Revista Noize #61 Março | Abril | Maio 2013

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Publisher Noize Comunicação

• MAKE SOME NOIZE @ RÁDIO IPANEMA FM – Quintafeira das 23h à 00h em ipanema.com.br ou sintonize no 94.9 do seu rádio (POA)

Direção de Criação Rafael Rocha

Apresentação Marília Feix

Editores Cristiane Lisbôa Tomás Bello

• NOIZE COMUNICAÇÃO

• REVISTA NOIZE

Colunistas Lalai e Ola Renata Simões Dani Arrais Tony Aiex Gaía Passarelli

Direção Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha Gerente de Projetos Leandro Pinheiro

Design Guilherme Borges

Editora-Chefe Lidy Araújo

Fotografia Ana Krás Marcelo Gross Raul Aragão Rafael Rocha Anderson Zaca Roberta Sant’Anna Cláudia Palma

Planejamento Bruno Nerva Martim Fogaça

Diretor Comercial Pablo Rocha Publicidade São Paulo Letramídia publicidade@letramidia.com.br (11) 3062.5405 (11) 3853.0606 • NOIZE ONLINE www.noize.com.br Editor Paulo Finatto Jr. Redator Francieli Souza Junte-se a nós no Facebook facebook.com/revistanoize

Administrativo Pedro Pares Produção Patrícia Garcia Jurídico Zago e Martins Advogados • NOIZE FUZZ Coordenação Henrique Dias Patrick Souza Planejamento Jerônimo Azambuja Tamylin Trevisan Frances Danckwardt Dionísio Urbim Yago Roese Lucas Kafruni Redação Rafaela Bublitz Maurício Amaral Renata Krás Felipe Bergallo Roberta Dobrowoski Isadora Gasparin Carlos Harres Leonardo Serafini

• COLABORADORES 1. Ariel Martini_ Ainda insiste em fazer fotos de show. 2. Rodrigo Esper_ Tem como trabalho ser fotógrafo no I Hate Flash, e como hobby, falar duas vezes antes de pensar, ser a pessoa mais empolgada do mundo e a mais exagerada do universo. www.ihateflash.net/esper 3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia. 4. Renata Simões_Renata Simões, 34, é jornalista. Já produziu documentários, apresentou os programas Urbano e Video Show e colabora com revistas e sites. 5. Fernando Schlaepfer_ Ex-Seagullsfly, ex-Café e ex-Globo. Atual C.E.O. e fotógrafo do I Hate Flash. Além de designer / ilustrador / D.J. / produtor / ciclista / luchador / porrachegadebarra. www.ihateflash.net/schlaepfer 6. Tony Aiex_ É editor e fundador do TenhoMaisDiscosQueAmigos.com. 7. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site nonada.com.br. 8. Raul Aragão_ Tem pinto murcho. www.ihateflash.net/sobre/aragao 9. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói. Não morre sem ver um show do Neil Young. flickr.com/fernandohalal 10. Gaía Passarelli_ É jornalista musical e VJ da MTV Brasil, onde apresenta o programa MTV1. mtv.uol.com.br/programas/mtv1/gaia 11. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com/ há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo. 12. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema. Edita o freakiumemeio. wordpress.com. 13. Roberta Sant’Anna_ Fotógrafa de Porto Alegre. http://www.robertasantanna. com/ 14. Nícolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 15. Claudinha Palma_ É editora e fundadora dos blogs streetstylepoa.com.br e streetstylesp.com.br. 16. Anderson Zaca_ Fotógrafo brasileiro radicado em Nova York. Já viu suas fotos em revistas como Vanity Fair Italy e L Magazine e em exposições no MoCADA Museum e The Chelsea Art Museum. andersonzaca.com

• FOTO DE CAPA_ ANA KRÁS

Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados

• EXPEDIENTE #61// ANO 7 // MAR/ABR/MAI ‘13_


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REVISTA NOIZE. TUMBLR. COM 6

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_foto: RAUL ARAGテグ

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NOME_ Candé Salles O QUE FAZ_ Diretor de cinema UM DISCO_ The Pirate’s Gospel, da Alela Diane “Na minha vida pessoal a música tem a capacidade de afagar e eternizar momentos e pessoas. No meu trabalho, ela é fundamental. Dirigi um programa de música chamado Som e Areia, mini docs sobre o carnaval de rua do Rio, um sobre a escola de samba Portela e um sobre Paulinho da Viola. Também dirigi videoclipes e preparo um outro programa de música pra ser lançado no final desse ano. No meu dia a dia, acordo e durmo ouvindo música em alto volume. Faça chuva ou faça sol.”


“Se mais homens fossem homossexuais, não haveria guerra.” Morrissey


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“O novo álbum do David Bowie prova que reencontros de bandas são uma verdadeira bosta.”Noel Gallagher

“Se o Pink Floyd e o Led Zeppelin podem fazer músicas de 10 minutos por que eu não posso?” Justin Timberlake

“Às vezes, a coisa mais positiva que você pode ser em uma sociedade chata é ser absolutamente negativo.” Johnny Rotten

“Sou completamente louco, mas um louco consciente.” Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr.

“A parte mais difícil de estar no Radiohead é ouvir a minha própria música.” Thom Yorke

“Aonde foi parar todo o carisma e sex appeal?” Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeahs

“Eu acredito que os governos são o câncer da civilização.” Chuck D, líder do Public Enemy

“Se houver 1% de chance vale à pena lutar.” Mr. Catra

“Quem luta contra a velhice não está bem consigo mesmo.” Erasmo Carlos


__NA LUTA | “De alguma forma, todos os

dias alguém bate à nossa porta e nos convida a desistir”, disse tantas e tantas vezes o escritor Caio F. Abreu. Esta frase que se encaixa com perfeição na trajetória de vida de qualquer pessoa que ouse não ser o que todos esperam que seja tomou conta desta edição. Na NOIZE que abre a temporada 2013 falamos de – e com – gente que vai em frente, não importando o tamanho da bronca à ser nocauteada. Anderson Silva, Devendra Banhart, Fábio Cascadura, Apanhador Só, Citizens!. Cada um no seu ringue, cada um com seus inimigos, todos na luta. Feito você, nós, esta revista e mais um bando de gente que desconhece o sentido da palavra desistir. Pump up the volume e vem com a gente, Cris Lisbôa e Tomás Bello.


Quem virou fotógrafo para esta edição foi: Marcelo Gross, guitarrista da Cachorro Grande. Músico fotógrafo convidado: Marcelo Gross, guitarrista da Cachorro Grande.

“Sou ligado em câmeras analógicas, Lomo e coisas assim.Tenho uma Sardina e uma Diana. O que gosto de fotografar são as coisas do cotidiano – viagens da banda, guitarras, estúdio, minha namorada...”


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Divulgação

Cinco perguntas para Fábio Cascadura _por Gaía Passarelli

Ao final de 2012, Caetano Veloso veio com essa: “Um dos melhores discos de rock brasileiro de sempre é o novo do Cascadura”. Ele se referia à Aleluia, álbum lançado no mesmo ano em que o grupo baiano completou duas décadas de vida. Falamos com o líder do Cascadura sobre Salvador, a força da opinião de Caetano e do rock como ferramenta libertária. Foram seis anos entre os álbuns Bogary e Aleluia. Não é muito tempo? Foi necessário para realizarmos as coisas da maneira certa. Bogary foi um disco fácil, de entrar no estúdio, sair tocando. Um processo catártico. Já Aleluia foi um disco pensado. Entre a ideia de fazer um álbum duplo sobre Salvador e as demais etapas de produção foram dois anos e quatro meses. Foi até rapidinho. Você ganhou um elogio e tanto do Caetano. Qual a força de uma declaração dessa? Eu acho que somos entendidos por alguém que entendemos. Admiramos muito o Caetano, sua obra, sua coragem, sua disposição. Minha maior preocupação é que nossa música chegue ao coração das pessoas. Saber que chegou ao coração dele é muito importante. Lançar um álbum é uma realização, mas fazer ele chegar nas pessoas é outra história. Como vocês lidam com isso? Esse disco contou com um edital de incentivo da Secretaria

de Cultura do Estado da Bahia. Sem esse apoio não teríamos realizado obra tão extensa. A nossa melhor estratégia é usar a internet, sem intermediários. Aleluia foi disponibilizado para download gratuito. É correto falar no rock baiano como uma cena? O quanto isso tem a ver com o tema do disco, Salvador? Eu prefiro falar “rock feito na Bahia”. Tem muita gente fazendo coisa boa: Vivendo do Ócio, Maglore, Scambo, Velotroz, Vendo 147, Baiana System, O Quadro, Márcia Castro, Lucas Santtana... O que faz dessa moçada uma unidade é o interesse em responder “que país/cidade/vida nós queremos?”. O Aleluia nasce dessa angústia. A degradação da auto-estima da população de Salvador foi o que moveu a realização do álbum. De onde o rock brasileiro tira força? O rock é pra quem precisa se libertar de alguma limitação. Em geral, os jovens estão, ou pensam estar, sob cerceamento, a adolescência. O rock transmite a ideia de que você pode ser livre, nem que seja no quarto com o volume alto.


COLEÇÃO CONVERSE CHUCK TAYLOR ALL STAR


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MAS DEVERIa_


_Por Lalai e Ola Persson //019

Jessie Ware jessieware.com/ Quem é: Jessica Lois “Jessie” Ware, cantora. De onde vem a música: Inglesa, ela começou a carreira através de parcerias com grandes nomes da dance music underground de Londres. São essas colaborações que dão o tom a sua música. Jessie é filha de um repórter da BBC e irmã da atriz Hannah Ware (de Shame e Tiras em Apuros). Como ganhou a blogosfera: Com produções ao lado de Sampha, SBTRKT e Joker, o mundo da EDM logo abraçou a cantora. Na sequência, o Brit Awards entrou na onda: indicou Jessie aos prêmios de “Melhor Cantora Britânica” e “Artista Revelação”. Se descreve como: “Quem sabe canções como ‘Running’ ou ‘Wildest Moments’ me dêem o direito de dizer que agora eu sou uma compositora”, brinca ela. “Eu só estou me divertindo, e tentando fingir que sou uma pop star.”

O álbum de estreia: Devotion, lançado em 2012, foi para a shortlist do Mercury Prize, a mais importante premiação da música britânica. “É uma aula única de música com alma”, resume o Pitchfork.com. “O sucesso do disco é um testamento de seu talento como compositora.” Comece ouvindo: “Devotion” ou “Sweet Talk”, ambas do debut da cantora. O que dizem por aí: “Jessie Ware é o link que faltava entre a Adele, SBTRKT e Sade”, afirma a conceituada revista britânica Clash. Feito pra quem: Tem saudades de Sade. Item essencial no guarda roupa: Um pretinho básico. Além de vestir tops, jaquetas e vestidos pretos em 99% das ocasiões, adora um brinco pra lá de grande, principalmente argolas. Pra ouvir onde: No começo daquele drink em casa que depois pode virar festa.


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MAS DEVERIa_


_Por Lalai e Ola Persson //021

Ghostpoet ghostpoet.co.uk/ Quem é: MC Obaro Ejimiwe, a.k.a. Ghostpoet, produtor e cantor. De onde vem a música: Ele nasceu em Londres, de descendência nigeriana e dominicana. Surgiu em 2010 e no ano seguinte já era indicado ao Mercury Prize . É uma mistura de Tricky, Roots Manuva e Gill Scott-Heron. Como ganhou a blogosfera: Caiu nas graças de Gilles Peterson, da BBC, quando um amigo mostrou suas demos ao pessoal do Brownswood Recordings, comandado por Gilles. Ghospoet acabou sendo convidado para lançar seu debut pelo selo. “Com canções hipnotizantes, este espírito sonolento está ‘sonambulando’ seu caminho ao topo”, escreveu Paul Lester em sua coluna no The Guardian logo depois.

que o Ghostpoet está próximo de elevar a perfeição o gênero criado pelos conterrâneos do Massive Attack”, definiu a revista norte-americana CMJ. Comece ouvindo: “Cash And Carry Me Home”. Depois corra atrás de “MSI MUSMID”, a primeira track a ser lançada do novo álbum, Some Say I So Say Light. O que dizem por aí: “Ele é o meu artista britânico preferido no momento”, garante Mike Skinner, o branquelo por trás do badalado The Streets. Feito pra quem: Sente saudades de trip-hop, gosta de um som mais intimista e melancólico. E até pra hipsters que mal podem ouvir falar de hip-hop.

Se descreve como: Rapper. Mas a verdade é que ele vai muito além do hip-hop.

Item essencial no guarda roupa: Raramente é visto sem chapéu, além de usar óculos de aros pretos, grossos e lentes fundo de garrafa.

O álbum de estreia: Lançado em fevereiro de 2011, o disco é permeado por referências de grime, rap e ambient music.“Peanut Butter Blues & Melancholy Jam mostra

Pra ouvir onde: É perfeito pra acompanhar uma boa taça de vinho, um bom livro ou ainda como trilha sonora pra deixar a mente viajar numa estrada.


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Renata Simões

CIDADE DO CABO _SAIBA MAIS NewPort Deli: newportdeli.co.za Vaughan Johnson Wine Shop: vaughanjohnson. co.za

Tem coisa mais gostosa que se perder e se encontrar numa cidade? Em Quixeramobim ou Timbuktu, conhecer um novo lugar coloca-nos em contato com o inusitado e o inesperado, promove um encontro com o outro e com você mesmo, te oferece um mundo de bandeja. Viajar também é a arte de deixar acontecer. Então, guarde os endereços mas permita-se ficar quanto tempo sua alma quiser em cada lugar.

Manhã: Praia Ok, você é brasileiro. Praia não é algo inédito na sua vida. Mesmo assim recomendo o rolê pela costa de Cape Town. Ela tem condições diferentes Royale Eatery: de clima, temperatura da água e os bares ao royaleeatery.com Fork Restaurant: fork-restaurants. co.za

redor dão mais noção a você, visitante, como é a vida na cidade. Vá pelo centro, pois a estrada passa entre Table Mountain e Lion’s Head, as formações rochosas mais famosas – e a vista do alto da montanha é linda. A estrada desce em Camps Bay, e é ali, na praia mais conhecida, que começa o passeio. Há vários restaurantes, lojinhas e afins, mas siga até Mouile Point, um pouco mais a frente na encosta, onde você encontra o NewPort Deli e, ali sim, pare para um café, um petisco, sente nas mesinhas na calçada e, com sorte, você ainda vê umas baleias no horizonte. É uma faixa de praia menos turística e mais “viva”, sabe? Ande um pouco pelos calçadões, ria das árvores tortas por causa do vento, olhe aquele horizonte que parece desenhado a lápis. Volte para o carro e siga pela costa até o V&A Waterfront.


Das 14h30 às 17h: Soul Kitchen @ Mitchells Plain Não faz sentido ir a África do Sul e passar batido por toda a questão do Apartheid. Uma das maneiras de se ter uma visão maior do que acontece

Das 17h30 às 20h: Lion’s Head Table Mountain é a montanha símbolo da Cidade do Cabo, e a sua frente está a cabeça do leão. São duas ou três trilhas de dificuldades diferentes que levam ao topo, onde a vista é emocionante. Girando 360 graus você vê o oceano e um horizonte que lhe permite sentir que a terra é redonda, vê as cadeias de montanhas, Capetown em toda sua dimensão, o porto e o que está além. O parque fecha as nove da noite, melhor descer antes. Das 22h à 01h: Pixxxta Seja qual for a sua preferência – clubes, shows, bares –, a Cidade do Cabo tem entretenimento para todos os gostos. Mais do que citar esse ou aquele lugar, vale a máxima de qualquer cidade: procure uma revista, site ou um conhecido para saber o que rola a noite. Para um bom hambúrguer noturno, vale o Royale Eatery, aberto até as 23h30.

Camps Bay Jorge Lascar / C.C.

é ser voluntário em alguma das muitas frentes que acontecem nas Townships, os bairros para onde os negros foram transferidos na época em que o regime político foi instaurado. Soul Kitchen é um projeto capitaneado pela Quinton Welman Foundation, criado para distribuir alimentos em Mitchells Plain, a quarta maior Township de Cape Town. É só entrar em contato com Stanford D. Welman, que, junto com a nora, toma conta do projeto.Vale a pena.

Lion’s Head Damien du Toit / C.C.

Meio dia às 14h: The V&A Waterfront + Downtown + Almoço Um porto reformado que virou ponto turístico, onde as atrações se espalham por diferentes docas. Destaque para o Two Oceans Aquarium, onde você passeia por diversos ambientes submarinos e vê inúmeras espécies, e o meu favorito – porque consumo é o mal do século –, o Vaughan Johnson Wine Shop. São inúmeros rótulos de vinhos e espumantes locais, bons preços e uma ótima pedida se você só tem 24h na cidade e não vai poder dedicar todas elas as incríveis vinícolas que tem por perto. Siga rumo ao centro, dê uma parada em Long Street e caminhe ao redor para encontrar todo um mundo: roupas moderninhas convivem com prédios históricos criados por ingleses e holandeses, museus bacanas estão próximos a lojinhas fantásticas – como a do costureiro do Mali que vende para africanos ou a que vende peles e bichos, em algum lugar entre o design e a taxidermia. Se você não matou sua fome no Waterfront siga com fé até o Forks, um lugar para comer pratos inspirados nas tapas espanholas com um toque da comida africana.

Meraj Chhaya / C.C.

_Por Renata Simões //023

The V&A Waterfront


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_Por Branco Mello, vocalista dos Titãs

“Violões no quarto, baixo e guitarra na sala, bateria na garagem e os outros num pequeno estúdio. Os que não estão pela casa deixo guardado em cases. Instrumento é pra ser tocado. Por isso, deixo vários espalhados pela casa. Meu filho tem uma banda de rock chamada Sioux 66 e vive tocando na sala, no quarto. Os amigos também tocam. É assim que funciona.”

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Fotos: Rafa Rocha

UM REMIX EM 5 PASSOS Pioneiro em unir o baile-funk ao electro-house-rock através de remixes e mash-ups, o que já rendeu parcerias com selos consagrados como Domino Records e Mad Decent, o DJ e produtor Fredi Chernobyl mostra como fazer o seu próprio edit daquela banda que você adora. De uma maneira tosca, divertida, pra zoar na web e na pixxxta.

1. Procure na internet, peça para um amigo ou compre o mp3 em alta resolução do som que você curte e quer fazer a sua versão – em outras palavras, um remix ou edit, sempre verificando se a track tem “janelas” em que só fique o sintetizador (que faz as vezes de um riff de guitarra característico se fosse um rock), as batidas iniciais ou finais e alguma voz sem muita poluição sonora por trás. 2. Jogue o mp3 no projeto de som usando o programa que você mais gosta. Ajuste o BPM (batidas por minuto) para a velocidade que você quer remixar e dê um corte de grave, usando o equalizador

geral no canal da música original. 3. Selecione o beat, o synth (riff) e a parte em que a voz meio que sola pra poder brincar. Fique com esses três elementos caracterizando a música. 4. Desmonte a música usando esses elementos, reordenando da maneira que você quer – sincronize com suas próprias batidas e linhas de baixo, já que você cortou o grave do som original, lembra? 5. Ouça o remix, conferindo – com atenção – algumas vezes. Faça o upload na web e vá dançar com as garotas.



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1.

londres

2.

nova york

“Uma cidade que respira o mesmo ar que a gente.”

“Adoramos tocar por lá. A cena musical de Manhattan e do Brooklyn sempre nos recebe muito bem.” 3.

Stop Making Sense

“O que dizer, David Byrne é um gênio e o filme é ótimo.”

4.

Shakespeare

“Romance e poesia também fazem parte do que é o Citizens!.”

3. Um dos mais influentes docs musicais de todos os tempos. Dirigido por Jonathan Demme – ganhador do Oscar por Silêncio dos Inocentes –, o longa de 1984 mostra o Talking Heads no palco do Pantages Theater, em Hollywood. Foi o primeiro filme a utilizar técnicas de áudio digital. 5. Além de colocar os seus, os nossos e todos os pais pra chacoalhar o esqueleto durante os animados anos 70 o grupo sueco só fica atrás dos Beatles quando o assunto é sucesso: estima-se que o ABBA já tenha vendido mais de trezentos e setenta milhões de álbuns e singles. 6. Apesar de nunca ter chegado


Quinteto londrino formado graças à uma dose dupla de rejeição feminina – eles se conheceram em uma house party em que Tom (vocalista) e Lawrence (tecladista) tomaram foras de seus respectivos dates. Isso foi no verão de 2010. De lá pra cá, a banda lançou Here We Are, álbum produzido pelo líder do Franz Ferdinand Alex Kapranos.

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Divulgação

CITIZENS!

5.

6.

“Eles já faziam as pessoas dançarem antes mesmo de nossos pais pensarem em nos ter.”

“É um músico, da banda protopunk Suicide, que, segundo reza a lenda, foi o primeira a utilizar a palavra ‘punk’ em um cartaz de divulgação.”

7.

8.

ABBA

Rio de Janeiro

“Conhecemos há pouco tempo, mas o Rio já é uma inspiração.”

Martin Rev

Seu Jorge

“Sempre que fazemos um churrasco, gostamos de ouvir Seu Jorge.”

sequer perto de algum tipo de sucesso, o Suicide é um dos grupos mais influentes a emergir da Nova York do final dos 70’s. Sem o duo, sabe-se lá o que seria do synthpop. MGMT, R.E.M. e Nick Cave são fãs declarados, e você pode começar pelo autointitulado debut dos caras, de 1977. 8. Seu Jorge conquistou o coração da gringolândia quando regravou uma série de clássicos de David Bowie à pedido do cineasta Wes Anderson. As canções – e o próprio Seu Jorge – foram parar no filme A Vida Marinha com Steve Zissou, lançado em 2004 e com gente como Bill Murray e Cate Blanchett no elenco.


__POR Cris Lisbôa e Tomás Bello

__FOTOS ANA KRAS / DIVULGAÇÃO

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eu SOU MA INTERESSA A PERGUNT ACABA DE F Devendra Obi Banhart não é quem você pensa. O cantor texano criado na Venezuela, grande nome do gênero New Weird American+1, tampouco é quem você gostaria que ele fosse. Devendra Obi Banhart é um ponto de interrogação dentro de um passaporte lotado. E não está a procura da resposta.


Devendra Obi Banhart

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IS NTE DO QUE A QUE VOCÊ AZER


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“Se eu fosse um tecido? Seria um pano queijeiro. Um pano queijeiro, uma seda rosa ou quem sabe uma camisinha usada.” Um Deus hindu (Devendra significa “rei dos deuses”, ou “rei dos céus”), personagem de Star Wars (Obi-Wan Kenobi), mãe latina, pai yankee, atual cidadão de Nova York que a qualquer instante pode estar com rotina e amigos em Paris, Los Angeles, Bali ou Índia. Devendra é tudo isso aomesmotempoagora. Até amanhã. Ou não. “Meu estilo de vida é muito circunstancial, nada é deliberado ou feito porque eu sinto que pode influenciar o meu trabalho.Tudo acontece muito por acaso. Porque eu fui chutado de um apartamento ou porque quero estar próximo de um coffee shop. No fundo, o que eu quero mesmo é estar em casa, estar em uma só casa.”

[+1] Freak-folk é um gênero musical que une os instrumentos acústicos tradicionais da música folk norteamericana a novos elementos eletrônicos e psicodélicos. A Wired Magazine o batizou de New Weird America, em referência ao Old Weird America do título do livro de Greil Marcus que descrevia as possíveis conexões entre a coletânea Anthology of American Folk Music (clássicos do folk gravados entre 1927 e 1932) e a música de Bob Dylan e seus iguais. [+2] Ana Kras, artista sérvia.Vale lembrar que Devendra já namorou a atriz Natalie Portman, que, aliás, atuou no videoclipe de “Carmensita”. [+3] The Charles C. Leary, álbum lançado pelo pequeno selo Hinah.

Banhart nasceu em Houston,Texas. Aos 2 anos de idade, os pais se divorciaram e ele foi parar em Caracas ao lado da mãe. Retornou aos Estados Unidos quando tinha 14. Em São Francisco, estudou artes, morou no famoso distrito de Castro, ganhou uma grana tocando violão pelas esquinas e estreou no palco cantando “Love Me Tender” em um casamento gay. Oficialmente, fala três línguas. Extraoficialmente, todas. “Espanhol eu realmente falo, muito bem. Porque cresci na Venezuela. Sempre tenho uma ou duas canções em espanhol nos meus discos, é muito importante pra mim. Escolher uma palavra? No, no, no. São muitas.Talvez um nome. Maria é um nome lindo.” O visual cheio de tatuagens, cabelo, barba, miçanga, “calças vermelhas e casaco de general, cheio de anéis” é quase um catálogo de suas músicas, feitas sob forte influência latina, folk, hippie, indiana e pop. Acontece que hoje ele não usa mais maquiagem nos olhos. E não tem mais certeza de nada do que ontem falou pra você. “O que eu visto não é premeditado, realmente não é. Metade das vezes são coisas da minha mãe ou da minha noiva+2. Eu simplesmente escolho coisas nas quais me

sinto confortável, coisas que gosto. A minha primeira tatuagem foi uma listra vermelha ao redor do braço. Eu tenho quatro dessas listras. Fiz há muito, muito tempo. O que eu queria era algo abstrato, uma abstração no meu corpo. Àquela altura, estava claro pra mim que eu poderia evoluir, mudar a qualquer momento. E as listras estariam sempre abertas a interpretação. O que ela pode representar, uma pessoa, uma experência? Eu sabia que poderia mudar a cada minuto, a cada mês, a cada ano. É claro que depois disso eu acabei fazendo mais um monte de tatuagens horríveis. Assim como os acessórios, tudo pode revelar muito. Mas eles se referem a uma fase muito específica da minha vida. Eu já era colocado em certas categorias também no passado. Quer dizer, você também não se vestia de maneira diferente dez anos atrás? Na verdade, não tenho usado uma joia sequer há cerca de seis anos. Até bem recentemente, coisa de três dias atrás. Um amigo fez um anel tão bonito que eu tinha que tê-lo. De qualquer maneira, eu mudo porque quero mudar, porque é interessante. Minha noiva chama o meu estilo de Grandpa Wader or Barbados Death. E ela tem mesmo certa razão. Eu já acho que é algo mais próximo de bibliotecários ou algo assim.” Quando Devendra lançou o primeiro disco, em 2002+3, fez como quase todo mundo: em casa, com um amigo e um computador. Agora, em seu oitavo álbum, voltou para o começo. Embora de outro jeito. Junto com Noah Georgeson, usou instrumentos de uma loja de penhoras e mergulhou nas canções. “Cada disco teve um processo de gravação diferente. Ou a gente gravou em um estúdio específico, ou alugou um estúdio, ou alugamos uma casa e assim por diante. Desta vez, ao invés de irmos para a casa de alguém que já tem um estúdio, o que foi uma variação por si só, a gente pensou: ‘vamos montar um estúdio do zero e fazer tudo lá’. Durante cerca de um ano, nenhum de nós sequer foi para casa. Ficamos por lá, trabalhando, até terminar o processo. E agora eu sei que a próxima coisa que quero fazer é gravar tudo em um estúdio profissional. Então, sabe, é tudo uma variação de um conceito. Eu experimento



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“O que eu visto não é premeditado, realmente não é. Metade das vezes são coisas da minha mãe ou da minha noiva.”


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“Uma música está pronta pra ser gravada quando não está pronta o suficiente.” algo novo em um álbum, evoluo para o seguinte, mas é simplesmente uma variação de uma mesma ideia.” Quando ele sabe que uma canção está pronta para entrar em um de seus discos? “Ela está pronta pra ser gravada quando não está pronta o suficiente. Eu nunca tive a sensação de que uma música está finalizada, completa. É algo muito intuitivo.” O novo álbum chama Mala+4, e vem após um período de três anos sem gravar. São 14 canções inéditas, em inglês, alemão, espanhol e latim+5. “Mala é uma palavra que se traduz em diferentes línguas, em alemão, italiano, espanhol, sérvio, maltês, esperanto. Eu gosto disso. Uma palavra que tem diferentes significados em cada uma dessas línguas. A mesma palavra, mas com significados diferentes.”

[+4] Em sérvio, pode ser traduzido como “docinho”. [+5] “Taurobolium”, a faixa que encerra o disco, faz referência a um ritual de sacrifício com touros que se fazia na Roma antiga, entre 2 e 4 DC, bastante associado ao paganismo e em homenagem a deusa Cibele. [+6] Gael divide com Devendra os vocais da canção “Cristobal”, que fez parte da trilha sonora do filme Deficit, dirigido pelo ator.

É a estreia de Devendra pelo selo Nonesuch Records, subdivisão da major Warner Bros. especializada em jazz, folk e música clássica. Em uma entrevista recente, o músico definiu o álbum como um “after para uma festa que ninguém foi convidado”. Você entendeu o que ele quis dizer? “Ah, esse é o tipo de coisa que tiram de você pra depois colocar: ‘Ele disse isso’. Eu disse ‘prazer em conhecê-lo’, e eles perguntaram, ‘como você resumiria o disco de uma forma rápida?’. Aquilo foi o melhor que eu pude fazer naquele momento. É muito difícil definir uma obra em uma frase.Teve uma outra entrevista em que o cara leu o New York Journal dizendo que eu era uma pessoa interessante. Aí ele me pergunta: ‘você é uma pessoa interessante?’. O que eu vou dizer? Sim, eu sou mais interessante do que a

pergunta que você acaba de fazer.” Paul Butler (da banda britânica Band Of Bees), Noah Georgeson (produtor dos dois mais recentes discos de Banhart, além de Little Joy e Joanna Newsom), Greg Rogove (Priestbird), Luckey Remington (The Pleased), Rodrigo Amarante (Little Joy, Los Hermanos) e o ator Gael García Bernal+6 são alguns dos amigos que orbitam no universo de Banhart. É com estes caras que ele fala ao telefone, é pra eles o primeiro convite para as mostras de suas ilustrações – Devendra fez parte da anual Art Basel Contemporary Art Fair, em Miami, e já fez uma expo no Museu de Arte Moderna de São Francisco – e com eles que chora todas as suas mágoas de amor. “Quem é o melhor amigo do homem? Essa é a pergunta, quem eu considero o melhor amigo do homem?? (pausa) (risos) Isso é divertido, é o tipo de pergunta que eu gostaria de fazer a alguém. Só é horrível ter que respondê-la ao invés de perguntar. Eu gostaria de estar do outro lado. Mas eu diria: quem se importa? Definitivamente não é o homem.” O músico abre a mochila (não, não tem bottons nela), alcança o passaporte com as mãos e passa os dedos pelas folhas. ”Eu poderia morar no Brasil”, diz em português. Aproveita pra puxar assunto, fazer perguntas, contar sobre a amizade com Amarante. Se aproxima, baixa a guarda, cansa de ser. “Pero no se.” Volta a falar espanholado, quase em verso. Coloca o passaporte no bolso, fecha a mochila. Dá um longo suspiro. “Qual a melhor frase para começar uma carta de amor? ‘Dear Devendra.’ Essa é a frase.“ E vai embora sem olhar pra trás.


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P.S: Devendra, o que é o amor? “Ah, não sei... Eu faço unpopular music, entende o que quero dizer? Uma pessoa na porta de entrada, batendo e procurando a pessoa errada. É isso o que significa (risos).”

(por Dani Arrais)




__POR Cris Lisb么a e Tom谩s Bello

__FOTOS Anderson Zaca


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Anderson Silva é o dono da maior sequência de vitórias da história do UFC. Além disso, tirou Marisa Monte para dançar em um videoclipe, está no próximo filme de Steven Seagal, não tem medo da pista de dança e se considera um rockstar. Você encara?

_Qual a música perfeita para a pista de dança? “Michael Jackson.”

[+1] O Ultimate Fighting Championship é a maior organização mundial de artes marciais mistas. É comandada pela empresa norteamericana Zuffa Entertainment, mas tem origem brasileira: foi fundada pelo mestre do Jiu-jitsu Rorion Gracie em 1993. [+2] Mixed Martial Arts, ou seja, Artes Marciais Mistas. Incluem tanto golpes de combate em pé quanto técnicas de luta no chão. [+3] Jon “Bones”Jones detém o cinturão na categoria meiopesado, uma acima de Anderson. Georges St-Pierre é o atual campeão dos meiomédios, um degrau abaixo do brasileiro.

Em fevereiro deste ano o UFC+1 divulgou o primeiro ranking oficial de sua história. Quem estava lá, no topo da lista? O brasileiro Anderson Silva, campeoníssimo dos médios e, desde então, número 1 também no peso por peso, que reúne lutadores de todas as categorias. Mas Anderson não chegou até aqui só lutando. Ele teve que dançar. Era 1983 quando o cara entrou para a turma de capoeira da escola. Dois anos mais tarde já estava praticando taekwondo. Aos 13, a tia o obrigou a frequentar aulas de sapateado e balé, o que levou o então garoto ao seu primeiro contato com o sucesso: imitando os passos de Michael Jackson nas festinhas do colégio. “O Michael era e sempre será o exemplo de sucesso de uma geração, um garoto com tanto talento. Eu amo tudo do Michael: dança, canto, estilo... Influencia muito no meu jeito de lutar”, avalia ele. Aos 37 anos, idade em que a maioria dos lutadores vira dono de academia ou treinador, Anderson vive o auge da sua forma e popularidade. Não perde

uma luta desde 2006, é um verdadeiro acumulador de recordes – são 16 vitórias consecutivas e 10 defesas de cinturão. Apesar de não ser o lutado mais completo do MMA+2, é o mais temido: ninguém tem um arsenal ofensivo tão imprevisível e variado quanto o de Spider. Ele é capaz de desferir um soco com o punho saindo da linha da cintura sem perder o equilíbrio ou a potência do impacto, além de ter uma porcentagem altíssima de acerto. Não por acaso, está sem adversários a altura, o que leva os organizadores do UFC a prospectar “superlutas” com campeões de outras categorias, como Jon Jones e Georges St-Pierre+3. Se os tais combates vierem de fato a acontecer, Anderson Silva indica que fugir da raia não é com ele. “Luta representa cumprir uma missão. Um soldado na guerra, por exemplo, em combate, estaria lutando por um ideal. Então, luta é vida. Faço isto desde os meus 8 anos de idade.” Há muito, o remix do DMX para “Ain’t No Sunshine”+4 – “gosto da música porque ela é calma e ao mesmo tempo com pressão e impacto” – avisa que o campeão está a caminho do octógono. O que amedronta adversários, leva a torcida a loucura e rendeu um convite inusitado: tirar Marisa Monte para uma dança “rostinho colado” no clipe de “Ainda Bem” +5.


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“Eu amo tudo do Michael: dança, canto, estilo... Influencia muito no meu jeito de lutar.” Não houve ensaio, não foi preciso repetir a cena. Um take e pronto. “O Muhammad Ali era assim, dançava enquanto lutava”, lembra o dono do cinturão mais cobiçado na maior organização de MMA do planeta. _Qual a música perfeita para tirar uma mulher pra dançar? “Whitney Houston.”

[+4] A track original é de Bill Withers, nome popular do R&B entre os anos 60 e 70. Foi lançada por ele no álbum Just as I Am, de 1971. O rapper DMX a regravou em 2001, para a trilha do filme Rede de Corrupção. [+5] Single de O Que Você Quer Saber de Verdade, oitavo álbum da cantora e compositora carioca. A dança você assiste em http://migre.me/dzlbs

O ídolo mundial, o imbatível, o número 1 do ranking, o melhor do mundo.Títulos à parte, Spider é um cara família. Daqueles que conserva os amigos do passado e tem o futuro dos filhos como o grande cinturão a ser conquistado. É por eles que Anderson não pretende lutar mais do que uma vez ao ano. É com eles que troca figurinhas musicais. “Temos o mesmo gosto. Mas, em geral, eles amam Rihanna, Chris Brown, Lady Gaga e Kate Perry”, diz o lutador coruja. Nascido em São Paulo, Anderson Silva cresceu na capital paranaense. Passou anos ouvindo a mesma trilha sonora. “Seja um bom garoto na vida. Foi o hit da minha infância”, recorda do bate papo moral que recebia da tia-avó Edith, responsável por criar o garoto hiperativo desde os 4 anos de idade. Entre o trabalho em uma lanchonete, em uma mecânica de karts, as


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“Tenho entre os meus ídolos Wagner Moura, Will Smith, Homem-Aranha e Batman.” três horas diárias treinando capoeira, taekwondo e o muay thai que chegou logo depois, aos 17 anos Anderson começou a namorar Dayane – com quem casou, de quem se separou, mas a mulher que ele buscou de volta e que está ao seu lado ainda hoje. Cinco filhos mais tarde+6 e, apesar dos recordes e troféus, o que Dayane deve enxergar é o mesmo cara que conheceu há mais de duas décadas. Diferente do campeão implacável que você, nós e a torcida do Corinthians assiste trucidando adversários com joelhadas voadoras. “Eu acredito muito na disciplina do esporte e no valor da família. São as mensagens que mais tento passar, esporte e família”, resume ele. _Qual a música perfeita para o sexo? “Todas do Boyz II Men (risos).” Era agosto de 2011 e os principais sites de notícia do Brasil estampavam: Anderson Silva compra mansão na Califórnia por R$2,8 milhões. Com vista para o mar, três mil metros quadrados, piscina, quatro quartos e tudo o que você vê na novela. Ao final do ano passado, a agência 9ine+7 calculava uma movimentação de cerca de R$ 8 milhões em torno dos golpes e imagem do lutador. Até quando comparado a grandes estrelas do esporte mundial – leia-se Roger Federer, Lionel Messi,Tiger

[+6] Kaory, Kalyl, Gabriel, Kauana e João são os filhos do lutador. Dayane é mãe de três deles. [+7] Comandada por Ronaldo Nazário, a agência de marketing esportivo gerencia, além de Anderson Silva, a imagem de atletas como Neymar, o skatista Pedro Barros e Falcão, craque do Futsal.


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“Se fosse montar uma banda, eu seria o cantor. Chamaria o Stevie Wonder, a Whitney Houston, Michael Jackson, Marvin Gaye... E Anderson Silva.” Woods ou LeBron James, nome maior da NBA – o cara está bem na foto: segundo cálculos do Sportv.com+8, Anderson levou R$ 422.500 por apresentação na penúltima temporada. Nada mal frente aos R$ 152.033 de Woods, os R$ 165.355 de Federer ou mesmo os R$ 461.090 recebidos por Messi após cada entrada em campo. Só o dinheiro para trazer felicidade? Spider não aparenta compartilhar do velho ditado. Já cansou de dizer que não tem planos, tem sonhos. Desde sempre, dança porque é fã de Michael Jackson e luta por ser um apaixonado pelas artes marciais. Agora, o duelo é com as telas de cinema. A vida, meu caro, é feita de prazer.

[+8] Veja o levantamento completo em http:// migre.me/dzlOL [+9] É a música que abre Abraçaço, o mais recente disco de Caetano e o último da trilogia com a banda Cê. “Ele me mandou a música”, conta o Spider.

_Qual a música perfeita para dirigir? “Exalta Samba.” Mais que um lutador de MMA, Anderson Silva é fenômeno pop. Os números, aparições em videoclipes ou em letras de Caetano e os contratos publicitários estão aí como prova. No Twitter, são 2,8 milhões de seguidores, o que faz dele o nome mais popular (e influente, talvez?) de todo o UFC. Quando lutou no Rio, em agosto de 2011, os 14 mil ingressos para o duelo com o japonês Yushin Okami foram vendidos em apenas 74 minutos. O clipe com Marisa Monte teve 200 mil exibições em menos de 24 horas, e, de Caetano Veloso, Anderson recebeu pessoalmente a canção “A Bossa Nova É Foda”+9, em que o baiano setentão menciona o esportista como que se revelando também um fã. “Todo reconhecimento é bacana, é legal, eu fico agradecido demais. Mas não deixo de focar minha verdade esportiva de lutador, então não me coloco

como pop e também procuro não mudar meu dia a dia de treino”, retruca Anderson, como se estivesse se esquivando de um ataque no octógono. Só que dessa não dá pra fugir. O cara faz ensaio sensual ao lado da top Izabel Goulart, vira Rocky Balboa em comercial da Magazine Luiza e jogador de futebol americano para a Budweiser. Ganhou um premiado documentário para chamar de seu e, enquanto você busca na memória aquele dia em que o viu em um programa de TV qualquer, ele grava sua estreia em Hollywood no novo filme do astro da ação – e seu assumido mestre – Steven Seagal. Peraí, cinema? Sim, ele gosta muito. “Tenho entre os meus ídolos Wagner Moura, Will Smith, Denzel Washington, Homem-Aranha e Batman.” A estreia de Anderson nas telonas ainda não tem previsão, tampouco se sabe o título do longa que o coloca lado a lado com Seagal. O que ele revela é que já tem outro filme engatilhado para rodar em abril e, logo adiante, fará participação em uma minissérie brasileira. Ou seja, embora não se entregue tão facilmente, os indicativos dão conta de que a versão “pop” não assumida de Anderson Silva ainda vai dar muita história pra contar. Ou cantar, como ele parece preferir. Quando ouve a pergunta “Você se considera uma espécie de rockstar?”, o rei do MMA não titubeia, solta um sonoro sim. “Gosto de ter atitude, e o rock sempre teve este emblema. ‘Spider RockinRoll’”, brinca. Em meio a sorrisos, chega a arriscar o que seria a sua banda dos sonhos. “Eu seria o cantor – tenho voz aguda, não acha? Seria um grupo vocal tipo os antigos, talvez. Chamaria o Stevie Wonder, a Whitney Houston, Michael Jackson, Marvin Gaye... E Anderson Silva.” Passa o microfone pra ele, Roque?


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P.S: Anderson, quem é você? “Eu? Eu sou alguém como outro qualquer que luta pela família e ama fazer as coisas boas. Eu sou alguém que procura melhorar dia a dia o meu ontem. “

(por Dani Arrais)


_POR Alexandre Kumpinski, guitarrista e vocalista da Apanhador Só

_FOTOS Roberta Sant’Anna

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De repente um disco pode ser um apanhado de músicas – algo como uma compilação de canções de um artista – ou pode funcionar como uma espécie de “lugar” onde sonoridades e discursos se comunicam entre si e com o mundo a partir de alguma coerência interna. Um lugar que crie ou traga à tona uma lógica de ver, sentir, pensar as coisas. Ou mesmo de agir nelas, com elas. A estreia da Apanhador (Apanhador Só, de 2010), como muitos primeiros discos de banda, provavelmente está mais pra um álbum-compilação. Esse segundo, recém produzido, foi se mostrando pra nós muito mais como um álbum-lugar, com temáticas que se entrecruzam, se complementam e dialogam entre si e com o que nos cerca. O novo disco tem um novo tom nas letras, nos timbres, nos arranjos das músicas. Tornou-se um álbum-lugar.


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Nos juntamos em uma casa numa região semi-rural de Gravataí, Rio Grande do Sul, e passamos um mês criando os arranjos das músicas. Ensaiávamos entre descansos preguiçosos, visitas de amigos, caminhadas ao ar livre ou partidas de videogame e Fuscobol (um jogo que a gente inventou, uma espécie de cruza entre tênis e futevôlei, e que jogamos muito durante a pré-produção). Viver na mesma casa, com rotinas muito parecidas, fez com que criássemos de forma mais simbiótica. Os discursos, as posturas, as vontades, as inquietudes. Tudo se afinou, sem muitas coisas ao nosso redor que pudessem nos dispersar. O álbum ganhou em unidade, em sintonia interna. Esse disco é muito isso: a gente se satisfazendo ao fazer música.


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Saímos da pré-produção com muita coisa já gravada. Alguns registros que serviriam, a princípio, só pra que não esquecêssemos ideias, acabaram ficando com um clima ótimo, cheio de uma espontaneidade difícil de ser reproduzida dentro de um estúdio. Resultado: algumas músicas tiveram instrumentos aproveitados e outras tantas já saíram de lá fechadas. Em um ambiente caseiro as regras pra se fazer um álbum não dão as caras a todo momento, o que abre espaço pra novas lógicas – mais experimentais, mais livres, de sonoridades interessantes e únicas. Colocar um microfone virado pro lado “errado”, usar algum tipo de mal-contato pra gravar um instrumento com um timbre “estragado”, deixar que os ruídos dos eletrodomésticos façam parte da sonoridade de uma gravação: tudo são permissões difíceis de se alcançar em um ambiente mais ortodoxo de gravação. Um carrinho de mão empoeirado, um banhado cheio de sapos, o cachorro do vizinho latindo, o reverb natural de uma varanda. Qualquer coisa pode contribuir pra uma ideia que soa absurda em um primeiro momento, mas que depois se mostra a peça que faltava pro processo criativo deslanchar.


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Nos mandamos pra São Paulo – onde gravamos a maior parte do disco – acompanhados dos produtores Zé Nigro e Gustavo Lenza. Passávamos mais de oito horas por dia dentro do estúdio entre escolhas de timbres, takes, escolhas de takes e ainda lapidando a ideia de um que outro arranjo. Foi a fase mais trabalhosa, talvez a mais penosa de todas, como é natural que seja. Passado um mês, e já que tínhamos conseguido gravar quase tudo, mas não tudo, decidimos finalizar as gravações na sala da minha casa em Porto Alegre, onde já havíamos registrado o Acústico-Sucateiro. De volta a um ambiente caseiro, resgatamos algumas sonoridades que tínhamos concebido durante a pré-produção mas que não estávamos conseguindo reproduzir muito bem dentro do estúdio. Tá prestes a sair um disco nosso, e nele tá contido muito do que a gente quer dizer. É um pedaço de nós pro mundo, do qual somos um pedaço. E isso nos deixa plenos.


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PORTO ALEGRE (RS)

“Eu acordo e ligo o som. E isso influencia muito no que eu vou vestir.” O DJ e produtor de moda Fran Piovesan acredita que tudo mundo quer transmitir alguma coisa com o seu modo de vestir. No seu caso, é a música que dá o mood. “Se eu boto um Theophilus London pra tocar, coloco um bonezinho de aba reta. Se eu acordo e ouço um Queens of the Stone Age já visto algo mais rock. É sempre assim.” Catarinense, Fran vive há anos em Porto Alegre. Diz que a cidade tem certa dose de participação em seu estilo. “Tem a ver muito pelas coisas que tu encontra pra comprar na cidade, também pelo que as outras pessoas estão vestindo, pelos amigos... Se eu morasse em Londres ou Berlim teria acesso a outro tipo de roupa, e isso também influenciaria.” Se ele se considera um shopaholic? “Pra caralho.Todo meu dinheiro vai com roupa.” __A bota é Dr. Martens, comprada em uma viagem à França.“É bom pra neve, pra tudo. É bota forever.” drmartens.com __Jeans skinny, t-shirt básica e jaqueta imitando couro.Tudo da Zara. zara.com __A camisa xadrez vem de um brechó da Cidade Baixa, bairro boêmio da capital gaúcha. __O óculos é Herchcovitch.“Eu tenho muitos, uns 16 ou 17”, confessa o DJ. loja.herchcovitch.com.br/

Fotos: Rafa Rocha

FRAN PIOVESAN


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DENTRO DA MOCHILA

camiseta COM história

_DIRTYLOUD, duo mineiro de dubstep que é atração do Lolla Brasil 2013.

_GABRIEL THOMAZ, vocalista e guitarrista do Autoramas.

1. Fones de ouvido: “Porque sem fone não tem DJ, e sem DJ não tem festa”. 2.Videogame portátil: “Bom pra matar o tempo entre viagens”. 3. USB drive: “Voltamos a tocar com CDJs, e com a evolução dos equipamentos hoje não se usa mais CDs, mas sim Pen Drives ou cartões SD”. 4. Laptop: “Mesmo viajando bastante ainda temos que trabalhar, e sem o computador seria impossível”. 5. Presentes para os fãs: “Sempre levamos CDs, camisetas, adesivos, chaveiros pra dar pra galera nos shows. O povo adora”.

“A gente fez um show no Primavera Sound, em Barcelona. E foi muito legal. Quando acabou, o dono do Primavera falou,‘ó, vai ter um festival só de rock ‘n’ roll, chamado Turbo Rock, e eu quero que vocês voltem a Europa’. Falei,‘caramba, e quem vai tocar nele?’.‘Ah, vai tocar Mudhoney, Muffs, Hoodoo Gurus...’ E pô, Muffs é uma banda que eu sempre fui muito fã. A gente chegou lá e não era apenas em uma cidade. Saímos de Madrid, fomos de ônibus até Santander e de lá pra Valencia. Foi demais. Aí no último dia o cara do merchandise oficial chegou,‘pô, eu vi os três shows de vocês, adorei. Queria trocar essa camiseta por um vinil do Autoramas’. É uma camiseta que eu tenho um carinho total, acho que nunca vou me livrar dela. São lembranças muito fortes.”


Divulgação

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ILAN DEI VENICE 1650 Abbot Kinney Blvd,Venice Beach, Califórnia do bicho papão asiático. O estúdio, multidisciplinar, ainda assina vários outros restaurantes e shops da redondeza. Vale uma atenção especial aos porta vinhos e talheres, que podem acompanhar o piquenique ou mesmo salvar os amigos no camping do festival. As mesinhas e cadeiras coloridas são perfeitas pra passar o verão à beira da piscina.

Por Cláudia Palma

Em Venice Beach, L.A., uma pop-up store que luta à lá Rocky Balboa contra a invasão do “Made in China”. A Ilan Dei Venice está na Abbot Kinney Blvd, uma das ruas mais bacanas e borbulhantes da região. Estruturada em torno de três containers de vidro e alumínio, ela tem em suas prateleiras apenas produtos assinados pelo Ilan Dei Studio ou de alguns designers e marcas locais, nada que se aproxime

_SAIBA MAIS www.ilandeistudio.com/


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Claúdio Careca / C.C

BANCA DA DONA LOIRA Mercado Ver-o-Peso, Belém do Pará “Comigo-ninguém-pode”, “Vence-batalha”, “Chora-nos-meus-pés”, “Te pego e não te largo” e outras opções que curam desamor, calo nos pés, falta de dinheiro ou desilusão. Para todo mal, há cura. Sobretudo na Banca da Dona Loira, que, há 43 anos perfuma, conquista e salva quem precisa de um pequeno milagre.

Por Cristiane Lisbôa

O mercado Ver-o-Peso é a maior feira livre de toda a América Latina. Entre temperos, camarão, farinha, artesanato e outros secos e molhados, um patrimônio nacional: as erveiras. Mulheres que aprenderam com os pais, avós e bisavós os melindres das ervas amazônicas e, com elas, produzem “banhos”, garrafas cheirosas que curam todo e qualquer mal. “Hei de vencer”,

_SAIBA MAIS http://migre.me/dS3aG




My Bloody Valentine MBV Independente Ninguém merece ficar 22 anos esperando por um disco, não é? Mas é esse o intervalo que separa Loveless de seu sucessor, mbv. E assim o My Bloody Valentine bate o recorde que o Guns N’Roses estabeleceu com Chinese Democracy com alguma folga. Na verdade, o My Bloody Valentine ficou praticamente inativo a partir de 1991 – então, nem passou taaanto tempo assim desde que Kevin Shields anunciou esse novo trabalho, em 2007. O mais incrível é que, analisando friamente, mbv soa como se tivesse sido lançado apenas um par de anos após o segundo disco. E, no final das contas, o cara mostra que não perdeu a mão ao longo do caminho. As distorções e microfonias inerentes ao gênero estão lá, aliadas as bem distribuídas camadas de sintetizadores. Uma experiência sonora que cresce aos poucos, da suave “She Found Now” à perturbadora “Wonder 2”, passando pelas belíssimas “Only Tomorrow”, “In Another Way” e “New You”. Uma aula de shoegaze, como nos velhos tempos. Se é assim, porque o disco não leva a nota máxima? Porque o fator “tempo” acaba influenciando, não há como evitar. E uma avaliação mais precisa sobre um trabalho tão (in) esperado só poderá ser feita com algum distanciamento histórico. Afinal, mbv tem a responsa de dar continuidade ou mesmo superar Loveless, um clássico incontestável. Estamos quase lá, Mr. Shields. Daniel Sanes Pra quem gosta de: Primal Scream, The Jesus and Mary Chain e Sonic Youth

“Uma aula de shoegaze, como nos velhos tempos.”

LEGENDAS Ouça no talo É, legal

Dá um caldo Seu ouvido não merece


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Devendra Banhart Mala Warner Music Os detratores do artista texano, principal referência dos tempos modernos quando se fala em bicho-grilagem, têm aqui uma piada pronta que já começa pelo título. Mas até eles poderão se render à aura misteriosa de Mala. Devendra deu um tapa no visual – tosou as longas madeixas e abandonou as roupas de messias hipster – e, coincidência ou não, seu som também está mais clean e sóbrio. O amigão de Caetano, Gil e Beck dá sequência ao seu caldeirão de temas latinos com pitadas de lo-fi e folk e garante momentos de rara beleza, como “Daniel” e “Never Seen Such Good Things˜, duas faixas que são como um agradável balanço de rede. “Mi Negrita” conta com a guitarra e percussão do bróder Rodrigo Amarante.

Pra quem gosta de: Iron & Wine, Tim Buckley e Cat Power

Claro que ele insiste em tremer a voz como um cabrito (“Hatchet Wound”), mas se você fizer um esforço extra (e relevar, por exemplo, que o moço pegava a Natalie Portman) vai encontrar uma boa dose de sinceridade musical. Fernando Halal

Foals Holy Fire Warner Music Holy Fire é a tentativa do Foals de se transpor do indie ao mainstream, apesar de os limites entre os tais gêneros se mostrarem, atualmente, transparentes e confusos. Para tal, deu-se a escolha de Alan Moulder e Flood na produção – dupla que já esteve com U2 e The Killers, por exemplo. Ambientações intensas e experimentais permanecem, só que de forma enxuta. Dois singles revelam tal intenção, de querer soar ainda grande, embora de modo mais redondo: “Inhaler” e “My Number”. A primeira é trabalhada em delays e lembra o post-rock, no refrão gritado porém bem polido. A segunda, dançante, é o provável hit – o groove marcado nos versos traz guitarras suingadas num total quê de Talking Heads, seguidas por coros chicletes, entoando “uh, uhs!” que funcionam como roupagem pop. Pra quem gosta de: The xx, Friendly Fires e Bloc Party

O set segue em rápidos laivos de industrial-alternativo, com exceção de “Late Night”, na qual, como um respiro tênue e distante, há passagens instrumentais livres e cruas em clima de jam. Nícolas Gambin


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pra ver Scott Pilgrim Contra o Mundo

EUA/Inglaterra/Canadá, 2010

Direção: Edgar Wright Com Michael Cera, Mary Elizabeth Winsted, Kieran Culkin, Anna Kendrick, Jason Schwartzman.

Scott precisa organizar sua casa. Scott precisa fazer sua banda acontecer. Scott precisa de alguém que o ame como ele é. Para tanto, terá de enfrentar os sete ex-namorados de sua atual. O detalhe é que Scott o fará passando de fases como num videogame de 8 bits – com direito a moedas de ouro, 1-UPs, onomatopeias e tudo mais que vier pelo caminho. Baseado na cultuada série de HQs de Brian Lee O’Malley, Scott Pilgrim é diversão acelerada do início ao fim. Pequena obra-prima do cinema pop, o filme tem trilha sonora explosiva (leia-se Rolling Stones, Beck e T-Rex) e um cast perfeito, a começar por nosso herói Michael Cera. E quem não se apaixonar por Ramona Flowers, a princesa-de-cabelos-coloridos, bom sujeito não é. Fernando Halal

Sweet Sweetback’s Baadasssss Song EUA, 1971 Direção: Melvin Van Peebles Com Melvin Van Peebles, Simon Chuckster, Hubert Scales, John Dullaghan e Rhetta Hughes

Muitas vezes citado como o primeiro blaxploitation, o filme de Melvin Van Peebles nada tem a ver com a enxurrada de obras sobre o universo negro que Hollywood abocanhou nos 70’s. É um filme independente, feito com muita vontade e pouca grana – o próprio Peebles interpreta um garanhão do gueto que acaba tendo problemas com a lei e precisa encarar uma fuga interminável. Foi um sucesso. As comunidades negras identificaram no embate entre o protagonista e a polícia uma metáfora para a luta contra a opressão branca nos EUA do início dos anos 1970. Mesmo que o filme fosse pesado, carrancudo, a mensagem era clara: é possível vencer. E ainda tem a trilha jazzística dos novatos Earth, Wind & Fire, que, até hoje, esperam o cachê prometido. Leonardo Bomfim


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pra ler

DISCOTECA BÁSICA

Commando – A Autobiografia de Johnny Ramone

Alma no Exílio

De Johnny Ramone Editora: LeYa

De Eldridge Cleaver Editora: Ramparts Press Inc.

178 páginas

214 páginas

THE CURE Por Tony Aiex

Three Imaginary Boys O primeiro disco de uma banda é sempre muito importante para entender elementos que nunca deixarão de estar presentes em sua carreira. E como aqui o Cure lançou um sólido e elogiadíssimo primeiro álbum com direito a cover de Jimi Hendrix, vale muito a pena.

Finalmente publicada no Brasil, a autobiografia do mais odiado dos Ramones sai em uma edição caprichada, com capa dura e recheada de fotos. Mas o quente do livro é mesmo o conteúdo: sem papas na língua, Johnny revela como um sujeito conservador acabou se tornando guitarrista e manda-chuva de uma banda essencial do punk – e, com rédea curta, lutou para mantê-la na ativa por duas décadas.A famosa treta com o vocalista Joey (de quem roubou a namorada), as infrutíferas tentativas de atingir as paradas nos EUA, o período como delinquente juvenil e a batalha – perdida – contra o câncer são relatados com uma sinceridade assustadora. Commando prende a atenção não apenas dos fãs de Ramones, mas de qualquer um que se interesse pela história do rock Daniel Sanes

“No lugar de reagir, é preciso agir”, diz uma passagem. Quando o controverso Alma no Exílio veio à tona, em 1968, Eldridge Cleaver era um dos nomes mais procurados pelo FBI – o cineasta Jean-Luc Godard financiou na surdina sua fuga para Cuba. O motivo oficial: um tiroteio com a polícia até hoje mal explicado. O medo real, entretanto, era a influência intelectual de Cleaver sobre os Panteras Negras, partido fundado em 66 para patrulhar os guetos norte-americanos contra a violência policial e informá-los sobre os seus direitos. Escrito na prisão, o livro escancara as experiências de um negro num país racista: do estupro de mulheres brancas como ato político à referência de Malcolm X na busca pela espiritualidade como inspiração para a violência revolucionária. Leonardo Bomfim

Boys Don’t Cry Mesmo que fosse muito bom, o Cure resolveu repaginar seu primeiro disco citado acima com 5 novas músicas incluindo o mega hit “Boys Don’t Cry”, que virou marca registrada do grupo.

The Head On The door Nesse disco vieram novos membros e velhos amigos, como Boris Williams, Simon Gallup e Porl Thompson, e o que poderia significar uma má mistura de ideias provou-se o contrário: um disco sólido com hits como “In Between Days” e “Close To Me”.


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Qual foi a música que mudou a minha vida?

__ por Cris Lisbôa

“’Take Five’, do Dave Brubeck Quartet. Foi por causa dessa música que comecei a ouvir jazz quando tinha, sei lá, 17 anos. Mudou a minha vida porque meio que pautou quase tudo o que ouvi depois dela.” Facundo Guerra, sócio dos clubs paulistanos Lions, Cine Joia, Vegas, Z Carniceria e Yacht.

2.Amarelinha | Foi a partir da Copa de 1954 que a seleção brasileira de futebol passou a usar a famosa camisa amarela. É que depois da derrota de 1950 – para o Uruguai, diante de um Maracanã lotado – o uniforme tradicional (camisa branca e calção azul marinho) foi considerado sinônimo de má sorte.

1.Dave Brubeck | O pianista Dave Brubeck foi gênio. Criou alguns dos grandes clássicos do jazz norte-americano, sempre com métricas próprias e quase improváveis. Jamais aprendeu a ler partituras. Odiava métodos. Montou o The Dave Brubeck Quartet em 1951, com o propósito de fazer o que bem quisesse com as canções. E fez. Transformou “Take Five”, música com um padrão de ritmo atípico, em hit no mundo inteiro. A ponto de tornar Time Out, lançado em 1954, no primeiro álbum de jazz a atingir a marca de um milhão de cópias vendidas, o que colocou Brubeck na capa da revista Time – antes dele, apenas Louis Armstrong tinha estampado a publicação. O pianista faleceu no ano passado, em 5 de dezembro, um dia antes de comemorar seu 92o aniversário. Mas, se você tiver ouvidos bem atentos, sabe que ele ainda está bem vivo.


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6.Tecnobrega | Rainha do tecnobrega paraense, Gaby Amarantos defende que acontece com o tecnobrega mais ou menos o que rolou com o jazz no passado. “As mesmas pessoas que um dia o discriminaram vão descobrir, mais tarde, que ele é um dos ritmos mais sofisticados do mundo”, diz ela. Gaby está mais próxima de Dave Brubeck do que você imagina.

3.Ary Barroso | “Camisa Amarela” é uma canção de Ary Barroso que foi regravada por Nara Leão em 1967, ano em que a bossa-nova estava no auge e os joelhos da cantora eram responsáveis por boa parte do tesão nacional.

5.Apartament Jazz | é um média metragem experimental feito por Tatá Aeroplano e Júpiter Maçã. Também é o apelido do famoso apartamento de Tatá em São Paulo, cuja sala viu nascer boa parte da MPB contemporânea.

4.Troféu Sexo MPB | Troféu Sexo MPB é um prêmio criado pelo jornalista Rodrigo Faour, autor do livro A História Sexual da MPB - a Evolução do Amor e do Sexo na Canção Brasileira. A obra já inspirou programa de rádio, disco e uma série no Canal Brasil. Segundo Faour, a ideia é destacar o trabalho de artistas que tem “tesão no palco”, ou seja, que se entregam de fato, transformando shows em espetáculo. Agnaldo Rayol e o rapper Flávio Renegado são alguns dos artistas que já levaram o troféu pra casa.




_FOSSO É o lugar que fica de frente ao palco. diretamente dali, os shows DO VERÃO Você sabe: rapadura é doce. Mas não é mole. Ninguém lembra disso quando vê o fotógrafo no show, bem na frente, lugar privilegiado, cara a cara com o ídolo, nariz no palco. Mal sabem que não pode ter flash. Que ele só vai ficar ali durante algumas músicas. Que o tênis tá molhado, o estômago tá roncando, as costas moídas e o nariz descascou de tanto sol. Que fotógrafo de show tem que contar tanto com a sorte quanto com a técnica. E que nunca dá pra fechar os olhos e curtir o som. Nas próximas páginas, os melhores shows da temporada.


GRIZZLY BEAR //073 / CIRCO VOADOR / RIO DE JANEIRO

Foto: fernando schlaepfer


074\\

VOODOOHOP / VIDIGAL / RIO DE JANEIRO

Foto: ARIEL MARTINI



076\\ MECA FESTIVAL / FRIENDS

/ MAQUINÉ-RS

Foto: FERNANDO SCHLAEPFER



078\\

MECA FESTIVAL / DRAGONETTE / MAQUINÉ-RS

Foto: HICK DUARTE ANDREW BIRD / CINE JÓIA / SÃO PAULO

Foto: FABRÍCIO VIANNA



080\\ PAUL BANKS

/ CINE JÓIA / SÃO PAULO

Foto: FABRÍCIO VIANNA



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Além de você, nós e os personagens desta edição, quem mais passa por cima – ou por baixo, vá lá – dos obstáculos à sua frente e se mantém na luta? A gente foi ao Facebook descobrir entre os leitores da NO/ZE.

C

M

Y

Alex Beserra Nicolau Black Keys?

Isabela Balbo Gossip, “Move in the Right Direction”.

CM

MY

Marcelo Melo Criolo.

Elton Hélio Dead Fish.

Tiago Hedler Black Keys, claro.

Cintia Kovara TULIPA RUIZ, sem dúvida nenhuma!!

Laísa Guedes Pro Red Hot Chili Peppers e pro U2 custaram uns três álbuns... Mas 10 anos eu não sei não... hehe.

Gian Fontoura Survivor - Eye Of The Tiger.Yeah!

Diego Consalter Poderia ter levado mais uns 50.... Bruno Pettinelli Lenine! NR: Pô, Diego, que raiva no coração. Até o Dave Grohl diz que “Gangnam Style” é uma de suas músicas favoritas da última década (não que a gente concorde, só pra deixar claro ha ha).

Marco Aquino Miles Davis, John Coltrane e Bob Dylan. Gabriel Silva You Shook Me All Night Long - AC/DC. NR: Já estamos grudando na parede da redação o pôster do Rocky Balboa pra não esquecer a dica, ok Gian?

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