Amazônia Maranhense

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surgir repentinamente, onde antes só havia floresta, novos povoados e distritos, muitos deles hoje transformados em municípios. Em 1961, o então presidente Jânio Quadros criou a Reserva Florestal de Gurupi, um enorme polígono de mais de um milhão e seiscentos mil hectares, boa parte dos quais habitados por vários povos indígenas. A necessidade de criação de uma reserva florestal demonstra o rápido esgotamento de árvores de valor comercial na região de Imperatriz, depois da abertura da via de acesso aos mercados consumidores. Infelizmente, quatro anos depois, o novo código florestal promulgado não contemplou essa categoria de área protegida, deixando a reserva florestal numa espécie de vazio jurídico. Além disso, o regime militar, por ter adotado uma política de integração territorial, e também, no caso específico da região, como forma de combate à guerrilha do Araguaia, promoveu intensa emissão de títulos de propriedade, sem respeitar os limites da Reserva Florestal do Gurupi. Passados os tempos da ditadura militar, durante a presidência de José Sarney, o Decreto n° 95.614, de 12 de janeiro de 1988, criou a Rebio do Gurupi nos municípios Bom Jardim, Centro Novo do Maranhão e São João do Carú. Os estudos biológicos realizados na área indicaram a existência de rica fauna, com endemismos de aves e primatas. Além da biodiversidade, a Rebio do Gurupi teve como objetivo proteger as serras do Tiracambu e da Desordem, onde se situam várias nascentes de tributários das bacias hidrográficas dos rios Gurupi e Pindaré, que são os principais rios desta porção do Maranhão. De acordo com os limites descritos no decreto, a reserva foi estabelecida com cerca de 340 mil ha. No entanto, as medições atuais com Sistema de Posicionamento Global (GPS), obedecendo aos limites prescritos, configuram um polígono pouco maior que 271 mil ha. No perímetro da reserva não foram incluídas as terras indígenas (TI) Alto Turiaçu, Caru e Pindaré, já existentes na época. Mais uma terra indígena, a Awá-Guajá, foi criada no mesmo período que a Rebio. No decreto de criação houve o cuidado também de excluir da nova reserva as jazidas de bauxita então conhecidas, além de algumas áreas já desmatadas. Parte da antiga reserva florestal foi, por fim, destinada aos órgãos de colonização. Adicionalmente, a falta de demarcação física em campo e de sinalização de limites contribuiu para o prosseguimento na emissão de títulos de propriedade no interior da Reserva Biológica Gurupi até 1997. A lógica da exploração madeireira não-sustentável, reproduzida na região, determinou um ciclo de extração seletiva – esgotamento do recurso – expansão da área de extração – abandono da área esgotada. Assim, nos arredores de Imperatriz hoje não há mais atividade madeireira relevante, tendo sido esta deslocada para as proximidades dos municípios de Açailândia, Itinga e Buriticupu, no Maranhão, e Dom Eliseu, Ulianópolis e Paragominas, no Pará. A implantação, na década de 80, do parque siderúrgico-guseiro de Carajás nesses dois estados, ao longo da ferrovia Carajás-São Luís, adicionando o carvão como produto de elevado consumo, dotou de valor econômico toda e qualquer árvore e fez com que a extração deixasse de ser seletiva, limitada às espécies de maior valor comercial. Tal mudança coincidiu com a expansão da pecuária no Maranhão e com o assentamento de grande número de trabalhadores rurais em toda a região, acompanhando mais ou menos o traçado da ferrovia.


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