Teatro de D. Pedro e D. Inês

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Teatro de sombras chinesas

Os Amores de Pedro e InĂŞs


Personagens 1. Narrador 2. D. Constança 3. Afonso IV 4. Amélia 5. Inês 6. D. Pedro 7. Álvaro Gonçalves 8. Pêro Coelho 9. Diogo Lopes Pacheco 10.Mensageiros 11.Soldado


Narrador: No séc. XIV, vivia, na Galiza, uma donzela de uma grande beleza. O seu nome era Inês de Castro. (aparece Inês de Castro em sombra chinesa) Era a época dos camponeses, do trabalho no ferro, na pedra, na madeira… Também era a época dos senhores, dos príncipes, das princesas, dos reis e rainhas, dos monges, de ricos e pobres, de viajantes, de forasteiros, de soldados e de bandidos, das feiticeiras no fundo das florestas encantadas, dos gnomos e dos lobos. (a narração é feita com a apresentação de imagens) O príncipe Pedro, herdeiro do trono do reino de Portugal, espera que os anos passem e o destino se realize. (aparece D. Pedro em sombra chinesa) Um dia, o rei Afonso IV, seu pai, decidiu casá-lo com Dona Constança, filha do rei de Castela. Com este casamento, os dois países garantiriam a paz, o progresso e a amizade. (surgem as duas personagens em sombras chinesas) Dona Constança: Aceito casar-me com Pedro, vosso filho e futuro rei de Portugal. D. Afonso IV: Fico muito feliz e por isso te peço autorização para de agora em diante passar a chamar-te por minha filha. O reino precisa de um rei mas também precisa de uma boa rainha, de uma boa estrela que ajude a guiar e equilibrar o nosso reino. Narrador: Depois destas palavras, D. Afonso IV apresentou oficialmente o filho a D. Constança. No entanto, D. Pedro, em vez de olhar para a sua futura esposa, olhou fixamente para Inês de Castro, a aia de D. Constança. Inês de Castro ficou muito incomodada com esta situação e foi ter com a sua amiga Amélia. Amélia: Que aconteceu Inês? Que tens tu? Que se passa contigo? Estás com uma cara! Inês: O príncipe Pedro olhou para mim de uma maneira tão intensa que até me fez corar. Tenho medo que D. Constança tenha reparado e se zangue comigo. (surgem as duas personagens em sombras chinesas) Narrador: D. Constança ao ouvir esta conversa, afirmou: D. Constança: Percebi, Inês, que o príncipe ficou impressionado com a vossa beleza. Outro tanto não seria de esperar! Posso, no entanto, assegurar-vos que, pelo que vos admiro e pela amizade que vos tenho, jamais terei ciúmes vossos. (surgem as três personagens em sombras chinesas)


Narrador: Amélia, curiosa, dirigiu-se a D. Constança. Amélia: Que impressão lhe causou D. Pedro, minha Senhora? D. Constança: Pareceu-me um homem de bem. Mas tenho a certeza que ele não gostou de mim. O melhor era eu partir e não casar com ele. Narrador: O tempo passou e o dia do casamento chegou. Lá fora, a festa comemorativa do futuro casamento já começara, com danças, música e alegria. Todo o reino festejava o acontecimento. Já não era tempo de Constança voltar atrás. (Música vinda do exterior) Narrador: Tempos mais tarde, já na Primavera, Pedro e Inês encontraram-se nos jardins do palácio. D. Pedro: Inês, és a paixão da minha vida. Não consigo deixar de pensar em ti e na tua beleza. Inês: Mas senhor, vós sóis casado com D. Constança! D. Pedro: O meu pai obrigou-me a casar com ela mas eu nunca gostei dela e ela sabe disso assim como toda a corte. Ninguém pode mandar no meu coração. É por ti que eu estou apaixonado. É contigo que eu quero viver o resto da minha vida. Inês: Também eu estou apaixonada por vós desde o primeiro dia em que nos vimos, meu Senhor. D. Pedro: Quero fugir contigo bem para longe daqui, para onde ninguém nos possa incomodar e podermos finalmente ser felizes . Inês: E porque não ficarmos aqui? D Pedro: Porque aqui nunca nos permitiriam viver o nosso amor em paz, pois nunca aceitariam a minha união contigo. Inês: Quando o tencionais fazer? D. Pedro: Na madrugada de amanhã. Inês: Já? E a nossa vida aqui? D Pedro: Deixaremos tudo para trás e começaremos uma nova vida. Inês: Onde nos encontramos? D Pedro: Aqui mesmo. Inês: Aqui estarei! D Pedro: Esperarei por vós meu amor.


(os dois montados no cavalo, fogem) Narrador: Vários anos passaram. Pedro e Inês viviam em sossego na calma província do Alentejo. Um grande e belo palácio abrigava os seus amores, na tranquilidade da vida que escolheram. (imagens do palácio) Narrador: Entretanto, os três principais ministros do governo real, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, foram ter com o rei, pai de D. Pedro. Álvaro Gonçalves: Senhor, vós governastes este país com mão-de-ferro. Vosso reino tem sido e sê-lo-á ainda mais como todos esperamos. O príncipe D. Pedro, seu filho, tem todas as qualidades para vos suceder, mas poderá fazê-lo? Duvido muito. Infelizmente, desobedeceu-vos e teve o vosso perdão. A vossa sensatez é grande… mas essa mulher chamada Inês aprisionou-lhe o espírito. Pêro Coelho: Os Castros são uma família unida e ambiciosa. A longo prazo poderão apropriar-se do trono de Galiza e a seguir, porque não o de Castela? Inês de Castro rainha… Uma conspiração bem urdida e eis Portugal, também… Afonso IV: Basta! Quereis dizer que o meu filho se acobarda por influência dessa mulher, ao ponto de se deixar assassinar numa conspiração de cordel? Diogo Lopes Pacheco: Meu Rei, os Castros são ricos e numerosos, fortes na guerra, bons negociantes, e que, sem o sabe, Inês poderá ser utilizada como meio para atingir tão perversos fins. Esperávamos que D. Pedro mudasse a sua posição, mas não o fez. Será que quando vos suceder terá a serenidade necessária para preservar o reino tal como lho ides deixar? Não creio e, penso mesmo, que os restantes conselheiros são da minha opinião.


Afonso IV: Se Inês pudesse desaparecer… O meu filho é jovem, esquecê-la-ia rapidamente… e… Narrador: Instantes depois, numa das janelas da grande sala do trono, apareceu um corvo. Três ministros: Um sinal! Um sinal! D. Afonso IV: O pássaro olha-nos! É estranho! Parece desafiar-nos. Dir-se-ia que se trata efetivamente de um sinal! Mas será um sinal divino ou diabólico? Pêro Gonçalves: É um sinal de Deus, Senhor! Vós tendes o poder, assinai um mandato e nós mesmos executaremos Inês de Castro. É essa, seguramente, a vontade de Deus. Narrador: No fim da reunião Afonso IV assinou um documento onde se afirmava: D. Afonso IV: Pela graça de Deus, eu, Afonso IV, declaro a condenação à morte de Inês de Castro, por conspiração contra o Reino. Narrador: A noite sem estrelas era cúmplice do grupo de cavaleiros que penetrou nas terras, atravessando caminhos desertos, onde só o galope, do entrechoque das armas e objetos metálicos revelavam à natureza adormecida a sinistra comitiva que tinha por missão dar a morte a Inês de Castro. (imagens) Inês de Castro: Que me querem? Pêro Gonçalves: O rei condenou-vos à morte! Inês de Castro: Deixem-me falar ao rei. Saberei convencê-lo. Meus filhos são também seus netos! Não têm, pois, coração algum?


Diogo Lopes Pacheco: O rei assim decidiu! A sentença deve ser executada! Façamos depressa e bem! Narrador: Inês ajoelhou-se, como que para rezar, fechou os olhos e pensou intensamente em Pedro. Ao primeiro golpe da espada, uma dor lancinante atravessou-lhe o peito. A bela, a doce Inês de Castro caiu para sempre por terra. (um grito) As lágrimas vertidas durante dias e dias criaram, segundo a tradição, a Fonte das Lágrimas. (imagem) O corpo de Inês de Castro foi inumado num jazigo, no interior da igreja de Santa Clara, em Coimbra. (imagens) Narrador: À volta da caça, e diante do desastre, Pedro ficou louco de dor e de raiva, contra o seu próprio pai e contra os conselheiros. Os três ministros, inquietos, imaginavam já que, à morte de EL-Rei D. Afonso IV, subindo D. Pedro ao trono, pensaria neles e se vingaria. Numa certa manhã, dezenas de mensageiros partiram em todas as direções e a toda a velocidade para anunciarem a nova: Mensageiros: O rei morreu! Morreu Afonso IV! Morreu o «Bravo»! Narrador: No mesmo dia, Pedro tomou posse da coroa. D. Pedro: Soldados, procurai aqueles que mataram a minha amada D. Inês e prendei-os!


Soldado: Meu rei, apenas, conseguimos encontrar e prender Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves. Diogo Lopes Pacheco conseguiu fugir para França. D. Pedro: Trazei esses homens até à minha presença! (os guardas trazem os dois homens) D. Pedro: Guardas, arrancai o coração do assassino Pêro Coelho pelo peito e o coração do assassino Álvaro Gonçalves, pelas costas. Esses homens não merecem ter coração! (ouvem-se os gritos dos dois homens) Narrador: Os guardas apresentam a D. Pedro os corações humanos e este, num acesso de loucura, morde um dos corações. (Pedro a morder o coração) Narrador: Tempos depois, D. Pedro reuniu a corte na sala do trono. D. Pedro: Guardas, ide buscar o cadáver da minha amada D. Inês e coloquem-no no trono real, pois quero coroá-la com as minhas próprias mãos. Eis aqui a vossa rainha! Honrai-a. Narrador: A mão direita de D. Inês foi beijada por bispos, condes, duquesas e marquesas, soldados, serventes do palácio e representantes do povo. (pessoas a beijar a mão de Inês) Narrador: Aqui acaba a história de Inês de Castro, que foi feita rainha depois de morta e do príncipe Pedro, oitavo rei de Portugal, ao qual a história chamou «O Justiceiro». (Pedro e Inês)


Narrador: O túmulo que D. Pedro mandou construir para Inês de Castro foi colocado em frente, face a face, daquele em que ele mesmo repousaria, para que no dia do último julgamento as almas reencarnadas, elevando-se aos céus, pudessem verse reconhecer-se. (túmulos) Narrador: Estes dois túmulos encontram-se no Mosteiro de Alcobaça. (imagem do mosteiro de Alcobaça)

Fim


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