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de conhecer e ce é uma oportunidade ien Sc ico Ch ão aç up A Oc tidiano do músico ativo que rondava o co cri rso ive un no r lha mergu na mangue. Na adores da chamada ce cri s do um o, an uc mb perna uns de seus objetos sicas, seus escritos, alg mú as su ão est ão siç expo que gostava de s quadrinhos. Os beats seu e os livr s seu , ais pesso amigos e os heróis , os lugares de afeto, os am av pir ins lhe e qu e ouvir ncentes à família e os. Documentos perte iad nc ere rev são m bé tam bre essa trajetória – e ais ajudam a refletir so sic mu s iro he an mp co aos o. inspiram esta publicaçã queles que, de longe zine traz textos atuais da fan e est , ão siç po ex da Parte ção cultural que e fizeram ecoar a revolu ram ha un de tem tes , rto pe ou de Science foi uma espécie década de 1990. Chico na rio cife ná Re ce no no cia sil nte Bra aco nou o tória. Sua obra reposicio his ssa de ior na ma ça as, for stic de sol, nas artes plá no cinema, no design e da música e reverberou s do movimento que o lço rca pe caminhos e os Os ca. éti ern cib na , da mo uir. contados nos textos a seg músico ajudou a criar são Instituto Itaú Cultural


Capítulo I

Jorge du Peixe

No começo dos anos 1980, época em que a cultura hip hop despontava no Brasil via videoclipes escassos nos poucos canais de TV que apresentavam programas musicais, eu frequentava uma associação de moradores em Rio Doce, em Olinda, onde todos os sábados à noite rolavam umas rodas de breakdance. Lá, conheci outro maloqueiro aficionado a batidas electrofunk (Kraftwerk, Afrika Bambaataa, Neucleus, Zapp, Grand Master Flash...) e soul music, chamado Chico Vülgo. Na semana seguinte, fui levado por um amigo ao trabalho de Chico (uma clínica radiológica no centro do Recife, em que numa sala com apenas um birô ele já tirava algumas batidas e mostrava uns raps). Amizade selada, passamos a trocar ideias e a mostrar nossas pequenas coleções de vinis e, na sequência, garimpar sebos (a intenção era roubar os livros da estante de casa e vender nos sebos para comprar discos novos ou usados). Naquele tempo, lançavam-se Duck Rock, de Malcolm McLaren; Electric Café, do Kraftwerk; e Planet Rock, de Afrika Bambaataa & Soulsonic Force. O contato com esse tipo de música nos fez passar a frequentar rodas de break nas ruas do centro do Recife (7 de Setembro, Avenida Guararapes, Parque 13 de Maio) com gravadores gigantes puxando energia dos postes com gambiarras – quando não dava para fazer uma vaquinha para comprar pilhas. Fizemos a “Legião Hip Hop”, uma das primeiras equipes de b-boys da cidade. O som era à base de fitas cassete, às vezes tão mal gravadas que só dava para identificar as batidas, mas era o que importava na ocasião.


De que lado você samba Com novas aquisições, tornando a discoteca cada vez maior, vieram as festas. Franci’s Drinks, Adilia’s Place, Mauritztadt, Galeria Joana d’Arc, Soparia e Oficina Mecânica serviram de palco. E, na base do faça-você-mesmo, fazíamos os cartazes, os flyers, produzíamos, divulgávamos e discotecávamos. Eram os caranguejos com cérebro bombando nas noites. Esse foi o começo da “diversão levada a sério”, frase predileta e mote maior de Chico – por sinal, um grande festeiro. De 1986 a 1992, trabalhei numa companhia aérea. Morava praticamente no aeroporto e passeava em casa. Nesse meio tempo vieram filhos, responsabilidades e pouco tempo para diversão. Mas Chico continuou sua peleja sonora. E nessas andanças pelo centro, frequentando lojas para atualizar os ouvidos, ele ia conhecendo uma rapaziada que já tinha banda, como Fred Zeroquatro (a Mundo Livre S/A), Renato L. e Herr Doktor Mabuse, que nos mostrou outras vertentes sonoras de sua coleção de vídeos e vinis. E dessas audiências nasceu o Bom Tom Rádio, com uma bateria eletrônica, um baixo velho e scratches feitos num “três em um”, com o qual Chico já ensaiava suas intenções de futuro malazarte dos palcos. E, entre uma folga e outra, eu pude comparecer a algumas dessas jam sessions que adentravam a madruga na residência de Mabuse, em Casa Caiada, em Olinda. No final dos anos 1980, em Rio Doce ainda, Chico conheceu Lúcio Maia e Dengue, que se tornaram parceiros nessas primeiras experiências com banda. Nasceu então a Orla Orbe, que depois virou Loustal, com uma formação convencional, tocando covers de soul, ska e rock dos anos 1970 e algumas poucas composições próprias. Daí para a frente, Chico conseguiu um emprego numa empresa de processamento de dados da prefeitura do Recife, e o salário dele era praticamente gasto com ensaios e gravações em estúdio. Na mesma instituição, conheceu Gilmar Bolla Oito, que o levou ao Daruê Malungo, centro de apoio à comunidade carente de Chão de Estrelas, em Peixinhos, entre Recife e Olinda, capitaneado pelo mestre MeiaNoite. Nesse quilombo, crianças e adolescentes aprendiam capoeira, música e outras artes. Lá foi feita parte da ciência de Chico: o encontro dos tambores do Lamento Negro (um bloco afro que ali

residia, com Toca Ogam, Canhoto, Gira e outros batuqueiros) com a guitarra de Lúcio e o baixo de Dengue. Aí nascia a formação Chico Science & Lamento Negro. *** Mangue. Essa foi a palavra que ouvi de repente quando estava indo de Olinda para o Recife dentro de um ônibus com Chico. “Não tem jazz, mambo, soul? Então vou fazer mangue!!!” Daí para a frente a diversão ficou ainda mais séria. E, junto com Fred e Renato, fizeram o primeiro manifesto: Chamagnatus granulatus sapiens – ou Caranguejos com Cérebro. No começo dos anos 1990, numa folga do trampo quase escravo do aeroporto, fui assistir a um show deles no Teatro do Parque, com a banda ainda usando o nome Chico Science & Lamento Negro. Vi então a ciência evoluindo, os tambores ainda se ajustando, mas dava para sentir o que estava por vir. Depois do show, fui ao camarim ainda atordoado pelo que tinha visto. Chico, quase mordendo as orelhas com sua empolgação constante, vibrava. Troquei algumas ideias com os caras e fui para casa pensando no que aquilo iria dar. Alguns anos depois, recém-saído do emprego, fui convidado por Chico para fazer parte do combo percussivo do que já se chamava Nação Zumbi, às vésperas de uma viagem para o Sudeste junto com a Mundo Livre S/A. Fizemos shows no Recife junto com a Mundo Livre para levantar uma grana, e àquela altura havia umas gravadoras orbitando a banda que nem mosca. A CSNZ já tinha uma boa projeção na cidade e contava com apoio da mídia local. Essa empreitada, que chamamos de Caravana da Coragem, foi feita de ônibus de linha até São Paulo – com várias aventuras, programas de TV, hospedagem em albergues, casas de amigos –, regada a galetos, cervejas, ressacas e muitos PFs. O passo seguinte foi a gravação do Da Lama ao Caos, com contrato assinado e muitos planos. A lama se mexeu... O Recife mudou e a ciência de Chico começou a ferver... Até hoje. XILA, RELÊ, DOMILINDRÓ!!!

Jorge du Peixe, grande companheiro de Chico, segurou a onda da partida do amigo e, a seu modo, com a Nação, deu continuidade, transformou e ampliou os sonhos do parceiro. Além da música, se dedica ao design e assina, junto com sua Valentina, a arte de capas de CDs, cenografias e cartazes.


Mais do que uma sensib ilidade privilegiada ou um a espécie de “antena am o Francisco França que eu bulante”, conheci era um líder nato, um entusiasmado ativista urbano. Pelo que eu pude avaliar, acredito que foi ba seado principalmente no convívio intenso com as diversas subculturas que coexistiam – nas últimas do século XX – na perife décadas ria da capital pernambuc ana que ele foi desenvolve aquele talento extraordiná ndo rio para a invenção estéti ca. E, hoje não há quem no campo da música po duvide, pular o meu parceiro “man gueboy” aprendeu a usa potencial mobilizador co r esse mo poucos nordestinos de sua geração. Não é exagero afirmar que sua criação suprema, o frontman Chico Science – um mix de Flavor Flav (o endiabrado clown do Public Enemy) com caboclo de lança –, reformulou para sempre, a partir de um diálogo consciente com a grande indústria do entretenimento planetário, a representação da cultura jovem do Nordeste brasileiro nas grandes esferas de interlocução globais. E o povo dessas bandas, sempre que tem oportunidade, faz questão de revalidar o fenômeno. Como aconteceu, de forma emblemática, poucos dias atrás.

Fred Z eroqua

tro

Os ecos daquela quarta-feira, podem acre ditar, ainda me acompanham. Eis uma data que milhares de “mangueboys” relembrarã o por muitos e muitos anos: 9 de dezembr o de 2009. Sim, eu estava lá, fui um dos quas e 100 mil privilegiados que participaram, no Marco Zero do Recife, da gravação do segundo DVD ao vivo da Nação Zumbi. A festa não era só para celebrar a abertura de um histórico e audacioso evento, no caso a segunda edição da Feira Música Brasil. No fundo, o que a maioria de nós pretendia naquela noite era compartilhar essa espécie de orgulho coletivo, como se disséssemos a nós mesmos: que outro lugar do mundo pode dizer, com tanta propriedade, que é o legítimo depositário desse legado?

Quando eu subi no palco para cantar Rios, Pontes e Overdrives com Jorge du Peixe e os outros parceiros da Nação, senti que a energia de Francisco França não só me alimentava, mas era combustível de altíssima potência para todos aqueles alucinados garotos e garotas (de todas as idades) espremidos na praça pública em pleno meio de semana. E a herança maior que seus versos certeiros, seu carisma e seu senso de ritmo incomum deixaram é justamente esta: depois de toda a avalanche estética provocada pela disseminação da envolvente, sinuosa e fluida simbologia mangue bit, a autoimagem dos pernambucanos jamais será a mesma.

Fred Zeroquatro viu o que era uma brincadeira de mesa de bar se transformar em algo que mudaria para sempre uma cidade – e a história da música brasileira. À frente da banda Mundo Livre S/A, é Fred quem assina o primeiro Manifesto Mangue. Tem quatro discos aclamados pela crítica, é casado com Maria Eduarda e pai de dois filhos.


to)

(Manifes

Estuário. Parte terminal de um rio ou lagoa. Porção de rio com água sal obra. Em suas margens se encontram os manguezai s, comunidade de plantas tropicais ou subtropicais inundada pelos movimentos das marés. Pela tro ca de matéria orgânica entre a água doce e a sal gada, os mangues estão entre os ecossistemas mai s produtivos do mundo.

atro

Fred

qu Zero

Estima-se que 2 mil espéci es de micro-organismos e animais vertebrados e inv ertebrados estejam associadas à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos 80 esp écies, comercialmente importantes, dependem dos alagadiços costeiros. Não é por acaso que os man gues são considerados um elo básico da cadeia ali mentar marinha. Apesar das muriçocas, dos mos quitos e das mutucas – inimigos das donas de cas a –, para os cientistas os mangues são tidos como símbolo de fertilidade, diversidade e riquez a.


foi fundada onde Recife ra ei st co lsão dos A planície . Após a expu os ri is se r cidade é cortada po II, a (ex-) XV custa lo cu sé no enadamente à rd so de holandeses, r ce ssou a cres ruição de do e da dest “maurícia” pa na mi ri sc di o in do aterrament is. za ue seus mang uma resistível de ir io ar sv de ida, o ou a cidade Em contrapart so”, que elev es gr ro ou a “p de te, não tard es rd cínica noção No do ” “metrópole ao posto de fragilidade. revelar sua ória tos” da hist en “v s no nças e econômica quenas muda de escleros is Bastaram pe na si s ro . Nos primei s anos 1960 do para que os io íc in aliada à assem, no estagnação, da se manifest me ro nd levado anos a sí le”, só tem po ró últimos 30 et “m miséria e do mito da permanência do quadro de o ad er el ac nto ao agravame . no ba caos ur semprego índice de de r io ma o mora em m hoje habitantes s Recife deté do de ta estudos is da me instituto de um o do país. Ma nd gu Se ta pior agados. hoje a quar é , favelas e al on gt in s de Wash populacionai viver. ndo para se cidade do mu


cia!

Emergen

Recife morre de Um choque rápido ou saber que a iso ser médico para sujeito infarto! Não é prec o r o coraçã de um ra pa de s le mp si maneira mais pido, também, de ias. O modo mais rá é obstruir suas ve de como Recife a alma de uma cida ar zi va es e ar rt fa en ios. O que aterrar seus estuár e os ri us se r ta é ma a que parna depressão crônic r da un af o nã ra pa fazer deslobotdevolver o ânimo, mo Co ? os dã da ci alisa os de? Simples! as baterias da cida timular omizar e recarregar ergia na lama e es en de o uc po um r Basta injeta veias de Recife. de fertilidade nas o que ainda resta e articumeçou a ser gerado co , 91 19 de os ad pesquisa Em me cidade um núcleo de da os nt po os ri vá rar um lado em O objetivo é engend p. po as ei id de ão as vie produç z de conectar as bo pa ca ”, co ti gé er en “circuito l de circulação s com a rede mundia brações dos mangue a antena paraImagem símbolo: um de conceitos pop. lama. bólica enfiada na

Os mangueboys e as manguegirls são indivíduos interessados em quadrinhos, TV interativa, antipsiquiatria, Bezerra da Silva, hip hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência.


Hilton Lacerda

A cidade de Olinda fica na região metropolitana do Recife. De tão próximas, podemos dizer tratar-s e de uma cidade dentro da outra. Com Jaboatão dos Guararapes não é diferente. A primeira fica ao nor te do Recife, e a segunda, ao sul. O mar transforma as três cidades em um lugar único. E foi em Olinda, em 1991, que ass isti à primeira apresentação da banda Chico Science & Lamento Negro (depois transformada em Nação Zumbi). O lugar chamava-se Oásis – nom e muito apropriado. E o show abria para a Mundo Livre S/A (Fred Zeroquatro como líder). Naquele momento, na prá tica, o movimento mangue se tornava público (público pequeno e interessante).

portante para Essa identificação é im da a uma ga lar mim por ter dado a bastante ral ltu frente de ataque cu 90 no 19 os an representativa dos uenciam a infl da ain Brasil (e seus ecos a). cultura contemporâne ranguejos já Mas antes disso os ca s existiam. ma tra estavam soltos. As os 1980, o “Rato” Desde o início dos an negro – mais (apelido de Fred Monte a colocando tav es já tarde Zeroquatro) scente a sua imaginação eferve a mais radical nç da serviço de uma mu rnambuco, na cultura oficial de Pe os ss ce dominada pelos ex ento armorial. vim mo tradicionalistas do embalava, desde A Mundo Livre S/A já na de fãs. 1984, uma pequena fau r trás daquele po am Pessoas que estav ssitando de cenário magrinho, nece r. rda go vitaminas para en

uco dinheiro. Eram anos de muito po curta e A informação era rasa, e cenário que ss ne era E conformada. ra explosiva Fred ensaiava sua mistu anarquicamente de mensagem cerebral com uma busca construída em parceria os populares. incessante de conceit sempre esteve, A periferia estava onde ado ainda sem mas mandava seu rec tava chegando. canal. Mas o canal es mo símbolo de E a ideia do mangue co em andamento. diversidade já estava

Livre S/A) se encontram . Um vinha com sua herança da black music e do hip hop (junto com seus co mpanheiros Jorge du Peixe, Lúcio Maia, Dengue e o DJ Aranha). Do outro lado, a herança anarcossambista e pu nk rock dos Montenegros e seus se guidores. O caldo principia a engrossar. E aí, num cenário bem diferente, os caran guejos começam a esboçar um cérebro.

O início dos anos 1990 trazia uma ressaca sem proporçõ es. Uma eleição (o primeiro pleito direto para presidente desde o golpe militar de 1964) tinha , Recife centraliza levado ao poder o qu No fim dos anos 1980 e considerávamos ndos de – pelo menos assim ac o encontro entre os mu redito – a parte Olinda. mais conserv de e es rap ara Gu s adora de nossa política Jaboatão do . ipam desse Mas o que parecia da Várias pessoas partic noso serviu de be Or o Orla alimento, a vitamina qu momento. Chico (com e faltava. ndo Mu re mp (se d Fre e ) e o Loustal


A junção dos fatores fortalecia a necessidade de uma alavanca que tirasse nosso mundo daquele isolamento. O mundo virtual estava batendo na porta. O bitnet já mostrava um canal. Faltava isso se alargar. Questão de tempo – que não demorou muito. E foi aí que aconteceu o show do Oásis. Depois disso...

cérebros dos carangu ejos desejavam. Fred Zeroquatro, Rena to L. (“ministro da informação do mang ue”) e Chico Science na vanguarda . Em volta deles estavam os diluidores do movimento. E que uma coisa fique clara: o mangue não é um tipo de músic a, mas uma frente que foi capaz de abrir brechas de visibilidade, antenar a periferia com o mundo e trazer esse mu ndo de volta.

Não só o público come çou a prestar atenção naqueles me ninos, mas as gravadoras se colocara m à disposição (tudo tem seu ônus). Ch ico Science & Nação Zumbi saem na frente: em 1994 lançam o disco Da La ma ao Caos (isso mesmo – disco). Eu e Helder Aragão (DJ Dolores) fomos co nvidados pela banda para elaborar o projeto gráfico do disco. Formávamos O Manifesto Mangue, junto com uma dupla de criação chamada Dolor uma viagem para São Paulo, em es & Morales (e assim o projeto foi 1993, catapultou o mangue de uma assinado). Um trabalho conjunto foi po exacerbação local para o patamar sto em prática. Muita gente interessan de excelência exigido pela província te em volta e uma resistência constante Recife. A recepção mais que positiva da gravadora. Mas deu certo. O disco na pauliceia (Xico Sá, Bia Abramo e saiu e até hoje Alex Antunes ajudando a balançar esse está como um dos mais impo rtantes da coreto) abriu as portas da própria casa. música brasileira contemporâ nea. Recife agora era a Manguetown que os

Logo depois do Da Lama ao Caos, vieram o Samba Esquema Noise (Mundo Livre S/A) e Mestre Ambrósio (Mestre Ambrósio). Esse pequeno panorama já é capaz de descortinar a diversidade do movimento, que se irmanou com outras correntes artísticas, como as artes plásticas e o cinema – esse namoro começou com os curtas-metragens Maracatu, Maracatus (Marcelo Gomes) e Cachaça (Adelina Pontual) e com o longa Baile Perfumado (Paulo Caldas e Lírio Ferreira). E uma manifestação não estava atrelada à outra: foram circuitos paralelos que desaguaram no mesmo rio.

uma possibilidade, levou ares des se cosmopolitismo de pobre para o mundo. Claro que isso pipocou, com mai or ou menor brilhantismo, em várias partes do planeta. Mas o mangue teve algo muito interessante: o constante interesse no universo tecnológico como form a de mudança, como instrumento de transformação. Batidas envelhecem , os bits rejuvenescem todos os dias .

Mas uma coisa que instiga é o pap el da periferia (em todos os níveis de rela ção). A vez foi ocupada pela insistência? Tem a ver com o momento históric o? A periferia agora é mercado? Tod as essas questões, e mais algumas , juntas? Aí deixo minha dúvida em vez de minhas certezas. Há muito cientista social deitado sobre o tema. Eu fico da janela, que rendo fazer parte, e torcendo par de la chance ganhou bit e O mangu a que os discursos sejam mais batida. Sua dimensão alimentou e mais radicais. E que dos excess discussões apaixonadas. Alguns os e da banalização possamos descob o mas o, caminh pelo ficaram rir movimento continuou a influenciar uma um novo mundo, que balança nas pontas para reverberar ali, gama de acontecimentos culturais bem no centro. por seja – hoje até ram que reverbe afirmar por seja , concordância Hilton Lacerda é roteirista. Assina os roteiros sua superação. de Baile Perfuma

Mas o que realmente é importante aí? Para mim foi o canal aberto na periferia: o alto-falante que, a partir de

do (1997), Texas Hotel (1999), Amarelo Manga (2002) e Baixio das Bestas (2007). É o Morales da dupla Dolores & Morales, que dirigiu os primeiros clipes da cena mangue, a exemplo de Maracatu de Tiro Cert eiro (Chico Science & Nação Zumbi) e Samba Esquema Noise (Mundo Livre S/A).


h.d. mabuse Uma metáfora foi criada em mea dos de 1991, representando a relação direta entre a riqueza do ecossis tema dos manguezais recifenses e a cen a pop que na época florescia entre as cidades de Olinda, Recife e Jaboatã o dos Guararapes. Muito foi escrito sobre o assunto, mas a crença de que ainda faltam alguns pontos importantes a ser explorados e o entendimento de sua centralidade no que se desenrolou desde então levaram à criação do presente texto. Neste momento, antes de continu armos nossa viagem ao centro do man gue, cabe alinhar os entendimentos sob re metáforas: somos levados, como que por hábito, a considerar o uso dela s na poesia ou na retórica, ou seja , sempre no exercício exclusivo da linguag em.

, Acreditamos, caro leitor as coisas que não é assim que ia direta acontecem. A influênc ue pode ser da metáfora do mang de ações observada como motor sua influência, à das pessoas expostas ento am direcionando o comport nh mi os dos indivíduos e os ca r grupos que foram tomados po sociais e instituições. do mangue? E do que fala a metáfora ades nid De água salobra, comu opicais btr su de plantas tropicais ou s marés, da to en inundadas pelo movim za. ue riq e fertilidade, diversidade io, sa Para nosso pequeno en nto de partida vamos tomar como po ora o papel da análise dessa metáf o. ss do acaso nesse proce

a conjunção Assim como existe um a constelação de circunstâncias e um ibilitam a explosão de influências que poss Recife, também de vida nos estuários do ores, por meio de uma diversidade de fat vários professores, várias tradições pop e entou o estudantes e amigos, alim te complexo en caldo cultural enormem vável pro que permitiu uma tão im sical mu o combinação na produçã

contemporânea. Essa combinação levou a uma modificação do eixo da indústria fonográfica de então, ab rindo caminho para a produção não só do Recife, mas de todo o Norte e o No rdeste, não apenas na música, mas em for mas de expressão artística tão diversas co mo moda, cinema, literatura e software.


Em um dos vários centros desse ecossistema em forma de rede estava Chico. Encontramo-nos a primeira vez pelo capricho do acaso, em uma das gravações de um programa de rádio produzido por Fred Zeroquatro. Um Chico que ainda assinava como Vülgo apareceu com discos de Biz Markie, Afrika Bambaata & Soulsonic Force e a trilha de Beat Street (1984) embaixo do braço. O interesse pela música negra, e pela eletrônica alemã e a proximidade geográfica (ele morava em Rio Doce e eu em Casa Caiada, bairros de Olinda) nos uniram e pavimentaram o caminho para a amizade. Em meados de 1987, junto com Jorge du Peixe, em tardes com pouco dinheiro e muita vontade, montamos o Bom Tom Rádio (espécie de laboratório onde

músicas como A Cidade e intenções que deram no coletivo de criação Re:combo foram gestadas). No início dos anos 1990, um salto: depois de nos mudarmos para o Edifício Capibaribe, na Rua da Aurora, e com o convívio diário, pude presenciar sua capacidade de construção de complexas redes de significados. Se o conhecimento dos aspectos biológicos dos manguezais estava mais aprofundado em Fred, o batismo do que ainda era entendido como apenas um ritmo foi de Chico. Com uma velocidade que nos passou despercebida, por estarmos no mesmo movimento, todo o tecido de sentidos tomou forma. E assim as conexões entre teoria do caos, funk, Josué de Castro, samba, guitarras pesadas, punk, faça-você-mesmo, hacking, subversão no entretenimento, maracatu, internet, psicodelia, ficção científica e estados alterados estavam informadas na música. Naquele momento, vários motivos acabaram me afastando do convívio de Chico e de muitos outros amigos queridos. Então, em fevereiro de 1997, a mais de 3 mil quilômetros de distância

do Recife, recebi um telefonema anunciando que mais uma vez o acaso (na forma da troca de um carro ou de um cinto de segurança quebrado) tinha interrompido, de forma brutal e precoce, a vida de um amigo e seu fluxo vertiginoso de produção, que mal tinha começado. Neste momento peço que o leitor volte à metáfora do mangue: o ciclo de transformações da vida que borbulha nos manguezais, os processos químicos que ocorrem nos líquidos viscosos, grãos sólidos e bolhas gasosas, a contínua transformação líquida. Agora, com um distanciamento de mais de uma década dos fatos ocorridos, podemos dimensionar os efeitos desse processo: a produção musical pernambucana continua uma das mais ricas do país, no momento enfrentando (e aproveitando) os novos desafios de uma mudança radical na indústria fonográfica. O cinema ganhou uma força que não se via desde o início do século passado. Novas praias e portos surgiram para reforçar as conexões entre arte e tecnologia. Da produção de games aos softwares, vimos o surgimento de dois grandes fenômenos:

uma comunidade de software livre militante no melhor estilo punk do faça-você-mesmo e uma indú stria pautada diretamente pelas ideias do mangue, com o entendimento de que, se foi possível promover essa mudança cultural e de negócio s na indústria fonográfica, o mesmo é possível na indústria do softwar e. As mudanças produzidas pelas idei as e pelos conceitos tecidos por Chi co e outros, depois de tanto tempo, já chegam a nos passar despercebidas. Mas elas continu am mudando a nossa realidade, a cad a dia e em várias proporções, é só dar mais um passo à frente e ter sem pre a mente na imensidão. Herr Doktor Mabuse é o codinom e de José Carlos Arcoverde, webdesigner pern ambucano e “ministro da tecnologia” do mov imento mangue. Foi Mabuse quem apresentou a turm a de Rio Doce (Olinda), Jorge du Peixe, Chic o Science e Lúcio Maia, àquela de Candeias (Jab oatão dos Guararapes), Fred Zeroquatro e Rena to L. (o “ministro da comunicação” do mov imento).


A BECA

DJ Dolores Me encantam os nomes das ruas, dos bairros e das favelas do Recife: Linha do Tiro, Planeta dos Macacos, Entra a Pulso, Roda de Fogo, Rua da Harmonia, da Amizade, das Flores ou simplesmente – não estou inventando, é verdade! – Rua da Merda. Eu morava na Rua da Aurora, de frente para a Rua do Sol, separadas pelo Rio Capibaribe, que, reza a mania de grandeza do recifense, se junta ao Beberibe para formar o Oceano Atlântico.

Naquele dia Chico vinha de Rio Doce, um bairro culo popular de Olinda. Para chegar ao meu minús uns a andav apartamento, ele descia na Cabunga e que or matad quatro quarteirões embaixo desse sol nesse r pensa nos torra diariamente. é importante a pé, trajeto longo, primeiro de ônibus e depois siado, fanta porque o sujeito estava completamente ria chama eu usando um figurino que, bondosamente, apenas de maluco. va Recife, “a maior cidade pequena do mundo”, culti s; pedra seus doidos de rua com pão, cachaça e o portanto, é espantoso que ele tenha sobrevivid sem e limpo sem um galo na testa, impecavelmente rasgões na roupa. e Deixe-me descrever o que vi: na cabeça, aquel com es enorm chapeuzinho de palha sem aba e óculos s conta de pinta de brechó; no pescoço, um colar uma meio com sabor de candomblé; a camiseta, Hering branca, contrastava, por ser discreta, se com uma calça folgada de chita florida, que meião um encerrava no meio das canelas, mostrando que descia até um tênis conga.


o de pulso e, Bom, havia os anéis, o relógi de b-boy, suingada para completar, a munganga e flutuante. issível ver Hoje seria completamente adm tura de alguém vestido com aquela mis ar/b-boy do Parque trabalhador da cana-de-açúc endam, era o 13 de Maio, mas, amigos, ent pela primeira vez começo da década de 1990, e personagem que o vimos Science encarnando o consagraria. o, cantor Estavam comigo Fred Zeroquatr L., também da Mundo Livre S/A, e Renato da informação conhecido como o “ministro geral, assim como do mangue”. A surpresa foi oquatro também a galhofa. E verdade que Zer na roupa, como usava uns adereços bizarros rme chapéu eno chips e botons, além de um perto da se de palha, mas nada que chegas excentricidade de Science.

O objetivo daquele encontro era a primeira entrevista para a MTV, a mais importante fonte de informação musical naquele Brasil sem internet, alimentado por revistas amadoras e jornalistas picaretas. A roupa de Chico contrariava e, consequentemente, inovava um estilo de se vestir dentro da cultura da música pop brasileira. Especialmente pela ocasião, havia uma forte ironia, pois a MTV chegou formatando, ensinando a molecada como se vestir de roqueiro, clubber ou b-boy, e a roupa de Chico rompia com os parâmetros trazidos por quem ia entrevistá-lo. Seu forte senso de comunicação impunha um conceito baseado no maracatu rural com o background de dançarino de break beat. Estava lá um manifesto inteligente e original, dialogando com a essência do pop internacional ao mesmo tempo que falava com o povão castigado do interior. Os ecos da nossa “greia” – assim a chacota é chamada no Recife – se perderam no tempo, mas aquela roupa insólita vai ficar na cabeça das pessoas até um futuro que a vista não alcança. Dj Dolores é o nome de Helder Aragão, sergipano que chegou ao Recife na década de 1980 e se tornou ativista da cena mangue. Elaborou cartazes e panfletos de festas sensacionais, dirigiu com Morales (Hilton Lacerda) os primeiros clipes da época e concebeu a capa do primeiro disco de CSNZ.


Renata Pinheiro é artista contemporânea, diretora de arte e cineasta. Dirigiu o premiado Superbarroco (2009), com várias participações em festivais internacionais como a Quinzena dos Realizadores, em Cannes, e o Festival de Havana. Com Chico Science, aprendeu que basta um passo para sair para o mundo.


O cotidiano do Recife segundo a utopia mangue, representado graficamente por Dolores & Morales. HQ feita sob encomenda para o encarte do disco Da Lama ao Caos




Bia Abramo

vez Não me lembro bem da primeira . nce em que vi ou ouvi Chico Scie Lá se vai algo entre 15 e 20 anos. certa É fácil, entretanto, reconstituir com aram riss precisão em que mundo ater e S/A Chico e Nação Zumbi, Mundo Livr a turm e Fred Zeroquatro e toda a uida. pernambucana que veio em seg o. O início dos anos 1990 foi estranh em tas Tínhamos tido eleições dire sido 1989, finalmente, mas tínhamos filho ro, derrotados: o eleito era o out da elite mais atrasada, arrogante, cheirador, provinciano. Em 1992, tra a aposta do centro e da direita con a, águ r PT e Lula começava a faze a e já, de novo, voltávamos à rua par do nan pedir o impeachment de Fer Collor de Mello.

estética no mínimo repetitiva, qua ndo não simplesmente patética. De out ro, nossa geração, para o bem e par a o mal, era mais internacionalizada do que a anterior, o que significa va, nos anos 1980, que sentíamos o nacionalismo estreito como uma prisão. Queríamos estar onde a juventude do mundo estava – e um desses lugares era o rock e a mús ica pop revoltas depois do punk ingl ês; outro era o cinema de Martin Sco rsese, No front cultural, os anos 1990 tam bém Francis Ford Coppola e Wim Wenders; e representavam uma espécie um terceiro era toda a literatura nor de contrafluxo. Para minha turm tea, americana e inglesa que a Brasilie nse pelo menos. Na década anterior, começava a editar. tínhamos tentado construir uma síntese entre as diversas forças históricas Ou seja, queríamos ouvir rock que nos formaram. aparentado com o pós-punk ingl ês (sabíamos que punk, punk mesmo, não dava para ser, inclusive por uma questão de classe), mais intelectualizado do que aquele pop que já começava De um lado, havia o compromisso (não a tocar no rádio, mas que , de certa escrito, é claro, mas profundame nte forma, fizesse a crítica da música arraigado) de continuar sendo de brasileira e, por fim, que ainda foss oposição, do contra, de esquerd e a. de esquerda. O projeto parecia Mas as alternativas formuladas pela complicado, mas os mais habilido sos cultura brasileira dos anos 1960/1 970, e corajosos entre nós esta vam tanto em sua vertente mais naciona lista inspirados e embalados pela palavra e de resistência como em sua vert ente de ordem punk – faça-vo cê-mesmo – mais hedonista, hippie, patinavam e, portanto, parecia possível. numa espécie de autocondescen dência


fez uma E foi, de certa forma. São Paulo tiva, cria a, rtid dive d oun cena undergr criar, tou Ten vel. eitá resp e “de oposição” tory, espelhado na experiência da Fac tivo rna alte uito circ um , em Manchester alto ass de ou tom os; de shows e disc o a revista de uma grande corporaçã num se ves esti se o com e fez política ável. fanzine; provocou um barulho razo os Éramos, entretanto, muito precári stria indú da uina diante da máq te fonográfica e muito arrogantes dian ão vers a ia ferir pre do público, que s teen mais salerosa (Paralamas) ou mai (Titãs) da dra qua s mai ou ) (Legião Urbana dessa inquietação.

Nos anos 1990, todo esse cenário estava sendo desmontado. Várias burros das bandas tinham dado com os oras. vad gra a par m fora n’água quando dade. Outras tinham cansado da obscuri o. A entrada da MTV iria mudar tud rock do tivo cria eixo E mesmo o e do pop tinha se deslocado da , Inglaterra para os Estados Unidos anti , nge gru do cia com a emergên hop, hip do e cia, elên exc intelectual por

combativo, mas profundamente ligado à questão racial. Só que aí vieram Chico e Zero, com um manifesto a tiracolo. Ficamos eufóricos. Eles tinham um manifes to de verdade, tinham armado uma cena que não era limitada à música (tinh a cinema, moda e cibercultura), fala vam em computadores ainda na auro ra da internet, faziam pop brasileiro de ares cosmopolitas, tinham uma percus são que, aqui no Sudeste, soava nov a e vibrante e, ainda por cima, tinh am sido influenciados por aquela mes ma cena que, anos atrás, minha turm a tinha inventado. Eles eram inteligentes e articulavam muito astutamente sua intervenção na imprensa. Eram de esquerda.

uma enorme admiração pelo que eles haviam feito – e como gostaríamos que alguém conseg uisse atar as pontas entre a tal linha evo lutiva proposta pelos tropicalistas, e interrompida, de alguma forma, em algum momento da década de 1970, e os novos tempos. A ger ação paulistana dos anos 1980 era de combate e de negação, o mangue beat, uma retomada mais invocada do tropicalismo, e Chico, seu hom em de frente e capaz de peitar o long o reinado de Caetano & Gil, Chico & Milton na MPB. O diabo é que Chico se foi cedo demais, e não deu tempo para tudo isso. Nem sei nem temos como saber se esse nosso plano para ele bat ia com os dele. Desconfio que pelo menos parcialmente sim.

Era como se aquele esforço de sínt ese de alguns anos antes tivesse dad o frutos de uma maneira inesperada e mui to, mas muito, melhorada. Bia Abramo é jornalista e professor E Chico era, digamos assim, o cara que vinha da cena roqueira, pop , que mais tinha condições de tran sitar no coronelato da MPB. Apesar de nossa postura crítica em relação à geração dos 1960/1970, tínhamo s

a das Faculdades de Campinas (Fac amp). Nos anos 1980, trabalhou na revis ta Bizz e, na década de 1990, foi editora dos cadernos Folhateen e Ilustrada, da Folha de S.Paulo. Junto com os jornalistas Alex Antu nes e Xico Sá, representa a recepção mais do que positiva da pauliceia à cena mangue.


(Com base nas músicas Amor de Muito e Risoflora, de Chico Science & Nação Zumbi)

A ferrugem da espera nos olhos da mulher feita. E agora? O que sobrou para dizer um ao outro? Só areia e lonjura. Nem as tentações e as vagabundagens foram submetidas, o que daria algum suspense na história. Foi uma ausência engolida a seco. E pronto. Se olharam, se olharam. Cada qual com seus “lá dentros” pedrados de arrecifes. Ela ainda tentou achar no corpo dele um cravo que só ela – e mais nenhuma rapariga – conseguia espremer em suas tardes de calma e ternura. Ele não se moveu do canto e parecia afundar em suas movedices de criança. Aí uma brisa intriguenta bafejou nos seus cangotes uma pergunta: — Por amor ou por besteira? Ele só quer escutar o que ela quer dizer. Ele tem uma tatuagem de Corto Maltese no lado esquerdo do peito. Balada do Mar Salgado, ela decifra.

Seu coraçãozinho de maria-farinha à milanesa não sentia amor nem cócegas de tanto aperto.

Ele pensou “dois perdidos no paraíso”, mas nada disse, de tão besta e óbvio que seria quebrar o silêncio com uma loa tão morna. Será que havia jeito? Ele pensou em outra coisa: “Eu sou um caranguejo e estou de andada. Só por sua causa”. Já era algo, mas ela não sabia mais ler os seus pensamentos.

Coisa triste, repita comigo. Ele pensou melhor: "Quem sabe molhando as ideias com uma cerveja". Não havia um mascate da espumosa a léguas. Teria magoado a moça ao ponto? Lembrou que havia um samba de regeneração batucando na cabeça. Aí tem coisa, suspeitara.

Havia feito sim uma promessa. DE MUDAR DE VIDA. Mas como todo homem: memória gasta pela ferrugem do desleixo. Flores apenas para enfeitar o pós-barraco. Movediço na frouxa areia da sabotagem. Chega. Tramela nos ares, som forte de batida de porta.

Ilustração: a partir de desenho assinado por Renata Pinheiro para este fanzine


Ele afundava com seus pés de pato movediços. Ela ainda tentou dizer coisas. Mas ele não estava mais à sua altura.

Aí ela disse ao vento: "Por que ele está aqui mesmo?". Deu vontade (nela) de escrever no balãozinho tatuado do Corto Maltese: "Eu sou um marinheiro fuleiro!". O mar devolvia à praia esculturas do acaso, como em uma antiga exposição do artista Paulo Bruscky. Ela gostava.

A tarde mais longa do século. Quem sabe a breguice de um belo pôr-do-sol nos tire dessa, ela em raro tic-tac de esperança. Uma romântica? "Antigamente", ela respondeu ao seu próprio desconfiômetro.

A menina que esperava o seu homem chegar havia perdido as graças do mar.

A menina que esperava o seu homem chegar havia perdido as graças do mar.

A menina que esperava o seu homem chegar havia perdido as graças do mar. A menina que esperava o seu homem chegar havia perdido as graças do mar.

(Repete até o completo entendimento do sujeito!)


Eduardo BiD

Conheci o Ch ico em um ôn ibus, em 1995, ainda tocava quando eu na banda Prof es so r An te na. O destino era o Sesc Ba uru, no interi or de São Pa longa viagem ulo, uma de ida e volt a, partindo da Não conhecia capital. o som deles, só tinha ouvi O percurso no do falar. s permitiu um papo sobre mú e planos musi sica cais. Ali nasc ia a parceria qu resultou na e produção do tão especial se gu disco da Naçã ndo o Zumbi, o Af rociberdelia .


Chico continuou firme em tra balhar comigo, e para nossa felicidade a gravadora terminou compra ndo a ideia. Rapidamente, est áva mos no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro.

ro, Chico e Jorge du Peixe Um mês depois desse encont toriais de para umas sessões labora passaram no meu estúdio eitura de ros nasceram Macô e a rel novos sons. Desses encont & la Caju Castanha. Roda Rodete Rodeano, da dup rs, os clara: os beats, os sample Ali, uma coisa já estava bem am ari orç es se encontrariam e ref scratches e os sintetizador magia Bolla 8 e do Toca Ogan, a a força rítmica do Gilmar gue. Den ta xis a e a solidez do bai da guitarra de Lúcio Mai a codelia se uniriam para Maracatu, África, rock e psi Asimov estaria por vir. Até Isaac nova etapa do grupo que céu. no ont Santos Dum marcaria um encontro com duzir o convite do Chico para pro Fiquei muito feliz com o ical mus Vivíamos em um universo segundo disco da banda. Jorge do os mesmos sons. Era só muito semelhante, curtin cky, Tri g, Gan o, KRS-1, Sugarhill Ben das antigas, Willy Bob ras. dei ango e outras doi Goldie, Kraftwerk, Mano Dib viria um disco porrada. Estávamos certos de que Sony ido nenhum disco antes, a Como eu não havia produz dutor, me ter me escolhido como pro Music, surpresa por Chico em que a ia era preparar uma demo mandou para o Recife. A ide o gravar. o que estávamos planejand gravadora pudesse ouvir Samba re elas Cidadão do Mundo, Voltei com sete músicas, ent s de sõe foi criada durante as ses do Lado e Peixinhos, que walkman da polícia – que levou o gravação e após uma dura compra. de a não estar com a not do Gilmar Bolla 8 por ele

Para engordar o som, chamei o G-Spot, um engenheiro de som ame ricano que trabalhou com grandes nomes do hip hop e do rock no estúdio Battery, em Nova York. E, com meu computado r, samplers e toca-discos unidos à incrível musicalidade e ao conceito da Nação Zumbi, mergulhamos fun do, com liberdade e expressão, no universo do Afr ociberdelia. Os três tambores receberam o tratamento merecido: três mic rofones para cada um, sendo um colado no corpo do tambor, um captando a pele bem de perto e o outro afastado, peg ando a sala. O peso dos tambor es do “ao vivo” finalmente estava ali, sendo gravado. Chico ficou vibrante. Os metais de Tiquinho, Hugo Hori, Bidinho e Serginho Tro mbone entraram em faixas como Pei xinhos e Amor de Muito. Outra mudança significativa: o rufar da cai xa tocada pelo virtuoso Pup ilo , que ocupou o lugar do Canhoto um pouco antes do início das gravações e passou a ter a companhia de um Hi-Hat e um bumbo. Lembro-me bem da rapaziada leva ndo gelo no término das sessões de gravação para tomarem água fresca no casarão de Santa Tere sa ond e Chico e Nação estavam hosped ados. Lá, a falta de uma geladeir a e colchões bem distribuídos no chão ilustravam um clima de acampamento de refugiados, ond e nem uma tevezinha rolava. Lembro-me ainda que chovia mui to, e a luz acabava quase que diariamente no estúdio, inte rrompendo as sessões, cortando o barato e atrasando um pouco a entrega do disco para a gravadora. Tal vez a força e a energia que apareceram no disc o venham desses perrengues que rolaram durant e a gravação.


Acervo Soulcity:photos


Nesse dia maluco, quem caiu de paraquedas no estúdio foi o produtor Mário Caldato Jr. (do Beastie Boys e do Jack Johnson), que, de férias no Brasil, acabou passando o resto daqueles dias com a gente. Ele pirou no Chico. Quando terminamos a mixagem, foi uma festa. Fizemos uma audição e celebramos o resultado. A missão estava cumprida. Comprei uma “champa” Dom Perignon e brindamos todos na cozinha da Soul City, minha produtora, com copinhos na mão e em pequenas doses, já que éramos nove. Saúde! Com o disco nas mãos, viajei com Chico para Los Angeles e Nova York, onde mostramos pessoalmente as músicas ao David Byrne, na gravadora Luaka Bop. Recebemos os aplausos e o convite para lançarmos o disco na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Infelizmente, a gravadora nacional, que tinha prioridade nesses territórios, cresceu o olho. O lançamento de Afrociberdelia aconteceu ao lado de artistas como Julio Iglesias e Gloria Estefan. Foi um grande erro.

Acervo Soulcity:photos

e eu morando rugadas adentro em estúdio, Terminada a temporada de mad s de um mês, ação de Copacabana por mai em um hotel meio zoado no cor o disco. fomos para São Paulo mixar s ele tinha de seria feita pelo G-Spot, poi Para ganhar tempo, metade pelo Luís ras músicas seriam mixadas retornar a Nova York. As out h. Paulo Serafim, do estúdio Mos a gravar no Mosh, fomos convencidos No primeiro dia de mixagem tínhamos Já ca. y achava que era radiofôni Maracatu Atômico, pois a Son porque o Mautner, mas a descartamos tentado gravar a música de Air, dos rodução, I Am the Sun I Am the sampler que usaríamos na int em uma n tow gue al das contas, eu mixava Man Smiths, não ficou bom. No fin tu Atômico em mo tempo que gravava Maraca sala, com o Luís Paulo, ao mes outra, com o G-Spot.

Coloquei o CD Afrociberdelia para ouvir enquanto escrevia este texto e fiquei emocionado por me lembrar das gravações, dos sentimentos e da coragem que tivemos no processo todo desse trabalho. Como o disco ainda é atual e à frente de seu tempo! Escuto vários detalhes nos arranjos e nos interlúdios, com experimentações e muita viagem. E a pura verdade acima de tudo. Hoje, recordo bem minhas conversas com o Chico sobre como preparar a molecada, a geração interessada em música e que estava por vir, para o que vinha por aí. Tenho certeza de que, de alguma forma, conseguimos, com o poderoso e atemporal Afrociberdelia. Obrigado, Chico, pela oportunidade, pela amizade e pela confiança. E por ter aberto essa porta que é hoje minha vida e meu trabalho, com muito amor e orgulho.

Eduardo BiD é músico, produtor musical e pai de família. Trabalha em sua produtora, a Soul City (www.soulcity.com.br), e vive em São Paulo. Produziu o CD Afrociberdelia, um desafio na tentativa de captar o som das alfaias. A experiência foi considerada “incrível” por aqueles que a viveram.


ILHO

ONÇA F

MEND KLEBER

Numa misteriosa ação de expressão artística não coordenada e não planejad a (se assim fosse, certamente não teria valor nem teria ido para lugar nenhum), surgia, paralelamente ao mangue beat , um novo espasmo de cinema em Pernambuco, um novo ciclo. Esse fenômeno ainda aguarda estudo do porq uê e do como ter ocorrido, embora teorias sejam abundant es, uma delas creditada à quantidade de coentro usada na cozin ha local. O acadêmico e crítico pernambucan o Alexandre Figueiroa havia definido muito bem que o cinema feito no estado pare cia existir em fases. Esses ciclos de produção surgiam e logo morriam, com o o Ciclo do Recife, nos anos 1920, ou o Ciclo de Cinema Super-8, nos anos 1970. A minha versão, que provavelmente não sustenta fortes argumentações científicas, é de que a geração de 1990 , tanto na música como nas imagens, viu-se livre num Pernambuco onde o estado de espírito histórico e sociocultu ral é o da monocultura açucareira. Essa é a fonte de muitas desgraças, mas tamb ém, creio eu, de fagulhas brilhantes de insat isfação e rebeldia que geraram e gera m pensamento artístico. Tudo isso com a chegada gradual de novas tecnologias que anunciavam liber dade dos meios pesados e burocráticos de produção. De repente, a promessa de um mundo interligado que estava para acontece r (e a gravação e a captação de imag ens) viu em Chico Science o mais destacado entu siasta desse estado de coisas. Popularmente reconhecido como um cara iluminado, a casa de força que foi Chic o iluminou a todos, e seus amigos, colaboradores e comparsa s devolveram à altura o tipo de energia que ele gerava. Fome de tudo


No cinema, essa nova geração se alimentava naturalmente da música, e surgia não apenas do cinema 35 mm, mas também do vídeo. Aquele impacto inicial de ouvir Da Lama ao Caos em 1993 trouxe uma vontade enorme de imagens, certamente em mim. Essencial deixar claro um aspecto de Da Lama ao Caos naquele momento em específico. O disco, sua cadência narrativa, me sugeria estar vendo um filme. Num cinema pernambucano que, naquele ano, começava a engatinhar mais uma vez, o primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi preenchia a lacuna de algum grande filme que, na época, nós ainda não tínhamos. Havia uma força inspiradora inicial naquele disco, um universo visual que começava no encarte e seguia intacto nas letras de imagens ricas e férteis. E ainda veio Samba Esquema Noise, da Mundo Livre S/A, para confirmar a nossa nouvelle vague pernambucana audiovisual. Diferentemente de alguns movimentos que só fizeram sentido numa visão retrospectiva, aquilo era algo sentido na hora, a cada disco, show, festa e lote de imagens que nasciam. Falo de uma reação em cadeia, que puxou mais bandas, mais músicas, mais desejo de imagem gravada, filmada, editada.

Curiosamente, quando as bandas assinaram com as gravadoras, os primeiros clipes “oficiais” foram realizados por equipes de grifes publicitárias do Sudeste. Sem brodagem, com orçamentos finalmente adequados, os resultados pasteurizados pareciam buscar certo padrão MTV, mesmo que a banda sonora fosse diferente de tudo o que a MTV tocava. Enfim, víamos naqueles clipes “profissa” produtos que não pareciam entender muito bem aquilo que nós tínhamos ouvido no vinil e no CD no Recife. Ao checarmos a linha do tempo dessa misteriosa ação não coordenada entre música e cinema no Recife dos anos 1990, vemos que realizadores como Marcelo Gomes, Lírio Ferreira e Paulo Caldas não perderam tempo, incorporando em seus filmes da hora aquela música que parecia casar tão naturalmente com suas imagens. No curta Maracatu, Maracatus (1994) e no longa Baile Perfumado (1996), temos a versão sala de cinema, e em som Dolby Stereo, daquilo que definira o mangue inicialmente, puxando muita coisa boa que também surgia na chamada cena musical pernambucana, como Mestre Ambrósio e Stela Campos, paulistana exilada no Recife. No centro de tudo estava Chico. Suas imagens espetaculares já reconfirmadas em Afrociberdelia (1995) e nas suas mungangas de palco nos garantiam um artista que sugeria algo muito forte de um roteirista dotado de um senso especial de mise-en-scène. Curioso que o termo “cena musical”, usado para descrever o que acontecia no Recife da época – provavelmente trazido do inglês music scene –, soa perfeitamente cinematográfico para intermediar música e imagem. Chico foi o elemento catalisador de tudo isso, e é lindo ver que ainda ilumina procedimentos atuais.

Na época, havia um estímulo claro (e único, anos antes de a internet se firmar), representado pela então jovem MTV Brasil, espelho pop universal abrasileirado que validava o que estava acontecendo na música do Recife. Videoclipes eram imaginados em mesas de bar com produções executivas da mais pura “brodagem” e orçamento zero. E geraram alguns dos momentos mais felizes (quase esquecidos, perdidos na nossa crônica incompetência de arquivar) da imagem pernambucana, como os promos feitos por Dolores & Morales (Hilton Lacerda e Helder Aragão, o DJ Dolores) para a Nação Zumbi e a Mundo Livre S/A.

Naquela época, por exemplo, ele viajou o mundo com sua música da mesma forma que, ao longo da década de 2000, o cinema pernambucano tem viajado o mundo de Cannes, Veneza, Berlim, Locarno e Roterdã. Cada novo festival parece lembrar os festivais internacionais de música dos anos 1990, que nos mostraram, à época, que “falar de onde você vive é o que há de mais importante e verdadeiro, e que, por mais que se viaje, as cidades são todas parecidas com a sua”. As palavras são dele, mas já são minhas também há algum tempo.

Kleber Mendonça Filho é crítico de cinema e cineasta. Em 1997, dirigiu O Enjaulado, filme cuja trilha sonora resultou na primeira coletânea de músicas da cena mangue recifense. Seus filmes Vinil Verde (2004), Eletrodoméstica (2005) e Noite de Sexta Manhã de Sábado (2007) viajaram o mundo. O trabalho mais recente, Recife Frio (2009), ganhou o prêmio de melhor filme na opinião da crítica na última edição do Festival de Cinema de Brasília.


Em meados de julho de 2009, a equipe do Itaú Cultural iniciou a discussão da programação deste ano. Quando começamos a levantar os possíveis artistas a ser homenageados pelo projeto Ocupação e surgiu o nome de Chico Science, veio-me uma deliciosa sensação de poder voltar a trabalhar com um universo que faz parte de minha vida. Intensamente. Topamos todos, então, nos debruçar em torno da obra de Chico. Entramos em contato com a família do artista, representada pela irmã, Goretti, e pela filha, Louise, com o músico Jorge du Peixe e com o produtor Paulo André. A reação de todos foi encantadoramente positiva. Além destes, pensamos em trazer para perto outras pessoas que pudessem nos ajudar a conceber a exposição. Foi natural pensar em rejuntar a dupla Dolores e Morales – que havia sido muito importante para a construção da estética mangue dos anos 1990. Com este projeto, estávamos descobrindo um formato de trabalho coletivo muito saboroso,

Ana de Fáti m

a Sousa

em que não existe a imposição de conceito. Pensam os em tudo juntos e as boas ideias são executadas, melhoradas, ampl iadas, mudadas e vão gerando algo , de fato, novo, relevante, bonito. E talvez mais próx imo de Chico, que tinha esse espíri to de criação compartilhada, de colaboração, de coletividade, de parceria. Partimos para o Re cife para arredondar o conc eito da exposição e entrar em contat o com os acervos de dona Rita (mãe de Chico) e de Paulo André (pro dutor da banda nos anos 1990). Fo i na casa de dona Rita que me deparei com outro brilho do ar tista – o filho querido, o irmão carinhoso, a pessoa que deixou uma saudade sem fim, um ser no rmal que viram nascer, crescer e prematuramente partir. Cada obje to dele tinha uma história, e Go retti foi quem as contou para nó s. Foi ela quem nos emocionou a ca da novo relato e a cada lágrima que insistia em tentar controlar. Ainda lhe dói


lembrar. E ela lembra diariamente. Faz esforços para não esquecer nenhum detalhe, porque sabe que a memória do irmão precisa ser preservada, cuidada e relatada. Paulo André também parecia saber disso desde o primeiro dia em que trabalhou com Chico. Ele guardou cuidadosamente cada crachá usado, todos os cartazes de shows (pequenos e grandiosos), playlists, fotos, documentos, cartas, objetos, rascunhos. Em seus manuscritos de 1996, Paulo já fazia propostas de uma exposição com tudo o que havia juntado. Achei muito bacana poder ajudá-lo a fazer com que parte de suas ideias se concretizasse, 14 anos depois. As conversas com o produtor renderam dezenas de sugestões para a exposição e me levaram de volta para o início dos anos 1990, quando nos conhecemos. Ele já era produtor, e eu, uma estudante obcecada pela cena musical recifense. Eu pesquisava e catalogava tudo o que tinha acontecido musicalmente na cidade. Dividia meus levantamentos com o jornalista e amigo Marcos Toledo; falávamos, respirávamos e ouvíamos uma produção que começava nos anos 1970 (com Ave Sangria, Lula Cortes, Alceu Valença, movimento armorial) e tentávamos compilar entrevistas, histórias e sons para entender o que seria o ”novo“ na cidade duas décadas depois. Foi no primeiro Abril Pro Rock, em 1993, que entendemos que estávamos testemunhando

algo muito maior. E f oi Chico quem nos m ostrou iss o. Com um show no co meço da ta rde de 25 abril, ab de rindo a pr ogramação festival, do o artista se aprese com aquele ntou jeitão de frontman, de pop sta r. Não hav ia isso no Recife. C hico toco u o terror era o novo . Ele . E na seq uência ve uma Mundo io Livre com pletamente diferente da que con hecíamos desde os a nos 1980 n os festiva undergrou is nd. Não er am rock... E ra samba es ais punk quema noi Gravamos se!!! tudo e con tinuamos acompanha ndo a cena durante o anos que s s e seguira m – Abril Rock, Pok Pro oloko, So paria, Re Mangue Fe cbeat, liz, Fran ci’s Drin Adília’s ks, Place,Gale ria Joana d’Arc, MT V...

Sabíamos q ue, para f azer a Ocupação Chico Scie nce aconte precisarí cer, amos envol ver os personage ns centra is para re contar

tudo. E eles nos contaram e aind a estão nos contando a história do artista e do movimento que ajud ou a criar. Vários desses nomes estã o nas páginas deste fanzine; outr os estão na exposição – como é o caso dos fotógrafos Fred Jordão e Gil Vicente, dos artistas Félix Farf an e Evêncio, e dos amigos do músi co Fred Zeroquatro, Renata Pinheiro , Sonally, Roger de Renor, Renato L., Stella Campos... Uma lista que não se encerra enquanto escrevo, e que não vai se encerrar depois. Muitos já deram depoimentos, disponibilizados no site do projeto (www.itaucultural.org. br/ocupacao), e outros ainda vão fazê-lo. Porque o legado de Chic o Science vai permanecer. Sinto-me premiada por vários motivos: por trabalhar numa instituição que apoia a construção e a preservação de obras e o legado de artistas brasileiros; por ter visto de perto o impacto causado pela

ico; presença de Ch música e pela de da ni tu or uma op por ter agora do da mu r te r po -lo de reverenciá a (e na cultur tudo na música ter feito de r po da cidade); ico e algo histór minha juventud ra pa , de da ci ra a (para mim, pa ter r nalmente, po o país); e, fi e ar nt , rir, ca me feito dançar ho al ab tr u me de que ter a certeza r ma tentar aproxi seria sempre memxi ro Ap s. oa a arte das pess o do ximem-se) entã se (ou reapro Pois o! ic Ch de stico universo artí ...] “[ vociferava: como ele mesmo r, ça me co dessa roda chegou a hora s mo va , da pesada samba makossa !”. ar br le todos ce

Ana de Fátima Sousa é conhecida por todos como Aninha. Recifense que mora há 13 anos em São Paulo, trabalha no Itaú Cultural (é gerente do Núcleo de Comunicação). Produziu algumas das primeiras imagens em vídeo da cena mangue. Observando tudo de perto, dedicou-se a duas pesquisas acadêmicas sobre o assunto: Movimento Rock em Recife nos Anos 90 (1993) e Recife Jam (1996). Aninha faz parte da equipe que concebeu a Ocupação Chico Science.


visitação exposição quinta 4 fevereiro a domingo 4 abril 2010 terça a sexta 10h às 21h sábado domingo feriado 10h às 19h

Mangue no Cinema quinta 25 a domingo 28 março 2010 sala itaú cultural

quinta

20h

Programa 1 (93 min) Baile Perfumado Paulo Caldas e Lírio Ferreira, PE, 1997, 93 min Roteiro: Hilton Lacerda; fotografia: Paulo Jacinto dos Reis (Feijão); direção de arte: Adão Pinheiro; música: Fred Zeroquatro, Lúcio Maia e Siba; elenco: Jofre Soares, Duda Mamberti e Luís Carlos Vasconcelos Este filme, que cria um making of das filmagens realizadas por Benjamin Abrahão com o bando de Lampião em plena caatinga nordestina, é um dos mais instigantes retratos do cangaço no cinema nacional. Apoiado num rico acervo de pesquisa, Baile Perfumado traz para a sombra do mundo pop o personagem do Capitão Virgulino Ferreira (vulgo Lampião). Importante ponto de convergência entre o cinema pernambucano e o movimento mangue beat. Interessante a presença de Roger de Renor e Ortinho como cangaceiros, além da participação de toda a banda Mestre Ambrósio durante uma festa no filme.

sexta 20h

Programa 2 (100 min) Texas Hotel Cláudio Assis, PE, 1999, 14 min Roteiro: Hilton Lacerda; fotografia: Walter Carvalho; direção de arte: Renata Pinheiro; elenco: Jeison Wallace, Jonas Bloch, Conceição Camarotti, Jones Mello e Fernando Peres Este curta-metragem é um curioso estudo de linguagem para a construção narrativa do longa Amarelo-Manga. Tendo um hotel como personagem, o filme inventa tipos que formam a fauna urbana de um imaginado Recife. A frase “O que acontece enquanto a vaca vai e vem” foi a provocativa sinopse usada durante seu lançamento. Aqui, o mangue beat está presente na música e na interpretação – que conta com a participação de Gilmar Bolla Oito e Otto no elenco. O Mundo é uma Cabeça Bidu Queiroz e Cláudio Barroso, PE, 2004, 17 min Roteiro: Cláudio Barroso e Bidu Queiroz; fotografia: Paulo Jacinto dos Reis (Feijão) Por meio de depoimentos do próprio Chico Science e de outros integrantes do movimento mangue beat, o filme revela-nos de maneira muito próxima o pensamento de Science. Interessante a participação de Roger de Renor como guia em partes do depoimento. Filme-chave. 14

“Não recomendado para menores de 14 anos”


A Perna Cabiluda Marcelo Gomes, Beto Normal, Gil Vicente e João Vieira de Melo Veira Júnior, PE, 1997, 19 min Elenco: Chico Science, Fred Zeroquatro e Danuza Leão Uma das lendas urbanas mais surrealistas observada pelos olhos atentos, divertidos e inteligentes dos realizadores. Para uma pessoa distante, o documentário parece uma ficção. Celebridades locais e nacionais, misturadas ao relato e às lembranças de populares, transformam A Perna Cabiluda num dos filmes mais interessantes da cena audiovisual pernambucana. Um Passo à Frente e Você Está Mais no Mesmo Lugar Cláudio Assis, PE, 50 min A partir de uma montagem inteligente, este documentário feito para a TV é uma das referências mais interessantes sobre Science, em que o cineasta Cláudio Assis não se contenta em se dobrar diante do artista, mas, sim, em revitalizá-lo por meio da memória visual e oral de toda uma geração.

O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas Paulo Caldas e Marcelo Luna, PE, 2000, 75 min Roteiro: Paulo Caldas, Marcelo Luna e Fred Jordão; fotografia: André Horta; direção de arte: Cláudio Amaral; trilha sonora: DJ Dolores e Garnizé Dois personagens reais, Helinho e Garnizé, formam o eixo do documentário. Helinho, justiceiro, 21 anos, conhecido como ”pequeno príncipe“, é acusado de matar 65 bandidos de bairros da periferia recifense. Garnizé, músico, 26 anos, componente da banda de rap Faces do Subúrbio, militante político e líder comunitário em Camaragide, usa a cultura para enfrentar a difícil sobrevivência na periferia. Os dois são opostos e ao mesmo tempo iguais na condição de filhos de uma guerra social silenciosa, travada diariamente nos subúrbios das grandes cidades brasileiras.

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“Não recomendado para menores de 14 anos”

sábado 20h

sábado 18h

Programa 4 (87 min)

Programa 3 (89 min) Maracatu, Maracatus Marcelo Gomes, PE, 1995, 14 min Roteiro: Marcelo Gomes; fotografia: Jane Malaquias; trilha sonora: Chico Science e Antônio Carlos Nóbrega; elenco: Jofre Soares e Meia-Noite Misturando documentário e ficção, este filme fala sobre o choque entre as gerações que fazem parte de um grupo maracatu. A história dessa manifestação observada com um olhar agudo, colocando em confronto a tradição e a modernidade ao revelar de que maneira as manifestações se revitalizam. Participação importante de Mestre Salustiano, uma das principais referências da cultura popular para Chico Science.

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“Não recomendado para menores de 14 anos”

Cachaça Adelina Pontual, PE, 1995, 13 min Roteiro: Adelina Pontual; fotografia: Jane Malaquias; trilha sonora: Fred Zeroquatro e Otto; direção de arte: Cláudio Cruz e Péricles Duarte; elenco: Chico Diaz, Edmilson Barros e Jones Mello Num bar no centro da cidade, dois homens fazem uma aposta: ver quem aguenta tomar mais cachaça. A noite transcorre com suas revelações e seus personagens. Os primeiros raios de sol revelarão o vencedor.

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“Não recomendado para menores de 14 anos”

Se Liga na Parada... Ou um Abraço Michelle Assumpção, PE, 1997, 22 min O vídeo dá uma geral no movimento hip hop do Recife dos anos 1990. Ao som da banda Faces do Subúrbio, o maior nome do rap pernambucano daqueles anos, as imagens e as falas resumem ideias e articulações dos jovens suburbanos que faziam da dança, do grafite e da atitude hip hop sua principal ferramenta de expressão social.


Josué de Castro – Cidadão do Mundo Silvio Tendler, RJ, 1995, 52 min Locução: José Wilker; entrevistas: Jorge Amado, Betinho, Dom Helder Câmara, Milton Santos, Chico Science Inspiração para o movimento mangue, a vida e a obra do geógrafo e humanista Josué de Castro guiam este documentário. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz, Josué de Castro morreu no exílio, em Paris, em 1973. Ele é o autor de Geografia da Fome e de Homens e Caranguejos, livros referenciais para o mangue beat.

domingo 15h

Programa 5 (87 min) Maracatu de Tiro Certeiro Videoclipe, PE, 1993, 4 min Banda: Chico Science & Nação Zumbi Direção: Dolores & Morales; produção: X-Filmes Ainda na fase pré-Sony, Chico Science & Nação Zumbi rodaram esta experiência imperdível em vídeo Hi8. Contém alguns dos elementos recorrentes da mitologia Science: citações à violência urbana, lama e deboche. Samba Esquema Noise Videoclipe, PE, 1995, 5 min Banda: Mundo Livre S/A Direção: Dolores & Morales; produção: Etapas Vídeo Quatro amigos se encontram numa praia deserta. Sob efeito de aditivos químicos, começam um delírio lisérgico. Todo filmado em preto e branco, é um dos clipes mais radicais da Mundo Livre S/A. Seu formato e sua narrativa terminaram por exilálo dos programas de TV especializados em música. Sua realização foi completamente independente, o que lhe dá completa liberdade. Um clipe para revelar a banda, não para vender o disco. A Cidade Videoclipe, PE, 1993, 4 min Banda: Chico Science & Nação Zumbi Direção e produção: TV Viva A versão demo de um dos maiores sucessos de Chico Science & Nação Zumbi, realizada pela TV Viva, nas ruas do Recife. Trata-se do primeiro clipe realizado para a banda. Nesse caso, precisa ser relevado o papel da produtora (TV Viva), uma das principais parceiras do movimento mangue nos anos 1990.

Maracatu Atômico Videoclipe, RJ, 1996 Banda: Chico Science & Nação Zumbi Direção: Raul Machado; produção: Chaos/Sony Music Imagens marcantes da versão explosiva feita por Chico Science & Nação Zumbi para a lendária música de Jorge Mautner. Manguetown Videoclipe, RJ, 1996 Banda: Chico Science & Nação Zumbi Direção: Gringo Cárdia; produção: Chaos/Sony Music O clipe segue a explosão da banda após o lançamento de seu segundo CD, Afrociberdelia. A foto que compõe a entrada na exposição Ocupação Chico Science foi feita por Roberto Amadeo, fotógrafo deste filme. Samydarsh – Os Artistas da Rua Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes, PE, 1993, 12 min Recife, uma capital deteriorada. Ruas, becos e mercados do centro estão apinhados de vendedores, pedintes, pregoeiros. No meio dessa Babel com sotaque latino, os cantadores de rua, ou, como se intitulam, os músicos populares, cumprem seu ritual de cantoria. Punk Rock Hard Core – Alto José do Pinho – É do Caralho! Marcelo Gomes, Adelina Pontual e Cláudio Assis, PE, 1995, 13 min Uma comunidade considerada carente está totalmente integrada ao mundo por meio de seus jovens, que passam a impor respeito não pelo calibre da arma que carregam, mas pela voltagem do amplificador que usam para suas guitarras. Dentro do documentário há o clipe da música Punk Rock Hard Core, do Devotos do Ódio (hoje apenas Devotos), todo realizado em 35 mm, com os restos dos negativos do filme Maracatu, Maracatus, de Marcelo Gomes. De Malungo pra Malungo Alexandre Alencar, PE, 1999, 42 min O documentário registra a chamada ”cena musical pernambucana“. Narrado por seus 53 entrevistados, o vídeo apresenta uma espécie de ”versão oficial“ de como funciona a cena, não apenas na área musical, mas também na moda, no cinema e nas artes plásticas.


domingo 17h

Programa 6 (100 min) Amarelo-Manga Cláudio Assis, PE, 2003, 100 min Roteiro: Hilton Lacerda; fotografia: Walter Carvalho; direção de arte: Renata Pinheiro; música: Jorge du Peixe e Lúcio Maia; elenco: Matheus Naschtergaele, Dira Paes, Conceição Camarotti, Chico Diaz e Leona Cavalli Guiados pela paixão, os personagens de Amarelo-Manga vão penetrando num universo feito de armadilhas e vinganças, de desejos irrealizáveis, da busca incessante da felicidade. O universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um amarelo hepático e pulsante. Não o amarelo do ouro, do brilho e das riquezas, mas o amarelo do embaçamento do dia a dia e do envelhecimento das coisas postas. Um amarelo-manga, farto.

18 “Não recomendado para menores de 18 anos”

Bill Bragin Diretor de programação do Lincoln Center, em Nova York, onde supervisiona os festivais de verão Midsummer Night Swing e Lincoln Center Out of Doors. É também cofundador e produtor do evento anual Global Fest, em sua sétima edição. Velho fã da música brasileira, abriu espaço internacional para artistas pioneiros do movimento mangue beat, incluindo o lançamento nos Estados Unidos de Chico Science & Nação Zumbi, no SummerStage, em 1995. Paulo André Pires Parceiro, amigo e produtor musical de Chico Science, Paulo André criou, em Recife, um dos mais importantes festivais alternativos de música do país: o Abril Pro Rock. Sua primeira edição foi em 1993 e teve papel fundamental para que o movimento mangue fosse catapultado ao resto do país. Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A fizeram apresentações memoráveis no festival. Carlos Eduardo Miranda Entusiasta da cena mangue, o produtor de Porto Alegre esteve presente nas primeiras edições do festival pernambucano Abril Pro Rock. Fundou o Banguela Records, importante selo brasileiro de música independente e responsável pelo lançamento nacional da Mundo Livre S/A.

Conversa de Mangue domingo 28 março 2010 19h sala itaú cultural Especialistas musicais e protagonistas do movimento mangue debatem os ecos da cena no Brasil e no mundo. Beco Dranoff Produtor musical brasileiro que vive em Nova York, Dranoff criou a Ziriguiboom, produtora e selo musical responsável pelo lançamento internacional de artistas como Suba, DJ Dolores, Trio Mocotó e Bebel Gilberto. Borkowski Akbar Um dos fundadores da Womex, uma das mais importantes feiras de negócios da música alternativa no mundo. Produtor do festival alemão Heimatklange, que significa “sons da terra”, e também do Piranha Records, selo de Berlim pioneiro em lançar a world music na Europa. Fred Zeroquatro Líder da banda Mundo Livre S/A, amigo de Chico Science e protagonista do movimento mangue beat, Fred é também o autor do manifesto Caranguejos com Cérebro, marco na criação da cena.

Mangue Shows quinta 1 a domingo 4 abril 2010 sala itaú cultural

quinta

20h Coletivo Instituto

sexta

Mundo Livre S/A e convidados

sábado

Mundo Livre S/A e convidados

domingo

Orquestra Popular da Bomba do Hemetério pação

saiba mais em itaucultural.org.br/ocu


Expediente Fanzine Ocupação Chico Science O fanzine da Ocupação Chico Science é uma experiência editorial de Mariana Lacerda (edição, com o auxílio de Marco Aurélio Fiochi), Liane Tiemi Iwahashi (direção de arte), Estevan Pelli e Jader Rosa (ideias e ilustrações), Rodrigo Silveira (arte dos textos assinados por Bia Abramo, Mabuse e Hilton Lacerda), Laura Daviña (arte dos textos assinados por Xico Sá, Dolores e du Peixe) e Renata Pinheiro (ilustração encartada). Participam Jorge du Peixe, Fred Zeroquatro, h. d. mabuse, Kleber Mendonça Filho, Bia Abramo, Xico Sá, Eduardo BiD, Aninha de Fátima Sousa, Hilton Lacerda e Helder Aragão (com textos), além de Caio Camargo (produção editorial), Rachel Reis e Polyana Lima (revisão). A fonte dos títulos foi feita por Fernando Peres. Agradecimentos: Marcelo Calheiros, Patrícia Cornils, Hilton Lacerda, Helder Aragão, Jorge du Peixe, Carlinha Sarmento, h. d. mabuse, Fred Zeroquatro, BiD, Luciana Veras, Joana Amador e Denis Russo Ficha Técnica Ocupação Chico Science A exposição Ocupação Chico Science é resultado da curadoria coletiva de Helder Aragão e Hilton Lacerda (Dolores & Morales), Goretti e Louise França, Paulo André Pires e Núcleo de Música, de Comunicação e de Produção do Itaú Cultural Curadoria musical dos shows Jorge du Peixe e Núcleo de Música do Itaú Cultural Projeto expográfico Helder Aragão e Hilton Lacerda (Dolores & Morales) e Equipe Itaú Cultural

Comunicação visual e produção gráfica Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Videoinstalação Landau Marcelo Pedroso/Símio Filmes (Recife) Grafite Derlon Almeida Acervos Família França, Paulo André Pires, h. d. mabuse, TV Viva, Videoteipe e Marcos Toledo (imagens) Fotografias do acervo Fred Jordão, Gil Vicente, Família França, Paulo André Pires e Roberto Amadeo Fotografias do Espaço Sósias de Chico Cia de Foto (São Paulo e Rio de Janeiro) e Projeto Lambe-Lambe (Recife) Captação de depoimentos Marcelo Pedroso/Símio Filmes (Recife), Guga Gordilho (São Paulo e Rio de Janeiro) e Cia de Foto (São Paulo) Produção do site Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural Produção da mostra de filmes Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Agradecimentos Dona Rita, Goretti, Janusse, Louise e Família França. Sonaly Macêdo Cavalcanti, Paulo André Pires, Jorge du Peixe e Nação Zumbi. Dolores & Morales, Amanda Barroso, Sonally Pires, Marcelo Pedroso, Fred Jordão, Gil Vicente, Roberto Amadeo, Evêncio, h. d. mabuse, TV Viva, Fred Zeroquatro, Videoteipe, Projeto Lambe-Lambe, Félix Farfan, Roger de Renor, Marcos Toledo, Melina Hickson, Adriana Vaz, Maria Duda e Renato L.



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