Revista Noize #54 - Junho de 2012

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 Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

NOIZE FUZZ

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 Shows, Festas e Feiras

 Festivais Independentes

• COLABORADORES 1. Ariel Martini_ Ainda insiste em fazer fotos de shows. flickr.com/arielmartini 2. Fernando Schlaepfer _ Designer por formação, ilustrador por aptidão, DJ por diversão e fotógrafo por paixão. 3. Lalai e Ola_ Lalai trabalha com mídias sociais, mas sua paixão é música. É DJ e produz a festa CREW. O Ola trocou a Suécia pelo Brasil, o design pela música e fotografia. 4. Renata Simões_ Renata Simões, 34, é jornalista. Já produziu documentários, apresentou os programas Vídeo Show e Urbano, colabora com revistas e sites e ainda tem um programa diário no rádio em São Paulo, onde mora. 5. Nicolas Gambin_ Jornalista freela. Aprecia tocar The Meters com amigos nas horas vagas. 6. Daniel Sanes_ Jornalista por formação, lunático por opção e roqueiro de nascimento. Um dos editores de música do site www.nonada.com.br. 7. Pati Grejanin_ Faz moda de dia e música a noite. Tem há 9 anos a Laundry, marca de roupa cheia de identidade musical. Uma paixão não anda sem a outra. 8. Fernando Halal_ Jornalista malemolente, fotógrafo de técnica zero e cinéfilo dodói. Não morre sem ver um show do Neil Young. www.flickr.com/fernandohalal 9. Dani Arrais_ Jornalista, nasceu em Recife, mora em São Paulo há quase cinco anos. Começou o donttouchmymoleskine.com há quatro anos e de repente viu que falava de amor quase o tempo todo. 10. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema. Edita o freakiumemeio.wordpress.com 11. Flávia Lhacer_ É stylist e figurinista da dupla Debbies. Com o tempo que sobra ela borda e tricota sem parar. 12. Rafael Kent_ Onipresente. www.rafaelkent.com

TIRAGEM: 30.000 exemplares CIRCULAÇÃO NACIONAL

• FOTO DE CAPA_ Anwar Hussein Hulton Archive/Getty Images

Os anúncios e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da revista. Revista NOIZE - Alguns Diretos Reservados.

• EXPEDIENTE #54 // ANO 6 // JUNHO ‘12_


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REVISTA NOIZE. TUMBLR. COM 3

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_foto: RAFA ROCHA

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NOME_ Luisa Micheletti O QUE FAZ_ Atriz e apresentadora do programa Bastidores, do Multishow UMA MÚSICA_ “Space Oddity”, do David Bowie “Assim como lugares e cheiros, músicas compõem cenários na memória. Depois elas funcionam como uma forma de achar identidade, pertencimento. Hoje, a música, além de fazer parte do meu trabalho, é uma atividade paralela (tenho uma banda com amigos). A música é um critério para mim, um ponto de vista, por onde interpreto a realidade.”


“Ela ainda me liga quando está bêbada.” Pete Doherty_ sugerindo que a top Kate Moss ainda está “apaixonada por mim”


//013

“O sucesso da Adele fez com “O nosso novo álbum é melhor que o do Jack White.” Jack Black, que a Amy ficasse surtada.” ator e vocalista do Tenacious D_ cheio de ironia ao comentar Rize Of The Fenix, que, Mark Ronson, músico e produtor_ ao

segundo ele, bate Blunderbuss

revelar que conversou com Amy Winehouse sobre um novo álbum, mas que ela “não estava bem”

“Ta loko!!!”

Gabriel Medina, surfista profissional_ emocionado no Twitter de-

pois de compartilhar uma foto da modelo Nicole Bahls

“Eu mal posso esperar para discotecar em frente a milhares de pessoas.” Paris Hilton, patricinha e, supostamente, DJ_ ao comentar o DJ Set que faz neste mês no Pop Music Festival, em São Paulo

“O conjunto faz parte da nossa trilha sonora. As crianças se identificam muito com o Restart. A não ser a Maisa que prefere o Justin Bieber.” Reynaldo Boury, diretor da novela Carrossel_ comentan-

“O Guinness Book é uma organização muito elitista. Eles apenas têm um escritório cheio de gente que decide o que um álbum é ou não é.” Jack

do a participação de Pe Lu e cia. no remake do SBT

White_ magoado depois que o Livro dos Recordes não deu ao White Stripes o título de “o show mais curto da história”

“Se um garoto emo tem uma franja cobrindo o olho o tempo todo, “Nosso novo álbum está a um esse olho não vai ver muitos detalhes. E se acontecer desde ou dois anos de distância.” cedo, o olho vai se tornar amblíope.” Andrew Hogan, diretor da As- Malcolm Young, guitarrista do AC/ sociação de Optometristas da Tasmânia_ dando um alerta aos emos e seus cortes

DC_ dando fim ao otimismo do vocalista

de cabelo

Brian Johnson

“Como estou orgulhosa por ver a coragem e força da minha irmã.” Ivete Sangalo_ no Twitter, parabenizando Xuxa por revelar no Fantástico

“O Scott Weiland está fora de “É nosso trabalho lutar contra controle.” Slash_ deixando claro por o pop sem cérebro.” Tom Chaque o Velvet Revolver não deve voltar aos

plin, vocalista do Keane_ defendendo

palcos tão cedo

que “vivemos na geração Simon Cowell”

que foi vítima de abuso sexual

“A voz dela é inesquecível.”

Ba-

rack Obama, presidente dos EUA_ lamentando a morte de Donna Summer

“Eu certamente vou convidar o Barack Obama para tocar no meu festival.” Jay-Z_ o rapper quer tentar o presidente dos EUA para o seu Budweiser Made In America Festival, em setembro, na Filadélfia

“Tenho mania de usar cotonete “Eu nunca transaria com uma groupie.” Ed Sheeran, cantor e compositor quando estou nervosa.” Paula britânico Fernandes, sertaneja


Frontal, fé ou foda-se?_ Você pensa que pode, acredita que manda, jura que comanda. Mas aí “vem a roda viva e carrega o destino pra lá”. E então os caminhos se embaralham, mudam os planos e é preciso refazer sonhos. Mais ou menos como aconteceu com algumas pessoas com quem conversamos para fazer esta edição. Brittany Howard, do Alabama Shakes, ainda se espanta com pedidos de entrevistas de lugares tão exóticos como o Brasil. E Adriano Cintra e Marina Vello, ex CSS E ex Bonde do Rolê, que chutaram a porta da zona de conforto e começaram de novo. E Bowie, ah, Bowie, o eterno homem que vive o que imagina e por isso mesmo muda tanto o tempo todo. Que nos move é o que não podemos controlar. Então relaxa, coloca um fone e vai viver, vai. Hasta, Cris Lisbôa


Foto: Rafa Rocha


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Publieditorial

ESPECIAL SKOL SENSATION 40 mil pessoas_E todas vestidas de branco. Réveillon em junho com direito a chuva de papel picado, telões de 100 m² de LED, raio laser, um palco em forma de pirâmide em que o público podia subir e uma pista de dança de 80.000 metros.

7 horas de festa_ Sem parar a música. Tinha que ter um espacinho pra sentar, comer, ouvir. Mas ninguém esquentou cadeira, não. Tempo médio de permanência na área de alimentação? 15 minutos. Joris Voorn, 2000andOne, Fedde Le Grand, Mr. White ,Wehbba. 7 DJs + 1mC_Se revezando entre sets de house e Red Hot Chili Peppers, o hino nacional, Lana del Rey, New Order, Queen, The Rapture, Justice e etc. e tal.

80 mil luvas_Em cores flúor que brilhavam no escuro e viraram atração extra quando as pessoas decidiram fazer passos coreografados. Com as mãos. 250 caixas de som_Que geraram 700 mil watts em 360º.

1 festa secreta dentro da festa. Beats Club 6.9, uma balada dentro da balada onde só entrou quem teve a sorte de ser escolhido por uma das moças que circulavam na pista. Lá dentro, um líquido exclusivo de Skol Beats com 6,9% de teor alcoólico e o som de Killer On The DanceFloor, Leozinho, integrante do Life is a Loop e a dupla Dubshape formada pelos DJs Ale Reis e João Lee.



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Rafa Rocha

5 perguntas e uma baforada de cigarro com Carl Barât Por Marília Pozzobom

Ele já foi um Libertine, já esteve à frente dos Dirty Pretty Things e já carregou o título de “a salvação do rock britânico”. Hoje, atende – simplesmente – por Carl Barât. Depois de anos aguentando o junkie Pete Doherty, o cara está em voo solo. E a recente visita ao Brasil prova que ele está bem assim.

aquele riff de “Smells Like Teen Spirit” quando eu era novo. E achava o máximo.

As novas bandas encontram na internet um grande aliado na divulgação de sua música. Se os Libertines surgissem hoje, você faria algo diferente? Na verdade, eu nem sei que conselho daria para alguém que está começando. Todo mundo compartilha tudo, baixa tudo de graça. Os Libertines tentaram fazer isso em sua época, mas eu não saberia nem por onde começar hoje. Imagino que ainda tenha muito a ver com os fãs.

Pois é, muitos defendem que o rock está “bom moço” demais. O que você acha de bandas como o Vaccines, por exemplo? (Reflete um pouco) Acho que eles não fazem mal algum. Mas olha, eu não vejo exatamente dess a forma. Acho que, por enquanto, o rock está se saindo bem.

Quinze anos atrás, quando você começou a tocar, o rock britânico era referência de si mesmo. Todos queriam ser o novo The Clash, o novo Joy Division. Você crê que embarcou nessa também? Eu nunca quis ser o novo Clash ou o novo Joy Division. Eu só fazia música. Mas eu lembro que tocava sem parar

Quem você queria ser? O Velvet Underground. Eu acho que eles têm um tom meio sujo, meio cru. Eu gosto disso.

Você está migrando para outros caminhos, está encarnando Nero em uma montagem no Théâtre du Châtelet, em Paris. Como você se vê daqui a 10 anos? (Uma baforada no cigarro) Eu não faço ideia.



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FILME | Viver Mata

TWEETS |

Reprodução

_ Se você acha que o trânsito em São Paulo é ruim, imagine como é um dia de engarrafamento na maior cidade do planeta, a Cidade do México. Nesse filme do director Nicolás Echevarria, um dia de cão é pano de fundo para o desenrolar de paixões, mentiras, afetos, desafetos, conflitos e um desfile dos tipos mais excêntricos da América Latina. (Vivir Mata, México, 2002)

BLOG | Dias Felizes _O que interessa é só prestar atenção aos sobressaltos, diz o subtítulo. O blog, de Cristina M. Fernandes e do escritor português Rui Manuel Amaral, é cheio deles. Boa literatura, imagens intrigantes e versos escolhidos a dedo e sem maiores explicações trazem uma boa dose de surrealismo e poesia ao seu leitor de feeds desde 2004. last-tapes.blogspot.com.br/

@ mrguavaman: sarcástico jornalista Rogério Ortega assume sua verdadeira identidade sem deixar de lado o fantasma do Ruy Goiaba – agora em versão de bolso. @Lecindie: todos os babados da cena, qualquer cena, comentados na maior catiguria pela Leci Brandão do indie. Imperdível. @mirandanilo: mídia social em sua forma mais pura, abstrata e divertida. Siga pra tentar entender, mas não garanto sucesso.

@narcisaoficial: ai que loucura! Notícias do mundo, das novelas, da programação de TV, em drops bem-humorados na visão da socialite Narcisa Tamborideguy

PERFIL DO FACEBOOK | /PensandoPensamentos

_ Sua malcriação diária; centenas de maneiras diferentes de mandar quem está te enchendo pra aquele lugar – de um jeito bonito, mas eficaz. facebook.com/PensandoPensamentos


Convidado do mês I Eva Uviedo Diretora de Mídias Digitais na Trip Editora e ilustradora nas horas vagas. Além de desenhar para revistas, capas de discos e camisetas, em 2010 lançou o livro Nossa Senhora da Pequena Morte, pela Editora do Bispo, com textos de Clara Averbuck. Suas ilustrações, fotos, vídeos e outros trabalhos podem ser encontrados em flavors.me/evauviedo

_ Versão de Daniel Belleza para uma canção quase esquecida dos anos 70, “Androginismo”, dos Almôndegas. A banda gaúcha, a primeira dos irmãos Kleiton e Kledir, ajudou na época a criar uma identidade para o pop rock gaúcho, trazendo elementos do cancioneiro regional. Na versão atualizada, guitarras sujas, teclados e muita gritaria pra contar a história do rapaz andrógino que está escandalizando a cidade. soundcloud.com/dbelleza/androginismo

Reprodução

DESCOBERTA | Rafael Castro

UM ARTISTA PARA CONHECER | Nara Amelia Reprodução

Divulgação

REMIX | ”Androginismo”

_Conheci o trabalho do Rafael Castro no Facebook – ele é namorado de uma amiga, a cantora Tulipa, que tem um trabalho que eu adoro – e viciei na hora. A princípio ele te ganha com as letras cáusticas, inteligentes e engraçadas, depois com a sonoridade ora setentista, ora folk ou dançante; e a cereja do bolo é saber que é ele quem toca com maestria todos os instrumentos dos seus oito discos, distribuídos gratuitamente na internet. Virei fã. rafaelcastro.com.br

_Conheci o trabalho da artista doutoranda em Poéticas Visuais por meio do projeto Rumos Artes Visuais, em exposição no Itaú Cultural, SP; e fiquei impressionada ao ver imagens de grande impacto surgirem a partir de traços e figuras singelas. As gravuras, representando animais e humanos em situações pouco comuns, ganham acabamentos em aquarela, costuras, bordados e outras delicadezas. naramelia.blogspot.com.br

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_Por Lalai e Ola Persson

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MAS DEVERIa_

Divulgação

SEAPONY Não há como não se derreter pelo indie açucarado e fofo do trio Seapony, vindo da chuvosa Seattle. As músicas são na maioria tocadas com três acordes, embaladas com a voz doce de Jen Weidl. A banda acabou de lançar o primeiro álbum, Go With Me, com canções falando sobre amor que nos deixam nostálgicos e são perfeitas pra embalar sonhos.

Reprodução

Divulgação

facebook.com/seaponyband

LALEH

DEAD MELLOTRON

Laleh nasceu no Irã, mas mudou-se pra Suécia aos 12 anos. Em 2005 lançou seu primeiro álbum, que estourou nas rádios suecas. Ela tem uma voz marcante e é difícil não se viciar nas suas canções. No início de 2012 lançou seu terceiro álbum Sjung, tão bom quanto o primeiro, dessa vez com faixas em inglês. Corra atrás se você curte Bat for Lashes e Feist.

Dead Mellotron produz um ótimo shoegaze, nada complexo ou pretensioso demais, e sim música boa, levando seus pensamentos pra longe até entrar o vocal, que traz a sensação de estar assistindo a eles ao vivo. Isso confirma que a banda é ótima no quesito estúdio. O novo álbum, Glitter, com apenas sete faixas, é incrível e vale a ouvida.

myspace.com/lalehsweden

facebook.com/deadmellotronband



_ por Renata Simões renatasimoes.com

And we all shine all A internet surpreende sempre ao trazer velhas imagens à luz, e numa dessas navegações encontrei boiando um filme de Super 8mm que trazia uma festa. Edição truncada com vários trechos colados, aquela cara de memória perdida pelo tempo, um jardim e várias pessoas. John Lennon,Yoko Ono e Miles Davis estão lá. Warhol também aparece, como em figuração de luxo – ele sempre com um pé nos 15 minutos. O trio aparece em várias cenas, acompanhado de Betty Davis, mulher de Miles na época. Jogam basquete, conversam, e a gente se entretém com as roupas, o fusca, tudo é de tirar o fôlego e comprova belamente que a memória pode ser uma boa amiga. Se você gosta desse tipo de imagem, vale ver também o vídeo recuperado por um cara, no qual a mãe passeia em Londres e enquadra um Bowie meio tímido andando por Oxford Street. http://bit.ly/KRykWd http://bit.ly/LeSfx7

They say I’m different (1984) E já que falamos dela, se você ainda não conhece uma das mulheres de Miles, Betty, vai atrás dela. They Say I’m Different é um discaço, e a faixa-título faz morto requebrar.

Reprodução

024\\

Aquilo que eu mais desejo Hoje acho que o que mais desejo é a hora do recreio: tanque de areia, lanche, beijo roubado dentro da pilha de pneus. Good Karma, Instant Karma. Aquilo Que Eu Mais Desejo é um filme japonês dirigido por Hirokazu Koreeda. O filme retrata a infância, tema universal, de maneira interessante e contemporânea, acompanhando a relação de dois irmãos após a separação dos pais – onde cada irmão foi viver com um dos parentes. É raro um filme que traz como cená-

rio o Japão de hoje, sem mitologias e fantasias tão comuns ao imaginário ocidental. Crianças, escola, rotina, refazer a vida, os dois mundos que vão se distanciando e que querem se manter conectados, coisa que o celular apareceu pra ajudar. Após a descoberta de um espaço mágico para realizar desejos, eles marcam um encontro no cruzamento de trens, desejos a postos, amigos ao lado. Tem um quê de Conta Comigo (1986) e vale a pena.



_Por Daniela Arrais donttouchmymoleskine.com

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the cigarettes Eu devia ter uns 16 anos quando ouvi The Cigarettes pela primeira vez. E o que acontece com as músicas que a gente ouve nesse tempo é que elas ficam pra sempre na gente e trazem lembranças lindas a cada vez que a gente coloca um disco pra tocar. No começo do ano, fiquei superfeliz com a notícia de que o terceiro disco da banda ia sair. E o que acontece quando eu gosto demais de uma coisa? Fico logo querendo fazer uma entrevista. Chamei meu querido amigo Eugênio Vieira, que também ama o Cigarettes. Ele chamou o Pedro Palhares, que chegou com camiseta da Pacolli, que também apareceu no violão do Marcelo Colares na forma de adesivos de pure love. Gravamos a entrevista aqui em casa. E o resultado é mais uma linda edição do Don’t Touch My TV! Leia uns trechinhos. “Quando você se permite perceber formas novas de fazer as coisas, isso contribui pra que você se expresse melhor, pra que você diga as coisas de uma forma mais abrangente, mais clara; acho que esse é o processo; (...) quem cria, faz arte, é porque tem alguma coisa pra dizer, e a luta é dizer cada vez melhor.” “A música só fica pronta mesmo quando ela sai de você e atinge outras pessoas” E veja

bit.ly/L5A5Bj

Nota da redação: Cigarettes está de volta. Está, mas na verdade nunca se foi. mmrecords.com.br/200611/cigarettes/



_Por Flávia Lhacer e Pati Grejanin thedebbies.tumblr.com www.laundrysp.com.br

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1.

1. O listrado, inspirado no look dos marinheiros, difundido na moda pela estilista Coco Chanel nos anos 30, ainda baila na pista. Agora ele está em todas as cores, vermelho, marinho, amarelo, sempre alternando com o clássico branco. No mesmo look boyish, o sapato oxford com ponta metalizada finaliza a produção perfeitamente. 2. Um mix de referências boas de décadas diferentes: o colar de marfim 70’s, que é um acessório mais pesado, equilibra perfeitamente com a renda romântica. O charme do coque mais desarrumado e o cardigã usado como cachecol: a gente AMA tudo no mesmo look. 3. O inverno chegou de verdade, tá? A estampa divertida da camisa masculina traz uma informação de moda diferente do clássico xadrez, aquele tipo lenhador, que os meninos estão mais acostumados a usar. E os sapatos Dr. Martens, que já foram superpopulares entre os punks e skinheads ainda estão pelas calçadas e vão ficar por muito tempo.

2.

3.



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1.

Roberto e Erasmo

2.

B-52’s

“Indiscutivelmente, os maiores artistas brasileiros de todos os tempos.”

“Batidas ultradançantes e um dos guitarristas mais criativos de todos os tempos.”

3.

Pixies

“Vivemos os anos 90 intensamente.”

4.

Dick Dale

“A galera lembra dele pela trilha do Pulp Fiction, mas ele deu aula até pro Jimi Hendrix.”

1. Juntos, o Rei e o Tremendão escreveram mais de 500 canções. 2. O tal guitarrista é Ricky Wilson, que morreu em 1985 – aos 32 anos – durante as gravações do álbum Bouncing off the Satellites. Wilson era portador do vírus HIV. 4. Dick Dale ganhou o mundo quando Quentin Tarantino escolheu “Misirlou” para embalar os créditos iniciais do filme. 5. Os Sonics estão entre os grupos que fundaram a cena musical de Seattle. 6. Mis-


5.

Sonics

6.

Sonido Amazonico

“E muitas outras garageiras dos anos 60 (e as atuais também, por que não?).”

“Desde Los Mirlos e Los Destellos até a surf music da pororoca dos Mestres Vieira e Aldo Sena.” 7.

Devo

“Já eram multimídia antes de essa palavra ser inventada. Entenda você também a teoria da De-Evolução.”

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Divulgação

Autoramas RRRRRRRock! É o que bastaria para descrever esse trio carioca. Meio surf music meio new wave, tão Jovem Guarda quanto punk, o Autoramas é dono de um dos melhores shows de rock do país. Música Crocante é o seu novo e sexto disco.

8.

Elvis

“É incrível como pouca gente realmente conhece a música dele. São três décadas de alta produção maravilhosa.”

tura de chicha, cumbia, guitarras e psicodelia. É por aí o Sonido Amazonico, tão popular no Peru nos anos 60 e hoje resgatado por grupos como o Chicha Libre, de NY. 7. “Atingimos o ápice do avanço tecnológico e, em vez de evoluir, passamos a retroceder, a voltar à época das cavernas,” dizia o baixista Gerald Casale no início dos 70’s. Nascia a de-evolution. Nascia o Devo. 8. Entre 1954 e 78, Elvis Presley lançou 107 singles, 30 EPs e 74 álbuns.




034\\ noize.com.br

[+1] “Five Years” é a música de abertura de Ziggy Stardust. [+2] bit.ly/Ki1fFj [+3] Glam ou glitter rock. Subgênero do rock em que o visual andrógino era tão importante quanto a música. Em meados dos anos 70, artistas como New York Dolls e Gary Glitter o tornariam popular. No Brasil, o grupo que teve visual mais próximo do glam foi o Secos & Molhados, liderado por Ney Matogrosso. [+4]

[+5]

[+6] O vídeo Ziggy Stardust:The Motion Picture registra a última apresentação de Bowie como Ziggy, em 3 de julho de 1973.

1972. Segundo as palavras de um alienígena pra lá de suspeito, o mundo tinha exatos cinco anos+1 pela frente. Obviamente, Ziggy Stardust, o tal E.T., não era dotado de grande precisão matemática. Mas convencia com bons argumentos, apresentados em forma de canções memoráveis e um impacto visual chocante. Sim, pois se um homem vestido com roupas espalhafatosas, cantando de forma provocativa e insinuando-se bissexual ainda assusta algumas pessoas hoje em dia, imagine isso quarenta anos atrás. Se The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (ou apenas Ziggy Stardust) é o melhor álbum de David Bowie, é algo a ser debatido. O que não se discute é sua importância na história da música. O disco é o que se chama de “divisor de águas” na carreira do artista britânico. Foi a partir dele que Bowie conseguiu invadir as paradas norte-americanas e se tornar uma estrela. E, principalmente, foi com Ziggy que Bowie deixou de ser apenas Bowie, o cantor, para encarnar uma série de personagens e outras facetas de si mesmo. Tornou-se o Camaleão do Rock. Mais que apenas um disco Conceitual, Ziggy Stardust conta a história de uma estrela do rock alienígena que vem à Terra para pregar uma mensagem de paz diante do fim iminente do planeta. No entanto, Ziggy cai diante de tentações pra lá de terrenas – a tríade sexo, drogas e rock’n’roll – e acaba ele próprio sucumbindo. Uma história relatada em onze faixas (ou capítulos) e que mereceria, no mínimo, mais uma página para ser esmiuçada. Mas a internet está aí pra isso+2. O fato é que, com esse personagem, Bowie deixou sua marca em tudo: na música, na moda, no comportamento. Se o mundo não acabou cinco anos depois, como previa Ziggy, ao menos já não era mais o mesmo. E como poderia ser, com bandas como T-Rex e Alice Cooper invadindo as paradas até então dominadas por nomes como America e Eagles? A era do glam rock+3 estava começando. O diferencial de Ziggy, o álbum, é que ele conseguiu se desvencilhar das amarras do estilo. “Uma quantidade razoável de artistas consegue fazer um

ótimo disco, um trabalho sonoramente marcante. O que David Bowie fez com Ziggy Stardust foi muito além disso tudo”, observa Paulo Terron, editor da Rolling Stone Brasil. Terron defende que não é apenas a sonoridade do álbum que entrou para a história. “Tudo nele é marcante e icônico: a capa, a história, o personagem, o visual de Ziggy, os shows. Parece até algo que, se tivesse sido extremamente planejado, não teria dado certo. Tanto que o Bowie seguiu com outros personagens, mas nenhum chegou perto de Ziggy. Sem contar que a forma como o Bowie brincou com androginia naquela época... Só isso daria um livro”, completa. Para Lúcio Ribeiro, jornalista responsável pelo site Popload, o álbum reflete a cultura de uma época, mas, de certa forma, a transcende. “Acho o disco (ainda) um dos mais impressionantes da história do rock, porque ele consegue ir além da música. É um filme sonoro, desses que você entra no personagem e consegue ver imagens nas músicas”, define o jornalista. Para logo emendar: “Bowie é gênio, principalmente nesse período todo do começo dos anos 70”. Visionário do pop O interesse de Bowie pelo espaço sideral não surgiu da noite pro dia. Já em 1969, Space Oddity+4, segundo álbum do britânico, trazia em sua faixa-título uma demonstração do que viria pela frente – a letra era a representação perfeita de um solitário astronauta fora de casa. Em Hunky Dory +5, lançado dois anos mais tarde, o megassucesso “Life on Mars” dava continuidade à temática especial. Ziggy levou tudo a proporções muito maiores, aproveitando também o potencial performático do cantor e o visual impactante do personagem – que, por algum tempo, acabaram se confundindo. O próprio Bowie admitiu ter mergulhado demais em Ziggy (e nas drogas), o que o levou a matar o alter ego posteriormente, com direito a show de despedida+6. No entanto, o alien ficou na memória do público. Mesmo com as muitas encarnações posteriores do músico, ele ainda é o mais lembrado. E confundido, já que, nos três álbuns subsequentes – Aladdin Sane+7,


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“Acho que sempre vai ter gente descobrindo o Bowie exatamente porque ele teve o dom de fazer coisas atemporais e, portanto, imortais.” Paulo Terron, Rolling Stone Brasil

Pin Ups e Diamond Dogs – o visual é praticamente o mesmo do famoso extraterrestre. Para a consultora de moda Costanza Pascolato, Bowie era uma espécie de visionário do pop. “Ele inventou uma ‘persona’ rock incomum, com verdadeiros personagens criados para si e uma delirante fantasia que lhe permitia recriar papéis como queria”, afirma ela. Na opinião de Constanza, isso fez com que, com Ziggy, o romantismo de uma performance de rock se transformasse em um verdadeiro teatro, exibindo uma imagem tão poderosa a ponto de influenciar o imaginário de jovens de uma época pré-televisão e videoclipes. “Sendo um ‘working class hero’+8, culturalmente ele também revolucionou. Foi um precursor com sua brilhante visão futurista sombria”, analisa a consultora de moda, citando as letras do single “Space Oddity” e do álbum Diamond Dogs. “Elas se identificaram com as ideias de filósofos e escritores de science-fiction que previam futuras decadências urbanas, assim como o domínio de uma impiedosa tecnologia, bem antes da internet.” Ascensão e queda Em matéria de vendagem, Ziggy Stardust não foi o auge de Bowie: o disco chegou ao quinto lugar nas paradas do Reino Unido e a um modesto 75° nos EUA. Quase todos os álbuns posteriores do cantor superaram, pelo menos, um desses postos. “Starman” +9 foi o único grande hit do álbum, e virou febre após uma histórica apresentação no Top of the Pops+10. Contrariando os números, a popularidade

do Camaleão crescia, muito por conta do enigmático personagem. Bowie percebia e, conscientemente ou não, passou a viver como Ziggy. Nas apresentações, o apelo sexual não se limitava ao figurino andrógino e incluía até uma simulação de sexo oral com a guitarra de Mick Ronson. Se o personagem serviu para dar vazão à tão falada bissexualidade de Bowie, também transformou o cantor em uma espécie de divindade entre os fãs. Muitos se diziam seguidores do “deus Bowie, o condutor de nossa espaçonave para outro mundo”. E o próprio começou a acreditar nisso, embarcando em uma viagem egocentrista regada a excessos. Até que Bowie cansou de tudo e, após 18 meses de turnê (que já incluía músicas de Aladdin Sane), anunciou, durante o famoso show do Hammersmith Odeon, em Londres, que aquele era o último dia de Ziggy na Terra – ou em qualquer planeta. O final apoteótico, é claro, foi com “Rock’n’Roll Suicide”, faixa que também encerra o álbum. “Minha personalidade estava sendo afetada. Começou a ficar perigoso. Eu realmente tinha dúvidas sobre a minha sanidade”, chegou a dizer o cantor, ao justificar o assassinato do personagem que o tinha tornado tão popular. Bowie teria outros alter egos, mas nenhum deles alcançaria a mesma notoriedade. O disco, o conceito, a imagem: todos os aspectos de Ziggy Stardust são únicos e representativos de um grande momento da história do rock. O que o Camaleão não imaginava é que Ziggy se tornaria, de certa forma, imortal.

[+7]

Bowie já encarnava outro personagem, mas, para muitos, ainda era Ziggy Stardust. O cantor então declarou que Aladdin Sane era “Ziggy na América”, onde estava começando a fazer sucesso. [+8] Citação à música de John Lennon gravada em seu primeiro disco solo, John Lennon/Plastic Ono Band, de 1970. [+9] No Brasil, “Starman” virou hit entre os anos 80 e 90 de uma outra forma: gravada pela banda Nenhum de Nós, com o nome de “Astronauta de Mármore”. [+10] Famoso programa da BBC que reunia grandes artistas do pop e rock para performances ao vivo.


noize.com.br


DAVID BOWIE



DAVID BOWIE


_ENTREVISTA CRISTIANE LISBÔA e tOMÁS BELLO

_TEXTO CRISTIANE LISBÔA

_FOTO autumn de wilde


ALABAMA SHAKES //041

Blues clássico, rock dos anos 70, soul, guitarra, uma vocalista de voz poderosa, o tédio de ser jovem em uma cidade pequena e chata. Você já viu esse filme. Mas agora a trilha sonora está bem melhor. O Alabama Shakes – a já maior revelação de 2012 – lança só agora Boys & Girls, álbum de estreia +1 que desbancou Adele do primeiro lugar da parada britânica de discos e não para de tocar em iPods, festas em casa, rádios e aí na sua casa bem agora enquanto você nos lê. Brittany Howard, a dona da voz ao redor da qual a banda orbita, ainda se impressiona com pedidos de entrevista de lugares tão distantes do Alabama que carrega no timbre, no coração e no braço. Mas em meio a uma turnê com Jack White (um de seus ídolos) conversou com a gente mesmo assim.


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Você começou a fazer música porque não tinha nada mais pra fazer em sua cidade ou foi um desejo/interesse genuíno? Tédio foi, definitivamente, um grande fator para comerçarmos a fazer música. Não há muito o que fazer em Athens, Alabama. Mas não foi apenas o tédio, todos nós tínhamos um desejo de fazer isso. O tédio simplesmente acelerou o processo (risos).

mo bandas menos conhecidas, como os Dexateens, o Fly Golden Eagle e tantas outras. É realmente muito legal e animador ver tanto rock ‘n’ roll bom saindo do sul ultimamente.

Em outubro do ano passado, Alex Turner, vocal do Arctic Monkeys, ouviu o single “Hold On”, que já estava rodando de blog em blog. Ele deu a dica para a revista NME, que convidou a banda

Athens+2 é uma cidade de 20 mil habitan-

para tocar na NME Awards Tour, turnê que todo

tes no norte do supracitado Alabama. Nas noites

ano escolhe as principais bandas do cenário

de insônia, Brittany, ainda na adolescência, co-

alternativo europeu para tocar em shows pelo

meçou a estudar música por conta própria: com

Reino Unido. Pronto. Mesmo sem muito o que

uma guitarra velha e um gravador no qual regis-

mostrar, em algumas horas já não havia ingresso

trava canções. Até que conheceu Zach Cockrell,

para assistir aos Shakes. E aí, de uma hora pra

(o hoje baixista) na escola, eles começaram a

outra, elogios, convites, fãs anônimos e famosos e

trocar referências, conheceram o guitarrista He-

toda a mise en scène que envolve uma novidade.

ath Fogg, o baterista Steve Johnson e estão muito

Mesmo assim, a gravadora ATO Records marcou

mais longe do que conseguiam imaginar.

o lançamento do disco para apenas seis meses depois, mais precisamente agora+3.

[+1] Que chega às lojas do Brasil na primeira semana de junho, pela Lab 344 [+2] Fica a uma hora de distância do Muscle Shoals, estúdio conhecido por ter uma excelente banda que acompanhou discos de músicos como Aretha Franklin, os Rolling Stones e Elton John. [+3] O mercado musical ainda não sabe lidar com a internet? Isso é outra pauta, meu bem.

O Alabama Shakes começou com você e o Zac escrevendo músicas e experimentando sons. Por que chamar outras pessoas para fazer parte da banda? Foi algo como sentir a necessidade de ter outros músicos ou instrumentos? Sim, com as músicas que estávamos escrevendo nós precisávamos de um som mais cheio. E bateria, guitarra e teclados eram todos elementos chave para esse som. Muitas pessoas disseram que o Kings of Leon trouxe essa onda do “rock ‘n’ roll sulista” durante a última década, o que fez muitos outros grupos aparecerem na cola.Você acha que o Alabama Shakes poderia ou está de fato fazendo algo similar uma década mais tarde? Sinceramente, existem tantas bandas ótimas vindas do sul, os Kings são uma delas. Mas aí também há o Drive-by Truckers e o My Morning Jacket, e até mes-

Todo o hype em cima do Alabama Shakes começou com a NME falando de vocês.Vocês já eram leitores da revista? Já haviam se imaginado na capa? Sinceramente, a nossa expectativa com esse álbum era colocá-lo disponível na internet por conta própria e, quem sabe, algumas pessoas iriam ouvi-lo e nós conseguiríamos fazer alguns shows ao redor do Alabama. Talvez em alguns outros estados do sudeste. Mas o que tem acontecido é algo muito distante da compreensão. Então, não, a gente nunca se viu na capa de revista alguma, especialmente de uma publicação de outro país. Tem sido uma jornada selvagem. O Alabama Shakes tem um álbum no top ten. Qual a diferença prática disso em sua vida? Nós, definitivamente, fazemos mais entrevistas (risos). Ainda não fez muita diferença. Nós estamos tentando fazer um esforço pra continuar tocando em clubs pequenos e construir nosso público, então não é aquela


ALABAMA SHAKES //043

coisa de estarmos simplesmente pulando pra arenas ou algo assim.

Boys & Girls vem com o selo da Rough Trade e foi gravado nos estúdios The Bomb Shelter, em Nashville+5, com produção do quarteto.

“A maior banda nova do mundo”, gritou na capa o semanário inglês New Musical Express que contou com a “avaliação” de Jack White, Jarvis Cocker (Pulp) e ninguém mais ninguém menos que os Strokes+4.

Você diria que o Alabama Shakes faz o “verdadeiro rock ‘n’ roll”? Eu descreveria nossa música mais como rock ‘n’ roll do que soul. Mas se é verdadeiro ou não, deixaremos isso para os críticos. Nós achamos que é verdadeiro porque vem dos nossos corações.

Vocês gravaram Boys & Girls ao vivo no estúdio. Foi uma escolha estética ou a única opção que vocês tinham? Nós apenas gostamos muito daquele som ao vivo, cru, e é isso que nós realmente queríamos ter nesse álbum. Nós estudamos vários dos velhos clássicos, e é dessa maneira que os discos costumavam ser feitos.

Sim, old school. O que só reforça a sensação de que não estamos falando de uma banda que vai durar uma ou duas estações. Estamos falando de uma banda. Sabe?

Os críticos dizem que Brittany é uma mistura de Janis Joplin com Aretha Franklin. E a nova diva da soul music.

Quando você descobriu sua voz, no sentido de se dar conta de que tinha tudo pra ser uma grande cantora? Isso é sempre tão complicado de olhar sob a minha perspectiva. Eu ainda não acho que eu tenha realmente descoberto minha voz ou mesmo que seja uma grande cantora. Eu apenas despejo meu coração e mente nas performances, tento realmente me conectar com o público a cada noite. Você já disse por aí que odeia a palavra soul (de soul music). Por quê? Eu não odeio a palavra soul. O que eu odeio mesmo é definir gêneros e estereotipar música em uma ou outra categoria. Eu acho que você está, provavelmente, se referindo a alguém que perguntou sobre chamarem a gente de uma banda soul ou retrô-soul. Eu não acho que essa é uma descrição exata da nossa música.

Vocês não parecem se importar em vestir os óculos ou ter o corte de cabelo mais tendência. Parecem ser o oposto das bandas indie e até mesmo de pop stars. Vocês se consideram antipop? Honestamente, nós apenas tentamos ser nós mesmos. E esperamos que as pessoas gostem disso. Isso vai pra nossa música e pra o que nós vestimos. Nós apenas queremos fazer o que a gente faz, e nos divertir fazendo.

[+4] “Alabama Shakes is murdering me right now,”do Twitter do Bon Iver. “I love this”, twitou Adele, após ouvir pela primeira vez o single “Hold On”. [+5] Nashville é uma cidade do sul dos EUA conhecida pelo whisky Jack Daniel’s e por sua tradição musical, sobretudo country. Johnny Cash morou um tempinho por lá. Hoje em dia, Jack White é o cara. Abriu a Third Man Records, um prédio que reúne a sua loja de discos, seu estúdio de gravação, o escritório da gravadora e um pequeno palco.




__TEXTOS _FOTOS E FOTOS_TEXTO LUIZ ROCHA ALBERTO FIEBIG JR. (TATU) RAFA TOMÁS BELLO 046\\

Justice


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´ Justice, James Blake, Chromeo, Kraftwerk, Mogwai, Little Dragon... Foi com alguns dos maiores protagonistas da música de vanguarda que o Sónar desembarcou em definitivo no Brasil. Após uma edição-aperitivo em 2004, o festival catalão fincou sua bandeira em terras tupiniquins com força total: 48 artistas, três palcos, além de espaços para exibição de filmes e debates sobre arte e tecnologia. Show 3D, palco de LED, projeções em alta definição. Dubstep, post-rock e electrofunk. O Sónar SP teve um pouco de tudo isso. Y otras cositas más. Se o festival nascido em Barcelona há 18 anos já havia visitado cidades como Tóquio, Londres, Nova York e Cidade do Cabo, em São Paulo ganhou a sua maior edição fora da Espanha. Não é pouca coisa. Olha só.


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Kraftwerk 3D


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DOOM

Mogwai


Chromeo

Little Dragon

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__ENTREVISTA E TEXTO TOMÁS BELLO _FOTO Rafael kent 052\\


MADRID //053

Quando um CSS encontra um Bonde do Rolê, o que sai não é música de pista. É música de fossa. Bem-vindo ao Madrid.

Na vida de Adriano Cintra e Marina Vello, festa é coisa do passado. Os dois fizeram parte das duas bandas brasileiras de maior sucesso no mundinho electro-indie. Conquistaram fãs no Japão, EUA, Austrália e Inglaterra. Com o CSS e o Bonde do Rolê, respectivamente, rodaram o planeta, ganharam a sempre sedenta imprensa britânica e, durante algum tempo, estiveram onde nenhum outro artista tupiniquim jamais esteve. Capa da NME, festivais como Coachella e Lollapalooza, comercial do iPod e a tão sonhada Billboard Hot 100+1. Mas eles cansaram. Marina pulou do bonde, Adriano realmente cansou de ser sexy+2. No final do ano passado, em uma tarde de férias, descobriram que juntos poderiam fazer música. Resolveram levar aquele dia adiante. Se antes a pista de dança era o lugar, agora a sonoridade está para um domingo cinza e chuvoso. Em casa. Saem a drum machine e os sintetizadores, entram o piano e o violão. Em uma conversa que envolveu Porto Alegre, São Paulo e Londres, você descobre o que os acordes não explicam. Ao contrário do que acontecia com o Bonde ou mesmo com o CSS, em que a performance era uma grande parte do espetáculo, a música é o que parece ser o verdadeiro foco do Madrid. Ou seja, já começa pelo lado oposto. Marina: No Cansei, acho que é um caso diferente,

mas no Bonde não se tinha essa preocupação em compor, era tudo escrito em dez minutos. Agora, com o Madrid o foco é realmente a composição, o songwriting. Adriano: A gente tá mais preocupado em escrever a música e depois ver como vai fazer pra gravar, pra tocar isso. A gente compôs quase tudo no violão e no piano, depois produziu+3. A produção não é uma alegoria, mas um meio de chegar à canção final. No Cansei, muitas vezes, quando eu compunha, eu começava já produzindo a música. Fazia uma batida, uma linha de baixo, e a partir daí construía o resto. No Madrid, não. Eu escrevia primeiro e depois musicava. Eu começo ao contrário.

[+1] “Music Is My Hot Hot Sex” chegou a posição #63 na Billboard, se tornando o single de uma banda brasileira de maior sucesso na terrinha do Obama.

E o fato de a Marina tocar instrumentos e compor, deixou você feliz? Adriano: É ótimo ter alguém que cria ao seu lado, tocar com alguém que sabe o que tá fazendo. Antes eu tinha de gravar o baixo, gravar a guitarra, a bateria e ainda sentar com cada uma das meninas e ensinar “ó, agora faz assim, depois assim”. Com a Marina é o oposto. Ela sabe tocar guitarra, ela canta... Marina: Eu não sou uma verdadeira guitarrista. Às vezes, tem algumas músicas que eu faço que não consigo tocar. Tenho que me matar, ficar um mês em cima da mesma música, tipo duas horas por dia pra conseguir

[+2] Marina deixou o Bonde do Rolê em dezembro de 2007, Adriano largou o Cansei em novembro de 2011. Curiosamente, ambos saíram brigados e em meio a polêmicas públicas. [+3] O álbum de estreia do Madrid chega às prateleiras nesse mês de junho. “Nós vamos lançar só em vinil e pra download digital”, garante Adriano. Na página 69 você vê o que achamos da bolacha.


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“Vai continuar tentando sobreviver, tentar seguir com esse momento ou fazer alguma coisa em que a gente acredita e ser verdadeiro conosco?”

tocar. Mas acho que é uma questão de musicalidade. Adriano: Vontade também, né? Acho que mais do que ser um puta músico, você tem que ter vontade. O primeiro requisito pra você estar numa banda é ter vontade de fazer música, o resto vem depois. A Marina toca guitarra desde a adolescência dela... E eu não sabia, nem imaginava. Boa parte dos violões no disco foi ela que gravou, tem músicas no disco que são composições dela, em que ela fez tudo, até o arranjo. Pra mim foi um alívio, tirou um puta peso das minhas costas. Antes você era uma espécie de “homem banda”, não é? Adriano: Eu era praticamente obrigado a fazer tudo. Às vezes eu leio cada coisa estúpida que escrevem de mim, tipo “ele é o mandachuva”. Filha, eu não sou o mandachuva. É que eu tinha uma banda com quatro energúmenas que não sabiam fazer nada, então eu tinha que fazer tudo. Senão não tinha banda. Então quando eu sentei com a Marina, ela pegou uma guitarra e começou a tocar, e pegou o laptop e mostrou um monte de música que ela tinha feito sozinha na casa dela, eu falei: “Nossa, amém”. Foi um dos fatores decisivos, o que me fez aceitar um projeto com ela. Falei “Claro que sim, eu não vou precisar fazer tudo

sozinho, olha que incrível”. Porque eu tô de saco cheio. Se eu for fazer algo sozinho de novo na minha vida então vou ser eu, artista solo. Chega de ficar carregando as pessoas nas costas. Isso é um saco. Marina: Talento é 20%, 80% é esforço. Você tem que trabalhar. As pessoas acham que arte é só ter uma ideia, mas não. E como você chega lá? Adriano: As pessoas acham que arte é inspiração, que você fica parado, tem uma ideia e pronto: vira um artista. É aquela coisa, envolve estudo, dedicação, tempo... Marina: A gente é músico. Se você vem com “Qual a sua profissão? Sou músico”, então não fica esperando as coisas caírem do céu, acreditando no hype. Não dá pra viver de hype. Adriano: O hype dura pouco. Marina: Nosso interesse não é ser alguém na noite, como falam em São Paulo (risos). A gente é músico, é o nosso trabalho, é o que a gente gosta de fazer. Se o talento é apenas 20%, de onde vem essa voz que aparece no Madrid e que passava escondida pelo Bonde? Marina: Eu levei anos pra encontrar a minha voz. Você saber cantar na nota, saber cantar afinado... É que tem gente que é tone deaf, que não consegue cantar no tom. Eu consigo cantar no tom, mas pra você desenvolver isso envolve muito trabalho. Não foi do dia pra noite que eu saí cantando, ninguém é assim. Você tem que se esforçar, tem que trabalhar, cantar, pesquisar. Você tem que se conhecer pra entender como você chega naquilo. E com o Bonde não tem nada a ver, porque naquele funk monotônico que você cantava “bá bá bá bá bá bá bá bá bá” você só tem que atingir um tom. Eu chegava pra gravar a voz, e a ideia sempre era que eu gravasse da pior maneira possível, então eu tentava fazer a voz mais feia e larazenta que eu conseguisse fazer. Eu tentava fazer a coisa mais feia do mundo, e as pessoas achavam bonito. Adriano: Mas era muito divertido, gente. Marina: Era a proposta. Adriano: Eu acho que o Bonde foi muito foda porque, na época, era um retrato da época mesmo.


MADRID //055

Fazia muito sentido. E às vezes tem isso também, 20% é talento e 80% é sorte de estar fazendo a coisa certa na hora certa. Marina: Realmente, aquele foi o timing perfeito+4. Adriano: Eu acho que, geralmente, essas coisas de momento, que dão muito certo, é impossível de você emular. Acho que é realmente pura sorte. Elas são muito verdadeiras, faz todo sentido elas estarem ali naquela hora. Só que passa, e aí vem a hora de você falar “e aí, o que a gente vai fazer? Vai continuar tentando

sobreviver, tentar seguir com esse momento ou fazer alguma coisa em que a gente acredita e ser verdadeiro conosco?”. Marina: Eu nunca vi o Bonde de maneira artística. Pra mim, aquilo era uma coisa engraçada, era uma piada, uma performance no palco. O Bonde era um negócio de oportunidade, pra fazer um dinheiro mesmo. Mas eu nunca me coloquei artisticamente ali. Com o Madrid eu acho que a gente tá desenvolvendo um lado artístico mesmo, de música como arte+5.

[+4] Quando o Bonde do Rolê lançou seu disco de estreia – With Lasers – o Brasil e o mundo eram tomados pelos batidões do funk carioca - de Tati Quebra-Barraco a M.I.A. [+5] Ela diz que uma amiga ouviu as músicas e soltou: “Tá ótimo porque é bem música de fossa”. Marina acha que é “pro momento David Lynch do seu dia”.


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[+6] Adriano ainda tem as bandas Caxabaxa e Thee Butchers’ Orchestra. Saca só os Butchers’ com o João Gordo: http://migre.me/9n6Ch [+7] Não à toa, em 2007 Lovefoxxx foi eleita pela NME a terceira pessoal mais cool do mundo. [+8] Adriano canta trecho de “Deixa Isso Pra Lá”, música lançada por Jair Rodrigues em 1964. Dizem que é a primeira canção brasileira a ter um rap. http://migre.me/9nQzD

Será que as pessoas vão entender a arte do Madrid, com vocês vindo de onde vêm? Adriano: É que as pessoas sempre têm esses preconceitos. Costumavam dizer que o CSS era essas quatro patricinhas retardadas do Itam Bibi e essa bixinha afetada. Não é bem assim. Quer dizer, duas delas são mesmo umas retardadas. Mas não é isso que importa, o importante é se você gosta ou não das músicas.

Tanto que a banda tá lá, autônoma, elas continuam tocando minhas músicas e tomara que continuem por muito tempo, pra eu ganhar dinheiro. Mas não tem por que eu querer emular isso com uma outra coisa. Aquilo já foi, é meu, vai continuar sendo meu e pronto. Eu que escolhi sair da banda, eu que me afastei, e foi uma coisa bem resolvida. Eu não tinha mais a ver com aquilo.

Se a questão da sorte e do timing pode ser definitiva, como vocês veem o Madrid chegando ao cenário de hoje? Marina: A gente não tá preocupado com tendências. Adriano: Aquela coisa do “ah, agora o que pega é a nova bossa fofa de São Paulo”. Eu acho até cruel taxar essas pessoas disso, mas é uma coisa que a mídia faz. Se tem mais de uma pessoa fazendo algo na mesma vibração, já vira um movimento, já inventam um nome. Mas eu não faço parte dessa cena, mal conheço essas pessoas, e mesmo antes do Madrid eu já fazia esse tipo de música com a Ultrasom, uma banda que tenho desde 1995+6. Lá eu já fazia música em piano. Acho que eu olhei pra trás, fui buscar isso. É uma coisa mais natural pra mim. Marina: Pra mim, também. Adriano: É mais natural do que eu chamar a Marina e falar “Vamos fazer uma banda de música animada pra tocar em festa!”. Eu nem tô saindo, não tenho mais paciência com noite, com festa... Eu não bebo, faz dois anos que parei de beber. Então não tenho mais essa conexão com a juventude do momento. Morro de preguiça. Gente bêbada, louca, querendo tirar foto pra postar no Facebook. Eu nem tenho mais Facebook, porque o médico mandou apagar.

A imprensa britânica tinha o costume de badalar um bocado o CSS, principalmente a NME. Será que eles vão receber bem o Madrid, ou nem isso importa? Adriano: A NME é um bando de patricinha cafona. Se todos vissem o tipo de pessoa que trabalha lá, é gente que não sabe nada de nada. Eles conseguiram construir uma imagem e acabam enganando quem vê de fora.

Existe algum tipo de receio em colocar o Madrid nas prateleiras? Vocês dois vêm de bandas com sonoridades completamente diferentes, sem dúvida vai rolar uma expectativa ou mesmo comparação com o CSS e o Bonde. Adriano: A melhor coisa é se distanciar disso, pelo menos do que o que eu tinha com o Cansei. O Cansei é a Lovefoxxx, a imagem dela+7. Eu era o produtor.

É que tem artista que fica sentido quando vê as comparações pipocando por aí... Adriano: Eu não tenho como controlar o que as pessoas vão falar. É muito mais fácil comparar com alguma coisa que eu já fiz do que tentar entender aonde eu quero chegar. É muito mais fácil olhar de onde as pessoas vieram do que tentar analisar ou entender o caminho que elas escolheram seguir. Deixa as pessoas falarem o que elas quiserem. Eu nunca li... Porque é óbvio que eu me importo com o que falam de mim, por isso eu não leio entrevista, crítica de show, crítica de disco. As pessoas até vêm me falar, mas eu não quero saber. “Deixa que digam. Que pensem. Que falem.”+8 (risos) É uma forma de eu me preservar. Marina: Se você faz música pra corresponder à expectativa de alguém, desculpa. Não é uma coisa honesta. Adriano: Fã não é patrão, entendeu? A única pessoa que a gente tem que agradar é cliente. E fã não é cliente, nem patrão. Eu respeito os fãs do Cansei, acho todos fofos, agradeço aos que gastaram dinheiro comprando meu disco... Agora, eu não tenho obrigação nenhuma de agradar ou de passar a mão na cabeça de ninguém.


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__ ENTREVISTA E TEXTO TOMÁS BELLO

__FOTO RAFAEL ROCHA 058\\


CHROMEO //059

O Chromeo não é aquele duo modernoso que você imagina, tampouco morre de vergonha das próprias referências. Mesmo que elas não sejam o que todo mundo espera. O Chromeo taí pra se divertir. E daí?

Você conhece o Chromeo por meio dos beats chacoalhantes de “Needy Girl”, “Bonafied Lovin’” e “Hot Mess”. Talvez pelos remixes feitos para Vampire Weekend, Cut Copy e Feist. Ou mesmo por conta das saborosas pernas femininas que estampam videoclipes e servem de pedestal para microfones e teclados quando o duo está no palco. “Com o Justice é a cruz. Com a gente, são aquelas pernas”, brinca o vocalista e guitarrista Dave 1. Agora, será que você já percebeu o amor do Chromeo pela década de 80? E não necessariamente por aqueles artistas que você também enche o pulmão

para dizer que ama – afinal isso o torna o “carinha descolado” entre os colegas de trabalho ou na faculdade –, mas por aquilo que está nas entrelinhas dos anos que insistem em não ficar para trás. “Se você gosta de forma sincera, por que se sentiria culpado?”, questiona Dave. É justamente aí que jaz a fórmula da dupla canadense, a assinatura Chromeo. Enquanto você e seus amigos consideram nomes como Robert Palmer o tipo de coisa que é bom nem lembrar dos 80’s, Dave 1 e o tecladista P-Thugg têm ali a sua fonte da juventude. A preocupação estética, os


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“Com o Justice é a cruz; com o Vampire Weekend é a Polo mauricinho; com o White Stripes é o vermelho e branco. Com a gente, são aquelas pernas de mulheres.”

[+1] Considerado um dos clipes mais icônicos da época, “Addicted to Love” teve direção de Terence Donovan, renomado fotógrafo que clicou e ajudou a criar a Swinging London dos anos 60. [+2] “Night by Night” está em Business Casual, o terceiro álbum da dupla. Difícil não sair dançando ao assistir o clipe. http:// migre.me/9mYTN [+3] Ou “cafona”, em bom e velho português. [+4] “Cabeça de sintetizador” é aquele sujeito que manja o instrumento e a música eletrônica como ninguém.

ternos bem cortados, as lindas dançarinas que marcaram os videoclipes do cantor inglês. “Ele não recebe o crédito que merece. O que o vídeo de ‘Monster’ é hoje, ‘Addicted to Love’+1 foi no passado”, compara Dave. Ao mencionar o bombástico clipe do rapper Kanye West, o vocalista bem que poderia estar argumentando sobre as suas próprias criações visuais. Assista ao vídeo de “Night by Night”+2, por exemplo, e anote em um papel as primeiras palavras que vêm a sua cabeça. Flashdance? Footloose? Um pouco de cada. E muito de outros tantos ícones oitentistas – que, em alguns momentos, chegam a beliscar a década que os antecedeu. “Nós apenas gostamos de fazer coisas estranhas, não convencionais”, chega a dizer Dave, como se estivesse querendo encontrar justificativas por percorrer trilhas um tanto incomuns em um cenário que se repete dia após dia. Fato é: no fundo, bem no fundo, o Chromeo é tudo o que se pode esperar de dois amigos de adolescência que têm um cantinho reservado para o brega no lado esquerdo do coração. Eles sabem disso, não têm medo de dizer sim, muito menos vergonha de se olhar no espelho. E é isso que os torna dois dos caras mais verdadeiramente cool do planeta. A eterna vontade de ser, e não parecer. Foi ela que nos fez sentar com Dave 1 e traçar os cinco passos para se tornar uma pessoa bacana pelas lições que os anos 80 deixaram escrito nas estrelas.

Como tornar o brega cool É simples (risos): nunca considere algo cheesy+3 e, portanto, nunca pense em você mesmo como alguém cool ou descolado. Não considere certas músicas como prazeres proibidos. E continue fazendo o que você acredita, apesar de tendências vigentes. Consistência e integridade são os segredos para um cool seguro e sem esforços. A equação Chromeo Eu penso que a equação foi fazer a nossa música tanto um tributo ao funk dos anos 80, que nós tanto adoramos, como algo que possa viver de maneira independente a suas influências. Para mim, a questão mais interessante em relação a nossa banda é que há uma certa descontextualização acontecendo. Nós estabelecemos um diálogo entre duas eras. Quando nos tornamos mais conhecidos, lá por 2008, tinha um monte de garotada que vivia no MySpace e que estava nos descobrindo, mas eles não tinham ideia do que eram nossas referências – e essa é uma coisa boa. Significa que a nossa música pode sobreviver por conta própria. Ao mesmo tempo, você tem os synth heads+4, os colecionadores de discos e os colegas produtores que nos respeitam porque eles têm a noção da erudição e do trabalho que vai em nossas tracks.


CHROMEO //061

“O ABC também é sempre desprezado. Eles com certeza trilharam o caminho para o tipo de groovy rock que o Franz Ferdinand trouxe dez anos atrás.”

Keep it high brow and low brow at the same time – never middle+5. Esse é o nosso lema. Cinco nomes oitentistas para conhecer e ditar os anos 2000 Primeiro, eu quero valorizar o Robert Palmer. Ele está longe de ser desconhecido ou de estar esquecido, mas não recebe o crédito que merece. Ele já era um grande artista nos anos 70, mas foi nos 80 que definitivamente atingiu o seu auge. Veja como o Kanye mistura elegância e alta-costura superestilizada com músicas cruas – Palmer também fez isso. O que o vídeo de “Monster” é hoje, “Addicted do Love” foi no passado. O ABC+6 também é sempre desprezado. Eles, com certeza, trilharam o caminho para o tipo de groovy rock que o Franz Ferdinand trouxe dez anos atrás. O Jermaine Stewart poderia surgir hoje vestido como naqueles tempos e ele seria um hit nas festas do Jeremy Scott. O estilo dele é matador. Assim como o The System. A forma como eles tinham aqueles beats electro pesados junto de vocais soul – eles poderiam fazer uma tour com o Azari & III, seria simplesmente demais. Ah, e não dá para esquecer o Kajagoogoo. Basta olhar para eles.

A importância dos símbolos Nós usamos pernas de mulheres como iconografia. No entanto, a importância para nós não são as pernas em si: é apenas para ter uma linguagem visual, símbolos que você pode imediatamente associar a uma banda. Com o Justice é a cruz; com o Vampire Weekend é a Polo mauricinho; com o White Stripes é o vermelho e branco. Com a gente, são aquelas pernas de mulheres. A ambição Uma coisa que era muito legal nos vídeos dos anos 80 é que eles tinham essa ambição de ser quase cinema. Ainda era um novo veículo, e os artistas estavam testando seus limites. Não tinha ironia alguma na época. O que, é claro, os torna muito irônicos quando você olha para trás. Apesar da adoração confessa, Dave 1 faz questão de dizer que ele e P-Thugg passam longe do universo de drogas e bebidas que notoriamente embalou o sucesso dos maiores ícones oitentistas – de Mötley Crüe a Culture Club e RPM. Nesse sentido, os dois estão mais para a agitação internética desse mundo pós-Mark Zuckerberg. “Se bem que eu uso calça skinny, elas teriam caído bem nos 80’s”, finaliza o vocalista. Caso encerrado.

[+5] Highbrow: intelectual, erudito. Lowbrow: ignorante, que não tem cultura. [+6] Banda inglesa que emplacou diversos hits nas paradas britânica e norte-americana, como “Poison Arrow” e “All of My Heart”. São de Sheffield, mesma cidade dos Arctic Monkeys.


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Máscara de dormir pixelada_

Lego de SUPER-HERÓIS_

Bom pra cachorro_

Se você quer fazer o tipo “sou bonito até dormindo”, essa máscara é pra você. E tem pra todos os gostos, em várias cores.

Coisa mais divertida e nerd que Lego – só mesmo essa coleção de super-heróis.

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Porta-lata para bicicleta_

Cadarços de Led_

Moletom, Help! dos Beatles_

Se carro, ônibus e avião têm porta-copo, bicicleta também pode ter. Mas lembre-se: álcool e direção não rola.

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Tá chegando o inverno. E se a ideia é ficar bonito e ainda bem quentinho, esse moletom vai dar o help que você precisa.

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Olha que beleza, Silvio. Produtos que você não precisa ter mas vai querer mesmo assim. Aeeeeeee.

Disquadro - moldura para discos_ As capas dos discos que você tem em casa são legais demais pra ficarem escondidas? Vai dizer que você deixa todas elas empilhadas? Tem algo errado aí. Vinis são música, arte e também podem ser decoração. Pensando nisso, foram criados os Disquadros, que servem como moldura pra você colocar seus discos e poder deixar eles expostos – e lindos – na sua parede. É bem facinho de trocar a capa que você coloca na moldura, que pode ser preta ou branca. Saudosistas de bom gosto, cheguem junto. Preço: R$ 35,00 cada Onde encontrar: bit.ly/JzAblj

Guerreiros do Palco – Biografia do Rage Against THE Machine_ A história do Rage Against the Machine, desde seu surgimento até a separação – o ponto de partida para o nascimento do Audioslave e do Soundgarden. Como pano de fundo, todo o contexto histórico e social da década de 90. Foi escrito por Paul Stenning – que já escreveu outros 24 livros de bandas, entre elas AC/DC, Metallica e Iron Maiden – e ganhou tradução no Brasil de Tony Aiex, do site Tenho mais Discos que Amigos. Leitura obrigatória. Preço: sob consulta Onde encontrar: edicoesideal.com


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Quem quer dinheirooo? Quem quer camisetaaa?

camiseta COM história

DENTRO DA MOCHILA

_LIRINHA ficou dez anos à frente do Cordel do Fogo Encantado, grupo extinto em 2010; lançou Lira, seu primeiro disco solo, em setembro do ano passado.

_Mariana Aydar já gravou composições de gente como Chico César e Rodrigo Amarante. Neste momento está em turnê com seu terceiro álbum: Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo.

“É pra falar sobre uma camisa, mas vou falar sobre duas. Consegui uma camisa de Luiz Gonzaga pra expor no colégio. Numa feira de ciências. Um fim de semana inteiro. O trabalho valia ponto. Fiquei encarregado de guardar o material quando o colégio fechava. Levava a camisa pra casa como se fosse um quadro raro de museu. Olhando pros lados. Mostrava às pessoas com o maior cuidado, como um segredo. Viajava mesmo era na sujeira que tinha na gola. Primeiro show que fiz em Campinas, SP, foi num inverno forte de junho. Eu tava com muito frio. No fim da festa, um cara tirou a camisa e me deu. Era pra que eu não esquecesse do nome da banda, Face Ácida. E ele foi embora, sem camisa, tranquilo, com uma garrafa na mão. Tava uns três graus.”

“Moleskine, eu amo, é onde eu anoto tudo, eu gosto mesmo dessa coisa do lápis e papel. Tem meus fones, que uso pra ouvir no meu iPhone – outro item –, uns exercícios de aquecimento que faço antes do show. Também tem o Holga Lens, que funciona como um filtro analógico pra bater foto com o celular, que eu tô viciada – sabe, eu adoro bater foto. Pra acalmar tenho sempre um lanchinho. Ah, e não pode faltar água, tenho até duas garrafinhas.”


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MARCA: KING55

ONDE ENCONTRAR:

king55.com.br




Joey Ramone

Ya Know? BMG

Você sabe que um músico faz falta quando, mais de dez anos após sua morte, espera ansiosamente por um disco de sobras. A essa altura, um novo álbum póstumo de Joey Ramone pode cheirar a caça-níquel, mas é uma chance rara de ouvir o vocalista cantando coisas que jamais se permitiria na banda que o tornou famoso. Ao contrário de Don’t Worry About Me, lançado em 2002, um ano depois da morte de Joey, Ya Know? soa um tanto irregular. Justifica-se: são 15 faixas gravadas em épocas diferentes, com arranjos trabalhados durante sabe-se lá quanto tempo por seu irmão Mickey Leigh e pelo veterano produtor Ed Stasium. Além disso, há um time gigante de colaboradores – que inclui Joan Jett, Richie Ramone, integrantes do Cheap Trick, Dictators e outros. Assim, fica difícil definir o quanto do disco é o que Joey realmente gostaria que fosse. Tem de tudo aqui: o single “Rock and Roll ls the Answer” soa como AC/DC; “Waiting for the Railroad” é meio country; “Cabin Fever” lembra Jane’s Addiction. Mas, na maioria das faixas, o cara não nega a veia punk. Duas delas, aliás, são versões intimistas de canções ramonianas (“Merry Christmas” e “Life’s a Gas”).

“ Ya Know? não é perfeito, mas é o mais próximo que temos de Ramones hoje em dia. E isso não é pouco.”

Para ouvir o álbum na íntegra: Leia o QR Code ao lado com a câmera do seu smartphone.

Ya Know? não é perfeito, mas é o mais próximo que temos de Ramones hoje em dia. E isso não é pouco. Daniel Sanes

LEGENDAS Pra quem gosta de: Ramones, The Wildhearts e The Donnas

Ouça no talo É, legal

Dá um caldo Seu ouvido não merece


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Madrid Madrid Coletiva Produtora Esqueça o hype e os hits com que você certamente já se deparou alguma vez nas pistas. Adriano Cintra (ex-cérebro por trás do CSS) e Marina Vello (ex-Bonde do Rolê) brindam o público com um duo intimista e refinado, após toda a balbúrdia em torno dos afastamentos – nada amigáveis – de seus antigos projetos. “Until Things Fall Apart”, a faixa de abertura, aponta o norte que se segue no álbum: baladas arrastadas e climas soturnos, exceto por breves momentos em que oscilam a um indie mais pop (“Free Fall” e “Your Hand”). Para quem a conhece apenas por seu passado, a interpretação de Marina é um capítulo à parte, impostando as letras tal qual qualquer grande cantora de rock (“Sibilings”). A desenvoltura de Cintra como produtor e compositor fica evidente nos requintados arranjos, muito baseados em pianos e instrumentos acústicos. Pra quem gosta de:Vermillion Lies, P J Harvey e The Dresden Dolls

O Madrid soa como uma dissociação no histórico da dupla. Vai da água ao vinho. Nicolas Gambin

Alabama Shakes Boys & Girls Lab 344 Jack White está fazendo escola. Que o digaeste début do Alabama Shakes, maior-hype-do-planeta-esta-semana. As primeiras notas da faixa de abertura, o irresistível single “Hold On”, já indicam o que está por vir: um rock-soul-pop de melodias emocionadas, gravado no modo mais “roots” possível e embalado por uma voz fora de série. Apesar da sensação de novidade quase nula e um tanto derivativo, Boys & Girls é das mais agradáveis estreias dos últimos tempos. A diversão está em acompanhar a batalha de decibéis entre guitarras, bateria e a voz tonitroante de Brittany Howard – um dínamo de intensidade e fúria que nos transporta diretamente aos bares sulistas de R&B dos anos 50 e 60.

Pra quem gosta de: Black Keys, Sharon Jones & The Dap Kings, Dr. John

Pra quem curte classic rock ou, vá lá, adult rock (ô termo estranho), o prato transborda. O repertório tem sua força – “Hang Loose” é blues garageiro à la Allman Brothers, “You Ain’t Alone” é daquelas baladas capazes de salvar um suicida – e o sucesso é logo ali. Fernando Halal


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Regina Spektor

What We Saw From the Cheap Seats Warner

Marilyn Manson Born Villain Lab344

Pra quem gosta de: Ben Folds, Feist e Badly Drawn Boy

Pra quem gosta de: White Zombie, Rammstein e Nine Inch Nails

Keane

Garbage

Pra quem gosta de: U2, Starsailor e Coldplay

Pra quem gosta de: Hole, Ellie Goulding e Placebo

Off!

Zeca Baleiro

Pra quem gosta de: Descendents, Bad Religion e Down by Law

Pra quem gosta de: Lenine, C茅u e Arnaldo Antunes

Silversun Pickups

Sigur R贸s

Neck of the Woods Dangerbird

Valtari XL Recordings

Pra quem gosta de: Smashing Pumpkins, The Temper Trap e Muse

Pra quem gosta de: Mogwai, Radiohead e Godspeed You! Black Emperor

Tenacious D

Gaz Coombes

Strangeland Island

Off! Vice

Not Your Kind of People StunVolume

O Disco do Ano Som Livre

Columbia

Here Come the Bombs Hot Fruit Records

Pra quem gosta de: The Darkness, Flight of the Conchords e Bloodhound Gang

Pra quem gosta de: Supergrass, The Stone Roses e Ocean Colour Scene

Rize of the Fenix


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Simian Mobile Disco Unpatterns Wichita Recordings

DISCOTECA BÁSICA Pantera Por Daniel Sanes

Pra quem gosta de: Digitalism, Modeselktor e Orbital

Cowboys from Hell Após passar uma década como uma obscura banda glam, o Pantera estoura com seu quinto disco, o segundo com Phil Anselmo. Era 1990, o laquê estava em decadência e o metal invadia a MTV.

Santigold

Master of My Make-Believe Downtown

Vulgar Display of Power Um ano após o début, o Oasis passou de revelação do britpop a banda consumida pelas massas. Culpa da irresistível “Wonderwall”, que, sejamos justos, não era a única boa música desse discaço.

Pra quem gosta de: Azealia Banks, M.I.A. e Nicki Minaj

Rita Lee Reza

Far Beyond Driven A fama não amolece os texanos, que voltam ainda mais pesados em 1994. Depois, gravam dois discos regulares e encerram as atividades. Em 2004, o guitarrista Dimebag Darrel é assassinado por um fanático.

Biscoito Fino

Pra quem gosta de: Erasmo Carlos, Marina Lima e Barão Vermelho

Hot Water Music Exister Rise Records

E NEM TÃO BÁSICA The Moving Sidewalks Flash

Pra quem gosta de: Social Distortion, Dead Fish e Strike Anywhere

Of Monsters and Men My Head Is an Animal Universal

Pra quem gosta de: Mumford & Sons, The Decemberists e Arcade Fire

Por Leonardo Bomfim É histórico: no Texas a música costuma ser mais casca-grossa do que em outros recantos norte-americanos. Nos anos 60 não era diferente, como mostra o 13th Floor Elevators, pai de todos os psicodélicos selvagens. Um dos melhores filhos é o The Moving Sidewalks, do futuro ZZ Top Billy Gibbons. “Flashback” é um hit garageiro, mas o disco não para por aí, mesclando experimentações de estúdio com o inevitável peso do blues. Vale procurar a reedição em CD, com o celebrado single “99th Floor” e a versão de “I Want to Hold Your Hand”, que antecipa o stoner rock em algumas décadas.


Reprodução

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_TEXTO CRISTIANE LISBÔA

ON THE ROAD _On the Road é o livro de Jack Kerouac que se transformou em nada mais nada menos do que a grande referência da juventude dos anos 60 e da famosa geração beat, artistas de vida propositalmente nômade, boêmia, que celebravam a criatividade sem regras e misturavam jazz, benzedrina e café para fazer poemas, ficção e vida. Foi o embrião do movimento hippie, da contracultura e até – dizem fontes doidonas e não oficiais – dos Beatles. Parece que John Lennon queria a palavra “beat” no nome do seu grupo musical. De inspiração autobiográfica e escrito em fluxo de consciência (ou seja, quando o autor escreve o que lhe dá na telha, sem preocupações estéticas ou começo, meio e fim definidos), o livro conta a história de dois amigos que, ao cruzar os Estados Unidos de carro, encontram a tão sonhada liberdade. De ideias, corpo, cabeça e sonhos. O diretor Francis Ford Copolla detêm os direitos desde a década de 70, e nos 90 quase emplacou um filme, mas acabou desistindo. Sorte nossa. Walter Salles (diretor de Terra Estrangeira, Central do Brasil, Abril Despedaçado, Diários de Motocicleta) levou a história pra tela grande com Sam Riley, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Tom Sturridge, Alice Braga e otras personas más. Concorreu a Palma de Ouro em Cannes e não levou. Mas foi aplaudido de pé durante exatos 6 minutos.


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1. Jânio Quadros | Em 1957 – ano de lançamento do On the Road o então governador de São Paulo proibiu um tal de rock ‘n’ roll de tocar em qualquer baile, festa ou junção de todo o estado.

3. Aretha Franklin | Tim Maia popularizou a soul music no Brasil e, com ele, a rainha Aretha. A segunda cantora a possuir mais Grammys na história da música e adorada pelo público. Foi convidada a cantar o sucesso “My Country Tis of Thee” na posse de Barack Obama.

5. Game | Obama x Zumbis é o pior melhor jogo on-line dos últimos tempos. Zumbis estão atacando a Casa Branca e o presidente precisa encontrar armas e sobreviventes para uma matança, até que alguém apareça para salvar todo mundo. Sabe Sessão da Tarde? Melhor.

2. Pelé | Em 1960, Pelé declarou publicamente o seu apoio a Jânio, que chegou à presidência. Mais ou menos nessa mesma época, o jogador ficou amigo de um futuro Rei: Roberto Carlos, em carreira solo depois de ter sido expulso por Tim Maia da banda The Sputnicks.

4. Obama | O primeiro presidente negro da história dos EUA. Durante a sua campanha, os eleitores usaram a internet para arrecadar votos e fundos, sendo que as doações via crowdfunding de mais de um milhão de pessoas foram decisivas para a eleição.

6. Zumbis | Em 2009 (mesmo ano da posse de Obama), o inglês Marc Price exibiu, em Cannes, o filme Colins, sobre zumbis. A película foi feita depois de uma bebedeira e com orçamento de 45 libras. Ganhou mais aplausos do que você imagina e do que até hoje ele acredita.


_FOSSO É o lugar que fica de frente ao palco. diretamente dali, os shows DE MAIO/JUNHO Você sabe: rapadura é doce. Mas não é mole. Ninguém lembra disso quando vê o fotógrafo no show, bem na frente, lugar privilegiado, cara a cara com o ídolo, nariz no palco. Mal sabem que não pode ter flash. Que ele só vai ficar ali durante algumas músicas. Que o tênis tá molhado, o estômago tá roncando, as costas moídas e o nariz descascou de tanto sol. Que fotógrafo de show tem que contar tanto com a sorte quanto com a técnica. E que nunca dá pra fechar os olhos e curtir o som. Nas próximas páginas, os melhores shows da temporada. E algumas verdades.


MOGWAI //075 / CIRCO VOADOR / RIO DE JANEIRO

“O som ensurdecedor e envolvente levou o público ao delírio. A banda vibrava no backstage e não hesitou quando todos pediram o tão aguardado bis.” Depoimento e foto: Raul Aragão


076\\ LOS HERMANOS

/ CIRCO VOADOR / RIO DE JANEIRO

“A festa de debutantes - vulgo show comemorativo dos 15 anos de banda - do Los Hermanos foi milimetricamente planejada pra fazer a nostalgia aflorar até dos fãs mais chatos, a ponto de ‘Anna Julia’ não incomodar (tanto). E com direito a músicas novas... Vem mais coisa boa por aí!” Depoimento e foto: FERNANDO SCHLAEPFER


LOS HERMANOS //077 / PEPSI ON STAGE / PORTO ALEGRE

““Foi bacana estar junto a uma banda no auge dos seus superpoderes, acompanhando de perto cada reação deles aos gritos, palmas e lágrimas de quem só os conhecia pelo YouTube.” Depoimento e foto: FERNANDO HALAL


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TULIPA RUIZ / BAR OPINIÃO / PORTO ALEGRE

“Tulipa chegou de mansinho, e eu, que nunca tinha visto a moça ao vivo, até achei que fosse tímida. De repente ela ficou tão grande que tive que me afastar do fosso pra poder fazer um retrato que coubesse tanta atitude.” Depoimento e foto: BRUNA VALENTINI


TUNE YARDS / CINE JOIA / SÃO PAULO

“Batuqueira e loops meio indie, meio tribal dividiram o público no Cine Joia naquela noite. Enquanto uns torciam o nariz, outros iam a loucura com os vocais da Merril Garbus.” Depoimento e foto: VICTOR NOMOTO NADA SURF / CIRCO VOADOR / RIO DE JANEIRO

“O Nada surf é uma dessas bandas do rock alternativo, não tiveram o mesmo sucesso que um Teenage Fanclub ou um Sonic Youth. Deve ter sido pela escolha equivocada do nome. Brincadeiras a parte, o show foi recheado de hits alegrando os poucos mas MUITO animados fãs que cantavam em coro todas músicas do repertório.” Depoimento e foto: DIEGO PADILHA

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080\\ THE KOOKS

/ CIRCO VOADOR / RIO DE JANEIRO

“Circo Voador com bilheteria esgotada na venda antecipada, aparentemente ainda vivemos a era de ouro do indie rock. O inusitado é a audiência, em maioria meninas menores de idade, que idolatram as bandas como se fossem boybands. Sinceramente desconcertante. Difícil até de reparar se a apresentação foi boa ou não.” Depoimento e foto: Rodrigo Esper


SKOL SENSATIONS //081 / ANHEMBI / SÃO PAULO

““Fotografar um evento deste porte é sempre uma mistura de cansaço, surpresa e espanto. Falta olho pra ver tudo, sobram momentos que merecem o clique.” Depoimento e foto: RAFAEL ROCHA


Reprodução

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KRAFTWERK* ANTES_Alemanha, década de 70. Ralf Hütter e Florian

Rafa Rocha

Schneider sonhavam com uma banda movida a instrumentos construídos por eles mesmos. Sintetizadores, sampling, programação digital: soa comum pra você? Talvez hoje, em 2012. Imagine há 30 anos. Schneider engenhava máquinas rítmicas em algum canto de sua casa – era a música eletrônica dando seus primeiros passos. O reconhecimento mundial chegou em 1974, com o disco Autobahn, que trazia a formação dita clássica do Kraftwerk.Wolfgang Flür e Karl Bartos completavam o time que fez o que ninguém tinha – sequer – pensado em fazer até então.

KRAFTWERK DEPOIS_Apenas Ralf Hütter resta da formação original, mas a inovação continua. Em 2003, o disco Tour de France veio com gravações da respiração humana e ruído de bicicleta. Em 2012, estrearam o show 3D no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa) – e tocaram oito noites seguidas com a casa cheia. Show esse que aterrisou no Brasil um mês depois, em maio, no Sónar SP. E há disco novo vindo por aí. “Não estamos adormecidos. As 168 horas por semana continuam desde o princípio, desde 1970”, alertou Ralf.

* Significa usina de energia em alemão.




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