O Apanhador de Estrelas

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#1 jul/2010


EDITORIAL Há um raciocínio filosófico que diz, que se você consegue imaginar algo, é porque isso existe em algum lugar. Para mim, Adriel Paz não é um personagem, mas um amigo que não me foi apresentado formalmente e que está por aí deixando suas mensagens. As páginas a seguir contém algumas delas, adaptadas para o fantástico mundo dos quadrinhos. Esperamos que curtam... Abraços Nasci

JMA

DESIGN DESIGN

ASSOCIAÇÃO DOS QUADRINHISTAS DE LONDRINA

EXPEDIENTE O Apanhador de Estrelas #1 - é uma publicação independente de JMA Design com apoio do Syndicate Ink - coletivo de produção da AQL - Associação dos Quadrinhistas de Londrina, localizada na Revistaria Odisséia (Av.Senador Souza Naves, 307 - Fundos - Londrina - PR - Telefone [43] 3027-4250. Edição e produção Carlos Nascimento Contatos: fanzineria@hotmail.com - blog: www.fanzineria.blogspot.com - fotolog:http://fotolog.terra.com.br/fanzineria. O Apanhador de Estrelas, é criação de Carlos Nascimento © Todos os direitos reservados. Não está autorizada a reprodução total ou parcial do material deste fanzine, exceto para fins divulgacionais. Agradecimentos: A Eloyr Pacheco e ao povo da AQL , ao Gon da NHQ e aos amigos do Núcleo de Vida Natural Lua Sol que a anos trabalham na divulgação da qualidade de vida estimulando consciências.


Houve uma noite em que meu mentor, Amadeus, solicitou que eu escrevesse minhas memórias e que de alguma forma as publicasse... _Publicar minha história?! - respondi humorado - Acharão que se trata de uma fábula surreal! _E isso o deteria? - retornou ele sorrindo - Bem sabe que é assim que se comporta o homem, transformando a realidade em fábulas e as fábulas em realidade. Mas há os que enchergam além, e é para estes que vão suas histórias... _Tem razão - ponderei - Pode ser interessante...


“Minha infancia era assim...”

“Quando eu dizia que gente de outros mundos vinham falar comigo, aumentavam a dose dos remédios...”


“Já quando eu falava dos anjos fingiam não me dar atenção, depois eu os pegava olhando para o céu...”

“Mas era de noite que o bicho pegava...”


Fragmentos de um Diario...






Numa das salas de estar do asilo havia um dos quadros que minha avó pintou. Seu Ramiro, um dos internos, passava horas e horas dos seus dias a admirá-lo, depositava na obra um estranho e sincero encantamento e a sua frente manifestava as mais diversas emoções. Sorria, chorava, fazia caras de angustia e espanto. Andava pela sala observando a tela dos ângulos mais inusitados. Vivia aquela imagem com curiosa e profunda intensidade! Os enfermeiros diziam que ele estava esclerosando, minha avó dizia que estava se reconectando, os familiares diziam que ele nunca esteve tão bem e eu não dizia nada, só curtia ficar por perto para que ele me contasse as histórias dos seres que viviam naquele universo paralelo (sim, eu também os via) e chegou até a me apresentar alguns deles... Assim, seu Ramiro viveu os últimos anos de sua vida e após sua morte, o vi passeando algumas vezes por aquele vale verdejante expresso na pintura. Sob o signo da arte minha avó abria portas dimensionais com pinceladas cheias de simbologia. Chaves místicas feitas para expandir consciências levandoas a mundos extraordinários mais reais que este. Uma atividade passional que de forma inusitada libertou a alma de muita gente. Cores não são só cores, o real não é o que está a frente dos olhos, ela me dizia, no universo, a vida se manifesta das mais variadas formas e a humanidade está entre as menores manifestações. Seja puro e aprenda a inspirar os corações, ela me cobrava, encha o mundo de rastros coloridos que ajudem as pessoas a encontrar os caminhos da realidade...





“...so que por ai deixamos nossas crias mentais barbarizando o inconsciente coletivo...�


O

APANHADOR ARTE

E

ROTEIRO

DE POR

ESTRELAS

GABRIEL

EM

FAEDRICH

TENHO

MEDO ABSTRATO

APENAS

UM

MEDO...


...TENHO MEDO DE ACABAR TENDO MEDO DISSO TUDO.

Nテグ!!


Nテグ

TENHO

MEDO,

Nテグ.









“De concreto mesmo, so a morte. E a vida que teremos depois dela...�










O

APANHADOR

DE

ESTRELAS

Faces da Solidão

Ontem, sentei num banco de praça ao lado do espírito de uma senhora que tricotava. Ela ia todas as tardes a aquela praça, não tinha ciência de que seu corpo já havia falecido a dezoito anos e assim, continuava suas rotinas de aposentada solitária. Sua vida era bem simples, resumia-se em despertar sempre no mesmo dia. Aos seus olhos aquela praça era a mesma de vinte anos atrás. As arvores eram mais jovens, não haviam tantas pichações e as construções que a cercavam eram outras. Ela me sorriu com o olhar de quem busca puxar conversa e eu correspondi, o que visivelmente a deixou feliz. Senti que ansiava por atenção e lhe fui todo ouvidos. A simpática senhora falou bastante da família, dos filhos e netos distantes, do “finado” marido e sobre não ter muitos com quem conversar. Isto disse com grande pesar. Um de seus comentários foi bem curioso: “Geralmente as pessoas não me dão bola, não gostam de prosear com velhos, passam pela gente como se fossemos fantasmas!” A certa altura da conversa senti que minha consciência havia se desacoplado de meu corpo físico. Confirmei isto olhando à minha volta e percebendo que estava no mesmo lugar, mas não na mesma dimensão. Logo, entendi o que eu havia de fazer ali. Decidi convidar a pequena senhora a dar uma volta, ela aceitou de pronto, disse que precisava mesmo “esticar as canelas”. Sem que percebesse então, iniciei minha tarefa, partindo para a caminhada, fui afastando-a de sua região de vivência rotineira, pois, aquele lugar aparentemente inofensivo, havia se tornado um “feudo astral”; uma espécie de mundinho imaginário (semelhante a aquele do Pequeno Príncipe) cristalizado num lócus do espaço tempo. Ambiente que para muitos se torna verdadeira prisão psíquica. Durante o passeio, a senhora pediu que lhe falasse a meu respeito e dadas as circunstâncias, experimentei contar-lhe a verdade.


Falei sobre meus constantes encontros com espíritos, elementais e seres de dimensões diversas; comentei sobre as fortes dores que sinto quando estou em ambientes influenciados pelo mal ou pela ignorância e apresentei minha missão de usar a energia da arte para inspirar as pessoas a seguirem a “LEI". A tudo ela sorriu, dizendo que eu era muito criativo e que deveria ser escritor, mas alertou-me para tomar cuidado com essas “fantasias” (isso eu sempre achei engraçado, até para fantasmas minha realidade é ficção!). Então, de modo a não comprometer meu dever para com ela, concordei. O trajeto que fazíamos poderia tornar-se perigoso caso ela tivesse alguma dúvida ou temor. Estávamos naquele momento flutuando nos intervalos entre os feudos astrais, que são territórios bem hostis, consistem em espaços abertos compostos por fluídos ectoplásmicos dispersos, não há solo, é como o espaço sideral só que levemente aquoso. As características do lugar permitem que meus poderes criativos sejam consideravelmente ampliados. Se eu mantiver meus pensamentos devidamente controlados posso fazer coisas fantásticas. Por outro lado, um espírito como o desta senhora, que não tenha consciência de sua fluidez, pode cair como uma pedra numa queda que só termina quando ele é resgatado ou se conseguir despertar novamente em seu mundinho. Aquela região, também é área de transito de piratas, pesadelos e inúmeros espectros trevosos,


sem comentar o fato de ser o lar dos “desmemoriados”, seres sombrios e mutacionados que perderam suas consciências e vivem a vagar como zumbis em busca de dejetos ectoplásmicos para se alimentar. Normalmente eles não nos vêem, mas o medo pode atraí-los rapidamente e nos tornaríamos um prato bem incomum. Por isso era necessária cautela e concentração, pois, neste trajeto, enquanto eu distraia minha nova amiga plasmando paisagens à nossa volta, também criava pequenos campos de força sob os nossos pés garantindo a sensação de terreno firme. A caminhada foi lenta e a distância era razoável, mas conseguimos alcançar o portal que separa a região dos feudos astrais das regiões da espiritualidade consciente. Este portal, que tinha a forma de uma bela arcada de mármore trabalhado, ficava sobre uma ilhazinha flutuante atentamente protegida por dois grandes guardiões de armadura brilhante. Eu fiz com que a senhora pensasse que se tratavam de policiais e estes, sabedores da nossa vinda, autorizaram nosso acesso. Do outro lado do portal a realidade era completamente diferente. Ali estávamos em terreno seguro e a paisagem que nos cercava era muito mais bela do que a que eu estava projetando. Arvores frondosas e arbustos floridos apinhados de borboletas embelezavam todo o lugar que se assemelhava a um harmonioso vilarejo com fontes, construções bem acabadas e belas pessoas a passear. A senhorinha notou que os pássaros pousavam nos ombros das pessoas e cantavam como se estivessem a conversar com elas e também notou que todas as pessoas lhe cumprimentavam com um sorriso. E isso a animou muito. Contemplativos, caminhamos mais um pouquinho e logo avistamos nosso destino ao encontramos o grupo de espíritos amigos que nos aguardava. De imediato a pequena senhora reconheceu a irmã e o marido e no mesmo instante, deu-se conta de que não fazia mais parte do mundo físico, exclamando com a face esticada: _Eu to morta?!... Olhou-me então, com uma expressão espetacular, que mesclava espanto com alegria, dúvidas e sabe lá quantos outros sentimentos. Sem ter muito o que comentar, agradeci-lhe a companhia, afirmando apenas que tudo estava bem, sua solidão havia acabado. Emocionada, caminhou lentamente para junto dos seus abraçando-os e alisando seus rostos. Havia muita conversa para botarem em dia. Com a missão cumprida, busquei retornar minha consciência ao meu corpo físico que estava sentado no banco da praça do mundo físico/material. E já desperto, mantive-me por alguns minutos contemplando o nada. Bateu-me aquele vazio ocasional. A solidão é uma velha conhecida. Minha vida não é nada comum, por isso, pouquíssimos além do meu diário conseguem ouvir minhas histórias sem me dar descrédito ou diagnosticar alguma insanidade. Por um lado isso me é muito duro, pois me isola de diversos tipos de relacionamento, mas por outro tenho grande pena das pessoas que perdem oportunidades de desenvolver novos sentidos e de registrar em si, as mágicas realidades escondidas atrás dos muros da visão comum. Sinto-me um solitário entre os homens, mas vejo a humanidade, ainda incrédula, uma solitária ainda mais profunda em meio as vastas comunidades universais.



(Mentalize a paz)


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