Amensal

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Nicolas Soares

esta aporia

1a edição

Vitória Nicolas Oliveira Soares 2016


ISBN: 978-85-921026-0-9 2016


Per crucem et passiรณnem tuam Libera nos, Domine


TRÊS FÓRMULAS DE RECOMPOR: A PRIMEIRA DELAS É COMPOR. A SEGUNDA É DESTRUIR. TERCEIRA, COMEÇAR DE NOVO.


O Ser em movimento tende a sentir o movimento das coisas, do tempo, de Outrem em suas implicações. Proporcionalmente, seu percurso no tempo, na paisagem das emoções – na linguagem dos sentimentos – infere também um rastro; um estigma. Dialeticamente: no juízo dos elementos conflitantes (dos sujeitos em movimento), entre os fatos das suas manifestações emerge novo estado decorrente de tal conflito: um estado amoroso alvorece. Narrativa dos contrassensos: Precipitar-se. Antecipar-se. Suprimir isto. O cerceamento e, ao mesmo tempo, a manutenção da coisa revogada: sujeito inibidor. O resignado permanece dentro do entrecho: sujeito amensal. Não se pode narrar apenas um revés de antíteses, a imaginação dialética quer superar o logro das oposições. [Eu e Você]. A inquietação de um para o outro quer inscrever a dialética. O duelo é íntimo e situa um contra-si: atividade e passividade não anulam movimento, negam para sempre o repouso pela agitação íntima: o Ser amensal de si. Caminhar pelo espaço do íntimo é, de alguma forma, suprimir o que cresce por dentro. Tal alvoroço encontra no Outro sua força motora para velocidade constante: Acidente; distância aproximada; Esgotamento. O desejo do Ser é o desejo do Outro [pelo Outro], seu percurso inteiro é querer e cessar de querer, contudo sem encerrar desejo. O decurso apaixonado traça devastações, porque a demanda do amor é o amor, o quanto e o tanto. Mais, ainda: o recíproco está aí, está onde, do Outro, também reivindica destruição. A correspondência é uma falácia que incita o transtorno, marca a impossibilidade e abona os danos.




o percurso |Não existe deslocamento sem vestígios, não existe percurso silencioso ou sutil, sempre é uma manifestação, troca de forças. Ninguém passa impune. A ambivalência dos sujeitos do percurso: conflito. O duplo da ação cursa a dinâmica de duas partes em exercício, a despeito de se apresentar uma como sujeito ativo e outra como quem sofre a ação. O esforço do sujeito em traçar seu percurso é dado com o esforço da terra em ludibriar a distância. O esforço das nascentes em traçar o desejo de um rio cresce do esforço das margens em dissimular os meandros.


PORQUE SEU RASTRO É DESVENTURA, PORQUE DELGADO E CEGO




prélio de forças |Há uma peleja constante de forças arquetípicas que, em seus domínios, nas ações que não deixam de ser e cessar, concluem a vontade dialética dos sujeitos e seus gestos. A brancura da água revirada – a espuma densa dessa agitação – é símbolo da ânsia profunda, do desejo de sempre ir de encontro a Outrem. A água corrente traz consigo o ânimo da expectativa através de um circuito impetuoso que, por fim, leva a uma sina de violência – circunstância inevitável: bruta colisão entre dois corpos. O anseio da água é atingir o rochedo, contudo suas ondas são laceradas nas pedras. Contra tais investidas de paixão, o sujeito que se agarra profundamente no solo da sua vontade lança mais alto os resíduos deste impacto. Rebentação de onda, espuma e desejo.





DAI-ME O QUE É MEU | SE ISTO NÃO FOSSE AQUILO QUE CULTIVO



o corrosivo |O circuito fechado das arestas ajeita o contorno ideal que abriga um sentimento subjugado. Ou o efeito de um sentimento. Ou o próprio devaneio. Meu coração é um cubo mortífero. Ferroso. Ferrugem. O profundo de sua composição material obriga o combate íntimo da superfície à graça de alguma angústia que rói o espírito. À graça dos sortilégios intempestivos que devastam a profunda superfície da alma.


" EXISTIR É SER CRUEL E ASSASSINO "






o labirinto |Encontrado, então, o percurso do devaneio ao Outro, o fio que conduz ao centro do emaranhado se desfaz a cada passo dado. Deparo com o assombro no núcleo do sonho labiríntico. Suplico a Ariadne que detenha meu desejo. E a absolvo por todas as vezes que amparou meus passos. Não há volta. Tudo é perífrase. É um percorrer em se perder sem fim. Levo ansiedades de outrora em direção ao que há de ser desventuras. Então, aprisionado no caminho, nesta aporia – redemoinhos de desejo, em torno do Outro, me revolvo. A condição angustiada dos passos demarca e inscreve amiúde os meandros do labirinto. O indivíduo labirintado é o ser desatinado a caminhar inconsciente. Entretanto, nas hesitações deste indivíduo labirintado, no movimento de seu desejo tolhido, é que se forma o labirinto. E no percurso traçado, assim, por mim, perco-me em meus próprios desfiladeiros, porque, pelas fissuras labirínticas, predestinado a me perder infinito, tento alcançar a libertação ou a salvação de Outrem ou de mim mesmo




ESTAR NO LABIRINTO É ESTAR EM NÁUSEAS – FALTA DE EQUILÍBRIO DO SER: O ESTADO AMOROSO É UM ESTAR EM LABIRINTO








o soterramento |O sujeito, um corpo que se perde e se enterra. Seu desejo é uma raiz que se prolonga, emaranhada por um sonho de profundeza. A raiz é gesto de sepulcro à procura da camada infernal. É vida e morte. O Ser subterrado em seu desejo almeja o terreno estável – o desejo selado –; atar-se em solo móbil. O desejo de ter raízes. Enraizada, a árvore parte ao encalço do desejo profundo que, cada vez mais profundo, nunca alcança. Arraigado, o sujeito, edifica aspirações aéreas – românticas.







"- E SE EU ME SITUASSE COMO UMA FORÇA DIANTE DA TUA FORÇA?”



memento mori



|referências BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios da vontade: ensaio sobre a imaginação das forças. 2. ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2001. BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios do repouso: ensaio sobre as imagens da intimidade. 2. ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2003. BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. 16.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2001. LACAN, Jacques; MILLER, Jacques-Alain. O seminário, livro 20: mais, ainda. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2008.


|ficha técnica

NICOLAS SOARES Fotografia | vídeo | edição

Agradecimentos

Samir Oliveira José Luiz Carnielli

Produção fotográfica

Barbara Carnielli Moema Freitas

Agradecimentos especiais

Fernando Cola Iago Amaral Torezanni

Textos

Nicolas Soares Revisão

Alana Stein Designer

Fernanda Soares Trilha sonora incidental/original

André Prando Juliano Rabujah

Axs amigxs

Ana Verana Barbara Carnielli Clara Sampaio Gisele Ribeiro Liane Heckert Luís Moura Marília Lima Moema Freitas Poliana Dalla Barba

Projeção

À família

PixxFluxx

Minhas irmãs Fernanda Soares e Daphne Soares

Palestra

Luís Moura

Aos meus pais Rita Soares e Fernando Soares pelo apoio incondicional.


|realização Governo do Estado do Espírito Santo Secretaria de Estado da Cultura Governador do Estado

Paulo César Hartung Gomes Vice-Governador do Estado

Subsecretário de Estado de Gestão Administrativa

Ricardo Pandolfi

César Colnago

Gerência Funcultura

Secretário de Estado da Cultura

Assessoria de Comunicação Coordenação de Assessoria

João Gualberto Subsecretário de Estado da Cultura

José Roberto Santos Neves

Catarina Linhales

Carol Veiga Assessores Erika Piskac e Danilo Ferraz

|apoio Prefeitura Municipal de Vitória Casa Porto das Artes Plásticas Kênia Lyra

Acervo e Patrimônio Bernadette Rubim Teixeira

Assessor de Comunicação

Acessibilidade Cultural

Coordenadora

Leonardo Vais Equipe Arte-educação

Rachel Silva Mattos Rosana Franca Rocha Mediadora Raissa Conrado

Lilian Menenguci Equipe Administrativa Ana Cristina Boldi Veiga dos Santos Rafael Ramos



apoio:

realização:

Funcultura

Secretaria da Cultura




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