O Rebelde

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JUN/JUL 2014

O Rebelde www.namaste.com.br

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Abaixo o ciúme, confie no amor

Rebelde! Pois a rebeldia sempre existiu entre os seres vivos. Mas não é uma rebeldia à toa, é uma rebeldia com profundidade. Ser rebelde não é apenas contestar, mas também propor espaços para a construção de novos horizontes. Nós buscamos o novo: o novo homem é o rebelde, ele vem da contestação de todos equívocos da humanidade. Não dá pra ensinar alguém a ser rebelde. Não! Ele já está dentro de cada um de nós, basta desmanchar o careta, o quadrado, o obtuso, o medroso que daí vai explodir o rebelde. Com o coração, com a profundidade que cria o novo. O rebelde é guiado pelo coração, porque a maior rebeldia que existe é o coração. Não se trata daquele que é confundido com o ressentido, com o magoado. Não! É aquele que busca a liberdade, a satisfação, o êxtase, a profundidade. É andar de cabeça erguida e não ser simplesmente mais um no meio de uma boiada! O rebelde tem altivez, pensa, constrói, segue em frente. E essa rebeldia é fundamental para que o nosso ser volte a pulsar, acreditar. Esse jornal é para isso, para fomentar o rebelde dentro de cada um, para a gente construir realmente uma vida amorosa, verdadeira e profunda.


Corpo e Equilíbrio

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corpo e o equilíbrio emocional estão extremamente vinculados. Você precisa de equilíbrio corporal para poder ter equilíbrio emocional. Se você não consegue ter o mínimo equilíbrio corporal para andar no meio-fio de uma calçada ou em cima do galho de uma árvore, como é que você vai querer ter equilíbrio emocional? É quase impossível! Por isso é tão fundamental que na infância você tenha espaço e a possibilidade de usar o corpo. Seja subindo em árvores, pulando um muro ou caminhando sobre ele. É óbvio que você vai cair, ter tombos, se machucar, mas aí seu corpo vai aprender. Está aprendendo o seu equilíbrio, a ter força, impulso; se você vai subir em uma árvore, precisa de impulsão; está criando força no teu corpo. Se vai saltar

Crianças desenvolvem apenas os dedos em celulares e smartphones

uma vala você vai precisar de impulsão, quando cair no chão vai precisar de equilíbrio. Você vai criar músculos no teu corpo que vão trabalhar. Quando corre, quando desce um lugar de uma maneira mais rápida, conexões são criadas no seu cérebro, quando situações emocionais existirem você terá um corpo para sustentá-las. Agora se você tem um corpo rígido, que não tem essa capacidade, não vai conseguir sustentar essas emoções, você vai colapsar. Se numa situação de poder, de repente você precisar dar um grito com uma pessoa, dizer "Não!", para isso precisa de uma musculatura, uma força. Sem esses músculos você não vai ter potência no seu não. E não se sentindo capaz e potente, você vai se calar e engolir. Terá uma atitude emocional passiva. É importantíssimo que os pais se alertem para isso com seus filhos. Eu consegui, na minha infân-

“A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento.” Albert Einstein

Carta ao Filho Eduard em 5 de fevereiro de 1930

cia, ter equilíbrio caindo. Caí muitas vezes, me esfolei, me machuquei, mas isso não me criou nenhum dano. Apenas aprendi a sentir aquela dor, aquilo me dava uma motivação maior para eu batalhar pelo meu equilíbrio. Hoje em dia tentamos facilitar tudo e isso é uma grande desgraça. Se acontecer uma crise emocional, que você entra num buraco, uma namorada lhe abandonou, seus projetos deram errado, você precisa de uma força pra sair disso e essa força vem do corpo para se aliar ao seu emocional. Não confunda força com rigidez! Por isso os esportes são tão fundamentais para as crianças, mas hoje em dia nós não temos esportes, porque não há espaço, lugar. Sobra aquela educação física vergonhosa dos colégios ou as escolinhas de futebol que são uma mutilação emocional das crianças, porque dois ou três são bons e os outros são coadjuvantes que quase não tocam na bola. Ao invés do futebol ser uma brincadeira, virou uma fábrica de craques pro futuro. Pura loucura! E você como adulto também tem que mexer seu corpo. De preferência, o que é muito importante, com atividades que você gosta e lhe dão prazer senão você vai virar um soldado. Se usar seu corpo em coisas que te dão prazer (jogando futebol, por exemplo), a musculatura que você cria será solta, com força, porém elástica para o prazer. Senão você vai virar uma pessoa rígida e VÊEM? ESTA É A dura, um soldado, que BORRACHA DE APAGAR não tem alegria. AcadeIDEOLOGIAS! mia é uma coisa muito chata, porque não tem um prazer, uma alegria, você não vai lá brincar, descontrair, usar o corpo dessa forma.


Você vai lá para ter músculo, ficar bonito, fazer força, sacrifício. Serão músculos que não vão gostar de se divertir, vão gostar de trabalhar. Constatamos que hoje em dia tudo é feito em plano reto, nossos pisos são todos retos, feitos para andarem máquinas, carros, rodas. Não temos relevo, não temos pedra para pisar. Existe um arquiteto austríaco que faz construções com pisos irregulares. Talvez você ache doido. Ou talvez ele tenha uma visão mais profunda em comparação a essa mediocridade acadêmica que vemos por aí. Pense um pouquinho: se o teu pé pisar em um terreno irregular forçará vários pontos do teu corpo. A medicina chinesa já diz isso: cada ponto do pé tem correspondência com um órgão. O pé também cria vários tipos de equilíbrio: no tornozelo, no joelho, exigindo uma composição diferente se você está em um plano inclinado. Quem nunca fez isso tem um corpo com músculos que estão totalmente paralisados. Toda essa vida retilínea cria um pé chato. E tem um componente emocional aí: talvez por isso as pessoas estejam tão chatas. E por favor, tirem as crianças do computador, senão a única coisa que elas terão de maravilhoso serão seus dedos. Nada como um pai, uma mãe, jogar vôlei, futebol, correr com seu filho, brincar de pega-pega, amarelinha, dar cambalhotas. Tem criança que nunca deu uma cambalhota. Gente, isso é muito importante para o equilíbrio, você perde o medo! Um corpo não usado vai criando muitos e muitos medos, paralisando. Até para fazer amor você precisa de um corpo, senão teu amor vai ser de quarta ou quinta divisão. Isso gera infelicidade. Nós perdemos espaços e possibilidades de usar o corpo. Nós não subimos mais uma escada, não caminhamos mais um quilômetro, não subimos um telhado, não subimos em uma árvore, não pegamos uma fruta do pé. Isso é um dano corporal, físico e emocional muito grande! É urgente que

retomemos nosso corpo e isso vale para os adultos também. Senão você começa a endurecer e vai ficar igual aqueles navios encalhados no porto do rio Guaíba, que não servem nem pra sucata. E você tem a possibilidade de construir isso.

O arquiteto de piso irregular "O piso reto é uma invenção do arquiteto. Ele é feito para máquinas e não para as pessoas usarem... Se o homem moderno é forçado a andar sobre asfalto, concreto, em superfícies retas sem piedade, como elas são concebidas no estúdio de design, como uma régua, alienado de percepção natural e contato com o solo, então uma parte crucial do ser humano é entorpecida. As conseqüências psicológicas são desastrosas, o equilíbrio mental, bem-estar e saúde das pessoas ficam comprometidos. A experiência humana é esquecida e se criam doentes mentais. O piso irregular significa uma recuperação da dignidade humana, que foi retirada das pessoas no urbanismo de nivelamento." Friedensreich Hundertwasser, Austria.

Filme 3 IDIOTAS (Diretor Rajkumar Hirani; Ator principal Aamir Khan; Comédia / Drama; Índia / 2009) É algo surpreendente, eu vi muitos filmes na minha vida mas esse é o “the best”. Você vai rir, chorar, voltar a acreditar na vida, lembrar daquela pulsação mais rica que você tinha, do teu sugo essencial, irá se conectar com aquele ser lindo que acreditava que era. Você vai enxergar no personagem principal o cara que teve “insights” parecidos com os que você teve, só que ele fez e você, por medo, não. E não é um filme brega. Essa produção só não ficou famosa porque a indústria cinematográfica norte-americana jamais vai permitir que um conteúdo tão maravilhoso como esse apareça. Divertido, emocionante, profundo e de alta qualidade: são duas horas e quarenta minutos para tirar o chapéu!!!


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O Ciúme e seus Disfarces

ciúme é uma emoção muito forte que tem nos acompanhado por muitos e muitos anos. Às vezes, ele chega a ser absurdo. Existe aquele ciúme paranóico, onde não está acontecendo absolutamente nada e a pessoa fica viajando, viajando... E não é pouca coisa, gente! Se você já sofreu com esse tipo de ciúme sabe como é doido isso. E existe o ciúme que dispara em situações

onde existe possibilidade de acontecer algo. Por exemplo, numa roda de amigos seu parceiro(a) conversando, estando mais próximo de alguém. Isso já dispara um ciúme pela possibilidade, apenas pela possibilidade. Muitas vezes não está acontecendo nada, mas a possibilidade de acontecer já dispara esta doideira. Esse tipo de ciúme é muito dissimulado, porque as pessoas começam a evitar essas situações: uma roupa mais bonita, nem pensar! Uma sensualidade ousada, também não! Já se torna menos atraente para não perturbar o parceiro; evita aquelas pessoas que são interessantes, círculos de amigos, algumas atividades... tem gente que evita até determinadas ruas! A pessoa começa a se auto-bloquear, o casal já tem programas fechados entre si. De antemão você quer bloquear a possibilidade da pessoa estar com outro. Só que com essa atitude você está se tornando medíocre, acomodado e fisicamente sem graça, sem energia. Só que você se esquece que está assim também para o seu parceiro(a). E aí a relação fica pobre. Esse medo asfixia o seu amor, e quando você vê, está em uma vida frustrada, com pouca realização, com a sexualidade lá embaixo. Mas

você se contenta pois tem alguém ao seu lado. Pra quê? Pra registrar sua infelicidade? Existe, ainda, o ciúme real: “Meu parceiro ficou a fim de uma pessoa”. E aí, o que você faz? Reprime com toda força, de toda maneira, pois é um instinto maligno, é um crime contra o patrimônio? Que absurdo, gente! Não é uma situação fácil, mas para as pessoas vivas pode acontecer. São raras as vezes que eu vi alguém se separar por causa disso. Mas já vi muita gente se separar por ter se reprimido. Isso eu tenho certeza, se você reprimir as estórias, você vai culpar o outro. A força do amor está na liberdade, na confiança e no querer bem ao outro. Se a pessoa está contigo é porque ela te ama. É óbvio que às vezes tem muita carência, mas se ela preferiu estar com outra pessoa e depois voltar pra você, significa que ela está a fim, e não há nenhum mal nisso. Ou você acha que a pessoa só vai querer ter estória com você? Nós não nascemos com ciúmes dentro, ele é introjetado em nós pelo tipo de relação que temos com nossos pais. Se a mãe criou o filhinho como seu e de mais ninguém, se o menino começa a competir com o pai, se o pai faz a mesma coisa com a filha, aí começa o ciúme, o veneno. Os pais fazem jogos, criam insegurança nos filhos. Uma criança precisa contar com seus pais para sobreviver, ela não tem mobilidade, não pode dispensá-los e se virar sozinha. Mas você pode! Você é um adulto! Se acabou uma história com uma pessoa, você pode chorar e espernear, e depois se relacio-


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nar com outra pessoa. A não ser que você esteja preso nas suas questões infantis. Aí sim você tem medo de perder aquela pessoa porque você vai ficar abandonado. Ora, isso não é adulto, isso é uma atitude de criança. O ciúme é um veneno que destrói o amor, que transforma o outro em sua propriedade, não em parceiro, companheiro de vida, aquele que está propiciando prazer, êxtase. Quando você tem um dono(a), você sente raiva dessa situação e aí o amor vai para o saco. Sim, a cura do ciúme é você mexer profundamente na sua infância e querer crescer.

A gente fica tão em pânico, que nesse momento já passa pela nossa cabeça “Ah! Então agora eu tenho que transar com todo mundo!”. Nada disso está sendo dito aqui, mas dispara na cabeça por medo de situações acontecidas na infância. O amor precisa de confiança, de leveza, de parceria, de querer bem ao outro. E aí se seu parceiro sentir um tesão muito grande por outra pessoa? Você acha que amor é impedir ele de viver isso? Acha que ele sentir tesão por outra pessoa é algo contra você? A pessoa ciumenta se acha uma merda, porque se o parceiro transar com alguém, é óbvio que ela vai ser trocada. E esse sentimento de que você não é capaz, não é suficiente, vem lá da infância, do tipo de relação que teve com seus pais. O ciúme não é amor, é uma doença e tem que ser tratado como doença! Aí o amor vai poder florescer cada vez mais. Infelizmente, nossa educação, nossas vivências emocionais com a nossa família sempre estimularam a posse, o medo e a falta de liberdade. Se você confiar, o amor vai crescer cada vez mais, e se ele terminar será uma satisfação e uma gratidão e não uma mala de ressentimentos.

Histórias Reais sobre Ciúme Por muito tempo neguei ser uma pessoa ciumenta. Depois fui me dar conta que na verdade apenas controlava o ciúme que sentia, não o manifestava para os outros, mas internamente esse sentimento me corroía em diversos tipos de situação. Algumas vezes, entrei na paranóia de imaginar que naquele momento minha parceira estava ficando com outra pessoa. Quando situações deste tipo aconteceram, senti uma tensão e desespero enormes, até me dar conta que era uma grande viagem da minha cabeça e ficar envergonhado de ter sentido isto. Sem falar no rolo de comparação com os outros homens, de me sentir menos bonito e atraente. Por isso, além de achar que qualquer homem bonito que aparecer vai ser mais atraente para minha namorada que eu, sempre tive muito ciúme dos ex-namorados de minhas parceiras, nunca quis ouvir falar dos ditos cujos, por pura insegurança de me sentir menos homem que eles.

Igor Freitas - funcionário público


Histórias Reais sobre Ciúme Triste é achar que sentir ciúme significa amar alguém, falo por experiência própria. No auge da minha insegurança eu já cheguei a criar situações de ciúmes para que a pessoa que estava comigo “me amasse”, mas só fiz ela se sentir tão insegura quanto eu estava. Eu queria manipular a pessoa gerando insegurança nela. Sentia-me poderoso controlando a situação. Um controle idiota, porque na verdade estava perdendo de ser livre, na medida em que ela passou a querer me controlar, saber onde eu estava e com quem eu falava, etc. Quando estou com ciúmes sinto que perco o controle da situação, que vou ser trocado por alguém ou mesmo alguma coisa. E muitas vezes este ciúme vem acompanhado de um sentimento de raiva muito forte, que quando não expresso, faz com que eu fique travado, sério, sem alegria, até que de alguma forma eu acabo brigando com a pessoa por algo pequeno. Quando isso acontece ainda vem um sentimento de vergonha e culpa por estar brigando pela coisa errada.

Arno Duarte - gerente de RH

ELE ESTA COM VOCÊ POR QUE ELE QUER OU POR QUE VOCÊ ESTÁ SEGURANDO?

No começo quando tudo estava fluindo e só o que movia era a paixão eu não sentia ciúmes. Mas aos poucos, sem eu perceber, estava pirando de ciúmes do meu parceiro. Qualquer mulher abraçasse ele me deixava paranóica. Eu não estava entendendo o porquê daquela loucura começar a disparar. Inconscientemente fui me grudando nele, dormindo junto quase todas as noites, e nas que não ficava, me sentia mal. E fui percebendo que quanto mais eu tinha ele perto, mais insegura e paranóica eu ficava. Era um sentimento de posse muito desproporcional para toda a fluidez que tinhamos antes. Ao olhar para mim, percebi que estava fazendo minhas coisas (e mesmo as que me traziam preenchimento) no automático, que não via mais meus amigos, que havia perdido minha vitalidade. Estava sendo metade do que eu era, estava me sentindo perdida. Percebi que não estava conseguindo contatar com as pessoas, falar o que eu pensava e correr atrás do que eu queria. Estava totalmente sem poder pessoal. Ao olhar para minha relação, vi que nossas transas estavam metade do que eram antes. Não estavam mais tão divertidas. Comecei a evitar o choque com meu parceiro, as brigas não aconteciam mais. As magoas foram acumulando e matando nosso amor, deixando tudo monótono.

Ingrid Has Pilar - estudante Eu gostaria de ficar relaxado quando um homem é carinhoso, amável com minha parceira e ela o admira. Mas a verdade é diferente; passei muitos anos negando meu ciúme e até hoje me pego sentindo ciúmes e querendo “passar por cima” da situação. Já passei por cada uma: ficava desconfiado de algumas namoradas em festas e depois quando voltávamos pra casa começava o bate-boca. Algumas vezes, só o fato de elas saírem sozinhas para festas universitárias masculinas era motivo para briga. Ou então, se uma namorada gostava de dançar com outro cara eu ficava mordido, me sentindo em segundo plano e com a sensação de que estava sendo trocado; daí já procurava uma maneira de chamar atenção dela até a discussão começar. E o fato mais impressionante em todas essas situações, além do ciúme, era que em nenhuma delas minhas namoradas estavam interessadas em ficar com outros homens. Pura ilusão minha! Em algumas situações o amor não aguentou a viagem; mas em outras, tive coragem, me encarei e o amor cresceu com a consciência. Confio cada vez mais no amor e sinto que ciúme só rola quando não estou amoroso.

Rafael Borges - biólogo


A Pedra de Toque

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xiste uma lenda que conta que, quando a grande biblioteca de Alexandria foi queimada, um livro foi salvo. Mas não era um livro de muito valor, por isso um homem pobre, que pouco sabia ler, comprou-o por uns tostões. O livro não era realmente muito bom, mas nele havia algo interessantíssimo. Era um tipo de pergaminho, no qual estava escrito o segredo da "pedra de toque". A pedra de toque era uma pedrinha comum, que podia transformar qualquer metal em ouro puro. No pergaminho estava escrito que era encontrada nas praias do Mar Negro, misturada a outras milhares e milhares de pedras exatamente iguais a ela. Mas o segredo era este: a pedra real era quente, enquanto as outras eram frias. Então, o homem vendeu os seus poucos pertences, comprou alguns mantimentos e foi acampar na praia, onde começou a testar as pedras. Esse era seu plano: ele sabia que se pegasse as pedras comuns e as jogasse de volta ao chão, poderia pegar a mesma pedra centenas de vezes. Então, quando pegava uma fria, ele a jogava ao mar. Assim, passou uma semana, um mês, um ano, três anos... e o homem não encontrava a pedra de toque. Mas, mesmo assim, ele continuava: pegava uma pedra, era fria, jogava-a no mar... e assim por diante. Imagine o homem fazendo isso por anos e anos: pegar uma pedra, senti-la fria, jogá-la no mar... de manhã até a noite, por anos e anos. Mas, uma manhã, ele pegou uma pedra que estava quente, e jogou-a no mar. Ele criara o hábito de jogar as pedras no mar, vocês compreendem, e o hábito fez com que ele jogasse a pedra quente também, quando finalmente a encontrara. Pobre homem! É assim que a mente funciona. A confiança é uma pedra de toque. Muito raramente você encontra alguém em quem você pode confiar. Muito raramente você encontra um coração quente, amoroso, no qual pode confiar. Normalmente, você encontra pedras que parecem a pedra de toque, quase iguais, mas são frias. Por anos, desde a infância, você pega uma pedra, sente-a fria e a joga no mar. Um dia - é um fenômeno muito raro - você encontra a verdadeira pedra de toque. Você a pega, sente que é quente, mas mesmo assim você a joga. Então, você irá chorar, sem saber como isso pôde acontecer. É um simples mecanismo. Desde a infância você aprende a desconfiar. Você é educado de tal maneira que não pode confiar. A dúvida

OSHO foi colocada bem fundo no seu ser. Na verdade, é uma medida de segurança: se não duvidar, não sobreviverá. Você tem que olhar o mundo com olhos hostis, como se todos fossem seus inimigos. Ninguém é quente, ninguém é uma pedra de toque. Você não pode confiar nem em seus pais. Aos poucos, a criança percebe que não existe ninguém em quem pode confiar. Os pais são muito contraditórios: dizem uma coisa e fazem outra. A criança sente-se confusa; é difícil para ela entender o que realmente a mãe quer. Na verdade, nem a própria mãe sabe. E, cada vez mais, a criança sente que é impossível confiar em alguém. Assim nasce a desconfiança. Sentindo as pedras frias, milhares de vezes, você se acostuma a jogá-las fora. O milagre é você ter encontrado alguém onde o não-confiar torna-se um problema. Ser enganado não é nada, mas perder a confiança é tudo. “Ninguém é quente, ninguém é uma pedra de toque”, você pode pensar. Mas, se acreditar profundamente nisso, quando encontrar a verdadeira pedra, vai lançá-la ao mar. E eu lhe pergunto: você quer continuar sendo miserável por toda a vida?


Ela vai te zumbizar...

a mosca

que perturba o teu sono

amoscaqueperturbaoteusono.wordpress.com


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