Revista Noize #54 - Junho de 2012

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MADRID //053

Quando um CSS encontra um Bonde do Rolê, o que sai não é música de pista. É música de fossa. Bem-vindo ao Madrid.

Na vida de Adriano Cintra e Marina Vello, festa é coisa do passado. Os dois fizeram parte das duas bandas brasileiras de maior sucesso no mundinho electro-indie. Conquistaram fãs no Japão, EUA, Austrália e Inglaterra. Com o CSS e o Bonde do Rolê, respectivamente, rodaram o planeta, ganharam a sempre sedenta imprensa britânica e, durante algum tempo, estiveram onde nenhum outro artista tupiniquim jamais esteve. Capa da NME, festivais como Coachella e Lollapalooza, comercial do iPod e a tão sonhada Billboard Hot 100+1. Mas eles cansaram. Marina pulou do bonde, Adriano realmente cansou de ser sexy+2. No final do ano passado, em uma tarde de férias, descobriram que juntos poderiam fazer música. Resolveram levar aquele dia adiante. Se antes a pista de dança era o lugar, agora a sonoridade está para um domingo cinza e chuvoso. Em casa. Saem a drum machine e os sintetizadores, entram o piano e o violão. Em uma conversa que envolveu Porto Alegre, São Paulo e Londres, você descobre o que os acordes não explicam. Ao contrário do que acontecia com o Bonde ou mesmo com o CSS, em que a performance era uma grande parte do espetáculo, a música é o que parece ser o verdadeiro foco do Madrid. Ou seja, já começa pelo lado oposto. Marina: No Cansei, acho que é um caso diferente,

mas no Bonde não se tinha essa preocupação em compor, era tudo escrito em dez minutos. Agora, com o Madrid o foco é realmente a composição, o songwriting. Adriano: A gente tá mais preocupado em escrever a música e depois ver como vai fazer pra gravar, pra tocar isso. A gente compôs quase tudo no violão e no piano, depois produziu+3. A produção não é uma alegoria, mas um meio de chegar à canção final. No Cansei, muitas vezes, quando eu compunha, eu começava já produzindo a música. Fazia uma batida, uma linha de baixo, e a partir daí construía o resto. No Madrid, não. Eu escrevia primeiro e depois musicava. Eu começo ao contrário.

[+1] “Music Is My Hot Hot Sex” chegou a posição #63 na Billboard, se tornando o single de uma banda brasileira de maior sucesso na terrinha do Obama.

E o fato de a Marina tocar instrumentos e compor, deixou você feliz? Adriano: É ótimo ter alguém que cria ao seu lado, tocar com alguém que sabe o que tá fazendo. Antes eu tinha de gravar o baixo, gravar a guitarra, a bateria e ainda sentar com cada uma das meninas e ensinar “ó, agora faz assim, depois assim”. Com a Marina é o oposto. Ela sabe tocar guitarra, ela canta... Marina: Eu não sou uma verdadeira guitarrista. Às vezes, tem algumas músicas que eu faço que não consigo tocar. Tenho que me matar, ficar um mês em cima da mesma música, tipo duas horas por dia pra conseguir

[+2] Marina deixou o Bonde do Rolê em dezembro de 2007, Adriano largou o Cansei em novembro de 2011. Curiosamente, ambos saíram brigados e em meio a polêmicas públicas. [+3] O álbum de estreia do Madrid chega às prateleiras nesse mês de junho. “Nós vamos lançar só em vinil e pra download digital”, garante Adriano. Na página 69 você vê o que achamos da bolacha.


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