Março abril revista

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Revista da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro Nº 33 • janeiro/março 2012

Lições inspiradas na vida de Jesus Textos falam dos sinais de esperança e amor que acompanham a morte e ressurreição de Cristo

O chamado do pastor Isaías Adão, aposentado no último Concílio

Os propósitos de Deus para uma vida em família


05 Cuidar de si para cuidar de outros. Os riscos do poder pastoral

06 Santa Ceia: Uma Páscoa diferente Bispo da Primeira Região Eclesiástica Paulo Lockmann Conselho Editorial Ronan Boechat de Amorim – coordenador, Selma Antunes da Costa, Deise Marques, Nádia Mello, Pablo Massolar, Giselma Almeida e Luiz Daniel Editora Nádia Mello (MT 19.333) Assistente de redação Camila Alves e Carla Tavares Revisão Evandro Teixeira Projeto gráfico Pablo Massolar Diagramação EStúdio Matiz Circulação: 11.000 exemplares Esta publicação circula como suplemento do Jornal Avante, não sendo, portanto, distribuída separadamente.

08 A segurança e o bem-estar da família em primeiro lugar

09 A Páscoa de Jesus: uma mensagem missionária

10 Orações para a Semana Santa e a Páscoa

12 Eu tenho esperança no impossível 14 História Viva:

O chamado de Isaías Adão

Capa

A Revista Fé e Nexo deste mês traz textos que falam de esperança. Apresenta como sinal de esperança a morte e ressurreição de Cristo, chamando a atenção para o aspecto missionário dessa mensagem. Artigos nos convidam a viver a verdadeira espiritualidade da Páscoa. E ainda nos lembram como era a Semana Santa de Wesley e dos primeiros metodistas.

Calendário litúrgico: Ciclo Pascal a) QUARESMA Da quarta-feira de cinzas ao Domingo de Ramos, este período enfatiza a importância da contrição, do preparo e da conversão. Inicia-se no 40° dia antes da Páscoa, sem contar os domingos. Cores: roxo ou lilás, que enfatizam a preparação, a expectativa, a saudade, a contrição e o arrependimento. Símbolos: cinzas, referindo-se ao arrependimento; ramos, lembrando a entrada triunfal; coroa de espinhos e os cravos, rememorando o sofrimento de Cristo. b) SEMANA SANTA Inicia-se no Domingo de Ramos. Celebração de Cristo como o Messias, Salvador dos pobres, o Rei dos humildes. Reflete, passo a passo, os últimos momentos até o ápice da paixão, passando pela instituição da eucaristia, pelo lava-pés, pela traição, prisão e crucificação do Senhor. Símbolos da Semana Santa. Cor: roxo. Particularmente na sexta-feira, usa-se preto. Essa cor denota a morte e o luto. c) PÁSCOA É a festa da ressurreição e da libertação. Um novo êxodo ocorre e a humanidade passa do cativeiro da morte para a vida. Sua solenidade pode iniciar-se já na quinta-feira (instituição da ceia). Símbolos: Cruz vazia, túmulo vazio, borboleta (sinal de transformação). Cores: branco ou amarelo-ouro. Simbolizam a luz, a glória, a alegria, a vitória e a divindade.

Rua Marquês de Abrantes, 55, Flamengo, Rio de Janeiro – RJ – CEP 22230-061 Tel: (21) 2557-7999 / 3509-1074 / 2556-9441 Site: www.metodista-rio.org.br Twitter: @metodista1re Facebook: www.facebook.com/metodista1re

d) PENTECOSTES Entre os hebreus, era comum a celebração da chamada “Festa das Semanas”. Isso porque ela se dava sete semanas após a Páscoa. Nela, o povo dava graças ao Senhor pela colheita. Mais tarde, adquiriu mais uma dimensão celebrativa, a da proclamação da Lei (instrução) no Sinai, 50 dias após a libertação do Egito. Na era cristã, o Pentecostes tornou-se o último dia do ciclo pascal, quando se celebra a chegada do Espírito Santo como aquele que atualiza a presença do ressuscitado entre nós, dando força para que as comunidades sejam testemunhas de Jesus na história. Símbolos: pomba, fogo, vento e água (sinais da presença do Espírito Santo). Cor: vermelho, que simboliza o fogo e o sangue dos mártires. É a cor das celebrações do Espírito Santo e da Igreja: Pentecostes.


Cuidar de si para cuidar de outros. Os riscos do

Carta ao leitor

A verdadeira esperança O exemplo do pastor aposentado Isaías Adão, registrado nas páginas 14 e 15 desta edição, seção História Viva, serve-nos de inspiração na hora de fechar mais um trabalho. Uma vida de conversão, fé e ministério marcada por sinais de amor e esperança. Um relato que, por refletir um jeito tão especial de conduzir as atividades pastorais, aproxima-nos efetivamente da experiência transformadora de todo aquele que crê e vive na prática o cristianismo. Ao nos referir aos sinais de esperança presentes em uma vida com Jesus, reportamo-nos ao significado de sua morte e ressurreição. O texto do pastor Edson Sardinha faz uma reflexão sobre a Páscoa do cristão, afastando-nos de uma comemoração meramente mercadológica e aproximando-nos das origens da data. “Creio que nossa Semana Santa e nossa Páscoa podem ser mais profundas em espiritualidade e contemplação. Podemos fugir do

modismo “o que eu ganho com isso” e procurar dar algo ao Senhor em lembrança de sua bendita morte e ressurreição, adoração”, disse. Com a mesma preocupação, pastor Rodrigo Buçard destaca que na Semana Santa experimentada pelos cristãos está a mensagem central do Evangelho. “Precisamos, como Igreja, anunciar a mensagem da páscoa com paixão e compromisso, levando às pessoas a mensagem da salvação e libertação. Na visão do discipulado, precisamos fortalecer nossa ênfase na proclamação da mensagem central da Páscoa. Cristo, ressurreto e presente conosco, quer guiar-nos no caminho da santidade, gerando em nós o seu caráter, levando-nos a ser totalmente dominados pelos valores do Evangelho”, conclui. Já no artigo do pastor Pablo Massolar, observamos novamente o tema esperança, com um enfoque forte no

“Poder Pastoral” sopro da vida. “Quem criou a esperança também criou o tornar possível, criou a luz quando só existiam trevas. Trouxe à existência o que nunca havia existido antes, inventou galáxias, universos, poderes, nos deu de presente o desafio de aprender a esperar por seu amor”. E para concluir, o bispo Paulo Lockmann diz que “a refeição pascal sempre teve um caráter solidário e de renovação do compromisso com Deus e, desse modo, de uns com os outros. Era um espaço de renovação da esperança e das forças para o tempo de luta que se avizinhava. Era também superação do pecado, muitas vezes enraizado na vida da comunidade e promotor da divisão e da morte”. Vale a pena conferir. Deus abençoe a sua leitura, Nádia Mello Editora

Novas revistas da Escola Dominical As novas revistas da Escola Dominical, produzidas pela Área Nacional da Igreja Metodista, estão disponíveis também na Editora Chama, no Rio de Janeiro. Com lançamento de material para todos os segmentos, o conteúdo e as novidades apresentadas objetivam fazer da Escola Dominical um espaço para que as pessoas conheçam a Palavra, leiam a Bíblia e apliquem os ensinamentos à sua vida e realidade. Adquira já!

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Cuidado com o cuidar de outros! É preciso dar atenção ao cuidar de si para que o cuidado altruístico não impeça o desenvolvimento do ser e sua emancipação de tutelas! Uma finalidade ética do cuidar é motivar o outro a cuidar de si. Ser ético, neste caso, é não favorecer a dependência servil. Uma hipótese, levantada a partir de estudos de Michel Foucault, é que no “ocidente – sob a influência da dinâmica específica do ‘poder pastoral’” - ocorreu uma “passagem do cuidado de si (...) para o cuidado dos outros”. 1 Essa mudança contribuiu para que o exercício do pastoreio fosse atingido em seu cerne. Favoreceu a emergência de autoritarismos por parte de igrejas e de suas práticas pastorais. Aliás, essa alteração também contribuiu para modelar profissões correlatas (médicos, psicólogos, fisioterapeutas...) que, em outras instâncias, têm como escopo cuidar de pessoas. Assim, a prática do cuidado, “bem-intencionado”, estruturou-se de tal forma na igreja ocidental que tende a impedir que o indivíduo se torne plenamente humano. Pode gerar dependência doentia e subserviência. Além disso, pastoras e pastores excessivamente zelosos e apegados à necessidade compulsiva de cuidar de outros são expostos a “crises de assis-

1 STEINKAMP, Hermann. A relação entre cuidado de si e cuidado dos outros. IN: SCHEUNEMANN, Arno & HOCH, Lothar. (Orgs.). Redes de apoio na crise. S. Leopoldo: EST/ABAC, 2003.

tência”, a esgotamentos nervosos e a outros sintomas. O cuidar de si é a “prática da liberdade do sujeito humano” fundamentada na ética da antiguidade. Essa “prática da subjetividade” realça a capacidade humana para a verdade e para autodeterminação. Trata-se, nesse processo de cuidar de si, rejeitar determinações de fora e recusar-se a ser conduzido em suas ações e pensamentos por forças alheias a si mesmo. É exercitar a capacidade humana de tomar decisões e fazer julgamentos com base na experiência de seu existir. O cuidar de si é definido como “forma de comportamento em relação a si mesmo e aos outros” e a tudo que cerca a existência. Inclui nossa visão de mundo e o sentido que emprestamos às nossas ações. É a auto-observação de nosso pensar e das consequências desse pensar. É uma forma de tratar-se, de cuidar-se, na qual nos comprometemos com a vida e a liberdade. Nesse processo, somos transformados e modificamos nosso olhar sobre o mundo, os outros e nós mesmos (Becker, apud Steinkamp, p. 100). O cuidar de si conduz a pessoa a sentir-se enraizada e à vontade no mundo, sem deixar de opor-se a práticas que transgridam o sentido do bem viver e que contradigam a mensagem do Evangelho. O mundo é considerado nossa tarefa: para nós, humanos, esse é o encargo mais pesado que nos é dado pela história. Ao mesmo tempo, representa significativa oportunidade

de prática da liberdade e de refundação do mundo. Entretanto, há um hiato entre a liberdade garantida por legislações e a do cotidiano. O atual contexto cultural e tecnológico ditado pelos meios de comunicação de massa funcionam, para a maioria, como obstáculos para o genuíno cuidar de si e pensar por si. Só a “conversão do sujeito” é que lhe permite voltar-se às fontes primárias de seu ser e de seu ser no mundo e, então, migrar da tutela dos poderes econômico e financeiro para a condução de si próprio. O cuidar de si não implica individualismo. O individualismo mata o indivíduo. Não implica, também, apatia político-social. Ao contrário, as pessoas descobrem, por intermédio do conhecimento de sua vocação humana essencial, a impossibilidade de que a vida floresça no isolamento. O cuidar de si, de outras pessoas e do entorno do ambiente total forma uma espiral que vai se completando progressivamente. N.A: Trata-se de um texto parcial de palestra para professoras e professores do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo ministrada em 27/02/2012.

Ronaldo Sathler-Rosa Pastor Metodista, professor da Falculdade de Teologia e do Programa de Pósgraduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista

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Santa Ceia:

uma Páscoa diferente (Lucas 22.11-23)

Sentar à mesa como espaço de transmissão da tradição Queremos mostrar neste estudo bíblico como a experiência da refeição pascal serviu como espaço de formação e transmissão de uma tradição de vida. O sentar juntos, comer e compartilhar era e continua sendo um lugar qualitativamente vital na manifestação da vida que vem de Deus. Nestes momentos comunitários, Deus se agradou, e segue agradando-se e fazendo sentir a sua presença. Nestes momentos crescem o compromisso e a solidariedaade na luta pela justiça e pelo Reino de Deus. A partir daí é que se evidencia a força da refeição pascal como geradora de tradições e criadora de laços de compromisso libertador no meio do povo. Em Jesus, Deus volta a reunir os pobres, como fizeram tantas vezes na história de Israel os profetas, restabelecendo, desse modo, na Ceia do Senhor o ideal de libertação. 6

De que modo tudo isso se dá? São muitas as possibilidades de estudo e reflexão, mas gostaríamos de nos deter no estudo da Ceia do Senhor em Lc 22,14-23.

Celebrar a Páscoa como Ação de Graça “E tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o e reparti-o entre vós” (Lc 22,17) Sem dúvida, o relato de Lucas tem uma ordem diferente dos demais evangelhos sinóticos. Ele segue de perto o ritual da celebração da Páscoa judaica. Como a refeição de Jesus com os discípulos foi uma refeição pascal, seguia, então, uma ordem assim: o chefe da família ou do grupo erguia o primeiro cálice de vinho e pronunciava a seguinte fórmula de ação de graças: “Louvado sejas Tu, Javé nosso Deus, Rei do mundo, que criaste o fruto da videira”. Certamente, Jesus deve ter feito o mesmo. A pergunta que se coloca é: “qual é a importância desse ato de ação

de graças?” Vital! Aqui se recoloca corretamente a questão: a quem se deve prestar culto; a quem pertence a Terra, a videira e seu fruto. Estas questões carregam uma atualidade permanente. Fica claro, então: Ação de Graça é afirmação do senhorio de Javé, que muitas vezes, em benefício do povo, se coloca contra outros falsos senhores, desestabilizando-lhes o falso poder e libertado o povo. Veja! Que implicações estão presentes no ato de levantar o cálice de ação de graças, a Ceia do Senhor. Veja! Que implicações tem a vida que nasce da cruz, é vida que vence a morte, é vida para todos.

Ceia é Comunhão Um dos elementos fundamentais na experiência da Ceia do Senhor é o seu caráter de comunhão, onde expressões como perdão, fé, amor e justiça adquirem um significado profundamente humano e divino. Criam-se elos profundos de compromissos entre as pessoas, e como um milagre nos tornamos o Corpo de Cristo e membros uns dos outros. Apoiamos e somos apoiados, tudo, numa só caminhada. Uma das características marcantes dos movimentos de restauração do verdadeiro Israel e de sua memória histórica era o caráter de solidariedade e compromisso radical de uns com os outros: a comunhão. Isso ficou marcado, nos primeiros momentos, no movimento dos Macabeus (1Mc 2,41-43). Mais tarde, os próprios essênios, no deserto de Judá, viveram

também em regime de comunhão e de repartir os seus haveres. Entre todos esses movimentos, a refeição pascal sempre teve um caráter solidário e de renovação do compromisso com Deus e, desse modo, de uns com os outros. Era um espaço de renovação da esperança e das forças para o tempo de luta que se avizinhava. Era também superação do pecado, muitas vezes, enraizado na vida da comunidade e promotor da divisão e da morte. A partir dessa compreensão, podemos entender a tradição da comunhão do repartir e do compromisso que se seguiu na Igreja. Ela é testificada pelo Evangelho, ao trazer projetada no relato da Ceia a vivência da própria Igreja, ou nos Atos dos Apóstolos onde textos mencionam “...em comum... vendiam suas propriedades, repartiam com todos... era um só coração e uma só alma... todas as coisas lhes eram comuns... e não havia entre eles nenhum necessitado...” (At 2,42-47; 4,32-34). As epístolas dão também testemunho dessa prática.

A Ceia como Memorial “E tomou o pão, tendo dado graças, partiu e deu-lhes dizendo: Este é o meu corpo, o qual por vós é dado, fazei isto em minha memória” (Lc 22,19). Ter na memória o conteúdo libertador dos atos de Deus na História é fundamental. Eles nos dão força e se atualizam na caminhada do povo de Deus. A Ceia do Senhor tem este claro objetivo, conforme vontade expressa por Jesus no texto que estamos analisando. Esquecer a história só interessa aos opressores que esperam sempre tirar partido disso. Aqui estão dois exemplos característicos: ouvindo alguns jovens estudantes alemães sobre o problema dos nazistas, ainda hoje, eles diziam: “A grande tese dos nazistas é que o povo um dia vai

esquecer a grande desgraça que foi, para o mundo e para os alemães, o nazismo”. Outro exemplo mais próximo é tirado da História do Brasil. Em nossos livros didáticos, Antônio Conselheiro é apresentado, em geral, como um fanático religioso, saltando por cima de uma página de luta de libertação popular. Com isso, tenta-se aniquilar a memória dos pobres e de sua luta de libertação. Mas, por outro lado, não há dúvida sobre o que Deus pretendia com a instituição da Páscoa. Os escritores bíblicos reproduziram com relativa clareza este propósito: “...é a Páscoa de Javé. Este será um dia memorável (recordatório) para vós, e celebrareis como festa de louvor a Javé, de geração a geração. Decretareis que seja festa para sempre” (Ex 12,11-14). Semelhantemente o texto da instituição da Ceia do Senhor de Lucas 22, inteiramente típico, sublinha com clareza no verso 19 o imperativo fazei, e o substantivo chave anamnesis-memória. Com isso fica claro que estava na mente de Deus e de seu Filho Jesus, o desejo de que no movimento da história da salvação, a Ceia do Senhor fosse a nova Páscoa. E que a memória do compromisso de Jesus com os pobres, e seu conflito com os egípcios de sua época (Romanos, Herodes e Sacerdotes), fosse lembrado para sempre. Com o propósito de recordar que o nosso Deus é um Deus comprometido, e que atua em justiça. Disso é prova sua ação no Egito, e dando um grande salto, sua ação através de Jesus.

A Ceia do Senhor como Renovação da Aliança “Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue, que é derramado por vós” (Lc 22,20) Quando tentamos sublinhar neste texto o significado da expressão de Jesus, em Lucas e Paulo (1 Cor 11): “Este cálice é a Nova Aliança no

meu sangue”, nos quais a expressão Nova Aliança já é uma interpretação da própria comunidade primitiva, que sintetizando diferentes tradições organizou o seu próprio calendário litúrgico e sua forma de culto, entendemos a Ceia do Senhor como prosseguimento da Aliança com Deus. Agora, em uma nova expressão; onde o pecado é superado, caminhando-se para uma nova ordem de justiça. Jesus está presente. Este é o grande anúncio da Nova Aliança na experiência da comunhão do corpo e do sangue de Jesus. Símbolos da Nova Aliança, a presença de Jesus é atualizada e sublinhada.

Conclusão: A Ceia do Senhor como refeição que pré-figura o banquete messiânico

“Digo-vos que não a comerei mais, até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,16) Finalmente, Jesus deixa claro seu desejo de voltar e celebrar a Ceia do Senhor com todos. Este é o sentido escatológico da Ceia do Senhor. O caráter escatológico da Ceia do Senhor foi anunciado já antes da última Páscoa pelo próprio Jesus, através da Parábola da Grande Ceia (Lc 14,15-24). Ela é um eco da própria Apocalíptica Judaica, de onde provém a imagem de um banquete messiânico. No coroamento do reinado de Deus, no seio da humanidade, na plena concretização da justiça, cumpre o banquete messiânico uma função simbólica de estado ideal aos olhos de Deus, todos em fraternidade, repartindo o pão e assentados à mesa com Deus e seu filho Jesus Cristo, o nosso Senhor.

Paulo Tarso de Oliveira Lockmann Bispo da Igreja Metodista na Primeira Região Eclesiástica

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Segurança e bem-estar da família em primeiro lugar Num mundo globalizado como o nosso, as necessidades básicas das famílias, como moradia, educação, vestuário, alimentação, saúde, dinheiro, não são privilégios de muitos. No entanto, todos estão fazendo sua parte para obtê-las. Esses bens materiais de consumo, são muito necessários, mas, a família se esqueceu de buscar os bens que não são consumíveis, mas fortalecem o relacionamento conjugal e familiar. São eles: vida devocional em família, comunicação conjugal, tempo para os filhos, presença paterna no lar, educação cristã, exercício do sacerdócio no lar (ministrando a família), sabedoria que edifica a casa, oração em família e exercício da submissão, do amor, do respeito e da fidelidade.

Segurança e bem-estar Tenho visto que a segurança e o bem-estar da família têm sido renegados. Por isso, vemos situações de crises profundas, perdas irreparáveis, casais vivendo de aparências e aliança quebrada. Na verdade, cada um pensa no seu bem-estar e na sua segurança. Entretanto, essa é a visão de quem sempre viu o casamento como um contrato social meramente e não como instituição divina. Os casais precisam rever seus conceitos a respeito do seu casamento e buscar um relacionamento de comprometimento em amor e respeito, a fim de construir uma família estruturada e funcional. 8

“Cada família precisa fazer uma avaliação para ver se está cumprindo o propósito de Deus para o qual foi criada” Isso lhes proporcionará uma fonte de suprimento emocional, espiritual e físico que fará toda a diferença.

Propósito de Deus para a família Cada família precisa fazer uma avaliação para ver se está cumprindo o propósito de Deus para o qual foi criada. Conhecer esse propósito é muito importante, pois proporcionará à família uma vida de qualidade, a cada dia cumprindo fielmente os votos do casamento, as responsabilidades inerentes a cada um, e superando as crises e os desafios da vida a dois. Essa situação é enfrentada diariamente por todas as famílias. Logo, cumprir os propósitos de Deus para família é o pensamento que deve alimentar nosso coração. Em Gênesis 1.27-28, podemos encontrar cinco propósitos de Deus para a família dentro do contexto do ato da criação. O texto diz: “Criou Deus

A Páscoa de Jesus: uma mensagem missionária

o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra, sujeitai-a e dominai-a”. Bom seria se as famílias atentassem para eles. Em Primeiro lugar, Deus abençoou; em segundo, Ele disse que devemos cumprir os propósitos divinos sob a bênção de Deus. Cada um desses propósitos tem uma definição muito peculiar dentro do que Ele deseja realizar por meio da família. É interessante saber que a bênção consolida uma aliança e nos torna uma só carne. É pela aliança que superamos os obstáculos e as intempéries da vida. Pela aliança e sob a bênção de Deus, temos condições de assumir e cumprir o propósito divinos para as nossas famílias – até que a morte nos separe. É com esta visão que desenvolvemos o nosso trabalho. Acreditamos que Deus tem o melhor para cada família e propósitos a cumprir por intermédio dela. A segurança e o bem-estar de nossa família devem estar sempre em primeiro lugar. Temos uma missão: tornar o ministério com famílias um sarça ardente, um grandioso instrumento nas mãos de Deus, cumprindo, assim, a sua missão de investir, fortalecer e edificar as famílias. Luiz Cláudio Teixeira Lima

Pastor Luiz Cláudio Teixeira Lima é pastor, bacharel em Teologia e pós-graduando em Aconselhamento Pastoral pela Umesp Ministério Sarça Ardente

Celebrar a páscoa é afirmar que a mensagem do cristianismo é vitoriosa. Jesus venceu a morte e nos deixou uma grande herança: a vida eterna. Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá” (Jo 11.25). Páscoa, instituída por Deus em Êxodo 12.1-28, significa passagem. Passagem da escravidão do Egito para liberdade na terra prometida, da morte para a vida. Páscoa é a vitoria de Cristo sobre a morte; Ele venceu a cruz. A partir da ressurreição do Senhor, a cruz passou a ser um símbolo de vitória. Jesus celebrou a Páscoa com os seus discípulos, conforme Lucas 22. 14-18: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa”. Nesse ultimo encontro, Ele instituiu o sacramento da Ceia do Senhor (Lc 22.19-23). Também precisamos anunciar como Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago: “Ele não está aqui, mas ressuscitou” (Lc 24.6). As mulheres que foram ao túmulo de Jesus ouviram o que elas mais desejavam: Jesus não estava no túmulo. Ele tinha ressuscitado. Que noticia maravilhosa! Os dois anjos disseram: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?” ( Lc 24.5b). A trajetória de Jesus nesta semana que chamamos de semana santa nos traz a mensagem central do Evangelho: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito, para que todo que nele crê, não

pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Jesus explica a sua missão salvadora aos seus discípulos, preparando-os assim para os acontecimentos mais marcantes da história da humanidade. “Então começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o filho do homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse” (Mc 8.31). A Páscoa também tem um aspecto missionário. Após a ressurreição, Jesus aparece aos seus discípulos na Galileia e os comissiona: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações. Batizando-os em nome do Pai, e Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Precisamos, como Igreja, anunciar a mensagem da páscoa com paixão e compromisso, levando às pessoas a mensagem da salvação e libertação. Na visão do discipulado, precisamos fortalecer nossa ênfase na proclamação da mensagem central da Páscoa. Cristo, ressurreto e presente conosco, quer guiar-nos no caminho da santidade, gerando em nós o seu caráter, levando-nos a sermos totalmente dominados pelos valores do Evangelho.

Rodrigo Vieira Buçard Rodrigo Vieira Buçard é pastor da Igreja Metodista Central de Resende e Superintendente do Distrito


Orações para

a Semana Santa e a Páscoa Um amigo pastor me convidou para a celebração da Semana Santa em sua igreja. Tinha um tema sobre fé e resultava numa grande oferta ao Senhor no Domingo da Páscoa. Na sexta-feira, o tema foi O que precisa morrer em sua vida? No domingo da Páscoa, por sua vez, O que precisa ressuscitar em sua vida?

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Creio ter sido uma experiência muito bonita baseada no “eu”. Parece que nossas celebrações são bem mercadológicas. Perguntamos inconscientemente: “O que ganho com esta celebração? O que terei em troca?” O mistério do Encontro com Cristo do sofrimento e da ressurreição foi substituído por Retiros de futebol e lazer ou por Campanhas de Milagres sempre centralizadas numa conquista do eu. A Semana Santa é anunciada pelo pastor no domingo à noite: “Irmãos, para nós, toda semana é santa!” Assim olhamos a Páscoa como mais uma rotina. Não há celebração. A festa não é bonita. Não há festa. As igrejas neopentecostais aproveitam o sincretismo do brasileiro e o catolicismo popular e investem em Campanhas da Cruz ou do Túmulo Vazio. Nos anúncios da televisão, passam cenas dos filmes de Hollywood com vozes de trovão: “Esta Campanha mudará sua vida”.

Creio que nossa Semana Santa e nossa Páscoa podem ser mais profundas em espiritualidade e contemplação. Podemos fugir do modismo “O que eu ganho com isso” e procurar dar algo ao Senhor em lembrança de sua bendita morte e ressurreição, a adoração.

Wesley e a Semana Santa Como era a Semana Santa de Wesley e os primeiros Metodistas? Sabemos que Wesley jejuava toda quarta-feira lembrando o dia que o Senhor foi traído e toda sexta-feira lembrando sua bendita paixão. Para Wesley, a Semana Santa era rica em espiritualidade e contemplação.

sem que primeiro sofresse a dor, nem entrou na glória sem ser crucificado; concede-nos misericordioso que, andando nós no Caminho da Cruz, nele encontremos a vida e a paz. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”. Amém. (Is 49.1-7; Sl 71.1-14; 1 Co 1.18-31; Lc 22.14 a 23.56). Assim, a Semana Santa tem início. Para cada dia da semana existe uma oração especial. Sem cair na idolatria popular tanto explorada por vários movimentos cristãos, a Igreja pode adentrar na Semana Santa e Celebrar a Páscoa numa caminhada de fé, jejum e contemplação. Muitas vezes, pelo vazio espiritual e simbólico de nossas celebrações, nossos cultos passam a ser apenas uma reunião a mais onde nos forçamos para, na repetição de alguns modelos, tentar dar significado maior a nossa rotina cúltica. Com a graça de Cristo, podemos fazer algo realmente relevante.

O Livro de Oração Comum (Manual pessoal de Oração de Wesley), o livro mais amado por Wesley depois da Bíblia, apresenta um roteiro muito

interessante para a Semana Santa que podemos realizar em família ou nos Pequenos Grupos. As coletas (orações) auxiliam o adorador a viver, em oração, os passos da Semana Santa. Na Liturgia de Ramos, o Culto de Domingo pela manhã, a Igreja ora: “Onipotente e Eterno Deus, de tal modo amaste o mundo, que enviaste teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, para tomar sobre si a nossa carne e sofrer morte na cruz, dando ao gênero humano exemplo de sua profunda humildade; concede, em tua misericórdia, que imitemos a sua paciência no sofrimento e possamos participar também de sua ressurreição; mediante o mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”. Este culto é uma profunda reflexão da entrada de Jesus em Jerusalém (Mc 11.1-11). O Culto da noite de Domingo de Ramos é chamado de Liturgia da Paixão, pois os textos lidos nos preparam para caminhar na espiritualidade da Paixão de Cristo. Na Oração a Igreja diz: “Deus Todo-poderoso, o teu Filho querido não ascendeu à alegria

SEGUNDA-FEIRA

TERÇA-FEIRA

QUARTA-FEIRA

“Onipotente Deus, cujo Filho muito amado não gozou perfeita alegria, senão após o sofrimento, e só subiu à glória depois de crucificado; concede-nos misericordioso que, seguindo o caminho da cruz, seja este para nós vereda de vida e paz; por Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.”

“Ó Deus, que pela paixão de teu bendito Filho, fizeste com que o instrumento da morte vergonhosa se tornasse para nós símbolo de vida; concede que nos glorifiquemos na cruz de Cristo, a fim de que alegremente suportemos infâmias e privações, por amor de teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.”

“Ó Senhor Deus, cujo bendito Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, teve o seu corpo torturado e seu rosto cuspido; concede-nos a graça de enfrentar com esperança os sofrimentos deste tempo e de confiar na glória que há de ser revelada; porJesus Cristo teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.”

Leituras: (Is 42.1-7; Sl 27.1-8; Hb 9.11-15; Jo 12.1-8)

Leituras: (Is 49.1-6; Sl 71.1-12; 1 Co 1.18-31; Jo 12.27-36)

(Is 50.4-9a; Sl 70; Hb 12.1-3; Jo 13.21-30 ou Mc 12.1-11)

As disciplinas espirituais da Semana Santa eram chamadas de Meios Prudenciais da Graça. “João Wesley procurava meios de expressar a sua vida espiritual durante o dia. Ele encontrou expressão no que chamou de “os meios da graça”. Estas eram disciplinas espirituais que as pessoas utilizavam para expressar a fé e receber a graça de Deus. Estavam divididas em duas categorias: os meios institucionais da graça e os meios prudenciais da graça. Os meios institucionais eram aqueles evidentes na vida e nos ensinamentos de Jesus. Os prudenciais eram meios que haviam sido desenvolvidos pela igreja para dar maior ordem e expressão à vida cristã. Juntos, eles capacitavam o indivíduo a adotar uma vida devocional” (A Vida Devocional na Tradição Wesleyana Steve Harper).

O Livro de Oração Comum e a Semana Santa

Edson Cortasio Sardinha Edson Cortasio Sardinha é reverendo, pedagogo, especialista em Ciência da Religião e Liturgia e Arte Sacra

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Eu tenho esperança no impossível!

quinta-feira santa A quinta-feira santa é o início do Tríduo Pascal. A igreja para e reflete sobre a instituição da Santa Ceia e a prisão do Senhor no Jardim do Getsêmani. O Livro de Oração Comum traz a seguinte oração: “Ó Pai Onipotente, cujo amado Filho, na noite anterior à sua paixão, instituiu o Sacramento do seu Corpo e Sangue; concede-nos, misericordioso, que dele participemos agradecidos, em memória daquele que nestes santos mistérios nos dá o penhor da vida eterna, teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.” (Is 42.1-4,5-9; Sl 116.1-2, 12-19; Ap 19.6-10; Mc 14.12-26)

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO Na lembrança da dor e do sofrimento do Senhor, a igreja fica em oração, na profunda gratidão de sua alma. A oração da Igreja é levada aos céus dizendo:

“Ó Misericordioso Deus, que criaste todo o gênero humano e não aborreces coisa alguma do que fizeste, nem desejas a morte do pecador, mas antes seu arrependimento e salvação; tem compaixão dos que não te conhecem, tal como te revelaste no Evangelho de teu Filho. Liberta-os de toda a ignorância, dureza de coração e desprezo de tua Palavra; conduze-os, pois, ó bendito Senhor, ao teu aprisco, a fim de que constituam um só rebanho sob um único Pastor, Jesus Cristo, Senhor nosso, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”. (Is 52.13 a 53.12; Sl 22; Hb 10.16-25; Jo 19.16-37)

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SÁBADO

PÁSCOA

O sábado é de espera. Pela manhã a Oração diz:

Na manhã da Páscoa, a celebração conti-

“Ó Deus, Criador do céu e da terra; concede que, assim como o corpo crucificado de teu amado Filho foi colocado no túmulo e descansou neste sábado santo, também sepultados com Ele aguardemos o terceiro dia e com Ele ressuscitemos para uma vida nova; o qual vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”.

“Ó Deus, que para a nossa redenção entregaste o teu unigênito Filho à morte de cruz, e pela tua gloriosa ressurreição nos libertaste do poder de nosso inimigo; concede que morramos diariamente para o pecado, a fim de que vivamos sempre com Ele na alegria de sua ressurreição; mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre”. Amém. Outra Oração da Páscoa diz: “Ó Pai Celestial, que fizeste com que a aurora santa brilhasse com a glória da ressurreição do Senhor; aviva em tua Igreja o Espírito de adoção, que nos é dado no Batismo, a fim de que nós, sendo renovados tanto no corpo como na mente, te adoremos com sinceridade e verdade; mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”.

(Jó 14.1-14 ou Lm 3.1-9, 19-24; Sl 31.1-4,15-16; 1 Pe 4.1-8 Mt 27.57-66 ou Jo 19.38-42)

VIGÍLIA PASCAL, A vigília pascal, que inicia no sábado à noite, sempre foi considerada pela igreja antiga como a grande vigília da Igreja. As maiores coleções de sermões de Agostinho de Hipona são desta santa noite. Noite de preparação para o Batismo e para a grande celebração da Ressurreição do Senhor. Chamada também de Vigília do Fogo Novo. A igreja ora: “Senhor Deus, Tu fizeste resplandecer esta noite com a glória da ressurreição de Cristo; faz com que a sua luz brilhe na tua Igreja para que sejamos renovados no corpo e na alma e nos entreguemos plenamente ao teu serviço. Amém”. (Mc 16.1-8)

nua. Agora a igreja diz:

(At 10.34-43 ou Is 25.6-9; Sl 118.1-2, 14-24; 1 Co 15.1-11 ou At 10.34-43; Jo 20.1-18 ou Mc 16.1-8)

Fontes: Livro de Oração Comum, Rio de Janeiro: 2010. OESI. e Harper, Steve – Vida Devocional na Tradição Wesleyana, Rio de Janeiro: 1992. Imprensa Metodista.

O que escrevo aqui, hoje, só cabe na tábua do coração, na sede dos sentimentos da alma. Não se consegue contê-lo nos livros, nem nas telas frias dos computadores, está para além de qualquer coisa que possa ser mensurável. O que será dito não cabe dentro dos tratados teológicos, não cabe nas ideologias agonizantes dos homens das filosofias fúteis e estéreis nelas mesmas. Não cabe na mentalidade esquizofrênica daqueles que, mesmo em vida, negam o querer viver para além. O que será dito não pode ser compreendido por aqueles que já morreram louca e desesperadamente para o saber crer no que não se vê. Quem espera desta vida que ela se resolva por aqui mesmo, somente, e não consegue ver para além dela mais nada, com muita dificuldade vai aprender a esperar ou crer nas coisas que existem sem serem vistas. Há poderes que matam e poderes que dão vida, cada pergunta e resposta que fazemos e damos à vida nos aproximam mais um pouco da morte ou mais um pouco da vida. A esperança faz parte do grupo de poderes e saberes que nos aproxima mais um pouco e às vezes totalmente da vida. Esperança não se compra, não se manda entregar, é intransferível, pode até ser contagiante, mas só se consegue experimentá-la pessoalmente. Não é construída nem ornamentada de saberes egoístas. A esperança nasce simplesmente do aprender a confiar naquele que nada lhe é impossível ou demasiadamente difícil. Esperança não tem nome, tem esperas, às vezes solitárias e outras sufocantemente dolorosas, mas ela permanece lá, intacta, imóvel, absoluta, pura e simples, nos esperando nas esquinas da vida. O

problema é que nem sempre queremos ou sabemos que é preciso dobrar as esquinas. Paralisamos de medo quando não percebemos que depois da esquina tem mais calçadas. Muita gente pensa que o caminho termina na esquina, mas é ali mesmo, do outro lado dela, que se encontra a esperança. Esperança de conseguir chegar, de conseguir vencer, do alívio de saber que não estamos numa rua sem saída, o que apareceu foi só mais uma incerteza de saber o que tem do outro lado da esquina. Mas quem precisa saber o que tem depois da esquina quando sabemos que a esperança tem esperança de nos encontrar também? Aprendendo este segredo o “bicho-papão do futuro” vira um filhotinho brincalhão de cão labrador. Quem já sabe que do outro lado só tem esperança não vai encontrar medo pelo caminho. Ela, a esperança, mora tanto no coração dos reis como dos mendigos, dos infames e dos santos. A esperança não é preconceituosa, todo aquele que se aproxima dela recebe sua atenção doce e amável. A esperança não nega bondade alguma para quem está apaixonado ou somente faz perguntas sobre a vida. Por ser tão irremediavelmente cheia de amor, de uma forma ou de outra, até quem não ama pode encontrar esperança para aprender a amar novamente. Quem deixou de viver faz tempo, quando crê na esperança, volta a ter vida! A esperança chama para a existência quem não existia mais. Ele, o Pai da esperança, chamou à existência as complexidades atômicas e subatômicas, visíveis e invisíveis. Não poderá fazer o que quiser com quem não mais existiria não fosse o implante vivificante da esperança em sua alma?

Quem criou a esperança também criou o tornar possível, criou a luz quando só existiam trevas. Trouxe à existência o que nunca havia existido antes, inventou galáxias, universos, poderes, nos deu de presente o desafio de aprender a esperar por seu amor. Sim! Quem criou existencialmente a esperança conjugou o verbo amar em todos os tempos, perfeitos e imperfeitos. E Ele, pessoalmente, antes que alguém lhe desse um nome ou apelido, esperançosamente já pintava com detalhes todas as alegrias de esperar de volta, com todo amor possível e impossível, um “oi” da nossa parte. Muita gente passa despercebida pela vida, sem saber que o “oi” dEle já foi dado, agora só falta o nosso. Você pode decidir, aqui e agora, como vai (ou não) devolver ao seu coração à esperança que já lhe pertence. Ela é um dom que já foi dado a todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, puros ou impuros, corajosos ou medrosos. Está sobre a mesa da existência humana, é gratuita, não tem contraindicações e só faz bem. Pode pegar, é sua! Quando descobrimos que todas as coisas, sim, todas mesmo, as boas e as não tão boas assim, cooperam e conspiram para o bem daqueles que amam a Deus, então o medo perde o sentido, a confiança ganha poderes impossíveis, e a vida passa a ser um novo começo todas as manhãs. O Deus que garante que não esperamos em vão o abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

Pablo Massolar Pastor da Igreja Metodista em Jardim Paraíso II

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O chamado

ção daquele pregador”, confessou. Ele lembra, no entanto, que a prova de fogo ainda estava para acontecer: encarar seus companheiros. “Na segunda-feira, tive que me confrontar com os colegas de trabalho. Eles tinham o costume de contar piadas, fumava e tomava umas e outras. No entanto, não lhes contei que tinha aceitado a Jesus”, comentou. Mas as atitudes de Isaías já tinha mudado. Seus amigos não o viram fumando nem contando piadas. Também não bebeu. Enfim, estava diferente. “Foi aí que um deles me disse: você está diferente. Não age mais como antes; parece até um bíblia...”.

de Isaías Adão Foram 36 anos de ministério pastoral ativo, dos quais trabalhou incansavelmente em pelo menos 14 igrejas. Uma vida regada de muito amor, compromisso e paixão por disseminar a Palavra de Deus. Quem poderia imaginar que, ao chegar ao Rio de Janeiro, em pleno domingo, mudaria o curso de toda a sua vida? Mas foi assim que aconteceu: Isaías Adão da Silva, natural de Minas Gerais, chegou à Cidade Maravilhosa, em 1962, quando foi acolhido por uma família. Era domingo e, como de costume, todos da casa iam à Igreja Metodista. O convite foi feito, mas o jovem de apenas 22 anos relutou. Por fim, acabou aceitando. “Antes de chegar à cidade, frequentava igrejas aqui e ali, mas não tinha compromisso com Deus”, disse. Naquela noite, a vida de Isaías começou a mudar. A igreja o acolheu de tal maneira que na semana seguinte decidiu ir novamente. Com o tempo, continuou frequentando também os cultos de quinta-feira. “Lembro que, às terças, eram realizadas reuniões chamadas ‘vigiar e orar’, cujo título está baseado na palavra de Jesus, que diz que devemos estar sempre atentos”. Isaías iniciava, assim, seus primeiros passos em busca de Deus. Certo dia, o pastor informou que no domingo seguinte iria falar sobre os diferentes nomes do pecado. “Lembro que ele olhou bem para mim quando disse que iria falar de alguns pecados cometidos pelas pessoas. Fiquei ansioso”, contou Isaías. No dia esperado, o pregador começou sua ministração conforme 14

perguntou se eu gostaria de ser pastor. Titubeei em responder e disse que ainda não havia pensado sobre isso seriamente. Daquele encontro ficou um convite para fazer um seminário. E lembro que senti meu coração aquecido”, relatou. Sem comentar sobre seus planos com Davi, Isaías decidiu visitar o seminário, só para conversar com alguns conhecidos. Lá, ele se encontrou com o diretor da instituição. Ele bateu na porta da direção e foi recebido pelo reverendo Juraci Monteiro. “Isaías! Quanto tempo!”, disse o reverendo de braços abertos. Ele foi responsável pelo seu batismo em Vista Alegre. De-

do para uma reunião em ação de graças na casa de uma irmã em Itaguaí. Ela queria agradecer pelo benefício de ter construído uma casa. O pastor decidiu ler o texto que iria falar à noite, mas algo estava errado. Não conseguia desenvolver a mensagem. “Lia, relia, mas a pregação não fluía”, contou. “De repente, veio uma voz em meu coração que disse: Hoje é dia de oração”. Isaías, então, começou a orar. Perto da hora do culto, começou a chover e o fusquinha vermelho do pastor acabou caindo em um buraco. “Nessa hora, lembro que vimos um rapaz passando pela gente de bicicleta. Ele voltou porque havia me reco-

“Creio que o foco da vida cristã é falar de Jesus. Mesmo encerrando meu período ministerial, continuo sendo nomeado por Deus para continuar pregando a Palavra” Pastor Isaías Adão, compartilhou um pouco de sua trajetória na Igreja Metodista no último Concílio Regional. À esquerda, com a placa de homenagem entregue pelo Distrito de Realengo em gratidão pelo ministério pastoral

prometido, tomando como base o texto de Romanos 6.23, onde diz que o “salário do pecado é a morte”. Isaías contou que tremia a cada pecado mencionado. Ele tinha consciência de seus erros. Durante o apelo, o pastor perguntou se alguém gostaria de deixar tudo aquilo de lado. Naquele dia, o jovem entendeu que só Jesus tem poder para purificar o homem de todas as iniquidades e perdoar os

pecados. Levantou-se e, indo em direção ao altar, escutou atentamente as palavras do pregador: “Aqui está o moço se apresentando para receber perdão de seus pecados e buscar uma vida de santidade. Eu faço esta oração em nome de Jesus”. Isaías foi para casa sentindo-se mais leve. “Quantas vezes a gente nem dorme por estar com a consciência pesada. Mas eu acreditei na ora-

Isaías disse que realmente havia assumido um compromisso com Deus. Isaías, então, foi amadurecendo e recebendo mais de Deus. Frequentava a Escola Dominical e foi professor em uma classe de crianças. Casou-se e chegou a assumir a direção da classe de adultos. Foi também presidente da Sociedade de Homens. “Um dia, uma senhora da Igreja de Cosmos me disse que eu tinha cara de pastor, mas via desde criança muitos filmes e achava que ia ser advogado”, contou.

Planos de Deus Convertido, Isaías crescia em graça, mas não poderia imaginar que os planos de Deus estavam apenas começando. Ele lembra que o pastor Davi Ponciano Dias, mais taarde bispo, o convidou para ser professor de um grupo de crianças. Davi o observava muito e, um dia, convidou-o para um almoço. “Em meio ao almoço, ele

pois de um bom papo, ele tomou coragem e perguntou o que era preciso para fazer sua matrícula no curso. Ao que o reverendo Monteiro respondeu: “Apenas de uma caneta e papel para escrever seu nome e dizer que você quer fazer o seminário”. Assim começava uma caminhada de grandes frutos aos pés de Jesus. “Acompanhei cerca de 14 igrejas ao longo da minha caminhada. E, como Jesus disse, o Evangelho deve ser pregado a toda a criatura. Temos que tirar as pessoas das trevas e trazê-las para a luz. Só o Evangelho pode fazer isso”, afirma.

Dia de oração Foram muitos anos de pastoreio e uma longa caminhada de cunho evangelístico. Mas até um pouco antes de se aposentar, durante o 40º Concílio Regional, Isaías viveu muitas experiências, como o dia em que foi escala-

nhecido”, testificou. O jovem, que estava indo para a mesma casa, relatou que um senhor havia falecido e não haveria mais culto. No entanto, havia lá uma criança desenganada pelos médicos e uma mãe muito aflita. Nesta hora, entendi o mistério de eu não ter conseguido desenvolver aquele estudo, pois o propósito naquela noite era apenas orar. Soube depois que a criança ficou bem”, lembrou. No pastorado da igreja de Realengo Isaías decidiu colocar uma faixa na frente entitulada “Estudo Bíblico para não evangélicos”. “Foi um desafio, mas surtiu efeito na vida de pessoas que ali passavam”. Creio que o foco da vida cristã é falar de Jesus. Mesmo encerrando meu período ministerial, continuo sendo nomeado por Deus para continuar pregando a Palavra”. Deila Malta Jornalista

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