De Musa à Medusa

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Ermelinda Maria Araújo Ferreira

Entre escrita e pintura Still-life negates the whole process of constructing and asserting human beings as the primary focus of depiction. Opposing the anthropocentrism of the ‘higher’ genres, it assaults the centrality, value and prestige of the human subject. Human presence is not only expelled physically: still life also expels the values which human presence imposes on the world. Norman Bryson A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê.... Angelus Silesius

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e Clarice Lispector não se considerava uma “escritora profissional” – e não podemos conceber Clarice sem a sua escrita –, é natural que não se reconhecesse, e com muito mais propriedade, como “pintora”. Apesar disso, a pintura exercia sobre ela uma forte atração: O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço. Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações.

A escrita clariceana pode ser entendida como uma permanente e profunda meditação sobre as artes, tanto nas suas especificidades como nos profundos intercâmbios que estabelecem umas com as outras. Por isso é que o seu

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