BIG BANG: A TeoriaGuia não autorizado da série

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Introdução

“Com licença, mas por acaso você fala Klingon?” “Nossa vida é perfeita. Usamos o laboratório, fazemos pesquisas, almoçamos, assistimos ao Senhor dos Anéis. Quem tem uma vida melhor?” – Dr. Sheldon Cooper, ao conversar com Dr. Leonard Hofstadter no episódio piloto de 2006.

Filmes e séries de TV sobre nerds não são novidade alguma. De fato, a premissa de Big Bang, a teoria é simples: nerds encontram uma garota bonita. Esse tema já se mostrou lucrativo em outras oportunidades, mas geralmente à custa dos nerds: nós rimos deles, não com eles. Por exemplo, no filme A Vingança dos Nerds, eles são retratados como pouco atraentes e socialmente inaptos, e por isso vivem sob os abusos das belas (as garotas populares) e das feras (os esportistas). Quando a CBS1 anunciou mais uma série sobre nerds, não foi surpresa para ninguém a reação cética do público. O que pensar de mais um programa em que nerds ficam de boca aberta para as garotas enquanto os valentões ficam apontando e tirando sarro deles? Depende, é claro, do programa. Big Bang, a teoria não ofereceu piadas batidas, mas apresentou um novo olhar sobre o mundo nerd. Apesar do velho contraste entre nerds e garotas, a diferença crucial da série é a celebração, e não difamação, do

1 N.T.: CBS é a sigla de Columbia Broadcasting System, uma das maiores redes de televisão dos Estados Unidos, responsável pelos programas The Late Show with David Letterman, 60 minutes, entre outros.


nerdismo. O bom humor pode ser visto nas situações da série, e não na sátira dos personagens em si. A fórmula já testada e aprovada para zombar dos nerds é tão universal que no episódio piloto de 2006 de Big Bang, a teoria os cocriadores seguiram pelo caminho mais fácil: eles também tiraram sarro dos nerds. No entanto, a CBS enxergou o potencial do episódio piloto e sugeriu mudanças que iriam elevar a série até a estratosfera da audiência. A série se passa na cidade de Pasadena, na Califórnia, e mostra quatro amigos que trabalham no Instituto de Tecnologia da Califórnia, a Caltech: Dr. Sheldon Cooper, Dr. Leonard Hofstadter, Dr. Rajesh Koothrappali e o Sr. Howard Wolowitz. Durante anos, suas vidas seguiram por órbitas previsíveis, até que a chegada de um novo corpo celeste na forma de uma bela jovem provoca uma mudança profunda em suas vidas. A comédia reina nessa colisão inevitável entre o mundo nerd e o mundo real, especialmente no caso do seu presumido líder, o Dr. Cooper, que se posiciona distante e acima de todos eles. Assim como seu herói, o Sr. Spock, Sheldon Cooper está em guerra contra si. Apesar de querer viver livre das distrações biológicas que afligem as formas de vida baseadas em carbono (como o sexo), a cada esquina ele se encontra aturdido e fascinado pela comédie humaine – a comédia humana. E o mais engraçado é que ele não se vê como parte da comédia; Sheldon se considera um observador desinteressado, mesmo sendo frequentemente o centro do furacão. Baseado em seus próprios méritos como uma boa comédia, a série conseguiria provar seu sucesso; mas os cocriadores fizeram questão de enriquecê-la contratando um físico da Caltech para revisar os roteiros, que são cheios de referências científicas. Dessa forma, a série celebra a ciência real da comunidade científica e seus estudantes. À sua própria maneira, assim como Star Trek inspirou muitos jovens a percorrerem campos semelhantes, Big Bang, a teoria pode ter um efeito saudável para a Física. Se a série fosse uma simples comédia de situação feita para provocar risadas rápidas, não existiria necessidade de observar o pano de fundo de seu universo ficcional, os personagens que o povoam e suas situações. Mas essa é uma série cheia de ricos detalhes esperando para serem descobertos: com mais ou menos intensidade, podemos nos identificar com os personagens que vivem, assim como nós, a comédia humana. Usando a metáfora do Big Bang, este livro começa examinando as origens da série criada por Chuck Lorre e Bill Brady: o episódio piloto mal-

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-sucedido de 2006 que nunca foi ao ar. Depois, observamos o piloto de 2007, que foi bem-recebido e estabeleceu o tom da série. Entrevistamos os atores que interpretam os personagens principais e também analisamos esses papéis; assim como partículas elementares, os personagens se conectam para formar um todo coeso. Fizemos, ainda, uma detalhada excursão a Pasadena, o marco zero de nossos amigos. Também mergulhamos na ciência que permeia a série. Mesmo que essa não tenha sido sua matéria favorita no colégio, vamos explicá-la de uma maneira realista e você poderá observar como ela forma o pano de fundo da série. E depois da aula, é hora da diversão: vamos explorar o mundo dos fãs. Especialmente para os nerds de primeira viagem, mostraremos onde se encontram as “convenções”, locais em que você pode conversar com hobbits, posar com dragões, colecionar espaçonaves ou voar para o alto e avante com super-heróis. Além disso, para dar a você ainda mais informações, apresentamos uma lista explicando detalhadamente cada título e trama dos episódios. Finalmente, para facilitar sua leitura, temos um glossário que explica as pessoas, coisas e tudo mais que você precisar para desvendar os mistérios das muitas referências à cultura pop que aparecem na série. Enfim, este livro é seu guia definitivo para o universo de Big Bang, a teoria. Pronto para ser teletransportado para esse mundo fascinante? Por favor, não se mexa enquanto nós preparamos o raio energizante....

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PARTE 1

uMA BreVe HIstÓrIA do teMpo

Aqui conhecemos os criadores da série, o episódio piloto de 2006, que não foi ao ar, e o episódio piloto de 2007, que lançou a série com sucesso.


Capítulo 1 Designers inteligentes Os cocriadores Chuck Lorre e Bill Prady, e a gênese de Big Bang, a teoria

1. No princípio, Lorre e Prady criaram duas ideias para séries diferentes. 2. A primeira era sobre uma garota solteira tentando encontrar seu lugar no mundo. 3. A segunda era sobre cientistas nerds hiperinteligentes que vivem em seu próprio mundo e não conseguem se relacionar com mulheres. 4. E eis que Lorre e Prady combinaram as duas ideias e criaram uma nova premissa: a bela e os nerds seriam vizinhos e companheiros. 5. E Lorre e Prady muito se esforçaram até conseguirem produzir um episódio piloto, que ficou uma porcaria, levando-os de volta à estaca zero. 6. Katie, a protagonista, foi riscada, e logo surgiu a esperta e simpática Penny, e os cocriadores viram que isso era bom. 7. Eles observaram que a plateia de teste gostou de Sheldon e Leonard, os dois nerds de bom coração, e assim decidiram que dois outros nerds surgiriam. 8. Então disseram: “que surjam Howard e Rajesh para multiplicar o humor!”, e viram que isso era bom. 9. E sendo esta uma série sobre ciência, convocaram um físico da UCLA para checar os fatos – o que foi uma boa coisa, sem dúvida.


10. Eles aprenderam com seus erros e proclamaram: “Vejam! Eis uma série que não vai insultar a inteligência da audiência e irá frutificar em muitas temporadas!” 11. E o presidente da emissora Leslie Moonves olhou para a criação e comprometeu-se a comprar a série, porque o segundo piloto, diferente do primeiro, não era uma porcaria. 12. E Lorre e Prady contemplaram sua obra e eis que viram que era boa. Eles sorriram e então comemoraram com todo o merecimento. 13. Então, a popularidade da série multiplicou a audiência muitas vezes, e isso era muito bom, e eis que foi renovada até a sétima temporada e houve muita alegria para os criadores... e seus patrões. 14. E, então, Chuck Lorre e Bill Prady descansaram. Quando Chuck Lorre e Bill Prady se reuniram com Leslie Moonves, o presidente e CEO da CBS, para vender a ideia de Big Bang, a teoria, eles quiseram evitar o processo normal de escolha de novas séries, que geralmente envolve uma apresentação verbal apoiada em uma “bíblia” com os detalhes sobre os personagens e cenários. Para uma ideia vingar em uma emissora, os criadores geralmente apresentam várias opções para ver se pelo menos uma cola. Em vez de apenas oferecer a ideia da série, Lorre e Brady não mediram esforços e filmaram um episódio piloto completo para que a CBS pudesse ver exatamente o que eles estavam oferecendo. Felizmente, apesar de a emissora rejeitar o piloto, os executivos encorajaram os criadores a reformularem a ideia e voltarem no ano seguinte. E eles fizeram exatamente isso – só que, dessa vez, a CBS gostou do que viu e acabou comprando quatro temporadas. Em retrospecto, não é surpresa que Lorre e Prady tenham conseguido pensar em uma ideia tão vencedora. Juntos, eles possuem uma vasta experiência na indústria de filmes e televisão. Na época do piloto de 2006, o currículo de Chuck Lorre incluía as séries Grace Under Fire, Cybill, Dharma & Greg e a imensamente popular Two and a Half Men. Bill Prady, que começou sua carreira com Jim Henson (criador dos Muppets), trabalhou com Lorre em Dharma & Greg e também escreveu para Married with Children, Dream On, Star Trek: Voyager e The Gilmore Girls. Prady, um ex-programador de computadores que trabalhou na Small Computer Company, tinha um colega que, como Raj, não conseguia falar com garotas se não estivesse bêbado. Ele também tinha um amigo no Brooklin chamado Lenny, que concertava computadores da RadioShack.

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Felizmente, o título original da série – Lenny, Penny and Kenny – foi descartado em favor de um mais bombástico: Big Bang, a teoria, que possui um trocadilho intencional. Em inglês, o termo “bang” pode ser entendido como “transa”. Baseada em ciência real e repleta de referências à cultura pop, a série é uma tácita afirmação de que agora os nerds estão no comando. Como bem disse Bill Brady em uma entrevista on-line ao site de Bob Andleman: “Nossa série é sobre o sentimento de ser alguém excluído, algo que todos nós entendemos”. Chuck Lorre concorda. Em uma entrevista com Michael Idato do jornal Brisbane Times, Lorre disse: “Apesar de preferirem Mecânica Quântica, ainda assim os personagens precisam lidar com emoções e sentimentos, e isso todo mundo entende. O coração da série fala de um sentimento que é difícil de explicar. Os personagens têm um desejo universal de fazer parte do mundo, mas não sabem exatamente como”. Embora os críticos de TV afirmem que Sheldon Cooper é a estrela indiscutível da série e, portanto, indispensável, a realidade é outra, como apontou Bill Prady na Comic-Con de 2009. “Os personagens funcionam em equilíbrio. Acho que eles são melhores como um grupo. Jim faz um excelente trabalho, na verdade, todos fazem. Se você olhar para todas aquelas cenas maravilhosas que Jim faz com Kaley, quando ele faz aquelas maluquices, lembre-se do gênio cômico que está segurando as rédeas do cavalo: a outra pessoa na cena. Você verá que o sucesso cômico desse grande personagem é baseado no timing da pessoa contracenando com ele. Às vezes, a gente nem pensa nisso. Se você pensar no que Kaley ou Johnny fazem com ele, vai entender que o barato é o personagem em si, e não somente Jim. Sheldon é insuportável, mas Leonard o suporta. Então a gente também acaba aceitando o Sheldon como suportável. E isso demanda uma grande atuação do Johnny Galecki como o cara que consegue aguentar tudo aquilo.”

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A série não é um mágico de um truque só. Para se manter engraçada e atual, os personagens precisam evoluir, da mesma maneira que fariam na vida real. Em uma entrevista para Luaine Lee do site thestar.com, Bill Prady definiu tal situação. “Temos uma equipe incrível em Big Bang, a teoria. E podemos fazer 22 ou 24 episódios por ano. Isso dá a oportunidade de conhecermos e aprendermos mais sobre os personagens. E acho que é isso que fizemos quando encontramos as mães de Sheldon e Leonard. Ficamos sabendo que eles possuem uma experiência anterior muito, muito diferente um do outro. Isso faz parte da nossa tentativa de nos aprofundar nos personagens.” Agora que as quatro primeiras temporadas já foram ao ar e os personagens principais estão firmemente estabelecidos, a série pode se dar ao luxo de adicionar novos personagens, trazer coadjuvantes para o centro do palco e até correr alguns riscos calculados. Atualmente, a média de audiência da série é de 13 milhões de espectadores, somente nos Estados Unidos. Assistida em mais de 70 países, os quatro nerds e a garota já provaram ser uma combinação vencedora desde a Albânia até a Venezuela. Mas logo no início, a série não começou com uma grande explosão, mas algo mais parecido com um pequeno estalo...

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