História da minha cidade - D. Andreia Sousa

Page 1

MEMÓRIAS DA MINHA CIDADE

HISTÓRIA DA MINHA VIDA

Andrea Gabriela Gomes de Sousa 2012 1


“Se há coisa que não me arrependo neste mundo foi ter gerado uma criança tão linda e tão perfeita como é o meu filho Gabriel”

2


Eu sou a Andrea Gabriela Gomes de Sousa. Nasci a 26 de Julho de 1976. Tenho 33 anos de idade e nasci na cidade de Oliveira de Azeméis. Actualmente resido em São João da Madeira.

O meu pai chama-se António Rodrigues de Sousa e a minha mãe Dolores de Pinho Gomes. Tenho 3 irmãos: 2 rapazes e 1 rapariga, sendo eu a mais velha.

3


Sempre fui uma criança que quis aprender a escrever muito cedo. Adorava ir para a escola primária. Chorava todos os dias, pois queria estar na escola. Até que um dia a minha mãe resolveu ir para a Escola dos Ribeiros e falar com a directora para me deixar frequentar o ano com apenas 5 anos de idade. Ela lá deixou! Mas recordo-me de ela dizer que esse ano não contava, que se ali estava é porque tinha pena de mim e como eu tinha uma enorme vontade de aprender ela ia ter isso em consideração e deixar-me frequentar as aulas. Posso dizer que vivi dias muito felizes na escola era uma alegria acordar e ir com a minha pastinha e com os meus cadernos, na altura do “topo gigio”, para a minha nova escola. Fui sempre uma excelente aluna. 4


Os meus avós não conseguiam suportar tantas despesas e eu tive de sair da escola para ir trabalhar e ajudar a sustentar os meus irmãos, algo que já há algum tempo fazia com o meu irmão mais velho, nas férias da escola. Frequentava eu o ciclo! O meu pai foi chamado pelo director de turma que lhe disse ser uma pena retirar-me da escola porque era uma aluna bastante aplicada e que poderia vir a ser “alguém na vida”. Mas tudo o que o meu professor disse foi em vão, pois deixei mesmo a escola nesse ano. Comecei a trabalhar com doze anos de idade. O meu primeiro trabalho foi numa fábrica de calçado. Trabalhei lá até aos dezoito anos.

5


Frequentava o Grupo de Jovens Cristãos de São João da Madeira. Fiz o Crisma com dezoito anos, fui catequista e fiz o meu Convívio Fraterno com dezasseis anos de idade. Era muito dedicada a tudo o que estava ligado à Igreja. Fazia retiros, convivia com outros grupos de jovens de outras paróquias e a minha juventude resumiu-se basicamente a isto.

6


Também tive o meu primeiro namorado aos dezoito anos com quem namorei nove anos, o Fernando. Juntos, comprámos um apartamento, mobilámos, fizemos curso de noivos, mas nunca chegámos a casar.

7


Aqui também passei uma fase muito difícil, tinha eu vinte e um anos, quando faleceu o meu avô paterno, “meu pai”. Nunca assim lhe chamei, mas como foi ele quem me criou, deu amor e educação, era assim que o via, como um pai. Era uma pessoa muita amiga, carinhosa, bondosa, tirava da “boca dele” para dar aos netos. Sofri muito com a sua morte, senti o mundo desabar em cima de mim. Era diabético tipo 1, faleceu devido à diabetes pois não se cuidava, fazia uma alimentação inadequada e bebia uns “copitos”. Entretanto fiquei muito doente, cheguei a ficar com uma depressão devido ao meu avô ter falecido, nunca aceitei muito bem a sua morte. Nessa altura a minha avó paterna também adoeceu, foi-lhe diagnosticado um cancro no estômago, ao qual foram dois anos de luta e sofrimento. Ao fim de dois anos também faleceu, logo após o meu avô. Fiquei “só”! Foi aqui que fui viver para o meu apartamento, estive quase um ano a viver sozinha e depois o meu namorado acabou por ir viver comigo. Vivemos quase dois anos juntos. A minha vida levou um rumo diferente, apaixonei-me pelo pai do meu filho, o Paulo Filipe. Deixei tudo o que tinha para viver com esse rapaz. Estava muito apaixonada por ele ou talvez “iludida”, hoje acredito que foi mesmo ilusão. Não era a pessoa que eu queria que fosse. Hoje digo isso, mas na altura não via nada nem ninguém, só o 8


via a ele! Era meigo, carinhoso, amigo, tudo o que uma mulher desejava num homem. Deste amor resultou o nosso filho. Fui mãe ia fazer vinte e sete anos. A coisa mais linda do mundo e o melhor que me poderia ter acontecido. Se há coisa que não me arrependo neste mundo foi ter gerado uma criança tão linda e tão perfeita como é o meu filho Gabriel.

As coisas não correram bem, separei-me do pai do Gabriel quando ele ia fazer nove meses. Era muito obcecado, possessivo e tinha uns ciúmes doentios, não me deixava trabalhar, não me deixava ir ao supermercado sozinha, ou seja, tinha de viver em função dele e andar debaixo do “seu pé”. 9


Começaram as discussões, desconfianças e, por fim, a separação.

Apesar de separados, o pai do meu filho acompanhou o seu nascimento e, sempre que pode, participa nas festinhas dos anos dele.

O Gabriel, infelizmente, tem um problema de saúde que é a diabetes. Não foi fácil aceitar a doença nem lidar com a situação. No início passava a maior parte do tempo internado, por ser uma criança bastante instável e à custa disso fui muitas das vezes discriminada a nível profissional: perdi três empregos e cortaram-me a bolsa de estudo quando frequentava um curso EFA B3 devido às faltas que tinha. Aprendi muito com a doença dele, aprendi que não vale a pena ter dinheiro, porque o nosso melhor bem é a saúde. E com tudo isto aprendi, também, a ser um pouco enfermeira do meu filho. 10


É claro que não é fácil lidar com tudo isto sozinha, mas ao longo deste tempo fiz amizade com a Assistente Social, que considero ser como uma mãe, amiga, confidente, é a irmã que nunca tive, sendo ela mais nova do que eu, falo da Dra. Catarina Portugal, Assistente Social do Bairro onde moro que muito me tem ajudado na Educação do Gabriel, até mesmo quando está doente para que eu possa ir trabalhar sem perder mais um ou uns dias de trabalho ficando com ele e acarinhando-o como se dela fosse filho. Neste momento é ela que se desloca à escola para lhe dar a insulina e fica com ele mais a “avó” Margarida que é tratada com muito carinho pelas crianças do Bairro.

Adoro ir à beira mar ou rio quando estou mal. É lá que encontro alguma paz interior, ou seja, lá consigo “recarregar baterias” para mais uma longa estrada a percorrer.

11


Adoro Internet, dormir, ouvir uma música calma, estar com os amigos, e especialmente com o meu querido filho. Procuro sempre estar o mais presente possível, planeando actividades para fazermos juntos e passear. Já viajei até à Suíça. Gostei muito de visitar esse país.

12


Com a ajuda da Assistente Social e da “avó” Margarida, duas pessoas que são fundamentais na minha vida, não poderia ter um trabalho nem poderia estar a frequentar estas acções de formação que pretendo continuar. Uma dessas formações em que participei, foi sobre coaching, e estive presente num Workshop Freestyle Progress “Um dia na Escola da Diabetes”, em Maio de 2011 em Lisboa. Sou

membro

do

conselho

consultivo

Nacional

EAPN-

PORTUGAL (Portugal rede Europeia Anti-Pobreza). Faço parte da associação de diabéticos do Hospital de S. João do Porto “Dimov” Jovens em movimento, faço voluntariado no Espaço Vida em S. João da Madeira que é umas das redes sociais aqui da cidade. Decidi prosseguir com os meus estudos porque o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e sem as habilitações literárias exigidas por lei ninguém se “safa”. Espero que com a conclusão do 12º ano, consiga ter um nível de vida melhor, tanto a nível monetário como profissional. E como o ditado já é velho: “O saber não ocupa lugar, e não faz a cabeça grande”. Actualmente, faço parte de um grupo seleccionado de pessoas que integram o Projecto Local inserido no Programa HEFORE, que já me permitiu o privilégio de visitar a Roménia na companhia da 13


Dra. Célia, a Assistente Social da Câmara Municipal de São João da Madeira, uma experiência muito gratificante e enriquecedora.

14


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.