com Anne Hathaway e Johnny Depp.


NOIZE APRESENTA:

Uma brincadeira de churrasco que vendeu um milhão de cópias e rendeu cerca de R$ 80 milhões para a gravadora. Tá bom assim? Este fenômeno tem nome: Mamonas Assassinas. Uma carreira de 7 meses com apenas um álbum e uma legião de seguidores que até hoje lembram da banda quando cruzam com uma Brasília amarela. Nesta edição da Lost Covers, homenageamos este disco, que embalou a adolescência de muita gente e também ensinou muito palavrão pra criançada.

Lançamento: 23 de junho de 1995 Duração: 37:46 Gravadora: EMI Produção: Rick Bonadio

1 MILHÃO de cópias vendidas no ano do lançamento.

Antes de ser Mamonas Assassinas, a banda se chamava Utopia e fazia covers de Legião, Titãs, Rush... Em um show, o público pediu para o Utopia tocar Guns, a banda não sabia e chamou um espectador pra fazer o vocal. O cara mandou bem, fez uma bagunça no palco e, depois disso, virou o vocalista oficial.

Bonadio cedeu um espaço no seu estúdio pra que Dinho gravasse uma brincadeira pra levar no churrasco. Resultado: “Pelados em Santos”, “Robocop Gay” e um contrato com a gravadora.

“Atenção, Creuzebeck, é o toque de quatro já vai...” Creuzebeck, que tanto aparece no disco, é um apelido para Bonadio. A intenção era chamar o produtor de Breuzequeb (sanfonista amigo da banda), mas saiu Creuzebeck, fazer o quê.


PUBLIEDITORIAL


_TEXTO leandro vignoli

_Fotos SAMUEL ESTEVES noize.com.br


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Crescido no fundão da Zona Norte de São Paulo, o menino Leandro escutava lá seus raps. Mas também a moda de viola do padrasto, o samba e MPB nos discos da mãe, o forró que saía da casa do vizinho e ainda dava rolê com amigos que tocavam Nirvana, Guns N’ Roses e Alice in Chains numa banda. Hoje, o tal menino é o vulgo Emicida, um artista de rap.

Rap de todo lugar e de lugar nenhum “A gente tá falando de rap com texturas que induzem a outros gêneros. Mas é rap, traditional rap.” Emicida refuta com veemência os elogios da crítica que atribui à música dele a palavra mistura. No recém lançado primeiro disco oficial, O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, a referência ao samba está sempre presente, poeticamente e nas melodias. Ainda há um quê de rock, de funk (brasileiro) e chorinho, mas pra ele os reviews dão a ideia de que o álbum se trata de uma coletânea de estilos. E não é. “Não quero fazer um disco com samba, rock, R&B pra mostrar tudo o que posso fazer (pra isso posso participar de discos de outros artistas). Quero contar histórias. E os gêneros que influenciam as canções foram simplesmente texturas”, explica. O hip-hop sempre teve uma enorme gama de ingredientes. Hoje, a perspectiva do rap de Emicida vem através da música brasileira, mas em diversas de suas músicas do passado, disponibilizadas em mixtapes – a mais conhecida é Emicídio, de 2010 –, o som remetia a apenas caixa, bumbo e sampler, o formato mais primitivo de onde começou a história do gênero. “Não dá mais pra achar que rap com rock é novidade. Se fizer isso aí tem

que voltar três casas (risos).” Só pra ficar nos clássicos – Run DMC com Aerosmith e Beastie Boys com a guitarra do Slayer –, são registros de quase 30 anos atrás. Já o primeiro rap com samba que se tem notícia foi gravado em 1988+1. O diferencial, analisa o rapper, é o jeito de trabalhar os samplers – que, atualmente, nem são de fato samplers. Quase 100% do novo trabalho é tocado, nada da melodia em looping tão usual no hip-hop. Emicida é um pouco o retrato musical do Brasil, sempre “nos corre”. Ou, como diz o seu já tradicional slogan: “a rua é nóis”. Essa é uma ideia que ele não confronta, pelo contrário, sente muito de orgulho de bradar. “Minha intenção é mostrar a minha essência musical, um disco de música brasileira, atual e dirigido pelo rap. O rap sendo o piloto e a bagagem da música brasileira na caçamba.” Desde os primeiros trampos, com músicas menos elaboradas e o sampler como padrão, as letras sempre mostraram o oposto do universo do rap – brasileiro ou norte-americano. Se formos fazer um adjetivo à esmo, era realmente como um samba produzido via MPC. “Meu flerte com a música americana sempre foi muito mais nas texturas, de como deveria soar, do que nos formatos que já existem no rap do EUA. Mas o flerte poético é com as células do samba mesmo, Noel

[+1] O primeiro registro da mistura é do grupo paulista Brothers Rap, com a música “Rapagode”.




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“A gente tem um problema seríssimo no país que é o racismo. Ele não torna invisível somente as pessoas pretas: torna invisível a produção cultural de todas as camadas menos abastadas.” Rosa, Wilson Batista, Dicró, Adoniran Barbosa, Pixinguinha, Clara Nunes+2”, ele cita, brincando que precisaria de uma edição especial da revista se continuasse.

[+2] Com fortes conexões com umbanda e tradições afro-brasileiras, “Conto de Areia” é das grandes inspirações de Emicida. [+3] Criada por Nelson Rodrigues, a expressão se referia ao trauma da derrota do Brasil na final da Copa de 1950.

Rap de vira-latas “Depois de rodar por aí, hoje tenho a certeza de que a nossa música é a melhor do mundo.” Validação externa não é algo novo na música. E nem exclusividade tupiniquim. Jimi Hendrix precisou da fama inglesa pra fazer sucesso nos EUA, Elis Regina precisou brilhar no Brasil para que o Rio Grande do Sul a reconhecesse. Aconteceu com os Strokes. Com o Sepultura. Uma pá de gente. “As pessoas, infelizmente, carecem desse carimbo. É o complexo do vira-latas+3, de achar que tudo o que vem de fora é melhor”, argumenta. Rolou também com Emicida, que após participar do Coachella em 2011 parece ter recebido da crítica mais três estrelinhas no livro secreto de “Artistas Vistos Com Bons Olhos”. Uma tecla que Emicida toca com insistência é o racismo. Pra ele, por conta da propaganda e dos investimentos do mercado norte-americano, há uma tendência das

pessoas a acreditar que nos EUA se produz muito mais coisas bacanas, porém sem de fato se informar sobre o que o Brasil oferece. “A gente tem um problema seríssimo no país que é o racismo. Ele não torna invisível somente as pessoas pretas: torna invisível a produção cultural de todas as camadas menos abastadas, e das etnias não-brancas. E aí o que resta é esse pensamento de que a música daqui é inferior ao mercado lá de fora.” É uma ideia estranha, realmente, para um país mestiço e miscigenado por origem – e, como consequência, produtor das mais variadas versões de música pop. “Às vezes, isso de ser um povo simpático e gentil é ridicularizado como se fosse característica de pessoas fracas. Quando não, o que temos é o poder de transformar todos os grupos que a gente participa em pequenas famílias.” Em outras palavras, o vira-latismo sempre vem de cima pra baixo: quanto mais alto na hierarquia de classes maior o complexo de achar que apenas o que vem de fora é o canal. “Na música, no samba, não se tem muito essa barreira de brancos pra cá, os pretos pra lá. A característica mais foda do brasileiro, o genuíno brasileiro, é essa aí mesmo, o do sempre acreditar no ‘vâmo, todo mundo, é nóis’ ”, completa. Suas ideias sobre o assunto vão bem além do hip-hop. Gaby Amarantos é um bom exemplo de artista vista no Brasil como exótica, quando, na opinião de Emicida, deveria ser considerada uma artista pop brasileira, como Katy Perry nos EUA. Outro gênero de música pop do Brasil, o funk, também não é distribuído em grande escala, mas em pequenos nichos. “A música pop do Brasil é a música branca do Sudeste”, acredita ele, citando a frase de um amigo. Não por mera coincidência, uma de suas músicas novas se chama “Hino Vira-Lata”.


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[+4] Apresentador de TV nos EUA, tem um famoso vídeo no YouTube chamado History of Rap, ao lado de Justin Timberlake. [+5] Gentrificação é o processo de “aburguesamento” de áreas tradicionalmente ocupadas pelos pobres, que com o aluguel muito alto são obrigados a procurar outro local. O termo tem relação direta com espaços físicos, mas pode ser inserido na cultura. [+6] Rapper da Califórnia, branco, um dos expoentes do Underground Hip-Hop. Não confundir com o mainstream A$ap Rocky. [+7] Canadense, considerado o rapper do momento. Possui o recorde de mais singles N˚ 1 na parada R&B/Hip-Hop da Billboard. [+8] Considerado gênio e dos maiores nomes das HQs. O chamado “Oscar dos quadrinhos” leva o seu nome, Eisner Award. [+9] A premiada série Daytripper foi lançada em 2011, pela Vertigo, selo da DC Comics e a mais importante editora de HQs do mundo.

Rap e a gentrificação “Dentro da sociedade racista que a gente vive, aqui e nos EUA, é uma coisa que trabalha a passos largos pra nos excluir até de algo que criamos.” No final de agosto deste ano, durante o VMA, a dupla de rappers brancos Macklemore & Lewis venceu a categoria de Melhor Vídeo de Hip-Hop – todos os demais indicados eram negros. Por quase 20 minutos, Justin Timberlake se apresentou no evento e recebeu o Michael Jackson Award, prêmio pelo conjunto da obra, das mãos de Jimmy Fallon+4 (a ironia do nome do troféu é clara). Com isso – e não apenas por isso –, Emicida acredita haver uma gentrificação+5 do rap. “O mercado não tem capacidade de compreender 100% o que é o hip-hop, então ele vai tentar pegar alguns pontos da superfície e inserir dentro da prateleira dele, pra que também possa ganhar dinheiro.” Gêneros como rock, jazz e blues se moldaram como música negra, e hoje conta-se nos dedos os artistas negros representativos em cada um desses estilos. Quando aparece um banda de rock negra, é vista com curiosidade. Nem sempre foi assim. Porque, então, isso não aconteceria com o hip-hop? “Algumas pessoas acham que sou radical nesse sentido, mas as mulheres pretas nos vídeos tem diminuído e desaparecido. É um ponto importantíssimo pra mim porque é aí que começam a incorporar outros valores, não os que defendo.” Não é o caso de segmentar a música de maneira racial. Existem ótimos rappers brancos e péssimos rappers negros, e poderíamos ficar duas páginas fazendo a analogia com outros gêneros. A preocupação dele é quando determinado estilo de repente passa a “expulsar” músicos pela raça, e assim precise buscar um “aluguel” mais barato. “Certa vez, achei foda o Aesop Rock+6 ser questionado se acharia esquisito ligar a TV a daqui dez ou quinze anos e nos vídeos de rap não tivesse nenhum artista preto. E ele disse que seria muito esquisito.” Chuck Berry, Little Richard e Bo Diddley, é provável, também acharam esquisito o que aconteceu com eles e o rock.

Rap de outros lugares e de lugares quaisquer “Talvez meu maior prazer seja quebrar os estereótipos ignorantes que cercam a gente.” Ao longo da conversa, Emicida solta as ideias de forma natural. Quando fala da síndrome de vira-latas ou do hip-hop “enbranquecido” não é uma aversão ao rap yankee. “Kendrick Lamar é um cara que me deu brilho nos olhos, ele trouxe a poesia de novo pro jogo nos EUA. Acho ele foda, dos melhores fora do Brasil. Curto algumas coisa do Drake+6 também, e o J. Cole é um artista sensacional.” E sobre Yeezus, um possível candidato a álbum do ano naquelas tradicionais listas mundo afora? “Primeira vez que ouvi eu odiei, depois achei foda, e agora tô achando do caralho. O Kanye West é um cara meio maluco, né?” Talvez haja até uma certa semelhança, nas devidas proporções (principalmente de mercado), no fato de ambos terem saído de uma zona de conforto no formato do rap tradicional. “Acho que isso oxigena as ideias de novo, mano. E é ótimo um cara como ele chegar e balançar a parada toda. Porque ele tá lá no alto. Então, se ele já nivela a música assim por cima, busca caminhos diferentes, mostra que tudo não precisa funcionar sempre no mesmo padrão. É bem importante essa chacoalhada.” Além de música, Emicida é apaixonado por HQs. Especialmente as de super-heróis. E ainda desenha (pretende lançar uma história em 2014). Algo que não está disassociado, inclusive, em suas letras. “Will Eisner+7 tem uma perspectiva de falar sobre a vida comum que muito me encanta. Gostaria de buscar a sensibilidade que trouxesse aquela beleza pras histórias que conto, a beleza de uma vida simples.” Quando toca em quadrinistas da terrinha, revela que Fábio Moon e Gabriel Bá realizaram um sonho dele de muitos anos, o ver um brasileiro lançando uma revista pela Vertigo+8. E, ao dizer isso, Emicida percebe que voltamos a falar de brasileiros que só ganharam crédito local com o carimbo Made in USA. “O Super Vira-Lata”, tá aí um ótimo nome pra sua futura história em quadrinhos.


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PS: Emicida, em certos momentos não parte dos próprios artistas de rap um certo isolamento, de achar que nada mais interessa além do rap? “Em alguns, sim. Mas, em geral, quem fica voltado pro seu umbigo desse jeito não é gente que produza algo relevante. A característica de um verdadeiro artista – e nem sei se tenho autoridade pra me incluir – é a possibilidade de aprendizado que ele nunca abandona. E isso tá ligado a conhecer lugares, texturas, acordes e formas poéticas diferentes, pra trazer o que for rico daquilo pra sua música.”


_TEXTO Lidy Araujo

_FOTOS Rafa rocha 052\\


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É no Itanhangá, zona oeste do Rio de Janeiro, que boa parte da história da música brasileira está guardada. O nome deste arquivo vivo é Toca do Bandido. Ou, segundo os mais exaltados, o nosso Sound City, o nosso Abbey Road. Foi na Toca que os Raimundos gravaram o furacão Só No Forevis, que Gilberto Gil encarnou Bob Marley e o Skank renasceu com Cosmotron. Foi também aqui, diante dos olhos dos tucanos da vizinha Floresta da Tijuca, que Joss Stone e Red Hot Chili Peppers curtiram tardes de folga durante suas passagens pelo Brasil.

A Toca ainda guarda a Harley Davidson e as lembranças de seu fundador, o produtor Tom Capone, nome fundamental na identidade sonora tupiniquim que em 2004 sofreu um acidente fatal em Los Angeles, na saída de uma festa do Grammy. Prêmios, instrumentos, discos de ouro, livros... Em cada canto pode ser aberta uma página de memórias da Toca. Que, sob os cuidados da viúva de Tom, Constança Scofield, continua a escrever os arranjos que compõem a música brasileira. Como diz Constança, “é um lugar mágico”, que a gente leva você a conhecer.


“A Harley é o cavalo do bandido. Fez viagens internacionais. Fora da Lei era o grupo de motoqueiros formado por Tom e seus comparsas, como o engenheiro de áudio Álvaro Alencar, o assistente de estúdio Tarta e o Wagner Vianna, atual diretor artístico da Warner Music Brasil.” - Constança Scofield, viúva de Tom e administradora da Toca Bandidagem: Chad Smith, baterista do Red Hot Chili Peppers, rodou as ruas do Rio – a caminho de um show – nesta moto. Seu Antonio saiu de Brasília, onde trabalhava com o pai de Tom, direto para a Toca a convite do produtor. Mal poderia imaginar que seria o responsável pela construção de um dos estúdios mais respeitados do Brasil, muito menos que posaria para uma revista de música diante do pub onde O Rappa gravou o clipe de “Reza Vela” ou que participaria da gravação de um disco. Bandidagem: É de Seu Antonio a voz da intro de Só No Forevis, quinto álbum dos Raimundos. O convite surgiu enquanto ele tomava uma cerveja com a banda, durante as gravações do disco.


Prêmios e homenagens que Tom recebeu ficam expostas por toda a casa. No escritório, os quatro Grammy conquistados por álbuns como Falange Canibal, de Lenine, e São João Vivo, de Gilberto Gil. Foi ele o brasileiro com o maior número de indicações em uma só edição do prêmio, no fatídico 2004.


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Nunca Tem Fim, o nono e mais recente disco d’O Rappa, foi produzido nessa sala. Nando Reis andou por aqui há pouco tempo. Joss Stone cantou num cantinho coberto por veludo vermelho, carinhosamente apelidade de “puteiro”. Tudo diante da tela produzida por Speto durante a tour de três anos que ele fez com Falcão e cia. “É uma das mais minhas obras mais bonitas”, admite o artista, que tem ainda outras duas telas expostas na Toca.

Bandidagem: O violão exposto ao lado da tela tem história. “É um violão que usei num show que fiz com o Tom Capone (tocando baixo) e o baterista Mauro Manzoli no Rio, no Hipódromo Up. Durante uma música, o som do violão parou. Continuamos tocando, mas aí eu comecei a bater com ele no chão no ritmo da música e ele foi se quebrando todo. No final, dei de presente para o Tom, e ele colocou na galeria de instrumentos da Toca.” - Wander Wildner


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“Quando o prédio em estilo mexicano construído nos fundos da casa ficou pronto, a coleção de guitarras, baixos e violões do Tom contava com 100 instrumentos. O mezanino do estúdio foi planejado para expor todos eles, cujas fotos individuais também podem ser conferidas no site do estúdio. O Tom comprou boa parte dos instrumentos em viagens, no Brasil e exterior, mas alguns foram presentes, como a Gibson semiacústica do Samuel Rosa. Outros foram adquiridos a partir de rolos que o Tom vivia fazendo com os artistas que deixavam um e levavam outro. Aconteceu com o Canisso (Raimundos), Pedro Luis, Falcão (O Rappa), Davi Moraes e Érika Martins (os adesivos femininos permanecem na Rickenbaker até hoje).” - Constança Scofield Tom Capone, o bandido desta história, imortalizado na parede pelo grafiteiro Marcelo Ment. A ideia partiu de Constança, em 2008, quando ela percebeu que muitas pessoas se encantavam com a Toca mas não conheciam a sua história.


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EM SÃO PAULO, SP

“Em casa, normalmente curto ouvir músicas calmas. Mas pra me arrumar rola uns anos 80 e músicas pra dançar”, revela Carolina Razera. Fã assumida de Kate Moss, Coco Rocha e Björk, ela diz que música é quase obrigação na hora de se vestir. Acredita que a relação música x moda é forte. “Tem muitas bandas que pesam bastante no visual, que inclusive me inspiram.” Carolina é personagem da noite. Hostess no Bar Secreto, também é o nome por trás da festa Sexy People que acontece no Clube Flamingo. “Um deboche de outfit 80/90”, define. Mas já antecipa: tem novidades para além da madrugada. “Tenho um projeto de moda que vai rolar até o final do ano, exclusivamente de moletons.” Com trilha sonora entre o electro, dark wave e low beat, Carolina é quase como São Paulo: urbana, vintage, com truques de styling e muito brechó. “Praticamente não uso marcas porque não ligo mesmo.” _O óculos vintage foi comprado no eBay. ebay.com _A bota é de brechó.“Não uso tênis de forma alguma”, diz ela.“Gosto de botas e sapatos.” _A blusa também é de brechó.“Um brechó da Rua Augusta, que eu curto muito!” _A calça é Alexandre Herchcovitch. loja.herchcovitch.com.br _A mandala foi comprada pela estética.“Gosto muito de acessórios místicos e étnicos, e de pingente de pedras tambem.”

Cassiano Rosário

CAROLINA RAZERA


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DENTRO DA MOCHILA

camiseta COM história

_SOMBRA, rapper paulista que acaba de lançar novo álbum, Fantástico Mundo Popular

_Julio Andrade, vocalista do duo The Baggios

1. Bracelete - “Do Brasil, verde amarelo, sempre usado nos shows”. 2. Um livro - “Neste momento, o Cannabis Medicinal Introdução ao Cultivo Indoor, do escritor Sergio Vidal”. 3. Pen Drive - “Com várias músicas, discos e mixtapes para compartilhar com os músicos locais e amigos”. 4. Preservativos - “Para a segurança nas horas de lazer”. 5. Camiseta branca - “Não pode faltar. Sempre uso nos meus shows”.

“Comprei essa camiseta há três anos durante uma das turnês da The Baggios por São Paulo. É sem dúvida a minha favorita, uso ela em ocasiões especiais. Usei durante boa parte das gravações de Sina (novo disco dos Baggios) e isso foi muito simbólico pra mim, pois o disco tem todas as músicas cantadas em português, o que é novidade para a banda. Raul foi o cara responsável por me encorajar a compor em português, e é uma das minhas maiores influencias até hoje.”


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DIJITAL FIX 218 Bedford Ave,Williamsburg, Nova Iorque música e óculos feitos de madeira reciclável, além de outras preciosidades eco-friendly. E o dono, David Auerbach, curte promover uma exposição de arte de tempos em tempos. Ah, você esvazia o bolso e já fica pelo Verb Café, localizado na entrada do Williamsburg MiniMall, onde certa vez cruzei com o Kyp Malone do TV On The Radio tirando um ronco bem tranquilo. Tomás Bello

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Vitrolas, fones de ouvido, docks pra iPhone e iPad, turntables e até mesmo uma poltrona com alto falantes embutidos for a nap ‘n’ roll. Esse lugar é da lista must visit pra quem é fanático por música e está na Big Apple com alguns trocados pra torrar. É o paraíso dos gadgets bacanudos e hi-tech, o tipo de loja que você cruza a porta e quer levar tudo o que tem dentro. Eles também têm filmes raros para Polaroid, livros de fotografia, arte e

_SAIBA MAIS www.dijitalfix.com


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Bar Secreto

Rua Álvaro Anes, 97, Pinheiros, São Paulo parede inteira. E os filmes são sempre improváveis e mega cool – o último que rolou quando toquei com a Brollies & Apples foi New York Ripper, do Lucio Fulci, mestre do cinema thriller e horror na Itália. Perfeito pro público da noite como o de São Paulo, que está cada vez mais cansado de clubs impessoais e anda justamente buscando uma experiência mais completa, festas com mais cara de casa. Carol Teixeira

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Sempre curti o Bar Secreto, com aquela vibe aconchegante, de clubinho de amigos. Mas com as mudanças que rolaram lá recentemente virou o meu lugar preferido. A ideia do novo Secreto é melhorar a experiência do povo ali no bar, com som melhor, palco melhor para os shows, área maior e um espaço pra fumantes, que é a parte mais legal: enquanto as pessoas fumam e conversam, fica rolando um filme na

_SAIBA MAIS www.barsecreto.com.br


Arctic Monkeys AM Domino Records “Temos aqui coisas que nunca tínhamos feito nos nossos álbuns anteriores – e parece-me que nem nós, nem ninguém”, chegou a dizer Alex Turner em certo momento. Sinceramente, Alex, não há nada assim tããão original em AM. O que não significa que o novo trabalho de sua banda não seja uma agradável surpresa. Dos grupos de rock associados ao boom pós-Strokes, o Arctic Monkeys é o que se mantém mais relevante. Mesmo quando grava álbuns menos inspirados, como Suck It And See (2011) – que, avaliando agora, pode ser o que chamamos de “disco de transição” –, o quarteto britânico não deixa a peteca cair. Em AM, o indie rock de riffs marcantes dos primeiros discos dá lugar a um som mais... pop. Absurdo? Não se levarmos em conta que a quinta bolacha dos macacos é sexy e dançante, tem refrões repletos de backing vocals e gruda já na primeira audição. Em alguns momentos, o álbum soa meio repetitivo, como nos singles “Do I Wanna Know?” e “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, cujas batidas são quase idênticas. No entanto, como ambas são irresistíveis, a gente acaba perdoando. Amigo de Alex Turner, Josh Homme, do Queens of the Stone Age, dá uma mãozinha em “One for the Road” e “Knee Socks” – não por acaso, duas das melhores faixas do disco. Mesmo sem ser tão inovador como Alex prometia, AM mostra uma banda disposta a arriscar. E até nisso o Arctic Monkeys dá um pau na concorrência. Daniel Sanes

Pra quem gosta de: Queens of the Stone Age, The Last Shadow Puppets e The Rascals

“Um disco muito legal, sexy para depois da meia-noite.” Josh Homme, líder do Queens of the Stone Age

LEGENDAS Ouça no talo É, legal

Dá um caldo Seu ouvido não merece


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emicida O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui Laboratório Fantasma Em seu novo registro, Emicida acentua arranjos que colocam o hip hop em situações limítrofes com a MPB – algo iniciado anos atrás com os geniais Sabotage e Rappin Hood. Do lado mais pesado, destacam-se “Nóiz”, “Zoião” e “Levanta e Anda”, faixa que lembra o tortuoso caminho percorrido pelo rapper: “Esses boy conhecem Marx, nóiz conhece a fome”. “Hoje Cedo” tem Pitty e cruza com o rock, estilo que vez por outra cai no vácuo criativo. O hibridismo musical com o samba e o choro se dá em “Sol de Giz de Cera”, de versos quixotescos entoados num dueto com Tulipa Ruiz, em “Trepadeira”, com Wilson das Neves segurando o beat samba-rock, e em “Crisântemo”, de poética com matizes de “Construção”, do Chico. “Ubuntu Fristaili” resume a produção e nela Emicida vaticina: “De pele ou digital, tanto faz, é tambor!”. Nícolas Gambin Pra quem gosta de: Criolo, Rael da Rima e Rashid

Washed Out Paracosm Sub Pop Dia desses, uma tia que vejo pouco andava empolgada com um CD que comprou em uma banca no centro da cidade: Sons da Natureza - Vol. 3. Não a julgo. O estresse destes tempos agitados é, afinal, implacável. Ouvir o novo trabalho do Washed Out é uma experiência que, guardadas as proporções devidas, parece seguir essa vibe de esquecer de tudo e deixar-se levar pela brisa. Mais uma vez, o produtor e homem-banda Ernest Green entrega um trabalho sensorial, ampliando os pilares da estreia Within and Without, de 2011 – o disco já abre, veja bem, ao som de pássaros.

Pra quem gosta de: Toro Y Moi, Nite Jewel e Neon Indian

Da levada reggae de “It All Feels Right” à autoajuda “do bem” contida nos versos da etérea “Don’t Give Up”, o álbum passeia por cenários coloridos e que são um convite ao bucolismo (poucas vezes uma capa de disco foi tão certeira). Inspire, respire. Fernando Halal


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pra ver O Inquilino França, 1976

Direção: Roman Polanski Com Roman Polanski, Isabelle Adjani e Melvyn Douglas

Polonês de origem, sobrevivente do holocausto, Polanski precisou rapidamente sair de sua terra natal por conta da opressão política à invenção nos anos 1960; radicado nos Estados Unidos, precisou fugir do país depois de um escândalo sexual com uma menor de idade nos anos 1970. Hoje, dá pra dizer, é um homem de lugar nenhum. E sua obra, como a de nenhum outro cineasta, acompanha essas andanças: difícil determinar o território de seus filmes, inclusive num sentido estético. Filmado na França, O Inquilino reforça ao menos uma de suas obsessões, o problema com apartamentos, tendo um componente valioso: a contribuição do vizinho para o horror. Em Polanski, o gênero ganha outros matizes e sempre tende à paranóia, com destaque para um das grandes neuroses contemporâneas: a convivência. Leonardo Bomfim

Procurando Sugar Man Reino Unido/Suécia, 2012

Direção: Malik Bendjelloul Com Sixto Díaz Rodríguez, Stephen Segerman e Dennis Coffey O vencedor do Oscar de melhor documentário deste ano é uma maravilhosa ode ao poder da música. O filme ressalta a aura de mistério que cerca o cantor de folk norte-americano Sixto Rodriguez, um cara que, no início dos anos 70, mostrava a habilidade de um Bob Dylan ou Nick Drake na hora de compor. Os EUA ignoraram esse talento e o artista sumiu do mapa – mas a África do Sul descobriu, na década seguinte, a sua breve discografia. Logo, Rodriguez se tornaria mais cultuado que Elvis, influenciando toda uma geração no fervor do apartheid; o detalhe é que absolutamente ninguém conhecia sequer o seu rosto (o boato mais forte é de que ele teria se suicidado). O diretor Malik Bendjelloul cruza o Atlântico para investigar a lenda do roqueiro, entrevistando produtores, radialistas, donos de bares e familiares, até chegar a uma série de revelações de cair o queixo. Assista ontem. Fernando Halal


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pra ler Verdes Vales do Fim do Mundo

Rumo à Estação Islândia

De Antonio Bivar Editora: L&PM

De Fabio Massari Editora: Conrad

216 páginas

232 páginas

DISCOTECA BÁSICA Black Sabbath Por Tony Aiex

Paranoid (1970) O Black Sabbath teve um excelente início com seu disco homônimo, mas foi com Paranoid que a banda começou a mostrar ao mundo seu som característico, de riffs únicos e pérolas que transcendem o tempo, como “War Pigs” e “Iron Man”.

O exílio como festa: jovem e talentoso dramaturgo, Bivar despontava no final dos anos 1960 quando, após o AI5, decidiu sair do Brasil. O destino? Londres. Sua história é um pouco a de vários artistas brasileiros do mesmo período, mas nem todos eternizaram o exílio setentista de forma tão prazerosa como em Verdes Vales do Fim do Mundo, diário de viagens que resume muito da explosão contracultural que a trupe brasileira levou à Europa naqueles anos. Quase todo mundo está aqui – Caetano, Gil, Mautner, Sganzerla, Bressane –, em histórias deliciosas que passeiam pelo lendário show tropicalista na Ilha de Wight e por encontros com skinheads fanáticos pela seleção brasileira campeã do mundo em 1970. Um testemunho valioso sobre como pode ser libertário não estar em casa. Leonardo Bomfim

Pequena, exótica e distante. Olhando desta forma, é difícil imaginar que a Islândia possa ser um centro de efervescência cultural da Europa. Mesmo assim, o arquipélago despertou a curiosidade do jornalista, radialista e ex-VJ da MTV Fabio Massari, que passou por lá no final dos anos 90, gostou do que viu e resolveu voltar.A viagem rendeu este livro de 2001, cujo título é uma referência a Rumo à Estação Finlândia, do escritor Edmund Wilson. O texto descompromissado de Massari – algo entre o beat e o gonzo – torna divertido o que poderia ser uma leitura difícil, já que a obra fala de artistas dos quais pouca gente ouviu falar. Chamam a atenção entrevistas com integrantes do Sugarcubes (banda que revelou Björk) e do então obscuro Sigur Rós, além da revelação de que Damon Albarn tem um bar em Reykjavik. Daniel Sanes

Heaven And Hell (1980) Muita gente nem sabe, mas o Sabbath teve uma longa carreira sem o icônico Ozzy Osbourne. O primeiro disco sem o cara traz Ronnie James Dio nos vocais, e foi um enorme sucesso de público e crítica.

13 (2013) Sim, 13 já é item indispensável na coleção dos fãs. Espécie de “encerramento”, o álbum tem a banda com sua formação (quase) original trazendo elementos que a transformaram no que é sem parecer uma cópia de si mesma.


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Qual a música que mudou minha vida? Quem responde é a porn star Sasha Grey.

“Eu não consigo me lembrar da música, mas definitivamente foi uma do Jimi Hendrix. Quando eu era mais jovem, lembro de ter descoberto o trabalho dele e de realmente ter gostado de tudo aquilo. Foi como se eu tivesse começado, naquele instante, a me relacionar com a música de um jeito diferente, mais próximo. O Hendrix foi uma inspiração para mim.”

__ por Marilia Pozzobom

Bold as Love Axis: Bold as Love é o sucessor de Are You Experienced, o grande álbum de estreia do The Jimi Hendrix Experience. A bolacha traz uma das melhores canções já feitas pela banda: “Bold as Love”. Track que, mais tarde, foi regravada pelo John Mayer Trio, grupo formado por Pino Palladino, Steve Jordan e, obviamente, John Mayer.

Jennifer Love Hewitt Quando não está em turnê, John Mayer tá pegando alguma gostosa. E, como o cara ficou três anos fora dos palcos, você pode imaginar que o seu currículo é grande. Entre seus poucos relacionamentos que passaram de uma noite estão Jéssica Simpson, Katy Perry e Jennifer Love Hewitt. Rolam boatos que a moça, que ficou bem acabada com fim do affair, é a provável inspiração de “Your Body is a Wonderland”, um dos maiores hits de Mayer.


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Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado Lembra do verão de 97? Jennifer era a grande queridinha quando Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado se tornou o filme de terror mais visto da década. Além de Jennifer, outros nomes como Freddie Prinze Jr. e Sarah Michelle Gellar tiveram o sucesso talhado pela película. Já o diretor, Jim Gillespie, não teve a mesma sorte: entre suas mais recentes obras estão D-Tox (2002) e Venom (2005). Já ouviu falar nelas? A gente também não.

Simbionte Alienígena Venom também batiza um dos grandes vilões da Marvel Comics. O “simbionte alienígena” é uma espécie de uniforme novo trazido à Terra pelo Homem-Aranha, que curtia a roupa até perceber que ela tinha vida própria e o transformava em uma pessoa ruim. Entre suas outras vestes, o aracnídeo também possui a “Iron Spider Armor”, construída com a ajuda do Homem de Ferro e a Stark Tech.

Green’s Playhouse Em 1978, o AC/DC gravou o seu primeiro disco ao vivo, If You Want Blood You’ve Got It. Pois a faixa-título é também a sétima track da trilha sonora original de Homem de Ferro 2. A gravação da bolacha aconteceu no Green’s Playhouse, um complexo de entretenimento que ficava em Glasgow, na Escócia. Em 1973 a casa passou a se chamar The Apollo, e seguiu funcionando até o seu fechamento, em 85.

₤25,000 Foi o valor cobrado por Chuck Berry em um dos seus shows na Green’s Playhouse – na época, o guitarrista pediu que o cachê fosse pago em cash. Anos mais tarde, a mesma quantia foi estimada para a venda de uma letra de música escrita à mão por Jimi Hendrix. A canção nunca havia sido lançada, e, de acordo com o vendedor, foi tocada apenas uma vez, em uma jam no apê do cara. O seu nome? “Here Comes The Sun” – e, não, não há ligação alguma com os Beatles nesse caso.


Fosso é aquele lugar que fica de frente ao palco, onde fotógrafos se espremem, cara a cara com o ídolo, em busca de um clique que congele a eternidade.

Foi a partir dali que mergulhamos no Way Out West, um dos principais festivais indie da Escandinávia. Em um parque de Gotemburgo, na Suécia, o que vimos foi Tame Impala e The Knife, Cat Power, James Blake e Public Enemy, mas também comida de qualidade, café expresso bem tirado, bares com cerveja, vinho, sofá e garçom. Ah, e muita gente linda e loira.


Fotos: Ola Persson Texto: Lalai Persson

Assistir ao show do The Knife em casa foi fenomenal, embora performático demais para o nosso gosto. “Silent Shout” fechou o set – catártica, fez valer a noite.


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Os amigos do moço também estavam desolados, mas se renderam a cerveja e ao ótimo clima do festival. Aliás, eles eram simpaticíssimos.

A índia loira roubou a cena. Linda de morrer e super simpática. A gente (e o público) babou um bocado.


mac demarco

O Beach House fez um show lindo e feliz, que fechou com “Myth”, seu grande hit, levando o público à loucura. A banda ficou com a tarefa de encerrar o primeiro dia do palco Linné, onde se apresentaram os artistas de música eletrônica.

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Em sua segunda participação no festival, James Blake ganhou o palco principal em horário nobre. A cada show, melhor ele está. E olha que ele já é bom.


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#OsLeitoresDaNO/ZEsoltamALínguaNoCircoDeHorroresDeMarkZuckerberg. Que artista melhor representa os anos 2000? Bruno Rafael Franco Mesmo sendo oriundos de 1994, é o MUSE.

Boris Monti Henkin Mastodon / Baroness

Jacilene Silva The Strokes [sem dúvida :P)

Marcela Vitória Arctic Monkeys!

Michele Medina Yeah Yeah Yeahs.

NR: Alguém aqui na redação acaba de gritar: “Latino!”

Rock com samba? Indie com axé? Que mistura sonora você adoraria oUvir?

Qual é o artista brasileiro mais internacional de todos os tempos?

Alícia Nelsis Rap com Rock!

Eduardo Schereder Tavares Mutantes, acredito.

Mariana Vallim Gospel com Funk, vale?

Vitor Loures João Gilberto

Rafael Cazzetta reggae & country

Yuri Campos Carmen Miranda

Diogo Sanches Rock com tango

Lucas Barbosa michel teló! hehehe

Fernanda Viuniski Verdi R&B com samba!

Túlio Freitas Guimarães Ed Motta

NR: Alícia, colocamos na sua conta a volta do Limp Bizkit?

NR: Anitta e Naldo nem pensar?




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