Amores Cruzados

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Um romance de

Michael Josh 1ª EDIÇÃO




inha verdadeira paixão pela escrita surgiu aos 17 anos e desde então não consegui deixar de colocar no papel tudo o que minha imaginação criava. Lembro-me da alegria que senti quando terminei de escrever minha primeira peça de teatro até hoje. Eu me senti tão realizado por conseguir dar vida a uma história e bons ensinamentos que decidi a partir daquele momento uma coisa: Jamais parar de escrever. A minha maior motivação para publicar um livro nunca foi e jamais será almejos financeiros e se isso acontecer é por consequência do destino, pois a minha maior realização é poder compartilhar minhas ideias. Quando decidi escrever um romance, me coloquei em diversas questões que talvez possuam ou não respostas satisfatórias. “Vou arriscar publicar um livro num pais onde todos estão perdendo o tempo em frente a um computador? Onde há um grande índice de analfabetismo? Onde há uma grande maioria de leitores que preferem a literatura estrangeira à do seu próprio país?”. Por que não? Pra mim só há uma única resposta que realmente importa e responde a tudo ou quase tudo nessa vida: A VERDADEIRA FORÇA DE UM SONHO NÃO ESTÁ NO QUE VOCÊ DESEJA, MAS NO QUE VOCÊ FAZ PARA REALIZÁ-LO.

Se você tem um sonho o transforme, o fortaleça. Lute para realizá-lo, uma grande tentativa é um bom passo para a realização. Todos os ilustres um dia também sonharam. SONHE ALTO!



Dedico esta obra a Sebastiana, que me trouxe a vida, ajudou a entendĂŞ-la e acreditar em meus sonhos. E a todos aqueles que possuem a habilidade de sonhar.


Primeiramente eu agradeço a Deus, e em especial gostaria de agradecer a minha mãe que me inspirou a ser quem sou. Que chorou, sorriu e evoluiu comigo e eu não seria nada sem ela. Agradecimento especial para a Cris, amiga que teve toda a paciência em ouvir dia após dia os trechos que eu escrevia dessa obra e pela sincera opinião que eu sempre presei. Agradeço também do fundo do meu coração a todas as pessoas que incentivaram esse trabalho que também é o meu sonho e espero trazer com as minhas palavras à força que me deram durante o processo de criação dessa obra. Agradeço ainda a Paloma Keroline, minha amiga que me deu sempre uma força enérgica de ansiedade para ler o livro depois de pronto, e ao Wesley pela admiração que sempre demonstrou pela minha literatura. Agradeço a Maria de Lourdes pela cobrança em ver a obra finalizada e pelo apoio que sempre dispôs a dar. Por ultimo e não menos importante, agradeço a quem ler essa obra, por estar lendo a realização de um sonho e por acreditarem na minha literatura. Que essa história o inspire e o motive a alcançar seus sonhos. Com carinho,



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––“Quando algo não dá certo, tudo o que podemos fazer é

recomeçar. A vida se encarrega de nos colocar justamente onde tudo começou, na solidão”.

Armando estava inquieto dentro de sua grande casa. Andava de um lado para o outro e não despregava os olhos do telefone. Já se passava das onze da noite. Como todos os empregados dormiam cedo, não podia contar nem com a companhia de Dona Gisela, a fiel governanta da casa e sua grande amiga. O “dim dom” da campainha o aliviou e as pressas ele desceu as escadas para atender a porta. Abrindo a porta, Armando fixou seus olhos verdes profundamente aos olhos castanhos claros de Helena que já estavam cheios de lágrimas. Em meio à troca de olhares, ele muito atencioso pegou a mala da mão dela, e disse para ela entrar. Chovia afora, não muito forte, mas o agasalho de Helena estava bastante molhado, talvez por que ela andava lentamente e nem percebera a chuva. Após ter tirado o casaco dela, ele percebeu a própria aflição e antes de repreendê-la, já previa como ela estaria se sentindo naquele momento. - Sei que não está tudo bem. – ele disse compreensivo e com um olhar acolhedor. Helena o abraçou fortemente continuando angustiadamente o choro que já trazia de fora. - Ele te fez alguma coisa? - Não. – respondeu entre soluços. – Eu quis ir embora antes dele me dizer qualquer coisa. - Fique tranquila. Cadê a Amanda? - Na casa da minha mãe. – enxugou as lágrimas e contendo o choro. - Por que não a trouxe? Tenho quartos vazios aqui e...

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- Seria incômodo demais... Não sei como você ainda aceita me deixar vir aqui depois de todos esses anos. - Não diga bobagem Helena, sabe que é bem vinda aqui e quanto a Amanda pode trazê-la sempre que quiser. - Eu admiro você, sempre tão generoso. Mesmo depois de... - Esqueça o passado. Eu não estou mais preso ao que aconteceu há cinco anos. Nossas vidas, ambas estão em uma nova página. Não é a melhor hora pra relembrarmos. – disse com ar conformista. - Tem razão, desculpe por tocar no assunto. Armando levou a mala de Helena para o quarto de hospedes e trouxe uma toalha. Após um longo banho, Helena vestiu um pijama e Armando ainda a esperava na sala com uma xícara de chá que acabara de fazer para ela. Helena ficou acanhada, a casa estava tão diferente do que há cinco anos que se sentiu uma estranha, afinal de contas ela era mesmo uma hospede, e sabia que precisava sair dali em pouco tempo. O olhar de Armando para ela era indefinido, parecia não guardar nenhum rancor pelo que ela o fez há cinco anos. - Vai ser por pouco tempo, eu juro. – ela disse. - Eu sei. Logo você arranja outro que faça você sofrer. – disse ele indiferente. Ela entendeu como um conselho, por que sabia que no fundo as amargas palavras de Armando eram sinceras. Ambos tinham a mente aberta para conversar sobre qualquer assunto, embora não possuíssem muito contato depois que se separaram. - Você fala como se não fosse mais capaz de sofrer por ninguém. – disse desviando o olhar de Armando. - Eu só sofro por quem me dá o devido valor. – insistiu ele. - Vai começar? – retrucou. - Não, ainda não é o momento. – manteve a indiferença – Por hora descanse. Vou me deitar. – disse e levantou-se para se retirar. - Eu também já estou indo dormir. Vou apenas terminar de beber o chá. - Como queira. Acorde amanhã cedo, pois iremos pegar suas coisas. Helena fitou os olhos de Armando por algum momento, queria agradecê-lo como deveria, mas era muito orgulhosa. Ainda que estivesse num lugar onde acreditava não ser sinceramente bem vinda, queria mostrar que era uma mulher imponente.

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- Por que você faz essas coisas Armando? Eu... Sinceramente não consigo entender... Você sabe... Você não tem responsabilidade alguma sobre mim. Bem... Deixa pra lá, é melhor conversarmos amanhã. Armando deu meia volta e subiu as escadas, mas antes apagou a luz da cozinha. Por alguns instantes, Helena permaneceu na sala, mesmo depois que sua xícara de chá se esvaziou. Ela observara as paredes que tinham trocado de cor. Em meio ao seu olhar se lembrava de quando elas ainda eram amarelas e de quanto teve de insistir com Armando para pintá-las daquela cor. Faziam mais de oito anos aquela lembrança. Naquele momento ela percebeu como o tempo passou. Ela casou-se com Armando aos dezenove anos e quando completou vinte e três se separaram. Agora, com vinte e oito anos que ela percebeu como jogou a felicidade fora. Devido àqueles pensamentos, também se perguntava o tempo inteiro: “Quem será que gosta dessa cor?”. Depois de seu casamento com Armando, ainda se casou novamente. Seu ultimo casamento durou quatro anos, no qual teve sua única filha, Amanda. Helena era uma mulher um tanto temperamental, uma ótima mãe, mas ela própria sabia que era péssima como esposa e não gostava de cumprir certas obrigações. Por mais que fosse bem receptiva em todas as conversas, era o tipo de mulher que era tudo, menos compreensiva. Apesar disso nunca tivera problemas em arranjar companheiros, pois era muito bonita, se cuidava e se vestia adequadamente. Também era alta, de cabelos castanhos claros e longos, magra, de pele branca e sabia se maquiar bem. Após alguns minutos pensando, ela ligou para sua mãe querendo saber se tudo estava bem com Amanda e em seguida subiu as escadas para ir se deitar. A cada passo que dava sua mente lhe trazia lembranças de quando ainda morava naquela casa. O ambiente foi se reconstruindo em sua imaginação, escutava em seu interior as vozes vindas de suas lembranças, os risos entre ela e Armando correndo um atrás do outro, custava a acreditar que se desfez de toda aquela felicidade. Antes de chegar ao quarto onde estavam suas coisas parou em frente ao quarto de Armando, a porta estava apenas encostada.

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Armando dormia como uma criança, todo encolhido na cama, - Ele não mudou nada... – ela disse em pensamento. Helena então terminou de embrulhá-lo e beijou-lhe a testa. O quarto estava muito diferente, a mobília era nova, a decoração, até os quadros Armando mudou. Sutilmente ela saiu, sem fazer nenhum barulho. Chegou a seu quarto e embora estivesse cansada, demorou até cair no sono. Ali, sozinha e sem ninguém, ela chorou por quase toda a noite até que adormeceu exausta e entristecida.

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“O esquecimento é a fuga para nossos medos, mas só são capazes de esquecer, aqueles que são capazes de perdoar.”

O sol já iluminava o interior da grande casa de Armando desde as sete horas da manhã. Ele, dono de uma firma de arquitetura, era uma pessoa “bem de vida” e sua casa tinha alguns empregados. Beirava já os trinta anos e não tinha muitas ambições. Armando sempre despertava com os raios de sol que entravam pela imensa janela de seu quarto, pois nunca se lembrava de fechar as venezianas. Ao acordar a primeira coisa que percebeu é que estava coberto e por isso logo entendeu que Helena entrou em seu quarto. Ficou pensativo alguns minutos e em seguida lembrou que tinha de ir com Helena até a casa do ex-marido pegar o que era dela. Era sábado e ele estava de folga. O que bem sabia de Helena é que ela era bem preguiçosa e costumava levantar tarde quase todos os dias, então era esperado que ele fosse acordá-la para ela cumprir com as próprias obrigações. Como de costume foi apanhar o jornal na porta do casarão e voltou para ir despertá-la. - Bom dia, Senhor Armando – disse Dona Gisela. - Bom dia Gisela, o dia parece estar ótimo. - Parece que fará sol o dia inteiro. – afirmou convicta ao olhar para o céu. - É verdade, o café já está à mesa? - Sim senhor. - Peça que arrumem a mesa para duas pessoas, por favor. - Temos visita? – ela perguntou surpresa. - Uma hospede na verdade, por que o espanto? - Desculpe Senhor Armando é que... Só achei estranho, por que desde que... O senhor sabe... Desde que o senhor se divorciou da Dona Helena, nunca mais trouxe ninguém aqui. - Isso é verdade. – ele memorou – Mas nossa hospede é justamente Helena. 15

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- Dona Helena?! – exclamou dando um pulo de susto - Não me diga que vocês dois reataram... - Nada disso Gisela, ela esta passando por problemas no casamento e veio apenas ficar uns dias aqui. – ele disse friamente. - Ah bom... Desculpe por pensar besteira Senhor Armando, deixa então eu fazer o que o senhor me pediu. Terminando de falar com Dona Gisela, ele se dirigiu ao quarto onde Helena estava e ao chegar lá percebeu que ela já havia acordado. Em cima da cama tinha apenas um bilhete, era a letra dela.

“Armando fui à casa de minha mãe ver como está a Amanda”. Beijos, Helena. Para a surpresa de Armando, parecia que Helena se transformou em alguém mais responsável, talvez por ter se tornado mãe. Não contendo a sua curiosidade, ele começou a mexer nas coisas de Helena. Por cima da cama havia uma foto dela com Amanda e Davi, o ex-marido e pai de Amanda. Fitou aquela foto por um instante e se perguntou: “A vida nos traz mesmo bons momentos? Ou alegrias que se convertem em dor através de nossas atitudes?” Aquela duvida veio à cabeça dele por que a foto que olhava parecia ser de um tempo feliz onde todos sorriam. Em virtude daquela fotografia, na mente de Armando também vieram algumas lembranças felizes, não apenas de Helena, mas de toda a sua vida. Reorganizou as coisas como estavam antes, e percebeu que ela usava o mesmo perfume que ele tanto gostava. Inalou o frasco, até ser interrompido por Dona Gisela que chegou repentinamente. - Senhor Armando, a mesa está pronta. - Está? Infelizmente, lhe pedi algo à toa, pois Helena saiu e eu não havia notado, me perdoe. - Quê isso, não tem problema nenhum. O senhor já vai descer pra tomar café? - Já sim. Vou descer e daqui a pouco ligarei para Helena pra saber que horas vamos pegar as coisas dela. Dona Gisela olhou profundamente nos olhos dele antes de perguntar: - Posso lhe fazer uma pergunta Senhor Armando?

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- Pergunte Dona Gisela. - O senhor ainda ama a Dona Helena, não ama? - O que... – intrigado e achando graça continuou – Isso é impossível, eu e Helena definitivamente não temos mais nada haver um com o outro. Isso foi muito engraçado. – disse enquanto desciam as escadas. Ela sorriu, no entanto percebera nitidamente a evasiva de Armando, talvez realmente não amasse mais Helena, mas ela sabia que pelo menos saudade dela às vezes ele sentia. Estava escrito no olhar dele, coisa que somente uma pessoa com muita experiência de vida e com aquela família conseguiria enxergar. Dona Gisela, já era uma senhora. Sempre cuidou da casa da família Domingues desde muito jovem. Foi nomeada governanta da casa há mais de vinte e cinco anos e cuidou de Armando desde que ele nasceu. Com sessenta e dois anos, ela já não via mais a vida fora daquela casa e era muito querida por quase todos os empregados. Era muito dócil e gentil, mas quando se tratava do trabalho, era demasiadamente justa e severa. De pele morena clara, com os cabelos já brancos, usava óculos e suas pernas apesar da idade eram fortes. Ela tinha estatura baixa, andava sempre culta e com trajes sofisticados que honravam seu titulo supremo dentre os empregados da casa. Assim que desceu as escadas com Armando, ainda o fez companhia. Ele adorava conversar com Dona Gisela. Durante todo o tempo que esteve solteiro, ela era a única que acreditava ser sua amiga sincera. Após terminar seu café, Armando telefonou para Helena, pegou o carro e saiu. No carro, Armando que era fã consagrado dos “Beatles” ouvia “Come togheter”, essa era uma música que o relaxava. Aparentemente ele era um homem jovem, porém os gostos e hobbies eram de uma pessoa mais amadurecida. Andava sempre bem vestido e tinha seu cabelo muito curto. Puxara muito a fisionomia do falecido pai, exceto os olhos que eram verdes como os de sua mãe também falecida. Ele tinha estatura média e corpo em forma, não aparentaria a idade que tinha se não fosse a barba que fazia de vez em quando. Era um homem chamativo devido a sua seriedade e de aparência muita bonita. Não tinha vícios e por esse motivo Dona Gisela nunca entendera por que ele não se casou novamente, mas era compreensiva, afinal existem pessoas que nos marcam para o resto de nossas vidas.

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 Chegando à casa da antiga sogra, Armando ainda era muito bem recebido por lá, embora já tivesse mais de cinco anos que ele não via os pais de Helena. Do lado de fora estava Senhor George, o ex-sogro, podando um arbusto. - Bom dia Senhor George. - Mas... Armando é você, seu grande filho da mãe! – o senhor disse num tom de surpresa e foi logo abraçando o outro. - Tudo bem com o senhor? - Claro que não, já estou velho e tomando um monte de remédios... Remédio pra comer, remédio pra dormir e até remédio para ir ao banheiro... Mas, no mais estou bem. - Está certo. – concordou achando graça – Helena está onde? - Lá dentro filho, com a mãe dela. - Estão ocupadas? - Nada, estão conversando... “Sobre assuntos de mulher”. Mas se quiser pode interrompê-las. - Terei de fazer isso, pois tenho um pouco de pressa. O arbusto está ficando bonito. - Pressa? Ora seu... Demora cinco anos para aparecer e quando vem está com pressa... – resmungou. - Gostaria de ficar e conversar mais Senhor George, mas eu e Helena temos que ir pegar as coisas dela. - Sei... Aparece aqui em casa no feriado, faremos um churrasco e convidarei amigos para jogar poker. - Não sei se poderei vir, mas farei o possível. Armando entrou na casa dos pais de Helena e a viu terminando de trançar os cabelos de Amanda, Dona Gloria sua exsogra, estava na cozinha. - Ah você chegou rápido Armando. – já acabava de fazer a trança – Deixa eu me despedir de mamãe. - Quem é ele mamãe? – perguntou Amanda. - Esse é o Armando. - Será seu novo marido? - Não minha filha, ele é... Um amigo da mamãe. – esclareceu meio sem jeito.

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Amanda era uma menina muito doce, se parecia muito com Helena. Assim como a mãe, ela tinha olhos cor de mel e os cabelos numa tonalidade castanha bem clara. Armando nunca teve a oportunidade de conhecê-la. - Oi. – disse Armando para a pequena Amanda. - Oi. – respondeu ela em tom alegre. - Mamãe, o Armando chegou, estou indo! – gritou Helena. Dona Glória veio da cozinha enxugando as mãos em um pano de prato. Não tinha mudado muito do que era há cinco anos. Cabelos muito curtos e brancos no estilo “joãozinho”, sua pele era branca e ela era um pouco baixinha. - Vejam só, quem renasceu... Armando meu querido, quanto tempo... Como é que você está?- finalizou cumprimentando-o com um abraço. - Tudo ótimo Dona Glória, e a senhora? - Tudo na paz. Você viu o George lá fora? - Vi sim, ele até me convidou pro churrasco que vão fazer no feriado... Bem, precisamos ir Helena. - Seria bom que você viesse. Helena deu um beijo na testa de Amanda e disse que voltaria mais tarde. Dona Gloria os levou até a porta. Quando estavam saindo Helena deu de cara com o pai, já pelo olhar era possível perceber a hostilidade. Friamente ela disse: - Dá licença pai. - Vê se não demora pra resolver seus problemas, pois seu ex-marido não tem que te aturar pelo resto da vida. – disse Senhor George com notável ironia. - Não se preocupe, Armando não é como o senhor, ele é um homem bom. - Se fosse como eu, com certeza a faria ter vergonha na cara. - Mas não é! – ela rosnou por entre os dentes – Agora me dá licença. - Uma hora você toma jeito de gente, mas até veja lá como fala comigo, só quero seu bem. – ele disse nervoso. - Claro pai... O senhor é um santo, me poupe... Vamos Armando. Eles foram até o carro e se despediram dos pais de Helena e de Amanda com um acenar. Era notável o quanto Helena estava com problemas. Ela e o pai nunca se deram bem, talvez esse seja o motivo dela ter procurado Armando antes de qualquer pessoa. Após a separação eles se tornaram muito distantes, mas estabeleceram entre si uma relação

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amigável, por isso não tocavam nos assuntos que condiziam aos motivos da separação. A casa onde Helena morava era um pouco longe, demorariam pelo menos uns quarenta minutos para chegarem. O silêncio dominava o interior do automóvel e já incomodava Helena. Armando ficava fixo a estrada. - Por que está fazendo isso? – ela perguntou. - Isso o que? - Não se faça de idiota Armando. Por que está me ajudando? - Nem eu mesmo sei. – respondeu após pensar alguns segundos. - Você... Ainda gosta de mim? Armando reduziu a velocidade após aquela pergunta e começou a rir acanhadamente. - O que te faz pensar isso? – não obteve resposta – É claro que não. Com a dúvida de Helena esclarecida, ele seguiu o trajeto e rapidamente chegaram ao destino. Davi não estava em casa e como Helena ainda tinha uma cópia da chave e a fechadura não havia sido trocada, rapidamente os dois arrumaram as coisas no carro, mas antes que saíssem Davi chegou os surpreendendo. - Pensei que estivesse trabalhando. – disse Helena. - O que você veio fazer aqui? – disse ele em tom alterado. - Vim pegar minhas coisas. - Já pegou? - Já. - Então pode dar o fora daqui, sua safada ordinária! - Olha como você fala comigo! – Helena disse confrontando-o. - E como eu deveria te chamar?! Você é uma vagabunda e das grandes! – gritou Davi. - Vou te meter um processo por calúnia, seu grande desgraçado. – ela gritou. - E como eu devo chamá-la depois do que me fez? Sua piranha safada! Helena se calou e ficou cabisbaixa diante aquela pergunta, deu uma leve olhada para Armando com os olhos umedecidos enquanto mordia o lábio inferior numa expressão penosa, voltou os olhos para Davi. - Vai-pro-inferno. – disse enfatizando cada palavra. Davi partiu pra cima de Helena como se fosse agredi-la, mas Armando interveio entrando no meio dos dois.

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- Chega, vocês podem discutir o quanto quiserem depois, por hora vamos embora Helena. – sugeriu Armando. - Você não se mete, nem sei quem é você! Meu problema é com essa puta! – berrou Davi com o sangue fervendo nos olhos. - Puta é a desgraçada da sua mãe seu cretino! – rebateu Helena com fúria e apontado o indicador com hostilidade por entre Armando. Tentando acalmar Helena, Armando acabou levando-a para fora. - Helena, Helena! Não complica as coisas. Vamos embora, já pegamos suas coisas... - Não, ainda tem as coisas da Amanda... - Depois eu venho sozinho pegar, vamos! Com muito custo, Helena se acalmou e entrou no carro, ela não queria ir embora e deixar as coisas da filha na casa, mas Armando conseguiu convencê-la.  Eles chegaram mais cedo que planejado por não haver transito naquela hora. Helena subiu rapidamente as escadas e Armando foi atrás. - Mais tarde eu volto lá e pego as coisas de Amanda. Você é que não pode voltar por enquanto... Imagine o que teria acontecido se eu não tivesse ido com você... – memorou aliviado. Helena não quis dizer nada, se sentou ao chão e começou a chorar. Em meia àquela angústia Armando ofereceu seu ombro pra que ela pudesse chorar. Ela chorou o que tinha de chorar e depois foi tomar um banho. Dona Gisela observava a cena de fora e ao perceber a ausência de Helena foi falar com Armando. - Senhor, está tudo bem? - Comigo está, os problemas são de Helena. - Sobre aquilo que perguntei de manhã, quero pedir desculpas... - Deixe disso, não foi nada. - Ela está muito mal? - Ela vai ficar bem, só precisa de tempo. - É mesmo muito triste, ela já ia completar cinco anos de casamento e ainda tem uma filha no meio... Eu sinto pena dela. - Pois não sinta Dona Gisela. – disse Armando friamente.

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Espantada com aquela reação de Armando, ela não consentiu como aquela maneira dele pensar, ele sempre fora muito bondoso desde criança, jamais desejaria o mal de alguém. Dona Gisela poderia esperar uma atitude daquelas de qualquer pessoa, menos de Armando. Imaginou que ele tivesse alguma mágoa de Helena e por isso disse aquilo antes de pensar. - Olha Senhor Armando, as coisas entre vocês não deram certo, mas você não devia... - Helena chora pelo peso que carrega das próprias ações. – ele insistiu. - Não deve guardar rancor Armando... Não julgue para não receber o julgo de ninguém. - Você está errada “Ba”, ela recebe julgamento da própria consciência. – rebateu ele. A senhora olhou para os quatro cantos e viu se não havia ninguém olhando os dois, Armando então a notificou: - Não se preocupe “Bá”, te chamei assim por que me certifiquei que não tinha ninguém por perto. - Ainda bem filho, se alguém ouvir você me chamando assim, vão achar que sou a governanta da casa por que você é apegado a mim. – ela murmurou. - Mas eu sou. O que tem isso? – ele argumentou aos risos. - ...Tem que eles não vão me respeitar. - Entendo. - O jantar estará pronto em minutos, desça daqui a pouco está bem? – avisou enquanto descia as escadas. - Arrume o jantar apenas para Helena, eu devo voltar na casa dela e pegar as coisas da Amanda. - Está bem. Armando foi ao banheiro de seu quarto e lá tomou um banho, se vestiu e foi pegar o carro. Antes que descesse a escada, Helena o chamou vestida num pijama verde que ele a emprestou. - Armando... - Diga. - Eu posso usar seu telefone pra ligar para minha mãe, quero saber da Amanda. - Fique a vontade. – disse ele dando as costas para Helena. - Armando. - Diga.

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- Obrigada por ter me protegido. - Não se engane Helena, eu não a protegi. Só não ia deixar ele te bater. – explicou com indiferença. - Mesmo assim... Obrigada. – disse Helena engolindo seca aquela resposta.  Como estava ficando tarde, Armando apressou-se para sair. Por sorte não pegaria nenhum transito por causa do horário, mas mesmo assim não queria arriscar. Exagerando na velocidade chegou a casa em vinte e cinco minutos. As luzes ainda estavam acesas, significava que Davi estava em casa. Armando ficou um tanto acoito em tocar a campainha, mas tomou coragem e tocou sem hesitar. Davi foi atender, olhou pelo visor quem era e abriu a porta. - O que você quer? – disse de mau humor. - Desculpe vir a essa hora, eu vim pegar as coisas da Amanda. - Por que aquela infeliz não veio com você? – referiu-se a Helena. - Achei melhor que ela não viesse... Então, posso entrar? O outro abriu a porta por completo permitindo que Armando entrasse. Ao entrar ele percebeu que Davi estava apenas de cueca, mas não disse nada. - Deixa eu... Vestir uma calça – envergonhou-se um pouco. - Claro... Por favor. Enquanto Davi se vestia tentou puxou assunto com Armando. - O que você é dela? - Ex-marido. - Também?! – perguntou surpreso. - Fui o primeiro marido dela. Prazer, Armando. – respondeu estendendo a mão para Davi. - Prazer, Davi. - Onde estão as coisas da Amanda? - Lá em cima. – apontou – Vamos lá, eu ajudo você a embalar. Armando achou que Davi fosse um homem rude, talvez por causa do modo que ele tratou Helena, mas se enganou, ele conseguia ser simpático quando queria.

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Antes de subir Davi pegou uma cerveja, ofereceu outra a Armando que recusou por estar dirigindo. Enquanto arrumavam as coisas de Amanda trocavam conversas. - Você disse que foi o primeiro marido... Então a conhece há mais de dez anos? - Mais ou menos isso. - Tiveram filhos? - Não, eu... – olhou para baixo, simbolizando certo constrangimento com a pergunta. - Vocês não trepavam? – perguntou Davi espantado com a atitude de Armando. - Não é isso. – respondeu rapidamente entre risos. - O que então? – perguntou gargalhando. - Eu sou estéril. Percebendo o pesar naquela resposta, Davi quis se desculpar. - Foi mal cara, não quis... - Tudo bem. Os dois se calaram e terminaram de embalar as coisas de Amanda em silêncio. Davi tocara num assunto do qual Armando não gostava de falar, descendo as escadas tentou se desculpar novamente. - Olha cara, quanto àquilo que eu perguntei... Foi mal, nem nos conhecemos direito e foi muita ousadia minha... – disse ele. - Não esquenta a cabeça não, esquece isso. - Posso só te fazer mais uma pergunta? - Pergunte. - Por que você e aquela safada não deram certo? Armando largou as caixas que carregava deixando-as cair no chão. Era como se tivesse tido um choque. Aquela era a ultima pergunta que queria ouvir em vida. Ele não tocava naquele assunto nem com a própria Helena. Aos poucos começou a tremer de raiva. Notando a aflição do outro, Davi colocou a mão dele sobre o ombro de Armando. - Está tudo bem cara? – quis saber preocupado com aquela paralisação repentina. Ao invés de responder, Armando apenas pegou as caixas do chão e as levou para o carro. Preferiu ignorar aquela pergunta. Davi pudera perceber que Helena podia ser bem pior do que pensava pra ter causado aquele tipo de reação em alguém ao

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simplesmente tocar no assunto quanto ao término daquele casamento. - Cara, foi mal de novo, é que faz tanto tempo que vocês se separaram que eu pensei que não seria problema tocar no assunto. – redimiu-se Davi. - Bem, parece que já peguei tudo. – tornou a ignorar aquele assunto – Vou indo então, até mais. - Até mais? – perguntou achando estranho. - Quer dizer, adeus... Vai ser difícil vê-lo de novo, até por que o único motivo que me fez conhecer você foi Helena. Provavelmente não te verei mais. - Por isso achei estranho... E me desculpe novamente por ter tocado em assuntos que eu não deveria tocar. - Deixa pra lá. Bom, então... Adeus e se cuide. – despediu-se sorrindo. Armando entrou no carro e seguiu seu caminho. Davi ficou imóvel, pensando alguns segundos no que Armando acabara de dizer. “Se cuidar? Ele mal me conhece e disse pra eu me cuidar? Como pode Helena não ter dado certo com ele afinal? Ele parece ser completamente diferente de mim...”. Ficou imaginando em como Armando era bondoso a ponto de ajudar tanto a ex-mulher depois de cinco anos divorciados. Provavelmente nunca mais eles se cruzariam. Armando morava em outra cidade e não tinham qualquer ligação um com o outro, por isso aquele “Se cuide” que Armando disse a Davi realmente o incomodou. Quando se percebeu imóvel como uma estátua e preso em seus pensamentos, Davi entrou e voltou à assistir televisão, mas as últimas palavras de Armando não queriam sair de sua cabeça, foram tão sinceras que pareciam um conselho.

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“Nem o tempo, nem a tempestade e nem a vida são capazes de curar um coração que não perdoa.”

Haviam passado duas semanas desde que Helena chegou à casa de Armando. Eles mal se viam devido a Armando estar sempre no escritório resolvendo problemas da empresa. Dona Gisela também não conversava mais que o necessário com Helena, e era possível perceber no olhar que elas não se davam muito bem. Dona Gisela sempre cuidou de Armando desde criança e provavelmente a falta de entrosamento com Helena era devido ao motivo do termino do casamento. Era sexta-feira e Helena tomava sol perto da piscina. Armando chegaria uma hora mais cedo que o habitual. Como ela ficava muito sozinha, por vezes não conseguia parar de pensar em tudo que fez de errado em sua vida. Olhava o céu e percebia o quão longe estava de alcançar seus sonhos. Dentro de seu consciente ela se perguntava: “Por que quando temos tudo o que precisamos achamos que ainda falta algo?... A cada sonho que se alcança, forma-se uma nova ambição... Quando tudo estará completo?” e pensava repetidamente isso todos os dias. Muitas vezes tentava se distrair assistindo, lendo. Mas sozinha naquela enorme casa e sem amigos era muito difícil não se sentir monótona. Mesmo com empregados a sua disposição, Helena sabia que ali não era o lugar dela, portanto se negava a aceitar qualquer ajuda disposta de alguém. Por mais que estivesse dependente de Armando, não deixava de lado seu orgulho de mulher. Logo que Armando chegava do escritório, levava Helena até a casa dos pais dela para ver Amanda. Ele sempre insistia para que ela a levasse para a casa dele, mas Helena sempre negava dizendo que não queria incomodá-lo ainda mais. Já eram habituais as discussões entre Helena e Senhor George, por isso Armando e Dona Glória já nem se incomodavam, e eles ficaram mais próximos até do que na época em que Armando era casado com Helena. Michael Josh

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Amanda era uma menina muito esperta, embora tivesse a aparência da mãe, parecia ter herdado o gênio alegre e descontraído de Davi, não parecia temperamental como Helena. Ainda assim Armando não tinha muito entrosamento com a menina, pois não era seu pai e achava que a ingênua criança iria imaginar que ele e Helena estivessem juntos. Geralmente Armando apenas levava Helena, conversava um pouco com Dona Glória e Senhor George e voltava para casa. Quando Helena quisesse voltar telefonava e ele retornava para buscá-la. De fato, ele e Helena se tornaram amigos, porém o único tempo que tinham para conversar era no carro. Não tinham muitos assuntos pra trocarem e conversavam na maioria das vezes sobre Amanda, assuntos do cotidiano. A relação de um com o outro era extremamente pacata e por Armando as coisas continuariam como estavam. Pouco antes de chegarem em casa, naquela sexta-feira Armando quis parar em um restaurante para comer, pois a cozinheira da casa estava de folga. Foram a um que ele costumava ir, chamado “Casa Nobre”. Armando que já era conhecido ali rapidamente conseguiu uma mesa e se sentaram. Ele pediu o prato do dia e Helena limitou-se a apenas uma porção de arroz e uma salada. Após terminarem a refeição, Armando notou o anuncio de venda do local e que o restaurante iria mudar para um local maior na região central mesmo. Armando ficou descontente, pois gostava das instalações do restaurante, a decoração era muito bonita e os ambientes eram agradáveis. Novamente no carro, enquanto ele ligava o automóvel, Helena lhe disse: - Obrigado pelo jantar. - Não foi nada. Os dois se encararam por alguns segundos. Ela regressou no tempo em alguns segundos e lembrou-se de quando se conheceram. Ambos tinham dezessete anos na época e ela notou como a vida pode mudar de rumo drasticamente. De maneira natural ela ergueu a mão e tocou o rosto de Armando que por sua vez tirou rapidamente. - Desculpe. – disse Helena. Olhando repreensivo para Helena ele disse com certa frieza: - Nunca mais faça isso.

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Gerado o clima tenso entre eles, Armando voltou a dirigir e não trocaram mais palavras. Chegando a casa, Helena foi tomar banho enquanto Armando permaneceu na sala alguns instantes. Minutos depois, Dona Gisela descendo as escadas percebeu as luzes da televisão e foi ver quem estava à sala. Ao chegar à sala ela se deparou com Armando tocando levemente o rosto, justamente no lugar onde Helena o tocou. Antes que ela dissesse qualquer coisa, reparou que ele logo mudara de expressão. A expressão de carinho logo mudou para uma de raiva, e ele passou a coçar o rosto. - Aconteceu algo? – Dona Gisela perguntou. Sem jeito e meio desconcertado, Armando percebeu a presença dela com um tremendo susto. - “Ba”?! Há quanto tempo estava ai?! - Cheguei a pouco, vinha beber um copo de água. Você não parece bem, aconteceu algo hoje? - Sim, quer dizer... Nada. - Você é péssimo em tentar esconder as coisas. – disse entre risos. – Sabe que pode se abrir comigo não sabe? - Sei “Ba”, não é nada demais. - Tem algo haver com a Dona Helena? – perguntou incisiva. - Ela... Tocou com carinho no meu rosto hoje. – ele disse envergonhado. - E isso é uma coisa boa? - Não sei “Ba”, não sei. Às vezes acho que sim, depois me lembro do que ela fez e... Armando parou de falar, respirou lentamente e mostrou uma expressão triste quando olhou para Dona Gisela que encostou a cabeça dele em sua barriga fazendo um carinho maternal. - Não sei o que teria sido esses anos se você não estivesse aqui “Ba”, só você sabe como está sendo difícil para mim. – desabafou Armando. - Meu filho, tem dores que jamais somem nessa vida, dores que se tornam parte da gente, que influenciam para sempre nossa maneira de ser, mas nada nessa vida acontece em vão. - O que ela fez foi demais “Ba”, não tem perdão. - Tudo nessa vida tem perdão meu filho, nenhum erro é incorrigível. As pessoas só aprendem a fazer certas as coisas na vida, depois que veem e concertam tudo que fizeram de errado.

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Armando ouviu carinhosamente as palavras de Dona Gisela que era como uma segunda mãe para ele, embora por dentro não soubesse se tinha a capacidade para perdoar Helena. - Você está certa “Ba”, mas será que eu vou conseguir perdoar Helena algum dia? - Isso é só você que pode saber. Mas não force seu coração filho, tudo tem sua hora para acontecer. – ela disse enquanto pegava seu copo de água. Após beber a água, Dona Gisela deu um beijo na testa de Armando, desejou-lhe boa noite e voltou para seu quarto. Ele ficou na sala pensando alguns minutos. Por que não conseguia perdoar Helena? Helena fez mesmo algo tão grave assim a ponto dele guardar um ressentimento por cinco anos? Ele subiu as escadas, antes de se deitar tomou um banho, como não trabalhava sábado e gostava de correr pela manhã então acordava cedo. Armando não tinha muitos amigos, pelo menos não aos quais confiava de verdade. Na sua empresa tinha contato com todos os seus funcionários e os tratava com simpatia sempre que podia, mas não considerava aquilo amizade. Na casa de Armando trabalhavam uma arrumadeira, duas faxineiras, um jardineiro, uma cozinheira e Dona Gisela que era quem ele considerava até mais que uma amiga ou funcionária. Antes de ir deitar ele ligou seu computador e foi checar seus emails como fazia periodicamente. Entre seus e-mails recebidos estavam alguns de colegas que estavam fora do país e que ele já não via há muito tempo, todavia que nem sentia muita falta. Antes que desligasse o computador recebeu um ultimo e-mail. Era de Carolina, uma antiga amiga dos tempos de faculdade. Armando começou a ler o e-mail muito contente, ela dizia que estava casada, e tinha três filhos. O coração dele disparou de alegria. Dizia também que por causa dos filhos ela parou de trabalhar, que seu marido Miguel, era o homem de sua vida e que ela estava casada com ele há oito anos. Ao final do e-mail havia uma foto em anexo. Armando se emocionou ao vê-la com o marido e os três filhos sorridentes naquela foto. Sua emoção se conteve ao final da mensagem que ela dizia “Espero que você e Helena estejam bem”.

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Desde a faculdade ele não se falou mais com ela, portanto Carolina não sabia das condições atuais entre ele e Helena. Ele respondeu ao e-mail dizendo que estava divorciado e que Carolina tinha filhos lindos. No campo do e-mail ela deixou seu telefone que Armando anotou antes de desligar o computador e ir dormir. Custou um pouco para ele ceder ao sono, pois seus pensamentos ainda lhe perturbaram o sossego até adormecer. Na mesinha próxima a cama de Armando estava apenas um porta-retratos com uma fotografia de seus pais e com sapatinhos de criança decorando a moldura. Olhando para aquela foto ele por fim conseguiu adormecer.

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